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THINKING
AULA 6
Esta é mais uma aula sobre design thinking. Acreditamos que, ao chegar
aqui, você já seja capaz de compreender a dinâmica dos processos, ferramentas
e técnicas e, principalmente, de identificar os atributos que caracterizam esse
novo horizonte de atuação para os designers. Como nos lembram Micheli et al.
(2018), criatividade e inovação, foco no ser humano, capacidade de solução de
problemas, iteração e experimentação, colaboração interdisciplinar, raciocínio
abdutivo, balanço entre racionalidade e intuição, tolerância a ambiguidade e a
falhas, entre outros, são atributos que fazem com que o design thinking tenha se
difundido por tantas áreas do conhecimento.
Nesta aula apresentaremos alguns outros campos de atuação do design
thinking, focando nas áreas de saúde, educação e inovação social. No caso do
design de serviços, vamos nos concentrar nas aproximações e diferenças em
ambos os processos. Finalmente, para pensar o futuro, abordaremos pontos de
vista críticos ao design thinking. Esses insights, juntamente com os que já
examinamos ao longo das aulas, particularmente na aula anterior, visam a que
possamos refletir sobre a sua real capacidade de inovar e de impactar os
negócios e a sociedade.
Nossa intenção, ao longo da disciplina, foi permitir um aprofundamento no
universo do design thinking por meio da apresentação da perspectiva de
diferentes profissionais e acadêmicos sobre seus processos. Nesse sentido, com
base nesse painel, acreditamos que você já tenha condições de entender essa
nova dimensão do design. Contudo, recomendamos ficar atento e se capacitar
continuamente, pois a dinâmica do design thinking exige uma postura proativa
em relação ao conhecimento.
CONTEXTUALIZANDO
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foco no ser humano, os processos de design thinking vão estar sempre inseridos
no contexto de uma organização, seja ela pública ou privada, com ou sem fins
lucrativos. Kimbel (2012) lembra que o design thinking se situa mais
frequentemente no contexto dos desafios que as organizações enfrentam, nos
seus negócios. Segundo a autora, o lugar do design no mundo, primordialmente,
é em uma estrutura organizacional.
Nesse sentido, sugerimos que você leia o artigo O design thinking atinge
a maturidade, de Kolko (2015), disponível no site da versão brasileira da Harvard
Business Review: <https://hbrbr.uol.com.br/o-design-thinking-atinge-
maturidade/>. Nele, o autor aborda a mudança na cultura das corporações, que
tendem a ser cada vez mais centradas no design. Segundo ele, isso acontece
porque produtos, serviços estão cada vez mais intrincados e os usuários não
conseguem lidar com essa complexidade e esperam uma interação mais intuitiva
e prazerosa. Nesse contexto, evidencia-se a necessidade das organizações de
adotarem outras abordagens, tais como a do design thinking. Nesta aula, vamos
tratar de outros tipos de organizações atuantes em áreas como saúde,
educação, gestão pública e sociedade civil. Em todas elas, a utilização dos
processos de design thinking é cada vez mais intensa e, de certo modo, isso
mostra o seu potencial como recurso organizacional.
Ao chegar ao final da nossa disciplina, provavelmente você esteja curioso
para visualizar casos em que os processos de design thinking foram aplicados,
em diferentes tipos de organização. Infelizmente, não temos muitos estudos de
caso de uso do design thinking disponíveis em português. De qualquer maneira,
sugerimos visitar o site da Ideo (S.d.), particularmente a área em que é
apresentado o portfólio da empresa: <https://www.ideo.com/work/>. Apesar de o
conteúdo estar em inglês, acreditamos que, ainda assim, você possa entender o
potencial de atuação do design thinking. Você pode selecionar os projetos por
área específica e, com isso, perceberá a amplitude de atuação possível. Fique
atento ao modo como alguns dos estudos de caso são apresentados. Eles têm
uma pergunta inicial que, na verdade, não é nada mais do que a definição do
problema complexo a ser trabalhado. Se quiser saber mais sobre design thinking,
recomendamos visitar este outro site, o The acidental design thinker (S.d.) – que
quer dizer, em português, O design thinker acidental –, um diretório on-line com
muita informação consistente sobre a área:
<https://theaccidentaldesignthinker.com/>.
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TEMA 1 – DESIGN THINKING EM SERVIÇOS
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À exceção dos itens sequencial e evidente, podemos perceber na
listagem anterior que os demais princípios que norteiam as práticas de design
de serviço são os mesmos utilizados pelos design thinkers. Dados qualitativos
obtidos com base em observações do usuário são a principal referência para o
design de serviços, mas os seus processos também se apoiam em dados de
outra natureza, obtidos em áreas como marketing, gestão, tecnologia da
informação, engenharia de processos, antropologia, psicologia, entre outras. Ao
analisarmos as ferramentas listadas no livro de Stickdorn e Schneider (2014),
assim como as citadas por Alves e Nunes (2013), fica evidente a abordagem
interdisciplinar do design de serviços. Como verificamos nas aulas anteriores,
muitas das suas ferramentas e técnicas também são utilizadas pelo design
thinking, tais como: personas, storyboard, mapa de jornada do usuário, mapa de
stakeholders etc.
Tschimmel (2012), a respeito da distinção entre as duas abordagens,
sugere que a sua principal diferença reside no resultado do design de serviço,
que se configura como um processo de interações e não como um produto
tangível. Para reforçar essa diferenciação, precisamos lembrar que o leque de
resultados possíveis de serem obtidos por meio de um processo de design
thinking é muito mais amplo e não se limita a processos de interações. No
discurso do design thinking, há também uma busca pela inovação disruptiva,
enquanto que, no design de serviços, às vezes o que se busca é a inovação
incremental de processo. De qualquer forma, é evidente a aproximação entre
ambos e, talvez, esse tenha sido o motivo de Stickdorn e Schneider (2014)
intitularem seu livro como Isto é design thinking de serviços.
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escolas. A sua versão em português está disponível neste link:
<https://www.dtparaeducadores.org.br/site/material/>; e apresenta um modelo
de design thinking adaptado para o ambiente de ensino. Ele se baseia nas cinco
etapas do modelo da D.school ajustando a nomenclatura e, também,
evidenciando a dinâmica de uso de pensamentos convergente e divergente. O
guia sugere utilizar-se o design thinking para abordar problemas do ambiente
escolar tais como desenvolvimento de currículos, adequação e uso dos espaços
físicos e processos e sistemas acadêmicos.
O ambiente corporativo também tem inserido o design thinking na lista de
capacitações ofertadas a seus colaboradores. Além de oportunizar o acesso a
MBAs com foco em design thinking e inovação, as organizações também
contratam experts de universidades e consultorias para conduzir workshops e
palestras. No ambiente universitário, no Brasil e exterior, tanto nos níveis de
graduação como de pós-graduação de áreas como design, gestão, engenharia,
inovação, educação, entre outras, na última década houve um incremento
significativo de pesquisa acadêmica sobre design thinking. Contudo, os
resultados têm relevância limitada devido ao número reduzido de pesquisas
focadas no impacto dos processos de design thinking naquelas áreas.
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interesse pelo tema, no Brasil, vem crescendo e um bom exemplo é a publicação
Design thinking para inovação social, disponível neste site:
<https://goo.gl/MVofki>. Elaborada por Rizardi (2017), ela apresenta um conjunto
de ferramentas de design thinking que podem ser úteis para governos,
organizações sociais e sociedade civil desenvolverem ações com vistas à
inovação social.
Observando-se as iniciativas que utilizaram design thinking para a
inovação, no âmbito social, podemos perceber que é na oferta de serviços para
a população que se apresentam mais oportunidades de resolver problemas por
meio dos processos de design thinking. A abordagem de design centrada no ser
humano, bem como a dinâmica de cocriação e prototipação, permitem trazer à
tona soluções que podem não só viabilizar transformações na vida das pessoas,
mas também fomentar a coesão social. É nesse contexto de impacto social que,
cada vez mais, os design thinkers vão ser chamados a atuar.
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não está alinhada com a realidade e a dinâmica social dos negócios e
organizações já estabelecidos.
A revelação de eventuais mazelas do design thinking repercutiu na Ideo e
na D.school. Segundo Schwab (2018), alguns profissionais da Ideo consideram
as críticas justas porque realmente existem exemplos ruins de design thinking,
mas ressaltam que isso também acontece no design industrial, no design gráfico
etc. Para eles, o problema está no uso superficial do design thinking para se criar
um teatro da inovação repleto de post-its. Apontam também que a sua aplicação
pode ser comprometida se não houver uso equilibrado do modelo segundo a
cultura das organizações.
Mas, nesse ambiente de discursos negativos, há também visões mais
moderadas. Vinh (2018) reitera as críticas ao design thinking a respeito da sua
suposta superficialidade e incapacidade de gerar resultados significativos, mas
também destaca que ele amplia a linguagem do design para o universo das
pessoas comuns. O designer americano Kolko expande esse aspecto positivo.
Em um artigo recente (Kolko, 2018), também reitera críticas como a simplificação
que é feita de seus processos iterativos para torná-lo mais compreensível, a
promoção de um modo de empatia rápida e o fato de ter virado ferramenta para
vender consultoria e não para gerar impacto. Mas, ao mesmo tempo, ele lembra
que foi por causa dessa popularização do design thinking que o design tem sido
reconhecido para além dos aspectos estéticos, mas por seu impacto estratégico
e sua capacidade de gerar receitas. Segundo Kolko (2018), a popularidade do
design thinking deixará dois legados: o reconhecimento da profissão do designer
e também uma necessidade de haver designers que possam efetivamente gerar
impacto, com suas práticas.
Aparte todas as críticas apresentadas nos parágrafos anteriores,
precisamos admitir que as ideias por detrás dos modelos e processos de design
thinking têm uma certa consistência, caso contrário não repercutiriam por mais
de uma década em empresas como Ideo, Apple, Samsung, IBM, P&G, Phillips.
Um estudo recente, solicitado pela IBM a Forrester (2018), mostra o impacto
econômico das práticas de design thinking na empresa. Vamos destacar apenas
três deles: a velocidade de execução dos projetos dobrou a partir do uso do
modelo de design thinking; o design centrado no usuário melhorou os resultados
em termos de produtos, redução de riscos de falhas e aumentou a lucratividade
do portfólio; também houve redução de custos com base na colaboração de
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equipes para compartilhar problemas e encontrar soluções. Resumindo, o
impacto econômico foi de impressionantes 301% de retorno do investimento.
As perspectivas do design thinking passam pela compreensão de que ele
não é uma panaceia para resolver todo tipo de problema, nem tampouco um
modelo de inovação centrado no ser humano que se aplica em todos os
contextos. As recentes discussões que apresentamos mostram que o design
thinking – conforme aponta Kolko (2015) – já atingiu a maturidade e vive um
momento importante de consolidação por meio da reflexão sobre suas práticas
e resultados. Para você, futuro designer, é imprescindível ter claras as diferenças
e aproximações entre design e design thinking para atuar com propriedade e se
beneficiar desse contexto, no futuro.
TROCANDO IDEIAS
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consistente? Se não, que tal uma última troca de ideias para identificar os
motivos que atrapalharam a atividade colaborativa?
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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metodologia, o design thinking é uma mentalidade para abordar problemas
complexos. Nesse sentido, poderíamos defini-lo como uma abordagem criativa
utilizada por organizações para solucionar problemas complexos. Ao definir o
design thinking como uma abordagem, estamos pressupondo que há um modo
(metodologia ou processo) e um conjunto de princípios (mentalidade) que
norteiam sua ação.
Essa argumentação não é definitiva e está aberta a novas perspectivas.
A partir das suas futuras experiências profissionais em design thinking, você terá
condições de julgar a pertinência de denominá-lo como uma abordagem. Nesse
momento, o que consideramos importante é incorporar essa mentalidade, bem
como os princípios que a regem, de maneira a poder articular técnicas e
ferramentas que vão permitir que você atue com propriedade em processos de
design thinking.
Apesar de esta disciplina não ser resultado de um processo de design
thinking, ela foi pensada com base no modelo da Ideo de design centrado no ser
humano. Ao produzi-la, tínhamos em mente uma abordagem centrada no aluno,
no sentido de tornar o conteúdo das aulas instigante e acessível. Também
tínhamos um problema complexo que se resumia na frase: como apresentar o
design thinking para futuros designers via educação a distância (EAD)?
Esperamos que, ao final, tenhamos conseguido lidar razoavelmente com os
critérios propostos por Brown (2010) e que você tenha experienciado uma
disciplina que articulou os aspectos da desejabilidade (uma disciplina com
conteúdo instigante), da viabilidade (uma disciplina via EAD) e da praticabilidade
(uma disciplina com conteúdo acessível).
Que este seja apenas o primeiro passo da sua jornada pelo design
thinking. Boa sorte e muito sucesso!
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REFERÊNCIAS
BROWN, T.; WYATT, J. Design thinking for social innovation. Stanford Social
Innovation Review, p. 30-35, inv. 2010.
_____. Design thinking is bullsh*t. In: THE 99U CONFERENCE, 2017, Nova
York. Videos. Nova York: 99U, 2017. Disponível em:
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<https://99u.adobe.com/videos/55967/natasha-jen-design-thinking-is-bullshit>.
Acesso em: 18 fev. 2019.
KERSHAW, A.; DAHL, S.; ROBERTS, I. Designing for public services. [S.l.]:
Ideo; Design for Europe; Nesta, 2016. Disponível em:
<http://designforeurope.eu/sites/default/files/asset/document/Nesta_Ideo_Guide
_Jan2017.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2019.
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SCHWAB, K. Ideo breaks its silence on design thinking’s critics. Fast Company,
29 out. 2018. Disponível em: <https://www.fastcompany.com/90257718/ideo-
breaks-its-silence-on-design-thinkings-critics>. Acesso em: 18 fev. 2019.
THE DIVA Centres. Ideo. São Francisco; Nova York, [S.d.]b. Disponível em:
<https://www.ideo.org/project/diva-centres>. Acesso em: 18 fev. 2019.
THE FIELD guide to human-centered design. Design Kit, 2009. Disponível em:
<http://www.designkit.org/resources/1>. Acesso em: 18 fev. 2019.
VINH, K. The skeptic’s case for design thinking. Fast Company, 4 set. 2018.
Disponível em: <https://www.fastcompany.com/90167183/the-skeptics-case-for-
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VINSEL, L. Design thinking is kind of like syphilis: it’s contagious and rots your
brains. Medium, 6 dez. 2017. Disponível em:
<https://medium.com/@sts_news/design-thinking-is-kind-of-like-syphilis-its-
contagious-and-rots-your-brains-842ed078af29>. Acesso em: 18 fev. 2019.
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