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o PRUMO - N2 101 21
corde com ele, em atenção ao prin- bruta e subir pelo caminho da auto- e gradual adaptação à personalidade
cípio de tolerância à liberdade dos realização apenas com esses elemen- maçônica, adquirida pela Iniciação, o
outros, permitindo assim a coexis- tos, sem recorrer ao elemento Irmão começará a construção de seu
tência de um modo de pensar pró- TRANSCENDÊNCIA? Entendemos templo interior, nwn lento caminhar
prio, com a negação de qualquer que não. Mas para chegar a isso, o ca- em direção à VERDADE. Mas, terá
forma de integralismo. minho é longo e árduo, especialmente ele torças e estímulo suficientes para
A Grande Loja Unida da Inglater- para quem recém inicia sua viagem conseguir o que pretende?
ra, em documento de 21 de junho maçônica, como o neófito. No mundo profano em que vive,
de 1985, proclama textualmente: Esta viagem, simbolizada pelas o homem se encontra em estado de
"... não existe qualquer DEUS ma- três caminhadas da cerimônia, inicia- INDIGÊNCIA, pelas frustrações da
çônico. O DEUS do maçam é o se na noite de seu ingresso na Ordem, vida diária e pela falta, cada vez mais
mesmo DEUS da religião que ele quando percebe não passar espiritual- acentuada, de aspirações fundamentais
próprio professa". mente de uma pedra bruta ou, como de caráter espiritual e moral.
Este é um exemplo extremo de to- diria de maneira mais própria nosso O acesso a tais aspirações,
lerância, em que a Maçonaria, sem Venerando Ir:. SAMUEL HERBERT quando as têm, somente se lhe afigura
interferir na liberdade religiosa de JONES: uma "PEDRA EM BRU- possível através da intervenção da reli-
seus membros, recomenda que os TO". gião e da te, pois suas capacidades são
mesmos mantenham suas próprias A Loja, na mesma ocasião, cada vez mais limitadas, não lhe per-
convicções, respeitando-as. através do "catecismo", lhe entrega as mitindo o acesso à VERDADE, a não
De fato, o G:.A:.D:.U:. é o "ferramentas" com as quais desbastará ser pela revelação.
IDEAL, um ZENITH regulamen- suas imperfeições e anomalias, a co- Como explica o professor Di
tar, em sentido não-exclusivo e, meçar pela parte material de sua per- Bernardo, na obra já citada, para o
portanto, premissa indispensável do sonalidade. Tais "ferramentas" estão maçom a concepção de indigência está
princípio da TOLERÂNCIA. nas primeiras instruções que recebe e conexa com um transcendente regula-
3. Na Maçonaria, intimamente conexo compreendem regras básicas e mate- dor, limite realmente inacessível, em
à TOLERÂNCIA está o conceito riais sobre disciplina, ordem, hierar- direção ao qual o maçom se esforça
de FRATERNIDADE. quia, comportamento, postura pessoal aproximar, com a intenção de melho-
Ele está ínsito na história do ho- em Templo e fora dele, respeito, obe- rar e aperfeiçoar a si próprio. A base
mem desde os tempos mais remo- diência e, sobretudo, OBRIGAÇÕES. para isso são as condições intrínsecas
tos, primeiro como simples vínculo Surge aí, para os incautos, o do indivíduo e não a intervenção salva-
de sangue e, após, como vínculo de primeiro choque e, por fim, a pergun- dora da divindade, ou seja: a VERDA-
família, de tribo e de comunidade. ta: Será que a Maçonaria é uma orga- DE concebida como ponto de referên-
Retoma mais tarde com a mensa- nização anacrônica e superada, que cia ideal para o qual dirigir-se gradual-
gem cristã, na qual todos os ho- numa época em que todos reclamam mente através do aperfeiçoamento ini-
mens existem em relação de depen- por seus direitos, aponta e exige do ciático, sem jamais declarar alcançá-
dência do ato criador, portanto ti- maçom apenas DEVERES e OBRI- Ia. Se o maçom assim não agisse, da-
lhos de Deus e, por conseguinte, ir- GAÇÕES? ria à noção de VERDADE um conteú-
mãos entre si. A resposta é simples: no enfo- do de revelação, reduzindo toda a filo-
Para o maçom, entretanto, a frater- que da ÉTICA maçônica, ninguém sofia maçônica a simples religião.
nidade está estritamente conexa pode exigir seus direitos ANTES de Na Maçonaria, a TRANSCEN-
com a TOLERÂNCIA, pois admite ter cumprido com seus deveres, sob DÊNCIA justifica a moral e contere
que outros homens possam ter pena de inversão da ordem de valores, sentido à realidade humana, repre-
idéias diferentes das suas e, assim o que levaria ao CAOS, que é o oposto sentando o fim supremo para o qual o
mesmo, em nome da tolerância, os do que se propõe a Ordem, cujo lema homem se dirige na realização contí-
considera dignos de sua convivên- filosófico é: ORDO AB CHAO (Or- nua de seus ideais.
cia e de seu respeito, sem realçar dem do caos). Diria portanto, concluindo, que
quaisquer características subjetivas Cumprindo suas obrigações LIBERDADE, TOLERÂNCIA e
e individuais, como educação, cul- para com os Irmãos, com a Loja, com FRATERNIDADE expressam proprie-
tura, inteligência, etc. a Maçonaria e com a sociedade, o dades do homem projetado num pro-
Ao fazer isso, o maçom os iguala a neófito poderá abstrair-se do material cesso de auto-realização, orientado
si próprio, considerando-os afins a e perscrutar seu interior, no qual a Ini- pela TRANSCENDÊNCIA que, por
ele e, portanto, IRMÃOS. ciação já jogou, por intermédio da luz sua vez, regula o IMANENTE e este
Portanto, vimos que a FRA- de seus ensinamentos, a semente da tende em direção à TRANSCENDÊN-
TERNIDADE está intimamente conexa especulação, da procura da VERDA- CIA, nos levando a interminável cami-
com a TOLERÂNCIA e esta, por sua DE. nhada que nos propormos, em direção
vez, conexa com a LIDERDADE. Mas Após superado o período de à VERDADE que, fundamentalmente,
cabe-nos fazer uma pergunta: será que formação material, num lento discipli- começou com a Iniciação quando, pela
o maçom poderá desbastar sua pedra namento de sua personalidade profana primeira vez, nos foi dada a LUZ. •
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