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Existencialismo A Filosofia Do Direilo
Existencialismo A Filosofia Do Direilo
2. Idem, ib id em .
3. Idem, ib id em .
A filosofia de que nos ocupamos é um a progénie dileta
do extremismo, da vã presunção de que a ocupação de um dos
ram os do ser implica no absoluto repúdio do seu contrário. O
equilíbrio, a harm onia, o perfeito acasalam ento da ação com
o pensamento, da justiça com o am or e de tudo o mais que
indique a plena utilização pelo espírito humano de tôdas as
potencialidades benéficas foi desprezado. Estam os, por conse-
guinte, no século das opções, das escolhas radicais. O existen-
cialismo, morm ente o existencialismo ateu de JEAN-PAUL
SARTRE, querendo defender a existência do totalitarism o
essencialista — cujas nascentes rem ontam ao essencialismo
platônico — , prega o abandono in extremis das essências.
Não obstante, como em todos os extremismos, a paixão cega
de defender costum a redundar no efeito contrário de compro-
m eter o que se defende. . .
A existência sem a essência perde-se num a evanescência,
num a pseudo-coerência sem as fundam entações imprescindí-
veis. O existencialismo sartriano, como já foi dito, não é bem
um a filosofia ou um complexo coerente de pensamentos, mas,
sim, um estado d ’alma, uma nuvem, um a noite, um v a p o r. . .
F ru to sazonado do ativismo contemporâneo, o existencialismo
evanescentista nasceu da vigorosa reação de KIERKEGAARD
contra a ditadura filosófica de H EG EL no pensam ento atual.
E ntretanto, há existencialismo e existencialism os. Como em
todo estudo humano, podemos dividi-lo em dois ram os: o
existencialismo teísta ou cristão de GABRIEL MARCEL,
JA SPER S e KIERKEGAARD e o antiteísta de SARTRE e
SIMONE BEAUVOIR. Registremos, ainda, um a corrente me-
nor, a «do centro» (cuja presença é indefectível em tôda dico-
tom ia), com orientação realm ente agnóstica (apesar dos dizeres
em contrário de SARTRE), encabeçada pelo alemão HEI-
DEGGER. Não andaríam os mal, contudo, se incluíssemos êsse
último na lista dos existencialistas ateus, não abonando a
argum entação de SARTRE, m as aplicando-se as palavras ditas
pela bôca do CRISTO, segundo as quais «quem não é a meu
favor é contra m im ».
O próprio SARTRE reconhece essa bifurcação do pensa-
mento existencialista, afirm ando que «tal dicotomia é que
complica as coisas», ficando, num extremo, os cristãos e, nou-
tro, os ateus, entre os quais se coloca a si próprio e HEI-
DEGGER, m algrado os protestos categóricos dêste últim o. . . 4
«Em um dos casos se afirm a a primazia da existência,
m as de modo a implicar e salvar as essências ou naturezas
e a exteriorizar um a vitória suprem a da inteligência e da inte-
ligibilidade — é o que considero o existencialismo verdadeiro,
diz-nos JACQUES MARITAIN. 5 No outro caso afirm a-se
igualmente a prioridade da existência, m as como destruindo ou
suprimindo as essências ou naturezas e como comprovadoras
de uma suprem a falência da inteligência e da inteligibilidade —
é o que considero o existencialismo apócrifo. . . » N a verdade,
o existencialismo de SARTRE tem um dos seus princípios
fundam entais na afirm ação da eterna derrota do intelecto
humano, dizendo de si próprio ilógico, ou melhor, além da
lógica, meta-lógico, como terem os a oportunidade de expli-
citar mais adiante.
2 — DIREITO E EXISTENCIALISMO
12. “Le N atu rism e E x isten cia liste”, in “D roit P olitique e H um anis-
m e”, ed . R . P ichon e R . D urand-A uzias — P aris, 1955.
IV — O homem sartriano é um solitário. Não possui qual-
quer elemento de estabilidade exterior ou de transcendência
superior, como já frizam os. Assim, nada vale a não ser o que
faz de si. O homem é a sua auto-construção, é a sua vida.
Mas deve realizar tal obra sozinho, sem qualquer socorro divino
ou humano, pois não possui compromissos com nada nem com
ninguém. É o que J. P . SARTRE entende por liberdade, da
qual faz um dos postulados de sua filosofia. O homem existe
apenas, não possui essência ou natureza. E, por ser assim,
não tem nenhuma finalidade o seu ex istir. O homem deve
existir por am or ao existir, eis a síntese do existencialismo
sartrian o . Aparece, então, outro ponto basilar do pensamento
existencial-ateu: o subjetivismo absoluto. O homem encontra-
se fèrream ente prêso dentro de si mesmo, escravo de si pró-
prio, qual um a ilha sem o istmo que a ligue ao continente.
Trata-se de um a dedução da supressão da natureza hum ana:
reduziu-se o homem a um mundo fechado, ficando numa angus-
tiante situação de completa impossibilidade de comunicação
com o seu sem elhante. Por fôrça da ausência de qualquer
elemento de permanência exterior, o ser hum ano é um segre-
gado, um universo diferente, com aspirações e naturezas alheias
às dos outros homens e, principalmente, com leis próprias e
particularíssim as. T rata-se de um individualismo feroz. Cada
um por si e ninguém por ninguém, é o brado de alerta da
revolução sa rtria n a .
Assim, estam os diante de um a concepção filosófica nimia-
mente anti-social. O homem de SARTRE nada deve nem deseja
da sociedade. Sua vontade é, apenas, existir — pois ta l é a
única realidade — , seja de que m aneira fô r.
Ora, somos dos que pensam que não é a sociedade nem
o Estado que fazem o Direito; o Direito origina-se da n atu -
reza h u m an a. Em outras palavras, o direito tem suas nascentes
no Direito N atural, entendendo-se êste como «uma ordem ou
disposição existente, real, em virtude da própria natureza hu-
mana, ordem ou disposição que a razão hum ana pode descobrir
e segundo a qual a vontade hum ana deve agir para pôr-se em
consonância com os fins essenciais e necessários do ser hu-
mano». 13 M ister se faz, contudo, a te n ta r p ara o fato de que,
se o direito não é «feito» pela sociedade, é elaborado p ara a
vivência em sociedade. O direito regula as ações do homem
enquanto «zoon politikon». O jurídico existe p ara a sociedade,
p ara harm onizar os interêsses individuais com os do todo, a
fim de que haja, em suma, um a coletividade e um a fr a te r -
nidade m ais perfeitas entre os homens, clima propício ao ente
hum ano p ara a consecução de seu fim últim o. O Direito, as-
sim, executa um movimento em sentido contrário ao do exis-
tencialismo: aquêle é aglutinador, catalizador, centrífugo, f r a -
tern al; êste é dissociador, subjetivista, centrípedo, anti-fra-
te m a l. Não pode haver traço de união entre espécies tão
antípodas. O existencialismo é anti-jurídico por excelência.
SARTRE, aliás, assevera o existencialismo é a filosofia
da angústia. O homem sartrian o é um angustiado, consti-
tuindo êsse sentim ento um dos pontos característicos da filo-
sofia de que tra ta m o s. Isso significa que o homem se encontra
num a situação de completa incompatibilidade perante o m u ndo.
O eu e o não-eu não se coadunam, se degladiam continuamente,
pois, como vimos, segundo SARTRE, cada ser hum ano é um
universo autônomo, com leis próprias, em tudo diferente dos
dem ais. E n tre diferentes, que se não conhecem, é inexequível
outro estado que não o da incompatibilidade, «só se am ando
o que se conhece», como ensina o adágio popular. Tal angústia
difere substancialm ente do desespêro kierkegaardiano, não
cabendo aproxim ações entre ambos, pois, segundo êsse último,
o homem deve se desesperar de tudo, exceto de Deus, o que
é um a sem i-verdade. . . O cristão nunca se desespera, jam ais
é um eterno angustiado, pois vive em Cristo e o C risto nêle,
ta l como o apóstolo PAULO. Cristianism o é Paz e A m or. O
existencialismo, pregando a prim azia da angústia sôbre a paz,
m ais um a vez, coloca-se frontalm ente contra o Direito, que
3 — PALAVRAS FINAIS
4 — NOTAS BIBLIOGRAFICAS
L y d i o M a c h a d o B a n d e i r a d e M e l l o — “M a n u a l d e D ir e ito P e n a l ” , I
v o lu m e , e d iç ã o d a F a c u ld a d e d e D i r e it o d a U . M . G . , B e lo H o r iz o n te ,
1953.
— “Curso de Filosofia” — 3? edição, AGIR, Rio, 1957.
R é g is J o l l iv e t
— “Les doctrines existencialistes de K ierkegaard à S a rtre ” — ed. Fon-
tenelle, Paris, 1949.
T h e o b a l d o M ir a n d a “Manual de Filosofia” — 8» edição, Cia.
Sa n t o s —
E ditora Nacional, São Paulo, 1957.