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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ

Especialização em História Da Arte Moderna e Contemporânea

Realidade da ilusão

Trabalho Final de Avaliação da Disciplina

"Realismo - 1960" ministrada por

profa.: Ms. Caroline Saut Schroeder

Aluno: Wagner Polak Soares

Curitiba

2012
Realidade da ilusão
Wagner Polak Soares
ilmoprofe@gmail.com

Independente de seu contexto, a Arte sempre foi envolta com a confrontação da


realidade externa à ela, seja no olhar do observador que para aprofundar-se na experiência
artística busca sentido no que vê à frente ou na representação da obra. São esses limites da
obra e a realidade que nos fazem acrescer da nossa interpretação a escolha entre o olhar da
objetividade baseado no naturalismo ou do subjetivo simbólico. “Só há sentido na criação,
quando a Ilusão a que o artista está acometido, suspende seu domínio lógico, ou seja, quando
as bases de sua realidade ordinária, da objetividade intrínseca que fundamenta sua razão, se
sublimam ante o que é extraordinário, assim alargando, por assim dizer, os limites da noção
de realidade.”(Mario Andriole 2002). Durante muitos séculos, principalmente as artes visuais
como a pintura, o desenho e a escultura, o valor do artista estava, então, na capacidade de
imitar a natureza com fidelidade e perfeição. Essa era a “ilusão” almejada pela antiguidade
clássica nos manifestos socráticos. As obras desses períodos em que prevalece a arte
figurativa transmitem pequenas narrativas e informações preciosas, tal como traços da
personalidade da pessoa, detalhes do nível social e forma de vida, referências às
circunstâncias históricas e aos costumes. Atualmente a realidade retratada já agrega uma
simbologia interpretativa que à parte desse realismo representativo carrega um sentido
implícito. O olhar contemporâneo sempre irá buscar um “porquê” e não somento o “como”.

No presente trabalho abordo duas obras, uma nacional e outra chinesa, de exemplos
dessa narrativa mas com intencionalidades distintas de suas representações.

A primeira obra é O Espectador e o Ilusionista(1994), de Carlos Eduardo


Zimmermann, nascido em Antonina, é considerado um dos principais representantes por
vezes do surrealismo outras do realismo paranaense, embora na sua produção mais recente
críticos apontam uma passagem do surrealismo explícito, “de referências eróticas”, para um
realismo minucioso que chega a parecer inquietante e irreal. Tavares de Araújo, crítico que
recentemente escreveu o livro sobre a coletânea do artista paranaense, por sua vez, decompõe
a obra em três coordenadas: o desenho realista dos detalhes, herança do hiperrealismo; a
organização regular do espaço como nas composições abstratas geométricas; e seu clima
“insólito” e sugestivo. “Não é possível ver, na arte de Zimmermann – seja na de ontem, seja
na de agora – , a que demônios pessoais ela serve de catarse. O que o seduz e o motiva não é,
portanto, o grito visceral, mas sim um jogo polido e civilizado, uma arte como dosagem e
controle de efeitos, como excitação da sensibilidade em seu lado mais intelectual e
sofisticado, e não em sua rudeza ou em seus abismos”, analisa.

O ESPECTADOR E O ILUSIONISTA, pastel encerado, 30 x 30 x 19 cm, 1994.

Zimmermann diz não ter preferência por técnicas, expressa-se também em esculturas,
desenhos, colagens, gravuras. Faz arte abstrata e figurativa, não há contradições, apenas
interações. Só se entendem espaços e visões compartilhados, e transmite isso para um mundo
que ainda não entende “...é o amor, e não a vida, o contrário da morte. E medo, não a morte, é
o contrário da vida”, diz. Segundo Zimmermann, sua intenção é colocar objetos cotidianos em
uma atmosfera de irrealidade e mistério. Ele se defende dizendo que seu trabalho nada tem a
ver com o hiperrealismo, e sim, com o cotidiano e o irreal. No caso específico da obra aqui
estudada, ele se autoreferencia à outra fase sua onde representava embrulhos e envelopes que
instigavam o observador à ter que imaginar que obra ocultavam iludindo à própria pintura a
papel de invólucro. Mas como a sua famosa série “Embrulhos” eram uma representação desse
oculto, aqui ele revela que a própria representação desse embrulho é a obra de arte.

Talvez acredite que não precisa explicar sua arte, mas induz a diferentes construções
simbólicas. A pintura realista é primeiro um método de interpretação e documentação de
nossas percepções, toda arte tem origem na mente humana, o artista vê o que ele está
preparado para ver e o observador interpreta o que seu repertório próprio classifica e alcança,
ou seja a realidade imediata. nas nossas reações ao mundo mais do que no mundo visível em
si. Arte é a união de percepção e pensamento e a percepção não se limita aos sentidos e sim a
sua interpretação.
A segunda obra abordada vem do artista conceitual Zhu Yu, que em 2000 tornou-se
famoso(ou infame) por uma série de fotografias mostrando ele ostensivamente cozinhando e
comendo um feto humano, intitulado Dinner–Eating People. Este trabalho foi parte de um
conjunto maior, em que Zhu explorou os limites morais e psicológicos de usar o corpo em
obras de arte - uma investigação de acordo com a sua prática em geral, através do qual ele
desafia a linguagem da arte, sondando suas limitações e desafiando as políticas de seus
limites.

Zhu Yu - Pebble No.9 (2010) Oleo sobre tela. 100 × 80 cm

Recentemente, Zhu vem produzindo uma tendência crescente na arte do oriente


voltada pra construção de idéias imagéticas, realidades meticulosamente detalhadas, pinturas
realistas de seixos e manchas deixadas por chá no fundo de xícaras de porcelana. Mesmo
essas obras não sendo sensacionais como suas performances anteriores, elas se baseiam em
objetivos semelhantes. Através delas, Zhu transforma o mundano em objetos requintados de
contemplação estética, indagando de uma forma diferente, o que constitui uma obra de arte.
Mesmo dentro de um período de arte global, ambos figurativos tem simbolismos distintos e
não cabem como paralelos ou opostos, apenas diversos. Cada contexto aqui deve ser visto
isoladamente, senão cairemos na mesma armadilha de analisar a arte contemporânea com
olhos modernos.

Assim encontramos uma disputa pela definição do sentido da arte. Mesmo na pesquisa
acadêmica, no tocante ao estudo da arte, enquanto a história conta o que aconteceu a arte
simplismente acontece. Nosso primeiro entendimento parte daqui, nessa aproximação do
conceito de arte e voyerismo e toda mídia onde inserimos atenção... Seja isso por repúdio ou
defesa, visto que estamos começando depois de um século, a aceitar a importância da
imaterialidade conceitual. Vemos que a realidade da arte é muito mais limitada que a
realidade na arte.

Referências

- As formas do ready made: Duchamp e Brancusi. In: KRAUSS, Rosalind. Caminhos da


Escultura moderna. S.Paulo: Martins Fontes, 1998

BELTING, Hans, O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois, São Paulo: Cosac &
Naify, 2006.

SENNET, R. Carne y Piedra: el cuerpo y la ciudad en la civilización occidental. Madrid:


Alianza Editorial.1997.

GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusao: um Estudo Da Psicologia Da Representaçao. Wmf Martins


Fontes. 4ºedição. 2004.

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