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O ENSINO DA MÚSICA COMO AUXILIAR NA MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA DE

CRIANÇAS E JOVENS COM ANSIEDADE E DEPRESSÃO

ISABELA F. L. WEINGARTNER
RU: 3098381

1. Tema
O presente projeto aborda como tema o ensino da música como elemento
auxiliador na melhora da qualidade de vida de crianças e jovens que apresentam como
transtornos mentais a ansiedade e a depressão.

2. Problema
Como a aprendizagem da música pode auxiliar na melhora da qualidade de vida
de crianças e jovens, numa faixa etária entre 6 e 19 anos, que apresentam como
transtorno mentais a ansiedade e a depressão?

3. Justificativa
Nesse trabalho de pesquisa iremos expor os benefícios que a aprendizagem da
música pode trazer, a nível psicológico, para crianças e adolescentes que lidam com
problemas de depressão e ansiedade, sendo uma forma de orientação para
profissionais que trabalham inseridos neste âmbito.

4. Objetivos
 Objetivo geral: evidenciar os benefícios que a aprendizagem da música traz a crianças
e jovens que apresentam transtornos de depressão e ansiedade
 Objetivos específicos:
 Esclarecer a relação que crianças e jovens com depressão e ansiedade desenvolvem
com o aprendizado da música;
 Descrever os benefícios que o ensino da música traz a esses jovens com transtornos
mentais;

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 Auxiliar professores, familiares e outros profissionais que lidam com essa questão
frequentemente.

5. Metodologia
Essa pesquisa será feita de forma qualitativa e terá uma abordagem de cunho
bibliográfico e documental, sendo os dados coletados em artigos e trabalhos
científicos, documentários, entrevistas já realizadas, etc.

6. Revisão bibliográfica/ Estado da arte

De acordo com pesquisas feitas recentemente, a ansiedade e depressão são dois


transtornos mentais que vem apresentando uma taxa de crescimento anual constante, que
teve seu maior ápice durante o advento da pandemia do COVID-19.

Dados da OMS mostram que os dois transtornos citados tiveram um aumento geral
de 25% já no primeiro ano de pandemia. Em 2022, a OMS fez uma reunião em Genebra para
revisar as metas de melhora na qualidade da saúde mental da população mundial de forma
geral, já que evidentemente esse assunto, apesar de já ser discutido, ainda não recebia sua
devida atenção, ainda mais com pesquisas mostrando o baixo nível de atendimento
adequado a pessoas com transtornos mentais.

Um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) coordenado pelo Dr.


Guilherme Polansky apontou que uma a cada 4 crianças e adolescentes apresenta quadro
clínico de depressão e ansiedade desde o início da pandemia e ainda comenta que a maior
parte desses indivíduos não recebe tratamento médico adequado. Polansky também nos
expõe, em concordância com dados do IBGE (2020), que em uma população de 60 milhões
de habitantes com menos de 19 anos de idade temos uma incidência de 13% (aprox. 8
milhões) de crianças e adolescentes com pelo menos um transtorno mental diagnosticável.

Outro estudo realizado em 2018 com dados do GBD, ainda evidencia que os
transtornos mentais estão entre as principais causas de anos perdidos por incapacidade e
DALYs na Europa e nas Américas, tendo como referência a análise de crianças de 5 a 14
anos. O mesmo também nos alerta para o crescimento acelerado da carga de doenças
mentais e aponta que as principais causas de DALYs são os transtornos de depressão e
ansiedade em grupos de jovens que vão de 10 a 24 anos.

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Os transtornos depressivos incluem transtorno disruptivo da desregulação do humor,
transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual,
transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo
devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno
depressivo não especificado. A característica comum desses transtornos é a presença de
humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que
afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. No presente
trabalho abordaremos mais o transtorno depressivo maior, que representa a condição
clássica desse grupo de transtornos, sendo caracterizado por episódios distintos de pelo
menos duas semanas de duração envolvendo alterações nítidas no afeto, na cognição e
em funções neurovegetativas, e remissões interepisódicas, e o transtorno depressivo
persistente, que é uma forma mais crônica de depressão e pode ser diagnosticada quando
a perturbação do humor continua por pelo menos dois anos em adultos e um ano em
crianças. (DSM-5)

Os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de


medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a
resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a
antecipação de ameaça futura. Obviamente, esses dois estados se sobrepõem, mas
também se diferenciam, com o medo sendo com mais frequência associado a períodos de
excitabilidade autonômica aumentada, necessária para luta ou fuga, pensamentos de
perigo imediato e comportamentos de fuga, e a ansiedade sendo mais frequentemente
associada a tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e
comportamentos de cautela ou esquiva. Os transtornos de ansiedade se diferenciam do
medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além de períodos
apropriados ao nível de desenvolvimento. Muitos dos transtornos de ansiedade se
desenvolvem na infância e tendem a persistir se não forem tratados. O indivíduo com
transtorno de ansiedade de separação é apreensivo ou ansioso quanto à separação das
figuras de apego até um ponto em que é impróprio para o nível de desenvolvimento.
Embora os sintomas se desenvolvam com frequência na infância, também podem ser
expressos durante a idade adulta. O mutismo seletivo é caracterizado por fracasso
consistente para falar em situações sociais nas quais existe expectativa para que se fale. O

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fracasso para falar acarreta consequências significativas em contextos de conquistas
acadêmicas ou profissionais ou interfere em outros aspectos na comunicação social
normal. No transtorno de ansiedade social (fobia social), o indivíduo é temeroso, ansioso
ou se esquiva de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser
avaliado. No transtorno de pânico, o indivíduo experimenta ataques de pânico inesperados
recorrentes e está persistentemente apreensivo ou preocupado com a possibilidade de
sofrer novos ataques de pânico ou alterações desadaptativas em seu comportamento
devido aos ataques de pânico. Os ataques de pânico são ataques abruptos de medo intenso
ou desconforto intenso que atingem um pico em poucos minutos, acompanhados de
sintomas físicos e/ou cognitivos. As características principais do transtorno de ansiedade
generalizada são ansiedade e preocupação persistentes e excessivas acerca de vários
domínios, incluindo desempenho no trabalho e escolar, que o indivíduo encontra
dificuldade em controlar. Além disso, são experimentados sintomas físicos, incluindo
inquietação ou sensação de “nervos à flor da pele”; fatigabilidade; dificuldade de
concentração ou “ter brancos”; irritabilidade; tensão muscular; e perturbação do sono.
(DSM-5)

Tendo como referência o dicionário de Merriam-Webster, a música “é a ciência ou arte de


ordenar tons ou sons em sucessão, em combinação e em relações temporais para produzir
uma composição com unidade e continuidade”. Já para Kurt Pahlen, “A musica é um
fenômeno acústico para o prosaico; um problema de melodia, harmonia e ritmo para o
teórico; e o desdobrar das assas da alma, o despertar e a realização de todos os sonhos e
anseios de quem verdadeiramente ama. ”

Conforme se observa no Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil, RCNEI


(1998), a música é entendida como linguagem musical com capacidade de comunicar
sensações e sentimentos por meio do som e do silêncio e está presente em todas as
culturas, sendo que na Grécia antiga já era considerada fundamental e obrigatória na
formação dos futuros cidadãos, além de também já ser usada como forma de cura para
algumas enfermidades específicas.

Há muito tempo, estudiosos como Loureiro (2003) e Correia (2010), têm se dedicado a
entender os benefícios que a aprendizagem de música traz para o desenvolvimento

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humano. Os estudos apontam que, para além de momentos prazerosos, o aprendizado de
música contribui para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, emocionais e sociais,
promovendo o bem-estar do indivíduo e ampliando outras áreas para formação plena do
indivíduo, sendo uma linguagem que oferece muitas possibilidades interdisciplinares. Os
estudos revelam também que ela proporciona o resgate emocional, o que reflete em
melhoria no convívio social, na autoconfiança, sociabilidade, relacionamento interpessoal,
concentração, raciocínio, entre outros, ajudando na superação de problemas como
violência, uso de drogas, depressão e ansiedade.

De acordo com uma pesquisa realizada com crianças e adolescentes em situação de


carência, se for possibilitado à elas o acesso às atividades musicais elas terão uma melhor
qualidade de vida, pois, a partir do momento em que as crianças praticam música, libertam-
se do stress, e isso facilita a concentração e, em consequência, melhoram o raciocínio
lógico, conseguindo melhorar até mesmo o desempenho escolar. Com a música, a criança
expressa suas emoções e organiza melhor seus pensamentos. E, o mais importante, por
meio da música aprende de forma intensa e prazerosa.

Na adolescência se faz necessário uma atenção especial a saúde mental, pois é um período
de vulnerabilidade, uma fase em que ocorrem mudanças com possibilidades de inúmeras
influências dependendo do meio social, cultural e econômico ao qual está inserido e se
desenvolvendo o adolescente. Nessa fase temos um período marcado por experiências,
descobertas, incertezas, construção da identidade e alterações tanto no corpo quanto na
mente, e é nesse contexto que os problemas com a depressão e a ansiedade passam a ser
evidenciados com mais frequência.

A música desperta nas crianças e nos adolescentes a capacidade de desenvolver um modo


de se expressar ativo, podendo auxiliar em seu desenvolvimento psíquico, além de
contribuir efetivamente para promoção da cidadania. A música também apresenta uma
capacidade de influenciar diretamente o estado emocional do ser humano, devido ao fato
de conseguir desencadear reações fisiológicasDeste modo, a percepção musical invade
muitas variáveis, atingindo áreas encefálicas, influenciando todo o corpo, o que justifica as
reações emocionais e fisiológicas ocorridas.

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O contato com a música proporciona melhoria no aprendizado devido ao empenho das
atividades cerebrais, tornando os indivíduos envolvidos nesse processo mais sensíveis,
criativos, comunicativos, imaginativos, com memória ativa, concentração, autodisciplina,
respeito ao próximo, mais sociáveis e afetivos.

A diminuição de sintomas de depressão e ansiedade é claramente observado quando há a


participação ativa em atividades musicais, auxiliando no estabelecimento de habilidade
sociais, que são as desenvolturas de ação do indivíduo em seu ser para com a sociedade.

Tocar um instrumento, ter aulas de música ou ainda apreciar de forma ativa a música,
potência a aprendizagem cognitiva, particularmente no campo do raciocínio lógico, da
memória, do espaço e do raciocínio abstrato. Ao nível cerebral e do desenvolvimento
neurológico, Levitin (2006) investigou e explorou num dos seus livros que a música
expande os canais neuronais e potência a ligação entre os dois hemisférios cerebrais. São
necessárias todas as partes do nosso córtex cerebral para processar a música como um
todo: o lobo frontal liga-nos ao autocontrolo, à atribuição do “sentido”; o lobo temporal
associa-se à memória e audição; lobo occipital, visão; e por fim o cerebelo está associado a
todas as emoções e movimentos. Isto aumenta a capacidade da criança de lidar com a
frustração e evitar uma reação exagerada a situações difíceis, seja ainda numa idade tenra
ou já em idade adulta.

Gordon (2000) enumera alguns benefícios da utilização da música na Saúde Mental e


Psiquiatria como: (1) explorar sentimentos pessoais (autoestima e introspeção pessoal); (2)
promover alterações positivas no humor e estados emocionais; (3) controle sobre
situações na vida em experiências bem-sucedidas; (4) realçar a consciência do eu e do
ambiente; (4) facilitar a expressão verbal e não verbal; (5) desenvolver o coping e as
atividade de relaxamento; (6) promover sentimentos de saúde; (7) melhorar habilidades,
resolver e testar problemas da realidade; (8) promover a integração social; (9) melhorar
níveis de atenção e concentração; (10) ajudar adotar formas corretas de comportamento;
(11) ajudar na resolução de conflitos, de forma a fortalecer os relacionamentos familiares e
com o par.

A música consegue de formas muito especiais ter algum papel, no desenvolvimento de


crianças e jovens com distúrbios de depressão e ansiedade, atenuando seus sintomas

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principais e diminuindo níveis de sofrimento, melhorando assim a qualidade de vida de
quem vive essa realidade.

7. Referências
HAJE, L. Uma a cada 4 crianças e adolescentes teve sinais de ansiedade e depressão na
pandemia, aponta estudo.Agencia Camara Noticias.2021. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/774133-uma-a-cada-4-criancas-e-adolescentes-teve-
sinais-de-ansiedade-e-depressao-na-pandemia-aponta-estudo/
ESCRITÓRIO REGIONAL PARA AS AMÉRICAS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAUDE.
OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção. Jun.2022.
OPAS. Organização Pan-Americana de Saúde. Disponível em:
https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-
transformar-saude-mental-e-atencao]
BUCHWEITZ, C.; MARI,J; KIELING, C. Saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil:
evidencias para ação. 2º Fórum de políticas públicas de saúde para infância. Fundação José
Luiz Egydio Setúbal.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. DSM- 5. 5º Edição. Pg. 155-189.
SOUZA, J. B.et al.A música como prática de promoção da saúde na adolescência. Rev.
Enferm. UFSM - REUFSM Santa Maria, RS, v. 9, e11 p. 1-14, 2019 DOI: 10.5902/2179769230379
ISSN 2316-5464.
MALTA, C. D.Global Burden of Disease. GBD-Brasil- 2019. Universidade Federal de Minas
Gerais, UFMG, 2017

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