Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TEMA 1
Nota Introdutória
A complexidade dos conceitos de sociedade e cultura corresponde a uma
diversificação das disciplinas historiográficas que se podem distribuir em dois grupos
antagónicos, caracterizados como Ereignisgesichte (que comtempla sobretudo
acontecimentos isolados, importantes decisões políticas e personalidades eminentes
da história sociocultural) e como Strukturgeschichte (que analisa estruturas e
processos gerais). A historiografia alemã do século XIX é dominada por
Ereignisgeschichte, que se debruça principalmente sobre a história política.
Na tradição do idealismo do Estado, consagrado na filosofia de Georg Wilhelm
Friedrich Hegel (1770-1831), os historiadores privilegiaram a dimensão política e
nacional, considerando o Estado como sujeito e centro do processo histórico. As
clivagens que se verificam, desde o fim do século XVIII, entre o Estado e uma
sociedade em plena evolução, acabaram por dissociar também o objeto da
historiografia que se dividiu em escolas e tendências divergentes. Assim, em oposição
à corrente da história política numa perspetiva nacionalista, articularam-se, durante a
segunda metade do século XIX, disciplinas como a história social e a história cultural
que privilegiam o estudo duma zona intermediária entre o indivíduo e o Estado, a
sociedade civil, segundo Hegel.
A partir da dupla revolução dos anos 40, esta zona ganha, através do conceito
de sociedade, uma autonomia social e emancipatória, já que representa, face ao
imobilismo das estruturas estatais, as forças dinâmicas da evolução histórica.
Este conceito de sociedade era integrativo e abrangente no sentido de incluir
aspetos políticos, económicos, sociais e culturais, pelo que necessitava, tendo em
conta as ciências sociais emergentes, de uma metodologia e uma perspetivação
historiográfica diferentes. É desta diferenciação crítica da sociedade que surgem
também a teoria socialista de Karl Marx ( 1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) e
a sociologia alemã moderna que deve impulsos decisivos a Max Weber ( 1864-1920) e
Georg Simmel (1858-1918).
Por outro lado, o contexto do recém-formado Reich (1871) e do seu
conservadorismo favoreceu de novo os conceitos idealistas de liberdade, Estado e
personalidade, relegando-se as tendências de reforma e de democratização para
segundo plano. Assim, as correntes reformistas, acusadas de materialismo e
comunismo, foram marginalizadas política e socialmente. Esta marginalização afetou
também a história cultural oitocentista que integrava ainda a economia e a psicologia
social na sequência da perspetiva emancipatória da Aufklärung.
Cap. I. 1.5, “O conceito de cultura: definições”, pp.39-43.
O conceito de cultura: defi nições
Na tradição alemã, o conceito de cultura tem uma história particularmente rica e
controversa ( cf. cap. seguinte). Na perspetiva pragmática dos estudos da sociedade e
cultura alemãs, convém, antes de mais, delimitar uma definição que permita constituir
o próprio objeto de estudo.
A definição de cultura que Klaus P. Hansen defende nas suas recentes publicações
sobre a Kulturwissenschaft ( 1993, 1995), insiste, na sequência de E. B. Tylor (1871), na
aquisição social de saberes e comportamentos. O autor recorre igualmente a Max
Weber que estabeleceu a sociologia como ciência cultural ao insistir no carácter
cultural de todas as manifestações da vida humana desde que se reportem a ideias de
valor (Wertideen). Considerando, no sentido etimológico da palavra, a cultura como
transformação da natureza exterior e interior pelo trabalho segundo as normas da
tradição, Hansen opõe a natureza biológica à cultura do contexto de socialização.
Assim, apenas fenómenos que não servem fins materiais fazem parte da cultura: «Nur
das Geburtstagfeiern, aber nicht das Zähneputzen; nur das Frühstücken, aber nicht die
bei ihm statthabende Ernährung im biologischen Sinne» (Hansen 1995: 119).
Esta antinomia tradicional é problemática porque a natureza biológica do ser
humano manifesta-se sempre como culturalmente formada. Mesmo as atividades mais
«naturais» como comer, dormir e procriar mostram sincrónica e diacronicamente uma
grande diversidade que relega a função biológica e reprodutiva para um papel
secundário: «Menschliche Natur ist nirgends als voraussetzungslose,
ungesellschaftliche, reine Natur gegeben» (Rath 1994: 7). O que é «natural», o que faz
ou não parte da natureza, depende do contexto histórico e está sujeito à mudança,
como documentam, por exemplo, os estudos de Norbert Elias sobre as maneiras e
costumes sociais e a história da paisagem e dos espaços naturais ( cf. Cap. III.4 ).
Por outro lado, ao excluir a economia, o Estado e a política do domínio cultural,
Hansen ignora que os símbolos e rituais ligados às instituições estatais (bandeiras,
visitas oficiais, cerimónias comemorativas, etc.) fazem parte integral do poder político.
A economia também tem aspetos profundamente irracionais que se tornam cada vez
mais evidentes. Esta importância da dimensão simbólica e mítica da produção material
evidenciou-se sobretudo depois do fracasso total do «racionalismo» da economia
planificada de cariz socialista, que, aliás, era acompanhada duma permanente
mitificação e valorização simbólica. A questão crucial levantada pela definição de
Hansen é a de se saber se podemos considerar a dimensão cultural como uma
dimensão «suplementar» atribuída às atividades económicas, sociais e políticas ou se
temos de partir de uma perspetiva dialética: valores, tradições etc. criam e
desenvolvem atividades económicas, políticas e sociais, e estas práticas precisam da
dimensão simbólica para se manter e se desenvolver. Na prática, e mesmo do ponto
de vista histórico, parece impossível separar estas dimensões. Assim o etnólogo
Clifford Geertz propõe que se considere a cultura e a estrutura social como abstrações
diferentes a partir dos mesmos fenómenos.
Kultur ist das Geflecht von Bedeutungen, in denen Menschen ihre Erfahrung
interpretieren und nach denen sie ihr Handeln ausrichten. Die soziale Struktur ist die
Form, in der sich das Handeln manifestiert, das tatsachlich existierende Netz der
sozialen Beziehungen. (Geertz 1987: 99)
O próprio Hansen sublinha que o ser humano produz significados. Por isso, a
história deve incidir não sobre os objetos, mas sim sobre a mudança dos seus
significados. Esta história dos significados, fortemente influenciada pela histoire des
mentalités desenvolvida na França desde os anos 30, permite definir a cultura como
um sistema de estandardizações que abrangem as interações sociais e a comunicação,
mas também os pensamentos e sentimentos individuais. A cultura produz e determina
ideias, sensações e afetos, criando, assim, uma realidade específica. Na socialização do
indivíduo (família, escola, meio ambiente) internalizam-se as normas que orientam o
nosso agir, pensar e sentir, sendo a comunicação e a imitação os principais veículos
desta aprendizagem. Este carácter coletivo dos fenómenos culturais é ainda entendido
por Hansen na senda de Tylor. Convém, no entanto, adotar uma perspetiva mais
dialética, já que mesmo as manifestações e variantes possíveis da individualidade
fazem parte dum repertório coletivo que, por seu lado, se modifica também através de
inovações individuais.
No que diz respeito aos mecanismos do processo cultural, Hansen distingue
três níveis: 1.º os signos e símbolos, 2.º as instituições e 3.º o saber coletivo e as
mentalidades. O autor destaca historicamente três conceitos principais de cultura que
se prendem com uma maior ou menor insistência na função ou na substância da
cultura:
1) O conceito instrumental de cultura, presente sobretudo na
antropologia tradicional, que considera os fenómenos culturais como
determinados por necessidades biológicas: a cultura garante a sobrevivência
da espécie humana. Esta definição, porém, implica uma relação causal
simplista e ignora completamente a interação dialética entre indivíduo e
contexto histórico-cultural.
2) O conceito substancial de cultura que, desde Herder e até hoje,
considera a cultura como entidade ontológica, como substância permanente e
independente das diversas manifestações contextuais.
3) O conceito semiótico que, desde os anos 70, descreve a cultura
como universo de ações simbólicas. Nesta perspetiva, o ser humano aparece
como objeto e sujeito da cultura que transforma uma contingência indiferente
num conjunto coerente de significados. Este conceito, que prevalece também
na etnologia moderna, encontra-se concentrado na definição de Clifford Geertz
que considera a cultura como um sistema simbólico que pretende criar nos
homens disposições e motivações fortes, globais e duráveis, envolvendo ideais/
representações com uma tal aura de facticidade que as disposições e
motivações parecem corresponder totalmente à realidade ( cf. Geertz 1987:
48).
Central em todas estas definições atuais de cultura é o conceito de representação
que permite, segundo Chartier, delimitar e ligar três áreas fundamentais:
• as representações coletivas que, no interior dos indivíduos, reproduzem as
divisões do mundo social e organizam os esquemas de perceção e de
apreciação que permitem classificar, julgar e agir;
• as formas de expressão do ser social e do poder político que se manifestam
nos signos e nas «performances» simbólicas (imagens, rituais, estilizações da
vida);
• a condensação duma identidade ou dum poder garante de continuidade e
estabilidade num representante individual ou coletivo (Vierhaus/Chartier 1995:
49-50, cf. também a introdução em Chartier 1988).
Estas definições podem ser completadas pelas considerações «comportamentais» de
Kroeber/Kluckhohn (cf. Baumhauer 1982: 8 e segs.), para os quais a cultura consiste
em modelos implícitos e explícitos de comportamentos e para comportamentos,
adquiridos e transmitidos através de símbolos e na sua materialização em artefactos.
Os sistemas culturais são, assim, resultado de ações e condicionam, ao mesmo tempo,
futuras ações; a interação entre indivíduo e grupo social é reativa e criativa. Ao longo
da história, os esquemas culturais são adquiridos, modificados e substituídos por
outros. Os autores distinguem vários níveis de culture patteming: os modelos básicos e
sistémicos que prevalecem durante milhares de anos, os modelos secundários mais
instáveis que incluem organizações formais e sistemas de pensamento, e, acima de
tudo, os modelos universais que fornecem o quadro geral para as diferentes culturas e
a sua respetiva produção de valores e símbolos. No interior de cada cultura, podem-se
destacar ainda os modelos genéricos que caracterizam a simbolização, os patterns of
patterns.
O historiador vê-se, assim, confrontado com uma permanente reconstrução coletiva
da realidade material, social e espiritual. Considerada como complexidade organizada
de práticas e sistemas simbólicos, sancionados por um grupo social ou uma sociedade
inteira, a cultura tanto resulta da interação e da comunicação como as determina. Esta
definição é compatível com a perspetiva sistémica de Luhmann que propõe a
substituição do termo «cultura» pelo de «complexo simbólico-semântico». Para
Luhmann, a cultura é um arsenal de temas possíveis para a comunicação, utilizados
nos vários sistemas de interação:
Kultur ist kein notwendig normativer Sinngehalt, wohl aber eine Sinnfestlegung
(Reduktion), die es ermöglicht, in themenbezogener Kommunikation passende und
nichtpassende Beitrage oder auch korrekten bzw. inkorrekten Themengebrauch zu
unterscheiden. (Luhmann 1985: 224-225)
Para resumir as definições citadas numa síntese operacional, podemos dizer que são
essenciais os aspetos seguintes para a abordagem analítica duma determinada
cultura:
• A realidade é uma construção social, uma projeção considerada como
«natural» e «objetiva». O real, a contingência vivencial e factual, estão para
além da representação e simbolização culturais.
• História cultural e teoria cultural devem basear-se numa extensa
fenomenologia dos processos e artefactos que constituem uma cultura, para
descrever depois a mudança dos significados em determinados contextos
sociais e históricos.
• O significado e a função dos elementos culturais não têm existência objetiva,
mas resultam dum contexto comunicacional concreto que a análise pode
reconstruir. Mesmo os símbolos mais convencionais podem, na mesma época,
aparecer em contextos muito divergentes e vestir assim significados variáveis.
Esta variabilidade problematiza, como é óbvio, qualquer «dicionário» de
símbolos como também a semântica histórica tradicional que tenta «fixar»
significados fora do seu contexto concreto.
Estas premissas evitam a redução dos estudos culturais a uma acumulação de saberes
enciclopédicos e permitem tanto analisar a produção social de sentidos ( e a respetiva
materialização em artefactos) quanto salientar a importância destes processos ao nível
concreto e individual. Neste equilíbrio precário entre fenomenologia descritiva e
contextualização funcionalista reside o objetivo principal das ciências culturais que
pretendem reconstruir - e entender, assim, pelo menos parcialmente - realidades
vivenciais alheias e diferentes.
ATIVIDADES PROPOSTAS
1 - Resumir os principais aspetos da definição seguinte de cultura (Vierhaus/ Chartier
1995:16-17).
2 - Comentar a antinomia cultura - natureza na definição seguinte de Sigmund Freud
(1994: 116-117):
Unsere Kultur ist allgemein auf der Unterdrückung von Trieben aufgebaut. Jeder
einzelne hat ein Stück seines Besitzes, seiner Machtvollkommenheit, der aggressiven
und vindikativen Neigungen seiner Persönlichkeit abgetreten; aus diesen Beitragen ist
der gemeinsame Kulturbesitz an materiellen und ideellen Gütern entstanden. Ausser
der Lebensnot sind es wohl die aus der Erotik abgeleiteten Familiengefühle, welche die
einzelnen Individuen zu diesem Verzicht bewogen haben. Der Verzicht ist ein im Laufe
der Kulturentwicklung progressiver gewesen; die einzelnen Fortschritte desselben
wurden von der Religion sanktioniert; das Stück Triebbefriedigung, auf das man
verzichtet hatte, wurde der Gottheit zum Opfer gebracht; das so erworbene
Gemeingut für «heilig» erklart. Wer kraft seiner unbeugsamen Konstitution diese
Triebunterdrückung nicht mitmachen kann, steht der Gesellschaft als « Verbrecher»,
als «outlaw» gegenüber, insofern nicht seine soziale Position und seine
hervorragenden Fahigkeiten ihm gestatten, sich in ihr als grosser Mann, als «Held»
durchzusetzen.
ATIVIDADES PROPOSTAS
• Consulte um dicionário francês, português e alemão e verifique o que consta das
rubricas «cultura» e «civilização», «culto» e «civilizado»; articule os dados obtidos com
o conteúdo desta unidade.
• Leia o seguinte texto de Thomas Mann e comente:
Der Unterschied von Geist und Politik enthalt den von Kultur und Zivilisation, von Seele
und Gesellschaft, von Freiheit und Stimmrecht, von Kunst und Literatur; und
Deutschtum, das ist Kultur, Seele, Freiheit, Kunst und nicht Zivilisation, Gesellschaft,
Stimmrecht, Literatur. Der Unterschied von Geist und Politik ist, zum weiteren Beispiel,
der von kosmopolitisch und international. Jener Begriff entstammt der kulturellen
Sphare der Zivilisation und Demokratie und ist etwas ganz anderes. International ist
der demokratische Bourgeois, moge er überall auch noch so national sich drapieren;
der Bürger ( ... ) ist kosmopolit denn er ist deutsch, deutscher als Fürsten und « Volk»:
dieser Mensch der geographischen, sozialen und seelischen «Mitte» war immer und
bleibt Trager deutscher Geistigkeit, Menschlichkeit und Anti-Politik. (Thomas Mann,
Betrachtungen eines Unpolitischen, « Vorrede»).
Por outro lado, e se não se reduzir a Europa aos países que aderiram no pós-guerra ao
Tratado do Atlântico, a ideia de uma «identidade europeia» não pode fazer esquecer a
efetiva diversidade desse mesmo espaço cultural, político, económico e social, onde a
multiplicidade de línguas, costumes, hábitos, a diversidade de modelos políticos, as
assimetrias económicas e, dentro de cada país, as desigualdades regionais são
evidentes. Não devem também ser esquecidas as diferentes situações e influências
geográficas - coincidentes com o atraso económico -, designadamente nos países
periféricos, como Portugal, a Grécia ou os países balcânicos, onde essa linha de
demarcação imaginária e culturalmente construída ao longo de séculos (cf. Said 1995)
entre o Ocidente e o Oriente é mais do que ténue, como o atesta o multi-
confessionalismo que preside à diferenciação e eventualmente a conflitos étnicos em
alguns dos países da região balcânica.
É evidente que a nova ordem política decorrente de 1989 leva a que a própria ideia e
os mecanismos de legitimação de uma união europeia sejam repensados, como
sucede, por exemplo, através da inclusão de países da Europa Central e Oriental na
União Europeia (UE), mas a verdade é que a «grande Europa» nunca se encontrou tão
dividida, como hoje, desde a II Guerra Mundial. Veja-se, por exemplo, por detrás de
todas as declarações de intenção e das aparências de uniformidade, o
recrudescimento dos nacionalismos e etnicismos, para além das diferenças ainda
consideráveis entre a Europa Ocidental e Oriental. Contudo, as aparências de
uniformidade também não devem ser subestimadas: a crescente influência dos
modernos meios de comunicação e sobretudo da informática não só aproximam como
uniformizam objetos de consumo e, consequentemente, modelos de comportamento.
É face a este complexo conjunto de problemas e questões que se propõe uma reflexão
sobre a situação histórica e atual da Alemanha na Europa.
Cap. IV.7.2, "A identidade alemã e a Europa na era da
globalização", pp.394-402 [pontos 7.2.1 e 7.2.2]
Assim, a certas horas (transmissão dum jogo de futebol ou dum policial na televisão),
as ruas das cidades alemãs apresentam-se quase desertas, enquanto a televisão
passou a constituir um tema recorrente nas conversas familiares e nos locais de
trabalho. A introdução das televisões privadas (nos anos 80) confundiu definitivamente
consumo e cultura, informação e publicidade. A invasão dum consumismo que
obedece unicamente às leis do mercado e duma realidade mediática que substitui
cada vez mais os ambientes tradicionais (Lebenswelten) introduziu na Alemanha, nos
últimos 40 anos, mudanças socioculturais que ultrapassam as que caracterizavam a
evolução do país desde a Revolução Francesa. Os efeitos concretos destas mudanças já
começam a dissolver a imagem tradicional da Alemanha e da sua história cultural.
A revisão da ordem política e económica que se sucedeu ao ano de 1989, leva a
colocar com maior acuidade o tema da identidade alemã, dado que, nos últimos anos,
à integração europeia em curso desde a Segunda Guerra Mundial se sobrepõem
importantes mudanças globais. Estas mudanças começam a afetar diretamente a
sociedade e a cultura alemãs:
Europaisierung heisst, daB Europa ais grõBere Einheit im Vergleich zu den
Nationalstaaten in immer grösserem Umfang unser Leben bestimmt. Globalisierung
bedeutet, dass diese Entwicklung zugleich eingebettet ist in globalem
Zusammenhange, die ebenso einen immer grösseren Einfluss auf unser Leben nehmen.
(Münch 1995: 14)
Neste contexto, a Alemanha atual apresenta-se como uma sociedade multicultural sob
o predomínio duma única cultura mundial universalista.
CONCLUSÃO
Os textos selecionados acima focam aspetos de ordem teórica sobre a sociedade e
cultura alemãs, oferecendo uma perspetiva genérica sobre o que está implicado
pensarmos em termos conceptuais quando nos questionamos sobre a cultura de
determinado espaço geográfico e linguístico. Se os três primeiros capítulos focam a
definição de cultura e de multiculturalismo (que é o AF_Tema1_SCA1 Sociedade e
Cultura Alemãs I Tema 1 - Atividade Formativa @ Cristiana Vasconcelos Rodrigues 6
traço que define a sociedade ocidental dos nossos dias), os dois últimos abordam o
caso específico alemão nos dias de hoje. O propósito de estudarmos questões mais
genéricas é tão somente o de perspctivarmos o estudo da génese da cultura burguesa
na Alemanha do século XVIII (Temas 2 e 3 do roteiro do PUC) dentro do quadro
cultural dos nossos dias, visto que o que se passa no século XVIII é determinante para
compreendermos a matriz multicultural ocidental que determina o espaço cultural de
cada país e a sua relação com os outros países/espaços.
Neste sentido, não será descabido afirmar que o Estado nasce ao mesmo tempo que a
Nação. O caso espanhol - com a língua castelhana a servir de traço e argumento da
unidade nacional - e o caso português são, a este título, exemplares.
Quando em 1492 Antonio de Nebrija (1441-1522) escreve a primeira Gramática da
Língua Castelhana (que lhe havia sido significativamente encomendada pela Rainha
Isabel, a Católica), dá conta, no prólogo, daquela que foi a sua preocupação em fixar e
normalizar o castelhano como língua franca (e fator de unidade) da «grande nação
espanhola» (repare-se como se está perante uma situação em que a língua determina
a nação ao mesmo tempo que a nação - ou seja, o seu mais alto representante: a
Rainha-determina a língua- leia-se: encomenda a gramática). Mas Nebrija faz mais: ao
afirmar que «siempre la lengua fue compafiera del imperio» está a enveredar por um
tipo de raciocínio argumentativo que apresenta a língua não apenas como fator
determinante da unidade nacional, mas também como traço de união, progresso e
desenvolvimento da Nação, do Estado e do Império.
O mesmo raciocínio haveria de ser repetido e explicado com uma frequência digna de
nota por diversos gramáticos, nomeadamente pelos portugueses João de Barros
(1496-1570) e Fernão de Oliveira (1507-1581). Este último é particularmente explícito
quando afirma na primeira gramática da língua portuguesa publicada em 1536
(Oliveira 1975: 42):
O estado da fortuna pode conceder ou tirar favor aos estudos liberais e esses estudos
fazem mais durar a glória da terra em que florescem. Porque Grécia e Roma só por isto
ainda vivem, porque quando senhoreavam o Mundo mandaram a todas as gentes a
eles sujeitas aprender suas línguas e em elas escreviam muitas boas doutrinas, e não
somente o que entendiam escreviam nelas, mas também trasladavam para elas todo o
bom que liam em outras. E desta feição nos obrigaram a que ainda agora trabalhemos
em aprender e apurar o seu, esquecendo-nos do nosso. Não façamos assim, mas
tomemos sobre nós agora que é tempo e somos senhores, porque melhor é que
ensinemos a Guiné que sejamos ensinados de Roma ( ... ). 2
2 Este tipo de argumento, que se pode considerar político e nacionalista avant la lettre, não surge nas primeiras
gramáticas alemãs que são significativamente escritas em latim (cf. Stedje 1996: 127). Desde o século XVI até ao
século XVIII a grande preocupação dos gramáticos alemães e os grandes temas das reflexões que tinham por objeto
a língua alemã eram invariavelmente a defesa dessa mesma língua, da sua pureza, beleza e correção.
Este argumento, de resto, sobreviveu até aos dias de hoje, encontrando porventura
uma das suas formas mais apuradas no conhecido aforismo de Bernardo Soares, o
semi-heterónimo pessoano: «minha pátria é a língua portuguesa».
Sublinhe-se, no entanto, que se trata de uma lógica argumentativa de índole
profundamente renascentista que se vai consolidando ao longo do tempo e
simultaneamente transformando o mapa político da Europa. Em 1601, por exemplo,
quando Henrique IV de França se vê obrigado a explicar aos habitantes da cidade de
Buguey a sua integração na coroa francesa, é deste modo que defende o seu ponto de
vista ( o episódio é relatado por Coulmas 1985: 48 e Ortega y Gasset 1985: 85):
Il était «raisonnable» que, «puisque» vous parlez naturellement !e français, vous
fussiez sujets au roi de France. Je veux bien que la langue espagnole demeure a
I'Espagne, l' allemande a l' Allemagne, mais la française doit estre à moi.
A língua transforma-se, pois, num meio para atingir um objetivo político: o da unidade
da nação consubstanciada no poder político de um Estado. De fato, como refere Peter
Alter (1985: 65),
Die Sprache ist das aussere, sichtbare Zeichen all jener Merkmale, die eine Nation von
der anderen unterscheiden. Sie ist der wichtigste Prüfstein, der das Vorhandensein
einer Nation beweist und das Anrecht auf den eigenen Staat begründet.
Ora o que aqui interessa justamente salientar é o processo de ideologização a que o
conceito de nação estava a ser submetido: no início é o elemento «língua» que se
utiliza para sublinhar o que há de comum nos indivíduos que fazem parte de uma
nação; posteriormente é ainda ao argumento «língua» que se recorre no sentido de
justificar o direito à edificação de um Estado moderno; e, finalmente, considera-se que
a «língua» é o fator que proporciona a unidade necessária ao desenvolvimento e
prosperidade futura de um Império.
É, pois, através da língua que a nação se constitui como Estado e é ainda pela língua
que o Estado, transformado em Império, assegura a sua unidade fundamental.
O mesmo sucede no que diz respeito à História, ou seja, em relação ao uso que se faz
do argumento que funda a nação na partilha da memória de um passado comum.
Especialmente na segunda fase dos nacionalismos europeus - a partir de finais do
século XVIII- a reconstrução de um passado glorioso comum é uma das marcas
ineludíveis do processo de ideologização a que o conceito de «nação» estava a ser
progressivamente submetido. Como refere Coulmas (1985: 46)
Eine Vergangenheit wird ( ... ) partiell rekonstruiert, um die Gegenwart als rationale
Fortsetzung erscheinen zu lassen und einer Nation die Rolle des bewusst handelnden
Subjekts der Geschichte zu geben. Die in der Vergangenheit begründete Authentizitat
wird von nationalistischen Bewegungen betont, um das Ziel der Einigkeit und
Unabhangigkeit zu legitimieren.
Esta reconstrução do passado histórico com o objetivo de glorificar a nação e legitimar
o presente é particularmente evidente na mitificação dos ditos «heróis fundadores»
das nações europeias, na sua maioria chefes tribais que resistiram ao poderio de
Roma, como é o caso de Hermano ou Armínio (príncipe dos Queruscos) para a
Alemanha, Vercingetorix (o chefe gaulês) para a França, ou Viriato para os países
ibéricos ( cf. Schulze 1995: 108 e segs.).
Alicerçado nos argumentos «naturais» da partilha de uma língua e de um passado
histórico comuns, o nacionalismo transforma-se assim numa ideologia política avant la
lettre, numa verdadeira religião, especialmente durante o século XIX, época em que,
na fórmula do historiador alemão Thomas Nipperdey, o religioso é secularizado e o
nacional sacralizado (cf. Alter 1985: 15).
Do ponto de vista político deverá, entretanto, sublinhar-se que, na sequência da
Revolução Francesa, por um lado, e da discussão em torno dos argumentos «naturais»
da partilha de uma língua e de um passado histórico comuns, por outro, o
nacionalismo apresenta duas características que, sendo constitutivas do conceito, são
simultaneamente responsáveis pela sua flexibilidade e longevidade, isto é, pelo seu
sucesso em termos mundiais.
No que diz respeito à sua flexibilidade refira-se, em primeiro lugar, que o nacionalismo
é intrinsecamente paradoxal (tal como, de resto, a própria lógica da identidade em que
se baseia): por um lado implica a uniformização da nação através da língua e da
história (e isso é particularmente óbvio no caso da Alemanha, que adiante
analisaremos em pormenor); mas, por outro lado, os nacionalismos europeus são
também, na sua essência e origem, movimentos emancipatórios e anti
discriminatórios, ou seja, verdadeiras apologias do direito à diferença e
autodeterminação dos povos (cf. Coulmas 1985: 43 e 58).
Em segundo lugar, e no que respeita à longevidade do conceito, deve salientar-se que
o nacionalismo se constitui como uma espécie de «grau zero» de todas as outras
ideologias (e utopias) políticas que, por seu turno, se apresentam como propostas de
futuros caminhos para uma sociedade que se encontra já fundamentalmente unida ao
nível da língua e da história.
Inaugurando um espaço sobre o qual as outras ideologias políticas assentam, do qual
dependem e onde encontram o ambiente próprio para se desenvolverem, o
nacionalismo surge assim como um princípio consensualmente universal, como o fator
que «naturalmente» empresta unidade e coesão a qualquer sociedade.
É justamente neste quadro de ideias e neste contexto de mentalidades (que aqui ficam
traçados de uma forma necessariamente muito breve) que surge em 1772 o Ensaio
sobre a Origem da Linguagem, de Herder. Trata-se de um ensaio que no ano anterior
havia sido premiado pela Academia das Ciências de Berlim e que procurava responder
à questão posta a concurso em 1769 pela mesma Academia sobre as «possibilidades»
e os «meios da invenção humana da linguagem».
A frase que abre o Ensaio de Herder constitui sem dúvida uma resposta revolucionária
e, de algum modo também, provocatória às questões colocadas, ao mesmo tempo que
assinala um ponto importante de viragem no que diz respeito à reflexão sobre a
linguagem que se vinha fazendo na época: « Schon als Tier hat der Mensch Sprache»
(Herder 1966: 5). Se a linguagem era, na perspetiva de Herder, uma faculdade
humana, uma capacidade anterior e, fundamentalmente, interior à própria espécie
humana, então (e ao contrário do que sucedia por exemplo com Rousseau), a
diversidade das línguas não poderia ser explicada por fatores externos, climatéricos ou
outros, mas sim apenas por fatores internos (Herder 1966: 108-109, sublinhados no
original):
Er [der Mensch] ist kein Rousseauscher Waldmann: er hat Sprache. Er ist kein
Hobbesischer Wolf: er hat eine Familiensprache. Er ist aber auch in andem
Verhaltnissen kein unzeitiges Lamm. Er kann sich also entgegengesetzte Natur,
Gewohnheit und Sprache bilden - kurz: Der Grund von dieser Verschiedenheit so naher
kleiner Volker in Sprache, Denk- und Lebensart ist - gegenseitiger Familien- und
Nationalhass.
A língua é, pois, entendida como um código, fechado aos inimigos e aberto aos
indivíduos solidários, a mais humana e por isso a principal das fronteiras entre os
homens que, além do mais, eles próprios criaram.
A esta visão fragmentária da realidade linguística e humana, Herder contrapunha, no
entanto, uma ordem e uma unidade que poderiam ser igualmente observáveis:
So wie nach aller Wahrscheinlichkeit das menschliche Geschlecht ein progressives
Ganzes von einem Ursprunge in einer grossen Haushaltung ausmacht, so auch alle
Sprachen, und mit ihnen die ganze Kette der Bildung. (Herder 1966: 104, sublinhados
no original)
Em termos muito gerais dir-se-ia, pois, que as línguas se tinham progressivamente
modificado e afastado dessa origem comum, modificação e afastamento esses a que
não é alheia a vontade dos próprios indivíduos que formam e fazem parte da
comunidade. Deste modo se verificava ainda o carácter «interior» da língua, isto é, o
papel determinante que o indivíduo tem na formação e transformação de uma língua,
ao mesmo tempo que se sublinha a estreita relação existente entre língua e cultura, ou
seja, confirmava-se por último o papel determinante que a língua tem na formação e
transformação do indivíduo, na medida em que esta lhe fornece desde o início o
quadro lógico-mental e as próprias palavras com que expressa os seus pensamentos.
Dito de outro modo: tanto é o homem que cria a língua como é a língua que cria o
homem7.
7 Profundamente influenciado por Herder, Humboldt escreveria mais tarde que não é possível pensar um sem o
outro: «Die Geisteseigenthümlichkeit und die Sprachgestaltung eines Volkes stehen in solcher lnnigkeit der
Verschmelzung in einander, dass, wenn die eine gegeben ware, die andre müsste vollstandig aus ihr abgeleitet
werden konnen. ( ... ) Die Sprache ist gleichsam die ausserliche Erscheinung des Geistes der Volker; ihre Sprache ist
ihr Geist und ihr Geist ihre Sprache, man kann sich beide nie identisch genug denken» (Humboldt 1988: 414-415).
Esta complexa e rica relação entre indivíduo, social, língua e cultura, é a base da
filosofia de Herder, e sem ela dificilmente se poderia compreender o seu pensamento
político:
Herder's central political idea lies in the assertations that the proper foundation of a
sense of collective political identity is not the acceptance of a common sovereign
power, but the sharing of a common culture. For the former is imposed from outside,
whilst the latter is the expression of an inner consciousness. (Barnard 1969: 7)
A comunidade não se funda portanto com base num «contrato negociado» (como
Rousseau sustentava no seu Contrato Social), tem a sua origem, isso sim, numa
vontade, num desejo natural expresso por uma comunidade de indivíduos, talvez
melhor, por cada um deles, que partilham historicamente uma mesma língua e cultura.
O mito da floresta como mito fundador da nação alemã continua durante os séculos
XIX e XX. O pintor renano Johann Wilhelm Schirmer (1807-1863), «wesentlich der
vaterlandischen Natur treu» na escolha dos seus motivos no dizer do Brockhaus de
1914, pinta em 1828 um quadro intitulado Deutscher Urwald com imponentes
carvalhos que evocam a tradição da identidade germânica. Por outro lado, o carvalho
que aparece já em Tácito e que é revalorizado no fim do século XVIII como símbolo da
nacionalidade alemã (força, raízes fundas, continuidade e sabedoria), é oposto muitas
vezes à tília, o lugar do sonho amoroso desde a Idade Média. Esta polaridade simbólica
ilustra os dois lados do Romantismo alemão: poesia, sentimento e saber filosófico, por
um lado, e agressividade nacionalista, por outro.
No século XIX começam também as medidas oficiais de proteção das florestas,
nomeadamente dos carvalhos. Como diz Wilhelm Heinrich Riehl (1823-1897),
jornalista, historiador e, nos últimos anos da sua vida, conservador dos monumentos
artísticos e históricos da Baviera, na sua popular Naturgeschichte des Volkes, que se
transforma, com as suas numerosas reedições, num arsenal não só da ideologia anti-
urbana e anti-modernista, mas também do anti-semitismo moderno:
Ein Dorf ohne Wald ist wie eine Stadt ohne historische Bauwerke, ohne Denkmaler,
ohne Kunstsammlungen, ohne Theater und Musik, kurz ohne gemütliche und
künstlerische Anregung. (apud Schama 1996: 131)
Bismarck, o controverso fundador do Reich, afirma ter tomado as suas decisões mais
importantes na solidão, na floresta (Welchert 1965: 10), e o valor identificativo deste
espaço mítico é tão grande e persistente que mesmo Helmut Kohl achou-se obrigado a
apresentar, na conferência mundial das Nações Unidas sobre os problemas do
ambiente em Junho de 1997, uma proposta alemã para a proteção global das florestas.
Artistas contemporâneos como Anselm Kiefer ( cf. Schama 1996: 138 e segs.) e Joseph
Beuys também não fogem a esta tradição. Em 1982, Joseph Beuys (1921-1986)
apresenta a sua contribuição para a documenta, uma conceituada mostra periódica de
arte moderna em Kassel, sob forma dum projeto que prevê a plantação de 7000
carvalhos na cidade, considerando a florestação como «redenção» ao transformar o
mundo «numa grande floresta» (Schama 1996: 141-142). O artista participa também
no congresso fundador do Partido dos Verdes e candidata-se nas suas listas para as
eleições federais de 1980.
Já em 1971, Beuys se tinha referido ao mesmo espaço mítico numa ação direta que
visava ultrapassar as normas tradicionais da comunicação cultural.
Para impedir a transformação duma floresta perto de Düsseldorf em campos de ténis,
Beuys e os seus alunos varreram ritualmente a zona e pintaram cruzes e círculos nas
árvores ameaçadas para evocar os antigos espíritos elementares.
Todas estas ações e manifestações visam ainda a reconciliação romântica de história e
natureza. Em 1965, por exemplo, é publicado um livro sobre Bismarck com o título
significativo Über die Natur, que apresenta o artesão da unidade alemã como amigo
sentimental das flores e animais e grande protetor do meio ambiente (Welchert 1965).
Numa carta à mulher de 1851, Bismarck concretiza os principais elementos do seu
horizonte ideológico:
( ... ) mir ist, als wenn man an einem schönen Septembertage das gelbwerdende Laub
betrachtet; gesund und heiter, aber etwas Wehmut, etwas Heimweh, Sehnsucht nach
Wald, See, Wiese, dir und den Kindern, alles mit Sonnenuntergang und
Beethovenscher Symphonie vermischt.
Cada elemento desta enumeração tem o seu significado tradicional: o mito da família,
o «Heimweh» (palavra tipicamente alemã que permite só traduções aproximativas), a
melancolia que indica a consciência do carácter utópico da natureza idílica, o pôr-do-
sol que continua, até nas suas formas mais trivializadas (postal, publicidade turística e
outra) a iluminar o sentimentalismo burguês, e finalmente Beethoven, como Goethe e
Schiller, uma das grandes figuras diretrizes do humanismo idealista oitocentista.
CONCLUSÃO
Breve explicação: Este segundo conjunto de textos foca a questão da definição de uma
identidade cultural alemã, a partir de um contexto cultural e político muito particular,
uma vez que no século XVIII, na sequência dos muitos conflitos nos dois séculos
anteriores, não podemos afirmar que temos um só estado alemão, ou nação alemã;
pelo contrário, o que existe é uma grande dispersão territorial e política, se bem que
partilhe de uma mesma língua. Por isso, vamos estudar conceitos importantes para a
definição do que é uma nação, um estado, e vamos ver como é que no espaço cultural
de língua alemã estes conceitos são usados em defesa de uma identidade própria, em
épocas diferentes da história da Alemanha, entre os séculos XVIII e XX.
ATIVIDADES
• Isole os traços fundamentais que descrevem a evolução semântica do
conceito de nação. (pp.111-117 dos textos)
Leitura Facultati va
Os 5 textos que disponibilizamos no espaço do Tema 1 de Sociedade e Cultura Alemãs I
constituem cinco boas propostas de leitura facultativa, que ajudam a consolidar o
estudo deste tema. Se o texto de João Barrento é uma reflexão, por um estudioso da
literatura e cultura alemã, sobre a questão da identidade cultural alemã, os restantes 4
textos são elaborados por poetas de língua alemã que com motivações diversas e em
diferentes contextos históricos entre o século XVIII e XX se viram na necessidade de
pensar o que é próprio da cultura e identidade alemã. Constituem, por isso, 4
testemunhos de época (4 fontes, no jargão historiográfico), onde podemos recolher
informação em primeira mão e interpretar como dados históricos, a partir dos quais
podemos tentar compreender, como estudiosos, determinados fenómenos. O texto de
João Barrento é uma reflexão muito aprofundada sobre o que é ser alemão e o modo
como os poetas e escritores alemães se viram na necessidade de se definir como
alemães, entre o século XVIII e XX. É um texto que surge com introdução a dois
volumes de uma antologia de textos documentais sobre a literatura e a cultura alemãs,
e portanto o seu início, entre as páginas 7 e 22, não é o que recomendamos que se
leia; é por um princípio de rigor formal que esta parte se inclui no documento
disponível. O que nos interessa ler é entre as páginas 22 e 51, onde a secção intitulada
"O objeto e a sua problematização" inicia. Barrento vai citando, ao longo da sua
reflexão, muitos autores e testemunhos que nos ajudam a compreender a
complexidade do nosso Tema 1, e por isso mesmo juntamos este texto às leituras de
carácter facultativo.
Quanto aos restantes 4 testemunhos de época, trata-se de 4 reflexões, em 4 tempos
muito particulares, sobre o que importa para a definição de uma determinada cultura
e identidade, neste caso a identidade alemã. Jacob Grimm, no início do século XIX, fala
da importância da história e da poesia (língua) para a consolidação de uma
determinada identidade. Hugo von Hofmannsthal, em pleno início da Primeira Guerra
Mundial (1914), apela ao estudo da diversidade e das diferentes línguas e culturas,
para que a "alma alemã" possa, desta forma, melhor conhecer as culturas que lhe são
alheias e entender, também por essa via, a sua própria cultura. É um texto escrito por
um autor austríaco que se preocupa com a identidade alemã, tal como Grimm cerca de
100 anos antes se preocupa com as raízes da cultura germânica, em tempos também
conturbados e atravessados pelos conflitos que decorrem das invasões francesas.
Thomas Mann tece uma reflexão muito interessante sobre a identidade alemã no
rescaldo da Segunda Guerra Mundial, constituindo por isso mesmo mais um
interessante testemunho do esforço, pelos alemães, de compreenderem o que são e o
que lhes é próprio. Finalmente, Hans Magnuns Enzensberger escreve um interessante
artigo em 1992 sobre a questão alemã, de novo, começando por focar aspetos que não
são próprios dos alemães, mas do homem, e trazendo à reflexão questões que hoje
ainda são atualíssimas e assaltam o "sossego" europeu de modo muito pertinente. São
4 testemunhos que complementam bem o estudo das matérias nos dois conjuntos de
textos de leitura obrigatória.
TEMA 3
Cap. III. 3. ESPAÇOS: A formação do espaço público
Resumo
Descreve-se o contexto do emergir do espaço público durante o século XVIII como
local onde a burguesia começou a manifestar formas de contrapoder ao regime
absolutista predominante; refere-se a cisão entre a esfera pública e privada em
correlação com as transformações surgidas a nível político, económico e social e
consequentes manifestações no domínio cultural, na vida quotidiana e nas
mentalidades.
Objeti vos
• Associar o emergir do espaço público burguês no século XVIII com as transformações
económicas e sociais suas contemporâneas na Europa e na Alemanha do século XVIII.
• Relacionar o espaço público com o emergir da família burguesa e a correspondente
redefinição da intimidade e redistribuição dos papéis sociais.
• Avaliar o modo como o espaço público se foi afirmando em vários campos, com
particular destaque para o teatro, a música e as sociedades secretas.
3.1.1 O tempo
O tempo passa a ser cronometrado, medido: acerta-se a hora pelo relógio, isto é,
segundo normas sociais que não coincidem com a hora solar natural, passando o
tempo a ser contabilizado em termos de lucro, consoante a máxima de Benjamin
Franklin (1706-1790) «tempo é dinheiro».
O aceleramento do ritmo de trabalho, associado à disciplina e à pontualidade
necessárias em função da divisão de trabalho na manufatura, onde os trabalhadores se
agrupam para desempenhar tarefas distintas, mas, por isso mesmo tanto mais
interdependentes, evidencia também uma nova conceção e vivência do tempo,
intimamente associadas às transformações espaciais.
Por outro lado, o tempo cíclico, condicionado por uma visão teocêntrica do mundo que
afastava qualquer ideia de progresso terreno, tempo esse inspirado pelo regresso
permanente das estações e do fluir de uma semana que consagra o domingo como o
dia do repouso e da celebração da transcendência, é substituído por uma noção de
tempo linear, orientado para o futuro, que, constitui a condição de realização do
progresso. As visões escatológicas, que anunciam ou prometem a redenção e o paraíso
no fim dos tempos, são substituídas pela filosofia da história que interpreta o passado
e o presente em função do futuro e enquanto etapas nesse processo de
aperfeiçoamento terreno.
3.1.2 O espaço
O espaço passa a ser concebido como um momento desse universo secularizado: para
a Europa no auge da sua fase colonial, o mundo é, por um lado, mais pequeno, na
medida em que já não existem territórios incógnitos nem terras por cartografar, por
outro, é maior, na medida em que a identidade e o poderio europeus se definem face
ao espaço colonizado.
Subjacentes a esta nova forma de experienciar e definir o espaço, encontram-se as
acima referidas conceções de tempo e de progresso: o espaço não-europeu é
simultaneamente associado a uma distância não apenas espacial, mas também
temporal. Os não-europeus serão potencialmente iguais, mas representam estádios
anteriores da história da humanidade.
Mas esta evolução na conceção do espaço encontra-se também intimamente
associada às novas formas de produção que antecedem e acompanham os primeiros
passos dados na industrialização da Europa - intimamente associada com a nova fase
colonial, em que a Grã-Bretanha se tornará não só o centro da Revolução Industrial
mas também se afirmará como a grande potência mundial -, criando outras divisões
fundamentais para a compreensão daquilo que caracteriza o século XVIII e a sociedade
burguesa: a separação entre espaço público e privado.
A antiga união entre produção e habitação, de que a grande família é o principal
núcleo, como centro de uma economia pré-industrial, isto é, rural, cede gradualmente
o lugar a uma separação entre o domínio da produção e do consumo: a antiga família
rural, que, de resto, sobreviverá ao longo de todo o século XIX e mesmo ainda no
século XX nas zonas menos industrializadas, é o local onde se lavra o terreno e se
fabrica os objetos de consumo necessários que não os que a agricultura fornece. As
primeiras unidades de produção da futura industrialização surgem no seio da família,
onde os tecelões trabalham as matérias-primas que os intermediários lhes fornecem,
permanecendo assim esse trabalho predominantemente doméstico.
Com o incremento da industrialização, surgem as primeiras manufaturas de produção
fora desse mesmo espaço, divisão essa que não só consagra a separação entre a
unidade de produção e de consumo, como a separação entre capital e trabalho: os
assalariados que trabalham as matérias-primas não são proprietários nem destas nem
dos objetos com que as transformam, não lhes pertencendo igualmente o espaço onde
realizam essas mesmas tarefas.
A produção ocupa o lugar essencial na nova ordem económica em expansão, pelo que
para a burguesia o poder, as decisões políticas e económicas serão transferidas para o
escritório, a loja ou a manufatura, cada vez mais separados da esfera de consumo, a
residência.
3.2.3 A transição
Contudo, o século XVIII ainda não conhece a divisão distinta entre esses dois espaços,
patente no modo como as associações de privados (cafés, clubes de leitura,
maçonaria) eram entendidos. O salon francês do século XVIII encarna exatamente esse
espaço híbrido: tendo à sua frente uma mulher culta, o referido espaço, constituía uma
pequena ilha no seio das convenções rígidas da sociedade de corte então já em pleno
declínio 177 178 (época da Regência), onde a dona da casa não só se permitia um
comportamento mais libertino, como podia privar com homens oriundos da burguesia.
Por outro lado, a sociabilidade que constitui um dos traços mais generalizados do
século XVIII ainda não fora contaminada pelo exacerbamento de uma intimidade que,
nas suas manifestações mais radicais raiava a hipocondria. O exemplo de Jean-Jacques
Rousseau, a sua misantropia, aliada à sua obsessiva aspiração de autenticidade, de
transparência (Starobinski 1971), a sua auto-observação, serve para ilustrar esta última
tendência, embora o seu empenhamento social e político, revelem simultaneamente,
o modo como o domínio público, continuava a permanecer um elemento decisivo,
exigindo-se antes para o mesmo idênticos valores que aqueles que se preconizava para
a descoberta individual.
Contudo, esta adequação excessiva não era habitualmente praticada, optando a
burguesia por uma vida oscilante entre o domínio público e privado, deixando, porém,
que as esferas se interpenetrassem e se inspirassem frequentemente.
Tal interpenetração encontrava-se, contudo, reservada aos seres masculinos, os únicos
a terem acesso a ambos. O mito da mulher passiva e do homem ativo conheceu uma
nova legitimação com a reorganização do espaço decorrente da crescente divisão do
trabalho.
Dans l'union des sexes chacun concourt également à l' objet commun, mais non pas de
la même maniere. De cette diversité nait la premiere différence assignable entre Ies
rapports moraux de l'un et de l' autre. L'un doit être actif et fort, l' autre passif e faible:
il faut nécessairement que l' un veuille et puisse, il suffit que l' autre rés is te peu. Ce
principe établi, il s'ensuit que la femme est faite spécialement pour plaire à l'homrne. Si
l'homme doit lui plaire à son tour, c'est d'une nécéssité moins directe: son mérite est
dans sa puissance; il plait par cela seul qu'il est fort. Mais n'est pas ici la loi de
l'amour,j'en conviens; mais c'est celle de la nature, antérieure à l' amour même. Si la
femme est faite pour plaire et pour être subjuguée, elle doit se rendre agréable à
l'homme au Iieu dele provoquer; sa violence à elle est dans ses charmes; c' est par eux
qu' elle doit le contraindre à trouver sa force et à en user. L'art le plus súr d'animer
cette force est de la rendre nécessaire par la résistance. Alors l'amour-propre se joint
au désir, et l'un triomphe de la victoire que l' autre lui fait remporter. De là naissent l'
attaque et la défense, I' audace d'un sexe et la timidité de l'autre, enfin la modestie et
Ia honte dont la nature arma le faible pour asservir le fort. (Rousseau 1966: 466-467)
Com efeito, o mundo público dos cafés e dos jornais é um mundo masculino, onde a
burguesia emergente faz sentir a sua pressão contra o poder absolutista do Estado,
opondo-lhe os seus interesses privados (de acordo com o novo modelo capitalista e
liberal) e os correspondentes modelos a nível político e estético.
A maior parte das ideias que ainda identificamos com as Luzes é sustentada e
fomentada por um debate constante entre congéneres, não só nos cafés, como nas
academias, nas revistas especializadas, seja através da atividade recenseadora, seja da
apreciação crítica. É aí que esses homens, desligados das suas obrigações profissionais,
aparente ou provisoriamente libertos das restrições que a hierarquia social lhes impõe,
privam num espaço recentemente conquistado e reinventado, onde a igualdade
teórica da sua posição é uma condição e um pressuposto fundamental.
A leitura individual não se autossatisfaz, mas é complementada pela discussão dos
temas lançados pelos periódicos. O debate constitui um elemento essencial desta
cultura. Nos cafés discutem-se as ideias lidas nos jornais e revistas à disposição nessas
salas, ideias essas que encontrarão o seu reflexo nas colunas de opinião, nas cartas
abertas.
Estas refletem a individualidade que usa o espaço público que a imprensa em geral lhe
fornece. Esse debate, que se autodefine como um debate entre iguais, desenrola-se
num plano radicalmente diferente daquele que caracteriza a retórica do poder da
corte: teoricamente, não se trata de representar uma camada social ou uma tendência
da sociedade, mas de, usando do próprio entendimento, refletir livremente sobre os
temas surgidos. O participante nesse debate representa-se a si mesmo, enquanto
indivíduo autónomo e pensante, fazendo uso do seu entendimento, tal como Kant o
formula no célebre texto «Beantwortung der Frage: Was ist Aufklarung?»
Aufklärung ist der Ausgang des Menschen aus seiner selbst verschuldeten
Unmündigkeit. Unmündigkeit ist das Unvermögen, sich seines Verstandes ohne Leitung
eines anderen zu bedienen. Selbstverschuldet ist diese Unmündigkeit, wenn die
Ursache derselben nicht am Mangel des Verstandes, sondern der Entschließung und
des Mutes liegt, sich seiner ohne Leitung eines anderen zu bedienen. Sapere aude!
Habe Mut, dich deines eigenen Verstandes zu bedienen! ist also der Wahlspruch der
Aufklarung. (Kant 1986: 9)
Contudo, que esta posição não pode ser generalizada prova-o o apelo à liberdade
ilimitada da imprensa de Wieland em 1784, exatamente no mesmo ano em que Kant
publica o referido texto:
So wie es keinen wissenschaftlichen Gegenstand giebt, den man nicht untersuchen, ja
selbst keinen Glaubenspunkt, den die Vernunft wohl beleuchten durfte, um zu sehen,
ob er glaubwürdig sey oder nicht: so giebt es auch keine historische und keine
praktische Wahrheit, die man mit einem Interdikt zu belegen, oder für Kontrebande zu
erklären berechtigt wäre. Es ist widersinnig, Staatsgeheimnisse aus Dingen machen zu
wollen, die aller Welt vor Augen liegen, oder übel zu nehmen, wenn jemand der ganzen
Welt sagt, was einige hunderttausend Menschen sehen, hören und fühlen. (Wieland
1930: 72)
Note-se, contudo, que Georg Forster levantará a questão do modo como na Alemanha
o espaço público não possui o mesmo alcance que conhece na Grã-Bretanha,
salientando a ausência de Gemeingeist, tradução alemã do termo inglês public spirit. A
palavra alemã Gemeingeist começa a difundir-se então, surgindo quer em Forster quer
em Herder, porventura não tanto por influência mútua como recorrendo a um
neologismo que Joachim Heinrich Campe utilizara pela primeira vez no sentido de uma
ação empreendida para o bem-comum, como de resto o Dicionário Grimm ainda
aponta.
(...) schon haben wir siebentausend Schriftsteller, und dessen ungeachtet, wie es keinen
deutschen Gemeingeist giebt, so giebt es auch keine deutsche öffentliche Meinung.
Selbst diese Worter sind uns so neu, so fremd, dass jedermann Erläuterungen und
Definitionen fordert; indess kein Engländer den andern missversteht, wenn vom public
spirit, kein Franzose den andern, wenn von opinion publique die Rede ist. (Forster 1974:
365)
Equivale a dizer que a ausência de um sentido social comum, livremente expresso a
partir das opiniões individuais, reconhecidas e não dominadas ou instrumentalizadas
pelo Estado liberal, constitui o pressuposto da modernização política da Alemanha. A
ausência de Gemeingeist ou de opinião pública deve-se, segundo Forster, à falta de
união política e de uma cidade centralizadora, capaz de levar a cabo essa tarefa de
universalização contra as particularidades territoriais, leia-se, feudais.
Mas o termo öffentliche Meinung ganhará para Forster um significado diferente face à
experiência direta da Revolução Francesa. Se anteriormente a igualdade abstrata e a
individualidade, independentemente do posicionamento social e económico, haviam
sido enfatizados, a opinião pública passará a equivaler agora ao poder e à pressão
violenta que as massas parisienses exercem sobre o governo e a canalização que da
mesma o Governo jacobino, na fase de revolução democrática em França ( 1793-
1794 ), fazia. Mas ela é sobretudo a ferramenta e a alma da Revolução («Werkzeug
und Seele der Revolution», Forster 1990: 602). O modelo liberal britânico cede, em
parte, o lugar a uma vontade geral, inspirada em Rousseau, onde o coletivo tem de
predominar, coletivo esse que só pode assumir a importância que tem pelo facto de
emanar de uma cidade, Paris, que é o centro da França e da Revolução.
É a pressão da opinião pública que explica e legitima a violência revolucionária, cientes
os seus protagonistas de que a situação social, a miséria das massas, a torna
necessária. Recorde-se que será o Governo jacobino que instituirá o sufrágio universal
- relativo na medida em que excluía a população maioritária feminina- e legislará a
abolição da escravatura, radicalizando o potencial utópico das Luzes, que Napoleão
virá a questionar, ao mesmo tempo que institucionaliza a herança revolucionária.
Com efeito será esse Homem abstrato que, ignorando aparentemente a diferença, irá
corporizar, quer os momentos mais emancipatórios, quer os elementos mais
problemáticos ou repressivos das Luzes. A mensagem de libertação é vedada na
prática às humanas de sexo diferente, aos iletrados (aos que não pertencem à
burguesia e nobreza letradas), aos desapossados, aos colonizados: a todos aqueles
que, sem escrita, se verão impedidos de fixar as suas histórias, histórias essas perdidas
numa tradição que vê na oralidade uma manifestação cada vez mais negativa.
Ao espaço público apenas têm acesso os homens, os «brancos», os letrados, os
proprietários, assim se equacionando claramente esta forma de expressão de um
poder com os interesses - então ainda facilmente universalizáveis - da burguesia
masculina e europeia.
Mas a curiosidade intelectual feminina não só era motivo de troça ou censura, mas
também de complexo de culpa por parte das próprias mulheres, como se pode ler no
seguinte excerto de uma carta da jovem Therese Forster-Huber:
( ... ) Wegen meiner Lektüre habe ich mir bisweilen Vorwürfe gemacht, habe gedacht,
ich sei selbst daran schuld, wenn ich nicht mehr so unbefangen unschuldig war, wie
meine Jahre es mit sich brachten, und es meines Geistes würdig sei. Sie beruhigen mich
um vieles, aber dass Sie mein Lesen zu einem Grund meiner plagenden Unruhe
machen, das ist mir ganz unerwartet; denk ich aber mehr darauf nach, so glaub ich, Sie
haben ziemlich recht. Ich habe mir einmal einen Ton gegeben, der nur der Einzige ist,
der mir gefüllt, was ich höre und antreffe, muss in diesen Ton einstimmen, um mir zu
gefallen, ists dies nicht, so ist mirs gleichgültig und zuwider. Da ich nun wenig finde,
das mir gefüllt, so macht mir vieles Langeweile, ist mir unschmackhaft, und weil ich
immer mehr suche, und nie finde, so bin ich, glaub ich, unruhig. Die vielen Romane, und
andre Schriften, die bloss fürs Herz waren, haben meine Zärtlichkeit gereizt; ich fühle,
dass ich würde glücklich sein, wenn ich einen Gegenstand wüsste, dem ich diese
Zartlichkeit ganz geben könnte, aus dem ich meinen Abgott machen könnte, da ich
aber keine Seele um mich sehe, die mich versteht, muss ich mich Verschließen, mich in
mich selbst hinziehen, ich träume Bloß ein Glück, das ich mir ausschweifend träume, so
wie ich mir kein Gewissen daraus machen würde, Mahomeds Paradies mit
ausschweifender Pracht und Glückseligkeit auszuschmücken, beides sind Traume, und
Unmöglichkeiten. (Huber 1989: 13-14)
3 .4 Espaço domésti co
3.4.l A divisão de trabalho nafamília burguesa: homens, mulheres e
crianças
A igualdade teórica e abstrata postulada no espaço público não invalida, antes
pressupõe outras formas de separação e de hierarquização, mesmo no seio da
burguesia.
A família nuclear burguesa saberá inventar e definir de forma tanto mais eficaz as
formas de opressão patriarcal, reproduzindo-se, a nível doméstico, outras tantas
maneiras de exercer a autoridade sobre os economicamente dependentes: mulheres,
crianças e criados (Horkheimer et al. 1987).
Se esta divisão do espaço constituiu, com efeito, o grande pólo de inspiração para a
invenção de uma racionalidade individual, para uma forma de estar em sociedade mais
«humana», o certo é que a geografia da casa burguesa não esconde o modo como a
«dialética do Iluminismo» (Horkheimer/Adorno 1971) gera o reverso dessa
humanidade sem sexo ou sem idade.
A separação entre mundo público e privado e a subsequente invenção do mundo
doméstico, cria a fronteira entre o mundo masculino e feminino, adulto e infantil,
entre senhores e criados, em suma, marginalizando aqueles que não dispõem de
maioridade política ou biológica.
Reino do sentimento, poupado das agressões da concorrência e da racionalidade
instrumentalizadora do capitalismo, será o local ideal de consumo de literatura
sentimental, bem como de produção da mesma por parte de algumas mulheres mais
ousadas. O mundo doméstico torna-se feminino, reino da mulher burguesa que,
impedida de aceder política e economicamente ao mundo público, se realiza nas
tarefas domésticas, criando filhos e praticando a administração dos bens masculinos.
São estas mulheres que encontram em Rousseau a emancipação possível,
amamentando e educando os futuros cidadãos para uma participação de que
permanecerão excluídas formal e praticamente até ao princípio do século XX.
Por sua vez, esta divisão tanto mais distinta se torna, quanto o corpo se transforma no
local, onde a diferença empiricamente percetível se irá inscrever: a mulher passa a ser
gradualmente encarada não como uma variante de um modelo humano único, mas
como um ser portador de uma diferença biológica irredutível (Gallagher/Laqueur
1987). Assim, quando Rousseau advoga a diferença natural entre os sexos, ainda o faz
socorrendo-se de um conceito abstrato de natureza, em que a diferença biológica é
relativa nesse processo de demarcação e de atribuição de papéis:
En tout ce qui tient au sexe, la femme et l'homme ont partout des rapports et partout
des différences: la difficulté de comparer vient de celle de déterminer dans la
constitution de l 'un et de l' autre ce qui est du sexe et ce qui n'en est pas. Par
l'anatomie comparée, et même à la seule inspection, l' on trouve entre eux des
différences générales qui paraissent ne point tenir au sexe; elles y tiennent pourtant,
mais par des liaisons que nous sommes hors d'état d'apercevoir: nous ne savons
jusqu'ou ses liasons peuvent s' étendre; la seule chose que nous savons avec certitude
est que tout ce qu' ils ont de commun est de l' espece, et que tout que ce qu' ils ont de
différent est du sexe. Sous ce double point de vue, nous trouvons entre eux tant de
rapports et tant d' oppositions, que e' est peut-être une des merveilles de la nature d'
avoir pu faire deux êtres si semblables en les constituants si différemment. (Rousseau
1966: 466)
Ora é exatamente essa natureza comum que será cada vez mais relegada para
segundo plano, legitimando e antecipando o discurso científico a necessidade de o
poder político justificar o afastamento das mulheres enquanto sujeitos de direito
(Gallagher/Laqueur 1987). Kant recusar-lhes-á exatamente esse mesmo direito, tal
como aos assalariados e não-proprietários, medidas que a Constituição francesa de
1791, de resto, também, asseguraria. A caracterização kantiana do sexo feminino
revela tanto os preconceitos de um celibatário como a fonte em que os terá
provavelmente bebido: Jean-Jacques Rousseau.
Weibliche Tugend oder Untugend ist von der männlichen, nicht sowohl der Art als der
Triebfeder nach, sehr unterschieden. - Sie soll geduldig, er muss duldend sein. Sie ist
empfindlich, er empfindsam. - Des Mannes Wirtschaft ist Erwerben, die des Weibes
Sparen. - Der Mann ist eifersüchtig, wenn er liebt; die Frau auch ohne dass sie liebt;
weil so viele Liebhaber, als von andern Frauen gewonnen worden, doch ihrem Kreise
der Anbeter verloren sind.- Der Mann hat Geschmack für sich, die Frau macht sich
selbst zum Gegenstande des Geschmacks für jedermann. (Kant 1988: 654)
Condorcet apela ainda para o carácter secundário dessa diferença para advogar a
legitimidade da maioridade política e pública das mulheres, reproduzindo assim o
discurso da igualdade abstrata, fundada numa racionalidade sem corpo e sem sexo.
Reclamando para as mulheres direitos cívicos e políticos, incluindo-se nestes o direito
ao sufrágio, escreve no seu libelo «Sur I' admission des femmes au droit cité», já
durante a Revolução Francesa, no ano de 1790:
Je demande maintenant qu' on daigne réfuter ces raisons autrement que par des
plaisanteries et des déclamations; que surtout, on me montre entre les hommes et les
femmes une différence naturelle qui puisse légitimement fonder l'exclusion du droit.
(Condorcet 1968: 129)
Mas este marquês republicano inspirava-se noutros modelos que não os que os
adeptos de Robespierre consagravam. E a família burguesa saberá basear-se no
princípio de que a diferença biológica legitima a passividade pública das mulheres.
A proclamação da igualdade abstrata caminha de par com a fixação de uma diferença
irredutível. Se a criança é reconhecida e retratada já não como uma miniatura do
adulto, a ela se dedicando uma pedagogia que confere de forma particularmente
inovadora ao ritmo de desenvolvimento infantil o lugar de direito que ainda
atualmente lhe é reconhecido, inventando-se exatamente então a literatura infantil
(cf. Cap. II.2, ponto 2.2.2), que conhece em Robinson der Jüngere (1779) de J. H.
Campe (1746-1818) um dos seus mais importantes representantes, também é verdade
que a mesma serve de meio para consagrar a divisão de sexos e capacidades.
A garantia da existência de mulheres saudáveis e equilibradas servia uma finalidade: a
de uma procriação tão eficaz quanto possível e não a de um direito próprio.
( ... ) Mütter, denen das künftige Wohl ihrer Kinder am Herzen liegt, können daher von
dem ersten Augenblicke ihrer Empfängnis an, nicht zu aufmerksam auf die Erhaltung
der Gesundheit ihres Leibes und ihres Geistes seyn, können vor jeder Unpässlichkeit,
vor jeder Ausschweifung aus der graden Straße der Tugend und Rechtschaffenheit, und
vor jedem widrigen Affekte, nicht zu sorgfältig sich in Acht nehmen. Nie wird auf einem
kränklichen, faulenden , oder durch Sturmwinde zersplitterten Stamme das zarte, so
eben erst hervorgequollene Knöspchen, zu einem gesunden und starken Fruchtaste
gedeien können. (Campe apud Schmid 1995: 62)
No espaço público e político de que as mulheres, as crianças e os criados se verão
privados, apenas ecoa a voz patriarcal do chefe de família. E nem o direito ao prazer
lhes era autorizado como forma de compensação.
3.8 Conclusão
Resumindo pode afirmar-se que no espaço cultural alemão se fez sentir, à semelhança
de outros países europeus e pese embora um relativo atraso económico, uma
evolução fundamental na criação de um espaço público.
Antes da Revolução Francesa já se desenhara e consolidara um espaço de debate e de
oposição a que a mesma iria dar a mais perfeita expressão política, abrindo
simultaneamente o caminho para o reforço do papel do génio solitário face à liberdade
cada vez mais institucionalizada e regulamentada.
A nova ordem decorrente das transformações revolucionárias em França,
institucionalizaria e consagraria no Continente europeu algumas das reivindicações
iluministas, para as quais o debate surgido no seio do espaço público foi determinante.
Mas, se a nova realidade herdeira do século XVIII radicalizava as aspirações das Luzes,
também as desvirtuava.
Com efeito, a Revolução Francesa institucionalizou as reivindicações e práticas que
associamos ao emergir do espaço público, sancionando a liberdade de imprensa, de
confissão religiosa, o direito à propriedade, criando uma esfera distante e estanque da
vida íntima, onde tudo seria permitido, desde que não interferisse com o domínio
público.
Mas a tolerância religiosa não encontraria sempre o seu mais adequado equivalente
político e jurídico, a igualdade permaneceria mero postulado jurídico sem a
correspondente prática económica. A igualdade e a liberdade, a identidade e a
diferença e o modo de se articular esses dois elementos seriam o maior dilema e
equívoco com que a nossa contemporaneidade ainda se vê a braços. A igualdade
jurídica, baseada no postulado de uma igualdade abstrata e universal garantiu, - e
garante - o tratamento idêntico de todos os seres, independentemente do sexo, da
origem, das crenças, da cor, mas simultaneamente não escapou à tentação de tornar
esse modelo e essa referência num modelo monolítico e absoluto, em evidente
contradição com o programa tolerante que o inspirara. O «Terror da razão» (Georg
Forster), tudo nivelando e instrumentalizando, não foi descoberta dos críticos e céticos
das Luzes e da modernidade no nosso século (Horkheimer e Adorno), mas algo já
então sentido pelas mulheres, pelos colonizados na Europa e fora dela, pelas minorias
revolucionárias, antes de ser reapropriado e instrumentalizado pelos seus críticos,
entre os quais os mais ferozes adeptos da sociedade do privilégio e da diferença mais
unilateral.
A racionalidade abstrata e utópica gerou, na sua dialética, os apelos mais eloquentes
ao direito à diferença, baseada na origem, no sexo, na cor, criando assim a
possibilidade do moderno discurso nacionalista, feminista, racista em tudo aquilo que
de mais polémico possuem. E sublinhe-se também: o pensamento das Luzes
inscreveria no seu discurso e lógica do poder essa diferença de homem branco,
cristão/protestante, europeu, contra a inferioridade seja da mulher, seja do não-
europeu, segundo uma pretensa norma universal, mas masculina e colonial. Seria na
recuperação dessa diferença marginalizada que os protestos dos dominados se iriam
reunir para denunciar a abstração dessas normas e buscar o fundamento, a inspiração
e a mitologia para a (re)invenção de uma identidade entretanto destruída.
E é também na Revolução Francesa, enquanto institucionalização da modernidade e de
um espaço público centralizado, que vamos encontrar as origens de uma organização
desta esfera até aos nossos dias: a crescente influência e pressão do poder económico
levará a que esses espaços de reflexão e debate cedam gradualmente o lugar a uma
imprensa manipuladora da opinião pública que passa a constituir uma mera correia de
transmissão do poder instituído. A velocidade e a quantidade da informação virão, a
partir do século XIX, prejudicar os elementos críticos do público leitor, cada vez mais
passivo. O aparecimento dos meios audiovisuais viria a revolucionar a imprensa e a
criar as condições para o aparecimento dos modernos meios de comunicação de
massa. A cultura escrita cederia gradualmente o lugar à comunicação audiovisual.
Pesem embora todas as diferenças radicais entre esses dois momentos há que não
esquecer que conceitos como os de opinião pública, espaço público e publicidade,
surgidos no século XVIII, ainda persistem no nosso imaginário social e político e
constituem o modelo segundo o qual inconscientemente ou não medimos a nossa
realidade pós-moderna.
Na base deste movimento para fora está a exploração das zonas rurais à volta das
cidades:
Die Aneignung der Heimat, der Spaziergang in die vertraute Umgebung, war für die
Zeit um 1800 das eigentlich Neue. Mit Ausflügen, Picknicks, Landpartien und
Spaziergängen wurde die Umgebung erkundet. (König 1996: 15)
Ao contrário do passeio aristocrático, que representava ainda a hierarquia da corte, o
Spaziergang do burguês integra os espaços naturais numa nova ética do trabalho e do
descanso correspondente. A estética da natureza completa e substitui a prática
religiosa por hábitos que consolidam a família (Sonntagsspaziergang) e a pretendida
harmonia de natureza interior e exterior.
Por outro lado, a cultura do passeio instituiu também uma diferenciação genérica de
papéis sociais e dos respetivos corpos (masculino e feminino); a vida nos espaços
naturais prolonga e diversifica os esquemas essenciais da sociedade burguesa que se
delimita tanto da aristocracia improdutiva como do povo inculto. O saneamento básico
das cidades, que se realiza no decorrer do século XIX, inclui também as zonas verdes
dentro e fora das cidades que se encontram ainda cheias de lixo, excrementos e
cadáveres animais. A natureza recriativa exige pureza e limpeza, a sua estética não
tolera os incómodos da civilização e ainda menos os resíduos (humanos e materiais) da
produção industrial.
A preferência pela natureza idílica explica-se também pelo facto de na Alemanha
nunca ter existido uma cultura urbana como em Roma ou, na modernidade, em Paris e
Londres. Formas reduzidas desta urbanidade moderna verificam-se unicamente em
Viena, capital do império Austro-Húngaro, e na Berlim do fim-de-século e dos anos
vinte. O que predomina numa Alemanha industrializada tardiamente é a pequena
cidade, o lugar duma vida burguesa pacata e idílica, tal como aparece na pintura do
Biedermeier e nos quadros ainda muito populares de Carl Spitzweg (1808-1885).
Esta ausência duma cultura urbana moderna traz consigo a valorização dos espaços
naturais, não só das florestas, mas também do pequeno quintal arrendado nos
arredores da cidade. Esta instituição tipicamente alemã, o Schrebergarten ou
Kleingarten que surge a partir de 1864, assim denominado em memória do médico e
pedagogo Daniel Gottlob Moritz Schreber (1808-1861 ), existe ainda em muitas regiões
da Alemanha; a sua estrutura característica ( cerca de 300m2) que junta o agradável
(flores, sombra, sossego, relva, um pequeno pavilhão em madeira) ao útil (legumes e
fruta, trabalho ao ar livre), é uma versão em miniatura do sonho burguês duma
harmonia total entre trabalho e natureza, espaço saudável e vida humana.
A parcela individual numa zona «verde pública» (que tem, desde 1919, o seu próprio
estatuto jurídico) recria em poucos metros quadrados um universo aparentemente
intacto e controlável. Mas, com a expansão demográfica e espacial das cidades e a
poluição do ambiente, o Schrebergarten torna-se numa forma obsoleta de evasão e a
progressiva industrialização dos lazeres cria outros cenários naturais que são
comercializáveis de uma forma muito mais rentável e eficaz.
Integrada no ritmo da vida pública e privada, esta paisagem carece das características
do prospeto romântico: «Keine prachtige, der Bewunderung oder des Erstaunens
würdige Gegenstande, keine Gebürge, keine Felsen, keine von ihnen herabhangende
Walder, keine Aussichten auf die Unermesslichkeit des Meeres» (ib.: 14 ), mas a
solidão da floresta e o «silêncio da natureza que respira paz» e harmonia.
Nas descrições de Hirschfeld perfilam-se claramente as duas vertentes da função
compensatória da natureza, tal como prevalecem até hoje: o aspeto pitoresco,
grandioso e terrível dos fenómenos naturais que provoca emoções fortes e será, por
isso, reservado para ocasiões especiais, e a natureza amena e agradável cujos efeitos
benéficos são integrados na vida quotidiana.
Neste sentido, o arquiteto paisagista Leberecht Migge ( 1881-1935) exige a
participação ativa dos utentes na plantação do jardim (Garten-Dilettan-tismus) a fim de
compensar os efeitos nocivos e destrutivos da civilização moderna. O povo devia
aproveitar os jardins públicos também durante a semana - « Wir brauchen keine
Sonntagsgarten» (Wimmer 1989: 364) - e por isso ter o direito de pisar a relva, brincar
e dançar no jardim e tomar banho nos lagos.
A participação ativa na instalação e utilização do jardim está também no centro das
atividades das associações que se organizam depois da morte do já citado médico
Schreber. Mas estes pequenos quintais ou hortas fora da cidade, concebidos como
uma alternativa às formas pouco saudáveis da vida urbana, tomam-se, também, com a
revolução industrial e o crescimento acelerado dos centros urbanos, num meio de
evasão que opõe o trabalho profissional muitas vezes desgastante ao Feierabend
recriativo. Curiosamente, esta prática é retomada ultimamente pelas famílias turcas
nas zonas industriais do Ruhr que instalam em terrenos abandonados uma pequena
Heimat onde podem cultivar os legumes tradicionais e conviver com família e amigos
(cf. a reportagem «Türkische Garten>> de Frauke Hunfeld e Brigitte Kraemer no
Zeitmagazin de 18.4.1997, pp. 42-47): «Wir Türken sind ein Teil des Ruhrgebiets
geworden», diz um destes turcos que passaram mais tempo na Alemanha do que na
Turquia, «Deutschland hat uns verandert, und wir haben Deutschland verandert.
Meine Enkelkinder sollen hier gross werden» (ib.: 47).
A função compensatória do ambiente natural do Schrebergarten é ainda resultado
dum trabalho individual que transforma, planta e recolhe os frutos deste esforço. O
que se paga é a ocupação do terreno e não os efeitos benéficos do jardim. Recriar
estes efeitos num ambiente artificial já permite um acesso mais rápido às
compensações que a natureza pode oferecer, e isto a números elevados de pessoas
que podem ainda escolher entre cenários diferentes.
A simulação de ambientes naturais, porém, não é só uma manifestação do processo de
modernização, como afirma Grossklaus (1993: 14). As funções por ele apontadas
(anular a distância temporal e geográfica, transformar espaços longínquos e diferentes
em espaços interiores simultâneos) já se verificam em épocas pré-industriais; simular
um ambiente aparentemente natural é uma técnica cultural com uma longa tradição.
As fontes, grutas e lagos do parque barroco eram tão artificiais como as colinas e
riachos do parque inglês. As paisagens turísticas modernas, porém, obedeciam aos
imperativos duma indústria que formou e transformou cidades e regiões inteiras. Mas,
neste contexto, o carácter artificial do ambiente natural era ainda camuflado, a
transição impercetível. A redução considerável da superfície agrícola e florestal na
segunda metade deste século, a mecanização da agricultura e o baixo valor estético e
afetivo das monoculturas exigem novas formas de encenação.
Uma destas formas é o aproveitamento e a transformação da natureza concreta em
realidade mediática. Desde 1994, vários canais de televisão apresentam durante o dia
inteiro as «sete maravilhas do mundo», transportando também o público alemão para
os lugares mais espetaculares do planeta. Por outro lado, já está em elaboração, desde
1985, uma rede informática chamada Terravision, um projeto americano-alemão que
pretende nada mais nada menos do que criar um segundo mundo digitalizado que
permita viajar no tempo e no espaço, isto é, através das suas representações
arquivadas e preparadas para uma utilização interativa.
Mas também o turismo em zonas exóticas, antes exclusivamente reservadas a uma
clientela rica (Caraíbas, Pacífico, etc.), por um lado, e a instalação de grandes parques
de lazer (Freizeitparks) na Alemanha, por outro, visam um alargamento da oferta
paisagística. Assim o Grugapark de Essen, uma das instalações mais antigas deste
género, incluiu não só um jardim japonês, americano e mediterrânico, mas também
uma paisagem alpina com cascata.
A publicidade (cf. GrugaparkAktuell, 8.ª edição, Junho-Julho 1997, p. 4) insiste
particularmente na função compensatória deste conjunto:
Warum in die Feme schweifen, im Grugapark Essen erleben Sie eine Reise durch die
Welt. Mit exotischen Tieren und Pflanzen in einer der grossten Freizeitanlagen - eine in
Jahrzehnten gewachsene idyllische Parklandschaft für Ruhe und Erholung, Sport und
Spiel, Frohsinn und Abenteuer. Vergessen Sie den grauen Alltag. Gönnen Sie sich ein
paar schone Stunden.
Os novos parques que, por razões de clima e poluição industrial, são instalados em
grande parte em áreas cobertas, também incluem elementos tropicais e exóticos
(plantas, animais, temperatura adequada), estruturas de divertimento (parques
aquáticos, instalações desportivas, etc.) e de consumo (cafés, bares, restaurantes,
supermercados) e recriam, assim, um conjunto harmonioso de «natureza», férias e
consumo.
Enquanto a multiplicação dos canais de televisão e a evolução rápida da realidade
virtual, que oferecem não só desporto, música e informação, mas também viagens e
descobertas, limitam o espectador a uma realidade mediática integrada no ambiente
familiar, a excursão para os novos parques tem ainda uma dimensão concreta e
sensual que explica o êxito destes empreendimentos. A fórmula para estas «novas»
experiências é a do Erlebnistourismus (e, na sua variante mais exclusiva, do Abenteuer-
und Risikotourismus) que deve proporcionar o que a monotonia da vida quotidiana já
não fornece. O «Erlebnis», a experiência da diferença e da alteridade é, porém,
reduzido à disponibilidade de elementos estandardizados e a uma regularidade que
limita também o valor afetivo dum ambiente acessível para toda a gente, a horas
certas e preço fixo.
Por outro lado, o novo Freizeitpark é um fenómeno internacional (nos países
industrializados) que prescinde largamente de componentes regionais e nacionais em
favor de ambientes estereotipados na sequência da globalização da civilização
ocidental. Esta uniformização da natureza simulada resulta, sem dúvida, como
Grossklaus salienta ( 1993), da perda de espaços naturais e da destruição geral do
ambiente, mas a desconexão atual de natureza e identidade nacional, cuja
identificação teve tantos efeitos duvidosos na Alemanha, poderia ter também
consequências positivas. Além de proporcionar descanso e divertimento, estes
parques podem transformar-se em lugares de encontro e convívio que permitam
também a participação em manifestações culturais, sem as barreiras sociais que
limitam o público das instituições tradicionais como a ópera e o teatro. A integração de
ambientes naturais e culturais pode favorecer novas formas de interação social e, até,
uma relação diferente com o espaço a que se chama Heimat.
A redefinição deste conceito, isento das antigas conotações ideológicas, já se verifica
na literatura e crítica (a nova Heimatliteratur, sobretudo na Áustria e na Suíça) e no
cinema. Um papel pioneiro nesta valorização da Heimat no contexto da história do
quotidiano e da cultura popular teve o filme Heimat de Edgar Reitz que, rodado de
1981 a 1984, apresenta em mais de 15 horas o mundo limitado da terra natal e, ao
mesmo tempo, a instrumentalização e a destruição deste ambiente idílico e dos
respetivos sentimentos. Nesta perspetiva, Reitz cita o filme Heimat (1938) de Carl
Froelich (1875-1953), um cineasta ao serviço do nacional-socialismo, que reivindicou o
conceito para a ideologia fascista. Reitz remete, pelo contrário, para a dimensão
utópica de um mundo que, tal como a paisagem romântica, não deixa de ter uma
função crítica e compensatória na atual comercialização global da vida social e cultural.
CONCLUSÃO:
O primeiro dos textos selecionados acima (Cap. III.3) constitui grande parte do estudo
do Tema 3, que trata da descrição mais detalhada do que se começa por definir e
apelidar de "contracultura burguesa" (p.171). O texto vai descrevendo fatores
considerados vitais para caracterizar esta cultura burguesa, de que todos somos hoje
ainda herdeiros e beneficiários, digamos. O atributo de "contra" refere-se ao facto de a
burguesia no século XVIII (e também XIX) se ter autodeterminado socialmente,
constituindo um contrapoder ao poder instituído, este último de raiz nobre /
aristocrática. Assim, o manual de Opitz trata, antes de mais, da profunda alteração que
se verifica no modo de se ver o tempo e o espaço (pp.171-173), continuando depois
com a explicação aturada dos conceitos-chave para entendermos a sociedade
moderna e contemporânea: "público" e "privado".
Na verdade, o que verificamos a partir do século XVIII um pouco por toda a Europa é
uma espécie de mudança de perspetiva, de olhar, em relação à sociedade — esta
passa do mundo de representação codificado da sociedade aristocrática ao mundo da
intimidade privada da sociedade burguesa. Poderíamos fazer uma longa tabela de
comparação entre os espaços e códigos comportamentais burgueses e aristocráticos
para entender melhor esta alteração profunda. Apesar de haver sempre uma zona
nebulosa, onde os códigos se confundem e são comuns, há de facto diferenças
profundas. O mundo burguês divide-se entre o público e o privado, sendo este último
de algum modo um reflexo do primeiro, se bem que, para o homem burguês de família
patriarcal, o mundo doméstico privado seja também o seu refúgio face ao espaço
público, onde desempenha papéis sociais codificados. O mundo do trabalho (público) e
o mundo da família (privado) são outro modo de refletir esta dupla valência da vida
burguesa. Esta longa descrição bem detalhada entre público e privado decorre entre as
páginas 173 e 184 do manual.
Depois o texto parte para a descrição, também detalhada, dos papéis sociais (pp.185-
192). Aqui explica-se mais em detalhe o espaço do trabalho e o da família, sempre
pensando que as categorias do tempo e do espaço que são descritas de forma mais
teórica nas pp.171-173 têm aqui um reflexo prático. Numa outra vertente destes
papéis sociais encontramos, finalmente, alguns espaços importantes da vida burguesa
pública: as sociedades secretas, os teatros e concertos… (pp.192-195).
Entre as pp.195-197 tece-se uma conclusão que é muito importante para fecharmos o
estudo do espaço público.
O segundo texto (Cap. III.4.6, pp.213-221) constitui uma descrição dos espaços
públicos de entretenimento da burguesia, no século XVIII e XIX. O papel da natureza, o
Panorama e o passeio público são os espaços de eleição aqui descritos, constituindo
um complemento significativo à explicação da organização da vida burguesa no século
XVIII-XIX.
ATIVIDADES
1 - Leia o capítulo III.3. do Manual considerando as indicações de leitura que se
seguem:
Isole os traços que definem o chamado "espaço público", os seus locais de
manifestação e agentes envolvidos, por contraste ao espaço representativo da
corte (pp.173-184 do Manual)
EFOLIO GLOBAL
Parte I
Considere o seguinte excerto, por Lessing, sobre «A educação
do género humano»:
«§ 81. Acaso o género humano nunca haverá de chegar ao grau
supremo da razão e da pureza? Nunca?
§ 82. Nunca? Não permitas, Senhor na Tua infinita Bondade, que eu
pense semelhante blasfémia! - A educação tem o seu objectivo: não
menor no género humano do que no homem individual. O que é
educado, é educado para alguma coisa.
§ 83. As perspectivas lisonjeiras que o educador abre ao jovem: a
honra, o bem-estar, que se lhe apresentam - o que são mais do que
meios de o educar a ser homem, um homem que seja capaz de fazer o
seu dever, mesmo que estas perspectivas de honra e de bem-estar se
não concretizem.
§ 84. Estes são os objectivos que a educação humana deve atingir: e a
divina não os alcançaria? O que a arte consegue com cada um não
haveria de conseguir a Natureza com todos? Blasfémia! Blasfémia!
§ 85. Não. Virá, virá certamente o tempo da perfeição, em que o
homem, quanto mais a sua razão se sentir convicta de um futuro
sempre melhor, menos terá necessidade de solicitar a esse futuro como
que motivações para as suas acções: em que fará o bem porque é o
bem e não porque lhe são atribuídas recompensas arbitrárias que
outrora serviram simplesmente para fixar e fortalecer o seu olhar
vacilante, de modo a que reconhecesse as recompensas interiores,
melhores.»
Parte II
Responda de forma aprofundada e rigorosa à seguinte
questão, não excedendo o limite máximo de uma página e
meia da folha de resolução:
Leia atentamente o excerto que se segue e que conhece dos
materiais que leu a propósito do estudo da cultura burguesa do
século XVIII na Alemanha:
«De acordo com a própria natureza das coisas, todo o pai de família
deve antes do mais ter autoridade suficiente para impor à sua mulher
e aos seus filhos o sentido do trabalho, da ordem e da poupança.
Estas são as três qualidades fundamentais de qualquer casa bem
organizada, e sem elas até o mais esforçado chefe de família acabará
por se arruinar. E elas são também aquelas que melhor contribuem
para o bem comum. A ordem e a poupança são o suporte das famílias
e a razão do seu bem-estar, coisa a que um Estado nunca pode ficar
indiferente; mas o trabalho dos seus habitantes é a verdadeira base da
riqueza de um país.» (J. G. Krünitz)
Numa reflexão aprofundada sobre as palavras de Krünitz, explique
em que medida são o reflexo da cultura burguesa alemã do século
XVIII.
O e-Fólio Global de Sociedade e Cultura Alemãs I propõe responder de forma
directa e concisa a duas questões, a partir da leitura de um excerto de Lessing, e
num segundo momento da prova pede uma reflexão mais aprofundada sobre a
cultura burguesa alemã do século XVIII a partir da leitura de um texto de Krünitz.
Em relação à primeira das duas perguntas sobre o texto de Lessing, o autor
começa por tecer uma relação de afinidade entre o desígnio de perfeição e o que
ele chama de "grau supremo da razão e da pureza", numa perspectiva
esperançada de se caminhar para um "futuro sempre melhor", o que por si só
reflecte o optimismo iluminista e a crença de que o homem de facto poderia
ambicionar a perfeição, ou seja, alcançar a felicidade. No excerto, este desígnio
de educar para alcançar a perfeição é necessário ao nível individual (nos
momentos em que Lessing fala "no homem individual", no "homem capaz de fazer
o seu dever", e na dimensão "interior" deste processo; mas também é necessário
ao nível colectivo, como resultado da educação individual, e no parágrafo 82 isso
é expresso de forma literal – é tão necessário ao nível individual como colectivo,
quando se fala do "género humano". Na verdade, Lessing tece um reflexo entre as
duas dimensões, defendendo-se que a educação do indivíduo serve a
comunidade, e vice-versa. Em relação à segunda questão, de facto, há a
expressão de um determinado quadro moral, ético, que molda as ideias de
Lessing sobre a educação do género humano. Pois não se concebe alcançar a
perfeição sem uma firme conduta moral, numa mesma perspectiva de reflexo
entre o indivíduo e a sociedade/comunidade em que vive. E esta conduta moral
vem expressa sobretudo no parágrafo 85, mas já no parágrafo 83 se indicia um
dever no agir humano que é independente das recompensas que o possam
premiar individualmente, favorecendo acima de tudo o bem comum; no parágrafo
85 afirma-se o valor do bem por ele mesmo, por si próprio, como objectivo
individual e colectivo, em linha com o desejo de se alcançar a perfeição. A
educação, ao alcance de todos, será o meio principal para se concretizar este
desígnio.
No que diz respeito à pergunta de desenvolvimento, a citação de Krünitz
pretende somente inspirar um comentário que possa identificar os vários aspectos
inerentes à organização da cultura burguesa nas duas esferas da sua
concretização: o espaço público, onde o "trabalho" do cidadão contribui para o
país e para o "bem comum", e o espaço privado, onde a família burguesa como
que reflecte o investimento no bem comum, fomentando os valores de base para
uma sociedade que se idealiza como justa e sediada no reconhecimento do valor
do indivíduo, rumo à promessa de felicidade - são esses valores os do "trabalho,
ordem e poupança". Aspectos fundamentais como a "autoridade" e a ordem
também estão aqui sublinhadas, podendo desenvolver-se o comentário no sentido
da racionalidade burguesa, onde o tempo e o espaço são devidamente definidos e
espartilhados, ao serviço do progresso. Há nas palavras de Krünitz não só a
confirmação da cisão entre o espaço do trabalho e da família - o início de uma
era onde o espaço doméstico é, por excelência o espaço do consumo, e o local de
trabalho por excelência o espaço da produção; a dupla ética burguesa, que no
trabalho se rege pela lei do economicamente mais forte, e em família se dedica à
reflexão humanista, ao repouso e reencontro de si mesmo, ao recolhimento e à
preservação dos afectos e do seu valor compensatório face à pressão do trabalho.
Por último, sublinhe-se que a citação de Krünitz enfatiza a importância da
conduta individual para a colectividade, a relação de reciprocidade entre o
Estado e o indivíduo, cada um dos indivíduos que o fazem.
De um modo geral os resultados desta turma ficaram aquém da média geral dos
e-Fólios; ou seja, muitos de Vós baixaram um pouco na qualidade do
desempenho, e um dos motivos principais é o facto de não terem percebido o que
se pedia, pese embora demonstrarem o estudo que fizeram das matérias, facto
que é sempre valorizado; mas infelizmente não chega para obter um resultado
mais positivo, faltaria responder efectivamente ao que se pede, para além de
identificar o tema sob avaliação. Portanto, a turma em geral teve problemas de
compreensão do que se pedia nas perguntas, que resultaram em respostas que
muitas vezes se desviaram da tarefa proposta.
Em relação à primeira parte da prova, muitos de Vós ocnseguiram isolar bem as
dimensões individual e colectiva da educação, em particular a relação refelxiva
entre ambas, fundamental para se entender as ideias expressas ao longo do
excerto; Lessing, ao focar a educação do indivíduo, tem na linha do horizonte do
seu texto o bem comum colectivo, da comunidade, e não está preocupado com o
proveito individual. Isto, porque racionalmente se concebe que, estando a
sociedade bem servida pelos seus cidadãos, cada indivíduo estará, certamente,
bem enquadrado e reconhecido no seu papel particular. E agora voltando-nos
mais para a segunda resposta, a educação orientada pelo desígnio "da razão e da
pureza" será, por conseguinte, o meio fundamental para se evitar o que Lessing
diz ser o "olhar vacilante" dos que procuram as "motivações" ou "recompensas
arbitrárias" para a sua acção — é aqui que reside a concepção moral expressa no
excerto. Falar da tolerância religiosa de Lessing, ou das suas perspectivas dentro
do campo da religião, não só não é claro no excerto citado, como é uma
justificação secundária para se identificar, no excerto, o enquadramento moral
ou ético expresso. Isso desviou um pouco o olhar do que se pedia na questão.
Em relação à pergunta de desenvolvimento, é importante que se perceba que o
excerto de Krünitz não inspira somente que se reflicta sobre os papéis sociais na
ordem burguesa do século XVIII; muitos de vós votou-se a falar da desigualdade
entre homem e mulher e do seu reflexo ao nível social (muito menos
desenvolvido!), a partir da família patriarcal que se poderá identificar no
excerto, desenvolvendo o raciocínio para o capitalismo eventualmente professo
pela burguesia de Setecentos (sendo que, em bom rigor, não podemos falar de
"capitalismo", mas sim de "liberalismo", conceito muito mais direccionado em
termos históricos e oportuno, mas nem é bem disso que se pede para se
desenvolver nesta questão); ora, esta realidade, se bem que encontra as suas
sementes no século XVIII, não é, por si só, o século XVIII burguês de que Krünitz
nos fala no excerto. Há mais detalhes que inspirariam uma reflexão mais rigorosa
e detalhada sobre o que consitui a cultura basilar burguesa do século XVIII na
Alemanha, muito para além da desiguladade sócio-económica e dentro do seio da
família burguesa. Aqui também houve algumas confusões, levando o tema da
desiguldade de género ao tema da sdesigualdade social, em que certas mulheres
(não da camada burguesa…) se vêem obrigadas a sair de casa para trabalhar, por
sobrevivência – esta questão, por exemplo, não vem directamente chamada à
reflexão proposta na pergunta. E, como esta, houve mais confusões no
tratamento do tema, muitas vezes de costas voltadas para o excerto de Krünitz.
Os exercícios pedidos neste e-Fólio Global avaliam dois aspectos no desempenho
dos estudantes: um aspecto relacionado com o efectivo conhecimento da
matéria, o domínio dos conceitos envolvidos, e outro aspecto relacionado com as
competências de leitura, de exposição por escrito, de aplicação dos
conhecimentos; valorizo sempre os conhecimentos demonstrados, mas expô-los
por si mesmos, sem olhar ao que se pede é o mesmo que estarem a escrever
indiscriminadamente sobre o que quer que seja, sem mostrar que sabem aplicar
os conhecimentos que adquiriram com o estudo das matérias, como se estivessem
de costas voltadas para os excertos citados nos enunciados. Os excertos de
Lessing e Krünitz não estão somente a ilustrar as perguntas, mas, pelo contrário,
as perguntas referem-se à leitura dos excertos, os excertos são para serem
cuidadosamente lidos e efectivamente utilizados no corpo de cada uma das
respostas, não podem ser ignorados. Muitos de Vós falaram de cor e por vezes de
modo confuso sobre os assuntos, nem sequer olharam para as citações, nem
retiraram delas a matéria útil para elaborarem as vossas respostas. Tal
aproximação penhora, desde logo, a avaliação do aspecto das competências.
BIBLIOGRAFIA
OPITZ, Alfred (Coord.) (1998), Sociedade e Cultura Alemãs, Lisboa, Universidade
Aberta. (pp.111-131)