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Cadernos PDE
RESUMO
Este artigo tem como objetivo relatar as atividades desenvolvidas como parte integrante da conclusão
do curso de formação continuada dos professores da rede pública de ensino proporcionado pelo
Governo do Estado do Paraná, por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE 2013. O
artigo apresenta uma proposta de ensino-aprendizagem da leitura na perspectiva da leitura como
construtora de sentidos através da interação autor/texto/leitor. Apresenta a metodologia utilizada para
a construção do material didático, que tem como base textos diversos que circulam socialmente, o
professor sendo mediador das interações no processo ensino-aprendizagem e o leitor como sujeito
de suas leituras e releituras. Apresenta também as reflexões da implementação na escola deste
material didático e as discussões do Grupo em Trabalho em Rede (GTR).
INTRODUÇÃO
1
Professora de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual do Paraná, no Município de
Piraquara/PR. Graduada em Letras Português pela PUC/Pr. Pós Graduada em Metodologia do
Ensino de Língua Portuguesa e em Proeja.
2
Doutora em Lingüística na área de Análise do Discurso na Universidade Estadual de Campinas.
Professora do curso de Linguagem e Comunicação e Educação do Campo da Universidade Federal
do Paraná – Setor Litoral.
A leitura como propulsora de interpretações pode ocorrer em vários
momentos da vida escolar e social, assim é sempre motivo para muitas conversas e
questionamentos sobre sua importância dentro e fora do espaço escolar.
No ambiente escolar tem-se observado que as aulas de língua portuguesa
baseiam-se em atividades de leitura que privilegiam um único sentido dos textos
lidos, não considerando os diversos fatores que contribuem para sua significação.
“Na escola não se leem textos, fazem-se exercícios de interpretação e análise de
textos. E isso nada mais é do que simular leituras” (GERALDI, 2002, p. 90). Assim
percebe-se que os alunos têm muitas dificuldades com a leitura em diversos níveis
do ensino e como consequência não veem sentido nas leituras que realizam nas
diferentes áreas do conhecimento.
As leituras realizadas pelos alunos, mediadas pelo professor, não trazem
reflexão das condições de produção: quem é o autor, como é sua escrita, as ideias
do tempo em que foi escrita, a intertextualidade presente, os efeitos de sentidos, as
marcas da enunciação, “as inferências (hipóteses coesivas para o leitor processar o
texto)” (MARCUSCHI 2008, p. 249), deixam de ser analisadas e não possibilitam aos
alunos a construção de sentidos.
Este projeto elaborado como parte do PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional)3 procurou identificar as concepções de leitura, de texto, qual o papel do
sujeito enquanto construtor do seu aprendizado, a função do professor como
mediador do processo de ensino-aprendizado. Foi elaborada uma proposta
metodológica do ensino da leitura, para que os alunos possam ler com criticidade,
sendo sujeitos ativos nas leituras e possibilitando a construção de sentidos nas
leituras dos diversos textos que circulam socialmente.
O Projeto de Intervenção Pedagógica4 teve como base as Diretrizes
Curriculares de Língua Portuguesa (2008) que propõe que a leitura seja significativa
3
O Programa de Desenvolvimento Educacional é um programa de Política Pública do Governo do
Estado do Paraná que objetiva aos professores da rede pública estadual subsídios teórico-
metodológico para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas e que resultem em
redimensionamento de sua prática profissional buscando superar as dificuldades com que se defronta
a Educação Básica.
4
A partir da análise das dificuldades encontradas no processo ensino-aprendizagem o professor PDE
deve elaborar este projeto fazendo a delimitação clara da situação problema, seguida da justificativa,
dos objetivos, da fundamentação teórica, das estratégias de ação, do cronograma e das referências.
e crítica, sendo o professor mediador, aquele que possibilita e dá oportunidade para
que o aluno/a consiga realizar suas leituras atribuindo os sentidos ao que lê.
A Produção Didático-pedagógica5 foi elaborada tendo como público alvo os
alunos do 6º ano do ensino fundamental e a implementação do Projeto de
Intervenção Pedagógica6 foi realizada no Colégio Estadual Ivanete Martins de
Souza, no Município de Piraquara, região Metropolitana de Curitiba. A proposta de
trabalho e algumas considerações da implementação foram discutidas com os
profissionais da rede pública estadual no Grupo de Trabalho em Rede(GTR)7.
REVISÃO DA LITERATURA
5
Esta atividade é a elaboração intencional do professor PDE ao organizar um material didático,
enquanto estratégia metodológica, que sirva aos propósitos de seu Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola. Está prevista para o segundo período do Programa, com acompanhamento
do orientador e tem correlação direta com a implementação na escola.
6
Uma das etapas do Programa do PDE em que o docente aplica, com o público alvo, a produção
didático pedagógica. A implementação visa principalmente enfrentar e contribuir para a superação
das fragilidades e problemas apontados pelo Professor PDE no ensino de sua disciplina/área, na
escola, para ser investigada no seu tema de estudo, com a finalidade de promover a melhoria
qualitativa do ensino e da aprendizagem na escola de execução do Projeto.
7
Desenvolvido no terceiro período do Programa, possibilita a interação entre professores PDE e
professores da rede estadual de ensino por meio do Ambiente Virtual da Secretaria de Estado da
Educação (SEED). O GTR tem o intuito de socializar as produções realizadas pelo Professor PDE
durante o Programa, a saber: Projeto de Intervenção Pedagógica, Produção Didático-pedagógica,
bem como questões específicas sobre a Implementação Pedagógica na Escola. Essa ação visa a
democratização do acesso aos conhecimentos teórico-práticos específicos das áreas/disciplinas do
Programa escolhidas pelo Professor PDE.
indagar, de comparar, de duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nós
podemos nos tornar.
Ao fazer a “leitura do mundo” como propunha Paulo Freire, constata-se que
as palavras e as leituras significativas que são feitas podem proporcionar
conhecimento, prazer, porque a leitura não é mera decodificação, não é somente
informação, mas é a releitura do mundo e posicionamento perante as situações da
vida. Segundo Matencio (2002), o leitor não deve ser passivo diante do texto e as
atribuições de sentido devem ocorrer mediante um posicionamento do sujeito leitor
perante o lido. Assim as atividades de leitura e interpretação devem proporcionar
releitura, a apropriação crítica e a interação com o lido.
Na escola é comum os professores das diversas disciplinas atribuírem o
fracasso dos alunos em sua disciplina ao fato de “não saberem ler”. A dificuldade de
construção de sentidos àquilo que lê, afeta diretamente seu desempenho, não só no
que diz respeito à linguagem, mas em todas as áreas do conhecimento e durante
toda a sua escolaridade, pois convivemos com diversos textos e práticas discursivas.
Conforme Costa (2009) o ato de ler pressupõe interpretar. Por isso a importância da
reflexão sobre a leitura como construtora de sentidos e não somente como busca de
um único sentido, em todas as leituras que fazemos, sejam das palavras, do mundo,
das pessoas, das situações que vivenciamos, enfim de nossa pratica social e de
nosso estar no mundo. A leitura pode contribuir para o desenvolvimento de qualquer
área de estudo, pois através dela pode- se pensar sobre o fato estudado, relacionar
ideias e atribuir sentidos significativos para as leituras realizadas. O ato de ler é
também fundamental para o acesso ao material cultural escrito, possibilitando a
interação do indivíduo em seu meio social.
A concepção que adotamos neste trabalho vê o texto segundo Koch & Elias
como “o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores” enquanto
que “o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de sua
interação” (2012, p. 10 e p. 30). Através desta interação que é possível ao leitor
construir o sentido nos textos lidos, sendo também sujeito ativo neste processo, mas
ao mesmo tempo ele é condicionado socialmente e historicamente.
O leitor/escritor pode ser o sujeito ativo responsável pela construção do
conhecimento sobre os objetos que o cercam. A criança, o aprendiz de escrita e
leitura é “singular”, isto é, único que aprende que reelabora o aprendido e que tem
suas características únicas, verificadas as variações ocorridas no transcorrer do
processo de aquisição da linguagem e da escrita. Geralmente buscamos aquilo que
é comum entre todos, os erros, os acertos, as dúvidas, mas o singular o modo como
cada um aprende, o percurso por ele traçado, suas escolhas deixamos de lado e
queremos, geralmente, que todos leiam e escrevam de forma uniforme. Os
apagamentos, refacções e reescritas dos textos da criança ou de sujeitos em
diversas fases de escolarização, são indícios de sua história de sua relação com a
linguagem. Assim podemos também perceber o percurso dos alunos em relação à
leitura, verificando sua singularidade, seus conhecimentos, suas escolhas, sua
história de leituras e de vida, para que o processo de leitura seja significativo e o
leitor sujeito de seu conhecimento.
Orlandi (1984) discute a contribuição da teoria do discurso que trata da
determinação histórica dos processos de significação, conforme o autor Pêcheux.
Essa teoria trabalha com os processos de constituição do fenômeno linguístico,
procurando estabelecer as condições em que os sentidos são produzidos:
A CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSTA, Marta Morais da. Sempreviva, a leitura.Curitiba: Aymará,2009.