Você está na página 1de 31

HÉLDER

BANDARRA

FIGURAÇÕES
PINTURA
Exposição
FIGURAÇÕES
Pintura

Artista
Hélder Bandarra

Data
17 de junho 19 de Setembro de 2023

Local
Galeria d'Arte Ortopóvoa

Curadoria
Isabel Patim

Coordenação
Margarida Lessa

Design
Acácio Viegas

Textos
Isabel Ponce de Leão / Afonso Pinhão Ferreira / Isabel Patim

Número de exemplares
500

Informações
+351 962 873 550 (Isabel Patim)
se hace camino al andar 1

Roubo, descaradamente, palavras de António Machado por me


pareceram por demais consentâneas com o peregrinar de Hélder
Bandarra cuja pluralidade e plenitude se materializam numa obra
plástica polissémica, poliédrica, prolífera e profícua

Digo peregrinar porque há todo um trabalho – hard labour –,


imbuído de espírito de missão, perseguidor de alterações /
evoluções de uma arte irrequieta e insatisfeita em constante
demanda de novas experiências, novas técnicas, novos materiais,
novas expressões que, não se vinculando a tendências, as observa,
as estuda e as experimenta, enquanto reflexo de estado de espírito
autónomo, desencadeado por uma emoção que, instintiva e
intuitivamente, preserva a ética e a estética.

Referindo-me só ao desenho e à pintura, penso nesse peregrinar


que se inicia com esboços a tinta-da-china, carvão e grafite, tan-
genciais às artes gráficas, e que continua num longo percurso
de aprendizagem imergente nas teias do modernismo e das
vanguardas. Munch, Vlamink, Picasso, Duchamp, Delaunay,
Vladimirsky e Dali são os mestres dos vestígios expressionistas,
fauvistas, cubistas, dadaístas, simultaneístas, interseccionistas,
neorrealistas e surrealistas observáveis na produção plástica de
Hélder Bandarra.

Atingida a perfeição do traço e da densidade policromática, bem


concertados os temas e os motivos electivos dos –ismos da mo-
dernidade, o espírito irrequieto e insatisfeito do artista começa a
desmanchar as figuras perscrutando o seu incipit. Surge então a
fase do expressionismo abstracto. Kandinsky, Malevich, Mondrian,
Arshile Gorki, Mark Rothko, Robert Motherwell ou Jskson Pollok
são agora os mestres da expressão de uma espiritualidade pers-
crutadora da essência da realidade.

Só este peregrinar afincado permite, numa linha de continui-


dade, a chegada apoteótica ao neofigurativismo, tendência
preponderante dos trabalhos da presente mostra, enquanto
convergência de 4 vectores: o desenho – expressão suprema da
magnificência artística; o cruzamento de estéticas – manifes-
tação de ampla enciclopédia artísitico-cultural; o conluio com
o real – consciência da interacção arte / vida; a fuga espiritual –
elemento salvífico do ser humano.

1 António Machado (1912). “Proverbios y cantares”, in: Campos de Castilla. Madrid, Renacimiento.
Peregrino pela galeria e vejo a inserção no mundo abstrac- entre a reivindicação do monstruoso e do grotesco, e questões
cionista de figuras bem circuitadas suportadas por uma do seu universo íntimo ou da história contemporânea de
explosiva linguagem policromática que, dando conta do forma mais contida mas, nem por isso, menos perturbadora.
visível, sugerem também o invisível. Há nestas obras uma Partindo da realidade, Hélder Bandarra submete os temas e
intrincada contextura narrativa cuja linha accional semântica motivos da sua arte à violência, à crueza e ao erotismo pro-
suporta, através da representação de formas identificáveis, cessando-os através da metamorfose e da hibridação, seja da
um pessoalíssimo imaginário. Fugindo ao abstraccionismo, e à decomposição e montagem de pedaços do real.
arte enquanto reprodução alardeada pelo realismo socialista,
inspirado no alemão neofigurativista Hans Platswcheck, Trata-se de uma obra que não se circunscreve a rótulos esco-
não negando o conhecimento do manifesto Nueva Figura- lásticos antes reflecte as tradições libertárias de todas as
zione (1963) da autoria de Alberto Moretti, Antonio Buono estéticas precedentes. Dela exala a ideia de unidade muito
e Silvio Loffredo, conhecedor das obras de Antonio Saura e além da ideia wagneriana de síntese, assumindo o postulado
Jan Lebestein e, sobretudo, desde sempre influenciado pela de que as artes são em si a Arte una e irrepartível, achando-se
arte francesa, Hélder Bandarra bebe os ensinamentos de a síntese no próprio acto de criação. Há o desejo de “corte
Jean-Louis Ferrier, principal teórico deste movimento, recrean- de relações com as múmias de todas as escolas e de todos
do-os de forma pessoalíssima. os partidos” (António Pedro), mas tão só com “as múmias” e
nunca com as tradições libertárias a que acima aludi. A au-
Destarte, despreocupado da perspectiva clássica bidimen- tenticidade anímica da forma, longe do genuíno automatis-
sional, é manifesta a demanda da representação exterior de mo psíquico, não nega figuras tutelares como René Magritte
figuras do seu mundo interior naturalmente conotadas com ou Giorgio de Chirico.
a realidade. Este grau de representação configura-se variável
e vai desde a imitação das três dimensões, à perspectiva do Esta arte, apoteoticamente consciente do inconsciente,
ponto único e do tromp l’oeil. Ignorando certas regras da torna-se embaixadora de uma babel estética, desaf iadora
academia, Hélder Bandarra, num gesto inusualmente irreve- da ordem racional, onde a metamorfose dos motivos gera o
rente, inspira-se em antecessores e coetâneos para a recons- convívio entre monstros tumultuosos, corpos truncados, aves
trução de princípios estéticos. agoirentas que, intimamente, se associam e dialogam – e daí
o poder idiossincrático destes desenhos – com anjos, figuras
Absorvido mais pelos pontos e as linhas do que pela repre- da comédie de l’art, instrumentos musicais ou flores, ostensi-
sentação naturalista, o artista opta aqui pela imagem vamente insinuadores da actual babilónia vivencial.
espalmada. Não negando o cubismo de Braque e Picasso,
inventiva imagens fragmentadas e, por vezes, distorcidas, Os trabalhos neofigurativistas de Hélder Bandarra são por
através da manipulação e simplificação da forma e também demais demonstrativos de que em “arte, a única distinção
da linguagem das cores vivas, intensas e puras. Estilhaços importante é a distinção entre boa e má arte” (Clive Bell) e
fundem-se e confundem-se, extinguindo-se, por vezes, erigem o passado ponto sustentador do presente e do futuro
numa outra figura que estabelece novas relações entre os – se hace camino al andar.
fragmentos que povoam a superfície plana. Vestígios do
futurismo e do vorticismo à Severini e à Bomberg presen-
tificam-se no dinamismo e na fluidez dos traços pondo a Isabel Ponce de Leão
máquina estética ao serviço do mundo moderno e demons- No Porto, em Abril de 2023
trando que os movimentos de antanho são rigoroso suporte
do estado actual da arte.

Continuo a também minha peregrinação e dou conta da


majestade e mística de uma sinceridade eivada de hetero-
doxia. Nestas obras se desenha um ascético drama humano
irredutível a valores sociais. É manifesta uma postura coerciva
arreigada à teoria do tumulto e entroncada nas práticas psico-
lógica, fisiológica e psicanalítica, daí sistemáticas hesitações
3

O EXPRESSIONISMO
FIGURATIVISTA DE
HÉLDER BANDARRA

Dar de frente com uma pintura do artista Hélder Bandarra Apaixonado pelas correntes vanguardistas, nota-se que
é como ir a um encontro social. Sem nos apercebermos escolheu o expressionismo figurativista, onde saboreou
inventamos uma estória sucedida ou a suceder. A imagem o fauvismo e o cubismo, como se infere da análise desta
obriga-nos a criar uma narrativa, um conto. mostra. No entanto, Hélder Bandarra soube, com aqueles
sabores, desenvolver um estilo muito próprio, que classifico
Dei-me conta disso, quando visitei o estúdio do Hélder. de notável.
Enquanto se iam selecionando e fotografando as telas sem
título, ocorria-me automaticamente um possível título que Seguramente que se tratou de uma excelente escolha e fica
descreveria a cena de acordo com a minha vivência imagina- a certeza que a Galeria d´Arte ORTOPÓVOA se valoriza com
tiva. Outro observador encontraria por decerto outra etiqueta esta exposição.
para classificar a cenografia contida na imagem. Dito de outra
forma, a mesma imagem desperta diferentes mensagens a
quem a lê. Por isso, o artista não lhe dá título. Afonso Pinhão Ferreira
Administrador da ORTOPÓVOA
De facto, numa amálgama de cores vigorosas e figuras es-
tilizadas, com desconstruções e sobreposições pictóricas, o
pintor dá voz a um expressionismo simbólico e figurativo. Com
as figuras intrincadas em manchas cromáticas, baseadas em
desenhos algo geométricos, Hélder Bandarra promove a
deformação da realidade, sugerindo-a ao provocar encontros
sociais das figuras, reuniões essas que são emocionalmente
percetíveis pelo observador.

Não admira que a sua pintura revele tratar-se de um contador


de histórias, não fora verificar-se, no seu trajeto curricular, ter
sido premiado como cenógrafo, ter colaborado no teatro e ter
trabalhado em várias áreas que interessam à comunicação
com a imagem.
FIGURAÇÕES

Como num palco encenado, somos convidados a mergulhar Pari Passu à escrita deste texto breve, revisitámos a Ária
nas figurações encetadas na tela de Hélder Bandarra, ao Rainha da Noite, da Ópera A Flauta Mágica, numa libertação
mesmo tempo que embalamos na teatralidade musical do da polifónica polissemia, resultado da sedução consentida à
cenário, ora plasmado, ora interseccionado, mas desenhado, “livre expressão e sensualidade de processos” do operāri do
em notas sonoras de cor musicadas com cenas de vidas. artista plástico.

A este concerto assistimos na última visita ao atelier do A linguagem policromática da pintura aqui exposta
artista em reunião preparatória, registo fotográfico, e seleção compõe-se cenário da composição que Helder Bandarra
de obras num universo infindável de narrativas, discursos nos convida a visitar, em sonidos e cantatas, harmonica-
e representações que nos seduziu. Desde logo, silencioso mente orquestrados na manipulação de averiguativas
ouvinte, somos arrastados por inúmeras narrativas pessoais formas, f iguras, f ragmentos, interseções e melódicas,
da interioridade arrancadas e expostas, pinceladas em inquisitivamente sedutoras, subjugadas a uma estruturante
discursos estéticos desconstruídos, por um imaginário ordem na sua articulação geométrica, com uma maestria de
pessoal em contínua reconstrução representado. magistral expressividade.

Esta polissémica base de narrativas, polispermo de contra-


dições, coexiste na estruturante realidade visual de linhas, Isabel Patim
planos e manchas, estruturantes do caos subjacente à ordem Carreço, maio de 2023
expressiva. Na procura de “um compromisso expressivo
entre ordem e desordem”, como o artista plástico refere na
entrevista de Gaspar Albino, há na sua pintura “uma luta de
contrários, de libertação de formas, cores, matérias e forças
geométricas opostas.” (2010).

Vários críticos de arte e personalidades da cultura escreveram


sobre o artista e a sua obra plástica. A abrir este catálogo,
honra-nos com o seu texto crítico Isabel Ponce de Leão, na
senda de outros estudos e textualidades. Recordamos, a
propósito do processo criativo, a confissão do autor: “Existe
em mim um estranho desígnio egoísta, uma vontade oculta
de interiorizar esteticamente as pequenas coisas que meus
olhos observam. Para mim, o acto de pintar é precedido de
uma reflexão, de uma composição e estudo da obra, depois
necessita de solidão, concentração para a executar e um
pouco de Mozart.” (2010)
5

SEM TÍTULO | 2018

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
6

SEM TÍTULO | 2018

ACRÍLICO SOBRE TELA

80 X 60 cm
7

SEM TÍTULO | 2018

ACRÍLICO SOBRE TELA

80 X 60 cm
8

SEM TÍTULO | 2019

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
9

SEM TÍTULO | 2019

ACRÍLICO SOBRE TELA

80 X 60 cm
10

SEM TÍTULO | 2019

ACRÍLICO SOBRE TELA

80 X 60 cm
11

SEM TÍTULO | 2019 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 110 X 90 cm


12

SEM TÍTULO | 2020 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 120 X 120 cm


13

SEM TÍTULO | 2020

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
14

SEM TÍTULO | 2020

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
15

SEM TÍTULO | 2022

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
16

SEM TÍTULO | 2022

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
17

SEM TÍTULO | 2022

ACRÍLICO SOBRE TELA

160 X 120 cm
18

SEM TÍTULO | 2022

ACRÍLICO SOBRE TELA

80X 60 cm
19

SEM TÍTULO | 2022 SEM TÍTULO | 2022

ACRÍLICO SOBRE TELA ACRÍLICO SOBRE TELA

70 X 60 cm 70 X 60 cm
20

SEM TÍTULO | 2022 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 70 X 60 cm


21

SEM TÍTULO | 2022 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 70 X 60 cm


22

SEM TÍTULO | 2022 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 100 X 80 cm


23

SEM TÍTULO | 2022 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 90 X 90 cm


24

SEM TÍTULO | 2022 | ACRÍLICO SOBRE TELA | 60 X 60 cm


HÉLDER
BANDARRA
PATROCÍNIO

0ortopóvoa
CIIIQdeOtoclontlaeReabitaçãoOroladal,Lda.
Rua Visconde de Azevedo, 11
4490-589 Póvoa de Varzim • Portugal
Telf.: 252 299 240
T m.: 926 211 076
email: ortopovoa@ortopovoa.pt
www.ortopovoa.pt
www.facebook.com/ortopovoa
..
GPS: N 41 º 22· 49 1 W 08º 45· 29 .
.

Você também pode gostar