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adquirem novos significados, quando

vistos à luz da Doutrina Maçônica.


1. A LIBERDADE é o requisito prin-
cipal e imprescindível do iniciado
que traz sua imagem da vida profa-
na mas, maçonicamente, pressupõe
não apenas a SUA liberdade mas,
também, a liberdade alheia. No

D esde tempos imemoráveis,


mem percebeu que sua sobrevi-
o ho-

vência na terra somente seria possível


ser aceitá-Ia. Para o verdadeiro Ma-
çom, a verdade é um ponto de referên-
cia .ideal para o qual ele converge,
conceito profano, a liberdade é si-
nônimo de "libertação", pois con-
ceitua a superação de uma situação
se unisse esforços com outros seme- através do processo de aperfeiçoamen- negativa do indivíduo, em sentido
lhantes. Para defender-se da natureza, to iniciático. E é um caso limite; de estático (liberdade DA), por exem-
para sobreviver aos animais, para pro- fato, poderá aproximar-se gradativa- plo: da escravidão, da tome, da mi-
videnciar alimentos e vencer o desafio mente dela, mas nunca alcançá-Ia. Se séria, da ditadura, etc.
da vida, deveria juntar-se a outros ho- o fizesse, reduziria a Maçonaria a uma N o conceito maçônico, a liberdade
mens, em esforço múltiplo, formando religião, o que a Maçonaria não é". tem concepção positiva e dinâmica,
um agrupamento capaz de garantir a Portando, o sentido global da significando ação e devolvendo a
sobrevivência da própria espécie, num antropologia filosófica maçônica se ad- capacidade do homem de escolher
mundo cheio de insídias. quire somente através do ritual da Ini- e agir, livre e responsavelmente,
Numa sociedade pluralista, ciação, ou seja, apenas ingressando na com base em sua própria vontade
como a dos estados modernos, muitos Ordem. Esta é a profunda e fundamen- (liberdade DE), exemplo: de fazer,
são os interesses e os pensamentos, tal diferença entre a sociedade iniciáti- de estudar, de pensar, etc.
formando um mosaico de tendências, ca e qualquer outra sociedade. A Maçonaria concebe um ordena-
em torno das quais os homens .se asso- Mas esta análise não é suficien- mento moral comum, compartilha-
ciam por afinidade. Existem inúmeras te a caracterizar os requisitos que o do subjetivamente, como a mais
entidades de caráter político, social, Maçom deve assumir para pertencer à alta realização da perfeição iniciáti-
religioso, assistencial , profissional, Ordem, enquanto sociedade de homens ca do imanente. E, sendo a LIBER-
mercantil, etc., que agrupam homens diferenciados. Ele deve integrar-se DADE a fonte originária da vida
afins por pensamentos e interesses. To- num conjunto de normas que se obriga ética do homem, ela é, para os ma-
das elas dão ênfase à entrada de um a respeitar, normas que comportam a çons, um conceito fundamental.
novo elemento em suas hostes, mani- obrigação de ater-se à concepção ma-
testando-se de forma diversa. Desde o çônica do homem, sem exaurir-se
simples aplauso na assinatura da ficha nela. Para isso, ele necessita da Luz
partidária até à admissão formal nos maçônica, que só lhe pode ser entre-
clubes de serviço; desde o batismo nas gue através da Iniciação. Só na Inicia-
religiões até a cerimônia atual de in- ção ele compreenderá ter entrado
gresso em uma sociedade iniciática. A numa dimensão ética nova, num liame
Maçonaria não é exceção. simbólico com outros homens diferen-
Mas por que motivo a Maçona- ciados, a quem foram revelados os
ria dá tanta ênfase ao ingresso de um mesmos "segredos". Tornar-se-á uma
novo Irmão na Ordem, através da Ini- "pedra bruta" única, no meio de todas
ciação, que é considerada a cerimônia as demais pedras brutas. Ele desbasta-
mais importante para o novo adepto? rá a SUA pedra bruta, com a colabora-
Que tipo de perfil ele tem e qual o mo- ção dos outros Irmãos, de forma reci-
delo de homem que se encaixa na des- procamente essencial e pessoal.
crição antropológica do Maçam? Para Ao ser iniciado, o neófito adqui-
procurar a resposta, nos socorremos re os meios para diferenciar os concei-
da obra "FILOSOFIA DA MAÇONA- tos profanos das coisas do seu signifi-
RIA", de autoria do professor Di Ber- cado maçônico, passando a agir em
nardo G. M. I.. Logo aparece a dite- conformidade com este último. 2. Por outro lado, vemos que o tema
rença entre a antropologia maçônica e A Iniciação é a linha demarca- de liberdade individual é estrita-
as antropologias que derivam de uma tória entre o mundo profano e o maçô- mente conexo com o princípio da
religião: a VERDADE. Diz o autor: nico, no qual o Irmão ingressa naquele TOLERÂNCIA, ou seja, o respeito
"De fato, para as religiões, a verdade momento. à liberdade dos outros. Para o ma-
é absoluta, eterna e imutável, e é reve- Assim, percebe que, por exem- çom, a tolerância é uma atitude que
lada diretamente por DEUS e o ho- plo, os conceitos de LIBERDADE, o induz a respeitar o pensamento
mem não deve fazer mais nada a não TOLERÂNCIA e FRATERNIDADE de outro homem, embora não con-

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corde com ele, em atenção ao prin- bruta e subir pelo caminho da auto- e gradual adaptação à personalidade
cípio de tolerância à liberdade dos realização apenas com esses elemen- maçônica, adquirida pela Iniciação, o
outros, permitindo assim a coexis- tos, sem recorrer ao elemento Irmão começará a construção de seu
tência de um modo de pensar pró- TRANSCENDÊNCIA? Entendemos templo interior, nwn lento caminhar
prio, com a negação de qualquer que não. Mas para chegar a isso, o ca- em direção à VERDADE. Mas, terá
forma de integralismo. minho é longo e árduo, especialmente ele torças e estímulo suficientes para
A Grande Loja Unida da Inglater- para quem recém inicia sua viagem conseguir o que pretende?
ra, em documento de 21 de junho maçônica, como o neófito. No mundo profano em que vive,
de 1985, proclama textualmente: Esta viagem, simbolizada pelas o homem se encontra em estado de
"... não existe qualquer DEUS ma- três caminhadas da cerimônia, inicia- INDIGÊNCIA, pelas frustrações da
çônico. O DEUS do maçam é o se na noite de seu ingresso na Ordem, vida diária e pela falta, cada vez mais
mesmo DEUS da religião que ele quando percebe não passar espiritual- acentuada, de aspirações fundamentais
próprio professa". mente de uma pedra bruta ou, como de caráter espiritual e moral.
Este é um exemplo extremo de to- diria de maneira mais própria nosso O acesso a tais aspirações,
lerância, em que a Maçonaria, sem Venerando Ir:. SAMUEL HERBERT quando as têm, somente se lhe afigura
interferir na liberdade religiosa de JONES: uma "PEDRA EM BRU- possível através da intervenção da reli-
seus membros, recomenda que os TO". gião e da te, pois suas capacidades são
mesmos mantenham suas próprias A Loja, na mesma ocasião, cada vez mais limitadas, não lhe per-
convicções, respeitando-as. através do "catecismo", lhe entrega as mitindo o acesso à VERDADE, a não
De fato, o G:.A:.D:.U:. é o "ferramentas" com as quais desbastará ser pela revelação.
IDEAL, um ZENITH regulamen- suas imperfeições e anomalias, a co- Como explica o professor Di
tar, em sentido não-exclusivo e, meçar pela parte material de sua per- Bernardo, na obra já citada, para o
portanto, premissa indispensável do sonalidade. Tais "ferramentas" estão maçom a concepção de indigência está
princípio da TOLERÂNCIA. nas primeiras instruções que recebe e conexa com um transcendente regula-
3. Na Maçonaria, intimamente conexo compreendem regras básicas e mate- dor, limite realmente inacessível, em
à TOLERÂNCIA está o conceito riais sobre disciplina, ordem, hierar- direção ao qual o maçom se esforça
de FRATERNIDADE. quia, comportamento, postura pessoal aproximar, com a intenção de melho-
Ele está ínsito na história do ho- em Templo e fora dele, respeito, obe- rar e aperfeiçoar a si próprio. A base
mem desde os tempos mais remo- diência e, sobretudo, OBRIGAÇÕES. para isso são as condições intrínsecas
tos, primeiro como simples vínculo Surge aí, para os incautos, o do indivíduo e não a intervenção salva-
de sangue e, após, como vínculo de primeiro choque e, por fim, a pergun- dora da divindade, ou seja: a VERDA-
família, de tribo e de comunidade. ta: Será que a Maçonaria é uma orga- DE concebida como ponto de referên-
Retoma mais tarde com a mensa- nização anacrônica e superada, que cia ideal para o qual dirigir-se gradual-
gem cristã, na qual todos os ho- numa época em que todos reclamam mente através do aperfeiçoamento ini-
mens existem em relação de depen- por seus direitos, aponta e exige do ciático, sem jamais declarar alcançá-
dência do ato criador, portanto ti- maçom apenas DEVERES e OBRI- Ia. Se o maçom assim não agisse, da-
lhos de Deus e, por conseguinte, ir- GAÇÕES? ria à noção de VERDADE um conteú-
mãos entre si. A resposta é simples: no enfo- do de revelação, reduzindo toda a filo-
Para o maçom, entretanto, a frater- que da ÉTICA maçônica, ninguém sofia maçônica a simples religião.
nidade está estritamente conexa pode exigir seus direitos ANTES de Na Maçonaria, a TRANSCEN-
com a TOLERÂNCIA, pois admite ter cumprido com seus deveres, sob DÊNCIA justifica a moral e contere
que outros homens possam ter pena de inversão da ordem de valores, sentido à realidade humana, repre-
idéias diferentes das suas e, assim o que levaria ao CAOS, que é o oposto sentando o fim supremo para o qual o
mesmo, em nome da tolerância, os do que se propõe a Ordem, cujo lema homem se dirige na realização contí-
considera dignos de sua convivên- filosófico é: ORDO AB CHAO (Or- nua de seus ideais.
cia e de seu respeito, sem realçar dem do caos). Diria portanto, concluindo, que
quaisquer características subjetivas Cumprindo suas obrigações LIBERDADE, TOLERÂNCIA e
e individuais, como educação, cul- para com os Irmãos, com a Loja, com FRATERNIDADE expressam proprie-
tura, inteligência, etc. a Maçonaria e com a sociedade, o dades do homem projetado num pro-
Ao fazer isso, o maçom os iguala a neófito poderá abstrair-se do material cesso de auto-realização, orientado
si próprio, considerando-os afins a e perscrutar seu interior, no qual a Ini- pela TRANSCENDÊNCIA que, por
ele e, portanto, IRMÃOS. ciação já jogou, por intermédio da luz sua vez, regula o IMANENTE e este
Portanto, vimos que a FRA- de seus ensinamentos, a semente da tende em direção à TRANSCENDÊN-
TERNIDADE está intimamente conexa especulação, da procura da VERDA- CIA, nos levando a interminável cami-
com a TOLERÂNCIA e esta, por sua DE. nhada que nos propormos, em direção
vez, conexa com a LIDERDADE. Mas Após superado o período de à VERDADE que, fundamentalmente,
cabe-nos fazer uma pergunta: será que formação material, num lento discipli- começou com a Iniciação quando, pela
o maçom poderá desbastar sua pedra namento de sua personalidade profana primeira vez, nos foi dada a LUZ. •

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