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FILOSOFIA

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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hiperconhecimento: Digital e Interativo / Equipe DCL.


São Paulo: DCL, 2016.

ISBN 978-85-368-2200-6.

1. Arte 2.Biologia 3. Espanhol 4. Filosofia 5. Física


6. Geografia 7. História 8. Inglês 9. Matemática 10. Português
11. Química 12. Sociologia
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Filosofia

Por que estudar


Filosofia?
Dentre várias utilidades, os
conhecimentos na área de
Filosofia são importantes para
que você consiga associá-
los à concepção de uma
educação para a liberdade,
proporcionando-lhe a
formação de um ser pensante
e autônomo, dotado de uma
identidade social única.

148 HIPERCONHECIMENTO
Filosofia

HIPERCONHECIMENTO 149
Filosofia

Originalmente, a Filosofia era tida como a


ciência mestra e, portanto, abarcava todas Sócrates
as formas do conhecimento humano, tanto
Sócrates viveu em Atenas entre 470-399 a.C.
social quanto natural.
Era um homem frio, mas que, quando falava,
era dono de um estranho fascínio, o que le-

1
vou muitos a serem seus discípulos. Para ele,
o problema da salvação da alma, abstendo-se
Capítulo de tudo o que não gerasse o bem – única
felicidade para o homem – era seu objetivo;
Introdução por isso o homem deveria conhecer a si pró-
prio. Seu método consistia em fazer pergun-
tas e analisar as respostas até a verdade ser

“F
ilosofia” é uma palavra grega. Atribui-se a Pi-
conhecida, processo chamado de maiêutica.
tágoras (séc. VI a.C.) a primeira utilização do
termo “filósofo” (philos – amigo, amante; so- Foi acusado de corromper a juventude e de
phia – sabedoria). Determinar em que consiste a ati- ateísmo e foi condenado à morte por enve-
vidade do filósofo é uma tarefa extremamente difícil, nenamento com Cicuta.
porque cada pensador, cada corrente de pensamento
dá uma resposta diferente. Em linhas gerais, pode-
mos dizer que seu objetivo é o conhecimento.
Estátua de
É possível defini-la como a ciência dos princípios e Sócrates
das causas. O princípio abarcaria a totalidade das ciên- esculpida
cias, mas o avançar dos conhecimentos particulares fez
segundo
que eles se distanciassem do tronco filosófico original.
Prova disso é que os primeiros filósofos eram, entre ou- descrição
tras coisas, matemáticos, astrônomos, naturalistas etc. fisionômica
a ele
A corrente positivista tem afirmado que a Filosofia atribuída.
constitui a intenção de racionalizar todos os aspectos (British
que afetam a vida do homem que, em função da época
Museum,
cronológica, não podem ser tratados cientificamente.
Londres)

150 HIPERCONHECIMENTO
Capítulo
Objeto da Filosofia
2
Platão

E
xistem várias opiniões entre os próprios filóso-
fos e as correntes filosóficas sobre o verdadeiro
objeto da Filosofia. Platão, filósofo grego, viveu entre 427e
Para Kant, a matéria de estudo da Filosofia é a teoria
347 a.C. Foi discípulo de Sócrates, viajan-
do conhecimento, mas com um enfoque diferente das
outras ciências, até quando se analisa o mesmo fenô- do pelo Egito, Cirene e Magna Grécia.
meno. Segundo ele, a Filosofia estuda a possibilidade do Recolheu a herança filosófica de seu
conhecimento, e as demais ciências simplesmente co- mestre e expôs o problema da verdade,
nhecem.
Os existencialistas afirmam que o objeto de estudo
que conduz ao da salvação da própria
filosófico (que não se qualifica como ciência) é o su- alma. Fundou em Atenas a Academia,
prarracional, o que não é razão. que só foi fechada por Justiniano, em
Para outros, o ponto central de seu desenvolvimen-
529 d.C. Dedicou grande parte de seu
to é o homem visto como fundamento e base de tudo.
Além dessas, existem outras teorias a respeito pensamento e tempo ao estudo da
de quais elementos pertencem exclusivamente ao política e, em seu livro A República,
campo filosófico, mas a mais consensual é o estudo dos manifestou suas ideias, como a de que
fundamentos, dos métodos, da antologia, dos problemas-
a política deve visar ao bem público. Seu
-limite e das questões fundamentais do homem, com uma
característica própria de estudar (chegar à raiz, à essên- pensamento exerceu grande influência
cia profunda), diferentemente das outras ciências. em Plotino e nos neoplotinos.

Em linhas gerais, a filosofia divide-se em gran-


des áreas que, por definição, debruçam-se sobre ob-
jetos de estudo distintos e específicos. São elas:

• Lógica

• Ética

• Filosofia Política

• Estética

• Metafísica

• Antropologia

• Cosmologia

• Epistemologia

HIPERCONHECIMENTO 151
Filosofia

3
Com Platão, estabelece-se a filosofia idealista.
A influência das doutrinas pitagóricas e eleáticas revela-se
Capítulo em suas colocações sobre a existência do mundo sensível
e do inteligível.
Um pouco mais tarde, descobre a realidade, juntamen-
A Filosofia grega te com Aristóteles.
Outro grande pensador desse período foi Aristóteles
(384-322 a.C.). Ele concebia a Filosofia como essencialmen-

A
filosofia grega foi dividida em quatro períodos:1o te teorística. O seu problema fundamental é o problema do
Pré-socrático (séc. VI - IV a.C.): problemas cosmo- ser, e não o problema da vida. O objeto próprio da Filosofia,
lógicos. Conhecido também como Período Natura- em que está a solução de seu problema, são as essências
lista. Os pré-socráticos, e dentro deles os jônios, estavam imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universo e o
convencidos de que havia uma matéria-prima da qual to- necessário, as formas e suas relações.
das as demais seriam compostas. Tratado de maneira não 3o Pós-socrático (séc. IV a.C. - VI d.C.): problemas mo-
mitológica, eles contribuíram para o surgimento de um es- rais. Conhecido também como Período Ético, é a fase em
pírito filosófico. Destacou-se nesse período Tales de Mileto que o interesse filosófico é voltado para os problemas mo-
(624-? a.C.), considerado o primeiro filósofo grego. rais, decaindo, entretanto, a metafísica.
Não deixou nada escrito, mas sabe-se que ensinava O conceito de Filosofia como norma de conduta é
ser a água a substância única de todas as coisas. encontrado na escola estoica, que deixa de lado a física e a
2o Socrático (séc. IV a.C.): problemas metafísicos. Co- lógica; a epicúrea, cuja doutrina se concentra no princípio
nhecido também como Período Sistemático ou Antropoló- do prazer como supremo bem; a acética, que opta por du-
gico, o mais importante da história do pensamento grego vidar da realidade do mundo exterior e renunciar à busca
(Sócrates, Platão, Aristóteles), em que o interesse pela natu- da verdade, e, finalmente, a eclética, que toma de diversas
reza é integrado pelo interesse do princípio ético com base doutrinas uma série de princípios que se incorporam ao seu
no qual construíram os sistemas filosóficos. sistema único.
O interesse de Sócrates (469-399 a.C.) volta-se para 4o Religioso: assim chamado pela importância dada à
o mundo humano-espiritual, com finalidades práticas e religião. A busca filosófico-religiosa tinha caráter sincrético,
morais. Sócrates é o fundador da ciência moral. Cético a que tem em comum a aspiração ao conhecimento salvador
respeito da cosmologia e da metafísica, sua ciência possí- de Deus. Fizeram parte desse período os neopitagóricos, os
vel era a da prática, mas dirigida pelos valores universais. gnósticos e os neoplatônicos.
Para ele, o saber está interiorizado, firmado na famosa
frase: “Conhece-te a ti mesmo”, que, em seu pensamento,
significa precisamente consciência racional de si mesmo
para organizar racionalmente a própria vida. O que signi- Aristóteles
fica consciência da própria ignorância inicial e, portanto, a
necessidade de superá-la pela aquisição da ciência, ou seja, Aristóteles, filósofo e naturalista grego, nasceu
a ignorância é vista como método para chegar ao saber. em Estagira e viveu entre 384 e 322 a.C. Foi o
Platão (428 ou 427 - 348 ou 347 a.C.) foi discípulo de pensador que mais influenciou o pensamento
Sócrates, mas sua genialidade aflorou antes mesmo de co-
nhecer o mestre.
medieval europeu. Discípulo de Platão, siste-
Para Platão, a Filosofia também tem um fim prático, matizou a Lógica (Organon), notabilizando-se
moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. por isso, que é o instrumento para o correto
Esse fim prático se realiza intelectualmente por meio da
e seguro pensamento, criou a Metafísica,
especulação e do conhecimento da ciência. Platão, dife-
rentemente de Sócrates, estende tal indagação ao campo que estuda os princípios últimos e as causas
metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade. primeiras do conhecimento, sendo que o
mundo é composto
por substâncias e seus
Sócrates, considerado o maior filósofo de acidentes, em que as
todos os tempos, nunca deixou registrada substâncias se caracte-
sequer uma linha de sua obra. Costumava rizariam como suporte
caminhar descalço e não tinha o costume de para as qualidades.
tomar banhos. Em muitas ocasiões parava o Fundou, como Platão,
que quer que estivesse fazendo, ficando imó- um centro de estudos
vel por horas a fio, meditando sobre algum em Atenas, que foi
problema. denominado Liceu.

152 HIPERCONHECIMENTO
Capítulo
Filosofia cristã e medieval
4 Santo Tomás de Aquino
Natural de Roccasecca, Itália, Santo Tomás
de Aquino nasceu em 1225 e faleceu em
1274. Foi educado em Monte Cassino, es-

A
Filosofia cristã e medieval desenvolveu-se durante
a Idade Média, considerada a “Idade das Trevas”, tudou em Nápoles as artes liberais e entrou
ou seja, período no qual eram perseguidos todos na ordem dominicana, renunciando a tudo,
aqueles que elaborassem teorias contrárias àquelas que salvo à ciência. Dedicou-se, em seguida, ao
se fundiam com a doutrinação realizada pela fé católi-
ca. Nesse sentido, pensar no desenvolvimento do pensa- estudo da Teologia e da Filosofia.
mento filosófico em um período em que a prática de re- As obras de Tomás de Aquino podem ser
fletir era perseguida exige astúcia por parte dos filósofos divididas em quatro grupos:
que encabeçaram esse movimento, como Santo Tomás
1) Comentários; 2) Sumas;
de Aquino.
A ideia de subordinação do homem em relação à 3) Questões; 4) Opúsculos.
Deus acabou predominando durante muito tempo o A verdade lógica não está nas coisas nem
pensamento filosófico medieval. sequer no mero intelecto, mas na adequa-
O pensamento filosófico da Idade Média caracte-
ção entre a coisa e o intelecto. O sinal pelo
rizou-se pela preocupação em conciliar a razão com a
fé, tentando harmonizar a herança da filosofia greco- qual a verdade se revela à nossa mente é a
-romana com os dogmas do cristianismo. Nessa época, evidência. A forma é a essência das coisas
a conceituação da Filosofia estava na dependência, so- – água, ouro, vidro – e é universal. Tomás
bretudo, das delimitações entre os territórios da religião
e da especulação filosófica, o que foi feito de diversas sustentou que Deus pode demonstrar-se
maneiras. unicamente mediante a razão, partindo da
A partir do século XI, aprecia-se um ressurgir natural experiência.
na Europa Ocidental, depois de um período em que a cul-
tura ficou confinada aos monastérios, determinado tam-
bém pelo fim das invasões e de um retorno ao intercâm-
bio pelo Mediterrâneo. Nesse contexto, podemos registrar
a presença de Roger Bacon (1210-1292) e Santo Tomás de
Aquino (1224-1274), que representou o ponto culminante
para a escolástica quando procurou adaptar as ideias aris-
totélicas à dogmática cristã.

Santo Tomás de
Aquino tornou
o trabalho de
Aristóteles aceitável
na Europa Ocidental
cristã por meio
de sua metafísica.
Deduziu que a
existência de Deus
poderia ser vista na
natureza.

HIPERCONHECIMENTO 153
Filosofia

5
formidade com as coisas e com a inteligência geradora,
da qual dependem: verdade lógica, que está de acordo
Capítulo com o pensamento e a ação; e verdade moral, que está
de acordo com o que se pensa e o que se diz; portanto, a
verdade é um valor ao qual todo ser humano busca.
Razão, verdade,
conhecimento e lógica
Maquiavel

D
e modo abrangente, podemos dizer que razão é
o poder do conhecimento intelectual, oposto à Niccolau Maquiavel, historiador e políti-
sensibilidade, é o poder de raciocinar, de ascender
co italiano, nasceu em 1469 e faleceu em
às ideias, pressupondo quatro termos que fazem parte da
Filosofia: certeza, lucidez, motivo e causa, sendo deno- 1527, vivendo em Florença no tempo dos
minada por luz e luz natural. Existem a razão subjetiva e a Médici. A Itália, na sua época, possuía um
razão objetiva. A primeira é a sustentação de que o objeto poder fragmentado, o que a levava a ser
do conhecimento é racional, e a segunda sustenta que o
uma presa fácil de outros povos estrangei-
sujeito do conhecimento e da ação é racional.
ros, por isso escreveu, em O Príncipe (1513),
A razão pressupõe quatro princípios: uma apologia de razão de Estado. A partir
dele, teve início a ciência política como a
1 Princípio de identidade;
compreendemos hoje, pois em seu livro é
2 Princípio da não contradição; apresentada a necessidade de o governan-
te possuir o apoio do povo; além disso, o
3 Princípio do terceiro excluído;
príncipe tem de ser um indivíduo especial,
dotado de força, valor e qualidade de lutar,
4 Princípio da razão suficiente.
representando as tendências políticas de
Esses princípios apresentam algumas caracterís- seu tempo, quando se constituem as mo-
ticas essenciais:
narquias.
• não têm conteúdo delimitado;
• têm valor universal;
• são imprescindíveis para o pensamento, vontade,
fatos e acontecimentos.

ATIVIDADE RACIONAL
A atividade racional engloba dois tipos: a ativi-
dade racional discursiva e a atividade racional intuitiva.
A primeira abrange a dedução (raciocínio que vai do
geral ao particular), a indução (raciocínio que vai do
específico, isto é, de dados particulares, para o geral) e
a abdução (espécie de intuição, mas que não ocorre de
uma só vez, indo gradualmente até chegar a uma con-
clusão); já a segunda abrange a intuição (conhecimen-
to imediato, feito sem intermediários, que é, portanto,
um ato intelectual de entendimento).
A corrente filosófica que defende o uso da razão é cha-
mada de corrente racionalista. Nessa corrente, a razão é
sempre utilizada em nome do interesse coletivo, princi-
palmente do planejamento da organização econômica de
uma sociedade. Os principais racionalistas, expoente da filo-
sofia são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Leibniz.

Verdade
É a conformidade entre o conhecimento e o objeto,
dividindo-se entre verdade metafísica, que está em con-

154 HIPERCONHECIMENTO
6
O pensamento é a atividade racional do homem e
divide-se em pensamento teórico e pensamento prático.
Capítulo O primeiro tem por objetivo o entendimento conceitual do
mundo e o segundo busca estruturar a realidade. Pode ser
ele mítico ou lógico: é mítico quando faz parte da área de
Conhecimento atuação do pensamento simbólico, por meio de uma nar-
rativa, que encerra uma verdade, seja ela real, seja valorizada

D
esde o início da Filosofia, a preocupação com o pela imaginação popular; e é lógico quando produz concei-
conhecimento foi constante, tanto que desde De- tos de modo diverso e mesmo contrário ao do pensamento
mócrito, que desenvolveu uma teoria sobre o ser ou mítico, isto é, quando é realizado conforme os princípios de
sobre a natureza, o conhecimento está presente, e, por cau- identidade, contradição, razão e casualidade.
sa disso, gerou-se a Teoria do Conhecimento; isto é, uma
construção intelectual para explicar o conhecimento. Para
Bacon, o conhecimento humano seria reformado por meio
do crescimento dos conhecimentos e das técnicas, das
ciências e da própria Filosofia. Locke foi o criador da Teoria
do Conhecimento propriamente dita porque observou mi-
nuciosamente cada uma das formas do conhecimento que
temos; portanto, ele é basicamente uma reação do organis-
mo a um impulso conveniente.

PERCEPÇÃO E MEMÓRIA
A percepção e a sensação são dois modos essenciais
do conhecimento sensível. Dentro dessa dimensão, o em-
pirismo e o intelectualismo são duas correntes filosóficas
que as concebem, pois, para os empiristas, a sensação é ele-
mento da percepção sensorial, e tanto ela como a percep-
ção são causadas por estímulos externos que atuam sobre
os sentidos e o sistema nervoso; já para os intelectualistas,
tanto uma como outra dependem do sujeito do conheci-
mento e da coisa externa, que são somente fatores para que
a sensação e a percepção ocorram.
A memória é a lembrança do passado, é a qualidade
que tem o homem para segurar o tempo que já passou.
Ela, para os antigos gregos, caracterizava-se como uma
entidade sobrenatural. Filósofos como Bergson diferen-
ciaram dois tipos de memória: a memória hábito (adqui-
rida pela atenção deliberada e pela repetição de gestos
e palavras) e a memória pura (não tem necessidade de
repetição para guardar uma lembrança), a qual possui
dentro da relação memória e teoria do conhecimento al-
gumas funções, como a retenção de uma informação da
percepção, seja pela experiência, seja pelo conhecimento
adquirido, e a faculdade para lembrar o passado a partir
do tempo presente.

IMAGINAÇÃO E PENSAMENTO
A Filosofia sempre entendeu a importância da imagi-
nação, colocando-a como um subterfúgio do objeto que se
percebe e que fica retido em nossa consciência, sendo, por-
tanto, a capacidade de gerar imagens na mente, voltando a
vivenciar experiências perceptivas que passaram, combi-
nando, de forma livre, informações dessas experiências. Da
relação imaginação e teoria do conhecimento, a primeira
tem dois lados: de um, é subsídio importante para o conhe-
cimento da verdade, e, de outro, é um perigo muito grande
para o conhecimento verdadeiro.

HIPERCONHECIMENTO 155
Filosofia

Capítulo
Lógica
7 Capítulo
Desenvolvimento da Filosofia
8
A
lógica é entendida como a parte da Filosofia que A MODERNIDADE
estuda definições do pensamento segundo a sua
forma (conceitos, juízo, raciocínio) e suas relações Como evolução natural das características históri-
mútuas; portanto, trata do estudo que fixa normas para as cas que configuram a Baixa Idade Média, desenvolve-se
condições da verdade (do resultado e da verdade da argu- uma etapa, que inclui os séculos XV e XVI, conhecida
mentação). Foi sistematizada por Aristóteles e constituiu- como Modernidade.
-se durante toda a Idade Média como matéria essencial ao Nesse período, desenvolve-se na política xa monar-
lado da Filosofia e da Teologia, e na Idade Moderna teve quia autoritária, os avanços científicos são conhecidos
grande predomínio, pois ligou-se de forma íntima ao (Copérnico, Kepler, Galileu) e novas formas estéticas já
método e à ciência matemática. A lógica matemática ou não estão exclusivamente a serviço do religioso. A es-
simbólica visa superar as dificuldades de qualquer língua, colástica, característica da Idade Média, entra em crise.
por isso foi criada uma linguagem simbólica artificial, cujo
precursor foi Frege, no fim do século XIX, e que foi desen- Os representantes que mais se destacaram nesse
volvida no século XX por Bertrand Russell e Whitehead. A período foram:
lógica dialética fundamenta-se no princípio de identidade, • Descartes (1596-1650), que inaugurou a tradição
isto é, parte de uma concepção estática da realidade. racionalista e postulou uma verdadeira investi-
De acordo com Aristóteles, a lógica é dividida em ló- gação pessoal, cujo desenvolvimento propôs o
gica formal, ou menor, e lógica material, ou maior; e a pri- seguinte método: reunir em si o rigor da lógica
meira fixa a forma certa das operações do pensamento, e a formal e das matemáticas, usando as quatro regras
segunda é a parte da lógica que estuda o emprego segundo fundamentais – não aceitar como certo o que não
a matéria ou qualidade dos objetos a conhecer. resulte evidente à compreensão; analisar os pro-
A proposição é a significação lógica do juízo, a ar- blemas decompondo-os em seus elementos cons-
gumentação é o ato pelo qual o espírito adquire um novo titutivos; chegar à síntese partindo dos elementos
conhecimento, e a dedução, a indução, a analogia e a intui- simples e remontando-se progressivamente aos
ção são elementos da lógica, sendo que a última pode ser mais complexos; proceder a enumeração e a re-
dividida em intuição sensível, intuição racional, intuição visão da forma mais completa possível dos resul-
psíquica, intuição mística, intuição inventiva e intuição tados da investigação, a fim de certificar-se de que
metafísica. não incorreu em omissão.
A lógica é uma das áreas da filosofia que mais foi apro-
priada pela Matemática. Atualmente, exercícios de lógica
que envolvem estratégias, suposições e pensamento racio-
nal são amplamente utilizados como métodos de ensino Descartes
da Matemática.
René Descartes nasceu em Touraine, em
1596. Foi educado pelos jesuítas e faleceu
em Estocolmo, em 1650. Hoje é considera-
do o criador do racionalismo moderno e da
moderna filosofia, principalmente por causa
do seu método crítico e subjetivo, dedutivo
e matemático. Possui obras filosóficas e seu
método cartesiano pode ser entendido por
meio de quatro momentos: intuição, análise,
síntese enumeração completa. Para ele, a
alma espiritual é tirada do pensamento e a
existência de Deus é tirada por meio da alma
que pensa, por meio da ideia de perfeito.

156 HIPERCONHECIMENTO
• Spinosa (1632-1677), que achou um fim em Des- Representantes do Iluminismo: Jean-Jacques Rous-
cartes que seria o ponto de partida para sua espe- seau (1712-1778), autor da novela pedagógica Emílio, em que
culação, cuja centralização é no problema da subs- expõe como deve ser a educação da criança desde a mais ten-
tância, tal como via Descartes: a substância é o que ra idade, incluindo conselhos sobre como criar filhos.
é em si e concebe-se por si. Escrita em 1754, a obra O Discurso sobre a origem e
• Leibniz (1646-1716), cuja preocupação essencial os fundamentos da desigualdade entre os homens é consi-
era estruturar organicamente as relações entre a derada por muitos filósofos a principal obra de Rousseau.
tradição religiosa e a nova perspectiva do mundo Além de abordar temas políticos e filosóficos a respei-
do século XVII. to da relação homem-sociedade, explica também de
modo muito particular como o indivíduo pode con-
Já dentro do empirismo, versão inglesa do racio- servar sua bondade natural. A teoria de Rousseau sus-
nalismo, encontramos como precursor Francis Bacon tenta que ‘o homem é bom, a sociedade o corrompe’.
(1561-1628), que ambicionou repassar o aristotelismo Propunha a igualdade e a conciliação das liberdades indivi-
pelo seu próprio método. duais e as exigências da vida social, tudo presidido por uma
• Thomas Hobbes (1588-1679), fundamentado em ordem natural.
uma base cartesiana, chega a uma concepção ma- Voltaire (1694-1778), moralista, menos filósofo que
terialista do mundo. Além de John Locke (1632- Rousseau, rechaçou o obscurantismo, em que não via
1704), Berkeley (1685-1753) e Hume (1711-1776). muita saída para o homem, a não ser pela sã razão, clarifi-
cadora e ilustrada.

Da esquerda para
a direita, René
Descartes, Thomas Rousseau
Hobbes e Leibniz.
Jean-Jacques Rousseau, filósofo e escri-
tor suíço de língua francesa, nasceu em
Genebra, em 1712, e faleceu em 1778,
tendo vivido desde 1742 em Paris. Lá fez
amizade com o grupo de Diderot, ao qual
pertenciam, entre outros, D’Alembert e
Voltaire, os quais ficaram sendo conhe-
cidos como os enciclopedistas. Como
na França existiam as ideias liberais que
O Iluminismo culminaram na Revolução Francesa, sua
No pensamento iluminista, a razão é sinônimo de obra teve grande influência sobre esse
todas as forças espirituais fundamentais e independen- fato. Sua tese é a de que o homem é bom
tes. A manifestação axial desse período é a Enciclopé-
por natureza e quem o corrompe é a
dia, publicação que tem por objeto todos os conheci-
mentos da época e sua divulgação. Aparece entre 1751 sociedade, sendo que a vontade do povo
e 1780, editada por Diderot e D’Alembert, e dentre seus é a única origem da hegemonia das leis
colaboradores encontram-se Voltaire, Rousseau etc. No e, conforme sua obra O Contrato Social,
espírito enciclopedista confluem várias tendências,
que vão do deísmo inglês, que propunha uma religião este deve originar-se do consentimento
natural, desprovida de dogmas e ritos, às ideias dos re- de todos.
presentantes da primeira ilustração francesa.

O idealismo alemão
O pensamento de Kant (1724-1804), criador do Idealis-
mo crítico, admite a ciência universal, desde que haja um
conhecimento integrado apriorístico das coisas ou obje-
tos da possível experiência. Sua ideia era sintetizar as duas
correntes filosóficas da modernidade: o racionalismo e o
empirismo. Sua obra expressa com claridade e exatidão o
Da esquera para direita: Diderot, D’Alembert caráter autônomo da razão tal como a concebem os ilumi-
e Rousseau. nistas do século XVIII.

HIPERCONHECIMENTO 157
Filosofia
A superação do kantismo ocorre com Hegel (1770-1831). O pensamento hegeliano (que não se propõe de-
Sua filosofia tem, como poucas, uma clara, concreta e rica finir um ideal mais ou menos acessível, apenas com-
importância político-social que se alimenta e vive em estreita preender a realidade) influenciou a filosofia de nosso
relação com os acontecimentos de seu tempo; repensa e re- tempo, e, sem dúvida, o estudo e a interpretação de
sume toda a tradição ocidental e elabora uma teoria sobre a sua obra equivalem a enfrentar-se os problemas cru-
realidade na multiplicidade de suas formas e aspectos. ciais contemporâneos.

O materialismo e o positivismo
Em meados do século XIX, percebe-se um interesse
pela realidade imediata.
Stendhal e Balzac podem considerar-se os inicia-
Capa da dores dessa corrente, que culmina com o naturalismo
maior de Zola.
obra de
Immanuel Nesse cenário, surgiu Karl Marx (1818-1883). Depois
Kant: de se interessar pela filosofia de Hegel, conheceu En-
Crítica gels e estudou os economistas, materialistas e socialis-
da Razão
Pura tas utópicos franceses e, com base nisso, desenvolveu
(1787). sua teoria.
Marx aplicou o termo dialética à sua interpretação
da História: o método dialético aplica-se a uma realidade
objetiva para analisar seus aspectos e elementos contra-
ditórios, assim como as conexões entre eles, e chegar a
estabelecer sua unidade no conjunto de seu movimento.
Viu a alienação sob uma perspectiva sociológica: resulta
das condições a que as coletividades humanas estão sub-
metidas como consequência da divisão social do trabalho.
Os mecanismos sociais, alheios ao domínio racional dos
homens, engendram doutrinas enganosas (códigos mo-
rais e religiões). O marxismo implica a crítica dos sistemas
morais do passado, fruto das condições de existência que
a dinâmica histórica invalida constantemente.
Kant
Immanuel Kant, filósofo alemão de Königs-
berg, nasceu em 1724 e faleceu em 1804.
Sempre teve interesse pela ciência newto-
niana, já elaborada. Escreveu o livro Crítica
da Razão Pura, que apresenta a matéria do
conhecimento, por meio da experiência
realizada depois do fato e as formas do co-
nhecimento que não dependem de expe-
riência anterior e que se realizam sempre
questionando se existe uma razão pura que
não dependa de experiência. Para ele, o
correto é que o conhecimento deveria vir de
critérios universais, da mesma forma que a
experiência sensível. Seu pensamento ficou
conhecido como idealismo transcendental,
colocando na expressão transcendental tudo
o que é anterior à experiência. Ele acredita
que a religião depende da ética, e a existên-
cia de Deus é deduzida da lei moral.
Auguste Comte.

158 HIPERCONHECIMENTO
Como fundador do positivismo, temos Auguste Comte Uma célebre frase de Marx sobre a filosofia inspi-
(1798-1857), filósofo francês. O núcleo da filosofia positi- ra sua teoria de crítica à sociedade vigente, incitando
vista é a chamada lei dos três estágios (teológico, meta- `transformação social: “Os filósofos se limitaram a in-
físico e positivo), que se traduz em uma nova periodização terpretar o mundo de diversas formas. O que importa é
do processo histórico e uma nova classificação das ciências. transformá-lo”.
Para os existencialistas, o homem está condenado a
O existencialismo ser livre. Portanto, todas as ações humanas são possíveis
e nos dão direito à escolha, o que revela que o homem
O existencialismo não constitui propriamente uma é um ser com autonomia moral, política e existencial,
escola filosófica, mas sim uma tendência do pensamen- além de ter responsabilidades sobre seus atos. A liberda-
to contemporâneo, justificável pela atmosfera política e de é, portanto, uma condição inseparável da existência
cultural do século XX – século de tensões e de questio- humana.
namento de valores. Como filosofia, volta-se preferen-
cialmente para a questão da existência humana. Outras correntes e filosofias do século XX
O existencialismo opõe-se ao otimismo idealista e
positivista e aplica à investigação da realidade métodos No início do século XX, houve um novo flores-
assemelhados com a fenomenologia. cimento do pensamento neokantiano na Alemanha.
Na Inglaterra, seus filósofos divergem da maneira de
enfrentar o problema metafísico. Têm em comum a
Marx reação contra o idealismo hegeliano e a abordagem
de complexos problemas lógicos, matemáticos e epis-
Karl Marx, filóso- temológicos. Nesse contexto estão Moore e Russel.
fo e economista Como representante do realismo crítico, nos Estados
socialista Unidos aparece Santarjana.
Após a morte de Marx, sua teoria é reinterpretada por
judeu-alemão, vários pensadores: Kautsky, Lukács, pelo italiano Grams-
nasceu em ci (1891-1937), que traz um novo enfoque do marxismo
1818 e faleceu ao propor uma síntese entre a versão leninista daquela
em 1883. doutrina e a tradição filosófica ocidental, num cená-
rio italiano. Althusser (1918-1990) elabora sua própria
versão: aplica o método estruturalista ao pensamento de
Estudou Direito Marx, livrando-o de confrontos ideológicos.
e Filosofia e, A filosofia do fim do século XX deu um grande
migrando para destaque à investigação e ao estudo dos problemas do
homem.
Entre os campos de análise filosóficos figuram te-
Paris e depois para Bruxelas, tornou-se mas como a violência do homem, o terrorismo, a políti-
amigo de Engels e escreveu com ca do meio ambiente e as mudanças sociais produzidas
pelo avanço da tecnologia. A filosofia intercultural é
ele o Manifesto Comunista, sendo o
também abordada em diversos estudos.
criador do materialismo histórico e do
socialismo científico. Para ele, o homem
é um sujeito portador de necessidades
e que, para satisfazê-las, organiza-se
para produzir bens. A categoria
fundamental (ponto de partida)
não é o sujeito nem o objeto, e sim a
relação estabelecida entre eles, sendo
o trabalho transformador a categoria
fundamental da História. Da esquerda
para direita,
Sartre, Russel,
Kierkegaard (1813-1855) é considerado seu fun- Lukács, Gramsci,
dador e Jean-Paul Sartre (1905-1980), é uma as figuras
Althusser.
exponenciais do existencialismo. Suas ideias têm in-
fluenciado várias doutrinas políticas.

HIPERCONHECIMENTO 159
Filosofia

Exercícios

1 (UEM - somatória) “Sócrates: Imaginemos que existam


pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa
caverna entra a luz vinda de uma fogueira situada so-
c) Apresenta princípios simbólicos que fornecem expli-
cações para a realidade universal;
d) Exige que a explicação seja coerente, lógica e racional;
bre uma pequena elevação que existe na frente dela. e)Tolera a imaginação como instrumento de interpreta-
Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância, ção para a realidade.
algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de
modo que não conseguem mover-se nem olhar para
trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Na-
quela situação, você acha que os habitantes da caver-
3 (UEMS) A religião grega era, sobretudo, antropomórfi-
ca, desta forma seus deuses tinham (recordar do mito
de ‘Narciso’):
na, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver a) as fraquezas, as paixões e as virtudes humanas, mas,
outra coisa além das sombras que o fogo projeta na apesar de serem eternos e mais felizes do que os mor-
parede ao fundo da caverna?”. (PLATÃO. A República tais, não fugiam ao fatalismo do destino, por vezes
[adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Sci- cruel;
pione, 2002. p. 83). b) as conquistas latinas, as paixões esvoaçantes, e eram
Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas conhecidos como Zeus, Era e Atena;
que ele representa, assinale o que for correto. c) as mortes precoces, os amores prematuros, e eram
01 - No mito da caverna, Platão pretende descrever os Mercúrio, Netuno e Dionísio;
primórdios da existência humana, relatando como d) as populações com culto de origem oriental, era o
eram a vida e a organização social dos homens no deus do vinho, das águas e celestial;
princípio de seu processo evolutivo, quando habita- e) as deusas, os deuses, as festas, a sabedoria.
vam em cavernas.
02 - O mito da caverna faz referência ao contraste ser
e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o
pensamento filosófico desde sua origem e que é as-
4 (UNICAMP) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense
que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de
partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na
sumido por Platão em sua famosa teoria das Ideias. obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos
04 - O mito da caverna simboliza o processo de eman- que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens.
cipação espiritual que o exercício da filosofia é capaz Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates
de promover, libertando o indivíduo das sombras da chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos de-
ignorância e dos preconceitos. mais por reconhecer a sua própria ignorância.
08 - É uma característica essencial da filosofia de Platão O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a
a distinção entre mundo inteligível e mundo sensível; Filosofia, pois:
o primeiro ocupado pelas Ideias perfeitas, o segundo a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se
pelos objetos físicos, que participam daquelas Ideias mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
ou são suas cópias imperfeitas. b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sá-
16 - No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e con- bios do passado, uma vez que a função da Filosofia
templa a realidade fora da caverna, devendo voltar à era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
caverna para libertar seus companheiros, representa o c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filo-
filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do sofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a
Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade. partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer

2 (P.M. Cuiabá) O mito é um sistema de explicação fanta-


sioso do mundo, expresso em narrativas fabulosas re-
ferentes a deuses, forças da natureza e seres humanos.
distante dos problemas concretos, preocupando-se
apenas com causas abstratas.

Em contrapartida, a Filosofia:
a) Admite contradições, fabulações e coisas incom-
preensíveis;
5 (UFU) Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo
que se supor sábio quem não o é, porque é supor que
sabe oque não sabe. Ninguém sabe o que é a morte,
b) Narra a origem das coisas por meio de genealogias e nem se, porventura, será para o homem o maior dos
rivalidades ou alianças entre forças sobrenaturais; bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o

160 HIPERCONHECIMENTO
EXERCÍCIOS

maior dos males. A ignorância mais condenável não d) Era o único jeito de fazer filosofia na época, assim, os
é essa de supor saber o que não se sabe? (Platão, A argumentos eram escritos como dialogo filosófico;
Apologia de Sócrates, 29 a-b, In. HADOT, P.O que é a
Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola,1999, p. 61.)
Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates,
assinale a alternativa INCORRETA:
8 (UEG) O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc.
VII a.C.) é marcado por um crescente processo de ra-
cionalização da vida na cidade, em que o ser humano
a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua abandona a verdade revelada pela codificação mítica
missão, qual seja: buscar, por meio da filosofia, a ver- e passa a exigir uma explicação racional para a com-
dade, para além da mera aparência do saber. preensão do mundo humano e do mundo natural.
b) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo- Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente,
-o tomar consciência das contradições que traz consigo. destaca-se:
c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos ou- a) a concepção política expressa em A República, de
tros que nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar
todo custo, ainda que defendendo uma opinião não sob um regime político oligárquico.
devidamente examinada. b) a criação de instituições universitárias como a Acade-
d) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colo- mia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles.
cado diante da própria ignorância, admite que nada c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos
sabe. Admitir o não-saber, quando não se sabe, define como legado a recusa de uma fé inabalável na razão
o sábio, segundo a concepção socrática. humana e a crença de que sempre devemos acreditar
nos sentimentos.

6 (Mackenzie) “... andava pelas ruas e praças de Atenas,


pelo mercado e pela assembleia indagando a cada um:
‘Você sabe o que é isso que está dizendo?’, ‘Você sabe
d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas
mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou
discurso, seja encontrado um fundamento racional.
o que é isso em que você acredita?’, ..., ‘Você diz que a
coragem é importante, mas o que é a coragem?’, ‘Você
acredita que a justiça é importante, mas o que é a jus-
tiça?’,..., ‘Você crê que seus amigos são a melhor coisa
9 (UEL) Leia o texto a seguir.
O pensamento moderno caracteriza-se pelo cres-
cente abandono da ciência aristotélica. Um dos pensadores
que você tem, mas o que é a amizade?’. modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristó-
Suas perguntas deixavam seus interlocutores embara- teles – considerando que esta não permitia explicar o pro-
çados,... descobriam surpresos que não sabiam responder gresso do conhecimento científico – foi Francis Bacon. No
e que nunca tinham pensado em suas crenças e valores ... livro Novum Organum, Bacon formulou o método indutivo
... as pessoas esperavam que ele respondesse, mas como alternativa ao método lógico-dedutivo aristotélico.
para desconcerto geral, dizia: ‘Não sei, por isso estou per- Com base no texto e nos conhecimentos sobre o
guntando.’ Daí a famosa frase: ‘Sei que nada sei’ “. pensamento de Bacon, é correto afirmar que o método
(Marilena Chauí) indutivo consiste:
O texto relaciona-se com: a) na derivação de consequências lógicas com base no
a) a criação dos princípios da Lógica, por Aristóteles, de corpo de conhecimento de um dado período histórico.
maneira a formar uma ciência Analítica: A Metafísica. b) no estabelecimento de leis universais e necessárias
b) as tragédias de Sófocles, que tinham como tema do- com base nas formas válidas do silogismo tal como
minante o conflito entre o indivíduo e a sociedade. preservado pelos medievais.
c) a obstinação do historiador Tucídides em descobrir as c) na postulação de leis universais com base em casos
causas políticas que determinaram os acontecimen- observados na experiência, os quais apresentam re-
tos históricos. gularidade.
d) as preocupações de Eurípedes com os problemas do d) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho
homem, suas paixões, grandezas e misérias. de autoridades científicas aceitas universalmente.
e) a filosofia de Sócrates, voltada para as questões huma- e) na observação de casos particulares revelados pela
nas, preocupada com as virtudes morais e políticas. experiência, os quais impedem a necessidade e a uni-
versalidade no estabelecimento das leis naturais.

7 Os escritos de Platão foram expressos na forma de


‘diálogos’. Era uma forma onde dois interlocutores dia-
logam colocando suas posições e questionando um 10 (UEL) O principal problema de Descartes pode ser
formulado do seguinte modo: “Como poderemos
ao outro. Platão relata muitas situações onde os ato- garantir que o nosso conhecimento é absoluta-
res são Sócrates e seus amigos, sempre em calorosos mente seguro?” Como o cético, ele parte da dú-
debates. Porque Platão optou por escrever na forma vida; mas, ao contrário do cético, não permanece
de ‘diálogos’? Porque era importante essa forma de nela. Na Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...]
expressão? engane-me quem puder, ainda assim jamais pode-
a) Era uma forma popular de escrita na época grega; rá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que
b) Era um tipo de escrita que se assemelhava a poesia, sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não
por isso, Platão escolheu esse método; tenhajamais existido, sendo verdade agora que eu
c) Era o modo mais eficiente de exposição dos argu- existo [...]”. (DESCARTES. René. Meditações Metafí-
mentos e contra-argumentos envolvidos na investi- sicas. Meditação Terceira, São Paulo: Nova Cultural,
gação de um tema; 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.)

HIPERCONHECIMENTO 161
Filosofia
Com base no enunciado e considerando o itinerário a) Monarquia Censitária
seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento, b) Monarquia Absoluta
é correto afirmar: c) Sistema Parlamentar
a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser dis- d) Despotismo Esclarecido
cerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos e) Sistema Republicano
são falhos e limitados, portanto o conhecimento se-
guro detém-se nas opiniões que se apresentam certas
e indubitáveis.
b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-
13 (Fuvest) No início do século XVI, Maquiavel escre-
veu O Príncipe - uma célebre análise do poder po-
lítico, apresentada sob a forma de lições, dirigidas
-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias ao príncipe Lorenzo de Médicis. Assim justificou
coisas que são percebidas de acordo com as circunstân- Maquiavel o caráter professoral do texto:
cias em que ocorrem os fenômenos observados. Não quero que se repute presunção o fato de um ho-
c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência mem de baixo e ínfimo estado discorrer e regular sobre
do conhecimento, uma vez que somente as coisas o governo dos príncipes; pois assim como os [cartógra-
percebidas por meio da experiência sensível possuem fos] que desenham os contornos dos países se colocam
existência real. na planície para considerar a natureza dos montes, e para
d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que considerar a das planícies ascendem aos montes, assim
se pode observar no debate perpétuo e universal so- também, para conhecer bem a natureza dos povos, é ne-
bre o conhecimento das coisas, sendo a existência de cessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é
Deus a única certeza que se pode alcançar. necessário ser do povo. (trecho adaptado).
e) A condição necessária para alcançar o conhecimento Ao justificar a autoridade com que pretende ensinar
seguro consiste em submetê-lo sistematicamente a um príncipe a governar, Maquiavel compara sua missão à
todas as possibilidades de erro, de modo que ele re- de um cartógrafo para demonstrar que
sista à dúvida mais obstinada. a) o poder político deve ser analisado tanto do ponto de
vista de quem o exerce quanto do de quem a ele está

11 (UFPR) A respeito do iluminismo, movimento fi-


losófico que se difundiu pela Europa ao longo do
século XVIII, considere as seguintes afirmativas:
submetido.
b) é necessário e vantajoso que tanto o príncipe como o sú-
dito exerçam alternadamente a autoridade do governante.
1- Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, c) um pensador, ao contrário do que ocorre com um
Voltaire e Diderot, foram leitores, admiradores e divul- cartógrafo, não precisa mudar de perspectiva para si-
gadores da filosofia política produzida pelos ingleses, tuar posições complementares.
como John Locke com sua crítica ao absolutismo. d) as formas do poder político variam, conforme sejam
2- Quanto à organização do Estado, os filósofos ilumi- exercidas por representantes do povo ou por mem-
nistas não eram contra a monarquia, mas contra as bros da aristocracia.
ideias de que o poder monárquico fora constituído e) tanto o governante como o governado, para bem
pelo direito divino e de que ele não poderia ser sub- compreenderem o exercício do poder, devem restrin-
metido a nenhum freio. gir-se a seus respectivos papéis.
3- A descoberta da perspectiva e a valorização de temas
religiosos marcaram as expressões artísticas durante
o iluminismo.
4- Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu gran-
14 (ENEM) Não ignoro a opinião antiga e muito difun-
dida de que o que acontece no mundo é decidido
por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita
de impulso das descobertas marítimas. em nossos dias, devido às grandes transformações
Assinale a alternativa correta. ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais es-
a)Somente a afirmativa 1 é verdadeira. capam à conjectura humana. Não obstante, para
b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio,
c)Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. creio que se pode aceitar que a sorte decida meta-
d)Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. de dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permi-
te o controle sobre a outra metade. (MAQUIAVEL,

12 (UFF) De acordo com o filósofo inglês Thomas Hob-


bes (1588-1679), em seu estado natural, os seres hu-
manos são livres, competem e lutam entre si. Mas
N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 - adaptado).
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do
poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra
como têm em geral a mesma força, o conflito se o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo
perpetua através das gerações, criando um ambien- renascentista ao
te de tensão e medo permanentes. Para Hobbes, a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos
criar uma sociedade submetida à lei e na qual os definidores do seu tempo.
seres humanos vivam em paz e deixem de guerrear b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
entre si, pressupõe que todos os homens renunciem c) afirmar a confiança na razão autônoma como funda-
a sua liberdade original e deleguem a um só deles (o mento da ação humana.
soberano) o poder completo e inquestionável. d) romper com a tradição que valorizava o passado
Assinale a modalidade de governo que desempenhou como fonte de aprendizagem.
importante papel na Filosofia Política Moderna e que é as- e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé
sociada à teoria política de Hobbes. e razão

162 HIPERCONHECIMENTO
EXERCÍCIOS

15 (ENEM) “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser


amado que temido ou temido que amado. Respon-
da-se que ambas as coisas seriam de se desejar; mas
I . A propriedade privada é contratual, isto é, ela é subse-
qüente ao nascimento do Estado, que institui o direito
à propriedade, distribuindo a cada um aquilo que era
porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser propriedade comunal no estado de natureza.
temido que amado, quando haja de faltar uma das II . A propriedade privada surge com o aparecimento da
duas. Porto dos homens se pode dizer, duma ma- sociedade civil, a geradora do Estado, que é a instituição
neira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, suprema que tem, inclusive, a prerrogativa de suprimir a
e quando lhes fazem bem são inteiramente teus, propriedade em benefício da segurança do Estado.
oferecendo-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, III . A propriedade privada é parte do estado de natureza,
quando, como acima disse, o perigo está longe, mas pois o homem possui a propriedade de si mesmo e,
quando ele chega, revoltam-se” (Maquiavel, N. ‘O com isso, tem o direito de tornar como sua proprieda-
Príncipe’. Brasília: EdUnB, 1979 – trecho adaptado). de aquilo que está vinculado com seu trabalho.
A partir da análise histórica do comportamento hu- IV . A propriedade privada é anterior à sociedade civil,
mano em suas relações sociais e políticas Maquiavel define portanto, a propriedade antecedeu ao Estado, cuja
o homem como um ser: existência resultou do contrato social e teve a fina-
a) Munido de virtude, com disposição inata a praticar o lidade de preservar e proteger a propriedade privada
bem a si e aos outros; de cada um.
b) Possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para al- Assinale a alternativa que tem as assertivas corretas.
cançar êxito na política; a) III e IV
c) Guiado por interesses, de modo que suas ações são b) I e II
imprevisíveis e inconstantes; c) II e III
d) Naturalmente racional, vivendo um estado pré-social d) II e IV
e portando seus direitos naturais;
e) Sociável por natureza, mantendo relações pacíficas
com seus pares. 18 (ENEM).

TEXTO I

16 (ENEM, 2010). “O príncipe, portanto, não deve


se incomodar com a reputação de cruel, se seu
propósito é manter o povo unido e leal. De fato,
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram
enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente
em quem já nos enganou uma vez.
com uns poucos exemplos duros poderá ser mais (DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo:
clemente do que outros que, por muita piedade, Abril Cultural, 1979).
permitem os distúrbios que levem ao assassínio e
ao roubo”. (MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: TEXTO II
Martin Claret, 2009). Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que
No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, refle- uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum signifi-
xão sobre a Monarquia e a função do governante. A manu- cado, precisaremos apenas indagar: de que impressão
tenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe
a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar
b) bondade em relação ao comportamento dos merce- nossa suspeita.
nários. (HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento.
c) compaixão quanto à condenação de transgressões São Paulo: Unesp, 2004 - adaptado).
religiosas.
d) neutralidade diante da condenação dos servos. Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a
e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe. natureza do conhecimento humano. A comparação dos
excertos permite assumir que Descartes e Hume

17 (UFU 1ª Fase) John Locke justificou a existência do


Estado com estas palavras:
“O motivo que leva os homens a entrarem em socieda-
a) defendem os sentidos como critério originário para
considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significa-
de é a preservação da propriedade; e o objetivo para o qual do de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
escolhem e autorizam um poder legislativo é tornar possível c) são legítimos representantes do criticismo quanto à
a existência de leis e regras estabelecidas como guarda e pro- gênese do conhecimento.
teção às propriedades de todos os membros da sociedade, a d) concordam que conhecimento humano é impossível
fim de limitar o poder e moderar o domínio de cada parte e em relação às ideias e aos sentidos.
de cada membro da comunidade; pois não se poderá nunca e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no
supor seja vontade da sociedade que o legislativo possua o processo de obtenção do conhecimento.
poder de destruir o que todos intentam assegurar-se, entran-
do em sociedade e para o que o povo se submeteu a legis-
ladores por ele mesmo criado.” (LOCKE, J. Segundo tratado RESPOSTAS:
sobre o governo. Trad. de E. Jacy Monteiro. 3 ed. São Paulo: 1. 30 (02-04-08-16) 2. d 3. a 4. a 5. c
Abril Cultural, 1983, p. 121. Coleção .Os Pensadores) 6. d 7. c 8. d 9. d 10. c 11. e 12. b 13.
Analise as assertivas em conformidade com a citação
a 14. c 15. c 16. e 17. c 18. e
acima.

HIPERCONHECIMENTO 163

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