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Atija Sauia Jorge

Dorca Eulália Francisco Nhaca Ismael


Assuba Momade Cheia
Wilde Sultane

Docente
MCS. Manuel Tapela Chicava

Módulo
Psicopedagogia

Tema
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

Mestrado Em Psicologia Clínica

Instituto Superior Politécnico de Comunicação e Tecnologia


Alberto Chipande

Pemba, Agosto de 2021


FREIRE, Paulo, Pedagogia do Oprimido, 11ª edição

´´ PIMEIRAS PALAVRAS

Um dos aspectos que surpreendemos, quer nos cursos de capacitação que damas e em que ana-
lisamos o papel da conscientização, quer na aplicação mesma de uma educação realmente liber-
tadora, é o “medo da liberdade”, a que faremos referência no primeiro capítulo deste ensaio. Não
são raras as vezes em que participantes destes cursos, numa atitude em que manifestam o seu
"medo da liberdade”, se referem ao que chamam de “perigo da conscientização”. “A consciência
crítica (... dizem...) é anárquica.” Ao que outros acrescentam: “Não poderá a consciência critica
conduzir à desordem”? Há, contudo, os que também dizem: “Por que negar? Eu temia a liberdade.
Já não a temo”! Certa vez, em um desses cursos, de que fazia parte um homem que fora, durante
longo tempo, operário, se estabeleceu uma dessas discussões em que se afirmava a "periculosi-
dade da consciência critica”.

Justificativa da Pedagogia do Oprimido

Reconhecemos a amplitude do tema que nos propomos tratar neste ensaio, com o qual pretende-
mos, em certo aspecto, aprofundar alguns pontos discutidos em nosso trabalho anterior Educação
como Prática da Liberdade. Dai que o consideremos como mera introdução, como simples aproxi-
mação a assunto que nos parece de importância fundamental. Mais uma vez os homens, desafia-
dos pela dramaticidade da hora atual, se propõem, a si mesmos, como problema. Descobrem que
pouco sabem de si, de seu “posto no cosmos”, e se inquietam por saber mais. Estará, aliás, no
reconhecimento do seu pouco saber de si uma das razões desta procura. Ao instalar-se na quase,
senão trágica descoberta do seu pouco saber de si, se fazem problema a eles mesmos. Indagam.
Respondem, e suas respostas os levam a novas perguntas. O problema de sua humanização,
apesar de sempre dever haver sido, de um ponto de vista axiológico, o seu problema central, as-
sume, hoje, caráter de preocupação iniludível.

Contradição Opressores-Oprimidos. Sua Superação

A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação –
a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar
contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recu-
perar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem
se tornam, de facto, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos. E
aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores.
Estes, que oprimem, exploram e violentam, em razão de seu poder, não podem ter, roeste poder,
a força de libertação dos oprimidos nem de si mesmos. Só o poder que nasça da debilidade dos
oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos. Por isto é que o poder dos opressores,
quando se pretende amenizar ante a debilidade dos oprimidos, não apenas quase sempre se ex-
pressa em falsa generosidade, como jamais a ultrapassa. Os opressores, falsamente generosos,
têm necessidade, para que a sua generosidade continue tendo oportunidade de realizar-se, da
permanência da injustiça.

A Situação Concreta de Opressão e Oprimidos

Será na sua convivência com os oprimidos, sabendo também um deles – somente a um nível dife-
rente de percepção da realidade – que poderão compreender as formas de ser e comportar-se dos
oprimidos, que refletem, em momentos diversos, a estrutura da dominação. Uma destas, de que já
falamos rapidamente, é a dualidade existencial dos oprimidos que, hospedando o opressor cuja
sombra eles introjetam, são eles e ao mesmo tempo são o outro. Dai que, quase sempre, enquanto
não chegam a localizar o opressor concretamente, como também enquanto não cheguem a ser
consciência para si, assumam atitudes fatalistas em face da situação concreta de opressão em que
estão. Este fatalismo, às vezes, dá, a impressão, em análises superficiais, de docilidade, como
caráter nacional, o que é um engano.

A concepção «bancária» da educação como instrumento da opressão.

Quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis,


(ou fora dela), parece que mais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um
caráter especial e marcante – o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras.
Narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto,
sejam valores ou dimensões concretas da realidade. Narração ou dissertação que implica num
sujeito – o narrador – e em objectos pacientes, ouvintes – os educandos. Há uma quase enfermi-
dade da narração. A tônica da educação é preponderantemente esta – narrar, sempre narrar. Falar
da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não falar
ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo,
realmente, a suprema inquietação desta educação.

A teoria da ação antidialógica

Neste capítulo, em que pretendemos analisar as teorias da ação cultural que se desenvolvem a
partir da matriz antidialógica e da dialógica, voltaremos, não raras vezes, a afirmações feitas no
corpo deste ensaio. Serão repetições ou voltas a pontos já referidos, ora com a intenção de apro-
fundá-los, ora porque se façam necessários ao esclarecimento de novas afirmações. Desta ma-
neira, começaremos reafirmando que os homens são seres da práxis. São seres do que fazer,
diferentes, por isto mesmo, dos animais, seres do puro fazer. Os animais não “admiram” o mundo.
Imergem nele. Os homens, pelo contrário, como seres do que fazer, “emergem” dele e, objetivando-
o, podem conhecê-la e transformá-la com seu trabalho. Os animais, que não trabalham, vivem no
seu “suporte” particular, a que não transcendem.

A Teoria da Ação Antidialógica e Suas Características: a Conquista, Dividir para Manter a


Opressão, a Manipulação e a Invasão Cultural

Destas considerações gerais, partamos, agora, para uma análise mais detida a propósito das teo-
rias da ação antidialógica e dialógica. A primeira, opressora; a segunda, revolucionário-libertadora.

Conquista

O primeiro caráter que nos parece poder ser surpreendido na ação antidialógica é a necessidade
da conquista. O antidialógico, dominador, nas suas relações com o seu contrário, o que pretende
é conquistá-lo, cada vez mais, através de mil formas. Das mais duras às mais sutis. Das mais
repressivas As mais adocicadas, como o paternalismo. Todo ato de conquista implica num sujeito
que conquista e num objeto conquistado. O sujeito da conquista determina suma finalidades ao
objeto conquistado, que passa, por isto mesmo, a ser algo possuído pelo conquistador.

Dividir, para Manter a Opressão

Esta é outra dimensão fundamental da teoria da ação opressora, tão velha quanto a opressão
mesma. Na medida em que as minorias, submetendo as maiorias a seu domínio, as oprimem,
dividi-las e mantê-las divididas são condição indispensável à continuidade de seu poder. Não se
podem dar ao luxo de consentir na unificação das massas populares, que significaria, indiscutivel-
mente, uma séria ameaça à sua hegemonia.

Manipulação

Através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a


seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam elas (rurais ou urbanas) tanto mais
facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu
poder.

Invasão cultural

Desrespeitando as potencialidades do ser a que condiciona, a invasão cultural é a penetração que


fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, en-
quanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão. Neste sentido, a invasão cultural, in-
discutivelmente alienante, realizada maciamente ou não, é sempre uma violência ao ser da cultura
invadida, que perde sua originalidade ou se vê ameaçado de perdê-la´´.
[PRIMEIRAS PALAVRAS

Na introdução da obra, Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire chama a atenção para o medo da
liberdade ou o denominado perigo da conscientização enquanto processo de evolução de uma
consciência ingénua ou mítica para uma consciência crítica, recorrendo à radicalização crítica, cri-
adora e consequentemente libertadora enquanto unidade dialética entre subjetividade e objetivi-
dade, a qual gera um atuar e pensar certos na e sobre a realidade para transformá-la, o que se
transforma em ameaça à classe dominadora, que pela sectorização, obstáculo à emancipação dos
homens, transforma o futuro em algo preestabelecido a par da manutenção de formas de ação
negadoras da liberdade. Assim, a Pedagogia do Oprimido implica uma atitude e postura radicais
baseadas no encontro com o povo através do diálogo enquanto instrumento metodológico que per-
mite a leitura crítica da realidade, partindo da linguagem do povo, dos seus valores e da sua con-
cepção do mundo, transformando-se numa luta pela libertação dos oprimidos.

O medo da liberdade descrito por Paulo Freire, é um medo de quem não tem consciência que
possui. No caso dos opressores, há até aqueles que se dizem a favor da liberdade, mas buscam
qualquer justificativa para negá-la aos oprimidos. Seu temor é, na verdade, comprometer seu status
quo.

No caso dos oprimidos, que pensam e se comportam de acordo com o que lhes prescrevem os
opressores, a liberdade significaria substituir a prescrição dos opressores por outro conteúdo — e
este conteúdo seria elaborado pelos próprios oprimidos, agora autônomos.

Justificativa da Pedagogia Do Oprimido

Neste ponto, Paulo Freire discute o processo de desumanização causada pelo opressor a seus
oprimidos. Ele relata, que a forma de imposição que o opressor envolve o oprimido, e faz com estes
sejam menos, ou seja, vejam-se em condições onde ele precise do seu usurpador. Neste capítulo
Paulo Freire desenvolve dois conceitos importantes: o revolução de contradição. Para ele uma re-
volução no campo da opressão, por buscar mudanças daqueles que dominam, acabam gerando
novos opressores e oprimidos. Já na contradição o opressor se reconhece como o tal e o oprimido
consegue vê-se subjugado por outro. É a contradição que gera a consciência. Mas a autor adverte
que o processo de desintoxicação da opressão deve acontecer de maneira cuidadosa para que os
opressores não venham a ser novos oprimidos. O processo de liberdade deve ser visto e sentido
por ambas as partes. A libertação do estado de opressão é uma ação social, não podendo, portanto,
acontecer isoladamente. O homem é um ser social e por isso, a consciência e transformação do
meio deve acontecer em sociedade.

Em todo o contexto de seu livro, o autor busca mostrar como a educação no Brasil produz um
fetiche social, reproduzindo a desigualdade, a marginalização e a miséria. Ele coloca que o ensinar
a não pensar é algo puramente planejado pelos que estão no poder, para que possam ter em suas
mãos a maior quantidade possível de oprimidos, que se sentindo como fragilizados, necessitam
dos que dominam para sobreviverem. Mas como poderá o homem sair da opressão se os que nos
ensinam são também aqueles que nos oprimem? No desenvolver de seu livro, Paulo Freire
procurar conscientizar o docente do seu papel problematizador da realidade do educando.

Contradição Opressor-Oprimido

Os opressores agem sobre os oprimidos impondo-lhes sua consciência, suas ideias, suas
vontades. Exploram, violentam, desumanizam os outros e, ao mesmo tempo, se desumanizam
nessa desumanização.

Os oprimidos, por sua vez, hospedam os opressores em si mesmos, já não se veem como sujeitos
da sua própria história, dos acontecimentos do mundo, muitas vezes acreditando (sendo levados a
acreditar) no destino ou na vontade de Deus como explicação para sua miséria, para seu
sofrimento, para as injustiças de que são vítimas. Também podem se identificar com os opressores,
querendo se tornar iguais a eles, atraídos por seu padrão de vida.

Superação da Contradição Opressor-Oprimido

De acordo com Freire, não se pode esperar que a superação da contradição entre opressores e
oprimidos parta dos opressores. Isso porque estes usam seu poder para oprimir, explorar e violentar
e não poderiam empregar esse mesmo poder na libertação. Além disso, os opressores em geral
não têm interesse na alteração de sua situação confortável (até porque, para muitos, a manutenção
das injustiças e da desigualdade lhes garante a possibilidade de mostrar uma imagem de
generosidade).

A superação da opressão deve se originar, portanto, nos oprimidos, que podem compreender como
ninguém o significado e os efeitos da opressão e a urgência da libertação. Mas, para se libertarem,
não basta que se reconheçam oprimidos ou em contradição com os opressores. É preciso que
entendam a necessidade de lutar pela libertação e se entreguem à práxis libertadora (que envolve
reflexão e ação). Nessa luta pela libertação, diz Paulo Freire, um ato de amor que se oporá ao
desamor da opressão, os oprimidos libertarão também os oprimidos.

Porém, Freire alerta, não existe superação real da contradição opressor-oprimido quando há
apenas troca de lugares ou quando os oprimidos se tornam opressores de outros sujeitos. E pode
ser que, mesmo havendo uma superação autêntica, os antigos opressores se enxerguem
oprimidos, pois o afastamento de seu “direito” de oprimir os demais pode significar para eles
opressão.
Educação Bancária

A educação bancária, um conceito muito conhecido de Paulo Freire, se refere a uma prática de
ensino que reproduz a sociedade opressora, em que o educador se coloca em posição superior,
de dono do saber — um saber que ele transfere, deposita nos educandos. Na prática, quer dizer
que o aluno é como um cofre vazio em que o professor acrescenta fórmulas, letras e conhecimento
científico até enriquecer o aluno. Logo após a escola, os alunos enriquecidos serão replicadores
daquele conhecimento adquirido. É o ensino tradicional que conhecemos no Brasil. Na visão
bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber
Paulo Freire em Pedagogia do oprimido.

Aos educandos, os recipientes, não resta outra coisa a não ser arquivar os depósitos, memorizá-
los, sem qualquer possibilidade de pensar autenticamente e de criar. Só lhes resta se adaptar. É
importante destacar que nem todos os educadores que praticam a educação bancária sabem que
estão a seu serviço, já que também são fruto dessa mesma concepção de educação.

Educação Dialógica e Libertadora

Com base na temática do analfabetismo, Paulo Freire desenvolveu um trabalho pedagógico que
vislumbra a Educação como um ato libertador, através do qual as pessoas seriam agentes que
operam e transformam o mundo. Este analfabetismo, segundo o autor, possui sua origem em
situações históricas de exploração e opressão das pessoas, impostos por um regime de
dominação, e não na falta de capacidade de aprender de alguns grupos sociais ou no atraso
tecnológico. Seria então a Educação um ato de busca permanente onde o próprio homem é o
sujeito que opera e transforma o mundo através de uma clara compreensão do mesmo que só será
possível com a consciência da realidade concreta.

A educação é dividida pelo autor em duas grandes correntes: a concepção bancária e a concepção
problematizador e libertadora ou humanista. Por educação bancária entende-se a educação
tradicional que reflete uma sociedade opressora e discriminatória no qual os alunos são vistos como
recipientes vazios que docilmente devem receber os depósitos ou conteúdos programáticos pré-
definidos, sendo os educadores, neste contexto, depositantes de conteúdos. Deste ato de
depositar, como depositar valores em um banco financeiro, advém o nome de educação bancária.

Uma visão de educação mais humana é levantada pelo autor em contraposição à educação
bancária. Tal visão ou concepção é tida como sendo problematizadora e libertadora a medida que
a mesma é uma constante busca que visa com que os educandos transformem o mundo em que
vivem. Para tanto, os mesmos devem compreender a realidade que os cerca através de uma visão
crítica da mesma, respeitando-se sua cultura e história de vida.
Tal concepção educacional baseia-se na estimulação da criatividade dos educandos e numa
relação de simbiose entre educador e educando a medida em que procurar misturar os papéis dos
mesmos, pois crê o autor que ninguém educa ninguém e ninguém educa-se a si mesmo, mas os
homens educam-se em comunhão, mediatizados pelo mundo.

O povo e lideranças devem aprender a fazer junto, buscando instaurar a transformação da


realidade que os mediatiza. O autor ainda enfoca que como o ser opressor precisa de uma teoria
para manter a ação dominadora, os oprimidos igualmente precisam também de uma teoria para
alcançar a liberdade. Esse tipo de prática educativa se fundamenta em uma relação horizontal entre
educador e educandos, superando a contradição entre os dois. Nesse contexto, educadores e
educandos, por meio do diálogo e em comunhão, se tornam educadores-educandos e educandos-
educadores, mediados pelo mundo.

Não se trata, porém, de excluir a autoridade do educador, mas de reconhecer que o verdadeiro ato
educativo, que não sirva à alienação, e sim à libertação, não pode ser feito com base na transfe-
rência de conhecimentos. A educação libertadora se funda no diálogo e na prática reflexiva e trans-
formadora.

Assim, um método educacional foi proposto pelo autor como forma de proporcionar uma educação
libertadora. Paulo Freire destaca que os educadores devem assumir uma postura revolucionária
passando a conscientizar as pessoas tanto sobre o processo de aprendizado, incentivando a auto-
reflexão sobre o ato de aprender e de enxergar a realidade, como devem também conscientizar
sobre a ideologia opressora, tendo como compromisso a libertação desta classe, reconhecendo
que a libertação deva ocorrer no todo, e que é por meio da educação que se pode libertar a si
mesmo e o outro. Tal método é qualitativo e não quantitativo, donde não pode ser avaliado pela
quantidade de conteúdos sobre os quais os educando são capazes de dissertar, mas sim pelo
potencial adquirido pelos educandos de transformação da sua própria realidade e do mundo que
os cerca. Seu método está fundamentado em quatro fases:

o Investigação da demanda temática de interesse da comunidade de educandos que se dá atra-


vés do diálogo entre educadores e educandos, investigando o universo e trazendo temas de
interesse dos mesmos. Além disso, é preciso também detectar o nível de consciência dos indi-
víduos sobre os temas já que o importante é justamente fazer nascer esta consciência nos
educandos.
o Escolha e codificação das temáticas adotadas para a investigação e submissão das mesmas à
análise crítica da comunidade de educandos.
o Desenvolvimento de círculos de investigação temática que visam melhorar o nível qualitativo
das propostas temáticas e explicitar precisamente as situações limites a serem trabalhadas. De
tais círculos devem participar tanto educadores quanto educandos.
o Redução dos temas a serem tratados em núcleos fundamentais que constituirão as unidades
de aprendizagem bem como a sequência entre elas. Feito isto, prepara-se o material a ser uti-
lizado e procede-se a sua codificação tendo como perspectiva o canal de comunicação a ser
utilizado.

Duas análises podem ser feitas sobre a pedagogia de Paulo Freire: uma sobre a ótica da relação
entre sujeito-objeto e sobre a ótica da autonomia. Em relação à primeira, o educando é visto como
sujeito da história, construindo uma relação crítica da mesma através de um processo de meta-
reflexão que visa transformação.

Do ponto de vista da autonomia, o educando é visto como um ser autônomo a medida que o mesmo
pode agir como elemento transformador do mundo, ponto chave do processo educacional proposto
pelo autor.

A Escola, na visão de Paulo Freire, deve ser democrática, respeitando o educando como sujeito da
história, e centrada na problemática da comunidade em que vive e atua, propondo práticas peda-
gógicas capazes de provocar no aluno uma consciência crítica fomentadora de transformações
sociais.

A teoria da ação antidialógica

Paulo Freire, no livro Pedagogia do Oprimido, reserva os últimos capítulos para refletir a respeito
das teorias da ação antidialógica e dialógica, a primeira, opressora; a segunda, revolucionário-li-
bertadora. Esta, centra-se nas teorias da ação antidialógica e nas teorias da ação dialógica. O autor
começa por reafirmar que os homens são seres da práxis e que emergem do mundo objetivando-
o, podendo conhecê-lo e transformá-lo com o seu trabalho. O diálogo com os oprimidos é um com-
promisso para a libertação que implica a transformação da realidade, porque os homens são co-
municação e diálogo enquanto análise crítico-reflexiva sobre a realidade.

Afirma Paulo Freire que evitar o diálogo é temer a liberdade e não crer no povo, pelo que chama a
atenção para que as lideranças revolucionárias não se deixem arrastar para posturas característi-
cas das classes dominadoras, como a absolutização da ignorância, a descrença no homem e a
impossibilidade do diálogo. O autor opera, a partir do binômio denúncia-anúncio, uma análise detida
das quatro características principais de cada uma, começando, não por acaso, pela antidialogici-
dade. Antes, porém, preambula no sentido de resgatar algumas noções já exploradas na mesma
obra.

Em seguida, Freire inicia seu detalhamento a respeito dos componentes da teoria da ação antidia-
lógica, começando pela conquista, a divisão do povo, a manipulação e a invasão cultural.
Características da Teoria da Ação Antidialógica

A conquista, que implica um sujeito e um objecto conquistado, impõe o antidiálogo para oprimir
económica e culturalmente para manter a opressão. A colaboração é referida por Paulo Freire em
oposição à conquista, visto que os sujeitos encontram-se para a transformação do mundo juntos
através do diálogo que funda a comunicação, nomeadamente através da problematização da sua
própria opressão. O autor chama a atenção para o facto de a liderança revolucionária estar com-
prometida com uma comunhão com o povo que provoca a colaboração, denominando Paulo Freire
esta revolução de biófila na medida em que é criadora de vida.

Dividir para manter a opressão é outro instrumento das elites opressoras, que recorrem a formas
focalistas de ação que dificultam a percepção crítica da realidade, procurando manter o seu status
quo. Na união para a libertação, em oposição ao dividir para manter a opressão, a liderança deve
obrigar-se à procura da união dos oprimidos entre si e com ela para a libertação, visto que a ação
unificadora é indispensável à prática libertadora.

A manipulação é referida pelo autor como outro instrumento de manutenção da opressão que leva
à massificação, que anestesia as massas para não pensarem, pois ao pensarem ganham consci-
ência revolucionária ou consciência de classe que gera a procura incessante pela libertação. Sobre
a organização, em oposição à manipulação, o autor refere que, ao procurar a unidade, a liderança
já se encontra a efetuar a organização das massas populares. Segundo Paulo Freire, a organização
é um momento altamente pedagógico em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da
autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos como um só procuram instaurar com a transfor-
mação da realidade que os mediatiza.

A invasão cultural, caracterizada por manipulação de conquista, é também uma ação antidialó-
gica, alienante e uma forma de dominar cultural e economicamente, procurando incutir a inferiori-
dade intrínseca nos invadidos. Sobre a síntese cultural, em oposição à invasão cultural, o autor
refere que toda a ação cultural é uma forma sistematizada e deliberada de ação que incide sobre
a estrutura social para mantê-la ou transformá-la, constituindo-se na dialeticidade permanência-
mudança.]

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