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existencialismo
Resumo:
Na obra de Sartre, podemos destacar dois momentos em que a psicanálise é tratada, a saber, o
primeiro encontra-se em O Ser e O Nada, em que o existencialismo apropria-se da psicanálise; o
segundo, a psicanálise empírica, e não a existencial, é apropriada pelo marxismo, sendo esse
momento abordado pela Crítica da Razão Dialética. O presente trabalho trata do primeiro
momento, no qual Sartre propõe sua psicanálise existencial, desprovida do postulado do
inconsciente. Para expor a nova psicanálise, Sartre analisa Flaubert, fazendo um contraponto à
psicanálise empírica de Freud, e passando por uma crítica à psicologia empírica.
Abstract:
In the work of Sartre, we can to point out two instances in which psychoanalysis is treated,
namely, the first one is in Being and Nothingness, in which the existentialism appropriates
psychoanalysis; in the second psychoanalysis empirical, not existential, is appropriated by
Marxism, and this currently addressed by the Critique of Dialectical Reason. This deals with
the first time, in which Sartre proposes his psychoanalysis existence, devoid of the postulate of
the unconscious. To expose the new psychoanalysis, Sartre examines Flaubert, making a
empirical counterpart to Freud's psychoanalysis.
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Bacharelando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – IFCS.
Orientador: Profº. Drº. Ricardo Jardim Andrade. Email: christiansousa.ribeiro@gmail.com.
Vol. 3, nº 1, 2010.
www.marilia.unesp.br/filogenese 76
Sartre, antes de apresentar a psicanálise existencial faz uma crítica à psicologia
empírica e, por extensão, à teoria psicanalítica ou à psicanálise empírica, pois esta parte
do postulado do inconsciente, sendo o mesmo preeminente em relação à consciência, e,
assim sendo, encontra–se cindida, pois de um lado temos a consciência e de outro o
inconsciente, opondo–se à noção do homem enquanto liberdade, nada de ser, pura
indeterminação. O que Freud considera inconsciente, na verdade pertence à consciência,
pois por ser consciente de si, o homem pode negar–se, o que caracteriza a má fé, que se
fundamenta na relação entre ser e não ser, pois posso ser na forma de não ser, ou seja,
ainda que negue um aspecto considerado nocivo, ajo de maneira a fixar uma essência,
como, por exemplo, a mulher frígida, que ao negar o prazer sexual, prova a si mesma
ser frígida. Assim, ser frígida é a essência da mulher frígida. Em última análise, o
inconsciente corrobora com o ato da má fé, pois mascara os estratagemas desta.
A psicologia empírica, por sua vez, busca a causa de determinada conduta. Por
exemplo, um homem rico construiu sua riqueza porque nele havia uma inclinação, no
caso a ambição, que o fez, através de muito trabalho, tornar–se rico. Podemos pensar em
outras inclinações que eventualmente caracterizam este homem, como ganância, cobiça,
obstinação, que seriam a causa de seu caráter. Além de reduzí–lo a algumas tendências,
a psicologia empírica ignora a contingência ou a possibilidade de não haver causa
alguma que determine o caráter do homem rico. Assim sendo, tanto o reducionismo,
que não analisa o homem em sua inteireza, como o determinismo, que o define como
fruto de uma relação causal, impedem a possibilidade de transcendência da realidade
humana, pois ambos ignoram a possibilidade do homem transcendê–la.
Sartre (1997, p. 683) dá o exemplo, abaixo transcrito, de um crítico literário que,
ao fazer uma análise psicológica de Flaubert, acaba reduzindo–o a algumas tendências
genéricas que estão presentes em todo mundo, mais especificamente nos adolescentes:
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A busca por um fundamento ontológico da realidade humana é um absurdo,
visto que ele não existe. A realidade humana existe contingentemente, ela simplesmente
está aí, lançada no mundo sem que haja uma dependência ontológica, ou seja, ela não
deriva de um princípio ou essência, pois por contingência ela se faz. Assim, o homem
não é, mas se faz, à medida que escolhe uma possibilidade de ser, sendo esta escolha
indeterminada, pois ela é transitória, muda a todo instante, a cada vez que a liberdade é
exercida. Assim, Sartre inverte a ontologia tradicional, pois a existência é o princípio
ontológico da realidade humana, não sendo a causa desta, uma vez que ambas se
confundem, pois a realidade humana existe, ela se faz, não havendo uma relação causal.
A realidade humana existe simplesmente, sem que haja uma justificação por uma causa
que a anteceda e a sustente.
A análise psicológica de Flaubert está baseada no princípio de causalidade,
frontalmente criticado por Sartre, pois contrapõe–se à idéia de contingência. As
inclinações de juventude de Flaubert justificam a razão dele ser escritor, elas
determinam Flaubert como escritor. O postulado da causalidade opõe–se à liberdade,
pois o ato intencional visa uma finalidade, que é o motivo da ação, não sendo assim um
efeito de uma determinada ação. Assim, a liberdade enquanto ação intencional, que visa
uma finalidade, que é o motivo da ação, não nega o motivo desta, pois caso contrário,
comprometeria a própria estrutura da consciência, que é consciência de algo e é
intencional. A intencionalidade da consciência estrutura a própria liberdade, à medida
que esta é uma ação intencional, o que não quer dizer que ela tenha uma causa, mas tem
um motivo que aparece em todo o processo do ato, não sendo antecedente. Conforme
ressalta Silva (2003, p. 137):
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Após criticar a psicologia empírica, Sartre compara as duas psicanálises, a
existencial e a empírica, apontando as semelhanças e, sobretudo, as diferenças. Em
linhas gerais elas utilizam o método psicanalítico, sendo a psicanálise existencial
inspirada na teoria psicanalítica instituída por Freud. Ambas, segundo Sartre (1997, p.
696): “consideram todas as manifestações objetivamente discerníveis da “vida psíquica”
como sustentando relações de simbolização a símbolo com as estruturas fundamentais e
globais que constituem propriamente a pessoa”. Isto significa que o método
psicanalítico analisa a vida psíquica relacionando as suas relações simbólicas com as
estruturas fundamentais que constituem a pessoa enquanto indivíduo. As duas
psicanálises rejeitam a existência de dados primordiais, como inclinações hereditárias,
caráter etc. Pois: “a psicanálise existencial nada reconhece antes do surgimento original
da liberdade humana; a psicanálise empírica postula que a afetividade primordial do
indivíduo é uma cera virgem antes de sua história” (Ibdem, p. 696-697). Aqui também
aparece a primeira diferença, a saber, a psicanálise existencial parte da liberdade
humana, a empírica tem a história individual como ponto de partida.
Seguem mais semelhanças, conforme podemos notar na seguinte passagem:
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Até aqui listamos brevemente as semelhanças, e agora podemos apresentar a
psicanálise existencial propriamente dita. Em primeiro lugar, a escolha original não é
um fundamento determinado, dado que ela se faz de maneira contingente, de forma que
a mesma está dada sem nenhuma justificação; diferentemente da psicanálise empírica,
que determinou o complexo de Édipo como o fundamento da realidade humana, sendo a
libido uma característica essencial deste complexo. Assim, é perfeitamente possível
conceber uma realidade humana que não tivesse o complexo de Édipo como seu
fundamento, pois sendo esta realidade humana contingente, é necessário analisar seu
fundamento que não tem justificação, visto que é gratuito, a saber, a escolha original.
Segundo, a escolha original não é procedente de coisa alguma nem causa da realidade
humana; ao contrário, a libido parece ser a causa do complexo de Édipo ou nela este
tem sua origem.
Por fim, a psicanálise existencial renuncia, destaca Sartre (1997, 701):
Referências
SILVA, F. L. Ética e literatura em Sartre: ensaios introdutórios. São Paulo: Ed. Unesp,
2004.
SARTRE, J. P. O Ser e o Nada. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
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