Você está na página 1de 9

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/136/a-importancia-da-leitura-
em-sala-de-aula-para-a-fluencia-leitora
Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Julho | 2013

Língua portuguesa

A importância da leitura
em sala de aula para a
fluência leitora
Ler por ler é atividade para se fazer na escola. Cada vez
mais, professores têm valorizado as práticas de leitura em
sala de aula. Atividades variadas favorecem a fluência
leitora e a compreensão dos textos
Valquiria Pereira

Leitura compartilhada precisa ganhar espaço para promover o intercâmbio de


ideias. (Crédito: Gabriela Portilho)

1. Leitura conquista espaço para ser atividade


central nas aulas
O trabalho com leitura parece estar em um novo patamar nas escolas nos
últimos anos. Os professores compreendem a função da leitura em suas
diferentes modalidades: leitura pelo professor, leitura pelo aluno, leitura
compartilhada, leitura para apresentar aos outros.
Ler e apreciar um texto, atribuir sentido a ele, reler, comentar, comparar com
outras leituras, ouvir o que dizem outras pessoas sobre o mesmo texto e
ampliar seu olhar são ações que a escola pode desenvolver com os alunos em
diferentes faixas etárias.
A leitura feita pelo professor alcançou o "horário nobre" em muitas salas de
aula e hoje não é mais vista como uma atividade sem grande importância, que
é realizada se sobrar um tempinho no final do dia, ou ainda para que seja feita
outra atividade com base nela.
A leitura está se tornando uma atividade central da aula, ocorre diariamente e,
com isso, os professores têm mostrado aos alunos sua importância. As crianças
podem conhecer diversos gêneros textuais, escritores e suas obras, valorizar
diferentes estilos e apreciar textos de qualidade, previamente selecionados pelo
professor, que compartilha com elas os critérios de sua escolha.
A leitura compartilhada ou colaborativa - aquela em que alunos e professor
leem juntos um mesmo texto e apresentam suas ideias e impressões acerca do
que foi lido - tem como finalidade, segundo Kátia Bräkling, em Sobre a leitura e
a formação de leitores, "ensinar a ler, ou seja, criar condições para que as
estratégias de atribuição de sentido (sejam relativas à mobilização de
capacidades de leitura, ou utilização de determinados procedimentos e
desenvolvimento de comportamentos leitores) sejam explicitadas pelos
diferentes leitores, possibilitando, dessa forma, que uns se apropriem de
estratégias utilizadas por outros, ampliando e aprofundando sua proficiência
leitora pessoal".
A leitura compartilhada precisa ganhar mais espaço na escola com o intuito de
dar aos alunos um modelo de leitor (o professor) e promover o intercâmbio de
ideias sobre o que foi lido.
Comentar sobre o que leu ou ouviu ajuda a atribuir sentido ao texto. Ao ouvir
um conto, notícia ou lenda, o aluno o interpreta com base em seus
conhecimentos de mundo e de outros textos, do que sabe e conhece do gênero
ou do autor, do que antecipou durante a leitura.
Quando ouve outras interpretações sobre o mesmo texto, ele passa a
considerar diferentes pontos de vista e revê os seus, modificando-os,
ampliando-os ou reforçando-os.
Considerar o que um colega compreendeu, que caminho percorreu para chegar
àquela conclusão e localizar qual parte da leitura possibilitou sua análise, ajuda-
o a buscar sentido, a entender melhor o conteúdo e a ampliar sua própria
interpretação sobre aquele texto e sobre outras leituras.
Objetivo da leitura influencia a fluência e a própria compreensão do texto.
(Crédito: Marina Piedade)

2. O que significa fluência leitora?


A leitura feita pelo aluno talvez seja a modalidade que atualmente mais precisa
de investimento na escola, no sentido tratado neste artigo. É comum ouvirmos
dizer que o computador, a televisão e os jogos de vídeo game são os maiores
concorrentes da leitura, e que estão ganhando a disputa.
Leia também: Alfabetização: Projetos de leitura e escrita para começar o ano
Há uma queixa recorrente dos professores de que os alunos leem pouco, não
leem bem, não entendem o que leem, ou seja, não são leitores fluentes. Mas o
que é ler bem? O que significa fluência leitora?
Ler fluentemente não significa compreender o que se lê, pois é possível ler
rapidamente sem entender o assunto de que trata o texto. A leitura de um
texto requer conhecimento de seu propósito por parte dos alunos, já que
fluência também tem a ver com a intenção da leitura: para que ler, quais
estratégias poderão ser utilizadas e o que se espera ao final.
E é importante expor aos alunos esses propósitos em cada atividade.
Costumamos "tomar" um texto sempre com uma intenção e esta não
necessariamente está vinculada ao gênero. Dessa forma, nem sempre vou ler
obras literárias apenas para apreciá-las. Também posso ler para fazer um
estudo sobre a época em que se passa um romance, ou para analisar o estilo
empregado pelo autor, ou ainda para traçar um perfil dos personagens.
Lemos notícias com intuitos variados, além de nos informarmos. Podemos ler
para conhecer mais sobre outro país, para ampliar nosso conhecimento sobre
um assunto específico, para estudar para uma prova etc. Essa intenção irá
determinar minha leitura e a compreensão que tenho do assunto abordado por
aquele texto.
De acordo com Antônio Gomes Batista, em Alfabetização, leitura e ensino de
Português: desafios e perspectivas curriculares, "para que o aluno leia com
fluência é fundamental que: possua um amplo domínio das relações entre
grafemas e fonemas na ortografia do Português; automatize o processo de
identificação de palavras (...); seja capaz de realizar uma leitura expressiva, que
envolve uma adequada atenção aos elementos prosódicos, como entonação,
ênfase, ritmo, apreensão de unidades sintáticas".
Falamos, portanto, da fluência leitora para alunos que já conquistaram a base
alfabética do sistema de escrita, aqueles que já dominam a escrita e
estabelecem relações entre grafemas e fonemas.
O leitor que ainda está preso à decifração dificilmente consegue entender o que
aborda o texto lido, pois não utiliza as estratégias mais adequadas para a
compreensão. É necessário um trabalho que o ajude a ir além da leitura
"palavra a palavra" ou "sílaba a sílaba" para buscar outros meios de
identificação que permitam tornar a leitura mais fluente, utilizando
paralelamente os processos de decifração e compreensão.

Atividade de leitura não deve ser usada somente para avaliação. (Crédito: Kriz
Knack)

3. Ler e reler em voz alta ajudam a melhorar a


compreensão do texto
Uma grande aliada do trabalho com fluência na escola é a leitura em voz alta,
pois permite ao aluno preparar-se para ler, ensaiar, compreender para
comunicar e expressar a outros um sentido. Ler para outras pessoas requer
habilidade, concentração e expressividade, ou seja, envolve entonação, ritmo e
ênfase. Para Goodman (1986), a leitura veloz está associada a uma alta
compreensão.
Historicamente, a leitura em voz alta feita pelos alunos servia para a escola
avaliar seu desempenho nessa atividade, atribuindo-lhes nota pela clareza e os
erros cometidos - devia ser uma leitura rápida e eficaz, sem tropeços. Tomar
leitura na escola era escolher o aluno "de surpresa", sem preparação prévia,
muitas vezes sem ter lido o texto antes.
De pé, o aluno lia para todos ouvirem. Os demais ficavam acompanhando para
não perder o fio da leitura, com receio de serem os próximos a serem
chamados e não saberem onde o colega havia parado. Se houvesse condições,
os alunos decoravam o texto e apenas o reproduziam na hora da chamada, sem
ler.
Leia também: Como contribuir com a formação de leitores nos Anos Finais do
Fundamental?
Ler em voz alta para outras pessoas ouvirem é um trabalho fundamental para
desenvolver a fluência leitora e não para servir de avaliação. Definir a atividade,
selecionar o que se lê, escolher a forma que será feita a leitura (em grupos,
individualmente, divisão por personagens, por trechos etc.), ler e reler, ensaiar a
apresentação, apresentar para um grupo menor (a própria classe) para ajustar
alguns aspectos necessários e, por fim, apresentar a um público o que foi
planejado.
Preparar a leitura envolve procedimentos específicos que devem ser
socializados e explicitados. Ao definir o que cada um lerá na apresentação, os
alunos podem grifar os trechos que serão lidos e destacar a última parte do
colega para saber de onde partirá. Pode-se fazer um ensaio individual, outro
ensaio coletivo, a apresentação para a turma e a retomada dos critérios
necessários.
Ler e reler não significam de modo algum repetir várias vezes o que se leu sem
ver sentido algum, apenas para tornar a leitura veloz e garantir fluência. O
propósito dessa atividade é favorecer a compreensão de modo a dar mais
ênfase a determinados trechos ou escolher o ritmo da narração.
São raros os projetos didáticos em que a leitura é considerada produto final.
(Crédito: Alexandre Rezende)

4. Sarau e leitura dramática são boas atividades para


trabalhar a fluência
Há atividades que propiciam a fluência leitora e que merecem espaço na escola:
o sarau poético ou literário, o teatro lido ou a leitura dramática de textos e a
leitura para gravação de CD. Estas atividades devem estar vinculadas a projetos
ou sequências didáticas para seu desenvolvimento.
Ainda são raros os projetos didáticos cujo produto final seja somente uma
atividade de leitura. É comum vermos projetos que envolvem leitura, mas o
produto é sempre uma produção escrita. E esse é outro ponto importante a ser
abordado: nem toda proposta de leitura precisa envolver uma proposta de
escrita. Ler por ler é também atividade da escola e ler para apresentar a outras
pessoas é um grande desafio.
Há práticas recorrentes de desenhos após a leitura - sejam de trechos que o
aluno mais gostou, de personagens da história, de cenários ou do desfecho -,
além de questões para serem respondidas a título de "interpretação do texto".
As práticas de leitura se tornam chatas, sem sentido para os alunos, que
preferem não ler por terem que cumprir uma tarefa posterior.
Dentre as atividades que favorecem o trabalho com fluência leitora, o sarau
envolve a escolha dos textos e a preparação da apresentação, considerando um
público externo. Pode contar com música de fundo, apresentações de vários
grupos ou pessoas em horários alternados, e deve considerar um único gênero
- por exemplo, sarau de poesias ou de contos.
A leitura dramática - também chamada de teatro lido - é a leitura em voz alta de
uma obra teatral para o público e exige interpretação por meio de expressões
faciais, gestos e entonação.
A leitura dramática pode contar com uma direção (como em uma peça teatral),
trilha sonora, figurino e até mesmo cenário ou alguns objetos de cena. Pode
também ser uma leitura sem outros recursos além das falas dos personagens,
marcadas por pessoas diferentes ou diferentes vozes. Os alunos podem estar
sentados ou em pé, um ao lado do outro.
Outra proposta é a leitura de contos para a gravação de um CD a ser entregue
para outra turma ou a uma instituição. Os alunos selecionam os textos de
acordo com seus ouvintes, ensaiam a leitura e leem para a gravação, o que
requer muitas idas e vindas. Gravam, ouvem, corrigem e gravam novamente,
atentos ao tom de voz e às entonações dadas, podendo haver músicas de fundo
ou sons de efeito.

A prática deve estar estar presente em toda a trajetória do estudante. (Crédito:


Marina Piedade)

5. Professores com um novo olhar sobre as


atividades de leitura
As atividades de leitura para fluência não se relacionam a atividades em que os
alunos precisam decorar textos. A leitura deve ser a atividade central da
proposta. A preparação da leitura dramática não deve direcionar esforços para
confecção de cenários ou figurinos, pois corre-se o risco de envolver outros
aspectos que não estão relacionados à leitura fluente.
O ensaio é que deve ocupar lugar de destaque nessa atividade, uma vez que é
necessário ensaiar várias vezes para que a apresentação atinja seu propósito. A
intenção é garantir fluidez na leitura e não avaliar a capacidade do aluno de
decorar com facilidade.
Também não se trata de dramatizações tão frequentemente utilizadas na
escola. Dramatizar um texto não requer muita preparação anterior, pode ser
feita com base em qualquer gênero e contar com improvisos. Parece
assemelhar-se à encenação, mas o texto serve apenas como referência e não é
lido nem decorado.
O trabalho com fluência leitora na escola deve ganhar um novo olhar por parte
dos professores, visando promover momentos e atividades variadas a depender
da turma, da experiência leitora e da faixa etária dos alunos. É preciso contar
com propósitos claros e objetivos definidos em variadas séries/anos.
De modo geral, as atividades de leitura devem estar presentes em toda a
escolaridade, começando com as turmas menores, com leituras diárias e
conversas sobre as leituras, em que os alunos possam socializar suas
interpretações e estabelecer relações com outras leituras. Com os maiores, os
projetos e sequências didáticas de leitura aparecem com mais frequência, além
da permanência da leitura diária feita compartilhadamente ou pelo professor.
Trabalhar fluência leitora na escola é o desafio proposto para ampliar a
experiência dos alunos com os textos e colaborar na compreensão do que se lê,
ajudando-os a interpretar e a argumentar a favor de seu ponto de vista.
Trabalhar a argumentação é outro ponto que precisa ser ampliado nas escolas,
mas isso deve ser tema para outro artigo.

Quer saber mais?


BRÄKLING, Kátia Lomba. Sobre a leitura e a formação de leitores. São Paulo:
SEE: Fundação Vanzolini, 2004.
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Alfabetização, leitura e ensino de
Português: desafios e perspectivas curriculares. Belo Horizonte: Anais do I
Seminário Nacional Currículo em Movimento - Perspectivas Atuais,
novembro de 2010.
GOODMAN. Lenguaje integral. Buenos Aires: Aique, 1986.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim (e colabor.). Gêneros orais e escritos
na escola. São Paulo: Mercado das Letras, 2004.
GARZÓN, María C.; JIMENEZ, María E.; SEDA, Ileana. El teatro de lectores
para mejorar la fluidez lectora em niños de segundo grado. Revista Lectura
y Vida, Marzo 2008.
KUPERMAN, Cinthia. Enseñar lengua em la escuela primaria. Serie
Respuestas, vários autores. Ed. Tinta Fresca.

Você também pode gostar