Você está na página 1de 34

EDUCAÇÃO MUSEOLÓGICA E Para iniciar uma

AS QUESTÕES DE IDENTIDADE discussão...


PREMISSAS DO ARTIGO BASE PARA
O INÍCIO DAS DISCUSSÕES...
No artigo “Articulações entre educação e museologia e suas contribuições
para o desenvolvimento do ser humano”, de Gabriela Figurelli, é possível
encontrar alguns pontos chave:

1. A ideia de museu como instrumento, ferramenta para intervenção social.


O posicionamento ético do profissional não poderia mais estar centrado,
apenas e exclusivamente, no patrimônio, seria necessário que ocorresse a
transferência do foco de atenção, das coleções para os públicos
2. O museu deixa de ser sinônimo de prédio e assemelha-se a
território; o objeto museológico deixa de ser apenas material e
descobre-se também imaterial; a preservação deixa de ser função
central e cede espaço para a pesquisa e a comunicação; a coleção
deixa de ser prioridade absoluta e proporciona lugar à comunidade; a
exposição deixa de ser fim e transforma-se em meio; o público deixa
de ser coadjuvante e assume o papel de protagonista
3. Mas a educação em museus pode ser entendida e praticada de
maneiras muito variadas nas instituições museológicas. Desde o
princípio vistos como instituições educacionais, os museus eram
postos a serviço da formação da população, revestindo-se de um
caráter filantrópico e muitas vezes disciplinador. Desde então, a
função educativa vem sendo utilizada para validar a utilidade social
das instituições museológicas.
4. Limitado à teoria, centrado na prática, restrito ao setor educativo
ou direcionado ao público escolar, diferentes eram as maneiras de
interpretar e implementar o potencial educativo presente nos
museus, quase sempre simplificado e desarticulado.

5. Contudo, com a mudança de paradigma na Museologia - o foco de


atenção dos museus é transferido do objeto para o ser humano -
favoreceu o aumento de reflexões relacionadas ao caráter educativo
dos museus e dos patrimônios, ampliando as ações e discussões
voltadas a esta temática
6. O crescente interesse pelo potencial educativo intrínseco aos
museus e patrimônios pode ser acompanhado através do incremento
de ações educativas nas instituições museológicas.

7. Atividades, iniciativas, programas e projetos de cunho educativo


ocupam cada vez mais espaço nas programações e agendas dos
museus, de maneira frequente e regular, e passam a constituir-se no
sentido de estabelecer novas relações na perspectiva de construção
de uma cidadania consciente a partir da oferta de um serviço.
EDUCAÇÃO MUSEOLÓGICA NO
MUSEU NACIONAL PÓS INCÊNDIO
8. Acima de tudo é preciso agregar significativos ganhos aos
visitantes, ao qualificar seu contato com o espaço e o acervo. Em
síntese, acredita-se que a relação entre museu e educação é
intrínseca, uma vez que a instituição não tem como finalidade apenas
o armazenamento e a preservação dos bens culturais, mas sobretudo,
“o entendimento e o uso do acervo preservado, pela sociedade, para
que através da memória preservada seja entendida e modificada a
realidade do presente”.
9. Vistos como espaços multiculturais e interdisciplinares, como
ambientes de contemplação, questionamento, descoberta,
ressignificação, mediação, encantamento, entretenimento, confronto
e diálogo, os museus possuem grande potencial para oferecer
oportunidades educacionais a pessoas de todas as idades, formações,
habilidades, grupos sociais e etnias, sendo caracterizado como um
espaço de educação não-formal.
10. Na esfera da educação não-formal, as atividades distinguem-se
por possuir maior flexibilidade em relação ao tempo, espaços,
conteúdos e metodologias de trabalho; por abordar simultaneamente
diversas áreas do conhecimento; por privilegiar a aprendizagem
baseada em aspectos do conhecimento prévio, da experiência de
vida, do cotidiano dos envolvidos; por trabalhar com a diversidade
(etária, étnica, de gênero, econômica, de classe social...) além de
possibilitar a participação e o diálogo, entre outras características
11. A concepção do museu enquanto instituição educadora, tendo ou
não um setor específico encarregado da ação educativa, ganha
evidência sobretudo entre os profissionais do meio. Se no princípio
via-se apenas o setor educativo como espaço destinado às ações
educativas, hoje, cada vez mais os outros setores do museu são
instigados a demonstrar o viés educacional em suas atividades.
12. Um museu comprometido com sua sociedade priorizará ações
que instrumentalizem seu público, contribuindo para o seu processo
de desenvolvimento pessoal, através de experiências que privilegiem
a aprendizagem. Proporcionará aos seus públicos o acesso a uma
formação voltada para o contato com os espaços museológicos, que
os estimulem a olhar criticamente, a ler os objetos e os espaços, a
identificar as mensagens subentendidas, a perceber o discurso oculto
na expografia, a criar novos significados, relações, narrativas.
MUSEU DA ENERGIA EM ITU – MOSTRA
HISTÓRIA, ENERGIA E COTIDIANO
PROJETOS DE INTERESSE
o Museu da Energia de Itu promoveu
a segunda saída fotográfica do
projeto “Meu Ambiente” com os
estudantes da EMEJA Professora
Maria da Glória Amirat. Realizada
com o apoio do fotógrafo Fernando
Henrique “Efe”, a iniciativa objetiva
chamar a atenção para a importância
da preservação do patrimônio
material imóvel de Itu, estimulando,
nos participantes, os sentimentos de
responsabilidade, pertencimento e
apropriação dos espaços
arquitetônicos locais.
13. Assim, a ação educativa em museus, utilizando-se de textos,
atividades, visitas, palestras, etc., deve ser capaz de potencializar a
construção de conhecimentos do público em sua multiplicidade,
desenvolvendo um olhar curioso e investigativo no contato com a
instituição e os objetos ali resguardados, visando ampliar sua
capacidade crítica.
14. Tendo como referencial básico o patrimônio - seja ele natural,
histórico, biológico, cultural, material ou imaterial - o museu é capaz
de instrumentalizar o indivíduo, qualificando a relação que este
estabelece com a sua realidade mediante iniciativas que
potencializem essa interação.
15. Deste modo, sendo o patrimônio cultural “um referencial para o
exercício da cidadania e do desenvolvimento social por meio do
processo educativo” (SANTOS, 2008, p. 16), é através de uma ação
museológica participativa, apoiada na apropriação deste patrimônio,
que o museólogo será capaz de auxiliar os indivíduos a ampliarem a
dimensão de valor e sentido em relação às suas práticas culturais.
16. As interações entre sujeito e patrimônio são estabelecidas mediante
a postura ativa do sujeito. Tais influências, dinamizadas no museu,
desencadeiam um processo que visa estimular diferentes habilidades no
indivíduo capacitando-o para atuar na sociedade, de maneira autônoma
e consciente, mas que só atingirá resultados promissores mediante a sua
vontade de interagir com o espaço, o patrimônio, as propostas.
17. Estas habilidades contribuem para o pleno exercício da cidadania,
entendida como a capacidade dos indivíduos de participar das
decisões políticas, opinar e interferir sobre os rumos da sociedade,
apresentar seus próprios pontos de vista e compará-los com pontos
de vista diversos, contribuindo assim para a construção de uma
sociedade democrática
O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA E O CENTRO
DE REFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO EM MUSEUS
Com o Centro o Museu expandiu sua ação, aproximando instituições
e promovendo troca de experiências e projetos bem sucedidos entre
museus brasileiros e seus educadores. É um espaço de troca e
compartilhamento de experiências, difundindo e potencializando
metodologias e práticas diversificadas.
18. O contato com o patrimônio cultural, visto como testemunho da
historicidade do sujeito, pode estimular o desenvolvimento da noção
de temporalidade, assim como a consciência histórica, objetivando a
integração do indivíduo em seu meio. E essa conscientização da
relação temporal e histórica, a compreensão do indivíduo acerca do
tempo e do espaço social em que está inserido, auxilia-o muito em
seu processo de auto-conhecimento.
19. E é justamente num contexto marcado pelo diálogo que se cria
oportunidade para o questionamento, para a reflexão, para o debate.
Por conseguinte, museus que adotam atividades baseadas na
educação dialógica, marcadas pela mediação e pela construção
coletiva de conhecimento, privilegiam o desenvolvimento dos
indivíduos envolvidos no processo.
20. O museu, enquanto espaço de memórias e referências culturais,
possibilita o exercício individual e coletivo do sentimento de
pertencimento, visto que através do patrimônio cultural o indivíduo é
capaz de reconhecer-se membro de uma coletividade que partilha
especificidades e particularidades. O patrimônio cultural preservado
colabora para que o indivíduo sinta-se membro dessa coletividade,
percebendo que esses bens culturais lhe pertencem também porque
lhe representam. E através da socialização destes bens, a cultura
contribui para os indivíduos perceberem-se parte de um grupo social
e construírem sua própria identidade.
E... FINALMENTE...
Pensar o museu no todo, enquanto um processo educativo, e
identificar as possibilidades de aprendizagem presentes nas tarefas
cotidianas da instituição, é o diferencial para o museu que pretende
colaborar com a sociedade na qual está inserido.
AMPLIANDO A REFLEXÃO... Identidade e museus
A QUESTÃO DA IDENTIDADE
CULTURAL NOS MUSEUS
É preciso aprofundar o conhecimento do fenômeno da identidade,
que tem mais relação com os processos de reconhecimento do que
de conhecimento. E a eleição da identidade cultural como um dos
objetivos fundamentais que o museu deve perseguir leva à
necessidade de reforçar as identidades frágeis, consolidar as
desestruturadas, recriar as desfeitas, proteger as ameaçadas.

A imagens que os indivíduos fazem de si mesmos só terão eficácia se


obtiverem consolidação externa, se houver aceitação social. Daí a
tendência de tais imagens escamotearem, ou fazerem desaparecer
sem que se perceba, as diversidades, contradições, conflitos e
hierarquias. Dessa forma, as identidades podem facilmente alimentar
estratégias de dominação
ESPAÇO ITUANO DE TURISMO E CULTURA
ESPAÇOS DE MEMÓRIA DE QUAIS IDENTIDADES?
IDENTIDADE E PODER – ULPIANO MENESES

A identidade é um fenômeno social, é conhecimento, mas,


principalmente, é reconhecimento
Nesse sentido, a identidade contrastiva, ou seja, a da diferença,
perturba, discrimina, fundamenta privilégios, estabelece hierarquizações
sociais. E a perda de identidade nada mais é do que a expressão de
mudanças culturais, da mesma forma que resgatar a identidade é
objetivo impossível de atingir, já que a identidade é um processo
constante de construção/reconstrução e ganha sentido e expressão em
momentos nos quais se aguça a percepção das diferenças.
Mas a identidade não é fruto do isolamento de sociedades ou grupos,
pelo contrário é fruto de sua interação. Além disso, as identidades se
fundamentam no presente, nas necessidades presentes, ainda que se
faça apelo ao passado, pois é um passado que se constrói e se
reconstrói no presente, para atender as necessidades do mesmo.
Os museus dispõem de um referencial sensorial importante,
constituindo terreno fértil para as manipulações das identidades, ao
utilizar fetiches de identidades como cruzes, uniformes militares,
bandeiras, entre outros, que possuem alto poder de comunicação.
Os museus são territórios das identidades, um recurso estratégico a
seu serviço, por isso devem ter sempre uma postura crítica em
relação à problemática da identidade e de suas ideologias.
Cabe aos museus criarem condições para conhecimento e
entendimento do que seja identidade, de como, por que e para que
ela se compartimenta e suas compartimentações se articulam e
confrontam, quais os mecanismos e direções das mudanças e de que
maneira todos esses fenômenos se expressam por intermédio das
coisas materiais. Deve-se ir aos museus para interrogar e se
interrogar e não para buscar repostas conclusivas.
RETORNO DOS BENS CULTURAIS A
SEUS PAÍSES DE ORIGEM - UNESCO
Restituição de artefatos trazidos
por potências coloniais da África
para a Europa é tema de debate
internacional. Relatório
encomendado por Macron pode
inaugurar novo capítulo na
história da devolução de arte
saqueada pela França no período
neo-colonial. Ao lado, estátua do
deus Gu, do antigo Reino do
Daomé, foi trazida para Europa
no período colonial
A “DESMUSEALIZAÇÃO” E AS
EXPOSIÇÕES DE REPRESENTAÇÃO
Devolutiva de peças às suas origens e realização de exposições por
parte dos próprios grupos envolvidos. Por exemplo a Exposição Kayapó
no Museu Goeldi que teve os próprios indígenas na responsabilidade de
sua organização. É o reconhecimento do “outro” como sujeito, mas
deve-se tomar cuidado com a fragmentação. Os museus devem
abandonar tanto a “torre de marfim” quanto a “militância”

Você também pode gostar