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TEXTO 1 - O que é fluência em leitura?

A leitura é uma atividade bastante complexa porque ela envolve um conjunto de


habilidades que o leitor precisa acionar simultaneamente enquanto lê, o esforço e a
energia gasta pelo leitor para realizar a compreensão daquilo que lê.

Sabemos que o leitor fluente precisa ser capaz de decifrar aquilo que está escrito e, ao
mesmo tempo, precisa produzir sentido para aquilo que está lendo. Por isso, é tão
importante que o leitor seja capaz de deslizar pelo texto, de decifrar o que está escrito
sem maiores dificuldades, porque assim consegue dedicar mais energia cognitiva para
a compreensão do que está lendo, ou seja, é mais capaz de produzir sentido para aquilo
que lê.

Já deu para entender que toda prática de leitura exige o uso simultâneo de mais de uma
atividade cognitiva, não é mesmo? Agora, vamos tentar situá-lo nessa discussão com
uma analogia bastante comum.
E o que essa analogia tem a ver com o nosso tema? Como já foi adiantado, tal qual
andar de bicicleta, e diversas outras ações que realizamos e nem nos damos conta, a
leitura exige o uso de habilidades que devem ser acionadas simultaneamente. Enquanto
você lê este texto, por exemplo, algumas habilidades estão sendo mobilizadas: a
decodificação das palavras e a compreensão do sentido produzido a partir da interação
entre elas, o sentido que assumem no contexto do texto e os sinais de pontuação, além
da relação que estabelecem com seu conhecimento particular de mundo e suas
experiências anteriores de leitura. Provavelmente, essas operações se deram de tal
forma que você nem se deu conta desses detalhes.

Não foi necessário somar V com O e C com Ê para decifrar o pronome “Você”. O mero
passar de olhos pelo termo já o fez reconhecer a palavra. Também não precisou parar
para refletir sobre o significado da mesma: de cara, soube que o termo fazia referência
à sua pessoa, que é o leitor desse texto. E, ao avançar sobre o trecho, percebeu o uso
do ponto de interrogação, o que o fez mudar o tom da frase, transformando-a em uma
pergunta. Inclusive, antes de terminá-la, o sinal da vírgula sinalizou uma pausa, seguida
de uma expressão informal que reforçou a intenção de interagir com o leitor: “não é
mesmo?”

Embora toda essa explicação seja um tanto longa, tais ações foram realizadas de forma
automática pelo seu cérebro. E é disso que se trata a fluência, a capacidade de realizar
habilidades simultâneas durante a decodificação e compreensão de um texto. Ler com
fluência significa ler sem embaraços, sem grandes dificuldades para decifrar o que está
escrito, de modo que um leitor fluente é aquele que consegue “deslizar” pelo texto.

A fluência em leitura é essa capacidade de deslizar pelo texto, de decifrar o texto, sendo
capaz de traduzir as palavras em sons e ao mesmo tempo de observar os sinais de
pontuação que dão entonação ao texto. Sendo assim, o leitor fluente é aquele que
consegue:
Ser fluente é uma condição fundamental para compreender o que se lê. Daí a
importância de se avaliar a fluência, visto que saber o nível em que se encontram os
estudantes no processo de alfabetização é uma informação valiosa para o professor
planejar suas ações pedagógicas.

Os dados da avaliação de fluência ajudam o professor a ter maior compreensão do que


os seus alunos já são capazes de decifrar, levando, assim, a ler com mais desenvoltura.
Além disso, contribui para a identificação do que ainda precisam desenvolver para
diminuir o grande esforço que empregam para a decodificação do que está escrito.

A avaliação de fluência cumpre um importante papel de mostrar que tipo de erros os


estudantes estão cometendo, auxiliando o professor na identificação e compreensão de
suas dificuldades.

KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993.

ASSESSMENT READING FLUENCY. Palestra. Direção e produção Centro de Políticas Públicas e


Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2019 (39 minutos).

CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO. Padrão técnico de


modelagem dos testes de fluência, 2018.

CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO. Perfil de leitor. Juiz de Fora:


CAEd/UFJF, 2018.

MICARELLO, Hilda. Subsídios à formação de professores com foco os resultados da


avaliação de fluência em leitura. Juiz de Fora: CAEd/UFJF, 2019.
TEXTO 2 - A importância da leitura fluente

Todos nós sabemos que, durante a alfabetização, é natural que a criança encontre
dificuldades, tropece entre uma sílaba e outra e trave algumas batalhas com palavras
desconhecidas. Mas sabemos que, caso não receba o suporte necessário, esses
tropeços poderão se intensificar e fazer com que, nos anos seguintes, ao interagir com
textos de diferentes disciplinas, novos obstáculos apareçam. E assim, da infância até a
vida adulta, cada barreira não superada dará lugar a outra ainda maior.

Na fluência, os tropeços devem diminuir na medida em que o estudante avança em sua


trajetória de aprendizado. Isso porque, quando o leitor tem muitas dificuldades para
decifrar o que está escrito, todo o seu esforço acaba se concentrando nessa tarefa, de
modo que ele terá dificuldades para compreender o que leu. Afinal, como na analogia
da bicicleta, é bastante difícil pensar no que está escrito, juntando sílabas ou palavras
uma a uma, e refletir sobre o conteúdo daquilo que está sendo lido. Sendo assim,
quando um leitor tropeça no texto a todo momento, ele não consegue juntar tudo o que
leu e formar um todo significativo.

Os aspectos que compõem a fluência

A fluência não é o mesmo que a compreensão do texto. Ela é o elo entre a decodificação
das palavras à compreensão daquilo que foi lido. Assim, podemos afirmar que a fluência
é constituída por meio de três pontos fundamentais relacionados à leitura: precisão,
velocidade ou automaticidade e prosódia. Vamos entender cada um separadamente.
Desta forma, a avaliação de fluência objetiva diagnosticar se o estudante já possui a
capacidade de ler em voz alta de uma forma rápida, precisa e expressiva. Isso é
importante, pois a falta de fluência leitora tem sido observada como um dos fatores para
a dificuldade de compreensão de textos escritos, o que gera consequências negativas,
como a desmotivação para a leitura.

A avaliação de fluência também averigua em que medida o estudante já aprendeu os


princípios que regem a relação entre fonemas e grafemas, fundamental no processo de
alfabetização e desenvolvimento da compreensão de textos escritos, uma vez que esse
domínio é muito importante para o processo de desenvolvimento das habilidades de
leitura e escrita.

Na avaliação da fluência, a criança é convidada a ler palavras, pseudopalavras e uma


pequena narrativa sobre a qual deverá responder algumas perguntas sobre o enredo.
Para cada uma dessas tarefas de leitura, considera-se o tempo de 60 segundos (um
minuto). Aqueles estudantes que conseguirem ler um dado número de palavras sem
embaraços e dificuldades, no tempo dado, serão considerados Leitores Fluentes,
enquanto os demais podem se posicionar entre os perfis de Pré-Leitor e Leitor Iniciante,
além daqueles não foram capazes de realizar qualquer leitura.

Na avaliação de fluência, realizada por meio de um aplicativo desenvolvido pelo


CAEd/UFJF, o estudante realiza, como dissemos, três tarefas de leitura oral, a partir
das quais é observado o nível de fluidez de sua leitura, vamos às etapas:

É apresentado um conjunto de palavras dicionarizadas. Nesta tarefa a leitura é


observada por rotas fonológicas e lexical (pois é preciso identificar se a criança conhece
a palavra por memorização).

É apresentado um conjunto de palavras inventadas (pseudopalavras). Nesta tarefa a


leitura é observada pelo seu aspecto fonológico, já que não há o envolvimento da
memorização na leitura da palavra.

As palavras são apresentadas dentro de um contexto (utilização de texto curto), uma


narrativa ficcional que mescla vocabulários de diferentes classes gramaticais em
estruturas sintáticas diversas.

A análise da leitura do estudante ocorre a partir da observação dos três aspectos já


mencionados aqui: velocidade, precisão e prosódia. Além disso, os resultados são
classificados conforme o perfil de leitor observado em sua leitura, que veremos na
terceira aula, tendo como parâmetros a fluidez e precisão.

Não se preocupe, a prosódia é observada apenas como dado de pesquisa, ou seja,


informação associada que será utilizada para fins de pesquisa quando da interpretação
da escala de fluência.

KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993.

ASSESSMENT READING FLUENCY. Palestra. Direção e produção Centro de Políticas Públicas e


Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2019 (39 minutos).

CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO. Padrão técnico de


modelagem dos testes de fluência, 2018.

CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO. Perfil de leitor. Juiz de Fora:


CAEd/UFJF, 2018.

MICARELLO, Hilda. Subsídios à formação de professores com foco os resultados da


avaliação de fluência em leitura. Juiz de Fora: CAEd/UFJF, 2019.
Texto 3 - A fluência em leitura: elo para a compreensão leitora

Quando falamos aqui de compreensão de textos, estamos nos referindo à capacidade


de se extrair sentido daquilo que se lê, ou seja, de articular as informações presentes
no texto com o conhecimento de mundo, construindo o sentido da leitura. E esse é o
objetivo do processo educacional, é aquilo que visamos atingir quando estamos
alfabetizando nossos estudantes: que eles sejam capazes de ler e entender os textos
que leem.

A importância da fluência em leitura para o desenvolvimento da compreensão


leitora

Bem, a respeito da compreensão de textos, pelo menos nos últimos cinquenta anos,
pesquisadores e professores têm se debruçado sobre o tema, buscando entender quais
os processos cognitivos e as habilidades envolvidas para a construção da compreensão
de textos. E nessa caminhada, nessa trajetória, buscaram também desenvolver
modelos, portanto, que expliquem o desenvolvimento da compreensão de textos. E um
desses modelos é a visão simplificada da leitura. Esse modelo traz uma seguinte
fórmula, dizendo que a compreensão leitora (a compreensão de textos) é o resultado da
decodificação de palavras escritas vezes [x] a linguagem oral, ou seja, a questão da
construção do próprio vocabulário receptivo e produtivo.
“Simple View of Reading”Visão simplificada da leitura

Esse modelo, um modelo multiplicativo, aponta para o fato de que, para que possamos
ter uma leitura fluente, é preciso compreender a linguagem oral e precisamos identificar
sem qualquer esforço as palavras escritas.

Nós temos, portanto, um modelo multiplicativo. E o que significa ser um modelo


multiplicativo? Significa que a compreensão leitora é o resultado da multiplicação de
dois fatores. Nesse caso, os fatores são: a identificação de palavras escritas e a
linguagem oral.

Significa, portanto, que, se um desses fatores multiplicativos for igual a zero, o resultado
será zero.
Isso quer dizer que, se um desses fatores, a decodificação de palavras escritas ou a
linguagem oral, for igual a zero, vai ser muito difícil, praticamente impossível, de se
construir a compreensão, o sentido daquilo que se lê. De um modo semelhante inverso,
quanto maior for um dos fatores multiplicativos, maior será o resultado desse processo,
ou seja, mais hábil se torna a leitura do texto escrito.

Bom, quando falamos aqui nesse modelo, ele traz a decodificação de palavras escritas,
nós estamos nos referindo a um processo que não ocorra de forma silabada, ou seja,
que ele não exija um grande esforço cognitivo para o desenvolvimento dessa tarefa,
desviando a energia que deveria ser empregada para a compreensão dos textos. Nesse
sentido, o processo de automatização da decodificação é essencial para a
compreensão dos textos escritos. Vamos, portanto, caminhando para o conceito de
fluência e sua importância no processo do desenvolvimento de leitores hábeis.
Como eu disse anteriormente, nos últimos cinquenta anos, diversos pesquisadores vêm
discutindo o papel da fluência na aprendizagem da leitura nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. E esses pesquisadores apontam para alguns aspectos que estão
envolvidos nesse processo: a velocidade com o que se lê; a precisão, a exatidão com
que se lê — então, se associarmos a ideia de velocidade e precisão caminhamos para
o sentido de automaticidade da decodificação —; e a prosódia, que envolve os
processos relacionados, por exemplo, à entonação da leitura, à pontuação e às pausas
de sentido que são dadas quando se lê.

Nesse sentido, é fundamental compreender o papel da fluência nos processos de


alfabetização como o efetivo elo entre a decodificação e a compreensão. Isso significa
que nós não podemos confundir fluência com decodificação, mas isso é primordial, ou
seja, é essencial que a decodificação esteja consolidada para que se possa avançar
no desenvolvimento de uma leitura fluente e hábil, isto é, uma leitura que não exija
esforço cognitivo nos processos de reconhecimento de palavras, mas sim um esforço
voltado para as estratégias de construção dos sentidos do texto e no texto.

Um outro pesquisador, Rasinski, dá ênfase para a leitura nesses processos de


alfabetização dizendo, portanto, que ela é realmente esse elo entre a decodificação e a
compreensão de textos. Repetindo novamente: nós não podemos confundir fluência
com decodificação. A fluência é o elo entre esse processo inicial das aprendizagens da
alfabetização com aquilo que buscamos atingir, que é a compreensão, a construção de
sentido dos textos escritos.

E, pensando nisso, podemos colocar uma pergunta: o que os bons leitores fazem?

E diante dessa pergunta, para entendermos um pouco melhor o que esses bons leitores
fazem, vamos ver o exemplo de um texto que começou a circular na internet no ano de
2003 e surpreendeu pesquisadores do Departamento de Ciência Cognitiva, da
Universidade de Cambridge, na Inglaterra, citada como autora do estudo presente.

Com certeza vocês conhecem, já viram circulando esse texto. Isso é interessante,
porque, na verdade, não era resultado de uma pesquisa, porque os pesquisadores da
Universidade de Cambridge desconheciam isso, mas, de uma certa maneira, aponta
sim para algo que é essencial. Ao nos depararmos com esse texto, cada um de nós é
capaz de ler e compreender o que está posto aqui.

Por que isso é possível? Porque nós somos leitores experientes, nós somos leitores que
já vencemos a etapa de decodificação e reconhecimento das palavras. Nós pulamos,
portanto, essa etapa da leitura dos fonemas. Nós identificamos a silhueta da palavra.
Isso não tem a ver, como está colocado no texto, com a primeira ou a última letra. Isso
significa que, mesmo com as letras embaralhadas, o nosso cérebro sabe reconhecer
qual a palavra conhecida mais próxima daquela bagunça. Então, nós somos capazes
de ler e avançar nesse processo e construir o sentido desse texto.

Essa discussão agora nos encaminha para outro modelo, desenvolvido em 2001,
conhecido como modelo ou gráfico de cordas, o qual nós vemos na ilustração a seguir:
Esse gráfico traz, portanto, as habilidades essenciais relacionadas ao reconhecimento
de palavras e à compreensão da linguagem, o que já havia sido apresentado lá no
modelo da visão simplificada de leitura. Mas, nesse caso, acontece um detalhamento
das habilidades relacionadas a essas duas dimensões: reconhecimento de palavras e
compreensão da linguagem. Portanto, traz os muitos elementos que contribuem para
uma leitura qualificada.

Nós podemos, portanto, observar, nesse gráfico, que nós temos a importância da
automatização. Então, no sentido logo abaixo, vamos começar pelo campo de baixo,
que é o reconhecimento das palavras, que diz respeito à dimensão da consciência
fonológica, à capacidade de decodificar e de reconhecer visualmente as palavras.
Essas habilidades têm que ser cada vez mais automáticas, ou seja, não devem exigir
esforço do leitor para realizar a tarefa envolvida no reconhecimento de palavras.
Portanto, a energia cognitiva ela deve voltar para a dimensão da compreensão da
linguagem, que envolve o conhecimento prévio (de fatos, de conceitos); do
vocabulário (que diz respeito à extensão desse vocabulário, à precisão do vocabulário,
à capacidade de estabelecer links desse vocabulário); no sentido das palavras, da
estrutura da língua (no que diz respeito à sintaxe, à semântica, à morfologia); ao
raciocínio verbal (que é extremamente importante a capacidade de fazer inferências,
reconhecer e construir sentido de metáforas, por exemplo); além de essencial, porque
nós estamos falando aqui da leitura, da compreensão de textos escritos, que é o
conhecimento de letramento, ou seja, os conceitos de impresso no que diz respeito
aos gêneros e às tipologias textuais que circulam em sociedade.
E essa dimensão tem que ser cada vez mais estratégica, porque o esforço, como eu
disse desde o início de todo o processo de compreensão, deve ser voltado para a
estratégia de extrair sentidos do texto. Então, automatizando-se os processos de
reconhecimento de palavras, caminhamos no sentido de direcionamento de energia
para os processos cognitivos envolvidos na compreensão do texto. Isso significa que o
resultado que nós teremos é uma leitura fluente, coordenada, com reconhecimento de
palavras e compreensão daquele texto sem exigir esforço do sujeito leitor.

Destacamos, assim, o papel fundamental da automatização dos processos de


decodificação. Por isso, a importância da fluência em leitura, pois alguns leitores podem
até ser capazes de decodificar, mas não terem uma leitura fluente, porque ainda não
fazem de modo automático, exigindo, como eu disse, um esforço realizando uma leitura
silabada, comprometendo a construção do sentido daquilo que é lido, porque a energia
está toda voltada para processos que deveriam ser automáticos, impedindo, portanto,
que os processos cognitivos, a extração de sentido — que é muito mais importante —
ela fique prejudicada, fique comprometida. Assim, pouca fluência resulta em uma
leitura com baixa compreensão ou mesmo sem qualquer compreensão daquilo
que se lê.

Vejamos, por exemplo, o fragmento de texto a seguir para que possamos compreender
o que significa isso na prática. Bom, vou fazer aqui uma leitura de um trechinho de um
texto como simulando, como se fosse a leitura de alguns estudantes. Imaginemos o
seguinte:
“O le-le-le... o le-le-ão d-d-do le-é-é... la-la-la-lajo... lajo... lago. Cer...cer... certa vez, um
leão que ca-ca-caminha... caminha... caminhava pe-pe-pelas mon... z...z...zen... sentiu
muita zede”.

Vamos ver agora uma outra leitura:

“O leão do lago. Certa vez, um leão que caminhava pelas montanhas sentiu muita sede.
Encontrou, então, um lago de águas espelhadas e se aproximou”.
Pensemos nessas duas leituras. A primeira leitura é hesitante, silabada, sem observar
as pausas, entonação das frases do texto, sem precisão na pronúncia de alguns
fonemas no contexto em que eles aparecem. Já a segunda leitura é fluída, firme, sem
qualquer hesitação, obedecendo às pausas de sentido do texto e a entonação. Se
considerarmos, hipoteticamente, que se trata da leitura de dois alunos distintos, o aluno
que faz a primeira leitura, exemplo de uma leitura que exige muito esforço de
decodificação, não há uma automatização nesse processo, o que vai comprometer a
compreensão do texto, pois há toda uma carga da energia cognitiva voltada para o
reconhecimento das palavras, voltada para o reconhecimento das letras e dos sons das
letras, ou seja, está focada nos fonemas e, quando muito, nas palavras, no conceito de
palavras.

Considerando a segunda leitura, o aluno que a realizou já automatizou o processo de


reconhecimento de palavras, o que libera energia cognitiva para os processos de
compreensão textual, que, como vimos no gráfico de cordas, são mais estratégicos e
mais complexos. Portanto, um aluno que fizesse uma leitura de modo semelhante à
segunda que ouvimos agora revelaria que é um leitor fluente, no sentido de que ele
demonstra precisão na decodificação, automaticidade no reconhecimento das palavras
e a prosódia.

Ao nos depararmos com estudantes que realizam uma leitura como essa hipotética
segunda leitura, observamos que teremos conseguido atingir o objetivo do trabalho com
a leitura, que é extrair os sentidos do texto, então estaremos diante de um leitor hábil.

Após essa discussão dos modelos que buscam explicar o desenvolvimento da


compreensão leitora, apontando as habilidades envolvidas nesse processo, poderíamos
nos perguntar: que estratégias podem ser empregadas para o desenvolvimento da
fluência em leitura?

O primeiro ponto que devemos considerar é que os alunos precisam de um modelo de


leitor, um modelo de leitura oral, ou seja, de leitura em voz alta. E esse papel modelar
deve ser assumido pelo professor, pela professora. Além disso, é fundamental que
atividades de leitura oral ou em voz alta pelos alunos sejam realizadas de diversas
maneiras, como: leitura em coro, leitura em duplas. Isso é extremamente importante
nessa construção desse sentido oral. Deve-se, também, promover atividades de leitura
silenciosa, orientada e apoiada pelo professor/professora, assim também como a
execução de atividades de leituras dramatizadas, ou seja, em resumo, é fundamental
que sejam oferecidas muitas oportunidades para a leitura em sala de aula.

Para encerrar, coloco em destaque um outro ponto extremamente importante em todo


esse processo, pois podemos ter um leitor modelar, atividades variadas, mas um ponto
crucial em todo esse processo é a necessidade de se promover sempre uma relação
positiva com a leitura.

Pensar em fluência e leitura não se limita apenas a uma questão de velocidade, mas
sim a relação que essa velocidade ou, melhor dizendo, que o impacto que a
automaticidade dos processos de reconhecimento de palavras na capacidade do sujeito
empregar energia para compreender o que está lendo. Isso significa que devemos sim
pensar na fluência e leitura, retomando o que eu já disse um pouco mais atrás, como o
elo efetivo entre esses os processos de decodificação com a compreensão de textos.

Nessa perspectiva, novamente, devemos pensar o impacto que essa automaticidade


tem. E novamente devemos entender que todo o esforço deve-se voltar para que o
sujeito, para que o aluno seja capaz de extrair sentido daquilo que lê.

Josiane Toledo (Analista de Educação do CAEd/UFJF)

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