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Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional

CADERNO TEMÁTICO

TÍTULO: Desenvolvimento e aprendizagem motora

Professor PDE: Zulcimara Gonçales

Área PDE: Educação Física

NRE: Cornélio Procópio

Professor Orientador da IES: Me. Sônia Regina Leite Merege

IES Vinculada: UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná


Jacarezinho - 2010
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Este trabalho tem a finalidade de auxiliar o professor de Educação Física


e demais disciplinas a refletir e compreender a importância sobre o
desenvolvimento e a aprendizagem motora dos alunos e suas implicações em
todo o processo.
As habilidades básicas (fundamentais) são pré-requisito fundamental
para aquisição e controle de movimentos mais complexos e específicos. O
número de pessoas que não alcançam o padrão maduro nas habilidades
fundamentais é significativo apresentando um nível rudimentar de movimentos,
prejudicando o desenvolvimento futuro.
Sendo que a execução de movimentos motores e sua aprendizagem
ocorrem devido a vários fatores: genéticos, ambientais, sociais, fisiológicos e
outros.
O Professor de Educação Física quando se depara com uma sala de
aula com alunos de diferentes aquisições motoras, tem a necessidade de
observar e identificar se os alunos possuem os movimentos fundamentais que
são pré–requisitos para o desenvolvimento posterior de outras habilidades
motoras.
Tem o dever de planejar e oferecer aos alunos situações diversas que
oportunizem a eles uma aprendizagem motora no decorrer de toda sua vida.
De acordo com Magill (1984 p.02) a aprendizagem é o centro de toda a
educação, resultando sempre em alguma mudança de comportamento daquele
que aprende.
Qualquer que seja o objetivo planejado ensinar a dançar, lançar uma
bola, lutar, alfabetizar, somar, subtrair ou qualquer habilidade que se aprenda
estará havendo interação entre professor e aluno e essa interação vai
depender da estruturação do ambiente de aprendizagem. O professor precisa
compreender de que forma o aluno aprende e o que afeta sua aprendizagem
tendo a responsabilidade de planejar e diversificar procedimentos de ensino
para a solução dos problemas no desenvolvimento de cada aluno tendo como
resultados mudanças na maneira de agir, pensar, fazer, expressar.
A Educação Física deve oferecer um ambiente adequado para as
crianças pré – púberes em suas aulas, diversificando experiências e
enfatizando o desenvolvimento e aquisição de habilidades.
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Sendo o desenvolvimento um processo contínuo que acontece ao longo


de toda a vida do ser humano.
A educação de hábitos positivos frente à atividade motora, e a sua
pratica regular é importante para a prevenção de enfermidades (hipertensão,
obesidade, osteoporose, depressão, câncer, alterações endócrinas, diabetes,
doenças cardíacas, má postura, falta de tônus muscular e outras.) relacionadas
à falta de atividade física e também para o pleno desenvolvimento das funções
fisiológicas do organismo.

DESENVOLVIMENTO MOTOR

Segundo Rosa Neto (2002 p.11) o organismo humano desde a


concepção, tem um raciocínio biológico, uma organização, um calendário
maturativo e evolutivo, um caminho à interação e à estimulação. Do
nascimento a idade adulta se produz, no organismo humano, intensas
modificações. As possibilidades motoras da criança evoluem amplamente de
acordo com sua idade e chegam a ser cada vez mais variadas, completas e
complexas.

“Durante a gravidez, o feto começa a dar sinais de vida ao mundo


exterior fundamentalmente por meio de uma atividade motora. Desde
o nascimento, estamos observando dia a dia as mudanças
maturativas da criança, a qual, a cada momento nos surpreende com
fatos novos. A integração sucessiva da motricidade implica a
constante e permanente maturação orgânica. O movimento contém
em si mesmo sua verdade, tem sempre uma orientação significativa
em função da satisfação das necessidades que o meio suscita. O
movimento e o seu fim são uma unidade e, desde a motricidade fetal
até a maturidade plena, passando pelo movimento do parto e pelas
sucessivas evoluções, o movimento se projeta sempre frente à
satisfação de uma necessidade relacional. A relação entre o
movimento e o seu fim se aperfeiçoa cada vez mais como resultado
de uma diferenciação progressiva das estruturas integradas do ser
humano”. (ROSA NETO, p.11, 2002).

O desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento


motor ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as
necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente.
(GALLAHUE, 2005).
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De acordo com GALLAHUE (2005 p.12) os níveis de desenvolvimento


podem ser classificados de várias maneiras, o método mais comum e utilizado
é a classificação pela idade cronológica.
A tabela cronológica fornece estimativa aproximada do nível de
desenvolvimento do indivíduo, embora o desenvolvimento esteja relacionado à
idade ele não é dependente dela.
A idade cronológica ou a idade do indivíduo em meses e /ou anos é de
uso universal e constante. Sabendo-se a data de nascimento da pessoa,
podemos calcular sua idade em anos, meses e dias.

O desenvolvimento motor é um processo de mudanças nos processos


internos do indivíduo que o deixa capaz de controlar movimentos, e é adquirido
com o passar do tempo. No processo da vida é necessário ajustar, compensar
ou mudar, a fim de obter, melhorar ou manter determinadas habilidades que o
indivíduo aprende ou já possui em sua bagagem motora. Esses fenômenos são
observados no período da infância, onde essa maior capacidade de controlar
movimentos faz com que ocorram várias mudanças comportamentais.
(GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Flinchum afirma que as crianças desenvolvem os padroes básicos
naturalmente, através de estímulos, desafios e motivações extrínsecas de pais,
professores e colegas.
O Professor de Educação Física ao observar um aluno precisa ter
conhecimento dos fatores de movimento básico estão relacionados às
habilidades motoras. Os educadores devem fundamentar-se nas formas
motoras básicas e oportunizar aos alunos um ambiente que favoreça esse
desenvolvimento assim como seus pais. Quando não alcançado um nível
adequado de desenvolvimento é necessário uma aprendizagem terapêutica
planejada, não podendo garantir quanto ao comportamento motor da criança
ser tão completo quanto eficiente no futuro.
A idade que se tem um pico de desenvolvimento significativo é a idade
pré-escolar, onde se caracteriza por ser uma fase de aquisição e
aperfeiçoamento das habilidades motoras, formas de movimento e primeiras
combinações de movimentos, que possibilitam a criança dominar seu corpo em
diferentes posturas (estáticas e dinâmicas) e locomover-se pelo meio ambiente
de várias formas (andar, correr, saltar, chutar, etc.) A base para habilidades
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motoras globais e finas é estabelecida nesse período, sendo que as crianças


aumentam consideravelmente seu repertorio motor e adquirem os modelos de
coordenação do movimento essenciais para posteriores desenvolvimento e
aquisições de habilidades. (GALLAHEU; OZMUN, 2005).

“A estabilidade é o aspecto que tem maior fundamentação no


aprendizado dos movimentos porque todo movimento envolve um
elemento e estabilidade. Para um indivíduo ter a capacidade de
estabilização eficiente, este deve perceber determinada mudança na
relação entre as partes do corpo que altera seu equilíbrio. A
habilidade de compensar essas mudanças de modo rápido e preciso,
com movimentos apropriados, também é essência”l. GALLAHUE e
OZMUN (2005, p.228)

O desenvolvimento Motor pode ser ententido como um processo


sequencial contínuo e relacionado à idade cronológica, pelo qual o ser humano
adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, sendo que as
mudanças mais acentuadas ocorrem nos primeiros anos de vida. Este fato faz
com que as experiências que a criança tem durante a infância determinarão em
grande parte o adulto que ela se tornará ( GO TANI,ET AL, 1988).

“Quando se estuda o comportamento humano, dois princípios devem


ser considerados: o da totalidade e o da especificidade. 0 princípio da
totalidade fala que, em qualquer comportamento, há sempre a
participação de todos os domínios que atuam de uma forma
integrada. E o princípio da especificidade fala que, mesmo os
domínios estando envolvidos em qualquer comportamento, cada
domínio precisa ser analisado especificamente, dada a
predominância de uns sobre outros.Oconjunto das contribuições dos
estudos e análises de cada domínio, especificamente, e suas
interações com os outros, possibilita que o comportamento do ser
humano seja compreendido e trabalhado de uma forma global”. GO
TANI(1988, p.06).
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Gallahue fala que o objetivo básico do desenvolvimento motor e da


educação motora de uma pessoa é aceitar o desafio de mudança no processo
contínuo de obtençaõ e de manutenção do controle motor no decurso da vida.

CLASSIFICAÇÃO CONVENCIONAL DA IDADE CRONOLÓGICA

Tabela 1.

Período Escala aproximada de idade


I Vida pré-natal (Da concepção ao nascimento)
A. período zigoto Concepção – 1 semana
B. período embrionário 2 semanas – 8 semanas
C. período fetal 8 semanas - nascimento
II Primeira infância (Nascimento aos 24 meses)
A. período neonatal Nascimento – 1 mês
B. início da primeira infância 1 – 12 meses
C. infância posterior 12 – 24 meses
III Infância (2 – 10 anos)
A. período de aprendizagem Nascimento – 1 mês
B. infância precoce 1 – 12 meses
C. infância intermediário-avançada 12 – 24 meses
IV Adolescência (10 – 20 anos)
A. pré-pubescência 10 – 12anos (F); 11 – 13 anos (M)
B. pós-pubescência 12 – 18 anos (F); 14 – 20 anos (M)
V Idade adulta jovem (20 – 40 anos)
A. período de aprendizado 20 – 30 anos
B. período de fixação 30 – 40 anos
VI Meia-idade (40 – 60 anos)
A. transição para a meia-idade 40 – 45 anos
B. meia-idade 45 – 60 anos
VII Terceira idade (60 + anos)
A. início da terceira idade 60 – 70 anos
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B. período intermediário da 3° idade 70 – 80 anos


C. senilidade 80 + anos

(GALLAHUE, p.13, 2005)

FIGURA. 1- AS FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR.

(GALLAHUE, p.57, 2005)

O desenvolvimento motor ocorre, basicamente, por dois processos: o


aumento da diversidade e da complexidade.
O aumento da diversidade se dá pela possibilidade de a criança
vivenciar um mesmo esquema de ação em diferentes situações.
O aumento da complexidade envolve aprendizagem de novos
movimentos a partir daqueles que a criança já domina e diversifica.
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Por exemplo: a criança aprende a andar diversificando esta ação em


relação ao tempo, aos deslocamentos, às mudanças de direção; a partir deste
andar ela desenvolve o correr e o correr diversificado, que depois pode ser
combinado a outros movimentos como “quicar” uma bola, dando origem a um
movimento mais complexo ainda, que é driblar a bola num jogo de
basquetebol.
Para um bom desenvolvimento motor é preciso, então, garantir a
diversificação dos movimentos e o aumento da complexidade, levando em
consideração o desenvolvimento e a aprendizagem da criança num
determinado momento.
É preciso superar a visão de que o desenvolvimento motor é um
processo natural e progressivo que acontece sem a necessidade de um
ambiente favorável à sua ocorrência.
Entendo que esses dois processos são indissociáveis. Vamos pensar
um exemplo: somos herdeiros de uma evolução biológica que nos capacita
para o andar ereto, temos uma coluna vertebral e um aparelho locomotor para
andar de um jeito que o chimpanzé não é capaz.
Crianças que não tem experiências, que ficam isoladas do contato
humano, não desenvolvem esse andar da melhor forma porque embora o
aparelho locomotor seja geneticamente constituído, o andar ereto é aprendido
socialmente. Isso acontece com todos os reflexos naturais, até o mais básico,
que é mamar, e pressupõe uma aprendizagem cultural: como sugar, como se
acomodar nos braços da mãe. As experiências que a criança tem é que
empurram esse desenvolvimento. Não dá para dizer que uma criança por si
mesma vai desenvolver a capacidade de quicar uma bola, por exemplo,
embora todas tenham o potencial para aprender esse movimento.
O desenvolvimento de competências motoras ocorre pela relação
dinâmica entre o biológico e o social o desenvolvimento motor é a mudança
progressiva na capacidade motora de um indivíduo, desencadeada pela
interação desse indivíduo com seu ambiente e com a tarefa em que ele esteja
engajado. As características hereditárias de uma pessoa, combinadas com
condições ambientais específicas (como por exemplo, oportunidades para
prática, encorajamento e instrução) e as próprias solicitações da tarefa que o
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indivíduo desempenha, determinam a quantidade e a extensão da aquisição de


destrezas motoras e a melhoria da aptidão dessa pessoa.

FIGURA. 2- ENCHENDO A AMPULHETA COM “AREIA” (ISTO É, O


RECHEIO DA VIDA).

Intrínsecos a tarefa
(GALLAHUE, p.65, 2005).
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AQUISIÇÃO DE HABILIDADES MOTORAS

O termo habilidades motoras refere-se ao desenvolvimento do controle


motor, à precisão no desempenho de movimentos tanto fundamentais quanto
especializados. Habilidades motoras são desenvolvidas e refinadas a um ponto
que as crianças sejam capazes de agir com considerável facilidade e eficiência
dentro de suas vivências.
Go Tani (1988 p.87) fala que à medida que a criança desenvolve-se
maturacionalmente, as habilidades motoras fundamentais (ou básicas)
adquiridas quando ela era mais jovem são aplicadas como habilidades
especializadas (ou complexas) a uma variedade de atividades recreativas,
jogos, esporte e dança. A habilidade motora de rebater um objeto em um
padrão por baixo, lateral ou por cima é progressivamente refinado e, mais
tarde, aplicado em um gesto esportivo ou recreativo em atividades como
voleibol, frescobol, beisebol ou tênis.
De uma maneira geral, essas habilidades são identificadas como
movimentos locomotores, movimentos manipulativos e movimentos
estabilizadores.
Segundo Gallahue e Ozmun (2005 p.92) o termo aptidão física é
freqüentemente descrito de uma forma ampla, pouco específica, porque o nível
de aptidão requerido por um indivíduo pode não ser o mesmo requerido para
outro. Assim, uma definição universal e bastante comum considera a aptidão
física como sendo a habilidade de desempenhar tarefas diárias sem fatigar-se,
e de possuir amplas reservas de energia para fins recreativos e necessidades
de emergência. Os aspectos da aptidão física relacionada à saúde são:
-Força Muscular
-Resistência Muscular
-Resistência Cardiovascular
-Flexibilidade
-Composição Corporal
O conceito de aptidão relacionada à performance (também conhecida
como aptidão motora ) tem sido estudado extensivamente nos últimos anos e
é considerado por alguns estudiosos como sendo um aspecto da aptidão física:
-Equilíbrio
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-Coordenação
-Agilidade
-Velocidade
-Potência

APRENDIZAGEM COGNITIVA

Aquisição de habilidades e a melhoria da aptidão física e suas


contribuições são igualmente importantes para os aspectos do
desenvolvimento cognitivo das crianças.
Aprendizagem cognitiva deve ser entendida como a mudança
progressiva na habilidade de pensar, raciocinar e agir. Porque as crianças são
ativos aprendizes multisensoriais, enfatizando a aprendizagem de conceitos e a
aprendizagem perceptivo-motora (GALLAHUE e OZMUN p 16).

APRENDIZAGEM DE CONCEITOS

O movimento pode ser usado para ampliar a compreensão e a aplicação


de conceitos próprios da área do desenvolvimento, como também os de outras
áreas acadêmicas.
Relacionada ao desenvolvimento motor, a aprendizagem de conceitos
vem a ser uma mudança permanente no comportamento motor do indivíduo,
ocasionada por experiências delineadas para internalizar a compreensão de
conceitos de movimento, conceitos de destreza, conceitos de aptidão e
conceitos de atividade esportiva e/ou recreativa, muitos importantes conceitos
acadêmicos tradicionalmente ensinados em sala de aula podem ser
efetivamente aprendidos no contexto da aula de Educação Física. Muitos
autores têm descrito a maneira como tipos específicos de atividades motoras
podem favorecer a aprendizagem de conceitos de linguagem, de competência
artística, de operações básicas de matemática e demais estudos. (GALLAHUE,
2005; SCHMIDT, 2010; PETRY, 1987 e ROSA NETO, 2002).
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Uma aprendizagem ativa através de atividades motoras pode, também,


possibilitar as crianças a lidarem com seu mundo real, em termos concretos ao
invés de abstrações. Normalmente, as crianças percebem o movimento como
algo divertido, diferente das rotinas de "trabalho" da sala de aula.
Os alunos se beneficiam academicamente através de uma participação
ativa em atividades de movimento quando as aulas são bem elaboradas e tem
um objetivo proposto.
Segundo Go Tani (1988 p.05) a aprendizagem pode ocorrer em três
domínios do comportamento humano: cognitivo, afetivo e motor. Embora um
determinado comportamento possa ser classificado num destes três domínios a
maioria dos comportamentos existe a participação de todos os três domínios.
Existe um forte relacionamento entre todos os domínios: a ênfase a um deles é
apenas questão de predominância.

APRENDIZAGEM PERCEPTIVO-MOTORA

Aprendizagem é um processo que envolve maturação e experiência.


Nem todos os alunos que chegam à escola apresentam os mesmos níveis de
habilidades. Ainda que pouco possa ser feito para apressar os componentes
maturacionais desse processo, os pais e os professores podem influenciar no
componente das experiências.
Aprendizagem perceptivo-motora envolve o estabelecimento e o
refinamento da sensibilidade de o indivíduo perceber o mundo através do
movimento.
Essa sensibilidade envolve o desenvolvimento e o refinamento do
mundo espacial e temporal adequado. Todo movimento ocorre num espaço e
envolve um elemento do tempo.
Desenvolver essas estruturas é fundamental para atuar eficientemente
numa variedade de outras áreas.
Oportunizar e ampliar o conhecimento da criança em relação ao seu
mundo espacial envolvendo-a em atividades motoras que contribuam para o
desenvolvimento de sua consciência corporal, sua consciência temporal e sua
consciência espacial consciência que a criança tem de seu mundo temporal
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pode ser ampliado com atividades que ressaltem a sincronia, o ritmo e a


seqüência de movimentos. Habilidades visuais, auditivas e táteis, também são
reforçadas em atividades motoras (Prety 1987 p. 21).
As atividades motoras em que as crianças se engajam durante as aulas
de Educação Física é um meio para a aprendizagem através do movimento. Os
educadores hoje reconhecem a importância das atividades motoras na
melhoria do processo de aprendizagem das crianças, o movimento pode
efetivamente ser usado para ampliar a consciência que a criança tem de si
mesma e do mundo ao seu redor.

CRESCIMENTO SÓCIO-AFETIVO

Um importante resultado de qualquer programa de Educação Física com


qualidade é o enriquecimento dos domínios social e afetivo. Crescimento sócio-
afetivo é o processo de aprendizagem que amplia a capacidade da criança de
agir, interagir e reagir efetivamente com outras pessoas, bem como consigo
mesma.
Segundo Magill (1984 p. 04) a palavra afeto refere-se a sentimentos ou
emoção.
Concordo com Bloom (apud MAGILL 1984 p.04,05) quando diz que faz
parte do domínio afetivo-social as emoções, os sentimentos, o grau de
aceitação ou rejeição, expressos como interesses, atitudes ou valores.

Freqüentemente é referido como "desenvolvimento sócio-emocional" e é


de vital importância para a criança. Pais bons ou ruins, ambientes
culturalmente favorecidos ou desfavorecidos e a qualidade e a quantidade de
estímulos irão influir amplamente na visão que a criança terá de seu mundo.
As experiências de movimento das crianças desempenham um
importante papel na maneira como elas se percebem como indivíduos, como
elas se relacionam com seus pares e como elas usam o tempo livre. Pais e
professores instruídos reconhecem a importância de um desenvolvimento
sócio-emocional equilibrado. Eles compreendem o desenvolvimento afetivo das
crianças e usam essa compreensão para ampliar a auto-estima e a
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socialização positiva das crianças, além de encorajarem e estruturarem os


significados das experiências motoras que fortalecem o desenvolvimento social
e emocional das crianças.
As atividades motoras em que as crianças se engajam desempenham
um importante papel em seus processos de desenvolvimento. Ao mesmo
tempo em que as crianças envolvem-se na aprendizagem das destrezas
motoras fundamentais e especializadas, elas também aprendem, através do
movimento, a explorarem seus mundos.
Enquanto as crianças se envolvem na importante tarefa de aprenderem
a movimentar-se mais eficientemente através de seus contextos, elas estão
desenvolvendo uma variedade de destrezas motoras fundamentais e
melhorando seus níveis de aptidão física, estão aprendendo a movimentar-se
com alegria, eficiência e controle.
As crianças aprendem através do movimento. Para elas, o movimento é
um veículo para a exploração de tudo o que esteja ao seu redor (exploração de
seu mundo). Isso promove suas aprendizagens perceptivo-motoras e de
conceitos, promovendo um autoconceito e uma socialização, positiva.
O sujeito se constrói na interação com o meio e o movimento é uma das
formas que temos para interagir com este meio. Pela exploração a criança vai
construindo conhecimentos sobre as propriedades físicas dos objetos e inicia a
compreensão de quais relações pode estabelecer com eles.
A criança aprende sobre seus limites; quando realiza movimentos de
puxar, empurrar, chegar perto, se afastar. Através de ações motoras a criança
também interage com a cultura, seja para dominar o uso dos diferentes objetos
(instrumentos) existente, ou para desfrutar de atividades lúdicas e de lazer,
como jogos e brincadeiras, esportes, ginásticas, danças e artes marciais.
Pelo movimento a criança conhece mais sobre si mesma e sobre o
outro, aprendendo a se relacionar ele é parte integrante da construção da
autonomia e identidade, contribuindo para o domínio das habilidades motoras
que a criança desenvolve ao longo da primeira infância e no decorrer de toda a
sua vida.
Para conhecer o aluno do ponto de vista de seu desenvolvimento motor
é preciso buscar uma forma diferenciada de observação, porque se pode
interpretar um comportamento de várias maneiras, dependendo da forma que
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se observa. Isso está relacionado à visão de mundo, de criança, das teorias de


desenvolvimento e da aprendizagem que possuímos.
Piaget foi quem nos despertou para a importância da motricidade. Pois,
ele estava preocupado em estudar a gênese do pensamento humano, não em
compreender como a criança aprende o movimento ou qual é a importância
disso. Mas para entender o desenvolvimento da inteligência ele observou a
criança e percebeu que, desde que nasce ela já tem um tipo de inteligência,
que é, ao contrário do que se pensava, anterior à linguagem. Existe uma
inteligência motora, que é prática, e que é a primeira que o ser humano
desenvolve. A criança tem uma bagagem genética, que são os movimentos
reflexos, e a partir do contato com o ambiente, naquilo que Piaget chama de
reações circulares, ela vai construindo esse movimento intencional.
O movimento também está relacionado à origem da representação,
dando suporte na medida em que se torna presente um objeto ou cena
imaginada por meio dos gestos que a criança utiliza para imitar.
Outro fator relevante é observar como é difícil permanecer na mesma
posição por algumas horas, freqüentemente exigimos de nossos alunos este
esforço e nem percebemos quanta energia esta ação demanda e como é difícil
permanecer sentado. O cansaço resultante do esforço em manter-se imóvel
por muito tempo pode transformar-se em uma barreira às aprendizagens, ao
contrário do que se espera.
A atividade muscular possui duas funções relacionadas: a função tônica,
que regula o grau de tensão dos músculos (tônus) e se relaciona ao controle e
ajustamento postural, e a função cinética, responsável pelo controle do
estiramento e encurtamento das fibras musculares em coordenação com os
impulsos do sistema nervoso central, que produz o deslocamento do corpo ou
de partes dele.
Em todos os movimentos que desempenhamos estas funções estão
presentes. Exemplificando: chutando uma bola, correndo ou jogando tênis
precisamos controlar nossa postura e, ao mesmo tempo, as cadeias
musculares que irão executar o movimento.
Todo este processo de coordenação e controle do movimento envolve o
aluno como um todo e demanda um incrível gasto energético. Há um gasto
energético até quando estamos sentados em uma determinada posição.
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Podemos observar como é difícil permanecer na mesma posição por


algumas horas e, no entanto, muitas vezes exigimos de nossos alunos este
esforço e nem imaginamos quanta energia esta ação demanda e como é difícil
permanecer sentado e quieto com um único foco de atenção.
O cansaço resultante do esforço em manter-se imóvel por muito tempo
pode desmotivá-lo e dificultar sua aprendizagem, ao contrário do que
tradicionalmente se espera.
A função postural dá sustentação à atividade cognitiva. Podemos
observar como modificamos nosso tônus quando estamos com dificuldade de
entender uma aula, compreender um texto ou resolver um problema. Levantar
da cadeira, mudar de posição, “dar um tempo” para o ajustamento postural
contribui para que a nossa concentração e a atividade intelectual retornem.
De alguma maneira, as variações tônicas desobstruem o fluxo mental e
orientam nossa percepção. Para a criança, esta relação de sintonia entre a
atividade cognitiva e o controle do tônus é ainda mais relevante: ela aprende
por meio da expressão corporal e ao experimentar desafios motores. Assim, a
movimentação das crianças na sala de aula deve ser encarada como um
recurso para aprendizagem e não uma dificuldade.
As variações de postura e posições do corpo, a possibilidade de
movimentar-se pela sala, fazer experiências, expressar-se, podem permitir uma
maior atenção e interesse na atividade que está sendo executada.
O trabalho de desenvolvimento de competências motoras está
centralizado na diversificação dos movimentos
Um trabalho com o movimento contribui com as questões atitudinais,
com a capacidade de se relacionar com o outro, dialogar e resolver problemas,
o que sempre acontece em contextos de jogos e brincadeiras. As atividades
coletivas e jogos em grupo reúnem situações extremamente produtivas para o
desenvolvimento da capacidade de diálogo, de respeito ao outro e
proporcionam momentos de prática e consciência das regras.
No ensino fundamental o aluno tem uma capacidade maior de refletir
sobre suas ações, de tomar consciência dos mecanismos que controlam seus
movimentos. O professor deve estimular o aluno a descrever seus movimentos,
socializar suas descobertas, criando possibilidades para que ela estruture de
forma mais significativa e mais consciente estes gestos.
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CONCEITOS

Diferenças individuais: diferenças duradouras e estáveis de sua


performance entre as pessoas, geralmente atribuíveis às diferenças em suas
capacidades (SCHMIDt, 2010, p.185 ).
Capacidades: traços estáveis e duradouros que, na sua maioria, são
geneticamente determinados e que subjazem à habilidade de uma pessoa em
uma variedade de tarefas. As pessoas diferem em relação a seus padrões de
capacidades fortes e fracas, o que resulta em diferenças em seus níveis de
habilidades (SCHMIDT, 2010, p.185).
Habilidade: o potencial subjacente para a performance em uma certa
tarefa, que muda com a prática, a experiência e uma série de fatores situacionais
e ambientais (SCHMIDt, 2010).
Habilidades motoras rudimentares: as primeiras formas de movimento
voluntário, que começam no nascimento e continuam até os 2 anos. O movimen-
to é maturacionalmente determinado e caracterizado por uma sequência altamen-
te previsível de aparição (GALLAHUE, 2005 p.555).
Habilidades motoras fundamentais: padrões observáveis do comporta-
mento motor classificados em estágio inicial, elementar e maduro, compostos por
atividades locomotoras básicas como correr e saltar, manipulativas como lançar e
agarrar, e estabilizadoras com equilibrar-se num pé só ou andar num local estrei-
to (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.555).
Habilidades motoras especializadas: crescimento das habilidades
motoras fundamentais maduras, nas quais o movimento se torna uma ferramenta
aplicada a uma variedade de atividades motoras complexas da vida diária, de
recreação ou esportivas (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.555).
Habilidades filogenéticas: habilidades motoras que tendem a aparecer
automaticamente numa sequência previsível, e são resistentes às influências
ambientais externas, com alcançar, agarrar e soltar, andar, saltar, e correr
(GALLAHUE e OZMUN 2005, p.555).
Habilidade motora: padrão motor fundamental realizado com precisão e
controle. A precisão é enfatizada e o movimento é limitado, como no lançamento
de uma bola em direção a um alvo (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.555).
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Habilidades ontogenéticas: habilidades motoras dependentes do


aprendi-zado e das oportunidades ambientais como nadar, andar de bicicleta e
esquiar no gelo (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.555).
Habilidades compassadas externamente: uma categoria de
habilidades nas quais a pessoa deve ter respostas rápidas às mudanças nas
condições do ambiente (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.555).
Habilidades compassadas internamente: tipo de habilidade motora que
requer respostas fixas a uma dada série de condições (GALLAHUE e OZMUN
2005, p.555).
Habilidade esportiva: habilidade motora aplicada a uma atividade
esportiva específica, como rebater uma bola de beisebol (GALLAHUE e OZMUN
2005, p.555).
Aprendizado: processo interno que resulta em mudanças consistentes
no comportamento (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.551).
Aprendizado motor: mudança no comportamento motor, resultado de
prática ou experiência passada (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.551).
Aprendizagem: pode ser definida como uma mudança interna no
indivíduo, que é inferida a partir de um melhoramento relativamente permanente
na performance que resulta da prática (MAGILL,1984, p. 14).
Controle motor: estudo dos mecanismos responsáveis pelo movimento,
com ênfase no que está sendo controlado e como os processos de controle é
organizados (GALLAHUE e OZMUN 2005, p.552).
Estabilidade: padrões de movimento que obtém e mantém o equilíbrio
de uma pessoa (capacidade de equilíbrio dinâmico e estático) (GALLAHUE e
OZMUN 2005, p.553).
O conhecimento dos conceitos apresentados formará a base sobre a qual
o professor deverá estruturar as habilidades motoras das crianças (GALLAHUE e
OZMUN 2005).

“A Educação Física deve atender às reais necessidades e


expectativasda criança, ela necessita, antes de tudo, compreender as
suas características em termos de crescimento, desenvolvimento e
aprendizagem, visto que a não observância destas características
conduz frequentemente ao estabelecimento de objetivos, métodos e
conteúdos de ensino inapropriados”. (GO TANI p.135, 1988).
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EXERCÍCIOS DE COORDENAÇÃO GLOBAL

Coordenação - óculo-manual
-óculo-pedal

Equilíbrio - estático
- dinâmico

COORDENAÇÃO GLOBAL; EXERCÍCIOS DE COORDENAÇÃO ÓCULO-


MANUAL

Material: bolas

- lançar e receber a bola;


- lançar a bola com a mão direita e receber com a mão esquerda;
- lançar a bola com a mão esquerda e receber com a direita;
- lançar a bola com as duas mãos e receber com uma;
- lançar a bola com uma mão e receber com as duas;
- lançar a bola o mais longe possível e recebê-la bem acima da cabeça com a
mão, trabalhar mão direita-esquerda;
- lançar a bola e recebê-la bem acima da cabeça com a mão, trabalhar a mão
direita-esquerda;
- lançar a bola atrás;
- lançar a bola bem alta, girar e recebê-la com as duas mãos;
- correr e lançar a bola obliquamente para cima recebendo-a antes de cair no
solo;
- rolar a bola com uma mão;
- rolar a bola com a outra mão;
- rolar a bola e correr, ganhando-lhe a corrida;
- rolar a bola, correr, saltar por cima dela e pegá-la;
- lançar a bola e cabeceá-la;
- quicar a bola com uma mão;
-quicar a bola a bola com as duas mãos;
- quicar a bola com a mão direita-esquerda;
- caminhar quicando a bola com a mão esquerda-direita;
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- correr quicando a bola;


- quicar a bola avançando de cócoras.

Material: saquinho de areia

-caminhar mantendo o saquinho sobre a cabeça;


- caminhar mantendo o saquinho sobre o dorso da mão;
- correr com o saquinho apoiado na palma da mão direita-esquerda;
- lançar o saquinho para o alto à frente com as duas mãos e correr para pegá-
lo.

EXERCÍCIOS DE COORDENAÇÃO ÓCULO-PEDAL

Material: saquinho de areia

- caminhar ao redor do saquinho: perto, mais perto, longe, mais longe;


- caminhar para trás ao lado do saquinho;
- saltar com um pé ao redor do saquinho;
- saltar com o pé direito-esquerdo ao redor do saquinho;
- saltar com o pé direito-esquerdo sobre o saquinho.
Material: bola
- rolar a bola com o pé direito-esquerdo;
- rolar a bola com o pé direito em linha reta depois com o esquerdo
caminhando;
- rolar a bola como pé direito em linha reta depois com o esquerdo correndo;
- lançar a bola com o pé direito-esquerdo;
- lançar a bola com o pé direito-esquerdo para cima e deixar quicar;
- lançar a bola com o pé direito para cima e recuperar tentando lançá-la
novamente e depois com o outro pé.
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EXERCÍCIOS DE PERCEPÇÃO ESPAÇO TEMPORAL

Material: arcos

O arco contribui no sentido de orientação e facilita a construção no espaço


limitado.
- sentar-se dentro do arco;
- sentar-se a esquerda do seu arco; à direita;
- caminhar por cima do arco; caminhar por cima do arco com os olhos
fechados;
- saltar com os dois pés dentro do arco e saltar para fora.

EXERCÍCIOS DE PERCEPÇÃO ESPAÇO- TEMPORAL E EQUILÍBRIO

Material; cordas

- colocar- se a frente, atrás da corda;


- colocar-se a direita e esquerda da corda;
- saltar com um pé ao redor da corda;
- caminhar sobre a corda;
- equilibrar sobre a corda imitando um aviãozinho;
- saltar a corda no lugar, girando a mesma;
- entrar na corda girando, saltar duas, três vezes e sair;
- girando a corda, saltar com os pés juntos;
-girando a corda saltitar a corda alternadamente com um pé e outro em
progressão;
- correr o mais rápido possível girando a corda;
- correr o mais rápido possível, girando a corda, com um companheiro.

Todos os exercícios de aplicabilidade podem ser criados e construídos a


partir dos exemplos dados ou outros, utilizando musicas, compasso de palmas,
de pés, coquinhos, castanholas e variados recursos para cadenciar seu
movimento trabalhando também seu ritmo.
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REFERÊNCIAS

FLINCHUM, B, M. Desenvolvimento Motor da Criança. Rio de Janeiro: Ed.


Interamericana, 1981.

GALLAHUE, D, L, OZMUN, J, C. Compreendendo o Desenvolvimento


Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. São Paulo: Phorte Editora,
2005.

MAGILL, R, A. Aprendizagem Motora: Conceitos e aplicações. São Paulo:


Editora Edgard Blücher Ltda, 1984.

PETRY, R, M. Educação física e alfabetização. 2.ed./Rosemary Petry. Porto


Alegre: Kuarup, 1987.

PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 1978.

ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora/Francisco Rosa Neto. Porto


Alegre: Artmerd, 2002.

SCHMIDT, R, A, WRISBERG, C, A. Aprendizagem e Performance Motora:


Uma Abordagem da Aprendizagem Baseada na Situação. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

TANI, G, et al. Educação Física Escolar: Fundamentos de uma abordagem


desenvolvimentista. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

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