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PROCESSOS DO DESIGN

THINKING
AULA 6

Prof. Renato Antonio Bertão


CONVERSA INICIAL

Esta é mais uma aula sobre design thinking. Acreditamos que, ao chegar
aqui, você já seja capaz de compreender a dinâmica dos processos, ferramentas
e técnicas e, principalmente, de identificar os atributos que caracterizam esse
novo horizonte de atuação para os designers. Como nos lembram Micheli et al.
(2018), criatividade e inovação, foco no ser humano, capacidade de solução de
problemas, iteração e experimentação, colaboração interdisciplinar, raciocínio
abdutivo, balanço entre racionalidade e intuição, tolerância a ambiguidade e a
falhas, entre outros, são atributos que fazem com que o design thinking tenha se
difundido por tantas áreas do conhecimento.
Nesta aula apresentaremos alguns outros campos de atuação do design
thinking, focando nas áreas de saúde, educação e inovação social. No caso do
design de serviços, vamos nos concentrar nas aproximações e diferenças em
ambos os processos. Finalmente, para pensar o futuro, abordaremos pontos de
vista críticos ao design thinking. Esses insights, juntamente com os que já
examinamos ao longo das aulas, particularmente na aula anterior, visam a que
possamos refletir sobre a sua real capacidade de inovar e de impactar os
negócios e a sociedade.
Nossa intenção, ao longo da disciplina, foi permitir um aprofundamento no
universo do design thinking por meio da apresentação da perspectiva de
diferentes profissionais e acadêmicos sobre seus processos. Nesse sentido, com
base nesse painel, acreditamos que você já tenha condições de entender essa
nova dimensão do design. Contudo, recomendamos ficar atento e se capacitar
continuamente, pois a dinâmica do design thinking exige uma postura proativa
em relação ao conhecimento.

CONTEXTUALIZANDO

Definir o design thinking não é tarefa simples. Anteriormente


apresentamos aqueles que podem ser considerados os melhores insights para
defini-lo; contudo, talvez possamos afirmar que, primordialmente, trata-se de um
recurso organizacional. Essa afirmação pode ser generalista e arriscada, pois
simplifica muitas das dimensões que fazem com que o design thinking seja visto
como significativo, no contexto global. Mas, por outro lado, não podemos deixar
de considerar que, como abordagem criativa para solucionar problemas com

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foco no ser humano, os processos de design thinking vão estar sempre inseridos
no contexto de uma organização, seja ela pública ou privada, com ou sem fins
lucrativos. Kimbel (2012) lembra que o design thinking se situa mais
frequentemente no contexto dos desafios que as organizações enfrentam, nos
seus negócios. Segundo a autora, o lugar do design no mundo, primordialmente,
é em uma estrutura organizacional.
Nesse sentido, sugerimos que você leia o artigo O design thinking atinge
a maturidade, de Kolko (2015), disponível no site da versão brasileira da Harvard
Business Review: <https://hbrbr.uol.com.br/o-design-thinking-atinge-
maturidade/>. Nele, o autor aborda a mudança na cultura das corporações, que
tendem a ser cada vez mais centradas no design. Segundo ele, isso acontece
porque produtos, serviços estão cada vez mais intrincados e os usuários não
conseguem lidar com essa complexidade e esperam uma interação mais intuitiva
e prazerosa. Nesse contexto, evidencia-se a necessidade das organizações de
adotarem outras abordagens, tais como a do design thinking. Nesta aula, vamos
tratar de outros tipos de organizações atuantes em áreas como saúde,
educação, gestão pública e sociedade civil. Em todas elas, a utilização dos
processos de design thinking é cada vez mais intensa e, de certo modo, isso
mostra o seu potencial como recurso organizacional.
Ao chegar ao final da nossa disciplina, provavelmente você esteja curioso
para visualizar casos em que os processos de design thinking foram aplicados,
em diferentes tipos de organização. Infelizmente, não temos muitos estudos de
caso de uso do design thinking disponíveis em português. De qualquer maneira,
sugerimos visitar o site da Ideo (S.d.), particularmente a área em que é
apresentado o portfólio da empresa: <https://www.ideo.com/work/>. Apesar de o
conteúdo estar em inglês, acreditamos que, ainda assim, você possa entender o
potencial de atuação do design thinking. Você pode selecionar os projetos por
área específica e, com isso, perceberá a amplitude de atuação possível. Fique
atento ao modo como alguns dos estudos de caso são apresentados. Eles têm
uma pergunta inicial que, na verdade, não é nada mais do que a definição do
problema complexo a ser trabalhado. Se quiser saber mais sobre design thinking,
recomendamos visitar este outro site, o The acidental design thinker (S.d.) – que
quer dizer, em português, O design thinker acidental –, um diretório on-line com
muita informação consistente sobre a área:
<https://theaccidentaldesignthinker.com/>.

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TEMA 1 – DESIGN THINKING EM SERVIÇOS

O livro Isto é design thinking de serviços, de Stickdorn e Schneider (2014),


considerado uma das referências sobre o design de serviços, foi lançado em
2010, no mesmo ano do lançamento dos livros de Brown (2010) e Brown e Wiatt
(2010) sobre design thinking e de Martin (2010), sobre design de negócios. O
design de serviços, como novo campo de atuação do profissional de design,
conforme podemos perceber pelos dados que apresentamos anteriormente,
desenvolveu-se concomitantemente com o design thinking. Na verdade, a virada
do milênio foi um período muito rico para o design pois, como lembra Vogel
(2009), foi o momento em que também o design de interação e o design de
experiências começaram a se desenvolver. Contudo, dessas vertentes do
design, somente o design de serviços veio a se constituir contemporaneamente
como um campo do design tal como o design gráfico ou o de produtos.
Um dos aspectos interessantes do livro Isto é design thinking de serviços
(Stickdorn e Schneider, 2014, p. 31) é ele não fornecer uma definição formal
sobre design de serviços; contudo, seus autores apresentam-no como uma “[...]
abordagem interdisciplinar que combina diferentes métodos e ferramentas
oriundos de diversas disciplinas. Trata-se de uma nova forma de pensar, e não
de uma nova disciplina acadêmica autônoma”. Uma leitura descontextualizada
dessa definição poderia levar a entender que ela se refere ao design thinking.
Na verdade, é preciso situá-lo no espectro das experiências do usuário obtidas
por meio de interações baseadas em elementos tangíveis e intangíveis. O design
de serviços foca no design de sistemas e processos e, segundo Stickdorn e
Schneider (2014), possui cinco princípios. O design de serviços é:

1. Centrado no usuário: os serviços devem ser testados, por meio do olhar


do cliente;
2. Cocriativo: todos os stakeholders devem ser incluídos no processo de
design de serviços;
3. Sequencial: o serviço deve ser visualizado como uma sequência de ações
inter-relacionadas;
4. Evidente: serviços intangíveis devem ser visualizados como artefatos
físicos;
5. Holístico: todo o ambiente de um serviço deve ser levado em
consideração.

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À exceção dos itens sequencial e evidente, podemos perceber na
listagem anterior que os demais princípios que norteiam as práticas de design
de serviço são os mesmos utilizados pelos design thinkers. Dados qualitativos
obtidos com base em observações do usuário são a principal referência para o
design de serviços, mas os seus processos também se apoiam em dados de
outra natureza, obtidos em áreas como marketing, gestão, tecnologia da
informação, engenharia de processos, antropologia, psicologia, entre outras. Ao
analisarmos as ferramentas listadas no livro de Stickdorn e Schneider (2014),
assim como as citadas por Alves e Nunes (2013), fica evidente a abordagem
interdisciplinar do design de serviços. Como verificamos nas aulas anteriores,
muitas das suas ferramentas e técnicas também são utilizadas pelo design
thinking, tais como: personas, storyboard, mapa de jornada do usuário, mapa de
stakeholders etc.
Tschimmel (2012), a respeito da distinção entre as duas abordagens,
sugere que a sua principal diferença reside no resultado do design de serviço,
que se configura como um processo de interações e não como um produto
tangível. Para reforçar essa diferenciação, precisamos lembrar que o leque de
resultados possíveis de serem obtidos por meio de um processo de design
thinking é muito mais amplo e não se limita a processos de interações. No
discurso do design thinking, há também uma busca pela inovação disruptiva,
enquanto que, no design de serviços, às vezes o que se busca é a inovação
incremental de processo. De qualquer forma, é evidente a aproximação entre
ambos e, talvez, esse tenha sido o motivo de Stickdorn e Schneider (2014)
intitularem seu livro como Isto é design thinking de serviços.

TEMA 2 – DESIGN THINKING NA SAÚDE

A aplicação dos processos de design thinking na saúde tem permitido


desenvolver não somente novas soluções em produtos e equipamentos, mas
também novos serviços que melhoram a experiência dos pacientes e a gestão
dos hospitais. Em seu livro, Briown (2015) apresenta cases de centros médicos
que perceberam que a abordagem de design centrada no ser humano poderia
ser estendida à área da saúde e que investem em design thinking. Os cases
mais relevantes são os das empresas americanas Kaiser Permanente e Mayo
Clinic (1998-2017). Esta última possui, há mais de uma década, um centro de
inovação em saúde e utiliza processos de design thinking para inovar em seus
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serviços e em suas práticas de gestão (ver
<http://centerforinnovation.mayo.edu/design-in-health-care/>).
Como comentamos na nossa anteriormente, a área de saúde é vista como
fonte de muitos wicked problems (problemas complexos) que vão além das
práticas médicas. O ambiente hospitalar, por exemplo, pode ser caracterizado
como um sistema complexo que opera simultaneamente processos distintos e
envolve um conjunto heterogêneo de pessoas. A adoção de práticas de design
thinking tem sido a opção de várias instituições da área de saúde, principalmente
no contexto dos países desenvolvidos, para melhorar a fluidez desse sistema.
Roberts et al. (2016) reiteram que o design thinking, como abordagem criativa,
interdisciplinar e centrada no ser humano, permite potencializar a gestão, a
inovação e as práticas em saúde.
Mas, o design thinking pode impactar a área da saúde para além dos
ambientes tradicionais como hospitais, sejam eles públicos ou privados. Projetos
sociais com foco em saúde também podem utilizá-lo de forma a promover
benefícios em comunidades. Um exemplo foi desenvolvido pela Ideo.org, a
empresa-irmã da Ideo que usa o design thinking para resolver problemas sociais
complexos, pelo mundo afora. O projeto Diva Centres (Ideo.org, [S.d.]b),
desenvolvido na Zâmbia, tinha como wicked problem o alto índice de gravidez
entre adolescentes (ver <http://www.ideo.org/project/diva-centres>). Para lidar
com o problema, foram criados os Diva Centres, locais onde adolescentes
podem fazer manicure gratuitamente e, ao mesmo tempo, recebem orientação
sobre contracepção e saúde.

TEMA 3 – DESIGN THINKING NA EDUCAÇÃO

Além da Ideo, o ambiente acadêmico tem sido um dos maiores


responsáveis pela difusão do design thinking. A D.school, com duas sedes, nos
EUA (Instituto de Design Hasso Plattner da Universidade de Stanford) e na
Alemanha (Instituto de Design Hasso Plattner da Universidade de Potsdam), é a
mais famosa delas e se destaca por oferecer uma estrutura acadêmica pouco
tradicional. Seus cursos dão ênfase à prática, priorizam a multidisciplinaridade
no perfil do seu grupo de alunos e inserem o design thinking no contexto da
inovação, educação básica, educação executiva e sistemas sociais. No Canadá,
a Rotman School of Management da Universidade de Toronto foi uma das
pioneiras em oferecer formação executiva em design thinking e inovação.
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Contemporaneamente, conforme levantaram Wrigley, Mosely e Tomitsch (2018),
há muitas opções de cursos on-line sobre design thinking, oferecidos pelas
melhores universidades do mundo em plataformas de ensino, tais como
Coursera (S.d.) e EdX ([2012-2019]) – ver, respectivamente,
<https://www.coursera.org/> e <https://www.edx.org/>. A Ideo U (S.d.), outra
empresa-irmã da Ideo, focada no ensino, também oferece um leque de cursos
on-line. Recomendamos explorar essas possibilidades, pois alguns desses
cursos são gratuitos e têm versão em português: <https://www.ideou.com/>.

Figura 1 – Modelo de design thinking para educadores

Fonte: IED, 2014, p. 15.

O ensino dos processos de design thinking também se estende a outras


instâncias. O guia Design thinking para educadores (IED, 2014), criado em 2011,
pela Ideo, para professores de ensino médio público nos EUA, se tornou uma
referência mundial para professores que procuram inovar em sala de aula e nas

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escolas. A sua versão em português está disponível neste link:
<https://www.dtparaeducadores.org.br/site/material/>; e apresenta um modelo
de design thinking adaptado para o ambiente de ensino. Ele se baseia nas cinco
etapas do modelo da D.school ajustando a nomenclatura e, também,
evidenciando a dinâmica de uso de pensamentos convergente e divergente. O
guia sugere utilizar-se o design thinking para abordar problemas do ambiente
escolar tais como desenvolvimento de currículos, adequação e uso dos espaços
físicos e processos e sistemas acadêmicos.
O ambiente corporativo também tem inserido o design thinking na lista de
capacitações ofertadas a seus colaboradores. Além de oportunizar o acesso a
MBAs com foco em design thinking e inovação, as organizações também
contratam experts de universidades e consultorias para conduzir workshops e
palestras. No ambiente universitário, no Brasil e exterior, tanto nos níveis de
graduação como de pós-graduação de áreas como design, gestão, engenharia,
inovação, educação, entre outras, na última década houve um incremento
significativo de pesquisa acadêmica sobre design thinking. Contudo, os
resultados têm relevância limitada devido ao número reduzido de pesquisas
focadas no impacto dos processos de design thinking naquelas áreas.

TEMA 4 – DESIGN THINKING PARA INOVAÇÃO SOCIAL

No mesmo ano do lançamento do best-seller de Brown (2010) sobre


design thinking, Brown e Wyatt (2010) publicaram o artigo Design thinking for
social innovation (Design thinking para inovação social, tradução nossa), que
apresentava uma nova perspectiva para se atuar com os problemas complexos
da sociedade. Segundo os autores, a abordagem do design thinking, depois de
difundida no ambiente de negócios, poderia abarcar novos horizontes ao ser
adotada por organizações não governamentais (ONG) ou instituições sociais.
Eles destacam ainda que o design thinking não delimitaria fronteiras entre
público e privado, entre organizações com ou sem fim lucrativo; mas, sim,
permitiria o alcance de soluções de impacto por viabilizá-las com base no
engajamento das pessoas nos processos criativos.
A demanda por ferramentas e técnicas para inovação social, ou seja, para
se obter ideias para lidar com problemas sociais, foi uma das motivações para a
Ideo (2009) utilizar sua expertise em inovação e desenvolver o seu modelo de
design thinking, que se caracteriza por ser centrado no ser humano. Como você
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pôde verificar ao longo das aulas anteriores, junto com o modelo da D.school,
ele é uma das principais referências para os design thinkers, em suas práticas.
A publicação The field guide to human-centered design, disponível em português
neste site: <http://www.designkit.org/resources/1>, apresenta o modelo em
detalhe, bem como um roteiro para guiar os processos de design thinking. A
repercussão do human-centered design (HCD) no âmbito social levou a Ideo a
criar uma outra empresa, a Ideo.org (S.d.a), que desenvolve, junto com
parceiros, projetos de design thinking nas áreas de saúde, geração de renda,
gestão pública e inovação social (ver <https://www.ideo.org/>). Tanto no site da
Ideo.org (S.d.a) como no da própria Ideo (S.d.) você pode encontrar exemplos
de cases em que o design thinking impactou positivamente pessoas e
comunidades pelo mundo afora (ver, também, <https://www.ideo.com/work/>).
Mais recentemente, a empresa fez parceria com a Nesta, uma conceituada
organização social britânica voltada para a inovação, e ambas lançaram, junto
com a Design for Europe, a publicação Designing for public services (Design
para serviços públicos, tradução nossa) (Kershaw; Dahl; Roberts, 2017).

Figura 2 – Kit de ferramentas da Ideo

Fonte: Ideo, 2009.

Ao perceberem o potencial de inovação dos processos de design thinking,


gestores públicos, em diversos países, começam a adotá-los para melhorar a
oferta de serviços à população. Ainda que não sejam voltados especificamente
para a inovação social, já temos no Brasil iniciativas do Tribunal de Contas da
União (TCU) (Brasil, 2017) e do Serviço Federal de Processamento de Dados
(Serpro, 2017) para difundir o design thinking no âmbito governamental. O

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interesse pelo tema, no Brasil, vem crescendo e um bom exemplo é a publicação
Design thinking para inovação social, disponível neste site:
<https://goo.gl/MVofki>. Elaborada por Rizardi (2017), ela apresenta um conjunto
de ferramentas de design thinking que podem ser úteis para governos,
organizações sociais e sociedade civil desenvolverem ações com vistas à
inovação social.
Observando-se as iniciativas que utilizaram design thinking para a
inovação, no âmbito social, podemos perceber que é na oferta de serviços para
a população que se apresentam mais oportunidades de resolver problemas por
meio dos processos de design thinking. A abordagem de design centrada no ser
humano, bem como a dinâmica de cocriação e prototipação, permitem trazer à
tona soluções que podem não só viabilizar transformações na vida das pessoas,
mas também fomentar a coesão social. É nesse contexto de impacto social que,
cada vez mais, os design thinkers vão ser chamados a atuar.

TEMA 5 – PERSPECTIVAS DO DESIGN THINKING

Com certeza, em alguns momentos, ao longo da nossa disciplina, você


tenha tido a impressão de que o design thinking pode ser entendido como uma
abordagem mágica para a solução de problemas. Também deve ter percebido a
onipresença da empresa Ideo e da D.school em praticamente todos os tópicos
que abordamos. Apesar da difusão global que vemos contemporaneamente,
algumas restrições ao design thinking remontam ao tempo em que suas ideias
foram lançadas. O principal motivo de críticas por parte de profissionais de várias
áreas reside na sua capacidade de gerar inovações e resultados.
Recentemente, essas críticas têm se tornado mais intensas,
particularmente em 2017, quando alguns designers atuantes nos EUA
manifestaram seus pontos de vista a respeito do assunto e isso gerou um imenso
debate on-line. Vale a pena apresentar os argumentos de dois deles: Jen (2017),
do renomado estúdio de design Pentagram, destaca a falta de crítica dos
designers em relação ao design thinking e sugere que ele não consegue mostrar
evidências de que realmente gere resultados. Também critica a cultura dos post-
its e dos cinco hexágonos, numa referência ao modelo da D.school. A designer,
inclusive, criou um poster com o título irônico Can design thinking help us
understand design thinking? (O design thinking pode nos ajudar a entender o
design thinking?, tradução nossa).
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Por sua vez, Vinsel (2017), professor da área de design, compara o design
thinking a uma doença contagiosa, pois o seu discurso banalizaria tanto os
métodos de design como a inovação, em prol de objetivos puramente comerciais.

Figura 3: Poster de Natasha Jen intitulado Can design thinking help us


understand design thinking?

Fonte: Jen, 2018.

Críticas também surgem de pessoas da área de gestão e negócios. Em


um artigo da Harvard Business Review, Iskander (2018), além de reiterar que o
design thinking é mal definido e pode ser considerado como a comercialização
de um senso comum repaginado, sugere que ele, no fundo, é uma estratégia
não inclusiva, dos designers, para manterem seu status quo. Kupp, Anderson e
Reckhenrich (2017), em um artigo da MIT Sloan Management Review,
argumentam que o design thinking precisa ser repensado pois sua abordagem

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não está alinhada com a realidade e a dinâmica social dos negócios e
organizações já estabelecidos.
A revelação de eventuais mazelas do design thinking repercutiu na Ideo e
na D.school. Segundo Schwab (2018), alguns profissionais da Ideo consideram
as críticas justas porque realmente existem exemplos ruins de design thinking,
mas ressaltam que isso também acontece no design industrial, no design gráfico
etc. Para eles, o problema está no uso superficial do design thinking para se criar
um teatro da inovação repleto de post-its. Apontam também que a sua aplicação
pode ser comprometida se não houver uso equilibrado do modelo segundo a
cultura das organizações.
Mas, nesse ambiente de discursos negativos, há também visões mais
moderadas. Vinh (2018) reitera as críticas ao design thinking a respeito da sua
suposta superficialidade e incapacidade de gerar resultados significativos, mas
também destaca que ele amplia a linguagem do design para o universo das
pessoas comuns. O designer americano Kolko expande esse aspecto positivo.
Em um artigo recente (Kolko, 2018), também reitera críticas como a simplificação
que é feita de seus processos iterativos para torná-lo mais compreensível, a
promoção de um modo de empatia rápida e o fato de ter virado ferramenta para
vender consultoria e não para gerar impacto. Mas, ao mesmo tempo, ele lembra
que foi por causa dessa popularização do design thinking que o design tem sido
reconhecido para além dos aspectos estéticos, mas por seu impacto estratégico
e sua capacidade de gerar receitas. Segundo Kolko (2018), a popularidade do
design thinking deixará dois legados: o reconhecimento da profissão do designer
e também uma necessidade de haver designers que possam efetivamente gerar
impacto, com suas práticas.
Aparte todas as críticas apresentadas nos parágrafos anteriores,
precisamos admitir que as ideias por detrás dos modelos e processos de design
thinking têm uma certa consistência, caso contrário não repercutiriam por mais
de uma década em empresas como Ideo, Apple, Samsung, IBM, P&G, Phillips.
Um estudo recente, solicitado pela IBM a Forrester (2018), mostra o impacto
econômico das práticas de design thinking na empresa. Vamos destacar apenas
três deles: a velocidade de execução dos projetos dobrou a partir do uso do
modelo de design thinking; o design centrado no usuário melhorou os resultados
em termos de produtos, redução de riscos de falhas e aumentou a lucratividade
do portfólio; também houve redução de custos com base na colaboração de

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equipes para compartilhar problemas e encontrar soluções. Resumindo, o
impacto econômico foi de impressionantes 301% de retorno do investimento.
As perspectivas do design thinking passam pela compreensão de que ele
não é uma panaceia para resolver todo tipo de problema, nem tampouco um
modelo de inovação centrado no ser humano que se aplica em todos os
contextos. As recentes discussões que apresentamos mostram que o design
thinking – conforme aponta Kolko (2015) – já atingiu a maturidade e vive um
momento importante de consolidação por meio da reflexão sobre suas práticas
e resultados. Para você, futuro designer, é imprescindível ter claras as diferenças
e aproximações entre design e design thinking para atuar com propriedade e se
beneficiar desse contexto, no futuro.

TROCANDO IDEIAS

Nas aulas anteriores da disciplina, você foi constantemente desafiado


nesta seção. Inicialmente, a identificar três problemas complexos, brasileiros,
que poderiam ser abordados por meio do design thinking. Depois, a selecionar,
dentre os sete modelos de design thinking que apresentamos, qual ou quais
seriam passíveis de serem utilizados para lidar com o problema que lhe
parecesse mais complexo. Desafiado ainda a indicar quais ferramentas e
técnicas de design thinking poderiam ser utilizadas nas fases de empatia e
definição do problema que você selecionou. E também a pensar especificamente
na etapa de prototipação e identificar ferramentas que podem ser utilizadas para
permitir a visualização de possíveis soluções para o problema do Brasil que você
estava abordando. Anteriormente você foi incitado a selecionar as ferramentas
e técnicas que seriam relevantes para auxiliar na implantação da sua solução
para o problema brasileiro e até a pensar em um modelo de negócio, mesmo
que fosse de cunho social.
Agora, nesta última troca de ideias, via fórum on-line, sugerimos pensar
na classificação e no possível impacto da sua solução. Dada a natureza do
problema que foi trabalhado, o resultado tenderia a ser um produto ou um
serviço? Essa solução poderia gerar impacto social? Tente imaginar eventuais
cenários de inserção dessa solução e compartilhe-os com seus colegas. Como
esse é o fórum final, sugerimos também trocar impressões com seus pares,
sobre o resultado do fórum. Vocês conseguiram chegar a um resultado

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consistente? Se não, que tal uma última troca de ideias para identificar os
motivos que atrapalharam a atividade colaborativa?

NA PRÁTICA

Para esta atividade, solicitamos que você faça o download da publicação


Design thinking para empreendedores, de Nakagawa (2014), em <http://cms-
empreenda.s3.amazonaws.com/empreenda/files_static/arquivos/2014/04/07/De
sign_Thinking_.pdf>; e leia atentamente as três páginas que apresentam o
design thinking para pessoas que pretendem iniciar um novo negócio com uma
experiência de consumo inovadora.
A seguir, reflita e responda às seguintes questões:

1. Agora que você mergulhou a fundo nos processos do design thinking,


como você avalia a apresentação do design thinking que o autor faz para
os futuros empreendedores? Há uma simplificação ou o autor expande a
abordagem? O que você acha que faltou na apresentação?
2. Perceba que o design thinking é apresentado por Nakagawa como uma
ferramenta. Você acha pertinente apresentá-lo como uma ferramenta?
Quais são os riscos ou vantagens de fazê-lo desse modo?

FINALIZANDO

Apesar de ser apresentado constantemente por profissionais e


acadêmicos como uma metodologia, nesta disciplina evitamos utilizar essa
palavra para definir o design thinking. O motivo por detrás de tal estratégia é a
sua dimensão conceitual. Em essência, o design thinking é uma metodologia
pois articula o uso de ferramentas e técnicas em etapas, para que seus
processos se desenvolvam. Entretanto, tendo em vista o que apresentamos ao
longo das aulas, essa definição seria muito restrita. Para que os processos de
design thinking aconteçam adequadamente, muitos atributos são requeridos por
parte dos envolvidos e isso, de certa forma, se configura em princípios que são
compartilhados. Desse modo, o design thinking também pode ser compreendido
como uma mentalidade.
Como temos reiterado, contemporaneamente o design thinking é um
recurso utilizado por diferentes tipos de organizações para lidar com o complexo
ambiente em que se situam. Acreditamos que, mais do que um recurso ou uma

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metodologia, o design thinking é uma mentalidade para abordar problemas
complexos. Nesse sentido, poderíamos defini-lo como uma abordagem criativa
utilizada por organizações para solucionar problemas complexos. Ao definir o
design thinking como uma abordagem, estamos pressupondo que há um modo
(metodologia ou processo) e um conjunto de princípios (mentalidade) que
norteiam sua ação.
Essa argumentação não é definitiva e está aberta a novas perspectivas.
A partir das suas futuras experiências profissionais em design thinking, você terá
condições de julgar a pertinência de denominá-lo como uma abordagem. Nesse
momento, o que consideramos importante é incorporar essa mentalidade, bem
como os princípios que a regem, de maneira a poder articular técnicas e
ferramentas que vão permitir que você atue com propriedade em processos de
design thinking.
Apesar de esta disciplina não ser resultado de um processo de design
thinking, ela foi pensada com base no modelo da Ideo de design centrado no ser
humano. Ao produzi-la, tínhamos em mente uma abordagem centrada no aluno,
no sentido de tornar o conteúdo das aulas instigante e acessível. Também
tínhamos um problema complexo que se resumia na frase: como apresentar o
design thinking para futuros designers via educação a distância (EAD)?
Esperamos que, ao final, tenhamos conseguido lidar razoavelmente com os
critérios propostos por Brown (2010) e que você tenha experienciado uma
disciplina que articulou os aspectos da desejabilidade (uma disciplina com
conteúdo instigante), da viabilidade (uma disciplina via EAD) e da praticabilidade
(uma disciplina com conteúdo acessível).
Que este seja apenas o primeiro passo da sua jornada pelo design
thinking. Boa sorte e muito sucesso!

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