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Português

Funções sintáticas do pronome relativo

Teoria

Pronomes relativos
Os pronomes relativos desempenham função sintática na oração adjetiva. Para analisá-los, o melhor
procedimento é montar a oração adjetiva substituindo o pronome relativo pelo seu antecedente. Para que
possamos apreender de forma concreta o assunto que por ora vamos estudar, seria muito interessante
analisarmos juntos duas orações, que se encontram demarcadas a seguir:

O garoto é meu colega de classe.


O garoto se identifica bastante com o estudo da língua portuguesa.

Temos duas orações nas quais podemos constatar que, em se tratando do sujeito, esse se apresenta de
forma idêntica em ambas, uma vez expresso por “o garoto”. Depois de identificarmos esse termo, tão
importante na construção de uma oração, vamos tentar unir essas duas orações e fazer com que esse
conjunto de termos se transforme em um período composto? Vamos lá?

O garoto que se identifica bastante com o estudo da língua portuguesa é meu colega de classe.

Temos agora um período composto, uma vez que constatamos a presença de mais de um verbo (identifica/é
– verbo ser). Assim, notamos também que no lugar do sujeito da segunda oração foi colocada uma
palavrinha, representada pela palavra que, cuja função é substituir o sujeito, de modo a evitar possíveis
repetições. Essa palavra é um pronome relativo e, em decorrência de tal substituição, ocupa a função
sintática de sujeito.

Vamos ver, agora, as diferentes funções sintáticas que esse pronome relativo pode exercer numa oração, para
além da função de sujeito que foi analisada acima.

● Objeto direto: Os trabalhos que faço me dão alegria.

O período composto acima, se dividido em duas orações, ficaria: Eu faço trabalhos. / Os trabalhos me dão
alegria.

Veja que, no período composto, o pronome relativo “que” está fazendo referência ao termo “Os trabalhos”.
Afinal, o verbo “faço” exige um complemento direto – que é o objeto “os trabalhos”. Assim, o pronome relativo
apresenta função sintática de objeto direto.

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● Objeto indireto: As pessoas de quem gostamos compareceram à festa.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: Nós gostamos de pessoas/ As pessoas
compareceram à festa.
No período composto, o pronome relativo “de quem” faz referência ao termo “As pessoas”, que é um objeto
indireto. Sendo assim, visto que o verbo “gostar” exige um complemento preposicionado (que equivale ao
termo “as pessoas”), o pronome relativo exerce o papel desse objeto indireto.

● Predicativo do sujeito: O atleta saudável, que ele sempre foi, hoje está fora das pistas devido ao acidente.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: Ele sempre foi um atleta saudável/ O atleta saudável
hoje está fora das pistas devido ao acidente.
Temos, nesse período composto, o pronome relativo “que” referindo-se ao termo “o atleta saudável”. Repare
na primeira oração acima, que este termo equivale ao predicativo que modifica o sujeito “Ele”. Logo, o
pronome relativo exibe a função sintática de predicativo do sujeito.

● Predicativo do objeto: Ele não é mais o atleta saudável que todos o consideravam até o ano passado.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: Ele não é mais o atleta saudável/ Todos o [objeto
direto] consideravam um atleta saudável até o ano passado.
Percebe-se, nesse período composto, que o pronome relativo “que” refere-se ao termo “atleta saudável”. Veja
que, na segunda oração separada acima, “atleta saudável” funciona como caracterizador do objeto direto “o”,
logo, é um predicativo do objeto. Dessa forma, o pronome relativo exibe a função sintática de predicativo do
objeto.

● Complemento nominal: O filme a que fizeram referência foi premiado.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: Fizeram referência ao filme/ O filme foi premiado.
Nota-se que, no período composto, o pronome relativo “a que” refere-se ao termo “o filme”, certo? Assim,
vendo na primeira oração acima, o termo “ao filme” é um complemento do nome “referência”. Deste modo, o
pronome relativo exibe a função sintática de complemento nominal.

● Adjunto adnominal: O menino, cujo pai é médico, deverá seguir a carreira do patriarca.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: O pai do menino é médico/ O menino deverá seguir
a carreira do patriarca.
Vê-se que, no período composto, o pronome relativo “cujo” faz referência ao termo “o menino”. Quando
reparamos na primeira oração acima, vemos que “do menino” é um adjunto adnominal do substantivo “pai”,
visto que é um termo acessório que complementa tal substantivo. Portanto, o pronome relativo exibe a função
sintática de adjunto adnominal.

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● Adjunto adverbial: A cidade em que moro é bem tranquila.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: Eu moro na cidade/ A cidade é bem tranquila.
Observa-se que, no período composto, o pronome relativo “em que” refere-se ao termo “a cidade”, correto? A
partir disso, vê-se, na primeira oração acima, que “na cidade” funciona como adjunto adverbial do verbo
“morar”. Assim, o pronome relativo exibe a função sintática de adjunto adverbial.

● Agente da passiva: A jornalista por quem fui entrevistado me deixou muito confortável.

Dividindo o período composto em duas orações, temos: Fui entrevistado pela jornalista/ A jornalista me
deixou muito confortável. Veja, que, no período composto, o pronome relativo “por quem” refere-se ao termo
“A jornalista”. Repare que, na primeira oração acima, “pela jornalista” é o agente da passiva da oração (se a
oração estivesse em voz ativa, teríamos “A jornalista me entrevistou”, lembra?). Logo, o pronome relativo exibe
a função sintática de agente da passiva.

IMPORTANTE!
• O pronome relativo “CUJO” (e suas variações) só exercecem função sintática de adjunto adnominal.
• O pronome “ONDE” sempre funciona como adjunto adverbial.

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Exercícios

1. (FGV) A China detonou uma bomba e pouca gente percebeu o estrago que ela causou. Assim que abriu
as portas para as multinacionais oferecendo mão de obra e custos muito baratos, o país enfraqueceu
as relações de trabalho no mundo. Em uma recente análise, a revista inglesa The Economist mostra
que a entrada da China, da Índia e da ex-União Soviética na economia mundial dobrou a força de
trabalho. Com isso, o poder de barganha de sindicatos do mundo inteiro teria se esfacelado.
Provavelmente por isso, diz a revista, salários e benefícios tenham crescido apenas 11% desde 2001
nas empresas privadas dos Estados Unidos, ante 17% nos cinco anos anteriores.
(Você s/a, setembro de 2005)

a) Transcreva uma oração do texto introduzida pelo pronome relativo “que”.

b) Qual é o antecedente desse pronome, isto é, a palavra a que ele se refere?

c) Qual é a função sintática desse pronome na oração em que se encontra?

2. (UFSC) Considerando as palavras destacadas nas frases adiante, assinale a(s) proposição(ões)
CORRETA(S).

I. Imaginemos QUE (1) o mundo inteiro esteja em paz.


II. Durante a tarde, os manifestantes QUE (2) reivindicavam melhorias salariais foram às ruas
protestar contra o governo, QUE (3) parecia não lhes dar ouvidos.
III. As desilusões QUE (4) ele sofreu justificam as decisões QUE (5) toma hoje em dia.

01) Em I, a palavra destacada é conjunção coordenativa, pois estabelece relação entre duas orações
independentes entre si.
02) O antecedente de QUE (2) é “manifestantes” e a palavra QUE (2) representa o agente do verbo
“reivindicar”.
04) Em III, QUE (4) é pronome relativo e pode ser substituído, sem alteração de sentido, por “as quais”.
08) O verbo “toma”, em III, tem como sujeito QUE (5) cujo antecedente é “decisões”.
16) Em II, QUE (3) inicia uma oração que tem como função restringir o significado de “governo”,
especificando de que governo se trata.

3. Observe: “O tom que eu canto as minhas músicas pra tua voz/Parece exato.”
A partir do trecho destacado da música “All Star”, do cantor Nando Reis, responda:
a) Reescreva a frase acima, consertando-a.
b) Com base na frase corrigida, qual o valor sintático do termo “que”?
c) Qual a classe gramatical do termo “que”?
d) Qual a classificação da oração por ele introduzida?

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4. Assinale a alternativa que apresenta respectivamente as funções sintáticas desempenhadas pelos


pronomes relativos nas frases a seguir:

I. Ventava muito no dia em que fui à praia


II. É muito movimentado o aeroporto onde desembarcamos.
III. Joana é uma das poucas pessoas em quem Pedro tem confiança.
IV. Os candidatos cujos trabalhos serão expostos devem contatar o diretor do local.
V. Eis os candidatos que representarão o nosso país.

a) Adjunto adverbial, Sujeito, Objeto direto, Adjunto adnominal, Sujeito.


b) Adjunto adnominal, Adjunto adverbial, Sujeito, Objeto direto, Complemento nominal.
c) Adjunto adverbial, Adjunto adverbial, Complemento nominal, Adjunto adnominal, Sujeito.
d) Adjunto adnominal, Adjunto adverbial, Adjunto adnominal, Objeto direto, Adjunto adverbial.

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5. (UERJ – Adaptada)

Era uma espécie de êxtase: fazer de simples prova de natação, a que ninguém o obrigava , uma
disputa em que parecia empenhar o destino , fazer da arrancada final uma luta contra o cansaço, em
que a vida parecia querer prolongar-se além de si mesma. (l. 8-10)*p

Reescreva as duas orações subordinadas adjetivas sublinhadas, fazendo uso da expressão “a qual”,
de acordo com a norma-padrão. Além disso, identifique, respectivamente, as funções sintáticas
desempenhadas pelos pronomes relativos nas orações sublinhadas.

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Gabarito

1.
a) “que ela causou”.
b) O pronome relativo “que” faz referência à palavra “estrago”.
c) Objeto direto (do verbo “causou”)

2. 02 + 04

01) Incorreta - “QUE” (1) = conjunção integrante (introduz uma oração subordinada substantiva objetiva
direta)
02) Correta
04) Correta – “As desilusões as quais ele sofreu justificam...”.
08) Incorreta – “QUE” (5) tem como referente “decisões”, mas a funciona como objeto direto do verbo
“toma”.
16) Incorreta – “QUE” (3) restringe/refere-se a palavra “manifestantes” e não ao vocábulo “governo”.

3.
a) O tom em que eu canto as minhas músicas pra tua voz/Parece exato.
b) em que = adjunto adverbial.
c) Pronome relativo
d) Oração subordinada adjetiva restritiva.

4. C

I. “Em que” é adjunto adverbial de lugar;


II. “Onde” é adjunto adverbial de lugar;
III. “Em quem” é complemento nominal, pois completa o sentido do substantivo “confiança”.
IV. “Cujos” é adjunto adnominal, pois possui valor adjetivo.
V. “Que” = candidatos (sujeito da oração).

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5.
I) À qual ninguém o obrigava; II) Na qual parecia empenhar o destino.
Função sintática I: Objeto indireto; II: Adjunto adverbial.
(Comentário oficial UERJ) No trecho destacado, duas orações subordinadas adjetivas aparecem
sublinhadas: “a que ninguém o obrigava” e “em que parecia empenhar o destino”. De acordo com a
norma-padrão, o emprego de pronome relativo acompanhado, ou não, de preposição faz-se em função
da regência do verbo da oração em que se encontra o referido pronome. Assim, percebe-se que, na
oração “a que ninguém o obrigava”, o pronome relativo “que” está antecedido da preposição “a” (note
que o verbo obrigar é transitivo direto e indireto) e na oração “em que parecia empenhar o destino”, da
preposição “em” (o verbo empenhar também é transitivo direto e indireto). Uma vez que as reescrituras
devem ser feitas de acordo com o registro da norma-padrão, ambas as preposições são obrigatoriamente
mantidas, quando do uso da expressão “a qual” em cada uma das orações. Desse modo, a reescritura
da primeira oração terá, obrigatoriamente, a seguinte construção: à qual ninguém o obrigava (encontro
da preposição "a" com o artigo "a", presente antes do relativo qual). Já segunda será reescrita,
necessariamente, da seguinte forma: na qual parecia empenhar o destino (encontro da preposição "em"
com o artigo "a", presente antes do relativo qual).

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