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CLASSES DE PALAVRAS
AULA 5
Tema 1 – Morfemas;
Tema 2 – Estruturas morfológicas: radical e raiz;
Tema 3 – Estruturas morfológicas: afixos;
Tema 4 – Estruturas morfológicas: vogal temática e tema;
Tema 5 – Estruturas morfológicas: desinências.
Desejamos que, ao final da aula, você possa ter uma visão geral dos
elementos que constituem as palavras da língua portuguesa e que tenha uma
introdução aos conceitos básicos e aos princípios de análise da morfologia.
TEMA 1 – MORFEMAS
1. a) canta
b) cantava
c) cantávamos
O que se mantém e o que se altera entre (1a), (1b) e (1c)? Para facilitar a
nossa visualização, apresentamos no Quadro 1 uma sugestão de segmentação
para cada um dos itens em (1).
canta
canta va
canta va mos
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A princípio, vemos que o segmento canta se mantém nas três ocorrências.
Por sua vez, o segmento va não está presente em (1a) e mos só se encontra em
(1c). À primeira vista, a divisão apresentada está bem estabelecida, mas será
isso verdade? Vamos ver o que ocorre se acrescentarmos mais um elemento ao
paradigma:
2. a) canta
b) canto
c) cantava
d) cantávamos
cant (a) a
cant (a) o
cant a va
cant a va mos
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Note a diferença entre cantava e cantou. Aqui, temos envolvida uma noção de aspecto, conceito
semântico sobre o qual não trataremos nessa discussão.
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Na tabela, o fenômeno fonológico de apagamento da vogal temática em canta e canto está
indicado por (a).
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de cantar foi realizada pela primeira pessoa, no modo indicativo; e o segmento
a, que a ação foi realizada pela terceira pessoa, também no modo indicativo.
Neste momento, é possível que você esteja se questionando sobre o que
esse exercício tem a ver com morfologia e o que nos ajuda a entender sobre os
morfemas. Então, vamos lá! De acordo com Gonçalves (2019), a morfologia se
ocupa do estudo da palavra considerando sua estrutura e formação. Ao
estabelecermos a segmentação das palavras de (1a-c) e (2a-d), nos deparamos
com os “elementos mínimos significativos” das palavras, ou seja, os morfemas.
Estes, por sua vez, correspondem à unidade básica de análise da morfologia.
Outra noção relacionada aos morfemas é o conceito de morfe. Assim, se
definimos um morfema considerando a semântica, isto é, o significado, a
definição de morfe está relacionada à representação fonética de determinado
morfema. Como afirma Gonçalves (2019, p. 28), “por serem entidades abstratas,
morfemas se concretizam por meio de morfes, aqui entendidos como sua
representação fonética; constituem a maneira como os morfemas são
pronunciados, sua concretização efetiva na língua através da fala”.
1. a) mar
b) s
Tanto (1a) quanto (1b) são morfemas do português. Mas seriam eles da
mesma natureza? Repare que mar é uma palavra que denota alguma entidade
no mundo. Algo como representado na Figura 1.
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Figura 1 – Mar
pedra - pedraria
2. a) pedra
b) pedra-ria
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conforme vimos anteriormente. Contudo, essa hipótese é verdadeira? Para
respondermos à pergunta colocada, vamos introduzir ao paradigma outro
elemento, conforme apresentado a seguir.
3. a) pedr-a
b) pedr-a-ria
c) pedr-eiro
4. a) com-e-douro
b) com-i-da
c) com-i-lona
d) com-i-lança
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Assim, com corresponde ao radical. Todavia, sob uma perspectiva
diacrônica, o resultado a que chegamos não é esse. Etimologicamente, a palavra
comer deriva do verbo latino edere, o que nos leva à raiz ed, algo bem diferente
de com, não é verdade?
Vimos até este ponto as noções de radical e raiz, estando o primeiro
associada a uma perspectiva sincrônica e o segundo, a um viés diacrônico.
Tratamos também da subdivisão dos morfemas em morfemas lexicais e
morfemas gramaticais. No próximo tema, discutiremos sobre os afixos.
Para iniciar nosso estudo sobre os afixos, vamos observar com atenção
as palavras apresentadas a seguir:
1. a) sorveteiro
b) crueldade
c) lentamente
d) saboroso
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chamados sufixos. Assim, parafraseando Kedhi (1993), sufixo é o afixo que vem
posposto ao radical.
Agora, consideremos o próximo conjunto de palavras:
2. a) desleal
b) bicampeão
c) recomeçar
d) coordenar
3. a) começar/recomeçar
b) leal/desleal
c) feliz/felizmente
d) ágil/agilizar
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em (3a) nos encontramos diante de dois verbos. Por sua vez, em (3b), estamos
diante de dois adjetivos. Será que o mesmo é verificado em (3c) e (3d)?
Primeiramente, atentemo-nos para o fato de que essas construções
apresentam os sufixos mente e izar. Agora, considerando a perspectiva das
classes de palavras, qual é a classe dos termos nelas apresentados? Note que
em (3c), encontramos um adjetivo (feliz) e um advérbio (felizmente); por sua vez,
em (3d), temos um adjetivo (ágil) e um verbo (agilizar). Dessa observação,
concluímos, pois, que a inserção de prefixos não provoca mudança de classe de
palavra, contudo, a inserção de sufixos sim. Assim, mudança de classe se
constitui em uma das diferenças entre prefixo e sufixo.
Continuando nosso estudo, observemos as próximas ocorrências
apresentadas:
4. a) natação
b) chatice
c) papelaria
d) abatimento
e) planetário
f) consultório
5. a) megapromoção
b) recomeçar
c) contrapiso
d) francês
e) furadeira
f) frentista
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Sob uma perspectiva sintático-semântica, percebemos que em (5a), o
prefixo mega equivale a um adjetivo, pois não se trata de qualquer promoção,
mas uma bastante grande. Em (5b), o prefixo re equivale a um advérbio, visto
que recomeçar é dar início a algo novamente. Em (5c), o prefixo contra é
equivalente a uma preposição, indicando, pois, uma posição.
Por sua vez, o sufixo ês, em (5d), denota uma nacionalidade, visto que
francês é aquele que nasceu na França. Em (5e), o sufixo exprime um
instrumento e em (5f), uma profissão. Assim sendo, conforme afirma Gonçalves
(2019, p. 57), “sufixos equivalem, em termos semânticos, a substantivos”.
Além dos sufixos e dos prefixos, existem outros afixos, tais como infixos,
circunfixos e transfixos, contudo, não os abordaremos aqui, visto que nosso
interesse se assenta sobre os morfemas do português brasileiro.
Vimos nesta seção os sufixos e os prefixos e as diferenças entre cada um
deles. Ambos fazem parte dos processos de formação de novas palavras, como
veremos na Aula 6. Avancemos nosso estudo para o próximo tema!
-a -e -o
casa ponte bolo
mapa poste ferro
rosa pente copo
cinema balde libido
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Figura 3 – Nuvem de palavras 2
Mais uma vez, essa organização levou em conta a vogal temática de cada
verbo. Logo, a, e e i são denominadas vogais temáticas verbais. Os verbos
terminados em ar correspondem à primeira conjugação; os terminados em er, à
segunda e os terminados em ir, à terceira. Como ocorre nas vogais temáticas
nominais, as vogais temáticas verbais também apresentam variantes, conforme
nos explica Kedhi (1993, p. 36). São elas: e e o, variantes da primeira
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conjugação, tal qual verificamos em cantei — verbo na primeira pessoa do
singular no passado perfeito do modo indicativo — e em cantou, verbo na terceira
pessoa do singular no passado perfeito do modo indicativo. Outra variante,
correspondente à segunda conjugação, é a vogal i, a qual aparece em perdia,
passado imperfeito do indicativo; em perdi, primeira pessoa do singular no
passado perfeito do indicativo; e em perdido, particípio passado.
Para finalizarmos a discussão realizada nesta seção, cabe explicitarmos
o conceito de tema. Para tanto, vamos considerar os seguintes radicais:
1. a) cant
b) vend
c) part
d) ros
e) pent
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Dentro dessa perspectiva, vamos considerar as ocorrências apresentadas
a seguir:
1. a) menino
b) menina
c) gato
d) gata
2. a) casa
b) casas
c) bonito
d) bonitos
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Falaremos sobre esse morfema mais especificamente na Aula 6.
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NA PRÁTICA
a) seu radical; sua raiz (aqui será preciso uma consulta à etimologia da
palavra);
b) a vogal temática;
c) os sufixos presentes.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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