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UERN

Governo do Estado do Rio Grande do Norte


Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL – FASSO
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO

Discente: Ysla Christine da Silva Fernandes

O IMPACTO DA GORDOFOBIA NA SAÚDE MENTAL DAS MULHERES

MOSSORÓ
2022
RESUMO

Os movimentos que falam sobre a gordofobia (um sistema estrutural que discrimina
pessoas gordas) tem crescido e levantado a voz contra a forma como a sociedade
enxerga e trata essas pessoas. Infelizmente, os prejuízos causados à saúde mental das
pessoas gordas são um tema ainda pouco abordado, inclusive pelo feminismo.
O foco no corpo feminino, na beleza e em manter-se dentro dos padrões aceitos pela
sociedade, são formas de manter as mulheres sob controle. Sendo assim, está claro
que se o feminismo busca a igualdade de direitos, oportunidades e justiça para as
mulheres, a gordofobia precisa ser analisada sob a ótica feminista. A gordofobia afeta,
sobretudo, a saúde mental das pessoas gordas, pois viver em uma sociedade que nos
é hostil obviamente é um fator que causa sofrimento e, consequentemente, ansiedade,
pânico. Os perigos desses ataques são muito agudos, isso afeta completamente a
percepção que o indivíduo tem de si mesmo, muitas vezes as pessoas passam a se
odiar. E conseguir alterar isso é um processo muito longo e complexo.

Palavras-chaves: gordofobia, saúde mental, feminismo.


1. INTRODUÇÃO

O ser gordo, (a gordura) já foi definido como atributos pertencentes a famílias


pomposas, de grandes dotes, diferentemente do que é considerado hoje; qualificado
como uma anomalia, algo a ser combatido a todo custo.

Compreender o significado de gordofobia, e entender como isto afeta em diversos


âmbitos a vida das pessoas, é fundamental para compreender a existência política e
física no meio em que vivem. Sendo um fato social, que afeta principalmente o grupo de
mulheres, e em específico para mulheres gordas e negras em uma proporção tão maior.
Não se trata apenas de debates que envolvam a estética, o belo e aceitável, mas de
questões estruturais e limitantes para a subsistência destas pessoas.

O corpo gordo, exige que seja garantido a ele lugares maiores, uma assistência
médica respeitosa, aparelhos que o suportem, se faz necessário que isso seja garantido
sem maiores frustração, não se deve nivelar ou comparar os outros corpos que não
necessitem de tais especificidades, como parâmetro para não o fazer.

Hoje em dia, busca-se um padrão inalcançável de estilo de vida, corpo, status


social, levando a várias pessoas moverem suas vidas apenas em busca da perfeição.
Unido ao consumismo desenfreado, várias empresas de cosméticos, alimentação,
estética se beneficiam deste discurso e ganham milhões de reais, perpetuando a
felicidade em se tornar um padrão, incentivando assim a pressão estética.

Sendo assim, o corpo gordo, que diferentemente de ser algo minimamente aceito
para ter suas garantias preservadas pelo Estado, leva consigo todo o repúdio e exemplo
do que não ser seguido para a obtenção de um meio de vida saudável, e ser respeitado.
Concordantemente ao que o pré modernismo ressalta, onde há de se encaixar em um
padrão pré-estabelecido, mas que tem suas regras todos os dias aprimoradas, para algo
fora do comum ou natural, e reforçado na maioria das vezes por grandes influencers.

Ao se tratar dos dias atuais, é impossível não falar dos influencers que ganharam
grande notoriedade na internet, como fora dele. Uma nova profissão que surgiu nos
últimos anos, e que se baseia em pessoas sendo referências em estilo de vida, uso de
produtos, e também formadoras de opinião. No início, o palco era dado àqueles que já
possuíam a estética perfeita, caracterizando o modo de vida cotidiano tranquilo, sem o
stress de coisas básicas relacionadas a vida como contas, salário, tempo, causando a
sensação de fracasso aos telespectadores que comparam suas vidas a tais segmentos.
2. SAÚDE MENTAL E GORDOFOBIA

A saúde psicológica da pessoa gorda nunca é levada em consideração,


sobretudo na infância e adolescência. Constantemente, as pessoas falam em reforço
positivo para as crianças, mas, no tocante às crianças gordas, acho que a maior parte
delas se acostuma a ouvir apenas críticas e ofensas. Existem casos de pessoas que
sofreram bullying gordofóbico na escola e dentro de casa desde muito cedo. Levando
essas crianças que futuramente serão adultos a se odiarem, levando a um longo processo
para alterar esse fator, é muito comum encontrar notícias de pessoas que foram ofendidas
por alguém em determinado ponto da vida e, a partir daí, passaram por todo tipo de dieta
e procedimentos para emagrecer dezenas de quilos e “dar a volta por cima”.
As matérias sensacionalistas que a mídia exibe, mostrando “ex-gordas” que
decidiram emagrecer após sofrerem humilhações, mostram um lado distorcido da moeda,
já que a razão do emagrecimento é, na maioria das vezes, causa da gordofobia, de uma
agressão; é uma máscara colocada sobre algo negativo que deveria ser combatido e não
estimulado. Outro fator que é muito esquecido é que às vezes a pessoa gorda começa a
emagrecer e recebe muitos elogios e incentivos; contudo, nem sempre esse
emagrecimento vem de forma saudável. Existe essa imagem formada de que pessoas
com transtornos alimentares como a bulimia são sempre magras. Com isso, muitas
mulheres gordas sofrem silenciosamente de transtornos dessa natureza.
A saúde pública vem defendendo o emagrecimento como forma inquestionável
e sem danos de atingir saúde. Ou seja, as intervenções de saúde pública estão focadas
na perda de peso, sem se preocupar com seus possíveis efeitos iatrogênicos.
A gordofobia está impregnada na nossa concepção de corpo, constituindo
limitações, culpa e a exclusão das pessoas gordas, que obriga as pessoas gordas a
emagrecer afinal é considerado um problema reversível. A gordofobia é sutil, profunda e
enraizada especialmente no âmbito da saúde, contudo, cada vez mais pesquisadores têm
reconhecido que envergonhar a pessoa pelo seu peso não é motivador e é prejudicial à
saúde.
A mulher gorda, para se tornar sujeito, deve ter um fundante repúdio em si
mesma, ou seja, para ser inserida na sociedade essa mulher precisa buscar o
emagrecimento, assim ela atesta que está buscando se tornar “normal”. E ocorre uma
vigilância sobre essas corporalidades para que estejam sempre provando que buscam
atingir o estatuto da magreza e beleza, principalmente utilizando o discurso médico de
saúde.
O movimento body positive, que visa uma crítica ao padrão de beleza que
fomenta a pressão estética, defendendo a ideia de que todo corpo é belo, com ênfase
para corpos que se distanciam da normatização do corpo cis branco magro
heteronormativo e sem deficiência. Assim, suas pautas e ações normalmente são
voltadas para a aceitação, autoestima, moda e belezas diversas. No Brasil o movimento
também ficou conhecido pela hashtag #corpolivre criada pela jornalista e influenciadora
digital Alexandra Gurgel.
Depois de dez anos atuando no jornalismo, Alexandra decidiu empreender. Foi
assim que criou seu canal no YouTube, o Alexandrismos. Alexandra conta que iniciou
seu processo de autoaceitação e empoderamento em 2015. De lá para cá, ela vem se
tornando referência na discussão de temas que envolvem o feminismo, gordofobia, e
o Body Positive – movimento nascido nos Estados Unidos, com o objetivo de que as
mulheres desconstruam a ideia de “corpo perfeito” e amem seus corpos em sua
diversidade.
Alexandra conta que para falar de gordofobia é necessário, antes, entender a
pressão estética. Entender que a insatisfação corporal é um problema social que
acontece com absolutamente todos os corpos, porque esse é um dos objetivos do nosso
sistema patriarcal, machista e capitalista.
O livro “O mito da beleza”, publicado em 1990. Nele, a jornalista
americana Naomi Wolf afirma que, após a revolução industrial, o culto à beleza da mulher
começou a ser estimulado pelo patriarcado, atuando como mecanismo de controle social
até os dias atuais. Ou seja: o patriarcado quer que a gente odeie nossa imagem, gaste
todo nosso dinheiro com ela, e viva só para isso.
Existe uma pesquisa de imagem corporal da MediaSmarts, uma organização
com enfoque em estudos de mídia, que constatou que olhar revistas durante apenas 60
minutos reduz a autoestima em mais de 80% das mulheres.
Uma outra pesquisa de uma Universidade da Austrália, diz que basta 30 minutos
rolando o feed do Instagram para que a sua autoestima seja abalada pelas imagens
postadas na plataforma. Pode-se perceber que a insatisfação é quase que o estado de
espírito normal do ser humano, e o que a indústria do corpo perfeito quer é que a mulher
se mantenha insatisfeita a todo momento.
Segundo o Dr. Aric Sigman, (um cientista britânico), o fato de um número
expressivo de mulheres admirarem corpos que são padrões de beleza e se sentirem
insatisfeitas com os seus corpos tem um efeito imediato na química do cérebro,
diminuindo a autoestima e podendo aumentar o auto-ódio, fazendo com que a pessoa
queira mudar o seu corpo.
Por sua vez o mercado acompanha isso. A indústria do corpo perfeito move
milhões todos os anos, com novos shakes, dietas, remédios e todos os “milagres” para
“ser bonita”. Fora promessas de transformações com cirurgias e procedimentos estéticos.
O Brasil é o segundo no ranking de cirurgias plásticas e estéticas, perdendo apenas para
os Estados Unidos.
Além disso, a imagem do corpo perfeito está sempre atrelada à saúde. E quando
se fala de saúde, só se tem aquela imagem física de um corpo esbelto, definido. A saúde
mental fica deixada de lado, sempre em segundo plano. Por que, na verdade, não é sobre
saúde, é sobre imagem. Não é sobre um corpo nutrido, feliz e satisfeito, é sobre ser bonita
sem pensar nas consequências que a busca por esse corpo perfeito pode gerar.
Um dado de uma pesquisa feita no Brasil em 2011 mostrou que 92% das
mulheres estão insatisfeitas com a sua aparência. Outro dado de Dove global, também
de 2011, mostrou que no mundo inteiro são 96% de mulheres insatisfeitas. É um problema
global, sistêmico e urgente.
E quando se fala em urgente, é porque tem gente que se mata por isso. Em
2011, uma criança irlandesa de 11 anos, que já demonstrava problemas de autoestima e
com sua alimentação, se matou e escreveu com o próprio sangue na parede: “Garotas
bonitas não comem”, demonstrando uma máxima da anorexia.
De acordo com uma fala da neuropsicóloga Merissa Forsyth, do Pretty
Foundation, na Austrália, a insatisfação pode afetar a autoestima e os desempenhos
psicossocial, físico e cognitivo. Isso tudo gerar, por exemplo, pessoas apresentando
quadros de anorexia, bulimia e compulsão alimentar. É exatamente sobre a busca do
corpo perfeito sem pensar nas consequências. Nunca é sobre saúde.
Uma das principais lutas da antigordofobia é tirar o estigma de doente de corpos
gordos. É notório que nunca é sobre saúde, é na verdade um incômodo com o corpo
gordo, e é necessário que exista um limite. Pessoas gordas não são aquelas assistimos
sofrendo nos realities shows de emagrecimento. A falta representatividade é sobre isso:
quando vemos a imagem de pessoas gordas é sempre no sofrimento, de forma pejorativa,
a “coitada” que ninguém quer se parecer, ao invés de ser representada por vários
influencers que se exercitam tem uma vida saudável e acima de tudo lutam por uma
mente saudável.
3. CONCLUSÃO

Quando falamos de gordofobia que nada mais é que o processo de


desumanização de corpos gordos, tornando-os automaticamente seres estranhos,
doentes e estereotipados. Sem nenhum tipo de representatividade (apenas quando se
trata de perder peso), sem acesso, sem o direito de ir e vir. Se você não tem roupa, você
nem considera sair de casa, inclusive nem se fala do fato da dificuldade de encontrar
roupas grandes, a pessoa gorda é marginalizada, tem uma sociedade inteira dizendo
para ela que ela é feia, menos, pior, tudo de ruim, doente, nada atraente. É como se
tivesse um zíper no topo da cabeça da pessoa gorda para que ela abrisse e, de lá,
saísse uma pessoa magra. Não é sobre isso. É sobre direitos que muitas pessoas têm
e vivem, e pessoas gordas não. E imagine então quando a pessoa é gorda e preta? E
gorda, preta e transexual? É preciso entender os recortes também, e ainda estamos no
começo de todo esse movimento.
Referências Bibliográficas:

GURGEL, Alexandra. Comece a se amar. 1ª Edição. Editora Best Seller, 2021.

WOLF, Naomi. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as
mulheres. Editora Rosa dos Tempos, 7 de junho de 2018

BUTLER, J. Introdução. In: BUTLER, J. Corpos que importam: os limites discursivos do


"sexo". São Paulo: N-1 Edições, 2019. p. 15-53.

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