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Universidade Federal do Amazonas


Faculdade de Educação
Departamento de Métodos e Técnicas

Disciplina: A criança e as Artes. Professor: Marcio J. V. Bernardo.

Estudante: Rhanya Tavares Sobral


2º período de Letras. Turma: 04 Data: 05/02/2024

AS VÁRIAS FACES DA ARTE

A primeira definição de Arte que o professor apontou na primeira aula e


fez um completo sentido para mim foi: “a arte é uma velha senhora”. E por que
definir logo de cara a arte assim? Depois de nos deixar refletir brevemente
sobre a metáfora, ele explicou que estava se referindo à longa história da arte e
à sua presença constante na sociedade ao longo dos séculos. Porque assim
como uma velha senhora é respeitada e admirada em uma comunidade por
causa de sua experiência e sabedoria acumuladas ao longo dos anos, a arte
também é vista dessa forma. Ela é uma instituição cultural com uma história
rica e uma presença duradoura, que atravessa gerações e continua a inspirar e
provocar reflexões nas pessoas, o que não é à toa que nos causa esses
momentos reflexivos também. Foi fascinante pensar na arte dessa maneira
depois da explicação do professor, como uma figura venerável que tem muito a
nos ensinar sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor. E nesse jogo
de metáforas me lembrei da linguística em comparação com a “idade” da arte.
Porque enquanto a arte é uma “velha senhora” por ter origem primitiva, a
segunda pode ser metaforizada como uma “jovem”, por seu reconhecimento
somente no século XIX, o que é bem recente.
Depois desse diálogo sobre as idades da ciência, da matemática, da
linguística e de vários outros campos de estudo, o professor nos apresentou
um texto de apoio para começarmos a refletir sobre a arte como forma de
pensamento. A primeira parte do texto que me chamou a atenção foi a seguinte
citação: “Entender a “ideia” em uma obra de arte é, portanto, mais como ter
uma nova experiência do que como admitir uma nova proposição[...]”
(LANGER, 2004, p. 259). Isso quer dizer que compreender não só a obra, mas
a Arte em si, é mais sobre vivenciar algo novo (isso no sentido emocional,
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sensorial ou interpretativo) do que concordar com uma ideia nova. É daí então
que o professor nos dá mais um (dos vários) conceitos da arte: ela é o
conhecimento intuitivo do mundo. Ela nos permite compreender o lugar que
vivemos de forma instintiva e emocional, em vez de puramente racional e
intelectual. É tipo uma janela para entender o mundo, mas não do jeito que a
ciência faz, com números e lógica. Ela é mais como um soco no estômago ou
um abraço quentinho. Quando eu vejo uma pintura incrível, ouço uma música
que mexe com minhas emoções, ou leio um livro que me leva para outro
mundo, isso não é só sobre entender as coisas racionalmente. É sobre sentir. É
isso que a arte faz, nos toca lá no âmago, nos faz refletir sobre nós mesmos e
sobre o mundo ao nosso redor de uma forma que simplesmente não é possível
só com o pensamento lógico. Coloquei o exemplo da música, dos livros, porque
a arte não está somente ligada a pintura, o que foi uma quebra de paradigma
que tive durante essas aulas. O musicista é um artista, o escritor também é,
isso porque o que une esses três é a expressão criativa. Cada um deles utiliza
seu meio específico, seja a escrita, a música ou as artes para comunicar ideias,
emoções e experiências para seu público. Eles compartilham a capacidade de
criar algo novo, seja através das palavras, das notas musicais ou das formas e
cores. Eles usam a imaginação! Porque o “artista não copia o que é; antes cria
o que poderia ser e, com isso, abre as portas da imaginação” (ARANHA, 1993,
p. 346). Essa imaginação alarga o campo do real percebido, e o preenche de
outros sentidos, como vai ressaltar Aranha (1993).
Um exemplo que foi apresentado
em sala por uma das colegas foi a obra de
Salvador Dalí, chamada “A Persistência
da Memória”. Dalí não só copiou a
realidade, ele deu uma viajada total e
criou um universo paralelo. Os relógios
A Persistência da Memória, 1931.
estão pendurados em árvores e
derretendo no meio de um cenário bizarro. É tipo um sonho maluco. O legal é
que o Dalí não se limitou a simplesmente pintar o que ele via ao seu redor. Ele
foi lá e criou algo totalmente novo, que faz a gente questionar o que é real e o
que é imaginação. Olhando para essa pintura, a gente não consegue evitar de
pensar: "Como assim? O que está acontecendo aqui?"
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Há vários outros exemplos a


serem citados sobre como a arte
representa não somente a realidade,
mas o que dela poderia ser, como A
Noite Estrelada de Van Gogh. Nessa
obra, o Vincent não quis só copiar o
que viu, ele decidiu dar o toque dele,
fazendo uso de cores fortes e
pinceladas marcadas para mostrar
A Noite Estrelada, 1889. como ele se sentia naquela noite. É
sobre como ele estava se sentindo, e ele não estava nem um pouco
preocupado em agradar quem fosse, ele só foi lá e fez, fazendo uso de gírias
modernas, “o nome dele”. Nesse sentido, “pintar é apenas uma maneira de
chegar àquele sentimento particular, um modo de tornar mais claro aquilo que
ele é – um modo de clarificar aquilo que o artista sente” (Carroll, 2015, p. 80).
Mas o que faz essa pintura tão especial? Ela não é só sobre o que a gente vê,
mas sobre o que sentimos ao vê-la. E para além disso: passamos a ver pela
perspectiva do pintor.
E para fechar sobre esse conceito abordado por Aranha sobre a arte
como forma de representar o mundo de uma perspectiva diferente da que
estamos familiarizados, e mesmo que eu tenha colocado Dalí, um pintor
surrealista, em contraste com um pintor que está associado ao pós-
impressionismo e ao expressionismo (Van Gogh, o meu divo), é fato que
ambos nos oferecem interpretações subjetivas e imaginativas da realidade.
Isso porque, como já disse, esses artistas vão além da mera representação
visual e capturam não apenas o que é tangível e observável, mas nos mostra o
que poderia existir para além dos limites da percepção convencional. E qual foi
o impacto disso para mim? Eles me convidam a explorar novas maneiras de
ver e compreender esse lugar que chamamos de lar.
O professor continuou nesse ritmo de, em cada aula, abordar sobre um
novo conceito de arte, e para o terceiro conceito (ou uma outra forma de olhar
para arte) ele nos forneceu esse tema: a arte como uma habilidade especial;
uma ténica; um saber fazer.
A pintura, por exemplo, que é uma capacidade de manipular tintas,
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pincéis e outros materiais para criar imagens visualmente atraentes e


expressivas (até provocativas, coisa que falarei mais a frente). A escultura, que
é uma habilidade para esculpir e moldar materiais como argila, pedra, madeira
ou metal para criar formas tridimensionais. A fotografia, que tem como domínio
a técnica de usar uma câmera para capturar imagens que transmitam emoção,
narrativa ou beleza estética. Isso só são alguns dos variados tipos de
expressão artística que exigem a técnica, um saber fazer, de acordo com esse
conceito, é claro.
Mas limitar a arte a isso é esquecer que ela também possui caráter
subjetivo e pode variar significativamente de uma pessoa para outra. O que
uma pessoa considera arte significativa e inspiradora pode não ter o mesmo
impacto para outra. Existem várias razões pelas quais algo pode estar em um
museu, por exemplo, como arte, mas para algumas pessoas pode não parecer
arte, então se leva em conta a provocação ou desafio. Algumas obras de arte
buscam provocar o espectador, desafiando suas noções preconcebidas sobre o
que é arte ou questionando valores sociais e culturais. Essas obras podem ser
desconcertantes ou perturbadoras, o que pode fazer com que algumas
pessoas as vejam com ceticismo ou incompreensão.
Um exemplo disto foram dois artistas
comentados em sala e no grupo do
WhatsApp. O primeiro são as obras de
Jackson Pollock, e é considerada arte
porque ele fez algo completamente
Ritmo de Outono, 1950.
diferente. Em vez de usar pincéis, ele
jogava tinta na tela, criando aquelas pinturas super abstratas e cheias de
energia. É como se ele estivesse pintando com movimentos de dança, e
mesmo que pareça bagunçado, muita gente viu beleza e significado nessas
obras, reafirmando que arte não é somente a beleza estética ou somente o que
é belo, agradável e entendível. Ela está para além desses nivelamentos.
O segundo é uma obra que também provoca
e me provocou (não posso mentir). É a famosa e
intrigante obra de Marcel Duchamp. O querido é
famoso por ter sacudido as coisas no mundo da
arte. Ele pegou um urinol comum, assinou com o

A Fonte de Marcel Duchamp.


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pseudônimo "R. Mutt" e chamou de "Fonte". Basicamente, ele disse que isso
era arte, e pronto. A grande sacada foi que ele estava desafiando a ideia de
que arte precisa ser bonita ou habilmente feita. Foi tipo: "Ei, por que não?" Foi
um tapa na cara das convenções da arte tradicional e fez todo mundo parar e
repensar o que diabos é arte mesmo. Desde então, a Fonte de Duchamp
inspirou muita discussão e debate sobre o que é arte e qual é o papel do
artista. É meio louco pensar que um urinol mudou tanto o mundo da arte, mas é
isso que aconteceu.
E é claro que não posso deixar de falar da
visita ao Teatro e aos museus da Ufam. Nos
lugares em que fomos com a turma, eu estava
entre dois extremos, sendo o primeiro “Uau!
Isso realmente é arte, porque é belo e não
faria igual”, e o segundo “Senhor, por que isso
é arte? Um rabisco meu poderia ser
considerado também?”. E depois de fazer a
releitura das aulas e começar a escrever este
diário, compreendi melhor os conceitos e
deixei de lado essa minha ignorância sobre o
Teatro Amazonas, Manaus, AM.
que realmente pode ser arte.
Ah, sim, um momento em que a
natureza fez arte! E foi um dos comentários
que praticamente todos disseram: “Isso vai
para o meu diário”. Foi logo no início, quando
estávamos esperando dar o horário da visita
marcada. Tiramos aquele momento de espera
para poder fotografar a vista fora do teatro, foi
quando, em uma das estátuas do pátio perto
da entrada do local, que um passarinho

"Isso é arte", pensei. repousou na mão dessa estátua. "Isso é arte",


pensei (ou todos devem ter pensado). Porque o
passarinho na mão da estátua nos remeteu a um momento mágico. Foi como
se a cena fosse tão bonita e tranquila que parecia que tinha sido tirada
diretamente de uma obra de arte. É tipo quando a vida imita a arte, sabe? Foi
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um desses momentos que fazem você parar e apreciar a beleza do mundo ao


seu redor. Reconhecemos a beleza e o significado do momento, encontrando
nele elementos que ecoam as qualidades estéticas e conceituais
frequentemente associadas à arte. Mas e se um pombo tivesse defecado na
cabeça dessa estátua? Não seria nada belo, é claro, mas para mim, ainda seria
arte, porque está imitando a vida (quem nunca recebeu excremento de pombo,
né?).
Um outro momento da visita que me
provocou fortes sentimentos (ou emoções?),
de uma forma boa, é claro, foi quando fomos
na Galeria do Largo, alguns passos depois
do Teatro, e a parte mais legal de visitar essa
galeria, e digo isso por experiência mútua, já
que observei a animação e agitação da turma
quando apreciamos essa exposição, foi
quando nos deparamos com uma miniatura
de uma cidade formada por vários pontos
turísticos e perfeitamente bem construídos e
Cidade de Santa Anita, de Mário Ypiranga
Monteiro.
detalhados. Toda a turma pendeu um bom
tempo observando minuciosamente cada detalhe daquela magnífica exposição,
e magnífica porque foi um dos adjetivos que só perpassava na minha cabeça
enquanto acompanhava com os olhos aquela obra.
Por fim, e já para encaminhar ao fim deste diário, o professor abordou
em sua última aula sobre a arte como imitação e sobre como somos seres
imitadores, todos nós, sem exceção.
É um fato quando dizemos que somos um reflexo das pessoas que nos
rodeiam, e isso me lembra um provérbio: "Diga-me com quem andas e direi
quem tu és". Isso porque a razão pela qual somos seres imitadores está
relacionado à natureza social e cultural da humanidade. Desde os primórdios,
os seres humanos aprenderam observando e imitando uns aos outros. A
imitação é uma forma eficaz de adquirir habilidades, comportamentos e
conhecimento, especialmente em sociedades onde a transmissão cultural é
fundamental para a sobrevivência e a adaptação. Além disso, a imitação
desempenha um papel importante na formação de identidade e na construção
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de relacionamentos sociais. Ao imitar os outros, expressamos identificação e


afinidade com eles, fortalecendo os laços sociais e culturais. Portanto, somos
seres imitadores porque isso nos permite aprender, adaptar-nos ao ambiente e
nos conectar com os outros de maneira significativa. Eu, por exemplo, gosto de
imitar as boas atitudes que vejo nas pessoas (principalmente os professores)
que conheço, até mesmo para aplicar na minha experiência profissional,
quando lecionar, ou no geral, no que se diz respeito ao tratamento com as
pessoas.
Agora por que a arte como imitação? Platão e Aristóteles dissertam
sobre isso, e veja que isso já era discutido desde aquela época, já que a arte
como imitação foi um conceito bastante discutido lá pelos lados da Grécia
Antiga. Enquanto Platão via a arte como uma espécie de cópia imperfeita do
mundo real, Aristóteles abordou de uma maneira um pouco mais positiva,
dizendo que a arte poderia nos ensinar coisas sobre a vida e a humanidade.
Então, esses dois são meio que os "grandes nomes" quando se trata desse
assunto.
Vamos então juntar todas as peças do quebra-cabeça sobre arte.
Começamos vendo a arte como essa “velha senhora” cheia de histórias para
contar. Depois mergulhamos na ideia de que a arte é meio que um
conhecimento intuitivo, algo que vem lá do fundo da alma. Depois, falamos
sobre como a arte é mais do que só inspiração, é também habilidade, um jeito
de fazer as coisas acontecerem.
Agora, com a arte como imitação, é como se estivéssemos dando um
passo para trás e vendo como a arte reflete o mundo ao nosso redor, seja de
forma realista ou mais abstrata e interpretativa. Juntando tudo isso,
percebemos que a arte é uma mistura de tradição, intuição, habilidade e uma
forma de capturar e interpretar a vida de maneira única. E é essa diversidade
que faz a arte tão incrível, pois nos desafia a ver o mundo de maneiras
diferentes e nos conecta em um nível mais profundo com nossa humanidade
compartilhada.
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REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando –


Introdução à Filosofia. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Moderna, 1993.

LOUREIRO, João de Jesus Paes. Elementos da Estética. 3. rev. e ampl.


Belém: EDUFPA, 2002.

CARROLL, Noel. Filosofia da Arte. 2. ed. Texto & Grafia, 2015.

COSTA, Cristina. Questões de Arte: o belo, a percepção estética e o fazer


artístico. 2. ed. reform. São Paulo: Moderna, 2004.

15 Obras de arte polêmicas que deram o que falar. Incrível.club, 2021.


Disponível em: https://incrivel.club/articles/15-obras-de-arte-polemicas-que-
deram-o-que-falar-1116860/. Acesso em: 07, de fevereiro de 2024.

Governo do Amazonas inicia processo de revitalização da exposição ‘Cidade


de Santa Anita’ na Galeria do Largo. Culturodoam, 2023. Disponível em:
https://cultura.am.gov.br/governo-do-amazonas-inicia-processo-de-
revitalizacao-da-exposicao-cidade-de-santa-anita-na-galeria-do-largo/. Acesso
em: 07, de fevereiro de 2024.
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