- Byung-Chul Han aponta para uma idealização da liberdade como um ato narcisista de afogamento em si mesmo, enquanto Paulo Freire vê a liberdade como uma conquista contínua através da luta contra a opressão.
- Ambos criticam a positividade da facilidade, objetividade, tecnologia e técnica que falta a morada, o descanso e o inútil.
- A dialética de Freire, baseada na experiência nordestina e sertaneja, defende que a liberdade é conquista daquele que
- Byung-Chul Han aponta para uma idealização da liberdade como um ato narcisista de afogamento em si mesmo, enquanto Paulo Freire vê a liberdade como uma conquista contínua através da luta contra a opressão.
- Ambos criticam a positividade da facilidade, objetividade, tecnologia e técnica que falta a morada, o descanso e o inútil.
- A dialética de Freire, baseada na experiência nordestina e sertaneja, defende que a liberdade é conquista daquele que
- Byung-Chul Han aponta para uma idealização da liberdade como um ato narcisista de afogamento em si mesmo, enquanto Paulo Freire vê a liberdade como uma conquista contínua através da luta contra a opressão.
- Ambos criticam a positividade da facilidade, objetividade, tecnologia e técnica que falta a morada, o descanso e o inútil.
- A dialética de Freire, baseada na experiência nordestina e sertaneja, defende que a liberdade é conquista daquele que
Traçar a possibilidade do diálogo entre Paulo Freire e Byung-Chul Han pode
parecer em um primeiro momento uma tentativa arriscada de lançar luz sobre a problemática da liberdade. Se em Agonia do Eros, Han aponta para uma idealização da liberdade e um afogar-se em si mesmo, como um ato narcísico, Freire levanta a seguinte afirmação: “A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca” – isto é, demanda uma conquista, a partir de um ato afirmativo da vida, fugindo das amarras da opressão institucionalizada, na qual os oprimidos estão imersos. Autoexploração é o que segue Byung-Chul Han em suas obras, onde evidencia os mecanismos de uma positividade da facilidade, da objetividade, da tecnologia e da técnica. Não seria estranho constatar uma crítica a noção de uma transcendência, aquela mesma do ir além, aquela do acontecer. Falta a morada, o descanso, o inútil. Ora, onde está o inútil? O fútil? Onde está o dia do Senhor? A liberdade como maldição se entrelaça ao inferno do igual, onde o fitness revela a deusa contemporânea, Saúde! O bem-estar é acima de qualquer coisa o poder de um dever abstrato que engendra seres cada vez mais cansados em seus padrões normativos, absolutos e malditos. Mal-dito pois pouco diz o viver em sua esfera trans. Trans-formação, tran-sitoriedade, tran-subistanciação, trans-mutação, tran-sitivo. Freire como aquele que sabiamente respeitou a alteridade diante de si próprio, estabelece uma dialética, não aquela do Hegel ou do Marx, mas aquela brasileira, nordestina e sertaneja. É com Paulo Freire revelando o lugar que ocupa o oprimido em sua conjuntura social e cultural, que se pode falar de uma liberdade. Liberdade que é conquista daquele que se permite ser ser mais. Aquele que fugindo da prescrição do estranho vai além e inventa sua vida, em uma dialógica potente, onde afetar é sinônimo de cri-ação. Cri-ação é ação. Ação é Eu-Tu. Eu-Tu é desdobramento de possibilidades. Lugares diferentes e problemáticas que parecem se encerrar em si mesmo. Seria cômico pensar a liberdade como um objeto dado, seria o dejeto que o Afonso ressalta. Levemos a ambiguidade do termo “liberdade” para a esfera não teórica, não institucionalizada e muito menos falada. Não objetivemos esta que é aquela que está além do bem e do mal (parafraseando Nietzsche). Liberdade na condição de Freire e Han, ainda que afastadas se aproximam em paradoxo muito interessante: • “Hoje, vivemos numa sociedade que está se tornando cada vez mais narcisista. A libido é investida primordialmente na própria subjetividade.” (Byung-Chul Han); • “Para eles, o novo homem são eles mesmos, tornando-se opressores de outros. A sua visão do homem novo é uma visão individualista.” (Paulo Freire). Evidentemente, seria mais propício uma outra citação de Han, mas esta tem um valor especial. É na libido que vou até o outro, mas nesse caso, ela não é movimento até o estranho, mas até mim. É o meu prazer que deve ser suprido, o outro é apenas meu objeto, meu bem de consumo. Ora! Eu sou um opressor? O meu outro é por si mesmo oprimido? Onde começa e se delineia esses lugares? O oprimido da sala de aula é o estranho que nele deposito meu saber, naquela consciência hospedeira, marcada pela opressão objetivista e técnica. Mas o oprimido também torna-se opressor, na medida em que sendo “homem novo”, longe das amarrações constitutivas da passividade da sala de aula e da falsa ideia de liberdade para empreender a vida, atinge o outro na sua suprema verdade e em si mesmo a partir da autoexploração do sempre mais. Ser mais, não é condição de simples rompimento do oprimido dos lugares calcificados de explorador e explorado, mas é afirmação da vida em todo seu molde. A dialógica não é sociedade positivada. É a negatividade que permite que o outro chegue até mim e eu chegue até ele. Amor, empatia e libertação da dicotomia da exploração de si e do outro é a possibilidade de um emergir do contato com a potência de ser alguém. Ser alguém, é ser ator. Ser ator, é ser inspectador. Ser inspectador, é ser aquele que vive o fenômeno sob o palco da vida.
“Mais uma vez os homens, desafiados pela dramaticidade da hora atual,
se propõem a si mesmos como problema. Descobrem que pouco sabem de si, de seu ‘posto no cosmos’, e se inquietam por saber mais. Estará, aliás, no reconhecimento de seu pouco saber de si uma das razões desta procura.” -Paulo Freire