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Cadernos PDE
Resumo
Este artigo expõe o estudo realizado no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
referente ao Projeto de Intervenção Pedagógica, realizado na área de Língua Portuguesa, no
Colégio Estadual Vereador Francisco Galdino de Lima durante o primeiro semestre de 2014.
O objetivo principal do trabalho foi o de desenvolver uma proposta em que se trabalhassem as
dificuldades dos estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental em relação à ortografia,
percebendo a relação dos textos com a escrita segundo a ortografia oficial da norma padrão,
propondo atividades para uma escrita ortograficamente correta, inserida nas demais atividades
de Língua Portuguesa. Sem abrir mão da leitura e produção de textos como eixos orientadores
do trabalho com a língua e consoante com a concepção interacionista de linguagem, ensinou-
se ortografia de forma sistemática, criando oportunidades para refletir sobre as dificuldades
ortográficas da língua. Foram trabalhadas produções de textos, leitura e atividades de análise
linguística, em um processo integrado, enfocando as dificuldades de escrita manifestadas
pelos alunos, a partir de diagnóstico da situação de escrita dos alunos do 6º ano e do
constante acompanhamento do desenvolvimento dos alunos. Partindo da produção de texto
dos alunos, teve-se o diagnóstico do nível de escrita dos alunos (uma ficha diagnóstica
específica, que elenca os aspectos discursivos, textuais e formais de escrita), permitindo ao
docente observar e relacionar os principais problemas da turma em relação ao domínio da
linguagem escrita e a frequência de ocorrência de cada um deles. Estes aspectos foram
trabalhados com atividades epilinguísticas, entendidas enquanto reflexão sobre a linguagem
pelo aluno, a partir da concepção interacionista de linguagem e do que foi proposto por Geraldi
(1991), Riolfi (2008), DCEs (2008), Morais (2009), Costa Val (1991).
1- Introdução
1
Professora do colégio Estadual Vereador Francisco Galdino de Lima – Ensino Fundamental e Médio
(Toledo - PR). Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do programa PDE.
2
Orientadora. Doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Docente do Curso de Letras da Unioeste – Câmpus de Marechal Cândido Rondon.
palavra que está grafada incorretamente, o que se ouve de vários alunos é:
“Ah, profe, você entendeu, não entendeu? Então, deixa assim”.
Nesse sentido, o trabalho do professor de Língua Portuguesa apresenta-
se mais complicado e desafiador. Parece que a maioria dos educandos não
percebe por que seguir as regras ortográficas, não percebe a importância em
escrever as palavras de acordo com a norma padrão da língua e, em geral, os
alunos não possuem noção sobre os usos linguísticos e suas adequações às
diferentes situações. Muitas vezes, os alunos declaram que desde que alguém
compreenda o que se “quis dizer” é o suficiente, pois se “passou” a mensagem,
é o que basta. Grande parte dos estudantes - e não apenas os menores, que
estão no 6º ano - não demonstram preocupação com a escrita formal. Para
eles, desde que a língua materna possibilite comunicarem-se informalmente, já
é o suficiente.
É necessário que se dê a oportunidade para o aluno ter contato com a
norma padrão, não somente por ser essa a norma de prestígio, pertencente à
elite e às situações formais de interação, mas para que ele tenha acesso a
esse tipo de linguagem, para que esteja capacitado a usar a linguagem em
situações em que a variedade padrão esteja presente, pois “o objetivo da
escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatamente, o de criar
condições para que ele seja aprendido” (POSSENTI, 1996, p.17, grifos do
autor).
Por que o aluno contemporâneo não se preocupa em escrever levando
em conta os preceitos da norma culta? Escrever utilizando a forma ortográfica
correta seria algo do passado? Quais atividades são possíveis de serem
realizadas em sala de aula para que o aluno escreva melhor, usando
adequadamente a ortografia? Quais atividades poderiam ser propostas para
que o aluno realizasse reflexões sobre os usos linguísticos?
Com o intuito de procurar respostas e talvez acalmar nossas
inquietações em relação a essas questões, foram realizadas leituras, estudos e
pesquisas que nos levaram a elaborações e reflexões baseadas em alguns
autores, para fundamentar nossas colocações e nosso trabalho em sala de
aula, tendo como foco o ensino da ortografia. O que será exposto é, portanto, a
consequência das reflexões teóricas sobre o tema, que nortearam a proposição
pedagógica e também os resultados obtidos a partir da aplicação da proposta
de implementação pedagógica com alunos do 6º ano.
Com o trabalho, pretende-se contribuir para as reflexões sobre o ensino
de ortografia nas séries finais do Nível Fundamental.
Isso pressupõe também outra atitude por parte do professor que “em vez
de se preocupar em punir os erros, creio que precisa pensar em um novo tipo
de ensino: um ensino que trate a ortografia como objeto de reflexão.” Para
realizar esse ensino, o educador precisa ter compreensão de como está
organizada a norma ortográfica que ajudará o aluno a aprender, uma vez que é
importante “ (...) saber um pouco sobre como a criança reconstrói a norma
ortográfica em sua mente, como aprende” (MORAIS, 2009, p.33, grifos do
autor).
Para que o professor consiga fazer esse trabalho, deve também estar
ciente da organização da língua e ter domínio do que Morais chama de
“princípio gerativo” na ortografia “aprender ortografia não é só uma questão de
memória. Nem sempre, para acertar a grafia das palavras, é necessário
decorar sua forma correta.” (MORAIS, 2009, p. 35). A norma ortográfica de
nossa língua está organizada de modo que, em alguns casos, as
correspondências letra-som são regulares e, portanto, podem ser assimiladas
pela compreensão, podendo fazer relações com outras palavras de grafia
semelhantes, que seguem a mesma regra, chegando assim, à escrita correta.
Já em outros casos, são irregulares, exigindo que o estudante as memorize.
Tendo noção dessa distinção, o aluno poderá compreender que os erros
ortográficos não são sempre idênticos, pode ocorrer de serem erros
semelhantes em sua aparência, porque envolvem a “troca de uma letra por
outra”, entretanto têm naturezas diferentes.
Como o trabalho com a ortografia não precisa ser conduzido de forma
isolada, mas relacionado com as demais atividades da disciplina de Língua
Portuguesa, tivemos o interesse de ampliar o nível de leitura, compreensão,
interpretação e produção escrita dos alunos do 6º ano. Sendo assim,
lembremos o que Riolfi aponta como uma indicação norteadora para a prática
docente “o ato de ensinar a escrever carece de arte e de responsabilidade da
arte de quem ensina e de disponibilidade para mudanças da parte de quem
aprende” (RIOLFI, 2008, p.116).
A partir dessas colocações, devemos ter clareza que, tanto professor
quanto aluno, devem estar cientes de que “A escrita não é a fala, escrever não
é transcrever. (...) não porque a fala é mal organizada ou incompleta, mas
porque escrever implica trabalhar com uma outra ordem da língua” (RIOLFI,
2008, p.118). Quando os alunos não demonstram interesse em adequar a sua
escrita à norma padrão, como foi mencionado anteriormente, podemos concluir
que lhes falta o entendimento de que a escrita precisa ser elaborada seguindo
normas que a difere da oralidade. Falta-lhes perceber que escrever é um
trabalho diferenciado da fala, é uma outra ordem da língua e possui usos
distintos tanto em relação à sua forma de grafar quanto à adequação à
determinadas situações de uso.
Por meio dessas reflexões, podemos inferir que a problemática da
escrita ortograficamente correta na sala de aula é advinda das mudanças que
vêm ocorrendo na sociedade atual, em que tudo parece ser passageiro, fugaz,
com ênfase para as interações rápidas, com a utilização de linguagem escrita
que se aproximam da forma oral e/ou bastante abreviadas, o que gera rapidez
no envio de mensagens por meios eletrônicos. Para o jovem contemporâneo
“O ato de escrever vai na contramão do nosso tempo, já que exige de quem o
realiza a entrada em um universo que não o da efemeridade e da rapidez”.
Cabe aos professores refletirem e perceberem essas mudanças e levarem
seus alunos também a essa reflexão, pois “A entrada no mundo da escrita não
se limita e não se realiza somente pelo ato de ser alfabetizado. Ele requer e
constrói, ao mesmo tempo, um domínio simbólico e reflexivo da linguagem”
(RIOLFI, 2008, p.122).
Como consequência desse processo de tecnologização mencionado por
Riolfi, os professores diariamente convivem com a interrogação que também é
motivo de questionamento da autora: “Como ensinar o aluno a produzir uma
escrita distinta em um tempo em que somos submetidos aos rituais efêmeros
da informação rápida?” (p.122). Percebemos que nos dias atuais devido ao
constante uso das tecnologias, mais propriamente a internet, os jovens não
veem necessidade de apresentar uma escrita ortograficamente correta
seguindo a norma padrão, porque um dos modelos de escrita que eles
possuem é o da informação rápida, advinda das redes sociais, nas quais o que
importa é que a interação se estabeleça, por meio de uma linguagem própria
dos meios eletrônicos. Assim, algumas formas que os alunos utilizam inserem-
se no que é denominado de “internetês”.
Em se tratando da escrita nos dias atuais, percebemos que em vários
pontos Riolfi e Morais compartilham da mesma opinião, o da responsabilidade
de ensinar e de criar oportunidades para o ensino, pois nas colocações dos
autores o professor deve criar possibilidades para que o aluno se insira no
mundo da escrita, a qual se dá quando há disponibilidade para a mudança. As
ressignificações das práticas de ensinar podem levar à ressignificação das
razões para escrever (RIOLFI, 2008, p.123).
Os alunos nem se dão conta de que na sociedade contemporânea é
possível utilizar de diferentes modos a sua língua, de acordo com os interesses
e finalidades do sujeito, existindo formas de escrita “autorizadas” por esta
mesma sociedade contemporânea, dependendo das interlocuções
estabelecidas. Por exemplo, a grafia diferenciada para a escrita da palavra
você, que deve ser grafada você quando em se tratando de um texto formal,
dentro das regras da norma padrão, diferentemente de quando usada num
bate-papo na internet ou no celular que pode perfeitamente ser entendida se
for grafada “vc”. Nesse contexto, é perfeitamente aceitável por se tratar de uma
comunicação informal em que se faz a abreviação para usar pouco espaço e
tempo, tornando a comunicação prática e rápida, aproximada muitas vezes da
oralidade. Por outro lado, o uso padronizado da escrita das palavras também
possui uma função social, já que
3
Tal questão mereceria um estudo à parte, mais detalhado, pois “A ortografia é uma
invenção relativamente recente. Há trezentos anos, línguas como o Francês e o espanhol não
tinham ainda uma ortografia. No caso da língua portuguesa, foi só no século XX que se fixaram
normas ortográficas no Brasil e em Portugal” (MORAIS, 2009, p.27).
Portuguesa a correção dos mesmos problemas ortográficos, no texto do
mesmo aluno, durante aquele ano escolar (para não dizer que alguns
problemas são repetidos no texto do aluno no ano seguinte, onde receberá
novas e consecutivas marcações). Esperar que, somente a partir da correção e
da sinalização de problemas ortográficos, o aluno domine a ortografia correta
das palavras é superdimensionar o poder da correção e de
reflexão/aprendizagem individual do aluno. É também acreditar que sozinho o
aluno vai conseguir elaborar as reflexões sobre a escrita das palavras, o que é
um equívoco.
O tema não pode deixar de ser explorado como parte do trabalho do
professor, além da sinalização dos problemas, pois como já foi dito, grande
parte de nossos alunos não têm domínio da ortografia oficial e vão utilizando
cada vez mais a linguagem presente nas mídias em situações nas quais
deveriam fazer uso da linguagem mais formal, por ser aquela a forma
linguística que dominam. Para perceber a importância do domínio ortográfico, o
educando necessita de momentos de aprendizagem e reflexão sobre o como e
quando deve fazer uso de determinada norma ortográfica:
3- Implementação Pedagógica
4- Resultados e reflexões
5- Referências
Bibliografia consultada
MELO, Kátia Leal Reis de. & REGO, Lúcia Lins Browne. Inovando o ensino
da ortografia na sala de aula. Universidade Federal de Pernambuco Pós-
Graduação em Psicologia. Caderno de Pesquisa nº105 p. 110-134. Nov. 1998.
Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/poiesis/article/view/14062/8883>. Acesso
em: 13 abr. 2013.