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UNIDADE CURRICULAR: Literatura e Artes Visuais

CÓDIGO: 31095

DOCENTE: Maria do Rosário Lupi Bello

A preencher pelo estudante

NOME: Maria Gertrudes Soares Chaves Magalhães

N.º DE ESTUDANTE: 1400551

CURSO: Estudos Europeus

DATA DE ENTREGA: 2019-12-22


TRABALHO / RESOLUÇÃO:

As obras de arte que existiam em coleções particulares passam a estar


expostas ao público, daí a função do museu na sua conceção atual, surgindo
no final do século XVIII, num período de convulsões sociais, políticas e
culturais. Tanto a Revolução Francesa como a Industrial influenciaram essas
mudanças que se operavam pela Europa. Em resposta a essas mudanças, a
atividade artística tornou-se mais complexa surgindo novos movimentos
artísticos como o Romantismo. Os artistas que surgem desse movimento
procuravam uma nova estética artística, a liberdade de expressão ao invés dos
conceitos já estabelecidos. É um período de novelas pastoris e da cavalaria
que foram fundamentais para o desenvolvimento desse movimento com fortes
sentimentos nacionalistas, emocionais, fantasias, sonhos, criação de mundos
exóticos.
Segundo Malraux¹, o museu retira a identidade tanto às obras como aos
modelos, ficando apenas as imagens Muitas outras obras que não são
possíveis transportá-las para os museus ficam retidas no espírito do homem,
num museu imaginário o qual pode ser criado de acordo com as experiências
individuais.
Desta forma, os museus tornam-se terrenos férteis onde os poetas
mergulharam, encontrando na arte um mundo imaginário. Porque, segundo
Proust², os museus são espaços que albergam pensamentos através da arte lá
exposta. Logo o museu é um espaço para meditação propício à criação do
diálogo entre a palavra e a imagem. A écfrase neste contexto permitiu que as
obras de arte não fossem apenas exposições, mas que estas falassem através
dos poemas e os românticos foram sabedores desta técnica para dar corpo à
sua imaginação. Poetas ingleses do período do romantismo de segunda
geração, logo mais exagerados, escolheram como temas a tristeza, a
depressão, as deceções amorosas e a morte para as suas poesias.
Um dos poetas românticos ingleses foi John Keats, o qual perante uma urna
grega usou a sua imaginação criando um poema sobre os signos expostos no
objeto. Procurou desvendar o mistério que estava por detrás das figuras e os
gestos que fazem colocando questões às quais não tem resposta. Fala
explicitamente da eternidade porque as imagens no vazo são eternas, mas ao
mesmo tempo emanam uma energia a ponto de suscitar à imaginação e foi o
que aconteceu com Keats. O objeto transforma-se em “historiador” falando de
um mundo imaginado. Enquanto objeto persiste no tempo, mas como poema
desenvolve-se no tempo, compondo-se por quadros com ações antes e depois,
ou seja, cria uma dimensão espacial.
Outro poeta que criou um diálogo entre as palavras e as artes visuais foi
Herman Melville³, numa componente nostálgica através do seu livro “Timoleon”.
O objetivo não foi falar dos espaços e objetos que viu, mas a atmosfera criada
por esses mesmos espaços e objetos. O poeta medita transpondo em palavras
todo um conhecimento e sabedoria por detrás deles. Em “The Bench of Boors”
o poeta utiliza é écfrase ao falar de um quadro de David Teniers⁴, o qual não
identifica, mas pela écfrase utilizada leva-o a participar da atmosfera do próprio
poema. Como não está perante o quadro, Melville faz uma recuperação através
da memória. Pela écfrase cria contrastes entre o sujeito e a própria narrativa do
próprio quadro. Diz-se lúcido em contraste com as figuras sonolentas, como
que inconscientes num espaço fechado. É uma écfrase diferenciada porque
induz à reflexão dos opostos como ser e parecer, lucidez e ausência, entre
outros.
Isto mostra que o diálogo entre a palavra e a imagem leva à meditação, a uma
reflexão estética. O objeto serve de trampolim quer para a meditação poética
quer para a meditação do nosso “eu” no mundo. O cerne do poema está neste
in-betweenness. Jorge Sena⁵ também usou de écfrase para estabelecer um
diálogo com as obras de arte. No seu livro “Metamorfoses” imortaliza pela
palavra, obras antiquíssimas com marcas do tempo. Apesar da nossa
existência efémera, algo de nós permanece nessas obras que são
imortalizadas pelas palavras. Sobre a “Gazela da Ibéria”, Sena leva o sujeito à
meditação, levando-o numa viagem a um passado remoto até ao período em
que a obra foi feita, especulando a vivência de um povo esquecido no tempo. A
écfrase romântica permitiu, embora com um sentido nostálgico, recriar os
objetos numa outra época, num outro espaço (o museu) de acordo com a sua
imaginação poética. Os românticos viram na écfrase uma valorização da
poesia imortalizando aquilo que ela representa já que os próprios objetos
perecem no tempo e a palavra é eterna.
Notas:
1) Escritor francês sobre temas políticos e culturais;

1) Escritor francês, que ficou conhecido pela sua obra “À la recherche du temps perdu”;

2) Escritor, poeta e ensaísta dos EUA, conhecido pelo seu romance “Moby Dick”;

3) Pintor flamengo da época barroca. Era hábito dar um toque humano aos seus quadros;

4) Foi um poeta português, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo.

Bibliografia:

9º seminário docomomo Brasil:interdisciplinaridade e experiências em documentação e


preservação do patrimônio recente brasília . junho de 2011.Brasília: Lina Bo Bardi é o Museu
Imaginário de André Malraux, 2011
PUPPI, Suely de O. F.

AVELAR, Mário (2018), "Poesia e Artes Visuais. Confessionalismo e écfrase". Lisboa, Imprensa
Nacional Casa da Moeda, pp. 149-206;
 
PORTAL SÃO FRANCISCO: Romantismo [em linha]. Atual. 2019 [Consult. 19 de dezembro de
2019]. Disponível na Internet ˂URL:https://www.portalsaofrancisco.com.br/periodos-
literarios/romantismo˃;

RECANTO DAS LETRAS: Contexto Histórico e Político do romantismo Inglês [em linha]. Atual.
dezembro 2019 [Consult. 19 de dezembro de 2019]. Disponível na Internet
˂URL:https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-cultura/4973467˃.

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