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Módulo 4

REGÊNCIA
VERBAL E NOMINAL

Sumário

Problemas de regência apresentam sutilezas ............................................................................. 3

Regência verbal e nominal .......................................................................................................... 5

Regência verbal ........................................................................................................................... 6

Regência nominal ......................................................................................................................... 14


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Problemas de regência apresentam sutilezas


Thaís Nicoleti De Camargo

O uso das preposições costuma ser fonte de dúvidas entre aqueles que escrevem. Muitas dessas
palavras têm seu sentido apagado, isto é, seu valor semântico praticamente imperceptível para os
falantes. Em construções do tipo "Gosto de você" ou "Preciso de ajuda", não se tem noção do
significado específico da preposição "de".

Em outras construções, no entanto, permanecem traços semânticos capazes de evocar um


significado. Numa frase como "Dirija-se a outro caixa", a preposição "a" indica direção. Essa mesma
ideia está presente, por exemplo, em "Fui ao cinema", muito embora haja franca tendência ao uso
da preposição "em" numa sentença como essa - talvez como forma de privilegiar a ideia de lugar
contida em "cinema" em detrimento da ideia de direção presente no verbo "ir".

Lendo a seguinte declaração: "Queremos contribuir com a revitalização do centro da cidade e


recuperar o prestígio de um ponto comercial que já foi o maior da América Latina", encontrará o
leitor alguma imprecisão quanto ao uso das preposições? É possível que não, mas o fato é que o
ideal seria que tivesse sido usada a preposição "para" no lugar de "com" ("Queremos contribuir
para a revitalização do centro da cidade...").

Observe que a revitalização do centro da cidade é o objetivo, a meta ou o fim de quem contribui -
daí ser recomendável o uso da preposição "para", que carrega esse valor semântico. "Contribuir
com alguma coisa" é a construção adequada à expressão daquilo que é dado como contribuição.
Por exemplo: "Contribuiu com dinheiro", "contribuiu com um artigo", "contribuiu com um quilo de
farinha", etc.

Num período como "O técnico do São Paulo vai pedir para os atacantes iniciarem a marcação ao
adversário", construção das mais comuns na imprensa, encontramos o verbo "pedir" seguido de
complemento introduzido pela preposição "para". O verbo "pedir", entretanto, admite dois
complementos, o objeto direto (que designa aquilo que se pede) e o objeto indireto (que designa o
destinatário da ação), que, na construção acima, aparecem "fundidos".
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Para "enxergar" os dois objetos, seria preciso refazer o período: "O técnico do São Paulo vai pedir
aos atacantes que iniciem a marcação do adversário". Note que, agora, o elemento "aos atacantes"
é o objeto indireto do verbo "pedir" (o destinatário da ação de pedir), enquanto a oração
(subordinada substantiva) "que iniciem a marcação do adversário" é o objeto direto (aquilo que
será pedido aos atacantes pelo técnico).

Se, na construção destacada, o verbo "pedir" aparece com um só complemento preposicionado


("para os atacantes iniciarem a marcação do adversário"), que funde os dois objetos, na
reformulada, aparece com dois objetos "separados".

Essa construção não deve ser confundida, por exemplo, com a seguinte: "Pediu para sair da aula
mais cedo", caso em que foi omitida a palavra "licença" ("Pediu licença para sair da aula mais
cedo"), à qual está ligada a preposição "para".

Observe que o autor da frase escolhida empregou a construção "marcação ao adversário", mas o
substantivo derivado de um verbo transitivo direto geralmente rege complemento iniciado por
"de". Assim: marcar o adversário/marcação do adversário; vender a casa/venda da casa; favorecer
alguém/favorecimento de alguém; comprar o carro/compra do carro, etc.

A respeitar a chamada norma culta do idioma, também seria imperfeita a construção seguinte: "De
acordo com a nova lei, hotéis, motéis, pensões, bares, restaurantes e casas noturnas serão
sumariamente fechados se fizerem apologia ou incentivarem o turismo sexual". O problema agora
está no uso de um só complemento ("o turismo sexual") para termos de regência diversa. Faz-se
apologia de alguma coisa. Ora, os estabelecimentos serão fechados "se fizerem apologia do turismo
sexual".

Para refazer o período e evitar a repetição do complemento ("o turismo sexual"), é possível
empregar um pronome que retome a expressão. Assim: "... serão fechados se fizerem apologia do
turismo sexual ou o incentivarem". Outra solução seria, por exemplo, "... serão fechados se fizerem
apologia do turismo sexual ou incentivarem a sua prática".
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REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL

Existem verbos que não necessitam de complementos (os verbos intransitivos) e verbos que
exigem complementos (os verbos transitivos).

Os verbos transitivos exigem complemento sem preposição (verbos transitivos diretos), ou


com preposição (verbos transitivos indiretos).

Alguns nomes exigem igualmente um termo que lhes complete o sentido: complemento
nominal.

A parte da gramática que trata das relações entre os termos da oração, verificando se um
termo pede ou não complemento, chama-se sintaxe de regência.

Observe as orações seguintes:

Eles amam a vida.

Eles gostam da vida.

Temos amor à vida.

No primeiro exemplo, o verbo amar exige complemento sem preposição (objeto direto); no
segundo, o verbo gostar exige complemento com a preposição de (objeto indireto); no terceiro, o
nome amor exige complemento com a preposição a (complemento nominal).

A sintaxe de regência vai estudar a relação entre um termo e seu complemento, procurando
verificar se o complemento virá ou não introduzido por preposição. Damos o nome de regente ao
termo que pede o complemento e o nome de regido ao complemento.

Regente Regido

Eles amam a vida

Eles gostam da vida

Temos amor à vida

Quando o termo regente for um verbo, dizemos tratar-se de regência verbal. Se o termo
regente for um nome, trata-se de regência nominal.
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Regência é a parte da gramática que estuda a relação de dependência entre termos da


oração, verificando se um termo pede ou não complemento.

1. REGÊNCIA VERBAL

A seguir uma lista de verbos que apresentam problemas com relação à regência. Muitos
desses problemas ocorrem porque o uso popular está em desacordo com a norma culta, ou porque
um verbo pode apresentar mais de uma regência.

1) Intransitivos:

expressam uma ideia completa ou geral, não aparecendo acompanhados de determinantes


(complementos) de natureza substantiva (substantivo, pronome ou numeral).

Ex.: As crianças brincavam. Pedro partiu ontem. As estrelas luziam.

2) Transitivos:

aparecem acompanhados de um determinante (complemento representado por palavra ou oração


de valor substantivo), que lhes integra a significação.
Podem ser:

a) Verbos Transitivos Diretos (VTD) – normalmente não pedem preposição:

Vi o menino no parque.
VTD OD

Mas isso pode ocorrer: Eu amo a Deus.


VTD OD (preposicionado)

Os pronomes oblíquos O, A, OS, AS são os “representantes oficiais” do objeto direto.

Eu amo meu pai. Cumprimentei as jovens.


Eu o amo. Cumprimentei-as.
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b) Verbos Transitivos Indiretos (VTI) - pedem preposição:

Obedeço ao regulamento. Eu gosto de você.


OI VTI OI

Os pronomes LHE e LHES são as “marcas registradas” do objeto indireto:

Obedece a teu superior. Não pagou ao médico.


Obedece-lhe. Não lhe pagou.

Os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, dependendo do verbo, podem exercer a função de
objeto direto ou de objeto indireto.

Tu não me amas. Tu não me obedeces.


OD VTD OI VTI

Não se deve dar complemento comum a termos de regência diferente.

É errado: Entrei e saí da sala. É certo: Entrei na sala e dela saí.

(Entrar pede a preposição EM e sair pede a preposição DE.)

Existem verbos bitransitivos (transitivo direto e indireto simultaneamente) que admitem a


alternância dos complementos de pessoa e coisa (objeto direto de coisa e indireto de pessoa/direto
de pessoa e indireto de coisa).

Informei ao diretor o ocorrido.


OI de pessoa OD de coisa

Informei o diretor do ocorrido


OD de pessoa OI de coisa
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REGÊNCIA DE ALGUNS VERBOS

1 - ASSISTIR

a) TRANSITIVO DIRETO no sentido de “prestar assistência”, “confortar”, “ajudar”, “socorrer”:

O médico assiste o doente.

b) TRANSITIVO INDIRETO (com preposição a) no sentido de “presenciar”:

Não assisti à missa.

c) TRANSITIVO INDIRETO no sentido de “favorecer”, “pertencer”:

Não lhe assiste o direito de reclamar.

d) INTRANSITIVO (com preposição “em”) seguido de adjunto adverbial de lugar. Neste caso, tem o
sentido de “morar”, “residir”:

O vereador assiste em Belo Horizonte.

2 - PREFERIR

No sentido de “achar melhor”, “querer antes”, é TRANSITIVO DIRETO E INDIRETO e exige a


preposição “a”:

Prefiro um inimigo declarado a um falso amigo.


OD OI

 Este verbo não se constrói com as expressões “QUE” ou “DO QUE”:

Errado: Prefiro trabalhar DO QUE passar fome.


Certo: Prefiro trabalhar A passar fome.
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 Este verbo repele expressões como MAIS, MUITO MAIS, MIL VEZES, ANTES:

Errado: Prefiro mil vezes Medicina que Direito.


Certo: Prefiro Medicina a Direito.

3 - PAGAR / PERDOAR / AGRADECER

a) TRANSITIVOS DIRETOS (quando o objeto for COISA):

Pagou a dívida. Jesus perdoou os seus pecados. Eu já agradeci o presente.

b) TRANSITIVOS INDIRETOS (quando o objetivo for PESSOA):

Pagou ao cobrador. Jesus perdoou ao ofensor. Eu já agradeci ao meu pai.

c) TRANSITIVOS DIRETOS E INDIRETOS:


Pagou a dívida ao cobrador.
OD OI
Jesus perdoou-lhe os pecados.
OD OI
Eu já agradeci o presente ao meu pai.
OD OI

4 - ESQUECER / LEMBRAR / RECORDAR

Compare!

Eu esqueci o dinheiro. Eu me esqueci do dinheiro.


Eu lembro o fato. Eu me lembro do fato.

A que conclusão se pode chegar? Se não houver pronome, não haverá preposição, e são transitivos
diretos. Se houver pronome, também haverá preposição, e passam a ser transitivos indiretos.

OBSERVAÇÃO: ESQUECER e LEMBRAR no sentido de “cair na lembrança” ou “apagar-se da


memória” são transitivos indiretos.

Esqueceu-me a sorte. Lembram-me os compromissos.


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5 - CHAMAR

a) TRANSITIVO DIRETO no sentido de “invocar”, “fazer vir”:

O professor chamou o aluno.

OBSERVAÇÃO: o objeto direto, neste caso, pode vir regido da preposição “POR”:

A velhinha chamava por você.


OD preposicionado

b) TRANSITIVO DIRETO OU INDIRETO no sentido de “apelidar”, “tachar”. São quatro as


construções admissíveis:

O povo chamava-o maluco. O povo chamava-o DE maluco.


O povo chamava-lhe maluco. O povo chamava-lhe DE maluco.

6 - VISAR

a) TRANSITIVO DIRETO no sentido de “dirigir o olhar para”, “apontar arma contra”:

Visei o alvo. Visava um pardal. Visaram o seu olho.

b) TRANSITIVO INDIRETO (com preposição a) no sentido de “ambicionar”, pretender”:

Visei ao bem da comunidade. Eis o progresso a que o governo visa.

7 - ASPIRAR

a) TRANSITIVO DIRETO no sentido de “sorver”, “tragar”, “atrair” (o ar) aos pulmões, “pronunciar
guturalmente”:
Aspirei o perfume de seus cabelos.

b) TRANSITIVO INDIRETO (com preposição a) no sentido de “ambicionar”, “desejar ardentemente”:

Aspiram a altos cargos.


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Observação: nesta acepção, o verbo “aspirar” recusa a forma pronominal LHE(S), só aceitando A
ELE(S), A ELA(S):
Aspiro ao título. Aspiro a ele.

8 - AMAR / VER / VISITAR / CUMPRIMENTAR / ADMIRAR / ADORAR / LOUVAR /


ESTIMAR / ABANDONAR

São VTD (com ou sem a preposição a)

9 - PROCEDER

a) INTRANSITIVO no sentido de “portar-se”, “agir”:

Ela procedeu honestamente.


A.A. Modo

b) INTRANSITIVO no sentido de “provir”:

A língua portuguesa procede do latim.


A. A. Lugar (= ORIGEM)

c) INTRANSITIVO no sentido de “ter fundamento”:

Esse argumento não procede.

d) TRANSITIVO INDIRETO (com proposição a) no sentido de “realizar”, “dar início a”:

A firma procedeu ao sorteio do carro.

O secretário procedeu à leitura da ata.


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10 - QUERER

a) TRANSITIVO INDIRETO no sentido de “querer bem”, “gostar”, “estimar”, “amar”:

Um beijo de quem muito lhe quer. (= nas cartas)


Quero muito aos meus pais.

b) TRANSITIVO DIRETO no sentido de “desejar”:

Eu quero o livro.

11 - AVISAR / INFORMAR / COMUNICAR / CERTIFICAR / PREVENIR / ADVERTIR

Objeto direto de pessoa, objeto indireto de coisa:

Informei o diretor do ocorrido.

OU

Objeto direto de coisa, objeto indireto de pessoa:

Informei ao diretor o ocorrido.

12 - MORAR, RESIDIR, SITUAR e derivados

Pedem a preposição em (e não a) junto à expressão de lugar.

Moro em Curitiba.
João reside na Rua Riachuelo.

13 - CHEGAR

Junto à expressão de lugar, usa-se a (de):

O presidente chegou a Belo Horizonte.

Junto à expressão de tempo, usa-se em:

O presidente chegou na hora combinada.


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14 - OBEDECER, SUCEDER e OBSTAR

Pedem a preposição a:

Todos devem obedecer à lei.

15 - NAMORAR

Esse verbo não admite a preposição com:

Ela namora o moço louro. A moça que ele namora é linda.

16 - CHEGAR / IR

Pedem a preposição a para indicar o lugar a que se quer chegar ou ir.

O presidente chegou a Belém. Foi a um desfile na Sapucaí.

17 - CUSTAR

Com o sentido de “ser custoso”, “ser difícil”, virá com a preposição a ou sem ela.

Custou ao aluno aceitar o fato.

Quanto me custa manter este emprego!

18 - IMPLICAR

No sentido de “acarretar”, exige complemento sem preposição.

Tal procedimento implicará anulação da prova.


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19 - SIMPATIZAR

Exige a preposição com:


Simpatizei com aquela pessoa.

ATENÇÃO: esse verbo não é pronominal. Não se diz “Simpatizei-me com ele”.

2. Regência Nominal

Na Regência Nominal, a preposição relaciona-se com o nome (substantivos, adjetivos, advérbios ou


equivalentes).

Eis alguns nomes interessantes quanto à regência:

 Acessível a,

 Acostumado a/com,

 Atenção a/para,

 Consulta a,

 Desacostumado a/com,

 Louco por,

 Preferência a/ por,

 Situado em,

 Relativamente a.
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Referências:
ANDRÉ, Hildebrando. Gramática Ilustrada. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 1990.

BECHARA, Evanildo. Lições de Português pela análise sintática. 16ª ed. Rio de Janeiro:
Lucerna.

CADORE, Luís Agostinho – Curso Prático de Português, Literatura. Gramática. Redação.

CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 30 ed. São Paulo:
Nacional, 1998.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

EPSTEIN, Isaac. Gramática do poder. São Paulo: Ática, 1993.

KURY, Adriano da Gama. Português Básico. Rio de janeiro: Nova Fronteira, p.150.

LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 42ª ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2002.

TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. São Paulo: Scipione. 1996.

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