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DESENHO DE OBSERVAÇÃO

AULA 4

Prof. Péricles Varella Gomes


CONVERSA INICIAL

A capacidade de representar objetos e cenas tridimensionais numa folha


de papel parece magia para muitos. Ao dominar a técnica da perspectiva, você
poderá fazer desenhos muito realistas e rápidos que podem comunicar de forma
significativa aquilo que enxerga e também suas novas ideias.
Antes de iniciarmos o estudo da perspectiva, observe a fotografia a seguir
e perceba como ela transmite uma ilusão de profundidade e de realismo.

Figura 1 – Exemplo de profundidade

Fonte: Acervo do autor.

Nesta imagem, os elementos que se repetem (postes e faixas no meio)


estão posicionados de tal forma que você consegue ser o motorista da cena. O
ponto de observação, portanto, é um aspecto fundamental no desenho em
perspectiva; é o mesmo que tirar uma foto da cabina de um carro, olhando para
a estrada em direção ao infinito.
Nesta aula, vamos apresentar a teoria e a prática do desenho em
perspectiva, entendendo linha do horizonte, pontos de fuga e como distintos
pontos de observação geram diferentes pontos de fuga, criando uma sensação

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de profundidade em desenhos. Vamos também estudar as diferenças entre os
tipos de perspectiva disponíveis ao desenhista.

CONTEXTUALIZANDO

Com certeza você já ouviu falar de objetividade e subjetividade na vida. O


mesmo ocorre quando falamos de perspectiva. Essencialmente, podemos
desenhar uma cadeira, por exemplo, usando métodos precisos, até recorrendo
a uma régua para marcar as medidas em escala. Esse desenho é totalmente
objetivo, na medida em que serve como projeto para quem quiser construir a
cadeira.
Uma segunda forma de representar a cadeira é desenhá-la como o olho
humano a enxerga. Nosso olho percebe o mundo em três dimensões, como se
fosse uma câmera fotográfica, e assim deforma a imagem, fazendo com que
coisas idênticas pareçam menores à medida que se afastam do ponto de
observação. Os postes da estrada da Figura 1 provam isso: quanto mais longe
estão, menores eles aparecem.
As figuras 2 e 3, a seguir, comparam os dois tipos de perspectiva. Confira
e acompanhe os comentários na sequência.

Figura 2 – Cadeira geométrica – objetivo (em escala)

Crédito: Attaphong / Shutterstock.

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Figura 3 – Cadeira artística – subjetivo (olhar humano)

Fonte: Les Perysty / Shutterstock.

Veja como a cadeira da Figura 2 tem objetividade, mantendo o paralelismo


entre os elementos que a compõem. Já a da Figura 3 revela um caráter mais
artístico e, portanto, mais subjetivo.
A cadeira geométrica usa a perspectiva axonométrica (ou cavaleira), já a
cadeira artística possui uma perspectiva cônica (com pontos de fuga e linha do
horizonte). Vamos estudar nesta aula essa modalidade de desenhar, ou seja,
desenhar aquilo que de fato enxergamos a olho nu.
Você percebe algumas diferenças, talvez sutis, entre os dois tipos de
perspectiva. O desenho expresso pela Figura 2 (feito sem pontos de fuga e linha
do horizonte) possui um caráter técnico e pode ser usado para medir os
tamanhos no próprio desenho; no entanto, não enxergamos a cadeira dessa
forma. O desenho da Figura 3, feito sem régua, representa a forma como de fato
vemos tal objeto.
Tente perceber as diferenças entre as duas maneiras de representação.
Para facilitar esse exercício, vamos analisar duas imagens diferentes de um
mesmo projeto, usando as formas de perspectiva mencionadas.
Você percebe na Figura 4 que todas as linhas apresentam paralelismo em
três direções distintas; não existe nenhuma deformação, mesmo nas linhas
verticais. Isso é bastante utilizado em jogos digitais, tais como os Sims, ou para
representar móveis e casas.

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Figura 4 – Perspectiva axonométrica e paramétrica

Trata-se de um modo interessante de representar espaços e objetos, e


pode ser feito com esquadros ou também à mão livre. Mas não vamos usar essa
técnica em nossa aula.
Já na Figura 5 você consegue perceber como as deformações agora
aparecem nesse tipo de perspectiva? As arestas que estão mais longe ficam
menores, portanto as linhas parecem convergir para algum lugar.

Figura 5 – Perspectiva cônica (com pontos de fuga)

Esses pontos no infinito (na maioria das vezes, na linha do horizonte)


são os pontos de fuga.

TEMA 1 – TEORIA E PRÁTICA DA PERSPECTIVA

Você provavelmente já visitou museus ou já teve algum contato com


desenhos incríveis de paisagens urbanas, automóveis e mobiliários que
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parecem reais, ainda que sejam feitos à mão livre. Quando um desenho possui
qualidade de croquis, o desenhista usou a técnica da perspectiva cônica, com
pontos de fuga e linha do horizonte (Figura 6). Esta será nossa principal atividade
nesta aula: saber desenhar de forma rápida, usando de forma intuitiva o nosso
olho, tentando se concentrar ao máximo na cena que se apresenta.

Figura 6 – Croquis de paisagem com dois pontos de fuga

Você deverá criar desenhos que representam de forma eficaz e elegante


a cena em questão. A teoria e a prática do desenho em perspectiva não são
difíceis, e, com um mínimo de esforço, qualquer pessoa pode desenhar bem,
desde que use dois princípios do desenho de observação: linha do horizonte e
ponto de fuga.
Agora vamos marcar a linha do horizonte e o ponto e fuga numa imagem
– a Figura 7 será útil para fazermos esse exercício. Note que a fotografia foi feita
quase no topo do hotel em Las Vegas. Perceba que a linha do horizonte
(marcada em amarelo) está bem aparente.
Observe também que a imagem tem apenas um ponto de fuga. As linhas
em vermelho convergem para o ponto de fuga, que está situado na linha do
horizonte (LH).

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Figura 7 – Linha do horizonte, em amarelo, e um ponto de fuga, em vermelho
(linhas convergem para o horizonte)

Fonte: Acervo do autor.

Pronto! Com esses dois princípios, fica fácil desenhar bem a cena em
questão. Vamos, então, explicar cada um deles separadamente.

TEMA 2 – LINHA DO HORIZONTE

A linha do horizonte é muito fácil de ver e de fotografar. Veja na Figura 8


uma vista panorâmica da cidade de São Paulo que, observada do alto, tem um
caráter de imensidão. E a linha do horizonte está presente, ao longe, definindo
basicamente o fim da terra e o inicio do céu. Quanto maior for a altura de quem
vê, mais terra ele avista. Perceba na foto que a linha do horizonte é meio irregular
– pois há montanhas no horizonte –, mas mesmo assim ela está lá.
A partir de agora, você terá que marcar essa linha quando for desenhar
qualquer coisa: uma cidade, uma praia, uma cadeira ou uma casa. Mas por quê?
Por razões simples: ela define o enquadramento do desenho no papel,
estabelece um ponto de partida para o croqui e facilita a vida no sentido de
depois fazermos os pontos de fuga e tudo o mais que irá compor o desenho. De
agora em diante, linha do horizonte em primeiro lugar!

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Figura 8 – Linha do horizonte e o Edifício Itália, em São Paulo

Fonte: Acervo do autor.

Quando viajamos, gostamos muito de fotografar as paisagens que


visitamos. Nessas fotos, a linha do horizonte sempre está presente, mesmo que
não demos conta dela. Ao irmos à praia, ela também está lá: fica onde o céu se
encontra com o mar (Figura 9). A mais fácil definição de linha do horizonte,
portanto, é:
LH: onde o céu encontra a terra (ou o mar).
A linha do horizonte está presente em tudo. Quando olhamos da janela de
um avião, pode até parecer uma linha curva (depende da altitude); já quando
estamos numa cena urbana, ela fica meio enrustida. Mas lembre-se da definição
oficial da LH: é sempre a altura do olho do observador.

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Figura 9 – Horizonte é sempre a altura do olho do observador

Fonte: Acervo do autor.

Vejamos o último exemplo de linha do horizonte para reforçar o


entendimento. Na Figura 10, temos uma típica cena de rua, em que a linha do
horizonte está bem escondida, daí a importância de a definição estar bem
memorizada na mente do artista para não se perder no início do processo de
estruturação da cena.

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Figura 10 – Cena urbana

Fonte: Acervo do autor.

TEMA 3 – PONTOS DE FUGA

Agora, vamos aprender a usar os pontos de fuga, que são muito


importantes para estruturar os croquis. Eles podem ser definidos como: linhas
paralelas no mundo real convergem para pontos de fugas.
O conceito pode parecer complicado, mas na prática e de forma intuitiva
você já sabe disso. Numa rua com árvores e postes iguais, à medida que estes
se afastam de você, parecem ficar menores, ainda que sejam do mesmo
tamanho. Portanto, a impressão é a de que estão “fugindo de você”,
metaforicamente falando. Esse efeito acontece sempre que em um desenho
elementos iguais se repetem na cena: janelas iguais em um prédio, cadeiras
iguais em uma sala de aula, e assim por diante.
Vamos ilustrar esse conceito com um exemplo bem eloquente. A Figura
11 apresenta elementos iguais, mas que, fotografados, parecem que vão
diminuindo na imagem.

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Figura 11 – Elementos iguais parecem convergir para um ponto (de fuga)

Crédito: Hanna Alandi / Shutterstock.

3.1 Desenho com apenas um ponto de fuga… no horizonte!

Como já sabemos o que seja um ponto de fuga, vamos agora ver um


desenho esquemático que usa tal conceito na prática. A seguir você pode
perceber esse princípio com mais precisão (Figura 12), usado para representar
um espaço externo. A linha do horizonte está marcada em azul e define a
localização do ponto de fuga.

Figura 12 – Exemplo de desenho com apenas um ponto de fuga

Lembre-se de que arestas paralelas entre si no espaço tridimensional


parecem convergir para um mesmo ponto. Veja também que as janelas iguais,
à medida que se afastam do ponto de observação, parecem ficar menores.

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Portanto, em algumas situações, podemos desenhar cenas complexas
usando apenas um ponto de fuga, gerando uma excelente sensação de espaço.
Isso pode ser muito útil quando você avançar na sua aprendizagem.
Quando fotografamos cenas como essa, podemos posicionar a câmera
de tal forma que o resultado fique também com um ponto de fuga. Sugerimos
que você pegue o seu aparelho celular e tente isso agora mesmo, seja onde
estiver lendo esta aula.

3.2 Desenho com dois pontos de fuga

Agora que você já entendeu os conceitos de linha de horizonte e ponto de


fuga, vamos avançar no estudo da perspectiva linear, incluindo mais um ponto
de fuga.
É interessante salientar que tudo vai depender do ponto de vista do
observador. Como foi explicado acima, nem sempre podemos desenhar com
apenas um ponto de fuga, vai depender do enquadramento e da direção em que
olhamos.
O desenho de um cubo, um simples cubo, pode ter um, dois ou três pontos
de fuga, dependendo do ponto de observação. Para entender melhor isso,
vamos analisar mais um exemplo arquitetônico, ilustrado na Figura 13. Temos
duas imagens de uma cena simples, o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba,
fotografado com dois pontos de fuga.

Figura 13 – Museu Oscar Niemeyer

Ao analisar a construção, perceba que se trata de um projeto simples, com


ângulos de 90 graus, tudo paralelo entre si. Agora, observe que, apesar de a obra ser
ortogonal, na realidade a imagem tem uma espécie de distorção visual, fazendo com
que tanto para a direita como para a esquerda as linhas pareçam convergir para algum
lugar. Essa deformação nada mais é do que ponto de fuga.

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Veja que o resultado visual pode ser sutil. Você consegue ver que as
linhas vão se aproximando à medida que “fogem” para fora da fotografia? No
diagrama abaixo (Figura 14), para melhor entendimento, apresentamos
esquematicament essas arestas. Perceba a linha do horizonte e os dois pontos
de fuga, um para cada lado.

Figura 14 – Desenho com dois pontos de fuga

3.3 Desenhando com três pontos de fuga

Vamos agora estudar a representação de cenas mais complexas, com


três pontos de fuga. Para tanto, usaremos uma cena urbana, que apresenta um
ponto de observação bem corriqueiro: alguém caminhando pela calçada e
olhando os prédios. Confira a Figura 15.

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Figura 15 – Fotografia de paisagem urbana

Fonte: Acervo do autor.

Nessa cena, a fotografia foi feita olhando para o alto. Vamos recordar a definição
de linha do horizonte: altura do olho do observador. A cena, então, pode gerar confusão!
Ainda que a foto tenha sido tirada olhando para cima, a linha do horizonte continua
localizada aproximadamente a 1,8 metros de altura (altura do observador). Por isso,
cuidado para não cair na tentação de desenhar a linha do horizonte no topo da cena.
Para facilitar o entendimento disso tudo, estude o diagrama gerado a partir
da fotografia original (Figura 16) e veja como a LH ficou bem na base da imagem.
Note também que os dois pontos de fuga continuam posicionados na linha do
horizonte (fora da foto). Perceba ainda que o terceiro ponto de fuga é gerado a
partir das linhas verticais dos prédios e vão na direção do céu.

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Figura 16 – Linha do horizonte e três pontos de fuga

Se estivéssemos no todo do prédio olhando para a rua, seria o contrário:


a linha do horizonte estaria no topo da imagem, e o ponto de fuga vertical, indo
para baixo. O entendimento desse conceito vai ser bem útil na tarefa prática que
você terá que realizar no final da aula.
Um último assunto, antes de passarmos para a parte prática, é lembrar
que podemos ter desenhos com quatro, cinco e, às vezes, muitos pontos de fuga,
dependendo da complexidade do que se observa ou se deseja criar. Hoje, com
a computação gráfica e impressoras 3D, podemos elaborar projetos de alta
complexidade geométrica.
Mas não esqueça que tudo sempre começa com uma ideia na mente do
criador e passa necessariamente pela realização de croquis à mão livre. Então,
vamos começar a “perspectivar” os croquis sem medo de errar.

TEMA 4 – DESENHANDO UMA CAIXA DE SAPATOS

Chegou a hora de começar a desenhar. Escolhemos uma caixa de


sapatos com dois pontos de fuga. Não tente fazer o desenho com base em uma
imagem do computador ou do aparelho celular; arranje uma caixa de sapatos, a
coloque em cima da mesa e vá desenhando à mão livre, observando
atentamente a cena. Use as instruções a seguir como guia, não como cola –
lembre-se de que quem cola não sai da escola.

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• Enquadramento: observe e decida o que você deixa de fora e o que você
considera importante incluir no campo visual.
• Perspectiva: nesse exercício, você vai desenhar uma caixa de sapatos
usando o método de LH (linha do horizonte) e pontos de fuga; basta
observar atentamente a sua caixa de sapatos e terá sucesso.

4.1 Traçando a linha do horizonte e enquadramento

A parte inicial do desenho começa com você decidindo se o papel fica na


vertical ou na horizontal. Como uma caixa de sapatos é mais larga do que alta,
faz sentido usar a folha na horizontal (formato paisagem).
Em seguida, é necessário marcar a linha do horizonte. Você deve estar
olhando a caixa de cima para baixo, ou seja, a altura dos olhos acima da tampa.
O próximo passo é marcar as duas linhas de baixo (as linhas que estão
encostando na mesa). As figuras 17 e 18 ilustram essas etapas.

Figura 17 – Linha do horizonte e fugas

Figura 18 – Linhas de fuga

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4.2 Achando as fugas e desenhando a caixa

Podemos encontrar as fugas quando desenhamos as linhas da parte de


cima da caixa. Os traços devem estar convergindo para um ponto fora do papel
para esquerda e um para a direita. Não desenhe paralelo, pois assim você
aniquila os pontos de fuga. Confira a Figura 19.

Figura 19 – Linha do horizonte e fugas

4.3 Desenhando a tampa e incluindo as sombras

Para desenhar a tampa, você usa os pontos de fuga como referência para
mantê-la dentro da mesma lógica visual estabelecida nas fases anteriores,
conforme mostra a Figura 20.

Figura 20 – Volumetria com luzes e sombra

Finalmente, compondo as sombras, você completa o croqui de


forma rápida e intuitiva. No desenho apresentado, a luz vinha da esquerda para
a direita e de cima para baixo; portanto, as sombras foram marcadas de acordo
com o que o observador via na caixa de sapatos.

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TEMA 5 – DESENHANDO UMA CADEIRA

Vamos desenhar uma cadeira (veja Figura 21) com dois pontos de fuga –
dessa vez, copie do computador ou do aparelho celular. O exercício a partir de
uma fotografia pode ser interessante, mas, se quiser, pode desenhar outra
cadeira, desde que ela seja vista de forma tal que dois pontos de fuga estejam
visíveis.
As instruções a seguir devem ajudá-lo bastante a colocar em prática tudo
o que estudamos e aprendemos até agora. Você vai perceber que desenhar um
cubo, uma caixa de sapatos ou mesmo uma cidade teoricamente é relativamente
similar.

Figura 21 – Cadeira

Fonte: Acervo do autor.

• Enquadramento: sempre que temos que desenhar algo, precisamos


observar o objeto e decidir se o papel vai ficar na vertical ou na horizontal.
Na maioria das vezes, cadeiras são objetos mais alongados verticalmente
(ou seja, mais altos do que largos).
• Perspectiva: lembre-se sempre de tentar visualizar o objeto a ser
desenhado de um ângulo que permita os pontos de fuga desejados. No
caso em questão, queremos dois pontos de fuga. A fotografia do nosso

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exercício mostra que você não deve olhar de frente ou de lado. Explore,
circule em volta ou gire o objeto em questão até obter o ângulo desejado.

5.1 Temas diferentes e similares em perspectiva

Às vezes gostamos de complicar a aprendizagem sem necessidade. Com


desenho de perspectiva é a mesma coisa. O conceito básico da perspectiva com
pontos de fuga não muda, seja para desenhar uma caixa, seja uma cadeira, seja
uma cidade. Veja nas figuras 22, 23 e 24 exemplos que ilustram o principio
básico dos pontos de fuga. Tente buscar as formas geométricas e a partir delas
estruture seus desenhos de agora em diante.

Figura 22 – Diagrama das fugas e proporções

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Figura 23 – Caixa de madeira

Fonte: Acervo do autor.

Figura 24 – Desenho de uma cidade

5.2 Aprendendo a examinar um objeto antes de desenhar

Antes de iniciar o desenho de um objeto real, vale a pena, por alguns


segundos, analisá-lo visualmente. No caso de uma cadeira, por exemplo, olhe
de cima, de baixo, de ponta-cabeça, de todos os lados, veja os detalhes, as
texturas, os materiais usados na confecção dela etc. (veja Figura 25). Isso vai

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fornecer valiosas informações para você realizar um desenho que realmente seja
semelhante àquilo a ser retratado.
Pense um pouco: não fazer essa análise inicial pode gerar desperdício de
tempo, na medida em que você talvez tenha que refazer o desenho várias vezes.
Não pratique a “lei do menor esforço” nesses momentos. Seja curioso e olhe com
as mãos, se necessário for, no sentido de compreender a tarefa de representar
seu tema no papel.

Figura 25 – Vistas da cadeira de várias posições

Fonte: Acervo do autor.

5.3 Traçando a linha do horizonte

Ao iniciar o desenho, sempre comece com a linha do horizonte (altura dos


olhos do fotógrafo ou do artista) – veja que no exemplo em questão a linha do
horizonte fica acima do encosto da cadeira. Isso vai ajudar a sua composição e
o enquadramento, além de servir como referência na elaboração do seu croqui,
em especial no quesito pontos de fuga. Nunca se esqueça de lançar a LH logo
no começo do desenho, conforme ilustrado na Figura 26.

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Figura 26 – Linha do horizonte como ponto de partida do desenho

5.4 Estruturando os pontos de fuga

Lembre-se de que, na maioria das vezes, os pontos de fuga estão na linha


do horizonte. Quando desenhamos móveis tradicionais, tais como cadeiras e
mesa de jantar, esses pontos devem sempre ser posicionados na LH. Veja na
Figura 27 algumas dicas de como fazer essa estruturação no sentido de ajudar
traçar os volumes básicos que irão compor a sua perspectiva.

Figura 27 – Estrutura dos pontos de fuga

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5.5 Incluindo os detalhes estruturais

No momento de trabalhar a estrutura da cadeira, lembre-se de usar o bom


senso. Não perca tempo em detalhes e cuide das proporções das partes que
compõem a estrutura básica. Por exemplo, na cadeira em questão, os elementos
que a mantêm em pé são mais espessos, se comparados ao grid que faz parte
do encosto.
Outro detalhe importante nesse desenho é o fato de que a estrutura não
é exatamente ortogonal. Existem curvas suaves na parte de trás da cadeira,
conforme mostra a Figura 28, que exigem certo rigor para evitar descaracterizá-
la.
Olhe atentamente, antes de finalizar seu desenho. Mas, atenção: evite ao
máximo usar a borracha e a régua – o desenho apresentado dispensou esses
recursos. Não caia na tentação de recorrer a eles, caso contrário você terá
dificuldades em avançar.

Figura 28 – Desenho já com a estrutura básica

5.6 Finalizando as sombras, textura e ambiente

Ao chegar aos detalhes finais, as instruções são simples. Temos que


incluir as sombras, que dependem da fonte de luz. Lembre-se das sombras
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próprias (no próprio objeto) e das projetadas (no chão). Confira, nos detalhes
das figuras 29 e 30, essa informação.

Figura 29 – Detalhes de luz e sombra

Fonte: Acervo do autor.

Figura 30 – Luz principal, da esquerda para a direita

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Cuidado para não confundir sombras com texturas. Elas são “primas
próximas”, metaforicamente falando, mas não são a mesma coisa. As sombras
possuem uma dinâmica própria, ao passo que as texturas devem refletir os
materiais usados na fabricação da cadeira – a do exercício era de madeira
branca, e o assento, de veludo marrom. Busque não detalhar demais as texturas,
pois um croquis nunca deve levar mais do que 15 a 20 minutos para ser feito.
Observe na Figura 31 o croqui da cadeira após finalizado.

Figura 31 – Croqui finalizado

TROCANDO IDEIAS

O desafio proposto é você identificar fotos, por meio do seu celular, com
um, dois e três pontos de fuga e postá-las no fórum para, com seus colegas,
debaterem se conseguem descobrir os pontos de fuga e a linha do horizonte
(LH). Tente fotografar um mesmo tema de várias formas, no sentido de ver como

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a mesma cena, enquadrada de formas distintas, pode gerar imagens
completamente diferentes, dentro das questões abordadas nesta aula.

NA PRÁTICA

Acompanhe as orientações a seguir para realizar a atividade.

• Leia a aula novamente.


• Leia a explicação a seguir com cuidado e faça anotações e alguns croquis
iniciais, se necessário, para entender a tarefa.
• Realize a atividade solicitada.

Bom trabalho!

Você deverá desenhar as seguintes versões do objeto da fotografia


abaixo.

• Desenho de 10 minutos, olhando livremente o objeto e copiando igual à


fotografia, sem luz e sombra.
• Desenho de 30 minutos, fazendo o mesmo objeto com dois pontos de
fuga, um para o lado esquerdo e outro para o lado direito, e incluindo as
luzes e sombras.

Todos os desenhos podem ser feitos em folha A3, horizontalmente.


Atenção: não use régua para os desenhos.
Finalmente, compare a qualidade dos desenhos. Por favor, verifique as
diferenças e perceba como você pode mudar a forma de ver o mundo.

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Fonte: Acervo do autor.

FINALIZANDO

Nesta aula foram apresentados princípios, conceitos e ferramentas do


desenho de perspectiva. Estes, se corretamente aplicados, podem trazer
benefícios a estudantes de design no sentido de poderem representar
visualmente ideias projetuais e criativas e, portanto, formar uma sólida base da
profissão.
Conceituamos linha do horizonte e pontos de fuga, de forma direta e
simples, para propiciar aos estudantes um entendimento básico das técnicas
básicas de representação bidimensional de espaços e objetos tridimensionais.
Os princípios da perspectiva, base de qualquer desenho à mão livre, foram
devidamente relatados.
Apresentamos também a diferença entre duas categorias de perspectiva:
a axonométrica ou cavaleira (objetiva); e a linear ou cônica (subjetiva). A
perspectiva linear começa no seu olhar e acaba numa folha de papel (se for um
desenho) ou numa imagem fotográfica.
Concluímos que as técnicas e habilidades apresentadas impactam
positivamente a carreira do arquiteto, do artista e do designer, contribuindo para
o desenvolvimento das habilidades em observar e representar o mundo em seu
entorno.

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REFERÊNCIAS

BIRCH, H. Desenhar, truques, técnicas e recursos para a inspiração visual.


Londres: Gustavo Gili, 2015.

CERVER, F. Desenho para Principiantes. Londres: Konneman, 2010.

EDWARDS, B. Desenhando com o lado direito do cérebro. New York: 4 Erica,


Tarcher/Penguin, 2012.

DOMINGUES, F. Croquis Perspectivas. Porto Alegre: Nobuko, 2011.

GOMES, P. V. Os dez mandamentos – Na avaliação do Desenho de


Observação. Design Unibrasil, 2010. Disponível em:
<http://designunibrasila.blogspot.com/2010/03/osdezmandamentosnaavaliacao-
do.html>. Acesso em: 25 ago. 2019.

MONTENEGRO, G. Desenho de projetos. São Paulo: Blucher, 2007.

NOGUEIRA, L. Luz e sombra. [S.d.]. Disponível em:


<https://desenhetudo.blogspot.com/p/luz-e-sombra.html>. Acesso em: 25 ago.
2019.

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