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A OBRA DE ARTE E O ARTISTA


CARMEM FREAZAi

O artista é o homem que possui a capacidade e o desejo de transformar


a sua percepção visual numa forma material. A primeira parte de sua ação é
PERCEPTIVA, e a segunda é EXPRESSIVA, mas na prática é impossível separar
esses dois processos: o artista expressa o que percebe; e ele percebe o que
expressa.
Segundo Wassily Kandinsky (1990, pg. 116), a arte em seu conjunto não
é uma criação sem finalidade que cai no vazio. É uma força cujo objetivo deve
ser desenvolver e apurar a alma humana.
“E é sempre nas épocas em que a alma humana vive mais
intensamente que a arte torna-se mais viva, porque a arte e a alma se
compenetram e se aperfeiçoam mutuamente.”
Kandinsky (1990, pg.117) ainda diz sobre o artista: ele deve reconhecer
os deveres que tem para com a arte, portanto para consigo mesmo, não se
considerar o senhor da situação, mas alguém que está a serviço de um ideal
particularmente elevado, o qual lhe impõe deveres precisos e sagrados.
E mais, sua tarefa não consiste em dominar a forma e sim em adaptar
essa forma a seu conteúdo. Ele deve estar convencido de que cada um de seus
atos, de seus sentimentos, de seus pensamentos, é a matéria imponderável de
que serão feitas as suas obras e que, por conseguinte não é livre nos atos de sua
vida e que só na arte é livre.
Segundo Herbert Read (1980, pg. 10) a história da arte, em seu todo, é
uma história de modos de percepção visual, das várias maneiras como o homem
viu o mundo.
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Vemos o que queremos ver, e o que queremos ver é


determinado, não pelas inevitáveis leis da óptica ou mesmo por um
instinto de sobrevivência, mas pelo desejo de descobrir ou construir um
mundo verossímil. O que nós vemos deve fazer-se real. Assim a arte
converte-se na construção da realidade.
Herbert Read

Sob a ótica da Psicologia, Dra. Nise da Silveira (1975, pg.155) diz:

A psicologia analítica não pretende nunca opinar sobre o valor


estético das obras de arte nem explicar o fenômeno arte. Seus
pronunciamentos limitam-se a pesquisas concernentes aos processos de
atividade criadora e ao estudo psicológico da estrutura da produção
artística... A decifração das imagens simbólicas que tomam forma na
obra de arte, trazendo luz sobre as significações que encerram e que
excedem as possibilidades comuns de compreensão da época em que
adquiriram vida.

Lemos na obra de Dra. Nise da Silveira (1975, pg.157) que Jung


distinguiu dois processos na criação das obras de arte literárias: o psicológico e o
visionário.
No psicológico as obras são de fácil compreensão, os temas conhecidos
(paixões, sofrimentos, tragédias). São os romances de amor, as poesias líricas,
épicas, comédias e tragédias. São obras que deixam o leitor com um sentimento
de já ter vivido ou pensado nisso antes, são reconhecidas universalmente e os
estudos psicológicos delas não trazem tantas contribuições. O autor consegue
um domínio intelectual sobre a obra criada, ela está submetida à sua intenção
artística.
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No processo visionário, as obras se tornam estranhas, misteriosas,


continuando com a colocação de Dra. Nise da Silveira (1975, pg. 157),

A experiência vivida ou o objeto que constituem o tema da


elaboração artística nada tem que nos seja familiar. Sua essência nos é
estranha e parece provir de distantes planos da natureza, das
profundezas de outras eras, ou de mundos de sombra ou de luz
existentes para além do humano... O artista não domina o ímpeto da
inspiração que dele se apodera. Obedece e executa, sentindo que a sua
obra é maior que ele e, por este motivo, possui uma força que lhe é
impossível comandar.

Nas artes plásticas o crítico contemporâneo Herbert Kuhn vê uma


semelhança nessa divisão de Jung, e fala da ARTE DOS SENTIDOS e da ARTE DA
IMAGINAÇÃO, onde a primeira se inspira na natureza exterior, no que se vê,
enquanto que a segunda se expressa através de fantasias, experiências internas
do seu criador e pode ser vista como arte abstrata, surreal, onírica.
Nise da Silveira (1975, pg. 161) diz:

Do ponto de vista junguiano a psicologia pessoal do artista


poderá esclarecer certas características de sua obra, mas não a
explicará... Os conflitos pessoais do artista, sua problemática emocional,
não são decisivos para o conhecimento de sua obra. Lançarão luz sobre
um ou outro detalhe. A autentica obra de arte, porém, é uma produção
impessoal. O artista “é um homem coletivo que exprime a alma
inconsciente e ativa da humanidade”... Ele mergulha até as funduras
imensas do inconsciente.
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Na abordagem da obra de arte, Freud fundamentava-se nos


condicionamentos individuais do criador procurando desvendar os conteúdos
secretos da obra em relação à problemática afetiva do artista, já Jung via a obra
de arte como “uma produção suprapessoal” e para interpretá-la não se detinha
na psicologia do autor, ia além, procurava o motivo arquetípico sobre o qual ela
estaria estruturada, pois segundo ele, “o processo criador, consiste numa
ativação inconsciente do arquétipo, no seu desenvolvimento e sua tomada de
forma até a realização da obra perfeita”.

ARTE
A palavra “ARTE”, embora se associe em geral às artes plásticas ou
visuais, mais ainda à pintura, compreende na verdade, essas e mais a música, o
teatro e a palavra em verso e prosa.
Todas essas expressões possuem características em comum e uma delas
é a tentativa da criação estética, agradável, onde a unidade, a harmonia das
partes que a compõem, possibilita a sua apreciação que na maioria das vezes é
traduzida pelo sensório, enfim pela percepção sensorial. É preciso dizer que nem
toda arte deve ser necessariamente considerada como expressão de beleza,
assim como nem tudo que é belo ou agradável é arte.
A própria história da arte mostra o quanto a arte pode não estar
associada apenas ao conceito do belo. Esse conceito surgiu na Grécia antiga
exaltando os valores humanos e os relacionando aos deuses. Esta arte, ao lado
da religião, idealizava a natureza e colocava o homem como seu ponto
culminante, o tipo perfeito, ideal, nobre, belo. Mais tarde Roma reviveu esse
conceito na Renascença e até hoje influencia a cultura ocidental.
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Na cultura oriental, tem-se um outro conceito do que seja arte: abstrato,


metafísico, menos intelectual e mais intuitivo. Também diferente é o conceito
primitivo do que seja beleza.
Para se conceituar a arte, é preciso, pois levar em conta a época, a
cultura e o lugar em que ela foi criada, porque é resultado dessas mesmas
condições a influírem sobre o homem, o artista criador. Ela expressa o que ele
sente e como percebe o mundo que o rodeia.
Segundo Jung (1991, pg. 71) “a arte representa um processo de auto
regulação espiritual na vida das épocas e das nações”.
Para as antigas civilizações a arte apesar de ser um processo místico,
ligado aos fenômenos desconhecidos da natureza, era objetiva, na medida em
que seus criadores tendiam a imitar a natureza que tão pouco conheciam. E
assim as regras eram para a reprodução fiel das formas e das cores dos
elementos naturais. Na Idade Medieval, esse pensamento muda e a arte se
vincula ao Sagrado, à Igreja, afastando-se do secular, do naturalismo. Com a
Renascença ele volta já com algumas diferenças, incluindo, por exemplo, a
sensualidade.
Na arte moderna, segundo Herbert Read (1974, pg. 6) “apesar de toda
a sua complexidade (a qual também se subtende variedade), possui uma
unidade de intenção que a distingue completamente da pintura em períodos
anteriores: a intenção, como disse Klee, não é de refletir o visível, mas de fazer
visível”.
A arte contemporânea traz com ela uma proposta de crítica, de
desconstrução de uma falsa realidade social, ressaltando ambigüidade dos
tempos atuais.
De modo geral, a arte expressa os valores e os sentimentos profundos
do ser humano, suas esperanças e sonhos, em determinado espaço e tempo da
sua História ainda que na maioria das vezes, o artista produza a sua obra
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visando tão somente a arte em si mesma, apenas um fazer artístico com uma
finalidade estética. Essa procura pelo estético é somente o movimento inicial
para a atividade artística.
O desenvolvimento da democracia trouxe uma conscientização de que a
arte existe para todos, não só no sentido da sua apreciação, mas também no da
sua produção. Passa a existir uma nova crença, a de que todos possuem a
capacidade inata de fazer arte.
Com isso a educação artística passou a ter m novo enfoque, as artes
populares e primitivas tornaram-se respeitadas e apreciadas, e o que antes era
considerado privilégio só dos “artistas”, em alguns aspectos ficou sendo possível
ao chamado homem comum, inspirando-o e revitalizando-o.

ARTETERAPIA – A ARTE EM TERAPIA

Criar não representa um relaxamento ou um


esvaziamento pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade;
criar representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; e,
em vez de substituir a realidade, é a realidade; daí o sentimento do
essencial e necessário no criar, o sentimento de um crescimento interior,
em que nos ampliamos em nossa abertura para a vida.
Fayga Ostrower

As artes, quando perderam sua função de propagadoras das religiões e


dos sistemas monárquicos, foram transformadas em meios de decoração,
existindo apenas para dar prazer, mas isso logo foi questionado pela psicologia
moderna, e ela passou a ser utilizada como auxiliar da psicoterapêutica, abrindo
possibilidades, à pessoa que cria, de resgatar a sua capacidade de expressão.
Tornou-se uma ferramenta muito importante para o resgate do potencial criativo
e a capacidade de expressão de indivíduos em busca de auto conhecimento.
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O desenvolvimento do potencial criador propicia uma maior e melhor


relação entre o consciente e o inconsciente e permite que se reconheça nas
imagens produzidas, os conteúdos internos, ampliando o auto conhecimento e a
percepção dos limites, criando a possibilidade de se poder pensar e agir
diferente, o que pode resultar em melhor qualidade de vida.
Ao se fazer arte, é possível experimentar caminhos novos, redescobrir
antigos, estimular as funções (pensamento, sentimento, intuição, sensação)
sendo isso muito importante para compreensão e transformação dos vários
aspectos da vida.
O trabalho artístico, mesmo sendo só rabiscos, manchas ou formas sem
muito sentido, tem significado relevante, pois é a partir dessas criações plásticas
e de seus aspectos transformadores que acontecem as mudanças.
Fazer emergir conteúdos do inconsciente por meio da arte é o ponto de
partida da Arteterapia, método que busca dissolver traumas e conflitos a partir
da leitura, feita pelo próprio paciente, da sua expressão artística. A arte funciona
como mediadora entre o homem e a natureza, atuando como elemento
indispensável no processo de humanização dos seres no mundo, sendo assim um
instrumento de sensibilização e de afirmação da auto estima.
Como o simbólico é muito trabalhado na arte, ele torna-se um meio de
trazer para o consciente a existência de traumas e conflitos.
Auxiliar o paciente na análise de sua produção artística é exatamente o
papel do arteterapeuta, cujo trabalho deve unir a abordagem artística e
psicológica. Os resultados da aplicação da arteterapia são verificados em todo
tipo de paciente, desde idosos a crianças, pessoas com patologias físicas, com
necessidades especiais, assim como pode ser aplicado em hospitais, instituições
educacionais, comunidades e em relações interpessoais nas empresas.
A arteterapia é um instrumento terapêutico, revelador, transformador e
colaborador na construção da saúde psicoemocional, através do estímulo à
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criatividade. É também aplicada no desabrochar do imaginário, a partir da idéia,


expandindo o desenvolvimento como um todo, que possibilita a integração do
aprendizado emocional ao aprendizado de conhecimento e informações
adquiridas da cultura humana – no caso do Brasil, as culturas indígena, africana
e portuguesa, que deixam uma herança nos costumes, ideologias, religião,
fazendo assim parte do inconsciente do povo brasileiro.
Segundo Urrutigaray (2003, pg.24), a finalidade da Arteterapia consiste
em possibilitar a emergência de uma imagem imaginada transposta em imagem
criada, a partir da utilização de materiais plásticos. E diz:

A objetivação de um conteúdo expressivo faz-se por meio das


técnicas arteterapeuticas e pela organização resultante, denominada de
forma. Por ela, a intimidade presente na subjetividade, pode ser
convertida de elementos fragmentados em possibilidades factíveis de
serem vislumbradas. Ela alcança sua meta como função terapêutica por
permitir essa passagem de um conteúdo inconsciente, não assimilado,
transmutado ou transformado em outro conscientizado.
A arteterapia busca um visualizar de conteúdos expressivos,
onde a forma converte a expressão subjetiva em comunicação
objetivada. Ou seja: a forma originada traz em si uma realidade empírica
em contraste com a mera possibilidade, ilusão imaginação ou idealização.
O trabalho com arteterapia visa exatamente permitir a ação
mental com o intuito de extrair a emoção que se encontra oculta como
idéia na imagem formada. Então o assim chamado conteúdo ideal
provido de coloração afetiva, como parte ainda inconsciente e presente
na imagem criada, transmuta-se em realidade capaz de ser identificada,

porque encontra um campo para ser materializado.


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O fazer arteterapeutico possibilita à pessoa reconhecer-se nas imagens


produzidas e dialogar com elas, trazendo para a consciência o inconsciente,
gerando compreensão, expansão e integração da estrutura psíquica.

ARTETERAPIA
A arte é tão antiga quanto a vida do homem neste planeta, mas foram
as pinturas rupestres nas cavernas que primeiro registraram a expressão
humana, e em toda a evolução do homem a arte sempre esteve presente
ajudando-o a viver melhor, a melhor compreender a vida.
Ao desenvolver o sistema límbico, potencializando a busca do
conhecimento, o homem percebeu a necessidade de representar, através de
imagens e sons, e de forma simbólica, a realidade que experimentava.
Nas antigas civilizações era a arte um processo místico, que servia para
fazer contato com a natureza, com o cosmo. Na Grécia a arte foi usada como
tratamento para cura de doenças mentais. Na Idade Média, a arte serviu a
Igreja, ao Sagrado. E, assim chegou até a Modernidade, sempre atuando como
expressão da alma.
Segundo Pain (1996, pg. 13) já desde o final do século XIX, psiquiatras
estavam interessados nas produções plásticas dos alienados. Nesse contexto
estava Simon, que em 1876, classificou os doentes mentais conforme seus
trabalhos artísticos. Nesta época a arte era usada para diagnosticar as doenças
mentais.
Mohr, em 1906, utilizava as criações dos seus pacientes, comparando-as
com as de pessoas normais e com as de artistas conhecidos. Prinzhorn, por volta
de 1920, já analisava os trabalhos dos pintores surrealistas, expressionistas e
impressionistas. Nesse meio tempo, surgiram pedagogos como Montessori,
Rudolf Steiner, e outros, que estimularam a expressão artística nas crianças
(pedagogia ativa).
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Segundo Urrutigaray (2003, pg. 21), nos centros psiquiátricos, as


pessoas com formação artística passavam instruções rudimentares das técnicas
aos pacientes para acalmá-los, canalizando emoções fortes de modo menos
ameaçador.

Com o surgimento da Psicanálise, e o aprofundamento nas


questões do inconsciente, a utilização de modalidades expressivas, com
finalidades terapêuticas, ganha a categoria de elemento propiciador de
catarses e de entendimento para o terapeuta acerca dos problemas do
seu paciente.
Maria Cristina Urrutigaray

Freud considerava a arte, resultado de uma neurose, que foi sublimada


e com isso ele não reconhecia o ato genuíno da criatividade.
Carl Gustav Jung, também em torno de 1920, começa a usar a arte em
seus tratamentos vinculando-a a sua Psicologia Analítica.
E é a partir dos trabalhos de Jung e Freud, entre 1920 e 1930, que o
uso da arte foi ficando cada vez mais freqüente como coadjuvante do processo
psicoterapeutico.
Mais tarde, já a partir dos anos 40, Margareth Naumburg, nos Estados
Unidos, valorizando a resolução de conflitos intrapsíquicos, defende o uso da
“arte em terapia”, como modo de liberar o inconsciente pela expressão artística
espontânea. Ela sistematizou a arteterapia trazendo um novo impulso para o uso
das artes como complemento terapêutico.
Também na Europa, a arteterapia se torna oficial e, mais tarde em 1980,
surgiram cursos de graduação e pós-graduação nessa área.
No Brasil, em 1970, ocorre o primeiro curso de Arteterapia na PUC, e em
1996, no Rio de Janeiro o primeiro de pós-graduação.
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Teorias como o Psicodrama de Moreno, a Gestalt de Perls, a linha


humanista, a sistêmica, a construtivista e a transpessoal trouxeram novos
embasamentos teóricos para a arteterapia e diversas técnicas de mediação
artística: musicoterapia, dançoterapia, etc.
No Brasil surgem dois nomes importantes: Osório César (freudiano) e
Nise da Silveira (junguiana).
Osório César, estudante interno do Hospital do Juqueri, cria em 1925, a
Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, em São Paulo.
Nise da Silveira, psiquiatra, baseando-se na teoria junguiana,
desenvolveu um trabalho de terapia expressiva, pesquisando formas de
compreensão do universo mental dos pacientes internados.
Em 1946, no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, Rio de Janeiro, instituiu
oficinas de trabalho artístico, na Seção de Terapia Ocupacional. Em 1952, criou o
Museu de Imagens do Inconsciente.
Na Bahia o primeiro curso de formação em Arteterapia aconteceu em
2000, e atualmente já existem os de Especialização.

ARTETERAPIA JUNGUIANA

O que está à nossa frente e o que está atrás de nós são coisas
insignificantes se as compararmos com o que há dentro de nós. E,
quando pomos para fora, no mundo, o que trazemos em nós, milagres
acontecem.
Henry David
Thoreau

Segundo Philippini (1995), a abordagem junguiana considera a princípio


que os indivíduos são sempre orientados por símbolos, em seus processos de
vida. E esses símbolos emergem do Self, que seria o centro de saúde, equilíbrio
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e harmonia, o potencial mais pleno, a essência de cada um, a totalidade de cada


psique e ele necessita ser compreendido, reconhecido.
O que a abordagem junguiana propõe é o fornecimento de suportes
materiais diversos e adequados para que a energia psíquica plasme toda essa
simbologia utilizando as expressões artísticas.
Os símbolos retratam a psique em suas múltiplas facetas, ativando e
realizando a comunicação entre o inconsciente e o consciente (ego), com isso
eles colaboram para a compreensão e a resolução de conflitos afetivos
favorecendo a estruturação e expansão da personalidade através dessas
criações. Eles podem ser encontrados não só nestas criações artísticas como
também nos sonhos e no próprio corpo (alterações no funcionamento do
organismo) com as “doenças criativas”, indicando a necessidade de
transformações dos padrões de funcionamento psíquico.
A arte em suas diferentes linguagens (desenho, pintura, escultura,
teatro, dança, música, etc.) seria, portanto um bom recurso, um instrumento
lúdico e mágico para o conhecimento dos conteúdos simbólicos que surgem do
mais profundo da alma humana, pois sentimentos, idéias, emoções, movidos
pela energia psíquica, poderiam ser expressos através de linhas, de formas, de
cores, de texturas, luz e intensidade cromáticas, contidas nas produções e
expressões artísticas resultando em um processo terapêutico de desbloqueio da
comunicação do inconsciente com o consciente, trazendo para a luz da razão
imagens capazes de restaurar a saúde psíquica.
O arteterapeuta nesse momento tem a função de um facilitador de todo
o processo de expressão, oferecendo as possibilidades materiais para que a
pessoa possa se sentir estimulada e à vontade para expressar-se sem inibições,
com criatividade, trazendo para a consciência informações contidas, reprimidas
no lado desconhecido, na sua sombra.
Segundo Philippini (1995),
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Através dos materiais para desenhar, das tintas, dos materiais


para colagens, das variadas formas de modelagem, dos fios para
tecelagem, dos papéis para dobradura, da confecção de máscaras, da
criação de personagens, das miniaturas no tabuleiro de areia, de
materiais naturais como folhas, flores, sementes, cascas de árvores, ou
da aproximação e experimentação com elementos vitais como a água, o
ar, a terra e o fogo e inúmeras outras possibilidades criativas, surgirão os
símbolos necessários, para que cada indivíduo entre em contato com
aspectos a serem compreendidos e transformados.... O símbolo como
linguagem metafórica do inconsciente contém em si próprio o significado
de todos os enigmas psíquicos, cabendo ao arteterapeuta trazer ao
setting os instrumentos necessários para viabilizar este processo... E a
cada imagem e a cada símbolo vamos encontrando o outro e a nós
mesmos.

Já na década de 20, Carl Gustav Jung vincula a arte à sua Psicologia


Analítica, pois para ele o inconsciente, funcionando diferentemente da
consciência com suas funções diferenciadas, e sendo instintivo e não reflexivo,
se comunicará através de imagens onde estarão representados os seus
conteúdos. E pode-se encontra-las mais facilmente em produções artísticas
elaboradas criativamente.
Jung usava o desenho, a pintura e escultura como apoio no processo de
imaginação ativa ao analisar seus pacientes e também a ele mesmo. A vivencia
dos símbolos em técnicas expressivas ajudava muito na verbalização e no
trabalho de imaginação ativa que ele fazia. Seus seguidores não tiveram
dificuldades em incorporar seus métodos nos trabalhos aplicados em seus
clientes, praticando a visualização criativa e complementando este processo com
o registro plástico das imagens surgidas e a sua verbalização.
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É missão do artista penetrar tão longe quanto possível na


busca do fundo secreto das coisas onde uma lei primordial entretém seu
crescimento... Com o coração batendo, somos levados cada vez mais
para baixo, para a fonte primeira.
Paul Klee

A arteterapia junguiana procura dar vida à imagem, para que ela por si
só se defina, se explique e conduza o paciente e o arteterapeuta na sua busca,
aos caminhos do arquétipo constelado. Símbolos e imagens darão a pista para se
chegar aos conteúdos que não conseguem por si mesmos o acesso à
consciência, reestabelendo assim os vínculos, promovendo a integração.
As imagens no papel, nas telas ou nos mais diversos suportes indicarão
como está desenvolvida a personalidade e poderão sempre ser usadas como um
grande recurso em todo o processo, durante todo o tratamento, permitindo ao
arteterapeuta o estabelecimento das devidas conexões na sua análise seqüencial.
Em todo o processo o arteterapeuta, deverá ter conhecimento de
história, mitologia, religião, e mais outras ciências, além de conhecer os contos
de fada, para poder ser capaz de promover a amplificação, estabelecendo
ligações históricas e mitológicas com essas imagens e símbolos expressos. Ele
precisará usar sempre, a associação quando do entendimento das imagens.
Segundo Philippini, (1995), “a peculiaridade da abordagem junguiana está
configurada nas estratégias de amplificação do material simbólico produzido nas
sessões. Amplificar um símbolo é um processo que retoma trilhas muito antigas,
presente na história do homem há muitos séculos”.
É preciso também que sejam ofertadas diversas modalidades de
expressão, para que se possa fazer melhor e de forma mais segura as
percepções dos conteúdos emergentes.
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A abordagem junguiana, ao mostrar a importância da criatividade (Jung


tinha consciência da existência de um mecanismo criativo que contribuía para as
mudanças na pessoa, ao qual chamou de Função Transcendente) tornou o
tratamento psicoterapeutico agradável, prazeroso, integrador, o que permite
muito mais facilmente a obtenção dos resultados transformadores ansiados.
Segundo Philippini (1995):

Trata-se de um caminho feito de cores, de formas, de


significados, por onde passam lembranças, desejos, medos, rancores,
afetos e esperanças. Este caminho às vezes é longo e divertido, às vezes
triste e sombrio, às vezes cheio de obstáculos, obrigando a recuos e
paradas... Por ele caminham viajantes tristes, solitários, ou por vezes
bandos alegres e ruidosos, e todos ao passarem deixam rastros e restos,
pistas e partes, com seus pés marcam o trajeto e alargam a passagem.
Há quem desista logo, quem caminhe um pouco mais, e quem
arduamente chegue até o final, para só então descobrir que este fim bem
pode ser só o começo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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i
Arquiteta e artista plástica, pós-graduada em Arteterapia Junguiana. Membro
da Comissão organizadora e de montagem do site Casa Jung e Arte
(http//:www.casajungearte.com.br).

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