Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Resumo do Prefácio
Paulo Freire é um autor comprometido com a vida, ele pensa a existência. Seu método é
voltado para a práxis humana, a “prática da liberdade”. Numa sociedade cuja dinâmica estrutural
conduz à dominação de consciências, os métodos da opressão não podem servir à libertação. Nesse
sentido, a pedagogia do oprimido retrata um método para que o sujeito oprimido de liberdade
encontre caminhos da libertação. Para isso, é necessário que tal sujeito se autoconfìgure
responsavelmente para uma educação libertadora. E assim, que ele tenha condições de,
reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica. A
pedagogia do oprimido é, pois, liberadora de ambos, do oprimido e do opressor.
Freire considera que talvez o sentido mais exato da alfabetização seja o de o ser humano
aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se,
existenciar-se, historicizar-se. Isto, insinua-se em três relances: Primeiro: O movimento interno que
unifica os elementos do método e os excede em amplitude de humanismo pedagógico. Segundo:
esse movimento reproduz e manifesta o processo histórico em que o homem se reconhece. Terceiro:
os rumos possíveis desse processo são possíveis projetos e, por conseguinte, a conscientização não
é apenas conhecimento ou reconhecimento, mas opção, decisão, compromisso.
No método Paulo Freire, alfabetizar é conscientizar. É quando o alfabetizando ganha
distância para ver sua experiência, “admirar”. Nesse instante, começa a descodificar. A
descodificação é análise e consequente reconstituição da situação vivida. O que antes era
fechamento, pouco a pouco se vai abrindo; faz-se crítica. O que o homem fala e escreve e como fala
e escreve, é tudo expressão objetiva de seu espírito. Por isto, pode o espírito refazer o feito, neste
redescobrindo o processo que o faz e refaz. Nesse sentido, pensar o mundo é julgá-lo; e a
experiência dos círculos de cultura mostra que o alfabetizando, ao começar a escrever livremente,
não copia palavras, mas expressa juízos
Nessa linha de entendimento, reflexão e mundo, subjetividade e objetividade não se
separam: opõem-se, implicando-se dialeticamente. Distanciando-se de seu mundo vivido,
problematizando-o, “descodificando-o” criticamente, no mesmo movimento da consciência o
homem se redescobre como sujeito instaurador desse mundo de sua experiência.
O círculo de cultura – no método Paulo Freire – revive a vida em profundidade crítica.
Todos juntos, em círculo, e em colaboração, reelaboram o mundo e, ao reconstruí-lo, apercebem-se
de que, embora construído também por eles, esse mundo não é verdadeiramente para eles.
O homem é levado a escrever sua história. Alfabetizar-se é aprender a ler essa palavra
escrita em que a cultura se diz e, dizendo-se critica-mente, deixa de ser repetição intemporal do que
passou, para temporalizar-se, para conscientizar sua temporalidade constituinte, que é anúncio e
promessa do que há de vir. Nesse sentido, alfabetizar-se não é aprender a repetir palavras, atas a
dizer a sua palavra, criadora de cultura.
Resumo das primeiras palavras
O primeiro capítulo do livro fará referência ao “medo da liberdade”, se referem ao que chamam
de “perigo da conscientização”. Na verdade, porém, não é a conscientização que pode levar o povo
a “fanatismos destrutivos”. Pelo contrário, a conscientização que lhe possibilita inserir-se no
processo histórico, como sujeito, evita os fanatismos e o insere na busca de sua afirmação.
As afirmações trazidas no ensaio do livro, estão ancoradas em situações concretas. Expressam
reações de proletários, camponeses ou urbanos, e de homens de classe média que foram observados,
direta ou indiretamente, no trabalho educativo dos autores.
Trata-se de um ensaio puramente aproximativo, um trabalho para homens radicais, mas não para
que o radical se torne dócil objeto da dominação. Precisamente porque inscrito, como radical, num
processo de libertação, não pode ficar passivo diante da violência do dominador. O radical,
comprometido com a libertação dos homens, não se deixa prender em “círculos de segurança”, nos
quais aprisione também a realidade. Tão mais radical, quanto mais se inscreve nesta realidade para,
conhecendo-a melhor, melhor poder transformá-la. Daí que a pedagogia do oprimido, que implica
numa tarefa radical, cujas linhas introdutórias pretendemos apresentar neste ensaio e a própria
leitura deste texto não possam ser realizadas por sectários, ou seja, grupos que professam doutrina
ou ideologia divergentes da correspondente doutrina ou sistema oficial ou dominante.