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BANDARRA
FIGURAÇÕES
PINTURA
Exposição
FIGURAÇÕES
Pintura
Artista
Hélder Bandarra
Data
17 de junho 19 de Setembro de 2023
Local
Galeria d'Arte Ortopóvoa
Curadoria
Isabel Patim
Coordenação
Margarida Lessa
Design
Acácio Viegas
Textos
Isabel Ponce de Leão / Afonso Pinhão Ferreira / Isabel Patim
Número de exemplares
500
Informações
+351 962 873 550 (Isabel Patim)
se hace camino al andar 1
1 António Machado (1912). “Proverbios y cantares”, in: Campos de Castilla. Madrid, Renacimiento.
Peregrino pela galeria e vejo a inserção no mundo abstrac- entre a reivindicação do monstruoso e do grotesco, e questões
cionista de figuras bem circuitadas suportadas por uma do seu universo íntimo ou da história contemporânea de
explosiva linguagem policromática que, dando conta do forma mais contida mas, nem por isso, menos perturbadora.
visível, sugerem também o invisível. Há nestas obras uma Partindo da realidade, Hélder Bandarra submete os temas e
intrincada contextura narrativa cuja linha accional semântica motivos da sua arte à violência, à crueza e ao erotismo pro-
suporta, através da representação de formas identificáveis, cessando-os através da metamorfose e da hibridação, seja da
um pessoalíssimo imaginário. Fugindo ao abstraccionismo, e à decomposição e montagem de pedaços do real.
arte enquanto reprodução alardeada pelo realismo socialista,
inspirado no alemão neofigurativista Hans Platswcheck, Trata-se de uma obra que não se circunscreve a rótulos esco-
não negando o conhecimento do manifesto Nueva Figura- lásticos antes reflecte as tradições libertárias de todas as
zione (1963) da autoria de Alberto Moretti, Antonio Buono estéticas precedentes. Dela exala a ideia de unidade muito
e Silvio Loffredo, conhecedor das obras de Antonio Saura e além da ideia wagneriana de síntese, assumindo o postulado
Jan Lebestein e, sobretudo, desde sempre influenciado pela de que as artes são em si a Arte una e irrepartível, achando-se
arte francesa, Hélder Bandarra bebe os ensinamentos de a síntese no próprio acto de criação. Há o desejo de “corte
Jean-Louis Ferrier, principal teórico deste movimento, recrean- de relações com as múmias de todas as escolas e de todos
do-os de forma pessoalíssima. os partidos” (António Pedro), mas tão só com “as múmias” e
nunca com as tradições libertárias a que acima aludi. A au-
Destarte, despreocupado da perspectiva clássica bidimen- tenticidade anímica da forma, longe do genuíno automatis-
sional, é manifesta a demanda da representação exterior de mo psíquico, não nega figuras tutelares como René Magritte
figuras do seu mundo interior naturalmente conotadas com ou Giorgio de Chirico.
a realidade. Este grau de representação configura-se variável
e vai desde a imitação das três dimensões, à perspectiva do Esta arte, apoteoticamente consciente do inconsciente,
ponto único e do tromp l’oeil. Ignorando certas regras da torna-se embaixadora de uma babel estética, desaf iadora
academia, Hélder Bandarra, num gesto inusualmente irreve- da ordem racional, onde a metamorfose dos motivos gera o
rente, inspira-se em antecessores e coetâneos para a recons- convívio entre monstros tumultuosos, corpos truncados, aves
trução de princípios estéticos. agoirentas que, intimamente, se associam e dialogam – e daí
o poder idiossincrático destes desenhos – com anjos, figuras
Absorvido mais pelos pontos e as linhas do que pela repre- da comédie de l’art, instrumentos musicais ou flores, ostensi-
sentação naturalista, o artista opta aqui pela imagem vamente insinuadores da actual babilónia vivencial.
espalmada. Não negando o cubismo de Braque e Picasso,
inventiva imagens fragmentadas e, por vezes, distorcidas, Os trabalhos neofigurativistas de Hélder Bandarra são por
através da manipulação e simplificação da forma e também demais demonstrativos de que em “arte, a única distinção
da linguagem das cores vivas, intensas e puras. Estilhaços importante é a distinção entre boa e má arte” (Clive Bell) e
fundem-se e confundem-se, extinguindo-se, por vezes, erigem o passado ponto sustentador do presente e do futuro
numa outra figura que estabelece novas relações entre os – se hace camino al andar.
fragmentos que povoam a superfície plana. Vestígios do
futurismo e do vorticismo à Severini e à Bomberg presen-
tificam-se no dinamismo e na fluidez dos traços pondo a Isabel Ponce de Leão
máquina estética ao serviço do mundo moderno e demons- No Porto, em Abril de 2023
trando que os movimentos de antanho são rigoroso suporte
do estado actual da arte.
O EXPRESSIONISMO
FIGURATIVISTA DE
HÉLDER BANDARRA
Dar de frente com uma pintura do artista Hélder Bandarra Apaixonado pelas correntes vanguardistas, nota-se que
é como ir a um encontro social. Sem nos apercebermos escolheu o expressionismo figurativista, onde saboreou
inventamos uma estória sucedida ou a suceder. A imagem o fauvismo e o cubismo, como se infere da análise desta
obriga-nos a criar uma narrativa, um conto. mostra. No entanto, Hélder Bandarra soube, com aqueles
sabores, desenvolver um estilo muito próprio, que classifico
Dei-me conta disso, quando visitei o estúdio do Hélder. de notável.
Enquanto se iam selecionando e fotografando as telas sem
título, ocorria-me automaticamente um possível título que Seguramente que se tratou de uma excelente escolha e fica
descreveria a cena de acordo com a minha vivência imagina- a certeza que a Galeria d´Arte ORTOPÓVOA se valoriza com
tiva. Outro observador encontraria por decerto outra etiqueta esta exposição.
para classificar a cenografia contida na imagem. Dito de outra
forma, a mesma imagem desperta diferentes mensagens a
quem a lê. Por isso, o artista não lhe dá título. Afonso Pinhão Ferreira
Administrador da ORTOPÓVOA
De facto, numa amálgama de cores vigorosas e figuras es-
tilizadas, com desconstruções e sobreposições pictóricas, o
pintor dá voz a um expressionismo simbólico e figurativo. Com
as figuras intrincadas em manchas cromáticas, baseadas em
desenhos algo geométricos, Hélder Bandarra promove a
deformação da realidade, sugerindo-a ao provocar encontros
sociais das figuras, reuniões essas que são emocionalmente
percetíveis pelo observador.
Como num palco encenado, somos convidados a mergulhar Pari Passu à escrita deste texto breve, revisitámos a Ária
nas figurações encetadas na tela de Hélder Bandarra, ao Rainha da Noite, da Ópera A Flauta Mágica, numa libertação
mesmo tempo que embalamos na teatralidade musical do da polifónica polissemia, resultado da sedução consentida à
cenário, ora plasmado, ora interseccionado, mas desenhado, “livre expressão e sensualidade de processos” do operāri do
em notas sonoras de cor musicadas com cenas de vidas. artista plástico.
A este concerto assistimos na última visita ao atelier do A linguagem policromática da pintura aqui exposta
artista em reunião preparatória, registo fotográfico, e seleção compõe-se cenário da composição que Helder Bandarra
de obras num universo infindável de narrativas, discursos nos convida a visitar, em sonidos e cantatas, harmonica-
e representações que nos seduziu. Desde logo, silencioso mente orquestrados na manipulação de averiguativas
ouvinte, somos arrastados por inúmeras narrativas pessoais formas, f iguras, f ragmentos, interseções e melódicas,
da interioridade arrancadas e expostas, pinceladas em inquisitivamente sedutoras, subjugadas a uma estruturante
discursos estéticos desconstruídos, por um imaginário ordem na sua articulação geométrica, com uma maestria de
pessoal em contínua reconstrução representado. magistral expressividade.
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