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Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
É proibida a reprodução desta obra, mesmo parcial, por qualquer processo, sem prévia
autorização, por escrito, do autor e da Editora.
Editor: Rubens Prates
Revisão gramatical: Marta Almeida de Sá
Capa: Victor Bittow
Editoração eletrônica: Camila Kuwabata e Carolina Kuwabata
ISBN: 978-85-7522-659-9
Histórico de edições impressas:
Outubro/2017 Quinta reimpressão
Agosto/2016 Quarta reimpressão
Fevereiro/2016 Terceira reimpressão
Fevereiro/2015 Segunda reimpressão
Junho/2014 Primeira reimpressão
Outubro/2011 Primeira edição
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Para meu filho, Bernardo Bonamigo Linchen.
Newton Linchen
Agradecimentos
Prefácio
Capítulo 1 • Quem ganha quando você perde?
1.1 Topos e fundos
1.2 O case que você dificilmente verá no MBA de finanças
1.2.1 Do outro lado
1.2.2 Não há vilões e vítimas
1.3 Siga o dinheiro
1.4 O mercado é cruel?
Newton Linchen
Gostaria de agradecer a todos aqueles que tornaram possível este livro, e a todos
os que me ensinaram a ser um ponto de interrogação constante quando se trata
de investimentos, trading e mercado de capitais: Victor Niederhoffer, Laurel
Kenner, Larry Williams, James Altucher, Toby Crabel, Vitaly Katsenelson,
Charles Ellis, entre tantos outros que de uma forma ou de outra acrescentaram
seu conhecimento e sua experiência. Agradeço a Deus e à minha família: Maria
Luiza Linchen, minha mãe e meus irmãos Dayse, Oliver, Arthur e Lorean, todos
foram importantes no meu crescimento como pessoa e como profissional. A
Lavoisier Paulo Linchen, in memoriam. Um abraço especial ao amigo Marcos
Boschetti, CEO da Nelogica, por ter autorizado a reprodução de imagens do
software Profit Chart pela enriquecedora troca de ideias sobre o mercado ao
longo dos anos. Agradeço também ao doutor José Luiz Bonamigo Filho, que
proporcionou o encontro que mais tarde resultaria neste livro.
Tarcísio Peres
A Deus, à minha família e às pessoas que nos apoiaram neste livro. À minha
esposa por seu apoio e incentivo em nossos investimentos, projetos e sonhos. À
Joana de Souza, mãe virtuosa de quem me orgulho tanto, ainda que ignore
completamente os efeitos da queda do Ibovespa, ache que Dow Jones é algum
amigo meu e que Nasdaq é algum curso que faço. Ao João Tarciso, sempre vivo
em minhas lembranças. Ao João Tarciso, sempre vivo em minhas lembranças.
Ao Mauro Péres pelo incentivo e ao Bonamigo, sem o qual este projeto não teria
começado. A todos os que leram as primeiras versões dos capítulos e teceram
suas críticas e sugestões. Em especial aos amigos: Gilmar Ferreira, defensor
entusiasta das letras do tesouro direto, Jurandir Ferreira por suas pinceladas e
discussões econômicas e Leonardo Yamamoto por suas reflexões sobre pontos
importantes do texto. Ao nosso editor Rubens Prates por ter nos guiado com
paciência e agilidade no processo de edição. A Niederhoffer, Larry Williams,
Charles Ellis e demais autores que nos autorizaram a reproduzir algumas citações
de seus clássicos.
Prefácio
Quando você perde, ganha quem estava no outro lado da operação. Na Bolsa
existem duas polaridades envolvidas na realização de um negócio: o comprador e
o vendedor. Se houve trade é porque alguém comprou e alguém vendeu. Se você
perdeu, ganhou quem estava “contra” você.
Figura 1.8 – Cenário do período que acabou gerando o topo histórico de PETR4.
Durante os dias que se seguiram desde a publicação da notícia e o topo
histórico de PETR4, observamos as operações executadas.
Olhando no book (ou livro de ofertas, onde são colocadas todas as ofertas de
compra e de venda) e na ferramenta Times and Trades (na qual se registram os
negócios realizados), percebia-se que a corretora vendia praticamente para todas
as ofertas de compra que apareciam. Após a entrada de novas ordens de compra
no book é possível observar um fracionamento de ordens em lotes de cem, de
200, de 300, de 500 e eventualmente até mais de mil ações que acabaram
minimizando o impacto que uma posição grande teria no mercado, caso fosse
vendida massivamente. Apenas acompanhando o book, não é possível discernir
entre operações humanas e automatizadas, mas tipicamente algoritmos de
TWAP5 e VWAP conseguem realizar operações de fracionamento de maneira
rápida e coordenada. Nesse cenário é possível vender uma posição sem afetar a
contínua alta do preço. Foi possível observar ainda que quando havia sinal de
que a liquidez estava diminuindo, apareciam ordens cada vez menores dentro
dessa escala e, como consequência, não havia pressão de preços para baixo. Em
alguns casos, a corretora figura nas duas pontas da negociação. Novamente, não
é possível discernir entre um conjunto de operações coordenadas e operações ao
acaso e coincidentes – a corretora apresenta muitos clientes institucionais e
privados –, mas o efeito disso no book é que o preço se mantinha sem cair,
estendendo assim o período propício às vendas. Quando o fluxo de ordens de
compra das outras corretoras aumentava, havia também um aumento do
tamanho das ordens de venda. A figura 1.9 exemplifica as operações executadas
via corretora do Credit Suisse no dia da notícia, e nela se observam diversos tipos
de lotes negociados.
Figura 1.9 – Exemplo de operações do Credit Suisse no dia da notícia.
O resultado final visível é que a corretora vendeu uma posição considerável
durante a alta do preço, e não após ele começar a cair.
É assim que se vende topo.
Figura 1.10 – Trecho do relatório de “Análise de Empresas” do Credit Suisse referente à Petrobras (21/5/2008).
Fonte: https://br.credit-suisse.com/.
• O processo decisório foi focado na informação que para o investidor teria
maior peso, ou seja, o preço-alvo da ação, desprezando outras informações
relevantes e disponíveis abertamente. A figura 1.11 destaca as peças de
informação utilizadas no processo decisório.
Figura 1.11 – Peças de informação utilizadas na decisão.
Em contraste, a figura 1.12 destaca as informações que foram ignoradas pelo
investidor: indicador de volatilidade do preço das ações e divulgação de que o
Credit Suisse realiza negócios com as empresas cobertas em seus relatórios,
esclarecendo que os investidores devem estar cientes de um potencial conflito
de interesses que pode afetar a objetividade do relatório. Essas informações
estão claramente explícitas (ou seja, não são letras miúdas no final do
documento) nas duas primeiras páginas do mesmo relatório de “Análise de
Empresas” do Credit Suisse referente à Petrobras.
Figura 1.13 – Trecho do relatório de “Análise de Empresas” do Credit Suisse. Fonte: https://br.credit-suisse.com/.
Disso decorrem três consequências:
• Como todo ser humano, os analistas podem errar.
• Os analistas não ganham nem perdem com o resultado de suas análises.
Dessa forma, também não perdem dinheiro se erram. Referimo-nos aqui a
perdas financeiras e diretamente geradas pelos ativos das empresas analisadas.
Obviamente (como em qualquer profissão) os erros na atividade executada
terão impactos (financeiros, motivacionais etc.) na carreira do profissional e
em sua avaliação na empresa em que atua. Analistas que erram muito não
progridem em suas carreiras. Os melhores são aqueles que erram menos, seja
em frequência ou relevância. Desconhecemos analistas infalíveis.
• A equipe de operações é independente da equipe de análise e é de se esperar
que suas inclinações sejam pouco correlatas. Ou seja, tal equipe segue o
relatório do analista se julgar pertinente. Desde o Global Settlement (2003),
um acordo assinado entre a SEC, a NASD, a NYSE e os dez maiores bancos
norte-americanos de investimento, as instituições separaram as áreas de
pesquisa para garantir a isenção de opinião e solucionar o conflito de
interesses.
Depois desse primeiro relato, você pode estar pensando que o mercado é um
ambiente cruel. Você não está sozinho, porque possivelmente 95%7 dos traders e
investidores ativos8 pensam da mesma forma, já que esse é o percentual estimado
dos que causam danos ao seu capital em operações malsucedidas.
Mas a verdade está longe disso, pois o mercado em si não é favorável nem
desfavorável a alguém – ele não tem prediletos. Aqui está um dos maiores erros
cometidos pelo investidor neófito, o “sardinha”, como é conhecido: atribuir
personalidade ao mercado.
Sempre que dizemos frases como: “O mercado é cruel”, “Hoje o mercado não
estava fácil”, “Ano passado o mercado estava bom, porque subiu”, “Em 2008 o
mercado estava horrível”, estamos personificando-o. Isso é uma característica
humana comum, pois ao personificar as coisas, fica mais fácil lidar com elas. Os
antigos faziam assim com os elementos da natureza, a ponto de lhes atribuírem
caráter de divindade: havia o deus da chuva, o deus do trovão, o deus da floresta
etc. Mas essa tentativa de personificação é a base de muitos dos erros de
investimento que o indivíduo irá cometer.
O principal aspecto de se criar uma persona para o mercado é a transferência
de responsabilidade (um amigo nosso, muito espirituoso, definia isso
perfeitamente na frase: “A culpa é minha e eu a ponho em quem eu quiser!”).
Inconscientemente, fica mais fácil lidar com a frustração de ter perdido dinheiro
ou oportunidade de ganho se tratamos o mercado como antagonista e
responsável por nossa perda: “Não foi minha culpa... O mercado é que não estava
fácil”.
Emocionalmente, pode funcionar. O indivíduo transmite sua raiva e seu
desgosto para essa imagem personificada, encontrando apoio e camaradagem em
outros que agem como ele: na internet é comum encontrarmos salas de chat em
que os investidores e traders discutem as últimas malvadezas desse ser perverso. A
questão toda é que a personificação tem o efeito de obscurecer o julgamento.
Note bem: ninguém o obrigou a comprar ações, escolheu a quantidade ou o
preço, nem tampouco o momento de entrada ou de saída. Em suma, ninguém o
forçou a nada; as escolhas foram suas, o tempo todo. Você poderia até mesmo ter
escolhido não investir em ações!
Se a escolha foi sua, a responsabilidade também pertence a você. O mercado
nem sabe que você existe – ele é impessoal.
Na vida cotidiana percebemos que as pessoas têm dificuldade em lidar com
fatores impessoais. Quando chutamos a quina da porta – que é perfeitamente
impessoal – com o dedinho do pé por descuido, reclamamos: “Droga de quina!”
Quando estamos dando um passeio com a namorada ou a família e começa a
chover, dizemos: “Tinha de chover justo hoje que eu vim passear?” Se saímos de
casa atrasados para um compromisso importante e enfrentamos um
engarrafamento inesperado, pensamos: “Todos os dias eu venho por aqui e não tem
engarrafamento... Logo hoje que eu tenho uma reunião importante o trânsito está
trancado!” Se compramos uma ação que estava subindo e ela começa a cair,
dizemos: “Esta ação veio subindo durante semanas... Agora que eu resolvi comprar
ela começa a cair.” Ou, no caso de ordens de stop-loss9: “O mercado veio atrás dos
meus stops!” (Um aluno nosso dizia: “Professor, eu sou um peso... Se eu subo na ação
ela cai, se eu saio ela sobe...” – “subir” e “sair” aqui entendidos como comprar e
vender.)
O foco, portanto, é sempre no “eu, eu, eu, eu...”, mas do modo incorreto,
vitimizado. Essa tendência à vitimização é constante e impede o indivíduo de
operar a realidade.
E a realidade é que a quina da porta nem sabia que você estava passando por
ali; a chuva caiu porque era de sua natureza (e, conforme a Bíblia, Deus faz
chover sobre os bons e sobre os maus); a ocorrência de engarrafamento no
trânsito foi puramente aleatória, em razão de um acidente; enquanto a ação
estava subindo ela não sabia que você estava de fora e quando ela começou a cair
ela não sabia que você tinha comprado; para finalizar, suas ordens de stop-loss
possivelmente estavam muito próximas do preço negociado e foram atingidas
justamente por isso. E se você está pesado, pode sempre fazer um regime, mas
isso não irá afetar seu desempenho como investidor.
É difícil admitirmos que certas coisas acontecem ou existem sem levar em
conta a nossa vontade ou mesmo a nossa existência; é difícil aceitar, por
exemplo, que a chuva é um fenômeno totalmente impessoal e que você devia ter
olhado a previsão meteorológica antes de sair – é muito mais conveniente
argumentar que a previsão nunca funciona e que a chuva no passeio só pode ser
obra do azar. Ninguém gosta de admitir que comprou ações no momento errado
em razão de erro de análise ou algum evento puramente aleatório do mercado: a
teoria mais interessante é a de que o mercado virou para baixo assim que você
decidiu entrar.
Essa tendência à vitimização é um processo psicológico muito elaborado, cuja
finalidade é a de proteger o ego contra um possível ataque à sua autoimagem. É
um processo de racionalização em que quaisquer desculpas, por escabrosas que
sejam, cumprem o papel de transferir responsabilidade e aliviar a tensão
emocional.
Só que o mercado, como tudo que é impessoal, exige uma abordagem também
impessoal. Alcançar ou desenvolver uma abordagem impessoal é o primeiro e
mais difícil passo a ser dado pelo investidor ativo e pelo trader. É o primeiro
passo porque sem ele a tentativa de ser bem-sucedido está comprometida desde a
origem – assim como não se constrói uma casa sobre a areia, mas, sim, sobre a
rocha, a prática de investimentos também deve estar bem fundamentada. O
fundamento aqui é a compreensão do caráter impessoal do mercado e dos meios
de lidar com essa realidade. Isso significa ser capaz de agir racionalmente mesmo
em meio às pressões emocionais que o mercado inevitavelmente provoca nos seus
participantes.
Em novembro de 2008, no auge da quebra da Bolsa em razão da crise do
subprime, demos uma palestra num evento de empreendedorismo, a respeito das
perspectivas para o mercado de capitais em meio a cenários de crise. O público
era composto por empreendedores, empresários, profissionais liberais e
investidores. (Cremos que os investidores foram os que sentaram mais à frente,
pois tinham o semblante mais carregado.) Imaginem o alvoroço que causou a
nossa seguinte observação sobre a natureza do mercado:
O mercado é justo, imparcial e democrático.
Olhos se arregalaram, tosses nervosas e pigarros foram ouvidos: a mensagem
tinha pegado todos desprevenidos. Ninguém interrompeu a palestra, nem fez
menção de se levantar e ir embora, mas era possível sentir que se não fossem as
convenções sociais – a palestra era no Rio Grande do Sul, um estado bastante
cumpridor das normas tradicionais de etiqueta – era justamente isso que iriam
fazer: ou interromper a nossa fala e nos chamar por adjetivos de baixo calão ou
levantar e ir embora.
Vendo que o público ficou de certo modo transtornado pela mensagem,
percebemos que muitos ali estavam encarteirados, ou seja, comprados em uma
carteira de ações. Posicionados na compra durante uma das maiores quedas do
mercado nas últimas décadas, estavam perdendo dinheiro.
Arrematamos:
Vamos repetir: O mercado é justo, imparcial e democrático.
Confessamos que pode ter sido um pouco de sadismo, mas a situação era
muito boa para gravar na mente daquele público alguns princípios saudáveis de
investimento:
• O mercado é justo porque o retorno financeiro é sempre exatamente
vinculado à sua atuação como investidor ou trader.
• O mercado é imparcial porque não existe a possibilidade de um ganho
realizado por uma operação sua ser creditado na conta de outrem – a não ser
por algum erro administrativo que seria imediatamente resolvido.
• O mercado é democrático porque todo cidadão, independentemente de sua
origem social, pode acessá-lo para realizar suas operações.
Se você também foi pego de surpresa, avalie melhor cada item:
O mercado é justo – Podemos dizer que qualquer ganho ou prejuízo no
mercado está sempre relacionado ao preparo, ao conhecimento e à disciplina do
investidor. Naturalmente, fatos extraordinários podem provocar uma alta ou
uma queda súbita dos preços, sem que pudessem ter sido antecipados – mesmo
nesse caso, especialmente no sentido da queda, é possível colocar de antemão
limites operacionais que minimizem o impacto de eventos inesperados.
O mercado é imparcial – Imaginem um lugar perfeitamente à prova de
corrupção... É possível?... Sim, como vamos logo demonstrar. O mercado de
capitais é a pedra fundamental do capitalismo e isso significa dizer que é um dos
últimos redutos nos quais aspectos operacionais são exatamente cumpridos, doa
a quem doer. Quando George Soros especulou vendendo libra esterlina – em
uma queda de braço com o Banco da Inglaterra –, ninguém veio lhe dizer: “Não
é admissível operar dessa forma contra sua Alteza, a rainha!”; do mesmo modo, se
você entra numa operação de compra de ações e tem lucro, jamais sua corretora
irá lhe telefonar dizendo: “Veja bem... sabemos que você fez uma operação bem-
sucedida e lhe damos os parabéns por isso... Acontece apenas que na contraparte dessa
operação estava o filho do fulano, eminente industrial, e não podemos deixar no
prejuízo dele, não é? Então vamos fingir que não aconteceu nada...”. A CBLC
(Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia) trabalha justamente para que
todas as operações sejam liquidadas com perfeição.
O mercado é democrático – Como diz Larry Williams (um dos maiores traders
do mundo), o dinheiro é trocado sempre por algo de valor, e o dinheiro que
lucramos no mercado é trocado por... horas de estudo. Tempo de estudo e
dedicação, desenvolvimento de conhecimento – essa é a real moeda de troca do
investidor. Agora reflita, essa é uma condição acessível a todas as pessoas
alfabetizadas. Alguém que veio do subúrbio ou de uma favela será tratado da
mesma forma que o filho do industrial ou do senador. Em suma, se num dado
momento ambos estiverem em posições diferentes na mesma operação, vencerá
quem tiver dedicado mais tempo ao estudo do mercado.
O mercado é simplesmente o mecanismo que a todo o momento permite a
aproximação entre dois indivíduos que desejam negociar e que, apesar de
concordar sobre o preço da ação ou do ativo, discordam quanto ao seu valor.
1 Fonte: http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&sid=aglER9IsisrQ
2 No jargão do mercado, “tubarão” é o grande player – indivíduo ou instituição com capital suficiente para
mover o mercado num dado contexto.
3 No jogo de pôquer, as fichas azuis (blue chips) são as mais valiosas. O termo é usado no mercado
financeiro para designar ações de empresas consideradas de primeira linha: sólidas, com comprovada
lucratividade, principalmente em longo prazo.
4 O grau de investimento é uma classificação dada pelas agências de rating (exemplos: Fitch Ratings, a
Moody’s e a Standard & Poor’s) a países com mais possibilidades de honrar seus compromissos.
5 TWAP, VWAP – Médias de preço relacionado a tempo (TWAP) ou volume (VWAP). Negociar em
TWAP significa não pagar muito além do preço médio negociado naquele período (por exemplo,
durante 15 minutos). O mesmo para VWAP, só que nesse caso a grandeza de valor é o volume.
6 Conferir em: The definitive guide to futures trading, Larry Williams.
7 Ver o livro de Noble Drakoln, Winning the trading game. Why 95% of traders lose and what you must do to
win.
8 Investidor ativo: ao contrário do investidor “passivo”, que permanece posicionado durante longo período
de tempo, este tipo de investidor é caracterizado por gerenciar suas aplicações mais ativamente, entrando
e saindo de posições a cada mês ou grupo de meses.
9 Stop-Loss ou simplesmente “stop” é um tipo de ordem utilizada para preservação do capital, não
permitindo que a posição continue negativa além de certo ponto. É um limite de perda configurado pelo
próprio trader ou investidor. Pode ser automática (ordem de stop-loss) ou apenas uma referência do
ponto em que o trader quer encerrar a operação, caso negativa.
CAPÍTULO 2
Você já visitou a cozinha?
“Aprendam a viver com os conflitos de interesses.” (Frase dos advogados do Goldman Sachs aos sócios da
empresa.)
Charles Ellis, em The Partnership: The Making of Goldman Sachs.
I. manter contrato para a prestação dos serviços relacionados no art. 1º com mais de
uma instituição integrante do sistema de distribuição de valores mobiliários;
II. receber de clientes ou em nome de clientes, ou a eles entregar, por qualquer razão e
inclusive a título de remuneração pela prestação de quaisquer serviços, numerário,
títulos ou valores mobiliários ou outros ativos;
IV. contratar com clientes ou realizar, ainda que a título gratuito, serviços de
administração de carteira de valores mobiliários, consultoria ou análise de valores
mobiliários;
VI. delegar a terceiros, total ou parcialmente, a execução dos serviços que constituam
objeto do contrato celebrado com a instituição integrante do sistema de
distribuição de valores mobiliários pela qual tenha sido contratado;
VII. usar senhas ou assinaturas eletrônicas de uso exclusivo do cliente para transmissão
de ordens por meio de sistema eletrônico; e
Desse modo, sempre que você liga para o seu corretor e pergunta “Você acha
que é um bom momento para comprar ações?”, ele pode lhe dar um panorama do
mercado ou fatos, como “a bolsa americana está caindo”, “nossa bolsa está subindo
x%”, e deixá-lo tirar suas conclusões. Se ele fizer mais do que isso – tirar
qualquer conclusão dos acontecimentos correntes e administrar sua carteira –, ele
desviou-se do escopo principal de sua profissão que é o de ser um mediador.
Para dar uma ideia dos prejuízos que um agente autônomo que conduz mal
sua atividade profissional pode causar, lê-se no relatório de 2008 do ombudsman
da Bovespa:
“Agentes Autônomos
A maioria das reclamações com pleito de ressarcimento de prejuízos teve origem na atuação de
agentes autônomos de investimento, que atuaram como administradores de carteira, tomando
decisões de operações que não foram ordenadas pelos clientes.
Como eles são normalmente remunerados tendo por base um percentual da corretagem gerada, a
tentação de alavancar posições é muito grande, sendo muito frequentes as situações em que os
agentes tentam convencer o cliente das vantagens dessa estratégia. Raramente dão a mesma ênfase
nos riscos de prejuízo na hipótese de queda dos preços das ações.”
Quando o cliente exige reparação do prejuízo causado pelo agente autônomo,
pode ocorrer de a própria Bolsa, na figura do seu ombudsman, intermediar o
acordo, sem que chegue às vias judiciais:
“Acordos Formais
Em 2008, os acordos formais foram em maior número e envolveram valores superiores aos dos
anos anteriores, (...).
Com uma única exceção, os prejuízos que geraram as reclamações foram decorrentes da atuação de
Agentes Autônomos de Investimento.
Foram firmados 10 acordos, no montante de R$ 1.427.000,00, sendo R$ 1.112.000,00 pagos em
espécie e R$ 315 mil com reposição de ações.
A maioria das reclamações que deram origem a esses acordos ocorreu no último trimestre, o que
demandou esforços redobrados do Ombudsman nessas mediações. Algumas ainda estão em curso
na data deste relatório.
Como a condição essencial para se chegar a um acordo é a transigência das partes, houve diversos
percentuais de ressarcimento de prejuízos, oscilando entre 50% e 80%.”
Somente no primeiro semestre de 2011 a CVM abriu 505 processos por
queixas de investidores. A figura 2.1 apresenta o ranking com os processos
abertos, por instituição. Estes processos foram provenientes de um total mais de
15 mil reclamações.
O maior volume de reclamações (35,64%) trata da atuação de instituições participantes do sistema
de distribuição de valores mobiliários em operações no mercado. Nesse grupo, 66% eram
problemas na negociação de ativos, principalmente sobre ordens não cumpridas ou alegadamente
realizadas sem a anuência de clientes. Desse percentual, em 12% ouve menção ao envolvimento de
agentes autônomos.
Valor online1
Exemplo 2
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PROC. RJ2008/3931
– BANCO MORGAN STANLEY S.A.
Reg. nº 6106/08 Relator: SGE
O presente processo teve como origem as declarações do Sr. Carlos Guilherme Steagall
Gertsenchtein, Vice-Presidente do Banco Morgan Stanley S.A., publicadas pela Agência de
Notícias Broadcast, que faziam referências à oferta pública de distribuição primária de ações
ordinárias da Le Lis Blanc Deux Comércio e Confecções de Roupas S.A. (“Companhia”) durante o
período de silêncio (possíveis infrações ao art. 48, IV e art. 49 da Instrução 400/03). Ressalte-se
que o Banco Morgan Stanley S.A. era um dos coordenadores da oferta pública da Companhia. (...)
Posteriormente, o Banco Morgan Stanley S.A. apresentou proposta de Termo de Compromisso, se
comprometendo a: (i) observar as orientações emanadas da CVM com a finalidade de assegurar a
tempestiva divulgação de informações no âmbito de eventuais ofertas públicas de valores
mobiliários das quais participe ou venha a participar, nos termos da legislação aplicável emanada da
CVM; e (ii) pagar à CVM o montante de R$ 100 mil.
Quanto à proposta apresentada, o Comitê considerou que, além de terem sido preenchidos os
requisitos legais, a proposta atende ao escopo do instituto do Termo de Compromisso, mostrando-
se conveniente e oportuna sua aceitação, por contemplar obrigação tida como bastante para inibir
práticas da mesma natureza pelos participantes do mercado, em especial aqueles que tomam parte
em uma oferta pública. No que tange ao compromisso de observar as regras emanadas pela CVM
acerca da matéria, o Comitê entende que se afigura desnecessária, vez que se cuida de obrigação a
qual o proponente já está impelido a cumprir, independentemente da celebração do ajuste em tela.
O Colegiado deliberou pela aceitação da proposta de celebração de Termo de Compromisso
apresentada pelo Banco Morgan Stanley S.A.”
Exemplo 3
“APRECIAÇÃO DE NOVA PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS 22/2006
– EMBRAER
Reg. nº 6152/08 Relator: DEM
Trata-se de apreciação de nova proposta de celebração de Termo de Compromisso apresentada por
Credit Suisse International (atual denominação de Credit Suisse First Boston International),
acusado no âmbito do PAS 22/2006 de ter se utilizado de informação relevante ainda não
divulgada ao mercado (§ 4º do art. 155 da Lei 6404/76 e § 1º do art. 13 da Instrução 358/02).
Em reunião realizada em 12.08.08, o Colegiado rejeitou a proposta anteriormente apresentada,
acompanhando o parecer do Comitê de Termo de Compromisso.
Posteriormente, o proponente apresentou nova proposta em que se propõe a pagar à CVM o valor
de R$ 19,2 milhões, em duas parcelas.
Durante a discussão do assunto, a Procuradoria Federal Especializada concluiu pela inexistência de
óbice legal para análise acerca da conveniência e oportunidade na celebração do compromisso ora
proposto, nos termos do que dispõe o art. 9° da Deliberação 390/01. Os três membros do Comitê
de Termo de Compromisso presentes à reunião, Roberto Tadeu Antunes Fernandes, Elizabeth
Lopes Rios Machado e José Carlos Bezerra da Silva, também se manifestaram pela aceitação da
nova proposta.”
Exemplo 4
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS RJ2009/0485 –
OGX PETRÓLEO E GÁS PARTICIPAÇÕES S.A.
Reg. nº 6693/09 Relator: SGE
Trata-se de apreciação de propostas de Termos de Compromisso apresentadas por Eike Fuhrken
Batista, Banco de Investimento Credit Suisse Brasil S.A. e José Olympio da Veiga Pereira, no
âmbito do PAS RJ2009/0485. Os proponentes foram acusados, o primeiro na qualidade de
controlador indireto e presidente do conselho de administração da OGX Petróleo e Gás
Participações S.A., o segundo na de banco coordenador da oferta pública e o terceiro na de diretor
do banco coordenador de divulgar na mídia declarações sobre a oferta pública de distribuição
primária de ações ordinárias de emissão da OGX previamente à publicação do Anúncio de
Encerramento da Distribuição (infração ao inciso IV do art. 48 da Instrução 400/03).
Devidamente intimados, todos os acusados apresentaram suas defesas, bem como propostas de
celebração de termos de compromisso em que, após negociações com o Comitê, se comprometem
a:
Sr. Eike Fuhrken Batista: pagar à CVM o montante de R$ 100 mil;
Banco de Investimento Credit Suisse Brasil S.A. e o Sr. José Olympio da Veiga Pereira: pagar à
CVM individualmente o montante de R$ 50 mil cada um, totalizando R$ 100 mil.
Segundo o Comitê, a proposta apresentada pelo Sr. Eike Fuhrken Batista contempla obrigação
adequada para inibir a prática de condutas semelhantes pelo próprio proponente e por terceiros
que se encontrem em situação similar, revelando-se conveniente e oportuna sua aceitação.
Em relação à proposta apresentada em conjunto pelo Credit Suisse e seu Diretor, o Comitê
entendeu que ela é inadequada para atender à finalidade do instituto do Termo de Compromisso.
Em sua opinião, a proposta deveria contemplar pagamento à CVM do valor total de R$ 150 mil,
sendo R$ 100 mil para o Credit Suisse (coordenador da oferta pública) e R$ 50 mil para o Sr. José
Olympio da Veiga Pereira. Embora tenha admitido que a grande maioria de precedentes de
Termos de Compromisso envolvendo supostas infrações ao período de silêncio aponta para o valor
ora ofertado pelos proponentes (R$ 50 mil por proponente), o Comitê ressaltou que tais
precedentes se referem a fatos ocorridos em 2005 e 2006. Segundo o Comitê, em decisão recente
(termo de compromisso celebrado no âmbito do PAS RJ2008/3931 e apreciado na reunião de
06.01.09, o Colegiado aceitou a celebração de termo de compromisso, envolvendo infração ao
inciso IV do art. 48, que previa o pagamento de valores mais elevados, sob a motivação de que os
participantes do mercado, em especial as instituições intermediárias, já deveriam estar mais
familiarizados com a regra infringida). Na opinião do Comitê, é esse último precedente,
semelhante ao caso ora em análise, que serve de balizamento para a apreciação da presente proposta
de termo de compromisso. Por essas razões, o Comitê entendeu que a proposta apresentada em
conjunto pelo Banco de Investimento Credit Suisse Brasil S.A. e seu Diretor José Olympio da
Veiga Pereira deveria ser rejeitada.
O Colegiado, acompanhando o entendimento consubstanciado no parecer do Comitê, deliberou:
a rejeição da proposta apresentada em conjunto pelo Banco de Investimento Credit Suisse Brasil
S.A. e seu Diretor José Olympio da Veiga Pereira; e
a aceitação da proposta de Termo de Compromisso apresentada pelo Sr. Eike Fuhrken Batista.
Em sua decisão, o Colegiado ressaltou que a redação do Termo de Compromisso deverá qualificar
o pagamento a ser efetuado como “condição para celebração do termo de compromisso”. O
Colegiado fixou, ainda, o prazo de dez dias, a contar da publicação do Termo no Diário Oficial da
União, para o cumprimento da obrigação pecuniária assumida, e o prazo de trinta dias para a
assinatura do Termo, contado da comunicação da presente decisão ao proponente. A
Superintendência Administrativo-Financeira – SAD – foi designada como responsável por atestar o
cumprimento da obrigação pecuniária assumida pelo proponente.”
Exemplo 5
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS SP2008/0040 –
PAX CVC LTDA. E OUTROS
Reg. nº 6769/09 Relator: SGE
Trata-se de apreciação de proposta de Termo de Compromisso apresentada por Pax Corretora de
Valores e Câmbio Ltda., Geraldo de Lima Gadelha Filho, Renda Corretora de Mercadorias S/C
Ltda., Francisco Deusmar de Queirós e Ielton Barreto de Oliveira, no âmbito do PAS
SP2008/0040.
Os proponentes foram acusados de praticar as seguintes infrações:
– Pax Corretora de Valores e Câmbio Ltda., de permitir o exercício das atividades de mediação ou
corretagem por pessoas não autorizadas pela CVM para esse fim e de ter utilizado ou contratado
pessoas não integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários em atividades próprias
desse sistema (infração ao item II da Deliberação 372/01, ao art. 1º da Instrução 348/01 e ao art.
13, I, “c”, da Instrução 387/03);
– Geraldo de Lima Gadelha Filho, na qualidade de diretor responsável da Pax, de ter negligenciado
o dever de diligência (infração ao item II da Deliberação 372/01, ao art. 1º da Instrução 348/01 e
ao art. 13, I, “c”, da Instrução 387/03);
– Renda Corretora de Mercadorias S/C Ltda. e seus sócios-gerentes Francisco Deusmar de Queirós
e Ielton Barreto de Oliveira, de terem exercido atividade de mediação ou corretagem de operações
com valores mobiliários sem a autorização prévia da CVM (infração ao art. 16, III, da Lei nº
6385/76), e ainda de terem exercido profissionalmente a atividade de agente autônomo de
investimento sem prévia autorização da CVM (infração ao art. 4º da Instrução 355/01).
Devidamente intimados, todos os acusados apresentaram suas defesas, bem como proposta
conjunta de celebração de termo de compromisso. Após negociações com o Comitê, os
proponentes aditaram sua proposta no sentido de pagar à CVM, em conjunto, a quantia de R$
430 mil.
O Comitê observou que, não obstante a proposta diferir daquela sugerida por ocasião da fase de
negociação, sua aceitação é conveniente e oportuna, concluindo que o montante proposto mostra-
se suficiente e adequado para inibir condutas assemelhadas, de acordo com a finalidade do instituto
do termo de compromisso.”
Exemplo 6
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS RJ2008/11749 –
KPMG AUDITORES INDEPENDENTES
Reg. nº 6657/09 Relator: SGE
Trata-se de apreciação de proposta de celebração de Termo de Compromisso apresentada por
KPMG Auditores Independentes e seu sócio e responsável técnico Giuseppe Masi, acusados, no
âmbito do Termo de Acusação instaurado Superintendência de Normas Contábeis e de Auditoria
– SNC –, de emissão de parecer de auditoria sem ressalva para as demonstrações contábeis especiais
da Wtorre Empreendimentos Imobiliários S/A de 31.07.06, utilizadas como base para o registro
inicial de companhia aberta (inciso I do art. 35 da instrução 308/99).
Após negociações levadas a efeito pelo Comitê, a KPMG Auditores Independentes e o Sr.
Giuseppe Masi propuseram pagar à CVM, em conjunto, o montante de R$ 400 mil.
Na opinião do Comitê, a proposta é adequada para inibir a prática de condutas assemelhadas,
servindo de orientação aos demais participantes do mercado de valores mobiliários, em especial aos
auditores independentes.”
Exemplo 7
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS RJ2006/6235 –
BANCO SAFRA DE INVESTIMENTO S.A.
Reg. nº 5406/06 Relator: DPS
Trata-se de processo administrativo sancionador que tem por objeto a acusação de aplicação
automática de saldos de contas correntes de clientes do Banco Safra S.A. em fundo de investimento
administrado pelo Banco Safra de Investimentos S.A., com remuneração reduzida por cobrança de
taxa de administração variável.
Os indiciados Banco Safra de Investimentos S.A., Banco Safra S.A. e seus Diretores Ezra Safra e
Luciane Ribeiro apresentaram proposta de celebração de Termo de Compromisso em que se
obrigam a pagar aos clientes cujos recursos foram aplicados em tal fundo a remuneração média
ponderada paga pelos outros fundos de aplicação automática com características semelhantes que
estavam disponíveis no mercado no mesmo período, o que equivalerá a um pagamento de cerca de
R$ 28 milhões.
Além desse pagamento aos cotistas, o Banco Safra de Investimentos S.A. pagará à CVM a quantia
de R$ 1,5 milhão, tendo ainda se obrigado a não mais constituir fundos de investimento similares
no futuro.
O Diretor Pedro Marcilio afirmou que considera que a proposta atende plenamente ao interesse
público e é uma resposta adequada, por parte dos acusados, à atuação repressora da CVM. Assim,
os cotistas receberão a remuneração que teriam em fundos similares ofertados no mercado pelo
mesmo período coberto pela acusação, e o pagamento à CVM será feito em um montante
adequado para desestimular condutas futuras da mesma natureza, seja dos próprios acusados, seja
de terceiros.”
A maioria dos investidores não sabe onde procurar informações desse tipo. No
entanto, elas estão à disposição do público no site da CVM. Quando estiver em
dúvida quanto à integridade ou conduta da sua corretora ou do seu banco, vale a
pena checar os fatos.
Além disso, a CVM constitui um canal eficaz para reclamações, sugestões e
monitoramento dos participantes do mercado.
Ao estudar esses aspectos do mercado, o investidor ou trader percebe que não
se trata apenas de escolher uma ação para comprar, existe toda uma ecologia do
mercado que envolve o seu trade e pode torná-lo uma experiência desagradável
sem que se tenha um controle direto sobre tais efeitos.
1 Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/993580/cvm-abriu-505-processos-por-queixas-de-investidores
2 Vide o endereço: http://www.cvm.gov.br/port/descol/respdecis.asp?File=7129-0.HTM
3 Vide o endereço: www.cvm.gov.br, (link “decisões do colegiado”).
4 Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/economia/credit-suisse-e-multado-em-192-milhoes-de-reais-
pela-cvm/.
5 Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/economia/cvm-multa-eike-por-falar-demais/.
CAPÍTULO 3
Se você acha o conhecimento caro,
experimente a ignorância
“Não vá além da sua zona de competência porque fora desta zona você pode se tornar emocional, e estar
emocional nunca é bom para os seus investimentos.”
Charles Ellis, em Winning the loser’s game.
Agora o quadro começa a ficar mais completo e, por isso mesmo, mais
tenebroso. Pedro Henrique não somente tinha arriscado todo o capital, ele o
tinha feito com vistas a um ganho de curto prazo, utilizando derivativos, cuja
principal característica é a de oferecer retornos muito mais voláteis e, portanto,
mais arriscados do que as próprias ações (que já são voláteis e arriscadas). Além
disso, ele entrou cegamente numa operação que não compreendia, pois não
havia feito treinamento sobre opções e nem sequer sabia que elas tinham data de
vencimento.
Como uma pessoa inteligente e respeitada no seu círculo de amigos e no meio
profissional pode cometer tanta insensatez no que tange a investimentos?
Já vimos alguns vieses cognitivos ou comportamentais, mas existem muitos
outros. Segundo os especialistas, são esses vieses os responsáveis por tornar
pessoas sensatas e prudentes em arrojados e impetuosos aventureiros no
mercado. É como se, ao se aproximar da Bolsa, uma pessoa de repente revelasse
seu lado Indiana Jones. Pior ainda, Mr. Hyde.
Quando Pedro Henrique viu no final do dia que 54,79% do seu capital havia
evaporado, podemos imaginar a sensação que isso lhe causou, pois uma coisa é
observar o prejuízo durante o pregão – as oscilações para baixo e para cima
provocam alternadamente emoções de desespero e de esperança –, outra bem
diferente é observar o resultado negativo após o fechamento dos negócios: um
número estático, imutável até o próximo pregão, tal como uma sentença
proferida. Nos dias seguintes, poderia haver retorno, mas naquele dia o resultado
era esse número pairando no ar, ameaçador. “O que foi que eu fiz?”, pensava ele,
“Como isso foi acontecer?”.
A verdade é que ele havia passado a noite anterior lendo perspectivas de
economistas sobre o futuro grandioso da empresa, tão grandioso que ele
acreditava que as ações passariam a ser negociadas num patamar totalmente
diferente de preço, como se a descoberta das reservas de petróleo fosse suficiente
para que a ação nunca mais voltasse a cair. Ele não se contentou com o lucro de
46,5% sobre o capital... E nem poderia se contentar, pois seus amigos haviam
lucrado 700%!
Ele havia colocado 130 mil reais e lucrado 60 mil reais, enquanto seus amigos
haviam colocado menos da metade (50 mil reais) e lucrado quase seis vezes mais
(350 mil reais). Pedro Henrique não podia ficar para trás... Ele precisava
recuperar o lucro perdido.
Além das perspectivas nababescas dos economistas de plantão, o fato de ter
lucrado consideravelmente menos do que seus amigos contribuiu para a redução
da lucidez de Pedro Henrique no dia seguinte. Soma-se a isso a possibilidade de
ter entrado em cena o viés “falácia do jogador”, segundo o qual o jogador
acredita que o resultado de eventos passados pode alterar a probabilidade de
eventos futuros – ou seja, se ele ganhou hoje, está numa maré de boa sorte e
certamente ganhará amanhã também.
O impacto psicológico de um dia de ganhos pode ter levado, no dia seguinte
(em que a nova operação logo passou a dar prejuízo), ao viés de “efeito de
primazia”, no qual há uma tendência de atribuir peso maior ao primeiro evento
do que aos eventos subsequentes; em outras palavras, a possibilidade de prejuízo
foi minimizada pela euforia do ganho. Qual a relevância de um pequeno
prejuízo no início da nova operação se o resultado da operação havia sido
magnífico? Mas o prejuízo logo se intensificou. No final do dia, Pedro Henrique
cogitava em ligar ou não para o seu instrutor de trading e solicitar sua opinião.
Resolveu não ligar, pois acreditava que a situação ainda era gerenciável: no
próximo pregão ela certamente deverá voltar a subir, pensou ele. Era sexta-feira.
Soube-se depois que ele havia passado o fim de semana inteiro estudando a
natureza das opções sobre ações: foi então que descobriu que elas tinham
vencimento, que venceriam em uma semana, que as opções variam conforme o
preço da ação, que essa variação tem uma medida que se degrada com o tempo –
ou seja, quanto mais perto do vencimento, maior deve ser o movimento de alta
de uma ação para a opção também realizar uma alta –, que cerca de 80% das
opções expiram valendo um centavo de real, que existem certas características
básicas das opções que são representadas por letras do alfabeto grego (as gregas),
enfim, uma série de informações que estavam disponíveis na internet o tempo
todo, e que teriam feito diferença em seu trading.
Na segunda-feira, o mercado continuou caindo. Desesperado, ele finalmente
liga para seu instrutor e pede para marcar um encontro num café. Eles se
encontram. Pedro Henrique expõe os fatos e o instrutor tem de controlar
sentimentos contraditórios, parte de riso, parte de pena e compaixão, e ainda
uma parte de “bem feito, seu sardinha!”.
Quando finalmente decidiu encerrar a operação, Pedro Henrique havia
transformado um capital de 190 mil reais (130 mil reais iniciais acrescidos dos
60 mil reais de lucro do primeiro dia) em apenas 9 mil reais. A máxima popular
diz que o que vem fácil vai fácil. Nesse caso, ocorreu algo pior: os 60 mil reais
que vieram levaram junto os 130 mil reais que já existiam.
Agora, a parte comovente: dos 130 mil reais iniciais, 30 mil reais eram dele... E
100 mil reais provinham de um empréstimo feito no banco, a juros, tendo o
apartamento de sua mãe como garantia.
Não se sabe ao certo se ela algum dia chegou a ter conhecimento dos fatos.
Pedro Henrique saiu da Bolsa, definitivamente, e hoje em dia ainda trabalha
como advogado e paga mensalmente as parcelas do empréstimo.
Caso nos fosse solicitado definir com apenas uma palavra o melhor meio de
alcançar retornos no mercado de capitais, esta palavra seria assimetria.
A assimetria pode ser entendida como uma relação de desigualdade entre dois
polos; um lado tendo características a mais ou a menos do que o outro e essas
características correspondendo a vantagens ou desvantagens. Na Bolsa, sempre
que houver lucro, prejuízo, resultados acima ou abaixo da média, conhecimento
ou ignorância de fatores importantes, podemos afirmar que houve assimetria.
Quando pensamos em um objeto assimétrico, logo imaginamos algo com um
lado desproporcional ao outro. Essa visualização representa bem as relações entre
os players na arena de investimentos, em que, num dado momento, um lado
efetivamente tem mais recursos do que o outro. Os principais pontos de
assimetria no mercado estão relacionados com:
• Assimetria de plataforma:
• Plataforma de dados – Software para acesso aos dados do mercado com
cotações e gráficos;
• Plataforma de negociação – Eletrônica ou via telefone;
• Serviços personalizados – Alavancagem, desconto de corretagem etc.
• Assimetria de capital:
• “Staying power” – Capacidade de executar suas estratégias com o melhor
aproveitamento em razão da maior capitalização ou do acesso a recursos.
• Assimetria de informações:
• Acesso à pesquisa sobre empresas e mercados, bem como a informações
relevantes para a estratégia operacional.
Não seria exagero afirmar que o investidor individual, seja ele iniciante ou não,
está em desvantagem em quase todos esses quesitos. Veremos, logo em seguida,
como isso contribui para seu prejuízo nas operações de trading/investimento que
ele realiza.
4.5.6 Deception
Suponha que esteja lidando com um adversário que tenha as mesmas qualidades
estratégicas que você: acesso às mesmas informações, capacidade de análise do
mercado semelhante, suficiente poder de fogo, em suma, é um adversário à
altura. Como se poderá vencê-lo?
Pelo deception, você o engana.
Tomada literalmente, deception é “engano, engodo”, mas tem qualidades
especiais. Tem a ver com camuflagem, fazer o outro acreditar em algo, criar uma
realidade ilusória etc.
Niederhoffer nos dá o exemplo de um general da Guerra Civil Americana que
solicitava abertamente informações sobre a melhor rota para um lugar específico,
mandava preparar mapas, começava a construção de estradas para que as tropas
pudessem se movimentar – e, quando os boatos a respeito de suas intenções já
tinham se espalhado o suficiente, ele marchava calmamente na direção oposta.
Jesse Livermore – considerado um dos maiores traders de todos os tempos –
cita em sua biografia o exemplo de dois traders que se conheciam e se
respeitavam mutuamente por suas diversas façanhas na especulação com ações.
Certo dia, ao encontrarem-se na rua, um deles comenta “você precisa vender as
ações da empresa X” e arremata com um piscar de olhos “certamente vão cair uns
30%!”. (Nos dias e nas semanas seguintes, o preço da ação subiu disparado.) Ao
encontrarem-se novamente, um mês depois, aquele que deu a dica tentou
atravessar a rua, fingindo não ter visto o colega. Mas ele atravessou a rua também
e o abordou:
– Queria agradecer a dica que você me deu.
O primeiro retruca:
– Dica? Que dica? Eu não lhe dei dica nenhuma!
– Deu sim, você me aconselhou a vender a ação X... Ganhei bastante dinheiro
naquela operação.
Ele ficou estupefato:
– O que você fez?
– Eu comprei!
Neste ponto, o que havia dado a sugestão sorriu e disse:
– Se eu tivesse metade da sua inteligência, seria um trader muito melhor!
O mercado é cheio de ocorrências de deception, e muitas de suas fórmulas vêm
descritas no livro atribuído a Livermore. Uma das mais interessantes armadilhas
é o chamado corner, no qual um ou mais participantes do mercado são prensados
(squeezed).
“Mas o livro foi escrito em 1923! Haveria alguma utilidade nos dias de hoje?”
Você pode estar se perguntando. Se analisarmos em retrospecto, não há nada de
novo no mercado de ações... No século passado já se fazia o mesmo...
Observe o caso relativamente recente (outubro de 2008) de short squeeze que
ocorreu no mercado europeu:
“‘Eu tenho gestores de fundos hedge literalmente em lágrimas no telefone’, disse um analista
baseado em Londres ontem. Outros disseram que a revelação feita pela Porsche foi como ‘uma
bomba nuclear explodindo na nossa cara’, descrevendo as perdas resultantes como ‘um banho de
sangue’. Nós sabíamos que o preço iria disparar, aumentando a exposição de muitos hedge funds –
eles estariam oferecendo suas filhas em troca das ações, só para sair do aperto.”
Esse é um parágrafo da matéria do Telegraph8 sobre como alguns dos maiores
hedge funds do mundo tiveram prejuízos estratosféricos em razão de posições de
venda a descoberto nas ações da Volkswagen. Eis o que ocorreu: no auge da crise
(2008), foram proibidas as vendas a descoberto em ações de bancos na Europa –
então os fundos hedge viram a oportunidade de vender as ações da VW, que
acreditavam estarem sobrevalorizadas (overvalued). Abriram posições de venda a
descoberto no valor de bilhões de euros.
Então, a Porsche, numa tarde de domingo, publicou que silenciosamente havia
aumentado sua participação na VW de 35% para um total de 75%. Somando
essa participação da Porsche com a participação do estado alemão da Baixa
Saxônia na ordem de 20% nas ações da VW, restavam apenas 5% de ações livres
(free float), disponíveis para os hedge funds comprarem e cobrirem sua posição
de venda a descoberto, que era superior a 10% do total de ações da VW. Em
suma: eles precisavam de mais ações para cobrir sua operação do que as que
estavam disponíveis no mercado.
Então ocorreu o squeeze (literalmente: aperto). As ações da VW que, valiam
cerca de 200 euros, subiram para 1.200 euros em poucos dias... E a Porsche
lucrou alguns bilhões de euros no processo!
Quando se trata de deception, não há uma separação de nós/eles entre tubarões
e sardinhas. É literalmente cada um por si e a Bolsa por todos... Lucro, afinal de
contas, pode se soletrar:
A.S.S.I.M.E.T.R.I.A.
Figura 5.7 – Ibovespa futuro com e sem média móvel aritmética de 15 períodos.
O que se observa é que imediatamente os preços caem em duas categorias:
acima da média móvel e abaixo dela. A primeira conclusão disponível é a de que:
1. Os preços permanecem em um movimento ascendente ou de valorização
enquanto estiverem acima da média móvel;
2. Os preços permanecem em movimento descendente ou de desvalorização
enquanto permanecerem abaixo da média móvel.
O analista técnico iniciante logo imagina que, para aproveitar a valorização dos
preços e evitar ser pego por sua desvalorização, bastaria comprar quando o preço
ficasse acima da média móvel e vender quando ele caísse abaixo dela. (Ah, o
poder!)
E ele começa a fazer justamente isso, sem nem mesmo testar essa estratégia nos
períodos anteriores, porque a lógica é evidente.
Então, os problemas começam... Ele faz alguns trades muito bons, mas, em
seguida, o mercado entra em um novo ciclo e as próximas operações começam a
dar errado, levando embora o lucro inicial. Ele começa a ser pego em
movimentos de mercado nos quais a entrada e a saída – baseadas na média móvel
– passam a gerar um stop atrás do outro, pois a entrada acima dela e saída abaixo
passam a gerar rendimento negativo. Na figura 5.8, os retângulos representam
momentos em que operar com a média móvel levaria a entradas e saídas
malsucedidas em sequência.
Figura 5.19 – Saldo das transações em VALE5 (19 a 31 de agosto de 2010). Fonte: ProfitChart.
Quando, em 1º de setembro, a ação começa a se recuperar (iniciando uma
alta), o BTG Pactual já não figurava mais no saldo do Times and Trades (Figura
5.20).
Figura 5.20 – Saldo das transações em VALE5 (19 a 31 de agosto de 2010). Fonte: ProfitChart.
Entendemos que um modo de zerar um saldo negativo (ou de venda) é
realizando a operação contrária, nesse caso, uma compra. E é exatamente isso
que observamos quando ajustamos o foco do Times and Trades para o dia 1º de
setembro, exclusivamente (ilustrado na figura 5.21). O BTG Pactual aparece
como o maior comprador do dia.
Figura 5.21 – Saldo das transações em VALE5 (1º de setembro de 2010). Fonte: ProfitChart.
Embora para os traders mais ousados possa parecer que o BTG Pactual deveria
ter recomprado a posição mais embaixo (supondo-se que se tratasse realmente
das duas pontas de um mesmo trade, e não mera coincidência), ou nos últimos
dias de agosto, em vez de tê-la recomprado mais acima, praticamente no meio da
distância entre o início e o fim da queda (que ao todo durou nove dias), convém
lembrar que para operar em volume, como diz Paul Tudor Jones, “só se consegue
sair onde o mercado permite, não onde se quer”.
De qualquer modo, parece ter sido uma operação bastante lucrativa. E contra
um pivô de alta...
Figura 5.22 – PETR4 em queda, fazendo a mínima do ano até outubro (2008). Fonte: ProfitChart.
Logo em seguida, ela retoma o movimento de alta, subindo espetacularmente e
valorizando-se 42% em apenas cinco dias! Essa subida forte pode ser visualizada
na figura 5.23.
Figura 5.23 – PETR4 em subida forte (42%), após a mínima do ano (2008). Fonte: ProfitChart.
Mas o timing de comprar nesse fundo não era visível com os setups disponíveis
na análise técnica.
O dia 27 de outubro de 2008 foi um dia de forte queda. O banco Merrill
Lynch começou a comprar PETR4 (168.700 ações a um preço médio de R$
16,50 significa uma posição de aproximadamente 2,78 milhões de reais).
No dia seguinte, sua posição se acumulou ainda mais. A figura 5.24 mostra o
saldo acumulado de Merrill Lynch em PETR4 no período de 27 a 28 de
outubro (2008).
Aqui vemos (Figura 5.24, à esquerda) que a posição de compra se elevou para
545 mil ações... A um preço médio de R$ 16,50, equivale a aproximadamente 9
milhões de reais. Para resumir a história, vamos avançar alguns dias, até o final
do mês de outubro (Figura 5.25).
Figura 5.24 – Saldo acumulado de Merrill Lynch em PETR4. Fonte: ProfitChart.
Acreditamos ter contribuído para que o leitor não fique preso a uma única forma
de ver o mercado e disponha de mais elementos para conduzir sua atuação como
investidor ou trader. Ressaltamos que as opiniões contidas neste livro são sujeitas
à interpretação de cada leitor e não são, em hipótese alguma, garantia de
quaisquer resultados – a Bolsa é um fenômeno muito dinâmico para que você
possa ter lucro utilizando um único exemplo ou conceito. Você é livre para
operar ou investir como quiser, é o seu próprio gestor de carteiras e capitão do
seu barco – uma tarefa estimulante e desafiadora, pela qual somente você será
responsável, sempre.
Nosso intento, ao escrever este livro, não foi criar um manual de trading ou de
investimentos, tais como os que se encontram disponíveis no mercado. A
intenção era justamente fazer o caminho inverso: ajudar o leitor a descobrir o
que não fazer na Bolsa, ou melhor, o que evitar e como tirar partido das
armadilhas do caminho.
Entendemos que esse é o passo principal, a partir do qual o resto (a definição
de uma estratégia de trading ou investimento) é construído. Realmente, não
adianta começar escolhendo uma estratégia, por exemplo, sem ter tido acesso às
falhas que ela apresenta, e sem saber em quais momentos os grandes players
estariam operando contra ela.
Desse modo, cada ponto que abordamos se reveste de importância, pois
procurou exemplificar ao leitor o modo como funciona a arena de investimentos
que é o mercado de capitais. E, numa arena, vence quem tem mais
conhecimento, força e habilidades.
Começamos indicando o fato simples, mas muito desconsiderado, de que para
que alguém ganhe na Bolsa, outro tem que perder. Desse modo, como disse
John Carter, em Mastering the trade: “Você não opera ações, você opera outros
traders.” Se um banco de investimentos está no lado contrário da sua operação,
você deveria ter dupla cautela e certificar-se de que realmente está fazendo o
trade certo. Só para garantir.
Observando os bastidores do mercado, ficou claro que o interesse por trás das
ações de seus participantes (tanto agentes autônomos como analistas,
departamento de back-office etc.) nem sempre é isento de motivação pessoal, de
modo que a Bolsa é um dos ambientes em que o cliente deve primeiro ponderar
o que diz o especialista, e não simplesmente aceitar de imediato.
Na Bolsa, conhecimento vale dinheiro, pois é capaz de produzir dinheiro. No
entanto, ainda existem muitos pseudotraders e investidores que acham que
primeiro deveriam ganhar (bastante) dinheiro para depois procurar um
treinamento ou curso especializado. Transferindo essa mentalidade para outro
contexto – no qual fica evidente o absurdo da ideia –, é como se alguém quisesse
primeiro ganhar muito dinheiro como médico... Para então financiar seu estudo
em uma faculdade de medicina... As consequências desse tipo de pensamento
ocorrem todos os dias na Bolsa, em casos chocantes como o do nosso exemplo
em que o indivíduo perdeu tudo o que tinha em três dias, operando opções.
Dado que há uma disputa entre quem ganha e quem perde no mercado, salta
aos olhos a importância de se avaliar a assimetria: quem possui mais
conhecimento, você ou aquele que está no lado contrário da sua operação?
Quem possui melhor equipamento, informações, staying power? Quem é o elo
mais fraco da corrente? Vale a pena fazer esse trade nas condições atuais? Como
vimos, não basta apenas avaliar o gráfico e achar que a ação vai subir...
Envolvendo todos esses conceitos, está a necessidade de utilizar uma
metodologia ou estratégia. Por exemplo, seria difícil ter uma abordagem de
investimentos consistente sem estar atento a certas fragilidades do value
investing, e não observar os momentos em que os tubarões o jogam pela janela e
lucram operando contra os demais players – ainda que a teoria estivesse válida.
Na Bolsa, não importa quem está com a razão: importa quem lucra no processo.
Da mesma forma, é importante observar que padrões de preço muitas vezes
indicam apenas o que ocorreu no passado – pois todo negócio realizado pertence
ao passado – e não necessariamente contêm alguma indicação da direção futura
dos preços.
A necessidade de se avaliar quantitativamente uma ideia também foi abordada,
por ser a pedra fundamental da validação da estratégia, tendo-se como premissa
que o investidor e o trader realmente desejem estabelecer sua atuação de forma
profissional, e não como “gamblers”. Em qualquer profissão ou negócio é
importante ter procedimentos de avaliação e controle.
Também como foi destacado, observando as informações do livro de ofertas
não é possível discernir entre as operações de uma instituição e as operações de
múltiplos clientes da instituição (incluindo também suas operações proprietárias)
executadas de modo independente e sincronizado. A diferença entre um
conjunto de coincidências e uma ação coordenada e consistente ao longo de um
período de tempo não é algo trivial de ser identificado. Optamos por não realizar
inferências e deixaremos a cargo do leitor avaliar cada caso e tirar suas próprias
conclusões.
As instituições, empresas e ativos que foram citados nos exemplos deste livro
tiveram apenas efeito didático, tendo sido escolhidos aleatoriamente. Isso
significa que não temos qualquer relação de ganho ou interesse pessoal na citação
de quaisquer deles. Com certeza, existem muitos outros exemplos possíveis que
não foram mencionados. Desse modo, ressaltamos que em nenhum momento
tivemos como objetivo recomendar ou deixar de recomendar instituições,
empresas e ativos – mesmo que indiretamente – e tampouco induzir o leitor em
sua escolha ou rejeição.
Esclarecemos que de nenhuma forma quisemos estimulá-lo a operar mais ou
desestimulá-lo para que opere menos. Entendemos que nosso papel é de fornecer
mais informações para seu aprendizado e conhecimento sobre a dinâmica de
investimentos em Bolsa e não de atuar como interferente em seu perfil de risco
ou decisões de alocação de recursos. Nossa ideia foi fornecer elementos
suficientes para que você:
• Identifique alguns erros comuns cometidos no mercado;
• Preste atenção a situações-chave em que os grandes players têm oportunidade
de lucrar contra você;
• Busque evitar ter prejuízo nos dois itens anteriores, além de tentar aproveitá-
los para obter lucro;
• Conheça algumas fragilidades das formas de análise existentes, por meio de
informações nem sempre de fácil acesso para o leigo (como, por exemplo, a
de que o fundo utilizando estritamente os ensinamentos de Benjamin
Graham teve sequencialmente um desempenho inferior ao S&P 500, ou que
Warren Buffett faz trading, sim senhor!);
• Seja capaz de juntar todas essas informações e, com base nelas, realizar um
exame de consciência para identificar seus pontos fortes e fracos como trader
ou investidor, a fim de tirar maior proveito de suas qualidades, eliminando
da sua prática aquilo que não contribui para o seu sucesso.
Como bem disse nosso mentor Larry Williams: “Todo dinheiro é sempre dado
em troca de valor. No mercado, o dinheiro é dado em troca de horas de estudo.”
Seguindo essa perspectiva, desejamos que as horas investidas na leitura deste livro
se revertam em lucros para você.
Referências
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2005.
CARTER, John F. Mastering the Trade: Proven Techniques for Profiting from
Intraday and Swing Trading Setups. New York: McGraw Hill, 2006.
CRACK, Timothy Falcon. Heard on the Street: Quantitative Questions from Wall
Street Job Interviewers. 9 ed. New York: Timothy Falcon Crack, 2004.
DODGE, Yadolah (ed). The Oxford dictionary of statistical terms. New York:
Oxford University Press Inc, 2003.
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Avaliando Empresas, Investindo em
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Debastiani, Carlos Alberto
9788575225974
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