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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ESTRATÉGIAS DE LEITURA: TRAÇANDO POSSIBILIDADES PARA
VENCER AS DIFICULDADES DE LEITURA DE ALUNOS DO SEXTO
ANO
RESUMO: O presente artigo apresenta uma proposta de trabalho pedagógico para superar as
dificuldades de leitura em uma turma de 6º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual
Professora Edithe, no município de Campo Largo – Paraná. A proposta foi desenvolvida com o intuito
de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem da leitura a partir dos gêneros textuais do
agrupamento narrar. A partir das ideias de Kleiman (2004), Schneuwly e Dolz (2004), Koch (2006),
entre outros, foi organizada uma unidade didática que contemplou práticas de leitura e produção de
textos. A aplicação das atividades ocorreu de março a julho de 2015 e explicitou a relevância de
sistematização do processo de ensino-aprendizagem da leitura e a contribuição de tais práticas para
a construção do conhecimento, a formação de leitores mais críticos e, consequentemente, para a
melhoria do ensino da leitura.
Palavras-chave: leitura. processo de ensino-aprendizagem. estratégias de leitura. gêneros textuais.
1 INTRODUÇÃO
O ato da leitura deve ser inserido em nosso convívio desde que começamos a
ter compreensão do mundo que nos rodeia, sendo assim, a leitura constitui-se em
instrumento de poder. Nessa concepção, a escola precisa atentar-se à formação de
leitores competentes, pois a leitura é chave de acesso para o saber, possibilitando o
crescimento pessoal e profissional e, consequentemente, o pleno exercício da
cidadania.
Contudo, em uma análise dos contextos de sala de aula do ensino
fundamental, verificam-se desmotivação e dificuldades em relação ao processo de
leitura. Tendo em vista que o desinteresse pela leitura tem prejudicado o processo
de ensino-aprendizado, e gerado baixo rendimento escolar, neste artigo
apresentaremos algumas reflexões teóricas e uma proposta de intervenção
pedagógica para os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual
1
Professora de Língua Portuguesa do Quadro Próprio do Magistério - SEED, lotada no Colégio
Estadual Professora Edithe, Campo Largo, participante do curso referente ao Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE – 2014.
2
Orientadora desta pesquisa. Doutora em Linguística pela Universidade de São Paulo/USP e
professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná/UTFPR.
Professora Edithe, localizado na Rua Mato Grosso, distrito Ferraria, município de
Campo Largo. Para esse trabalho, optamos pelo uso de textos que atendessem ao
horizonte de expectativa desses alunos, a fim de criarmos situações que
favorecessem a compreensão do sentido global do texto, o estabelecimento de
relações, a elaboração de inferências, a identificação de informações e significados
presentes nos gêneros textuais do agrupamento narrar, visto que esse agrupamento
se constitui por meio de textos que exploram a mimese, a imaginação e, também,
por serem textos que já fazem parte do repertório desses sujeitos.
Tanto os professores, assim como a escola, não podem se furtar ao processo
de ensino-aprendizagem da leitura como função primordial da educação básica.
Considerando tais colocações, verificamos que o ensino da leitura não pode limitar-
se às práticas de decodificação. Ao contrário, é preciso formar leitores capazes de
ler criticamente, aptos para atuar na realidade em que estão inseridos. Para tanto,
faz-se necessário estabelecer estratégias de ensino da leitura, considerando as
questões cognitivas, discursivas e sociais dos estudantes. Segundo Isabel Solé
(1998), as estratégias de leitura são as ferramentas necessárias para o
desenvolvimento da leitura proficiente. Sua utilização permite compreender e
interpretar de forma autônoma os textos lidos e pretende despertar o professor para
a importância em desenvolver um trabalho efetivo na formação do leitor
independente e crítico.
Assim, pretendeu-se elaborar uma unidade didática, tendo como função
primordial o hábito da leitura através de gêneros textuais diversificados do
agrupamento narrar, composta de três módulos, totalizando 32h/aulas. O propósito
desta Unidade Didática é explorar atividades de leitura de diferentes gêneros
discursivos da ordem do narrar, em um movimento de retomada e ampliação das
características que envolvem esses gêneros, possibilitando ao aluno a leitura e a
expressão oral e escrita, como também, reflexões sobre o uso da linguagem em
diferentes situações e contextos.
Essa opção pautou-se no fato de que o trabalho com gêneros do
agrupamento narrar em sala de aula constitui-se em uma alternativa que agiliza a
prática da leitura e produção de sentido global do texto, visto que esses gêneros
são, na sua maioria, curtos, de fácil acesso e bastante significativos para a faixa
etária do Ensino Fundamental anos finais.
2 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DOS GÊNEROS DO NARRAR: ALGUMAS
REFLEXÕES TEÓRICAS
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https://www.youtube.com/watch?v=A0_STXPaNz0
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https://www.youtube.com/watch?v=geQl2cZxR7Q
perguntando/explicando as características próprias do gênero, e, por meio de
questionamentos, explorou a “moral” enfatizada nas fábulas. Foi perguntado aos
alunos se eles já tinham ouvido de alguém uma frase que representasse uma
“moral”, todos disseram que sim, foi solicitado que escrevessem o que tinham
ouvido, em seguida, todos socializaram e exemplificaram a frase “moral” escrita.
Após, questionamentos sobre o gênero foi entregue aos alunos os seguintes
textos: A cigarra boa (Monteiro Lobato); A cigarra má (Esopo) e a Contrafábula da
cigarra e da formiga (MillorFernandes). Foram realizadas as leituras de cada texto, a
professora primeiramente leu em voz alta cada texto (um por vez), depois realizou-
se a leitura coletiva em voz alta. A professora foi mediando às informações implícitas
em cada texto, de modo a promover reflexões e socialização sobre a temática
abordada nos textos. Também foram realizadas atividades de interpretação textual,
contextualizando sempre com o cotidiano dos alunos. Todas as atividades foram
corrigidas e socializadas, pode-se perceber algumas dificuldades em interpretação e
ortografia, como trocas de letras, etc., as quais foram sanadas no decorrer das aulas
a partir de explicações realizadas pela professora, quanto às dificuldades de
interpretação apresentadas por alguns alunos, as mesmas foram melhoradas a partir
do maior envolvimento e entendimento dos textos estudados.
Como proposta de produção textual referente ao módulo fábulas, os alunos
produziram uma contrafábula5. O texto foi corrigido, reescrito e ilustrado, após
apresentado para classe e colocado em exposição no colégio para apreciação dos
demais colegas.
Na terceira etapa, foram desenvolvidas 8h/aulas como foco no gênero lenda e
com o objetivo de estimular a linguagem escrita e também oral para recontar as
lendas.
Para instigá-los, foram apresentadas várias figuras (Saci, Mula sem cabeça,
Vitória Régia, Iara, etc.), a professora incentivou os alunos para que falassem sobre
o que representava cada figura. Eles acolheram a proposta e expuseram suas ideias
e representações, não só sobre as figuras apresentadas, mas também sobre outras
lendas. O grupo dialogou sobre o que seriam as lendas (conceito), e foi proposto
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Contrafábula, entendida como releitura de uma fábula anterior, caracteriza-se pela subversão do
texto original denominando-se paródia; muitas vezes adaptada à realidade, pode representar um
instrumento eficaz para o incentivo à leitura e discussão da moralidade das fábulas tradicionais.
Fábula e Contrafábula. H. Pongetti - Editora Pongetti. 1969.
que conversassem com os pais, avós, vizinhos, sobre lendas para a continuidade da
atividade no próximo encontro.
Na aula seguinte, os alunos estavam eufóricos. Eles relataram a conversa
que tiveram com os pais, vizinhos e avós sobre as lendas. A professora discorreu
sobre as características desse gênero textual em um momento expositivo-dialogado,
e muitas outras lendas foram surgindo. Em seguida, foi entregue a lenda O Negrinho
do Pastoreio (versão I) e foi realizada leitura em voz alta pela professora, depois os
alunos realizaram a leitura silenciosa e individual, em seguida a leitura coletiva e
exploração do tema apresentado na lenda, o trabalho infantil. Todos quiseram
socializar a reflexão. Após, receberam a versão II da lenda O Negrinho do Pastoreio,
novamente o professor leu o texto em voz alta, os alunos realizaram leitura
silenciosa e coletiva em voz alta, a professora instigou para que os alunos
percebessem a relação entre os textos, as diversas possibilidades de interpretação e
significados do tema abordado, atividades de interpretação foram realizadas, agora,
com menos dificuldade em interpretação.
Com o objetivo de explorar uma outra linguagem, foi passado o filme “O
Negrinho do Pastoreio” e foi solicitado aos alunos que escrevessem sobre o gênero
em estudo (lendas), o que mais chamou atenção, as características, as
semelhanças e diferenças entre as lendas lidas e o filme assistido, em seguida
houve um espaço de socialização das produções e ideias. Como houve muito
interesse a respeito das lendas, os alunos pesquisavam e, em todas as aulas, houve
contação de lendas, foi organizada uma escala com os nomes dos alunos que
fariam a contação, também foram confeccionados folderes com lendas diversas e
entregue para os demais alunos do colégio. Foi proposta também a reescrita da
lenda O Negrinho do Pastoreio6 sobre o ponto de vista do menino. Livrinhos de
lendas foram confeccionados a partir da conversa que tiveram com pais, vizinhos,
familiares e também a partir de pesquisas realizadas pelos próprios alunos. Os
livrinhos também foram ilustrados pelos alunos e colocados em exposição no mural
do colégio. Os demais alunos do colégio apreciaram e elogiaram a atividade
desenvolvida pelos alunos do 6º ano A. Os alunos foram bastante cuidadosos na
realização das atividades, pois sabiam que seriam afixadas no mural da escola.
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https://www.youtube.com/watch?v=S2qD2ZxiT0o
Todas as atividades foram corrigidas pelo professor. Não houve dificuldades nessa
etapa.
A quarta etapa teve duração de 8h/aulas e visou dar a conhecer alguns
elementos da narrativa, assim como desenvolver a imaginação, criatividade e senso
crítico. Nessa etapa, houve a exploração de contos. Vários livros de contos foram
levados para sala de aula. A professora instigou-os a falar o que sabiam sobre cada
título apresentado, assim como foi realizada uma atividade de levantamento de
hipótese a partir da ilustração da capa sobre as obras. Foi dado 1h/aula para que
realizassem a leitura dos livros escolhidos. Após a leitura, os alunos socializaram o
que haviam lido, agora sem constrangimentos.
Na sequência, foi entregue aos alunos o conto A Menina dos Fósforos. A
professora realizou leitura do conto para classe, em seguida os alunos realizaram
leitura coletiva em voz alta. Após a leitura, a professora motivou-os a estabelecer
relações entre a temática apresentada nos diferentes textos da ordem do narrar,
fábulas, lendas e o conto. Os alunos também assistiram ao filme A Menina dos
Fósforos, socializaram as semelhanças e diferenças entre o conto e o filme, foram
propostas e realizadas atividades de interpretação e as dúvidas foram sanadas.
Também foi realizado um paralelo entre a música Miseria (Titãs), a charge e o conto
em questão, os alunos gostaram muito da música, o refrão “Miséria, miséria em
qualquer canto” ajudou-os a contextualizar muitas situações mostradas pela mídia.
Socializaram suas opiniões a respeito dos textos ouvidos/lidos destacando e
discutindo os pontos que mais chamaram a atenção, e também fizeram esse relato
por escrito, destacando o que mais chamou atenção nos textos estudados.
No final da etapa os alunos transformaram o conto A Menina dos Fósforos 7
em notícia, ilustraram, apresentaram aos colegas e depois de reescrita foi afixado no
mural do colégio.
A quinta etapa, com duração de 4h/aulas, teve como objetivo a socialização
direcionada das produções. Foi notável o aprendizado dos alunos quanto à
localização de informações implícitas e explícitas e a elaboração de inferências,
construção de sentido, reconhecimento de posicionamento no texto, argumentação e
reflexão.
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https://www.youtube.com/watch?v=xXGoYwynOds
O projeto foi finalizado com a apresentação dos textos produzidos a outras
turmas de 6º anos do turno da tarde. No início, os alunos apresentaram certa
resistência em apresentar suas produções aos alunos de outro turno, contudo, após
momentos de diálogo, eles foram mudando de ideia e todos concordaram. Foram
apresentadas as contrafábulas produzidas e ilustradas, eles também contaram
lendas e entregaram folderes com lendas, apresentaram um telejornal a partir da
notícia produzida com o conto A menina dos fósforos e também leram e mostraram a
notícia produzida a partir do referido conto. Todos ficaram bastante felizes, pois
receberam vários elogios, tanto por parte dos colegas, quanto dos demais
professores e equipe pedagógica. Todas as atividades foram realizadas em sala de
aula de forma dialogada, e as produções foram reescritas, gerando um trabalho
bastante reflexivo e sistemático com resultado significativo.
Simultaneamente a implementação do projeto em sala de aula, acontecia o
Grupo de Trabalho em Rede (GTR), um grupo de discussão on-line, em que os
professores participantes puderam debater e questionar sobre o material produzido.
Foi de suma importância e gratificante a participação dos colegas da rede pública no
GTR. Os depoimentos e sugestões dos professores cursistas ajudaram na
aplicação do projeto, pois foi possível compartilhar atividades, textos e opiniões afim
de qualificar o trabalho realizado em sala de aula.
O desenvolvimento do projeto desencadeou uma procura maior por livros
relacionados a fábulas, lendas e contos na biblioteca da escola. Alguns livros foram
indicados pelos próprios alunos para fazerem parte do acervo e outros foram
comprados aumentando assim o número de livros na biblioteca, fomentando a
prática da leitura.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. In: A Leitura. 3. ed. São Paulo:
Scipione, 1983.
CATTANI, Maria Izabel; AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura no 1º grau: a proposta
dois currículos. In: Zilberman, R. (org.). Leitura em crise na escola: As alternativas do
professor. 11. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
CRAMER, Eugene H.; CASTLE, Marrietta. Incentivando o amor pela leitura. Porto
Alegre: Artmed, 2001.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática,
1993.
YUNES, Eliana; PONDÉ, Glória. Leitura e leitoras da literatura infantil. In: PARA
DESCOBRIR O PRAZER DE LER. São Paulo: FTD, 1988.
Sites:
http://www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/negrinho
http://www.brasilescola.com/folclore/negrinho-pastoreio.htm