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Beleza como venda

Em busca de uma imagem inatingível de perfeição física, mulheres e homens perdem a saúde,
oportunidades e até a vida. A discriminação separa, seleciona e impede aproximações e
crescimento em experiências, a imposição de um padrão de beleza social pode comprometer -
presente, futuro e passado das vítimas de pressão estética, nas quais são escondidas, e além
disso, sofrem caladas pelo alto corpo vitrine na sociedade.

Existem hoje mais de 50 milhões de influenciadores na plataforma de entretenimento Instagram


nos dizendo como agir, o que comprar e como viver, é uma economia crescente e poderosa que
usa de imagens e vídeos o tempo todo para gerar desejo na sociedade do eu, por uma vida que
não é nossa. Consequentemente surgindo uma economia da comparação, onde especialistas
em corpo - moda - beleza - mente e decoração nos mostram diariamente os chás de
emagrecimento, os conjuntos de moda que causam impacto, além da bolsa de luxo de 20 mil
reais que proporciona certo status social juntamente o tanquinho que nos proporciona
satisfação corporal e estética.

Enfim, nesse cenário é praticamente impossível não se comparar o tempo todo, ao escolher
quem seguimos, escolhemos além a quem nos comparamos - essa economia gera bilhões para
empresas que usam seus influenciadores para propagarem seus estilos de vida e sugestões de
soluções enquanto ficamos cada vez mais apegados nas suas infinitas sugestões de compras e
estética. No decorrer do tempo as pessoas acabam se esquecendo que ao comprar um bowl
vegano, um chá de emagrecimento ou um guia de receitas fit não cumprirá com seus desejos, e
ao final do dia só restará a frustração e ao pensar que adquirindo esses produtos ou uma
mudança estética a persona irá alcançar a aprovação da sociedade, no final infelizmente a
aprovação individual também não se atinge em limite - o que se torna problemático olhando
pelo ponto de vista psíquico.

Uma sociedade coberta de ilusão e simulação por uma vida, que na maioria das vezes não existe
verdadeiramente se tornou rotineiro para a população atual. A busca de ir para lugares
externos para suprir desejos verdadeiros segue uma linhagem de decaimento sociológico e
individual.

O que nos resta é a pergunta: “Será que existe vida após a influência?” Uma matéria do New
York Times em abril de 2023 contou a história de Lee Tilghma, uma influenciadora americana
com mais de 400 mil seguidores, que já chegou a faturar mais de 20 mil dólares por mês, largou
o emprego de influenciadora e se qualificou para um emprego comum, porém após algum
tempo voltou para ensinar outros influenciadores a influenciar a sociedade digital. O mercado
de influência continua crescendo, a economia de creators deve atingir 20 bilhões de dólares até
2026, com isso as empresas economizam em campanhas de marketing e atingem um número
maior de pessoas por meio de: persona. Com isso, algumas faculdades americanas estão até
oferecendo formação superior para próximas geração de estrelas da internet.

É cômico como a economia muda a situação, mesmo com a constante agravação de doenças
mentais diariamente na internet, o mercado segue apontado para estimular mais pessoas a
seguir a linha da influência digital. Existe solução para este paradoxo? A pressão por estar
sempre em dia com a alimentação, tendências e atividades físicas podem gerar consequências e
despreciar nossas próprias vidas por não estarmos vivendo da maneira que gostaríamos de
viver baseada nos conteúdos que decidimos acompanhar e nos comparar.

Em uma sociedade onde muitas vezes somos avaliados pela estética e pela busca por uma
perfeição física idealizada por nós mesmos, como pode existir uma libertação para a aceitação? De
um lado, existe um discurso poderoso sobre positividade corporal e saúde mental, porém do outro
existe uma adoração por ídolos, corpos esculpidos e uma busca extrema por esses ideais.

A busca pelo fundamento da perfeição está adoecendo a sociedade de juventude atual, a idealização
da perfeição física com símbolos de beleza que cada vez ficam mais difíceis de atingir. Perdendo
tempo, dinheiro e energia alguns indivíduos acabam gerando sérios distúrbios alimentares, de
acordo com o Ministério da Saúde mais de 70 milhões de pessoas no mundo possuem algum tipo de
distúrbio alimentar associado a um problema de saúde mental. Esses distúrbios como anorexia
nervosa e bulimia são resultados de uma preocupação exagerada com o nosso peso que pode
ocasionar sérios problemas psiquiátricos.

O coletivo de corpos mostrados por meio da globalização causa na sociedade um processo de


dismorfia corporal coletiva, com medo de sair do famoso padrão corporal - às pessoas exageram na
atividade física em excesso, jejuns, vomitos, além de laxantes e diuréticos. Esses transtornos se
manifestam principalmente, em mulheres adolescentes de 12 a 17 anos, embora sua incidência
esteja se manifestando também em homens, e mais comum entre homens gays.

Uma mudança na cultura do conteúdo nos leva da “era do mostrar” para a “era do ser”. Cada vez
mais, a moda e beleza caminham para a direção de escolhas feitas e pensadas para nossa
identidade. Os padrões de beleza persistiram ao longo da história, evoluindo, transformando e
flutuando, porém nunca desaparecendo. Cabe a sociedade, ter consciência e responsabilidade sobre
o efeito da imagem e da influência que passamos para o outro.

BIBLIOGRAFIA

Creator economy: qual é o futuro do marketing de influência? | Portal FGV

https://www.nytimes.com/2023/04/11/style/lee-tilghman-influencer.html

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/mais-de-70-milhoes-de-
pessoas-no-mundo-possuem-algum-disturbio-alimentar

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