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Título: Os princípios da Estética de Hegel.

BENTO, Marcella

Palavras-chave: espírito, arte, belo, ideal.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel, em suas lições sobre o estudo da estética, em


pretensão de um desenvolvimento científico, situa o Belo como modo mais
verdadeiro da Arte, da bela arte. Define arte como, aparência sensível da
ideia. O processo pelo qual procuramos eternizar nossa finitude. Afirma, que só
podemos criar e contemplar as artes, pelo lavor de nosso espírito, que acede
no interior âmago do nosso ser.

‘’A necessidade universal da arte é, pois, a necessidade


racional que o ser humano tem de elevar a uma consciência
espiritual o mundo interior e exterior, como se fora um objeto
no qual ele reconhece o seu próprio si mesmo’’ . ’HEGEL, G. W.
F.  Cursos de Estética I. Tradução de Marco Aurélio Werle; 2015. (Clássicos,
14) p. 53.]

A arte tem a tarefa de expor a ideia numa forma sensível, tal exposição é certa
de um laço entre a interioridade do sujeito que forma a ideia e a unidade da
forma sensível do objeto .A sensibilização da arte, necessária desse
mecanismo, indica Hegel, não é apenas o modo supremo de compreender o
concreto espiritual, pois a forma mais satisfeita da elucidação do concreto
sensível, é o que podemos ter no pensamento razoável como verdade. Essa
concretude abstrata é verdadeira ao pensamento que não seja unilateral, e que
se unem reciprocamente na concepção idealista.

Hegel analisa em seus ensinamentos o belo Artístico, como único interesse


etílico, produto do espírito, que se manifesta na materialização empírica dessa
consciência divina. Fundamentaliza, como prática vindo de seu meio, uma
precisa sistematização filosófica da arte, em que afirma considerar o filosofar
completamente inseparável da cientificidade.

Hegel forma seu conteúdo sobre estética partindo do interesse do belo


artístico, demarcando seu objeto somente neste. Ao excluir o belo natural
comumente associado à arte, ele o deleta e deve ocupar-se somente do belo
criado pela arte e pelo espírito absoluto. Hegel não nega o belo natural, mas o
supera pelo belo artístico, pois a atribuição que fazemos da beleza natural se
dá ao produto do gênio, e essa nova filosofia se fundamentaliza no conceito da
arte bela como ideal, que está presente na espiritualidade e liberdade do
homem.

Ao tentar afirmar a arte do belo artístico, como um estudo cientifico, precisa-se


da identificação de um método cientifico, partindo de um objeto e depois uma
fundamentalização para tal, o que abre dificuldades de validação, pois sua
metafisica idealista dispõe do objeto ‘’belo artístico’’ declarada de ordem divina
e que pertence à extensão do espírito. Isso aparenta ser inadequado e ávido
de seriedade específica aquilo que não possui por si mesmo uma análise séria.
Como cita Alberto Cupani em seu artigo ‘’A ciência e os valores humanos’’, que
endossa a tese de Longino (1990), segundo a qual as escolhas cientificas
envolvem ‘’suposições básicas’’ que pode incluir juízos de valor. (2004,115-
134). Certo que tais valorações sejam tomadas como motivações para se
seguirem pesquisas profissionais nas atividades cientificas.
Segundo Hegel a arte se realiza no campo da imaginação, uma mediadora
entre a razão e a sensibilidade, o belo resulta em uma vida na aparência, o que
parece prejudicial à arte necessitar desta ilusão. O que causa uma indagação
auspiciosa às mentes das Escolas dos Saberes, seria útil e vantajoso estudá-
las?

O primeiro homem é o primeiro visionário dos espíritos.


A ele tudo aparece como espírito.
O que são crianças, senão primeiros homens?
O frescor olhar da criança é mais transcendente
que o pressentimento do mais resolutos dos visionários.

Novalis

Espírito
substantivo masculino:
1. a parte imaterial do ser humano; alma.
ETIM lat. spirĭtus,’’sopro,respirar’’

A arte é a necessidade que o homem possui de objetivar seu espírito, em que


se possa o homem exprimir a consciência que tem de si mesmo, o valor ou o
significado de arte é proporcional ao grau de adequação entre ideia e forma. O
espírito reflete sobre si mesmo, observa seus próprios pensamentos e as artes
são geradas e sustentadas pelos interesses que o espírito determina o
conteúdo das Formas e suas figurações.

A reflexão dos seus estudos filosóficos, são capazes de conhecer a essência


do ser artístico do belo. Advém três formas de espiritualidade que segue as
esferas materiais e imateriais do mundo humano. A finitude e infinitude de suas
ações e dos seus centros significativos.

O espírito subjetivo finito do homem em si, equivale à sua consciência e


responsabilidade inata, designa a Fenomenologia do tempo e espaço. A
Antropologia deste espírito regente se acanha pelo ânimo da vida, o ‘’soco’’
vital da alma que estabelece no seu espectro natural. A Psicologia do seu ser
em controlar o querer, os desejos de forma arbitrária da sua vontade racional,
são todos os ativos cognitivos estimuladores dessa abstração.
O espírito objetivo finito do homem e, suas relações com o mundo, se
estabelece nos contratos e leis do mundo real, acompanhado da ocupação do
direito e suas propriedades éticas e moralistas das quais se vincula ao um
estado, que também é intangível. Esses efeitos são resultado das relações
sociais e dos tratados estatais das inúmeras nações no decorrer da história.
Essa realidade intrínseca desses acontecimentos é exposta na exterioridade
desse âmbito cosmológico. Estas configurações mudam com forme o tempo e
com os avanços informativos.

O infinito e apoderado espírito, que permanece impassível aos anos e aos


declínios de grandes povos e seus predomínios, subjaz no absoluto, formado
pela Arte, que podemos ver em suas peças ou relíquias guardadas com
desvelo, trazendo o conceito do que um dia se foi a exteriorização daquela
cultura, ainda que não se resta nenhum ser vivo daquela civilização, os feitos
artístico, se perpetuaram aos nossos olhos nos dias de hoje.

A Religião, em que os humanos buscam superar sua finitude e aumentar seu


grau de autoconsciência, perpassa toda espiritualidade contida em seu ser,
ultrapassando os limites de sua existência, em um âmbito sagrado e devoto.

Por último, a Filosofia, que transcende e faz superar o estado constante das
relações humanas, que se faz atemporal à sua historicidade, que pensa o
pensamento com seu poder de transmutação, prevalece e vai além.

Quando Hegel cria seu sistema das artes particulares, ele procura investigar o
grau das relações de divindade dos humanos em seu determinado tempo ao
decorrer da história. Hegel, apresenta uma hierarquia dos estágios de
ascensão das variáveis culturas e seus modos de expressão artístico,
pontuando as principais formas de representação das cinco belas artes nesses
períodos.

Se estendem em primeiro lugar o Simbólico Oriental que é atribuído pela


técnica da arquitetura, onde se incide uma divindade natural que é mesclada
ao humano, como na era dos primórdios, em que o culto aos diferentes deuses
eram realizados com máscaras e incorporações de ancestrais, trazendo em si
formas simbólicas das estruturas humanas e animais.

No período clássico, representado pelos gregos, e pela forma artística da


escultura em seu plano maior, tem maior êxito na observação de Hegel, pois
diz ele, ter melhor adequação artística ao retratar fielmente uma verdade
divina.’’ Os gregos antigos, como Hegel frequentemente observa, ‘’resolveram
o enigma da esfinge’’, e transformaram a genérica concepção egípcia do
absoluto em um concepção especificamente centrada no ser humano,
desenvolvendo para si mesmos uma concepção mais verdadeira, mais precisa
e mais determinada acerca daquilo que é divino’’ (Wicks, R. 414- A estética de
Hegel, in Baiser, F. 2014).

O espírito se torna o homem na própria manifestação sensível da escultura,


projetando o mesmo sujeito, na construção tridimensional da forma humana. O
artista que esculpe, segue o padrão ideal de como é deve ser construída para
que possa expressar dentre seus aspectos da idealização. Em que afasta a
naturalidade humana e sua animalidade para obter a divindade em um plano
espiritual, e impõe ao mesmo tempo sua individualidade artística.

Por fim, com o regresso da era cristã, formalizada pelo período romântico,
Hegel descreve o fim da bela arte. O corpo de desune dele mesmo, sendo
espírito, e passa ser objeto de desprezo e imoralidade, o sagrado se encontra
em uma esfera inalcançável e incontingente, estabelecendo uma distância
daquilo que a arte realmente pudera expressar. Ao banir as experiências
sensíveis e materiais do pleito sagrado, a história da arte sofre uma mudança
desarmoniosa de modo que a arte passa a mergulhar em questões
interiormente subjetivas. Essa modernização desmaterializa o abstrato, e se
dirige à arte com reflexões e discussões, culminando ao fim da idealização da
bela arte.

A idealização que Hegel concebe, deve alcançar a existência e realizar


exteriormente de modo sensível. A beleza é a ideia, a ideia é a verdade,
portanto a beleza deve ser verdadeira enquanto ideia.

O belo deve ser universal, antes mesmo do objeto visto. Tal beleza se
determina na função recíproca do conceito e do fenômeno. Como a beleza não
está nas coisas, pois elas não podem apresentar beleza como algo que está
determinado por elas mesmas ou por nós. O sujeito executa seu interesse na
medida que transforma tais objetos, desse modo ambos são dependentes do
outro, o objeto está para o sujeito e o sujeito para o objeto. O objeto não é
autônomo de si pois seu conceito e utilidade será estabelecido pelo sujeito que
o vê.

O belo está na união entre o espírito e o sensível, pois ao ver beleza em algo
corresponde a não-manipulação deste objeto, que volta a ter sua autonomia e
liberdade, unindo ambos ao absoluto e firmando sua concretude na unidade
subjetiva. A beleza é independente.
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