FUNDAMENTAL
RESUMO:
O presente artigo desenvolve reflexões sobre as dificuldades apresentadas pelos
alunos ingressantes no sexto ano do Ensino fundamental, que geralmente os acompanham
nos anos seguintes. A partir dessas reflexões, a pesquisa busca apresentar estratégias
criativas e produtivas para a superação dessa defasagem. No que se refere à escrita, para
aprendê-la, a criança necessita viver em uma sociedade letrada ou, mais especificamente
fazer parte de algum segmento da sociedade que tenha acesso ao letramento. Diante
disso, é fundamental para nós, profissionais envolvidos com o desenvolvimento infantil e
com a aprendizagem, conhecermos como a criança processa o ensino da ortografia. O
estudo conta com o apoio teórico de Perini (1997), Travaglia (2003), Silva (2009) e
Bagno (2012).
INTRODUÇÃO
1
Aluna do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Língua Portuguesa da ESBAM.
2
Doutor em Linguística pela UFSC. Orientador.
A língua como fato cultural pode também ser descrita em termos de padrões
ideais e padrões reais. O que de maneira geral, se entende por língua padrão é de fato um
padrão ideal. Pode se tratar de um padrão preferencial, um acordo social para que
determinado padrão seja de maior prestígio social. Há de se aceitar que existe uma larga
distinção entre as modalidades falada e escrita.
Nas escolas encontramos uma padronização através dos livros didáticos da língua
padrão escrita. Os docentes que ensinam a língua materna nas escolas, em sua maioria,
seguem inteiramente as prescrições da gramática normativa, munidos da certeza de que
essas normas devem ser integralmente seguidas não apenas pelos alunos, mas por
quaisquer pessoas que escrevam.
No entanto, voltando ao campo da língua real e da língua ideal, há a observância de
que no que concerne ao padrão gramatical da escrita, os alunos apresentam inúmeras
falhas quanto à ortografia em situações de cultura escrita. É preciso lembrar que o
domínio da cultura letrada tem em sua história um emaranhado de valores relacionados
ao interesse do Estado, formulários ortográficos, gramáticas e agências de comunicação.
Nesse sentido, o presente artigo busca mostrar que o padrão tem sua importância e
utilidade, uma vez que as situações formais a serem vivenciadas demandarão do discente
o domínio da escrita frente aos desafios cotidianos.
Assim, muitos docentes vêm modificando a forma de ensinar a gramática com seus
conjuntos de regras, buscando apresentá-la através de textos que são parte do cotidiano
dos discentes, textos publicados em jornais, revistas, comerciais publicitários e textos de
internet.
Para Travaglia (2003), relacionar as atividades com metas e objetivos de ensino de
língua materna, concepções de linguagem e gramática trazem uma proposta que se
integra verdadeiramente com o ensino de produção e compreensão de textos e ensino do
léxico/vocabulário, dessa forma é possível produzir um ensino pertinente para a vida das
pessoas.
Aproveitar os fatos reais que aparecem em sala de aula, como por exemplo, através
da fala dos próprios alunos, são grandes oportunidades de mostrar que a língua é capaz de
se modificar à revelia do falante, conforme o contexto em que ela se aplica.
Apresentar ao aluno novos recursos e possibilidades da língua que é sistemática e
não fica condicionada apenas àquilo que ocorre no uso que o aluno faz da língua, com a
vantagem de apresentar ao aluno novos recursos e possibilidades da língua em que os
alunos certamente precisará em várias situações de comunicação durante a vida.
2 ORIENTAÇÕES DOS PCN SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
3 A IMPORTÂNCIA DA ORTOGRAFIA
No Brasil, o ensino da escrita passou por várias etapas e foi fortemente influenciado
pela pedagogia tradicional, de caráter religioso e normativo, dada a influência dos
jesuítas, nessa área. A escrita, em tempos passados, era privilégio de sacerdotes e nobres;
para nós, nos dias atuais, é necessidade e direito de todos. A escrita, que serve de
comunicação entre os homens, é usada desde a declaração de um sentimento até o
fechamento de um importante negócio. A escrita, seja ela qual for, sempre foi uma
maneira de representar a memória coletiva religiosa, mágica, científica, política, artística
e cultural de um povo.
Sendo a ortografia a parte da língua responsável pela grafia correta das palavras
faz-se necessário trabalhá-la de uma maneira intensa e ativa nos alunos, já que se percebe
grande dificuldade nesse aspecto.
Segundo Silva (2009), p. 27 "A ortografia age na parte gráfica e funcional da escrita". O
ensino da ortografia deveria acontecer desde as seres iniciais, em que os alunos aprendem
a ler, escrever e falar de uma maneira correta. No entanto, por defender a ortografia como
um meio eficaz de aprender a ler, escrever e falar corretamente, é que se faz de extrema
importância enfatizá-la de uma forma mais intensa no ensino. Nessa perspectiva, é
importante evidenciar um dos principais objetivos da educação: promover a aquisição da
escrita e da leitura. Devemos dominar com clareza o que significam ler e escrever, os
desafios que representam os conhecimentos de ordem linguística e que conhecimentos o
professor deve ter para poder realmente ensinar.
Diante dessa realidade, é necessário refletir sobre as metodologias utilizadas no
ensino da ortografia da Língua Portuguesa. Dessa forma, é necessária a investigação das
principais causas das dificuldades dos alunos em se apropriarem das regras ortográficas,
se estão na forma de ensino ou em defasagens apresentadas pelos discentes. Isso
demanda um estudo de caso, para que se detectem nessa panorâmica os reais motivos que
atrapalham os alunos na internalização das normas ortográficas.
Assim, a escola precisa provocar nos sujeitos uma reflexão sobre a língua, pois um saber
metalingüístico que relacione ortografia e significado poderá levar os sujeitos a um
melhor desempenho da escrita convenciona.
A metodologia utilizada pelos professores conjuntamente para ensinar ortografia,
ainda tem sido em sua maioria arcaica, ainda adotando características do ensino
tradicional, aplicando ditados, cópias de palavras, atividades mecânicas que não
priorizam a construção e reflexão acerca das normas ortográficas e do uso da língua. Vale
ressaltar que essas práticas são importantes também, mas não devem ser as únicas formas
adotadas. O uso exclusivo do livro didático como instrumento único de atividades de
leitura, interpretação, estudos gramaticais e atividades ortográficas limita a ação do
docente que se vê obrigado pelo sistema a usar por completo o livro didático, não tendo
tempo oportuno para o reforço de determinados conteúdos, incluindo a ortografia. Pode-
se concluir que grande parte dos professores se sentem confiantes quanto ao possível uso
de novas metodologias, mas ainda adotam única e exclusivamente posturas tradicionais
ao ensinar regras ortográficas. Apontam o sistema educacional como “culpado” por essa
prática retrógrada.
Auxiliar os alunos a internalizarem as regras ortográficas de forma eficaz é uma
tarefa difícil, requer resiliência, estudo, insistência, flexibilidade e doação. Além disso,
devem-se buscar meios que possibilitem essa aprendizagem como a utilização de jogos,
dinâmicas, músicas, entre outros recursos. Escrever corretamente pode significar abertura
de várias portas, no campo profissional ou na vida em geral, no entanto os alunos ainda
não apresentam a maturidade necessária para esse entendimento e mais uma vez é de
fundamental importância que se insira essa consciência neles.
É recorrente afirmar que o ingresso dos alunos no universo do letramento se dá
através do contato deles com as diversas formas de escrita, sejam elas através de rótulos,
campanhas publicitárias, revistas e demais impressos que circulam no âmbito familiar
dessa criança. Ao ingressar na escola, chamada educação sistemática, o discente é
apresentado a um processo novo que envolve a leitura, a oralidade e o registro escrito, a
ortografia. Assim, as associações a partir da bagagem de conhecimento trazida pelo aluno
é fundamental para que esse ingresso seja tranquilo e natural, dessa forma facilitando a
introdução das regras estabelecidas pela gramática normativa.
A ortografia de uma língua vai se constituindo ao longo do tempo sob a influência
dos diferentes modos de falar, mas principalmente por convenções sociais. Esta forma
mais estável da linguagem escrita em relação à linguagem oral possibilita a compreensão
do texto escrito independentemente de variações linguísticas.
Outro aspecto importante é saber ressaltar que as regras ortográficas são fruto de
uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas, cujo objetivo é
padronizar a escrita, mantê-la íntegra, ou seja, se esse objetivo não se realizasse, a
linguagem escrita apareceria, dentro de um mesmo país, fragmentada pela oralidade de
cada região e pelo modo de pronunciar de cada falante. Seria uma verdadeira Torre
de Babel, pois, com o passar do tempo, ninguém se entenderia mais. Essa seria a real
necessidade de se respeitar as convenções ortográficas.
4 PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO
Atividade 1:
Complete as palavras desta fábula usando S,SS, Ç, C.
A moça tecelã
Acordava ainda no escuro, como se ouvi___e o sol chegando atrá__ das beiradas da
noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para come__ar o dia. Delicado tra___o cor
da luz, que ela ia pa___ando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da
manhã desenhava o horizonte. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a
mo___a colocava na lan____adeira gro___os fios cinzentos do algodão mais felpudo.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam
os pá___aros, bastava a mo___a te__er com seus belos fios dourados, para que o sol
volta___e a acalmar a natureza. A___im, jogando a lan___adeira de um lado para outro e
batendo os grandes pentes do tear para frente e para trá___, a moça pa___ava os seus
dias. Mas te___endo e te___endo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e
pela primeira vez pens__u em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca
conhe___ida, come___ou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam
companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado,
corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último
fio do ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na ma____aneta, tirou o chapéu de
pluma, e foi entrando em sua vida.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pen__ado em filhos, logo
os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pen__ou a não ser
nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é nece___ária — di___e para a mulher.
Mas pronta a ca__a, já não lhe pareceu sufi___iente.
— Para que ter ca__a, se podemos ter palácio? — perguntou o homem.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça te__endo tetos e portas, e pátios e
escadas, e salas e poços.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e
seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse.
Sem descan__o te__ia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de
luxos.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pare__eu maior que o
palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar
sozinha de novo.
Só esperou anoite__er. Levantou-se, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao
tear. Segurou a lan__adeira ao contrário, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os
cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. E novamente se viu na sua ca__a
pequena.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado,
olhou em volta.
Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele
viu seus pés desapare__endo, sumindo as pernas.
Então, a moça escolheu uma linha clara. E foi pa___ando-a devagar entre os fios, que a
manhã repetiu na linha do horizonte.
COLASANTI, Marina. Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento. Rio de Janeiro:
Global Editora, 2000. p. 18. Adaptado.
Atividade 2:
Lenda do guaraná
Em uma aldeia dos índios Maués avia um casau, com um único filho, muito bom,
alegre e saudável. Era muito querido por todos de sua audeia, o que levava a crer que no
futuro seria um grande chefe guereiro.
Isto fez com que Jurupari, o Deus do mal, sentise muita inveja do menino. Por isso
resolveu matá-lo. Então Jurupari transformou-se numa enorme serpente e, enquanto o
indiozinho estava distraído, colhendo frutinhas na floresta, ela atacou e matou a pobre
crianssa.
Seus pais, que de nada desconfiavam, esperaram em vão pela volta do indiosinho, até
que o Sol foi embora. Veio a noite e a Lua começou a brilhar no céu iluminando toda a
floresta. Seus pais já estavam dezesperados com a demora do menino. Então toda a tribo
se reuniu para procurá-lo.
Quando o encontraram morto na floresta, uma grande tristesa tomou conta da tribo.
Ninguém conseguia conter as lágrimas. Neste ezato momento uma grande tempestade
caiu sobre a floresta e um raio veio atingir bem de perto do corpo do menino.
Todos ficaram muito açustados. A índia-mãe dice: “- É Tupã que se compadece de
nós. Quer que enterremos os olhos de meu filho, para que nasça uma fruteira, que será
nossa felicidade”.
Assim foi feito. Os índios plantaram os olhinhos da criança imediatamente, conforme
o desejo de Tupã, o rei do trovão.
Alguns dias se paçaram e no local nasceu uma plantinha que os índios ainda não
conheciam. Era o guaranazeiro. É por isso que os frutos do guaraná são sementes negras
rodeadas por uma película branca, muito semelhante a um olho humano. Agora, diz aí,
quem não gosta de guaraná?
(Lendas Amazônicas)
A língua portuguesa precisa ser vista e ampliada de uma forma mais plena no
processo de ensino dos alunos, ensinando-lhes não a obrigatoriedade de aprender, mas a
consciência de saber escrever, falar e a ler corretamente, fazendo desse ato uma
constituição cidadã de si próprio, adquirindo o saber por valor e consciência.
Conforme se discutiu ao longo do presente artigo, uma das tarefas da escola é criar
condições para que o aluno construa seu conhecimento de forma investigativa e crítica.
Em relação ao trabalho com a ortografia, cabe à escola favorecer a explicitação dos
conhecimentos dos alunos sobre as restrições da norma ortográfica. Além disso, a escola
precisa propiciar atividades diversas e criativas nas quais os alunos não respondam as
atividades de modo automático ou mecânico.
Para tanto, o aluno precisa ser estimulado a inferir sobre o porquê das notações
corretas. Assim, cabe à instituição escolar assumir a responsabilidade de promover uma
aprendizagem adequada e explícita dos aspectos inerentes à notação escrita do português,
aspectos esses que o indivíduo precisa conhecer para ter êxito em ortografia (MORAIS,
2005).
Por fim, há necessidade de que se tenha a presença constante, na escola, de
atividades sistemáticas de ensino e aprendizagem de ortografia, bem como o uso de
metodologias adequadas, como a de solicitar a produção de textos espontâneos aos alunos
e que tais textos passem por uma correção e respectiva relação dos problemas levantados.
Dessa forma, o aluno passa a ser estimulado a revisar constantemente o que produz,
a refletir acerca das convenções ortográficas e, assim, passa a ter consciência da
importância de se autocorrigir e, principalmente, de se colocar no papel de “leitor” de seu
próprio texto.
REFERÊNCIAS