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Fundamentos da psicologia existencial:

Sartre e a Psicanálise Existencial

A teoria existencialista de Jean-Paul Sartre (1905-1980), está expressa em suas grandes obras filosóficas,
mas também em suas obras literárias, tais como novelas, contos, peças de teatro e também nas críticas
literárias e nas biografias. Justamente por isso, é considerado um dos maiores intelectuais do século XX e
mesmo da própria história do pensamento ocidental. Apesar de ser considerado um filósofo, tentou pensar
uma psicanálise com fundamentos existencialistas, ao qual chamou de “psicanálise existencial”.

Para Sartre, a existência humana precede qualquer essência. Não há qualquer coisa no homem que
possa defini-lo como uma coisa já dada, com um sentido já presente em si mesmo. Só é possível de falar
de uma essência humana à medida que o homem se constrói em seu projeto existencial, na realidade
humana tal como ela é. Tal realidade humana é construída dialeticamente, de modo histórico e material.

Nesse sentido, Sartre apresenta duas ideias fundamentais em sua filosofia: o Em-si e o Para-si.

• O Em-si pode ser entendido como qualquer objeto que existe no mundo e que não é nada para
além daquilo que é; todos os entes que estão simplesmente presentes no mundo são apenas. Em-si.
O modo de ser Em-si é fundamentado em três características: o ser é, o ser é o que é, o ser é em-si.-
Todo o ente que não possui consciência existe no modo de ser do Em-si;
• O Para-si é todo o ente que possui consciência, ou seja, o ser humano é o único ser Para-si. O
modo de ser da consciência não possui nenhuma determinação, o seu ser é definido e delimitado
pela ideia de transcendência ou movimento, um movimento de lançamento da consciência do Para-
-si ao Em-si.

O traço fundamental da consciência transcendental do Para-si é a liberdade. Liberdade em Sartre não


deve ser confundida com livre-arbítrio. A liberdade é, para o existencialismo, projeto de ser, é o caráter
fundamental da existência. Não há como não ser livre, ser humano já implica em liberdade. Ser livre é ter
autonomia para escolher, inclusive para escolher não escolher e deixar que o outro escolha por mim. Um
caráter fundamental da liberdade é a facticidade, ou seja, a liberdade só é liberdade enquanto existe em
um mundo de fato e, na relação com o mundo, se constrói a realidade humana, a compreensão de senti-
do, a delimitação das escolhas, a limitação do corpo, a relação com o outro e o absurdo da limitação da
liberdade: a morte.

A liberdade carrega em si o peso da responsabilidade. A responsabilidade pela minha escolha recai


sobre minha existência, mas também recai sobre o mundo todo. O outro é um tema fundamental da psica-
nálise existencial de Sartre. O outro é, assim como eu, um Para-si, mas a medida que aparece em minha
consciência, o próprio movimento de intencionalidade tende a compreender o outro como um Em-si, ou
seja, como um objeto determinado que me vem ao encontro. O olhar do outro me impõe mundo, limita
minha liberdade, coloca diante de mim a responsabilidade por minha escolha, me apresenta sentidos
sedimentados da intersubjetividade, além de tentar me entender como um Em-si e tirar qualquer grau de
existência autêntica do meu projeto de existência. Daí a famosa frase de Sartre: “O inferno são os outros!”.

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Referências do Texto:

ALT, F. A compreensão em Jean-Paul Sartre e suas possibilidades. In. FEIJOO, A. M. L. C.; LESSA, M. B. M.
F. Fenomenologia e práticas clínicas. Rio de Janeiro: Edições IFEN, 2014.

SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. 1970.

SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 24. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

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