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MÓDULO II

INTRODUÇÃO AO
FILOSOFAR

Curso Online

Filosofia 360°
Prof. Dr. Mateus Salvadori
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INTRODUÇÃO AO FILOSOFAR

1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA

1.1 Definição da filosofia

. E�mologia e admiração:
- Definir o que é filosofia já é em si um problema filosófico. A filosofia possui
muitas definições e isso varia a par�r de cada perspec�va, período e até
mesmo varia a par�r de cada filósofo.
- E�mologicamente, o termo FILOSOFIA surgiu com Pitágoras e significa amor
à sabedoria. Para ele, a sabedoria só é possível à divindade. Os seres humanos
colocam-se em busca da sabedoria, mas nunca chegariam à sua posse. Por
isso, o filósofo é amigo da sabedoria e não sábio. A mesma a�tude teria Sócra-
tes.
- Para Platão e Aristóteles, na raiz da filosofia está o admirar-se, o encantar-se.
E essa é uma tendência natural dos seres humanos. Assim, nos dis�nguindo
dos animais, podemos dizer que todos somos filósofos. Por outro lado, a a�tu-
de filosófica não se contenta com explicações simplistas e superficiais, senão
cairíamos no senso comum.

. Filosofia e outros �pos de conhecimento:


- É importante aqui destacar que há vários �pos de conhecimento: popular
(senso comum), filosófico, cien�fico, ar�s�co e religioso. Portanto, a filosofia é
um saber à parte dos demais saberes e não pode confundir-se com qualquer
outro conhecimento. Há áreas, como a é�ca e a meta�sica, que são estrita-
mente filosóficas. Já outras, como a Filosofia do Direito ou a Filosofia da Mate-
má�ca, que tratam de um objeto de uma ciência par�cular (a lei e o número).
Assim, o que define a filosofia é a sua abordagem.
- De forma muito simples e inicial, podemos dizer o seguinte sobre a filosofia:
o objeto da filosofia são os conceitos abstratos e o método é o crí�co-reflexi-
vo; as ciências são dogmá�cas e a filosofia é an�dogmá�ca; se perguntarmos:
“que horas são?” e “o que é o tempo?”, somente a segunda pergunta é filosófi-
ca, ou seja, a filosofia não faz perguntas pragmá�cas e sim especula�vas; a
filosofia é para todos, mas não é para qualquer um.

. Algumas definições da filosofia:


- “A filosofia é a ciência dos FUNDAMENTOS da realidade. Lá onde as outras
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ciências param, onde, sem mais indagar, aceitam os pressupostos, aí entra o


filósofo e começa a inves�gar. As ciências conhecem – mas o filósofo pergunta
o que é o conhecimento; as ciências estabelecem leis – mas o filósofo ques�o-
na o que é lei. A filosofia é uma ciência radical, no sen�do em que ela VAI ÀS
RAÍZES.” (Bochenski, Diretrizes do pensamento filosófico).
- “Parte-se da convicção de que NADA DO QUE É HUMANO É ALHEIO À FILOSO-
FIA.” (Abbagnano, História da Filosofia).
- “O filósofo é amigo do CONCEITO. A filosofia, mais rigorosamente, é a disci-
plina que consiste em criar conceitos. Os conceitos não nos esperam inteira-
mente feitos.” (Deleuze; Guatari, O que é filosofia?).
- “Se se deve filosofar, deve-se filosofar e, se não se deve filosofar, deve-se filo-
sofar; de todos os modos, portanto, SE DEVE FILOSOFAR.” (Aristóteles apud
Aranha e Mar�ns, Filosofando).
- “O que pretendo sob o �tulo de filosofia, como fim e campo das minhas ela-
borações, sei-o, naturalmente. E, contudo, não o sei... Qual o pensador para
quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um ENIGMA? Só os pen-
sadores secundários que, na verdade, não se podem chamar filósofos, estão
contentes com as suas definições.” (Husserl apud Aranha e Mar�ns, Filosofan-
do).
- “Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que
não pense, precisamente porque PENSAR é próprio do homem como tal.” As
questões filosóficas fazem parte do nosso co�diano. “O filósofo profissional ou
técnico não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com
maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a histó-
ria do pensamento, sabe explicar o desenvolvimento que o pensamento, teve
até ele e é capaz de retomar os problemas a par�r do ponto em que se encon-
tram, depois de terem sofrido as mais variadas tenta�vas de solução.” (Grams-
ci apud Aranha e Mar�ns, Filosofando).
- Não se ensina filosofia, mas a FILOSOFAR. (Kant, Crítica da razão pura). A filo-
sofia é uma a�tude, um pensar permanente.
- “A filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas
que a realidade apresenta. RADICAL significa raiz, fundamento, base. Portanto,
a filosofia é radical não no sen�do corriqueiro de ser inflexível (nesse caso
seria a an�filosofia!), mas na medida em que busca explicitar os conceitos fun-
damentais usados em todos os campos do pensar e do agir; RIGOROSA porque
o filósofo usa de linguagem rigorosa para evitar as ambiguidades das expres-
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sões co�dianas, o que lhe permite discu�r com outros filósofos a par�r de con-
ceitos claramente definidos; DE CONJUNTO, pois a filosofia é globalizante,
porque examina os problemas sob a perspec�va de conjunto, relacionando os
diversos aspectos entre si. Nesse sen�do, a filosofia visa ao todo, à totalidade.
Daí sua função de interdisciplinaridade, ao estabelecer o elo entre as diversas
formas de saber e agir humanos.” (Dermeval Saviani apud Aranha e Mar�ns,
Filosofando).

1.2 Importância da filosofia

- A pergunta “Qual é a sua importância?” não é feita para a medicina, para o


direito ou para a engenharia, mas é comum que ela seja feita para a filosofia.
- “Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for ú�l; se
não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabe-
lecidos for ú�l; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da
história for ú�l; se conhecer o sen�do das criações humanas nas artes, nas
ciências e na polí�ca for ú�l; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os
meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prá�ca que deseja a
liberdade e a felicidade para todos for ú�l, então podemos dizer que a Filosofia
é o mais ú�l de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.”
(Chaui, Convite à Filosofia).
- “O obje�vo do pensar filosófico é levar a uma forma de pensamento capaz de
iluminar-se interiormente e de iluminar o caminho diante de nós. A filosofia é
universal. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à filosofia
interessa-se por tudo. Mas não há um ser humano que possa tudo conhecer.
O simples saber é uma acumulação, a Filosofia é uma unidade.” (Jaspers, Intro-
dução ao pensamento filosófico).
- “Estudar filosofia tem por obrigação ser emocionante e talvez um pouco per-
turbador. Emocionante porque pode abrir novas perspec�vas sobre o mundo
e nós mesmos e fornecer instrumentos poderosos para pensar claramente
num vasto domínio de contextos. Perturbador, talvez, porque quando é levada
a sério a filosofia toma muito pouco por garan�do. Podemos descobrir que a
filosofia põe em causa aquilo em que sempre acreditamos.” (Warburton, Ele-
mentos Básicos de Filosofia).
- “No universo do u�litarismo, um martelo vale mais que uma sinfonia, uma
faca mais que um poema, uma chave de fenda mais que um quadro: porque é
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mais fácil compreender a eficácia de um utensílio, enquanto é sempre mais


di�cil compreender para que podem servir a música, a literatura ou a arte”. Se
ficamos indiferentes ao que de fato pode dar algum sen�do à vida – àquilo que
nos faz humanos –, corremos o risco de viver como os peixes na historinha que
o escritor David Foster Wallace (1962-2008) contou para um grupo de estu-
dantes do Kenyon College, em Ohio (EUA), no dia da formatura deles: dois
peixes jovens nadando um ao lado do outro encontram um peixe mais velho
que os cumprimenta e diz: “Bom dia, jovens, como está a água?”. Os dois peixi-
nhos passam pelo velho, nadam mais um pouco e um olha para o outro: “Que
diabos é água?”. “Não nos damos conta, de fato, de que a literatura e os sabe-
res humanís�cos, a cultura e a educação cons�tuem o líquido amnió�co ideal
no qual podem se desenvolver vigorosamente as ideias de democracia, liber-
dade, jus�ça, laicidade, igualdade, direito à crí�ca, tolerância, solidariedade e
bem comum.” (Ordine, A utilidade do inútil).
- As ideias movem o mundo. As ideias são um �po de visão ampliada, profunda
a ponto de se compreender algo na sua totalidade. Nem todos podem ser filó-
sofos. (Eduardo Prado de Mendonça, O mundo precisa de filosofia).
- Já parou para dar uma olhada nas listas com as possíveis profissões do
futuro? Elas geralmente apresentam ocupações nas áreas de tecnologia e en-
genharia. Mas, segundo o historiador israelense Yuval Noah Harari, em 21
lições para o século 21, um profissional até então sem muito valor no mercado
pode ganhar espaço nos próximos anos: o filósofo. A valorização do filósofo
deve ocorrer por causa da inteligência ar�ficial. Os filósofos ajudariam na pro-
gramação de máquinas inteligentes, principalmente aquelas que, no futuro,
precisem lidar com dilemas morais.

2. PARADIGMAS, ESFERAS E QUESTÕES


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2.1 História da Filosofia

- Se como disse Aristóteles, a filosofia começa com o espanto, ela deve ser tão
an�ga quanto a própria humanidade. Mas, até onde sabemos, antes de 600
a.C., as reações aos enigmas próprios da condição humana eram mí�cas e reli-
giosas, envolvendo apelo à tradição e ao sobrenatural. A filosofia grega an�ga
con�nuou durante todo o período helenís�co e no período em que a Grécia e
a maioria das terras habitadas por gregos faziam parte do Império Romano. A
filosofia foi usada para extrair sen�do do mundo.
- A filosofia do chamado período medieval, do declínio da cultura pagã clássica
ao Renascimento, se caracteriza pelo interesse de pensadores judeus, cristãos
e muçulmanos em combinar a filosofia grega e romana com a ortodoxia reli-
giosa.
- Com o fim da Idade Média, um espírito renascen�sta floresceu na Europa.
Nesse período de inovação e descoberta, surgiu uma nova cepa de pensadores
que contestaram as ideias medievais ortodoxas sobre a ordenação do Univer-
so e da sociedade. Há o florescimento da ciência e o desenvolvimento das
grandes concepções epistemológicas e é�co-polí�cas que marcaram o pensa-
mento moderno.
- A filosofia contemporânea, do séc. XIX aos dias atuais, derrubou as certezas
do pensamento clássico. Estudar filosofia abre novas perspec�vas sobre o
mundo e nós mesmos e fornece instrumentos poderosos para pensar clara-
mente num vasto domínio de contextos. Podemos descobrir que a filosofia
põe em causa aquilo em que sempre acreditamos.

2.2 Áreas filosóficas

- Qualquer assunto filosófico está inserido numa das áreas da filosofia e co-
nhecer as áreas, os seus limites, os seus problemas e conceitos (ser, jus�ça,
Deus, amor, verdade, alma etc.) é central para uma melhor compreensão de
qualquer estudo que você irá desenvolver em filosofia.
- Eis algumas áreas filosóficas: filosofia do direito, filosofia polí�ca, filosofia da
história, epistemologia, teoria do conhecimento, filosofia da ciência, filosofia
da biologia, filosofia da matemá�ca, esté�ca, filosofia da linguagem, filosofia
da mente, é�ca, antropologia filosófica, lógica, filosofia da educação, meta�si-
ca, filosofia da natureza e filosofia da religião.
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2.3 Questões filosóficas (Blackburn, Pense: uma introdução à Filosofia)

- Muitas vezes, a filosofia examina crenças que quase todos aceitam acri�ca-
mente a maior parte do tempo. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas
delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia
não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como
ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos.
- Eis algumas perguntas que qualquer um de nós pode fazer sobre nós
mesmos: o que sou eu? O que é a consciência? Será que eu posso sobreviver
à morte do meu corpo? Será que posso ter a certeza de que as experiências e
sensações das outras pessoas são como as minhas? Se eu não posso par�lhar
as experiências das outras pessoas, será que posso comunicar com elas? Será
que agimos sempre em função do nosso interesse próprio? Será que sou uma
espécie de fantoche, programado para fazer as coisas que penso fazer em
função do meu livre-arbítrio?
- Eis algumas perguntas sobre o mundo: por que razão há algo e não o nada?
Qual a diferença entre o passado e o futuro? Por que razão a causalidade acon-
tece sempre do passado para o futuro, ou será que faz sen�do pensar que o
passado pode ser influenciado pelo futuro? Por que razão é a natureza regu-
lar? Será que o mundo pressupõe um Criador? E, se pressupõe, será que pode-
mos compreender por que razão ele (ou ela ou eles) o criou?
- Por fim, eis algumas perguntas sobre nós e o mundo: como podemos ter a
certeza de que o mundo é realmente como pensamos que é? O que é o conhe-
cimento e que quan�dade de conhecimento temos? O que faz de uma área de
inves�gação uma ciência? (Será a psicanálise uma ciência? E a economia?)
Como conhecemos os objetos abstratos, como os números? Como conhece-
mos os valores e os deveres? Como podemos saber se as nossas opiniões são
obje�vas ou apenas subje�vas?

3. A FILOSOFIA E A CRÍTICA DAS NOSSAS CRENÇAS (Jerome Stolnitz, A estheti-


cs and Philosophy of Art Criticism)

. A função e o espírito da filosofia:


- Se �vesse de escolher uma só palavra para descrever a função e “espírito” da
filosofia, seria crí�ca. Mas o significado desta palavra não deve ser mal-enten-
dida. Quando dizemos, quo�dianamente, que “somos crí�cos rela�vamente
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àquela pessoa”, queremos geralmente dizer que lhe encontramos defeitos. A


filosofia não é “crí�ca” neste sen�do. Não se trata da procura rabugenta de de-
feitos. Ao invés, a filosofia é “crí�ca” num sen�do mais lato.
- Neste sen�do, a filosofia examina algo para determinar os seus pontos fortes
e fracos. A inves�gação crí�ca ocupa-se tanto das virtudes como dos defeitos
do que estuda. Ora, o que estuda a filosofia cri�camente? Não é tão fácil res-
ponder a esta questão como se poderia pensar. Pode dizer-se, contudo, que a
filosofia critica algumas das crenças mais importantes e comuns dos seres hu-
manos.

. Estamos sempre agindo à luz das nossas crenças:


- Virtualmente, todos os seres humanos adultos, seja qualquer for a cultura ou
período histórico em que viveram, �veram diversas crenças sobre diversos
assuntos. As crenças não são como que outras tantas coisas nas prateleiras dos
nossos armazéns intelectuais, geralmente sem qualquer uso, mas a que oca-
sionalmente limpamos o pó e �ramos da prateleira — para conversar de trivia-
lidades, por exemplo. As crenças são muito mais importantes do que isto, pois
controlam e dirigem o curso das nossas vidas. ESTAMOS SEMPRE A AGIR À
LUZ DAS NOSSAS CRENÇAS.
- O que tomamos como verdadeiro sobre o mundo e sobre nós mesmos é cru-
cial para a nossa decisão de agir de uma maneira e não de outra. As suas cren-
ças sobre si próprio determinam a sua escolha de uma determinada área de
estudos; as suas crenças sobre os outros determinam a sua escolha da pessoa
que convida para sair. Assim, muitas coisas dependem da solidez das nossas
crenças. A ação não será geralmente compensadora nem terá sucesso a não
ser que se baseie em crenças fidedignas. A ação que não conte com a lucidez
da crença verdadeira está condenada a ser incerta e fú�l. É o produto da
supers�ção, do “palpite” ou da inércia.
- AS CRENÇAS ESTUDADAS PELA FILOSOFIA SÃO AS QUE SUBJAZEM AO NOSSO
COMPORTAMENTO EM ÁREAS CENTRAIS DA EXPERIÊNCIA HUMANA. No caso
da é�ca, a filosofia não se ocupa tanto de decisões morais específicas – deve-
rei dizer uma men�ra para ganhar mais nesta transação comercial? – mas
antes dos princípios do correto e do incorreto nos quais a decisão se baseia.
Um homem cujos princípios morais não são sólidos irá agir de maneira mes-
quinha e repreensível. A situação é semelhante na área de experiência de que
nos ocuparemos – a criação e apreciação ar�s�cas. O prazer que temos com a
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arte – se o temos – depende das nossas crenças sobre a sua natureza e valor.

. Crenças e autoridades:
- O que significa, especificamente, dizer que a filosofia faz a “crí�ca” das
nossas crenças? Para começar, admitamos que a maior parte das nossas cren-
ças sobre questões vitais como a religião e a moralidade são manifestamente
acrí�cas. Faça uma vez mais uma pausa para avaliar as suas crenças sobre
estas questões, perguntando-se por que razão veio a ter as crenças que tem.
- Na maior parte dos casos, você descobre que não “veio a ter” tais crenças em
resultado de uma reflexão prolongada e séria sobre elas. Pelo contrário, acei-
tou-as com base em alguma autoridade, isto é, um indivíduo qualquer, ou ins-
�tuição, que lhe transmi�u essas crenças. A autoridade pode ser os seus pais,
professores, igreja ou amigos. Muitas das nossas crenças são tomadas de
assalto pelo que chamamos vagamente “sociedade” ou “opinião pública”.
- Estas autoridades, regra geral, não lhe impõem as suas convicções. Ao invés,
o leitor absorveu essas crenças a par�r do “clima de opinião” no qual se desen-
volveu. Assim, a maior parte das suas crenças sobre questões como a existên-
cia de Deus ou sobre se por vezes é correto men�r são ar�gos intelectuais em
“segunda mão”. Mas isto não significa, claro, que essas crenças sejam necessa-
riamente falsas ou que não sejam sólidas. Podem perfeitamente ser sólidas.
Os artigos em “segunda mão” por vezes são muito bons.
- O que está em causa, contudo, é isto: UMA CRENÇA NÃO É VERDADEIRA SIM-
PLESMENTE PORQUE UMA AUTORIDADE QUALQUER DIZ QUE O É. Suponha
que, perante uma certa crença, eu lhe pergunte: “como sabe que isso é verda-
de?”. Certamente que não seria sa�sfatório responder “porque os meus pais
(ou professores, ou amigos, etc.) me disseram”. Isto, em si, não garante a ver-
dade da crença, porque tais autoridades se enganaram muitas vezes.
- Verificou-se que muitas das crenças sobre medicina dos nossos antepassa-
dos, que eles transmi�ram às gerações posteriores, eram falsas. E desde que
se fundaram as primeiras escolas, os estudantes encontraram erros no que os
seus professores diziam e, eles, os estudantes, tentaram encontrar por si cren-
ças mais sólidas. A VERDADE DE UMA CRENÇA TEM DE DEPENDER DOS SEUS
PRÓPRIOS MÉRITOS. Se o leitor aceitar uma “lei” cien�fica que leu num
manual, essa lei é válida não porque está escrita num manual, mas porque se
baseia em provas experimentais e no raciocínio matemá�co.
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. A a�vidade crí�ca da filosofia:


- Estamos jus�ficados em aceitar uma crença unicamente quando esta é sus-
tentada por provas e lógica sólida. Mas, a maior parte de nós nunca testa as
nossas crenças desse modo. É aqui que entra a a�vidade “crí�ca” da filosofia.
A FILOSOFIA RECUSA-SE A ACEITAR QUALQUER CRENÇA QUE A PROVA E O RA-
CIOCÍNIO NÃO MOSTREM QUE É VERDADEIRA/VÁLIDA. Uma crença que não
possa ser estabelecida por este meio não é digna da nossa fidelidade intelec-
tual e é habitualmente um guia incerto da ação.
- A filosofia dedica-se, portanto, ao exame minucioso das crenças que aceita-
mos acri�camente de várias autoridades. Temos de nos libertar dos preconcei-
tos e emoções que muitas vezes obscurecem as nossas crenças.
- A filosofia não aceitará uma crença só porque tem sido venerada pela tradi-
ção ou porque as pessoas acham que é emocionalmente compensador aceitar
essa crença. A filosofia não aceitará uma crença só porque se pensa que é
“simples senso comum” ou porque foi proclamada por homens sábios. A filo-
sofia tenta nada tomar como “garan�do” e nada aceitar “por fé”. Dedica-se à
investigação persistente e de espírito aberto, para descobrir se as nossas cren-
ças são jus�ficadas, e até que ponto o são. Deste modo, a filosofia impede-nos
de nos afundarmos na complacência mental e no dogmatismo em que todos os
seres humanos têm tendência para cair.

INDICAÇÕES DE LEITURAS

1. História da Filosofia, de Reale e An�sseri (7 vol.)


2. História da Filosofia, de Christoph Helferich
3. Dicionário de Filosofia, de Abbagnano
4. Convite à filosofia, de Marilena Chaui
5. Filosofando, de Maria L. A. Aranha e Maria H. P. Mar�ns
6. Fundamentos da Filosofia, de Gilberto Cotrim
7. O mundo precisa de Filosofia, de Eduardo Prado de Mendonça
8. Sobre a construção do sentido, de Ricardo Timm de Souza
9. A utilidade do inútil, de Ordine,
10. Filosofia para todos, de Chrisman e Pritchard
11. Convite à Filosofia, de Enrico Ber�
12. O mundo de Sofia, de Gaarder
13. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein, de
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INTRODUÇÃO AO FILOSOFAR

Danilo Marcondes
14. O Livro da Filosofia, vários autores
15. Uma Breve História Da Filosofia, de Nigel Warburton
16. 100 Argumentos Mais Importantes da Filosofia Ocidental, de Michael
Bruce e Steven Barbone
17. Tudo o que você precisa saber sobre filosofia: o guia completo da filosofia
para você abrir a mente sem sofrer, de Paul Kleinman
18. Filosofia: uma introdução por disciplinas, de Pedro Galvão
19. Pense: uma introdução à filosofia, de Blackburn
20. Problemas de Filosofia, de Rachels
21. Uma breve introdução à filosofia, de Nagel
22. Simplicidades insolúveis: 39 histórias filosóficas, de Casa� e Varzi
23. 100 experiências de pensamento para a vida cotidiana: o porco filósofo, de
Baggini
24. Os arquivos filosóficos, de Stephen Law
25. 101 problemas de filosofia, de Mar�n Cohen

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