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Resumo
A mídia e as propagandas nela veiculadas trazem um tipo de cultura colocada como sendo a mais correta,
utilizam a beleza, a perfeição e associam a felicidade ao consumo, neste caso ao consumo de produtos que
possam tornar as mulheres cada vez mais belas, fazendo com que o consumo se torne a base das relações. Nessa
busca incessante pela valorização da aparência jovem e bela, de corpo esbelto, cobrada das mulheres, percebe-se
que as relações de gênero continuam reproduzindo a submissão, controle e manipulação, imposta às mulheres.
Este trabalho tem por objetivo analisar as exigências dos padrões de beleza femininos impostos pela cultura e
influência sofrida pela mídia através dos tempos na busca do estereótipo considerado perfeito na
contemporaneidade através de capas de revistas e propagandas veiculadas na mídia, analisando aspectos
presentes na formação e construção do corpo feminino sobre o contexto atual de uma sociedade de consumo, que
exige padrões de beleza a serem seguidos, influenciados por uma cultura centrada na valorização da imagem do
corpo da mulher. A metodologia utilizada constou de revisão teórica e análise de fotografias de propaganda que
envolve mulheres. As conclusões apontam que a mídia tem influenciado de forma incessante a busca por uma
beleza considerada a ideal, levando a um consumo exagerado de produtos de beleza e práticas que as levam a
alcançar tais exigências e com isso transformando suas identidades em nome da beleza exigida pela sociedade.
1 INTRODUÇÃO
Neste artigo terei por objetivo mostrar a exploração excessiva do corpo feminino nas
capas de revistas e em propagandas publicitárias de cerveja e cosméticos, identificando, como
essas imagens com suas mensagens subjetivas influenciam seus consumidores, já que, como
podemos ver anteriormente, o poder de sedução da publicidade é talvez um dos mais ativos e
eficazes dos nossos dias. Para Vester Gaard,
1
Mestranda em Desenvolvimento Social na Universidade Estadual de Montes Claros.
2
Professora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Social na Universidade Estadual de Montes
Claros.
A escolha desses anúncios publicitários justifica-se, pois, nos meios publicitários as
mulheres são um constante alvo de um discurso que a todo tempo impõem o que elas
deveriam ser, usar, ter ou mudar, fazendo com que a imagem feminina se torne uma imagem
homogeinizante o que contribui para a construção dos estereótipos a serem seguidos, portanto
essas propagandas nos ajudará a perceber através das mensagens visuais implícitas e
explicitas nas propagandas as exigências a serem seguidas na busca bela beleza ideal.
Para isso escolhi a metodologia da análise do discurso, pois esta consiste em uma prática
em campo da lingüística e da comunicação especializado em analisar construções ideológicas,
presentes em um texto, sendo muito utilizada para analisar textos da mídia e as ideologias que
trazem em si.
(...) atualmente, o embelezamento representa mais do que acabar com a feiúra, se ele
integra a esta promessa aquela de fazer a mulher se encontrar com ela mesma,
resistir á compra de cosméticos ou, ainda, ás aulas de ginástica, aos regimes, ás
cirurgias, etc, significa, sobretudo, resistir a proporcionar para si mesma um prazer
suplementar. (SANTANNA, 1995,p 137).
Dessa forma a metamorfose sofrida por Michael Jackson, por modelos famosas, atrizes,
e muitos cidadãos comuns faz com que pensemos qual é o verdadeiro padrão de beleza a ser
seguido? Eu posso ser um padrão de beleza? Por que tenho que ser como os outros? Por que
temos que ser como as modelos de passarela? O que gera tamanho desejo? Qual será o motor
que impulsiona a busca de se ter um corpo magro? Será a mídia, a família ou o modelo de
beleza imposto pela sociedade.
Dessa forma os estereótipos circulam e são transmitidos de diversas formas, como
através da família, amigos, escola e mídia, sendo que estes são agentes que atuam na
consolidação, assim como na possível alteração dos estereótipos. Com isso entra o papel
importante da linguagem uma vez que, é através dela que o processo de estereotipia se
materializa, é ela que está na base do processo de estereotipia já que a linguagem permite a
transmissão social ou socialização de acordo com as normas estabelecidas pelos estereótipos
de geração para geração o que permite um processo de socialização. A palavra é então o
modo mais puro de relação social.
No caso da publicidade, há todo um trabalho no sentido de retomar aqueles
estereótipos tidos como mais populares os que nos leva a questionar como a mídia determina
os padrões de beleza? E se nessa busca incessante pelos estereótipos de beleza essas mulheres
estão de certa forma afastando-se da realidade social a sua volta. Percebemos que a mídia nos
bombardeia quase que o tempo todo com as fórmulas para se alcançar os padrões de beleza,
os estereótipos perfeitos, e são muitas e muitos os que tentam alcançar, mas são poucos os que
obtêm sucesso, portanto, o apelo é por uma beleza popular, comum e saudável, dando
importância à diversidade, porque a criação de padrões gera preconceito e exclusão, e uma
consequente busca de identificação com o incluído e de diferenciação com o excluído sendo
que a construção do conceito de beleza possa ser desconstruído e reconstruído.
Assim queremos a analisar a influência da mídia na busca por esses estereotipo
considerado perfeito através de propagandas que são veiculadas na mídia e que utilizam o
corpo feminino para vender seus produtos.
As revistas femininas se tornam mais uma das divulgadoras do que seria a construção
de um corpo saudável e perfeito. A todo instante elas estampam em suas capas dicas de como
cuidar do corpo, explorando as imagens de artistas famosos como exemplos a serem seguidos,
uma vez que seus corpos se tornam objeto de desejo e cobiça, pois são eles os corpos
considerados ideais a serem seguidos.
As revistas femininas trazem em seus nomes e em suas capas as suas temáticas
preferenciais, ou seja, a valorização do corpo. Nomes de revistas como Boa Forma, Corpo a
Corpo, Plástica & Beleza, Dietas Já, são uma amostra do público que elas pretendem atingir.
Percebe-se também nessa revistas que há um estilo quase que autoritário em seus anúncios,
como a utilização de palavras como: perca, elimine, utilize, faça, tratando do corpo como um
objeto a ser remodelado e transformado por cirurgias, dietas, uso de cosméticos, ginásticas,
tudo isso com a promessa de se ter um corpo que enquadre nos padrões de beleza.
Dessa forma, essas revistas divulgam os estereótipos de cada época, pois em suas capas
há uma constante e incessante influência para que as mulheres busquem combater as
imperfeições de seu corpo, como as rugas, flacidez, melhoramento da pele e do cabelo,
emagrecimento fácil e rápido, fazendo do corpo um objeto de consumo uma vez que, para se
alcançar a beleza estampada nas capas se faz necessário consumir desde produtos que ajudem
a eliminar essas imperfeições a necessidade de cirurgias já que a beleza natural não é mais
valorizada e para ser e permanecer bonita faz-se a necessidade de utilizar tais artifícios que
contribuam para o aperfeiçoamento do corpo. De acordo com Santaella
Em pesquisa realizada por Adriana Braga3 que utilizou revistas femininas como objeto
de pesquisa ela nos mostra que:
3
Adriana Braga: Professora do Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro/Brasil. Pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisa Científica – CNPq. Disponível em
http://www.ihu.unisinos.br/uploads/publicacoes/edicoes/1158330426.05pdf.pdf
endereçada para a comunidade negra), em todas as demais, a mulher da capa é
branca, o que configura uma espécie de exclusão simbólica que valoriza
características de um padrão racial branco. Em 100% dos casos, a mulher da capa é
magra: atributo básico dos corpos discursivos dessa mídia. Em 75% dos casos, uma
“celebridade” estampa a capa, que parece funcionar como elemento de
identificação que visa um possível efeito de reconhecimento. (BRAGA, 2002 p.03).
Esse artigo reforça a discussão pretendida, pois como vimos às mulheres são realmente o
alvo nas capas das revistas e elas realmente lançam estereótipos a serem seguidos através de
artistas famosos conseguindo atingir seus objetivos com a ajuda de artifícios da linguagem
verbal e não-verbal, ou seja, utilizam recursos de linguagem que proporciona um diálogo
entre o anunciante e seu consumidor, a linguagem é utilizada para persuadir e manipular tais
consumidores a algum tipo de identificação, o que as leva a busca dos corpos mostrados nas
capas das revistas com imagens que nos mostra o apelo constante que as revistas fazem pela
busca por uma beleza ideal.
O objetivo das propagandas está em criar uma analogia com a vida real, explorar
imagens que possam remeter sensações de bem estar entre a propaganda e seu público e isso
sem confundir com a realidade. (AUMONT, 2002 p.103).
1.3 AS PROPAGANDAS DE CERVEJA
http://www.youtube.com/watch?v=n0TtQVT9x2A&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=DeGOYBfjLko&feature=related
1.4 ANALISANDO AS PROPAGANDAS
Nas propagandas de cerveja com muita freqüência, a mídia faz uso de uma mulher de
corpo perfeito, praticamente nua para vender os seus produtos, ao transmitirem essa imagem
às propagandas procuram seduzir não só os homens, mas também levam as mulheres a algum
tipo de identificação com a personagem da propaganda apresentada, ou seja, a publicidade
busca uma identificação do consumidor com o seu produto.
Assim o consumidor é levado a uma busca incessante para se adequar aos padrões de
beleza apresentados na mídia, e ao se identificar com os personagens das campanhas
publicitárias esse espectador se torna consumidor de tais produtos. Para Edgar Morin, 1992 o
erotismo na publicidade manifesta-se muito mais na instigação ao consumo do que no
consumo propriamente dito. Com isso, a publicidade consegue vender estilos de vida,
sensações, emoções, visões de mundo, relações humanas, sistemas de classificação. A
temática freqüente na publicidade é, portanto a ênfase aos belos corpos femininos que servem
para vender desde cerveja, perfumes, cosméticos, dietas, carros.
É o que percebemos nas propagandas das cervejas, Antarctica e Skol nelas as mulheres
estão utilizando pouca roupa e seus corpos estão sempre à exposição, como se caso elas
estivessem com outros trajes, os produtos não seriam vendidos da mesma forma, ou seja, o
corpo passa a ser mais um atrativo para os produtos serem comercializados e os homens tem
um papel de prestigio por consumir a cerveja e com isso conseguem conquistar as mulheres.
Já na propaganda da cerveja Skol, os atores deixam clara a felicidade pelo consumo da
cerveja e a diferença que é tomar a cerveja, pois com ela tudo fica melhor, pois após o
consumo de skol, na propaganda reina a felicidade. As pessoas que estão na propaganda são
apenas pessoas com corpos malhados, mais uma vez reafirmando os estereótipos que se
deseja impor para aqueles que querem seguir tais padrões.
A propaganda da cerveja Antarctica foi escolhida por ser uma propaganda que reafirma
quais estereótipos são necessários para se participar de comerciais de cerveja, pois quando a
atriz afirma que ela merece participar da propaganda por ser loira e boa, pois as propagandas
de cerveja em sua maioria mostram mulheres loiras com os corpos sem nem um tipo de
manchas, flacidez e sempre com seus corpos em forma.
Essas propagandas nos levam a analisar a quem e de que forma de fato essa exposição
do corpo feminino está favorecendo, pois para Bourdieu (1999) para se compreender a
dominação masculina é importante analisar as estruturas inscritas na objetividade e na
subjetividade dos corpos, inscreve-se nos corpos dos sujeitos dominados determinados
gestos, posturas, disposições ou marcas da sua submissão. Os corpos podem e só existem no
mundo social quando inseridos na sua cultura, deixando de ter um aspecto físico para assumir
um significado cultural.
O poder de seduzir das propagandas encontra-se na mensagem que está por trás das
propagandas, para Pinto (1997) o universo semântico alternativo que desta forma se engendra
são os verdadeiros motores da influência deste tipo de comunicação na vida dos sujeitos.
Percebemos isso também nas propaganda de cosméticos aqui apresentada pela marca Avon
no qual temos nessa propaganda a afirmação e a preocupação com o amanhã onde as
mulheres são levadas a se preocuparem com seu rosto, devem buscar tratamento com
produtos para eliminar as imperfeições que vão surgindo com o tempo e a idade, e isso se
reafirma ao ser dito na propaganda que este tratamento é um tratamento anti idade, ou seja,
são as exigências impostas pela mídia de se ter uma pele, corpo sempre jovem e belo.
Com isso, acreditar na beleza e seguir os padrões de beleza impostos pela mídia torna-se
legitimador quando o assunto é ser ou não bela. Assim, a empresa de cosméticos traz o
sujeito beleza, como via libertadora para as mulheres que assistem ao comercial, ou seja,
aquela que aderiu ao produto da empresa passa a ser bela,conquista uma pele jovem, que
consegue esconder as marcas da idade e portanto, a fazer parte dos estereótipos impostos pela
sociedade, estereótipo esse de uma mulher magra, cabelos esticados, jovem e branca. O que
traz aos que não se encaixam nesses padrões a sensação de serem estigmatizados, já que a
mídia repete com exaustão essas referências de beleza e como a mídia é a referência, os
comerciais perpetuam esses padrões a serem seguidos, buscados e alcançados pelas mulheres
em qualquer idade que esteja.
O aumento da expectativa de vida tornou-se um problema, pois fez com que as
mulheres passassem a uma busca por uma aparência sempre jovem e bela, elas não querem
envelhecer. Augras (1996) com isso nos diz que:
REFERENCIAS
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São Paulo: Ática,1986.
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GOLDENBERG, Mirian & RAMOS, Marcelo S. (2002). A civilização das formas: o corpo
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Goldenberg, Mirian (org.). Rio de Janeiro/São Paulo: Record.
LAQUEUR, Thomas (1990). La construcción del sexo: cuerpo y gênero desde los griegos
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