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LÍNGUA PORTUGUESA –

CLASSES DE PALAVRAS
AULA 4

Prof. Caio Augusto Lima de Castro


CONVERSA INICIAL

Até este ponto, nosso estudo sobre as classes de palavras se debruçou


sobre aquelas consideradas variáveis. Como vimos, essas têm sua forma
alterada para que ocorra o estabelecimento da concordância, que pode ser de
gênero, de número e de grau (e, no caso do verbo, também de pessoa). Nesta
aula, finalizaremos o estudo das classes de palavra discutindo as invariáveis.
Em seguida, daremos início ao estudo da estrutura das palavras. Os temas
encontram-se assim organizados:

 Tema 1 – O advérbio;
 Tema 2 – A preposição e a interjeição;
 Tema 3 – A conjunção: parte I;
 Tema 4 – A conjunção: parte II;
 Tema 5 – Palavreando.

Desejamos que, ao final da aula, você possa reconhecer a complexidade


que se encontra no conceito de palavra, para muito além do que esses signos
que vemos no papel separados pelos espaços em branco.

TEMA 1 – O ADVÉRBIO

Para darmos início ao estudo dos advérbios, vamos considerar as


seguintes sentenças:

1. a) Os músicos executaram a nona sinfonia de Beethoven;


b) Os músicos executaram brilhantemente a nona sinfonia de
Beethoven;
c) Os músicos executaram brilhantemente a nona sinfonia de Beethoven
ontem;
d) Os músicos executaram brilhantemente a nona sinfonia de Beethoven
ontem, no Teatro Guaíra.

Você nota a diferença semântica em cada uma delas? Vejamos que, a


princípio, existe uma informação que se faz constante em (1 a-d), isto é, o fato
de que a nona sinfonia de Beethoven foi executada pelos músicos. Contudo, em
(1b) é adicionada uma apreciação de valor em relação a isso, ou seja, não foi de
qualquer jeito que a peça foi executada, ela o foi de modo brilhante. Em (1c),
notamos que o fato ocorreu em um momento específico, pois nos é transmitida
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uma informação temporal. Por sua vez, em (1d), sabemos que o fato ocorreu em
um lugar específico, no caso, o Teatro Guaíra.
Todas essas informações são introduzidas na sentença por meio das
palavras “brilhantemente”, “ontem” e pela locução1 “no Teatro Guaíra”. Você
percebe que cada uma delas se refere ao evento denotado pelo verbo “executar”,
não é verdade? Repare que, para deixarmos essa ideia mais evidente, podemos
fazer as seguintes perguntas:

2. a) De que forma os músicos executaram a peça? Eles a executaram


brilhantemente.
b) Quando os músicos executaram a peça? Eles a executaram ontem.
c) Onde os músicos executaram a peça? Eles a executaram no Teatro
Guaíra.

Como pode ser visto, os termos “brilhantemente”, “ontem” e “no Teatro


Guaíra” modificam o verbo de alguma maneira; ora dando noção de modo, ora
de tempo, ora de lugar. À classe de palavras modificadoras dos verbos damos o
nome de “advérbio”. Segundo Lima (2010), essas palavras “servem para
expressar as várias circunstâncias que cercam a significação verbal”.
Mas, afinal, quais seriam essas “circunstâncias”? Vamos explorá-las na
próxima seção.

1.1 A classificação dos advérbios

As circunstâncias denotadas pelos advérbios também auxiliam no


estabelecimento de uma classificação dessa classe. Sendo assim, de acordo
com Rocha Lima (2010), temos os seguintes tipos de advérbio:

a) Advérbio de modo
Exemplo: Os músicos executaram bem a peça de Beethoven.
b) Advérbio de lugar
Exemplo: Os materiais encontram-se dentro do armário.
c) Advérbio de intensidade
Exemplo: Os atletas treinaram muito para as olimpíadas.
d) Advérbio de tempo
Exemplo: Os estudantes de Letras devem ler diariamente.

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O termo locução diz respeito à ideia de “mais de uma palavra” formando um sentido.
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e) Advérbio de dúvida
Exemplo: Provavelmente amanhã fará um dia de sol.

Cabe-nos chamar a atenção para um tipo de construção na qual a palavra


“que” atua como advérbio. Observemos o exemplo a seguir:

Que lindeza o
bebê dormindo!

Créditos: Sararoom Design/Shutterstock.

Na construção apresentada, estamos diante de uma sentença


exclamativa cuja semântica denota uma ideia de intensificação, cuja paráfrase
poderia ser algo do tipo: “O bebê dorme muito lindamente”. Como dito
anteriormente, esse é um caso específico no qual a palavra “que” desempenha
papel de advérbio.
Em seu estudo sobre os advérbios, Rocha Lima (2010) ainda estabelece
as palavras “onde”, “quando”, “como” e “porque” como advérbios interrogativos
em construções como:

3. a) Onde será a festa de aniversário da Maria?


b) Quando será a festa de aniversário da Maria?
c) Gostaria de saber como faremos para ir à festa de aniversário da Maria.
d) Se há fome no Brasil é porque2 há desperdício de alimentos?

Observemos que (3a), (3b) e (3d) são formações que apresentam uma
pergunta direta, por sua vez, (3c) traz uma pergunta indireta. Os termos
destacados “onde”, “quando”, “como” e “porque” expressam respectivamente as
noções de “lugar”, “tempo”, “modo” e “causa” e independentemente de a
pergunta ser direta ou indireta, atuam como advérbios interrogativos.
De acordo com Bechara (2001), palavras ou locuções que denotam
inclusão (também, até mesmo etc.); exclusão (só, somente, apenas etc.);
retificação (aliás, isto é, melhor etc.); explicação (a saber, por exemplo etc.);
expletivo (lá, só etc.) entre outras são compreendidas como denotadores ou

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Repare que, na referida construção, mesmo sendo uma pergunta a palavra “porque” é escrita
junta, pois apresenta uma hipótese de resposta na própria pergunta.
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palavras denotativas. Logo, constituem-se um grupo à parte dos advérbios,
dado que não exprime circunstância.
Entre os gramáticos, contudo, não há consenso na definição das palavras
que denotam negação, como é o caso de “não”. Para Bechara (2001), este é um
advérbio, por sua vez, para Rocha Lima (2010, p.229), este integra o conjunto
das palavras denotativas, pois incide sobre “quaisquer palavras que queiramos
marcar negativamente”, e não apenas o verbo.
Vimos nesta seção a classe dos advérbios e as propriedades que nos
permitem organizá-los em uma classe. Tratamos também de apresentar as
principais circunstâncias denotadas por eles. Por fim, percebemos que entre os
gramáticos nem sempre há consenso na maneira de classificar os advérbios,
como ocorre com a palavra “não” que, a depender da abordagem, pode ser
considerada advérbio ou palavra denotativa. No próximo tema, vamos discutir
sobre outra classe invariável, a da preposição.

TEMA 2 – A PREPOSIÇÃO E A INTERJEIÇÃO

Continuando nosso estudo sobre as classes de palavras invariáveis,


vamos observar o texto da campanha publicitária a seguir:

Crédito: Ministério da Saúde.

Como podemos perceber, a propaganda apresentada busca divulgar a


ideia da necessidade de a população brasileira agir preventivamente em relação
à propagação da doença dengue, combatendo-a de maneira ininterrupta.
Analisando mais de perto o texto “Brasil unido contra a dengue”, notamos que
existe uma relação de dependência entre os termos “Brasil unido” e “a dengue”.
Essa relação de dependência entre um e outro é estabelecida pela palavra
“contra”. Sendo assim, afirmamos que “contra” é uma preposição, visto que, de
acordo com Rocha Lima (2010, p. 231), “preposições são palavras que
subordinam um termo da frase a outro”.

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A classe das preposições se subdivide em dois grupos: o das chamadas
preposições essenciais e o das chamadas preposições acidentais. As
preposições essenciais são assim denominadas porque “só aparecem na língua
como preposições” (Bechara, 2001, p.301). Por sua vez, as acidentais são
aquelas que passaram a funcionar como preposições após terem perdido seu
“valor e emprego primitivo” (Bechara, 2001, p.301). No esquema abaixo,
encontramos disponibilizadas as preposições de acordo com os grupos aos
quais pertencem:

PREPOSIÇÕES

Essenciais Acidentais

a, ante, até, após,


exceto, durante,
com, contra, de,
consoante, mediante,
desde, em, entre,
fora, afora, segundo,
para, por, perante,
tirante, senão, visto.
sem, sob, sobre.

Na classe das preposições também encontramos as chamadas locuções

preposições, que nada mais são do que duas ou mais palavras que atuam como
uma preposição. De acordo com Rocha Lima (2010, p.232), nessas locuções, “a
última palavra é sempre preposição”. Na tabela a seguir, encontramos alguns
exemplos de locução prepositiva:

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Locuções prepositivas
ao lado de apesar de
além de de acordo com
acima de por causa de
abaixo de junto a

Agora, retomando a campanha publicitária apresentada anteriormente,


vamos analisar com mais atenção o seguinte texto: “Junte sua família e seus
vizinhos na luta contra a dengue”. No excerto apresentado, repare que entre os
termos “Junte sua família e seus vizinhos” e “luta contra a dengue”, há a
ocorrência da partícula “na”. Nesse caso, o que ocorre é a junção entre a
preposição “em” e o artigo definido “a”. O mesmo acontece em: ao (a + o), do
(de + o), deste (de + este), daquele (de + aquele), nesse (em + esse), pela (por
+ a) etc. Quando existe o encontro da preposição “a” e do artigo definido “a”,
marcamos graficamente a junção com o acento grave, fenômeno conhecido
como crase. Assim, à (a + a), às (a + as), àquele (a + aquele), àquela (a +
aquela), àquilo (a + aquilo) etc.
Observe atentamente as formações a seguir:

1. a) Preciso dum favor seu.


b) Os investidores entraram numa roubada.

A gramática normativa da língua portuguesa estabelece como adequadas


construções como essas? A resposta para a pergunta é: sim. O que temos
nesses casos é a junção da preposição “de” e o artigo indefinido “um” em “dum”
e da preposição “em” e o artigo indefinido “uma” em “numa”. A mesma
observação vale para as formações “duma”, “dumas”, “duns” e “num”, “nuns” e
“numas”.

2.1 A interjeição

Considere a tirinha a seguir:

Créditos: Jim Davis.

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No primeiro quadro, podemos inferir que algum personagem está
passando por uma experiência de dor, o que se confirma no último quadrinho,
quando Garfield deixa explícito que se trata de John, que encontrou as
“armadilhas” para os ratos. A ideia de que lançamos mão no primeiro quadrinho
ocorre por conta da palavra “ai!”, que exprime justamente a “emoção” da dor.
Assim sendo, podemos afirmar que “ai!” é uma interjeição, pois, como afirma
Rocha Lima (2010, p. 239), “interjeição é a palavra que exprime emoção”. Ainda
segundo o autor, as interjeições correspondem a elementos afetivos da
linguagem, valendo por uma frase inteira. Seu sentido pode variar a depender
da entonação dada. A seguir, temos algumas das interjeições e o sentimento
que evocam:

a) alegria: ah! oh!


b) dor: ai! ui!
c) chamamento: psiu! hei!
d) silêncio: psiu! shh!
e) alívio: ufa! uf!

Vimos neste tema 2 a classe das preposições e suas particularidades.


Analisamos como essas palavras são organizadas no estudo da morfologia e
vimos o que ocorre quando certas preposições se encontram com artigos
definidos e indefinidos. Abordamos também as interjeições e os sentimentos por
elas expressos. No próximo tema, vamos tratar da última classe de palavras, a
das conjunções.

TEMA 3 – A CONJUNÇÃO: PARTE I

A fim de iniciarmos a nossa discussão a respeito das conjunções, vamos


ler a tirinha que se segue:

Fonte: Disponível em: <https://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/>

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Sabemos que, nesse gênero textual, o humor se estabelece por meio da
quebra de expectativa, não é mesmo? Neste caso, especificamente, Miguelito
permanece sentado, pensando em uma justificativa razoável para o seu
sentimento de preguiça. Logo, se “a preguiça é mãe de todos os vícios”, é preciso
respeitá-la, visto que as mães devem ser respeitadas. Repare que, na
construção do pensamento apresentado, a atuação das palavras “mas” e “e” é
de fundamental importância, visto serem elas que fazem o estabelecimento da
concatenação lógica do raciocínio desenvolvido pelo garoto. Sendo assim,
podemos afirmar que “mas” e “e” são conjunções, de maneira que as palavras
dessa classe “relacionam entre si dois elementos de mesma natureza ou duas
orações de natureza diversa” (Lima, 2010, p.236).
As conjunções, são classificadas em dois grupos: o das coordenativas e
o das subordinativas. Neste tema, vamos nos dedicar ao estudo das primeiras,
deixando para o Tema 4 a análise das outras.
Dessa forma, temos que as conjunções coordenativas são classificadas
de acordo com as diferentes relações de sentido que estabelecem. Mas, afinal,
quais seriam essas relações? Vamos começar analisando a seguinte formação:

1. Os estudantes leram os livros, fizeram os fichamentos e as discussões


solicitadas pelo professor.

Repare que, na sentença (1), a conjunção destacada “e” acrescenta um


elemento à sequência de atividades realizadas pelos estudantes. Essa
particularidade é própria das conjunções denominadas aditivas.
Vamos ao próximo exemplo:

2. Os jogadores treinaram muito, porém não ganharam o campeonato.

Analisando a semântica da sentença (2), percebemos uma quebra de


expectativa lógica, visto que, se os jogadores treinaram muito, esperaríamos um
resultado favorável a eles. Contudo, vemos que ao invés de ganharem, eles
perderam o campeonato. Essa “quebra de expectativa”, chamada
gramaticalmente de adversidade, é introduzida pela conjunção “porém”.
Portanto, as conjunções adversativas “relacionam pensamentos contrastantes”
(Lima, 2010, p.235).
Continuando nosso estudo sobre as conjunções coordenativas,
observemos a próxima ocorrência:

3. Os consumidores podem escolher pagamento à vista ou a prazo.


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Na sentença (3), temos a informação de que os consumidores podem
escolher a forma de realizar um pagamento. A eles são dadas duas alternativas:
“à vista” ou “a prazo”. Contudo, tendo sido escolhida uma, a outra é excluída
automaticamente. Essa é uma característica própria das conjunções
alternativas, que “relacionam pensamentos que se excluem” (Lima, 2010, p.
235).
A próxima relação de sentido está representada na seguinte formação:

4. A Maria está internada, logo não poderá trabalhar.

O que observamos em (4) é que, dada a condição de Maria, expressa na


primeira oração, concluímos que ela não terá condições de desempenhar seu
trabalho. A conclusão a que chegamos é introduzida na oração pela conjunção
“logo”, classificada como uma conjunção conclusiva. De acordo com Rocha Lima
(2010, p. 236), as conjunções conclusivas “relacionam pensamentos tais, que
o segundo encerra a conclusão do enunciado no primeiro”.
Para encerrar a análise das conjunções coordenativas, acompanhemos a
próxima formação:

5. Dê parabéns à Maria porque hoje é aniversário dela.

Na sentença (5), temos introduzida pela palavra “porque” a explicação


para que seja dado “parabéns à Maria”. Essa é a característica própria das
conjunções explicativas, visto que “relacionam pensamentos em sequência
justificativa, de tal forma que a segunda frase explica a razão de ser da primeira”
(Lima, 2010, p. 236).
Vimos nesta seção as relações de sentido estabelecidas pelas
conjunções coordenativas. No próximo tema, vamos concentrar nossa atenção
nas conjunções subordinativas. A seguir, disponibilizamos a você um quadro
com outros exemplos de conjunções coordenativas.

Aditivas Adversativas Alternativas Conclusivas Explicativas

• e, nem • mas, • ora...ora; • logo, pois, • que, pois,


porém, quer...quer; portanto, porque,
contudo, já...já; enfim, etc. porquanto
entretano, seja...seja
todavia, no
entanto

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TEMA 4 – A CONJUNÇÃO: PARTE II

As conjunções subordinativas estabelecem dez diferentes tipos de


relações semânticas. Nos exemplos a seguir, veremos quais são elas. Mãos à
obra!

1. As crianças choraram porque ficaram com medo do palhaço.

Na sentença (1), sabemos a causa do choro das crianças, não é mesmo?


Repare que “ficar com medo do palhaço” foi o motivo do choro delas. Em (1), a
causa foi introduzida pela palavra “porque”, que, nesse caso, é considerada uma
conjunção causal. Vamos analisar o próximo caso:

2. João organizou a documentação ainda que não tivesse todos os arquivos


em mãos.

Na construção apresentada em (2), entendemos que “não ter em mãos


todos os arquivos”, não impediu que “João” organizasse a documentação. Logo,
para atingir o resultado de ter a documentação organizada, ele fez uma
“concessão” ao fato de não ter todos arquivos. Assim, afirmamos que “ainda que”
é uma conjunção do tipo concessiva.

3. Se fizer sol no final de semana, iremos para a praia.

Na oração (3), é colocada uma condição para que ocorra a ida à praia:
“fazer sol no final de semana”. É introduzida pela conjunção “se”, a qual se
classifica como conjunção condicional.

4. As vítimas do acidente foram indenizadas conforme determinado pelo


juiz.

Em (4), a semântica da construção nos revela que a indenização às


vítimas do acidente ocorreu em conformidade com a determinação do juiz. Essa
relação de sentido é estabelecida pelas conjunções conformativas.
Agora, observe a próxima ocorrência:

5. O Carlos é mais alto do que o Pedro.

Na oração (5), vemos que “Carlos” e “Pedro” estão sendo comparados no


que diz respeito à altura de cada um. Sabemos que Pedro tem menor estatura

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que Carlos. A relação de sentido de comparação é, portanto, estabelecida pelas
conjunções comparativas.

6. O acidente foi muito grave, tanto que não houve sobreviventes.

Em (6), fica evidente a consequência de o acidente ter sido muito grave:


ninguém ter sobrevivido a ele. Repare que essa noção de consequência é
introduzida pela conjunção “tanto que”. Quando as conjunções denotam uma
consequência, são denominadas conjunções consecutivas.

7. Os candidatos estudaram para que fossem aprovados no concurso.

Na sentença (7), vemos que os candidatos estudaram com o objetivo de


serem aprovados no concurso. Tal noção é introduzida pela conjunção “para
que”. Logo, as conjunções que expressam a finalidade de algo são denominadas
conjunções finais.

8. O vinho fica melhor à medida que o tempo passa.

Na construção apresentada em (8), percebemos que a qualidade do vinho


melhora na mesma proporção em que o tempo transcorre. Logo, conjunções
como “à medida que” são chamadas de conjunções proporcionais.

9. Quando o juiz apitou, iniciou-se a partida.

Em (9), sabemos que a partida começou no momento em que o juiz


apitou. Repare que, nesse caso, existe uma ideia de temporalidade sendo
denotada pela conjunção “quando”. Conjunções como “quando” são
denominadas temporais.
Existe um último tipo de conjunção que utilizamos quando o complemento
do verbo da oração principal é outra sentença. Vejamos o exemplo a seguir:

Or. principal

10. a) Os manifestantes disseram que protestariam contra as medidas


adotadas. Compl. do verbo

Em (10), a oração “protestariam contra as medidas adotadas” é


complemento do verbo da oração principal. Entre elas, temos a conjunção “que”,
neste caso, considerada conjunção integrante.
Vimos neste tema a classe das conjunções e, com elas, finalizamos o
estudo das classes de palavras. No próximo tema, iniciaremos o estudo da
estrutura das palavras.

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TEMA 5 – PALAVREANDO

Uma vez finalizada a investigação das classes de palavras, vamos dar


início ao estudo da estrutura das palavras, já que é este o objeto de investigação
da análise morfológica. Nossa postura diante dessa tarefa é muito parecida com
a da criança que, movida por sua curiosidade, quer saber o funcionamento dos
brinquedos e, por isso mesmo, não hesita em desmontá-lo integralmente, para
perceber as peças que o constituem, como funcionam etc. O cientista das
palavras opera da mesma maneira e, possivelmente, com o mesmo
encantamento da criança que monta e desmonta seu objeto de interesse.
Contudo, o primeiro grande desafio daquele que se dedica à Morfologia é definir
o que vem a ser exatamente uma palavra.
Vamos tomar como exemplo o a palavra sonho nos seguintes contextos:

1. a) Maria contou o sonho que teve essa noite para a mãe dela.
b) Maria comeu um sonho ontem.
c) O sonho da Maria é ir para a Disney.

Nas ocorrências apresentadas, estamos diante de uma só palavra com


vários significados ou teríamos uma palavra “sonho” para cada um dos
significados por ela denotados? Kedhi (2003) chama-nos a atenção para essa
problemática que nem entre os lexicógrafos, responsáveis por produzir os
dicionários, encontra um consenso.
Se o critério semântico não é suficiente para a determinação de o que vem
a ser uma palavra, alguém poderia sugerir um critério fonético, sendo assim, “a
palavra seria uma unidade acentual, um conjunto marcado por um só acento
tônico” (Kedhi, 1993, p.10). Aparentemente, esse se mostra um bom ponto de
partida, porém, se considerarmos uma formação composta de elementos átonos
– como uma preposição e um artigo definido – e um tônico, como em: sob a
cadeira. Nesse caso, temos um conjunto marcado com um só acento, contudo,
não podemos afirmar que se trata de uma palavra, não é verdade?
Outra possibilidade seria considerar palavras esses elementos que, na
escrita, vêm separados por espaços em branco, todavia, como aponta
Gonçalves (2019, p. 15), na fala “nem sempre se distingue uma unidade
vocabular de um grupo de palavras”. Para ilustrar essa afirmação, ele traz como
exemplo os termos: cavá-lo/cavalo; amá-la/a mala; a gente/agente etc.

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Vimos neste tema que adentrar o terreno da Morfologia é se deparar com
um objeto altamente complexo, que é a “palavra”, e ao mesmo tempo fascinante.
Nas próximas aulas, vamos nos debruçar sobre a estrutura da palavra,
destancando os morfemas que existem no português e os processos de
formação de palavras. Sugerimos que você revise as discussões realizadas nas
aulas anteriores para darmos sequência ao nosso estudo.

NA PRÁTICA

Considerando o estudo que fizemos sobre as classes de palavras,


suponha que “plongar” seja um novo item lexical. A qual classe de palavra os
termos apresentados pertenceriam? Justifique sua análise com base nos
conhecimentos estudados.
plongar – plongoso – plongadamente – plongueiro – desplongar – plonguinho –
plongo – plongos

FINALIZANDO

Vimos nesta aula o grupo das classes de palavras consideradas


invariáveis e chamamos a atenção para a problemática que envolve a
compreensão de “palavra”. Esperamos que a abordagem realizada tenha
facilitado relembrar alguns conceitos centrais e motivado sua curiosidade para
se aventurar ainda mais no terreno dos estudos morfológicos, os quais serão
aprofundados das próximas aulas. Desejamos a você bons estudos!

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REFERÊNCIAS

BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro:


Lucerna, 2001.

GONÇALVES, C. A. Morfologia. São Paulo: Parábola, 2019.

KEDHI, V. Morfemas do português. 2. ed. São Paulo: Ática, 1993.

LIMA, C. H. R. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 48. ed. Rio de


Janeiro: José Olympio, 2010.

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