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LÍNGUA PORTUGUESA:

CLASSES DE PALAVRAS
AULA 5

Prof. Caio Augusto Lima de Castro


CONVERSA INICIAL

Anteriormente, vimos o quão complexa é a definição de palavra, mesmo


no âmbito da morfologia, que é o módulo gramatical que se destina a investigá-
la mais detidamente. Contudo, isso não impede que análises morfológicas sejam
realizadas. Nesta aula, portanto, voltaremos nossa atenção para a estrutura das
palavras da língua portuguesa e, para tanto, ela está organizada da seguinte
maneira:

 Tema 1 – Morfemas;
 Tema 2 – Estruturas morfológicas: radical e raiz;
 Tema 3 – Estruturas morfológicas: afixos;
 Tema 4 – Estruturas morfológicas: vogal temática e tema;
 Tema 5 – Estruturas morfológicas: desinências.

Desejamos que, ao final da aula, você possa ter uma visão geral dos
elementos que constituem as palavras da língua portuguesa e que tenha uma
introdução aos conceitos básicos e aos princípios de análise da morfologia.

TEMA 1 – MORFEMAS

Para dar início ao estudo dos morfemas da língua portuguesa, vamos


tomar como ponto de partida as ocorrências apresentadas a seguir:

1. a) canta
b) cantava
c) cantávamos

O que se mantém e o que se altera entre (1a), (1b) e (1c)? Para facilitar a
nossa visualização, apresentamos no Quadro 1 uma sugestão de segmentação
para cada um dos itens em (1).

Quadro 1 – Segmentação do verbo cantar 1

canta
canta va
canta va mos

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A princípio, vemos que o segmento canta se mantém nas três ocorrências.
Por sua vez, o segmento va não está presente em (1a) e mos só se encontra em
(1c). À primeira vista, a divisão apresentada está bem estabelecida, mas será
isso verdade? Vamos ver o que ocorre se acrescentarmos mais um elemento ao
paradigma:

2. a) canta
b) canto
c) cantava
d) cantávamos

E agora? Certamente, a inserção de (2b) nos leva a uma pequena


alteração na proposta de segmentação do primeiro quadro.

Quadro 2 – Segmentação do verbo cantar 2

cant (a) a
cant (a) o
cant a va
cant a va mos

Com toda a certeza, a cada elemento segmentado, você é capaz de inferir


um significado, não é verdade? Vamos tentar explicitar esses significados?
Comecemos comparando (2c) e (2d). Confrontando cantava e cantávamos,
sabemos que (2d) indica uma ação desempenhada por mais de uma pessoa,
incluindo aquele que enuncia. O segmento mos é o termo que nos indica isso.
Por sua vez, comparando (2a) e (2c), vemos que cantava é uma ação
ocorrida no passado e ela, de certa forma, se prolonga1. O segmento que nos
permite chegar a essa conclusão é va.
Já o segmento cant, presente em todo o paradigma, denota a ação de se
expressar por meio do som musical produzido pela voz humana. E o segmento
a2? Este indica que o verbo cantar pertence à primeira conjugação. Da
comparação entre (2a) e (2b), concluímos que o segmento o indica que a ação

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Note a diferença entre cantava e cantou. Aqui, temos envolvida uma noção de aspecto, conceito
semântico sobre o qual não trataremos nessa discussão.
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Na tabela, o fenômeno fonológico de apagamento da vogal temática em canta e canto está
indicado por (a).
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de cantar foi realizada pela primeira pessoa, no modo indicativo; e o segmento
a, que a ação foi realizada pela terceira pessoa, também no modo indicativo.
Neste momento, é possível que você esteja se questionando sobre o que
esse exercício tem a ver com morfologia e o que nos ajuda a entender sobre os
morfemas. Então, vamos lá! De acordo com Gonçalves (2019), a morfologia se
ocupa do estudo da palavra considerando sua estrutura e formação. Ao
estabelecermos a segmentação das palavras de (1a-c) e (2a-d), nos deparamos
com os “elementos mínimos significativos” das palavras, ou seja, os morfemas.
Estes, por sua vez, correspondem à unidade básica de análise da morfologia.
Outra noção relacionada aos morfemas é o conceito de morfe. Assim, se
definimos um morfema considerando a semântica, isto é, o significado, a
definição de morfe está relacionada à representação fonética de determinado
morfema. Como afirma Gonçalves (2019, p. 28), “por serem entidades abstratas,
morfemas se concretizam por meio de morfes, aqui entendidos como sua
representação fonética; constituem a maneira como os morfemas são
pronunciados, sua concretização efetiva na língua através da fala”.

TEMA 2 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS: RADICAL E RAIZ

Nosso ponto de partida para o estudo das estruturas morfológicas serão


as ocorrências apresentadas a seguir:

1. a) mar
b) s

Tanto (1a) quanto (1b) são morfemas do português. Mas seriam eles da
mesma natureza? Repare que mar é uma palavra que denota alguma entidade
no mundo. Algo como representado na Figura 1.

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Figura 1 – Mar

Fonte: Songchai W/Shutterstock.

Já o morfema s refere-se a algo no mundo tal qual mar? Evidentemente


que isso não é verdade. A designação do morfema s diz respeito a algo
exclusivamente gramatical, ou seja, remete-nos à ideia de plural. Isso nos
mostra, portanto, que, embora (1a) e (1b) sejam morfemas, eles não pertencem
ao mesmo conjunto. Logo, dentro dos estudos morfológicos, dizemos que (1a)
integra o grupo dos chamados morfemas lexicais e (1b) o dos morfemas
gramaticais. Nas palavras de Gonçalves (2019, p. 41), os morfemas lexicais
“veiculam conteúdo que diz respeito ao universo biossocial”, por sua vez, os
morfemas gramaticais “dizem respeito a significados que especializam as
noções veiculadas pelos lexicais”.
Isso posto, vamos considerar o seguinte par de palavras.

pedra - pedraria

Se fôssemos “desmontar” as palavras apresentadas, considerando o que


entre elas há em comum em suas partes, alguém poderia sugerir o seguinte
arranjo:

2. a) pedra
b) pedra-ria

Como vemos, encontraríamos o termo pedra como o elemento comum


entre as duas ocorrências. Motivo por esse paradigma, poderíamos pensar que
pedra é um morfema, isto é, “elemento mínimo significativo de uma palavra”,

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conforme vimos anteriormente. Contudo, essa hipótese é verdadeira? Para
respondermos à pergunta colocada, vamos introduzir ao paradigma outro
elemento, conforme apresentado a seguir.

pedra - pedraria - pedreiro

Segmentando as palavras, buscando encontrar aquele elemento que lhes


é comum, encontramos, agora, o seguinte arranjo:

3. a) pedr-a
b) pedr-a-ria
c) pedr-eiro

Portanto, é o morfema pedr o elemento comum às palavras apresentadas.


Atente ao fato de que é ele o “elemento originário e irredutível que concentra a
significação dos vocábulos formais” (Gonçalves, 2019, p. 42). Logo, afirmamos
que pedr é um radical, visto que radical, em morfologia, “é a palavra despojada
de todas as suas marcas flexionais e derivacionais” (Gonçalves, 2019, p. 42).
Neste momento, cabe voltarmos nossa atenção para um conceito que
está associado ao de radical, porém não são sinônimos absolutos, podendo
causar uma certa confusão para aquele que inicia os estudos na área da
morfologia. Trata-se do conceito de raiz. A confusão se justifica pelo fato da raiz
também se remeter ao elemento irredutível que porta a significação das palavras
que constituem uma família linguística, todavia, a partir de um viés diacrônico.
Para ilustrar tal afirmação, Kedhi (1993) traz como exemplo os itens
associados à palavra comer. Repare o paradigma:

comedouro - comida - comilona - comilança

Ao segmentarmos as palavras do conjunto apresentado em busca do


elemento irredutível significativo, sincronicamente temos o seguinte arranjo:

4. a) com-e-douro
b) com-i-da
c) com-i-lona
d) com-i-lança

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Assim, com corresponde ao radical. Todavia, sob uma perspectiva
diacrônica, o resultado a que chegamos não é esse. Etimologicamente, a palavra
comer deriva do verbo latino edere, o que nos leva à raiz ed, algo bem diferente
de com, não é verdade?
Vimos até este ponto as noções de radical e raiz, estando o primeiro
associada a uma perspectiva sincrônica e o segundo, a um viés diacrônico.
Tratamos também da subdivisão dos morfemas em morfemas lexicais e
morfemas gramaticais. No próximo tema, discutiremos sobre os afixos.

TEMA 3 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS: AFIXOS

Para iniciar nosso estudo sobre os afixos, vamos observar com atenção
as palavras apresentadas a seguir:

1. a) sorveteiro
b) crueldade
c) lentamente
d) saboroso

Sob o ponto de vista morfológico, certamente você é capaz de observar


que a um determinado radical, presente em cada uma das ocorrências, foi
acrescentado um morfema. Quais foram esses morfemas? Antes de prosseguir
a leitura, anote em algum lugar sua resposta e, em seguida, confira se acertou.
Vamos lá!
Se você anotou sua resposta em algum lugar, acreditamos que tenha
respondido algo como: eiro; dade; mente; oso. Muito bem! Agora, vamos à outra
questão: o que esses morfemas têm em comum?
Caso você esteja buscando encontrar alguma propriedade semântica
partilhada entre os referidos morfemas, será difícil chegar a um denominador
comum, visto que cada qual traz consigo um significado particular. Repare que
eiro, em (1a), refere-se a uma profissão; dade, em (1b), designa uma qualidade
ou estado, formando um substantivo abstrato; em (1c), mente indica o modo
como a ação foi realizada; e, finalmente, em (1d), oso remete à abundância.
Descartando-se, pois, um critério semântico, o que encontramos em comum
entre esses morfemas?
Perceba que todos os morfemas apresentados em (1a-d) aparecem após
o radical, não é verdade? Pois bem, essa é uma propriedade que caracteriza os

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chamados sufixos. Assim, parafraseando Kedhi (1993), sufixo é o afixo que vem
posposto ao radical.
Agora, consideremos o próximo conjunto de palavras:

2. a) desleal
b) bicampeão
c) recomeçar
d) coordenar

Também aqui, nas ocorrências em (2a-d), verificamos que a um radical


foi acrescentado um morfema. Quais foram eles? Se você pensou como resposta
os morfemas: des, bi, re e co, você acertou! E o que eles apresentam em
comum? Alguém poderia insistir que a semântica possa ser um bom critério para
encontrarmos uma resposta à questão. No entanto, perceba que des, presente
em (2a), denota oposição; bi, em (2b), indica duplicidade; re, em (3c), remete-
nos à noção de repetição; e, por fim, co, em (2d), significa companhia,
simultaneidade. Sendo assim, a semântica, mais uma vez, não é o melhor
caminho para respondermos à pergunta colocada.
Porém, analisando a posição desses morfemas nas formações em (2a-d),
verificamos que todos aparecem antes dos radicais. Pois bem, essa é uma
particularidade partilhada entre os chamados prefixos. Assim, mais uma vez
parafraseando Kedhi (1993), os prefixos correspondem aos morfemas que
antecedem os radicais.
Isso posto, podemos, então, afirmar que afixos são “os morfemas que se
anexam ao radical para mudar-lhe o sentido (por exemplo, fazer/des-fazer) ou
acrescentar-lhe uma ideia secundária (livro/livr-eco)” (Kedhi, 1993, p. 27).
Além da posição que ocupam na estrutura das palavras, sufixos e prefixos
se diferenciam por outras questões. A primeira delas pode ser verificada nas
ocorrências a seguir:

3. a) começar/recomeçar
b) leal/desleal
c) feliz/felizmente
d) ágil/agilizar

Começamos nossa análise considerando as formações (3a) e (3b), pois é


nelas que se encontram os prefixos re e des. Sob o ponto de vista das classes
de palavras, a que classe pertencem os termos nelas presentes? Como vemos,

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em (3a) nos encontramos diante de dois verbos. Por sua vez, em (3b), estamos
diante de dois adjetivos. Será que o mesmo é verificado em (3c) e (3d)?
Primeiramente, atentemo-nos para o fato de que essas construções
apresentam os sufixos mente e izar. Agora, considerando a perspectiva das
classes de palavras, qual é a classe dos termos nelas apresentados? Note que
em (3c), encontramos um adjetivo (feliz) e um advérbio (felizmente); por sua vez,
em (3d), temos um adjetivo (ágil) e um verbo (agilizar). Dessa observação,
concluímos, pois, que a inserção de prefixos não provoca mudança de classe de
palavra, contudo, a inserção de sufixos sim. Assim, mudança de classe se
constitui em uma das diferenças entre prefixo e sufixo.
Continuando nosso estudo, observemos as próximas ocorrências
apresentadas:

4. a) natação
b) chatice
c) papelaria
d) abatimento
e) planetário
f) consultório

Se somos falantes nativos do português brasileiro, não temos dificuldades


em determinar o gênero das palavras apresentadas em (4a-f), não é mesmo?
Vejamos que em (4a-c), os sufixos ção; ice e ria especificam palavras do gênero
feminino. Já em (4d-f), os sufixos mento; ário e tório especificam palavras do
gênero masculino. Essa propriedade não é verificada entre os prefixos. Como
afirma Gonçalves (2019, p. 53), “por sua posição à esquerda, prefixos jamais
respondem por esse tipo de informação”. Portanto, a especificação de gênero é
outra diferença existente entre prefixos e sufixos.
A última diferença que iremos destacar entre os referidos afixos pode ser
observada nas próximas ocorrências:

5. a) megapromoção
b) recomeçar
c) contrapiso
d) francês
e) furadeira
f) frentista

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Sob uma perspectiva sintático-semântica, percebemos que em (5a), o
prefixo mega equivale a um adjetivo, pois não se trata de qualquer promoção,
mas uma bastante grande. Em (5b), o prefixo re equivale a um advérbio, visto
que recomeçar é dar início a algo novamente. Em (5c), o prefixo contra é
equivalente a uma preposição, indicando, pois, uma posição.
Por sua vez, o sufixo ês, em (5d), denota uma nacionalidade, visto que
francês é aquele que nasceu na França. Em (5e), o sufixo exprime um
instrumento e em (5f), uma profissão. Assim sendo, conforme afirma Gonçalves
(2019, p. 57), “sufixos equivalem, em termos semânticos, a substantivos”.
Além dos sufixos e dos prefixos, existem outros afixos, tais como infixos,
circunfixos e transfixos, contudo, não os abordaremos aqui, visto que nosso
interesse se assenta sobre os morfemas do português brasileiro.
Vimos nesta seção os sufixos e os prefixos e as diferenças entre cada um
deles. Ambos fazem parte dos processos de formação de novas palavras, como
veremos na Aula 6. Avancemos nosso estudo para o próximo tema!

TEMA 4 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS: VOGAL TEMÁTICA E TEMA

Para tratarmos do conceito de vogal temática, tomemos como ponto de


partida a nuvem de palavras a seguir apresentada:

Figura 2 – Nuvem de palavras 1

Nosso desafio é propor uma organização das palavras em subconjuntos,


de acordo com alguma propriedade morfológica partilhada entre elas. Uma
hipótese inicial poderia ser considerar a classe a que elas pertencem, contudo,
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imediatamente esse princípio deve ser descartado, visto que todas integram a
classe dos substantivos.
Uma observação atenta do conjunto apresentado, porém, poderia nos
levar a considerar a terminação dessas palavras. Seguindo esse princípio, o
resultado seria algo como o apresentado no Quadro 3.

Quadro 3 – Segmentação das palavras conforme terminação

-a -e -o
casa ponte bolo
mapa poste ferro
rosa pente copo
cinema balde libido

Essa organização estabelecida levou em consideração o que, na


morfologia, denominamos vogal temática. De acordo com Kedhi (1993, p. 34),
“as vogais temáticas acrescentam-se, normalmente, ao radical para constituir
uma base, à qual são anexadas as desinências”. As vogais temáticas aqui
apresentadas — a, e e o — são chamadas de vogais temáticas nominais. A vogal
temática o apresenta uma variante u em formações como conceitual e ritual.
Em geral, quando os substantivos terminam em consoante, como ocorre
em mar, podem ser considerados atemáticos ou não, ou seja, isentos de vogal
temática. Já aqueles que terminam em vogal que é tônica são considerados
atemáticos; é o caso de chalé e café.
Consideremos, neste instante, outro conjunto de palavras:

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Figura 3 – Nuvem de palavras 2

Como no paradigma anterior, nosso desafio é organizar as palavras


apresentadas considerando alguma propriedade morfológica partilhada entre
elas. Visto que todas pertencem à classe dos verbos, o critério classe de
palavras deve ser descartado. Assim sendo, que tal seguirmos conforme o
raciocínio desenvolvido anteriormente? Atentos à terminação dos verbos,
poderíamos organizá-los conforme posto Quadro 4.

Quadro 4 – Segmentação das palavras conforme terminação

-ar -er -ir


cantar vender partir
falar perder sair
pensar esconder servir
pedalar merecer pedir
arrumar abastecer corrigir

Mais uma vez, essa organização levou em conta a vogal temática de cada
verbo. Logo, a, e e i são denominadas vogais temáticas verbais. Os verbos
terminados em ar correspondem à primeira conjugação; os terminados em er, à
segunda e os terminados em ir, à terceira. Como ocorre nas vogais temáticas
nominais, as vogais temáticas verbais também apresentam variantes, conforme
nos explica Kedhi (1993, p. 36). São elas: e e o, variantes da primeira
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conjugação, tal qual verificamos em cantei — verbo na primeira pessoa do
singular no passado perfeito do modo indicativo — e em cantou, verbo na terceira
pessoa do singular no passado perfeito do modo indicativo. Outra variante,
correspondente à segunda conjugação, é a vogal i, a qual aparece em perdia,
passado imperfeito do indicativo; em perdi, primeira pessoa do singular no
passado perfeito do indicativo; e em perdido, particípio passado.
Para finalizarmos a discussão realizada nesta seção, cabe explicitarmos
o conceito de tema. Para tanto, vamos considerar os seguintes radicais:

1. a) cant
b) vend
c) part
d) ros
e) pent

Ao associarmos a eles suas vogais temáticas, temos como resultado algo


como: canta, vende, parti, rosa e pente. Ao produto a que chegamos, damos o
nome de tema. Assim, em morfologia, definimos tema como aquilo que obtemos
da união entre o radical e a vogal temática. Rocha Lima (2010, p. 247) afirma
que “ao tema assim constituído agregam-se-lhe desinências e sufixos, para
assinalar as flexões da palavra ou para a formação de termos derivados”. A
formação de derivados será vista na nossa última aula, por sua vez, as
desinências começarão a ser discutidas no próximo tema.
Vimos até aqui os conceitos de vogal temática e de tema. As vogais
temáticas se dividem em nominais e verbais e podem apresentar algumas
variantes, conforme estudamos. Passemos para último tema de nossa aula.

TEMA 5 – ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS: DESINÊNCIAS

O estudo das desinências leva-nos a um tópico que discutimos quando


analisamos as classes de palavras. Naquela ocasião, dissemos que as palavras
se dividem entre aquelas que pertencem ao conjunto das que são variáveis e as
que integram o grupo das invariáveis. As primeiras alteram sua forma para
estabelecer as diferentes concordâncias, como a de gênero, no caso dos nomes,
e a de pessoa, no dos verbos. Por sua vez, as que são invariáveis não têm sua
morfologia modificada.

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Dentro dessa perspectiva, vamos considerar as ocorrências apresentadas
a seguir:

1. a) menino
b) menina
c) gato
d) gata

Perceba que (1a) e (1c) apresentam palavras de gênero masculino e (1b)


e (1d) apresentam palavras de gênero feminino. Por motivos que não temos a
intenção de explicitar neste momento, dados os objetivos de nossa abordagem,
temos que a corresponde ao morfema que, em português brasileiro, designa o
gênero feminino. Por sua vez, é o chamado morfema zero3 que denota o gênero
masculino na língua portuguesa.
Agora, voltemos nossa atenção aos próximos exemplos:

2. a) casa
b) casas
c) bonito
d) bonitos

Podemos reparar que (2b) e (2c) trazem palavras que se encontram no


plural, o qual é marcado pelo morfema s. Assim sendo, temos que tanto a quanto
s correspondem a morfemas indicadores da alteração (portanto, da flexão) dos
substantivos e adjetivos (os chamados nomes). As informações que expressam
são estritamente gramaticais. A esses morfemas, damos o nome de desinências.
Nos casos apresentados desinência de gênero e desinência de número,
como afirma Lima (2010), são elas desinências típicas dos nomes.
Também é verdade que, assim como os nomes, os verbos se flexionam,
apresentando um conjunto de desinências. Entretanto, elas serão abordadas na
Aula 6.
Vimos aqui o conceito de desinência, que nada mais é do que o termo que
utilizamos para designar “os morfemas terminais das palavras variáveis” (Kedhi,
1993, p. 28). Apresentamos mais especificamente as desinências que são
próprias dos nomes, que são indicadoras de gênero e de número.

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Falaremos sobre esse morfema mais especificamente na Aula 6.
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NA PRÁTICA

Nesta aula, falamos de vários conceitos da morfologia. Agora, queremos


que você considere a seguinte família de palavras:

campestre - camponês - campo - campesino

Determine para esse grupo de palavras:

a) seu radical; sua raiz (aqui será preciso uma consulta à etimologia da
palavra);
b) a vogal temática;
c) os sufixos presentes.

Discuta com seus colegas se vocês chegaram às mesmas respostas.

FINALIZANDO

Vimos nesta aula alguns conceitos básicos da área da morfologia. Assim,


tratamos de definir os conceitos de morfema, morfe, radical, raiz, afixos, “prefixo”,
sufixo, vogal temática, tema e desinência. Como podemos notar, isso não é
pouca coisa. Por isso, caso esqueça algum deles, não se desespere. Nossa
intenção é, pouco a pouco, ir familiarizando você ao universo fascinante da
pesquisa morfológica. Volte quantas vezes forem necessárias a esta aula e,
lembre-se: estudar, discutir, tirar dúvidas, pesquisar é a melhor forma de
aprender. Bons estudos!

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REFERÊNCIAS

BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro:


Lucerna, 2001.

GONÇALVES, C. A. Morfologia. São Paulo: Parábola, 2019.

KEDHI, V. Morfemas do português. 2. ed. São Paulo: Ática, 1993.

LIMA, C. H. R. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 48. ed. Rio de


Janeiro: José Olympio, 2010.

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