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PERSPECTIVA

FUNDAMENTOS DO DESENHO ARTÍSTICO


PROFESSORA KARIN SCHMITT

A palavra perspectiva significa ver através de, um dos significados de


perspicere, em uma tradução literal da palavra grega optiké (PANOFSKY,
1927). Desde a sua descoberta, na Renascença, quase toda pintura obedecia
a esse método de representação, sendo um expediente geométrico que
produzia a ilusão da realidade, mostrando os objetos no espaço em suas
posições e tamanhos corretos (HUGHES, 1987).

Na antiguidade egípcia, muito antes do surgimento dos processos de


perspectiva com pontos de fuga, as pinturas e desenhos normalmente
utilizavam uma escala para objetos e personagens de acordo com seu valor
espiritual ou temático (por exemplo, o faraó era representado em tamanho
maior que o de seus súditos).

Já os gregos partiram para o naturalismo e quase descobriram as leis da


perspectiva geométrica, mas uma experiência malsucedida os afastou dessa
ideia, pois os corpos mais distantes se projetaram maiores no plano de
projeção, quando na realidade o que está mais distante deve parecer menor.

Durante o período medieval alguns estilos abandonaram por completo


qualquer intenção de se alcançar uma ilusão visual de profundidade. No
entanto, a influência dos esforços gregos permaneceu viva e os artistas pré-
perspectivistas usaram as linhas diagonais como formas de obtenção de
espaço, embora não tenham se dado conta da existência do ponto de fuga
(PANOFSKY, 1927).
Foi somente em meados do século XV, no período da história conhecido
como quatrocento, que, a partir das propostas dos desenhos de Filippo
Brunelleschi, a qual chamou de Construzione Legittima, estabeleceu-se um
sistema com um ponto de fuga. Brunelleschi percebeu, possivelmente através
da pintura da silhueta de diversos edifícios florentinos com o auxílio de um
espelho, que todas as linhas daquelas arestas convergiam para um ponto na
linha do horizonte, demonstrando a perspectiva por meio de um dispositivo
óptico, utilizando-o na sua pintura do Batistério de São João, na Igreja de Santa
Maria del Fiore (VASARI, 2011).

É interessante pensarmos que a descoberta da perspectiva foi


principalmente utilizada pelos artistas renascentistas em trompe-l'oeil (“engana
o olho”), uma técnica visual que cria uma ilusão óptica que mostra objetos,
formas ou espaços que não existem realmente (Fig 1). Um dos locais onde
esta técnica era largamente explorada eram os afrescos de interiores de igrejas
e capelas com a finalidade de “aumentar” o aposento e dar a impressão de que
o teto estava “ascendendo aos céus”, fazendo uma conexão com o Divino.

Fig 1 – Antonio da Correggio. Ascensão da Virgem, 1526-1530.


Atualmente, os trompe-l'oeil podem ser apreciados em técnicas de
graffiti (Fig 2) e intervenções urbanas, sendo uma herança do período
renascentista e amplamente utilizado na era contemporânea.

Fig 2 – Exemplo de trompe-l’oeil no graffiti


Imagem: Odeith. Disponível em: http://www.odeith.com/anamorphic/

ELEMENTOS DA PERSPECTIVA
(o conteúdo a seguir foi retirado do site www.sobrearte.com.br)

Linha do horizonte, ponto de vista, ponto de fuga e linhas de fuga são os


quatro elementos da perspectiva que determinam o nível e o ângulo visual do
espectador no contexto do desenho. Para um estudo básico sobre perspectiva
é necessário conhecê-los e saber o modo correto de sua aplicação. Por isso,
além de identificar visualmente cada um deles, faremos uma descrição sobre
seu significado e função no desenho a partir das demonstrações ilustrativas a
seguir.

LINHA DO HORIZONTE
É o elemento da construção em perspectiva que representa o nível dos
olhos do observador (linha horizontal pontilhada LH). Numa paisagem é a linha
do horizonte que separa o céu e a terra. Vista ao longe, ela está na base das
montanhas e risca horizontalmente o nível do mar (Fig 3).

Fig 3 – Linha do horizonte.


Fonte: http://www.sobrearte.com.br/

PONTO DE VISTA
Na representação gráfica da perspectiva é comum o ponto de vista ser
identificado por uma linha vertical perpendicular a linha do horizonte (PV). O
ponto de vista revela-se exatamente no cruzamento dessas duas linhas.
Dependendo do ângulo visual de observação do motivo, a linha vertical que
localiza o ponto de vista pode situar-se centralizada na cena compositiva ou
num de seus lados, esquerdo ou direito (Fig 4).
Fig 4 – Ponto de vista.
Fonte: http://www.sobrearte.com.br/

PONTO DE FUGA
É o ponto localizado na linha do horizonte, pra onde todas as linhas
paralelas convergem, quando vistas em perspectiva (PF), como mostra a Fig 5.
Em alguns tipos de perspectiva são necessários dois ou mais pontos de fuga.
Em situações como estas poderão ter pontos tanto na linha do horizonte
quanto na linha vertical do ponto de vista (perspectiva com 3 pontos de fuga).
Em alguns casos é possível o ponto ficar fora tanto da linha do horizonte
quanto do ponto de vista.

Fig 5 – Ponto de fuga.


Fonte: http://www.sobrearte.com.br/
LINHAS DE FUGA
São as linhas imaginárias que descrevem o efeito da perspectiva
convergindo para o ponto de fuga (linhas convergentes pontilhadas). É o
afunilamento dessas linhas em direção ao ponto que geram a sensação visual
de profundidade das faces em escorço dos objetos em perspectiva. O uso dos
elementos da perspectiva, em conjunto, permitem a elaboração de esquemas
gráficos necessários para desenhar objetos contextualizados em ambientes ou
paisagens sem distorção estrutural (Fig 6).

Fig 6 – Linha de fuga.


Fonte: http://www.sobrearte.com.br/

TIPOS DE PERSPECTIVA
(o conteúdo a seguir foi retirado do site www.sobrearte.com.br)

Dependendo da posição ou do nível visual em que um objeto esteja em


relação ao observador, a sua representação em perspectiva pode ser aplicada
com até 5 pontos de fuga. Quantos mais pontos a imagem tiver, mais distorcida
ela será*. No nosso curso, estudamos, comumente, a perspectiva com 1, 2 e 3
pontos de fuga (denominadas, respectivamente, de perspectiva paralela,
oblíqua ou aérea). Veja a seguir sobre cada uma dessas perspectivas com o
auxílio ilustrativo de um cubo em vários exemplos.

PERSPECTIVA COM 1 PONTO DE FUGA


Vídeo de desenho para apoio

No desenho em perspectiva com 1 ponto de fuga (ou perspectiva


paralela), as linhas de fuga deslocam-se apenas para um ponto (PF). Objetos
nessa situação apresentam sua face frontal paralela ao observador, tanto os
que estão localizados a sua frente (cubo B) quanto a sua esquerda (cubo A) ou
à direita (cubo C). Um detalhe a ser observado é que, nessa perspectiva, o
ponto de vista (PV, linha pontilhada vertical) localiza-se representado em
posição perpendicular a linha do horizonte situado tão próximo ao ponto de
fuga que parece estar sobre ele (PF), como mostra a Fig 7.

Fig 7 – Perspectiva com 1 ponto de fuga.


Fonte: http://www.sobrearte.com.br/

*
Para fins de curiosidade, a seguir encontram-se, respectivamente, links para vídeos
demonstrando os desenhos de perspectivas com 4 e 5 pontos de fuga: link e link.
PERSPECTIVA COM 2 PONTOS DE FUGA
Vídeo de desenho para apoio

Quando um o objeto fica em posição oblíqua, ou seja, com uma de suas


arestas ou quinas voltada para o observador, suas linhas de fuga deslocam-se
para dois pontos (PF1 e PF2). Em casos como este, como pode ser visualizado
na ilustração do cubo a direita, observe que nenhuma linha na estrutura do
objeto foi representada na posição horizontal. Quando não são verticais é
porque deslocam-se para um dos pontos de fuga.

Em relação ao ponto de vista (PV), sua representação na linha do


horizonte está centralizada entre os dois pontos de fuga (PF1 e PF2). E estes,
por sua vez, devem estar o mais distante possível um do outro para evitar erros
no desenho como veremos na demonstração passo a passo específica sobre o
cubo em perspectiva oblíqua (Fig 8).

Fig 8 – Perspectiva com 2 pontos de fuga.


Fonte: http://www.sobrearte.com.br/
PERSPECTIVA COM 3 PONTOS DE FUGA
Vídeo de desenho para apoio

Quando observamos um objeto em posição oblíqua a partir de um nível


visual bastante alto, para melhor representá-lo tridimensionalmente, é
necessário o uso de três pontos de fuga. Dois deles ficam na linha do horizonte
e o terceiro é representado na vertical do ponto de vista. Em circunstâncias
como estas, raramente visualizamos a existência de linhas horizontais ou
verticais na estrutura do objeto. Todas são convergentes e deslocam-se para
um dos três pontos de fuga.

Quando observamos um objeto em posição oblíqua a partir de um nível


visual bastante alto dizemos que a perspectiva é aérea (ou com o 3º ponto
abaixo da linha do horizonte), como demonstrado pela Fig 9.

Fig 9 – Perspectiva aérea.


Fonte: http://www.sobrearte.com.br/

Já a chamada “perspectiva de esgoto” se caracteriza no nível visual


muito baixo do observador, tornando-a oposta no modo de visualização,
alterando, portanto, a localização do terceiro ponto de fuga (PF3). Nesse novo
contexto ele é representado acima da linha do horizonte, como ilustra a Fig 10.
Fig 10 – Perspectiva de esgoto.
Fonte: http://www.sobrearte.com.br/

Para pôr as em prática as perspectivas, treinem com algumas fotos


compartilhadas no Google Drive e no nosso grupo do Facebook! Abraços e
bom trabalho!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2 Point Perspective Part 1. Disponível em: <https://www.youtube.com


/watch?v=KE3ZkWtX8UU>. Acesso em 09 de novembro de 2014.

4 Point Perspective. Disponível em: <https://www.youtube.com


/watch?v=YHGsXw7UO4U>. Acesso em 10 de novembro de 2014.

5 Point Perspective. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=9TfknYfnabs>. Acesso em 10 de novembro de 2014.

Estudo de desenho: perspectiva. Disponível em:


<http://www.sobrearte.com.br/desenho/perspectiva/elementos_da_perspectiva.
php/>. Acesso em 09 de novembro de 2014.

HUGHES, Robert. The Shock of the New. BBC, 1987.

PANOFSKY, Erwin. A perspectiva como forma simbólica. Edições 70,


1927.

One point perspective. Disponível em: <https://www.youtube.com


/watch?v=zrYDFnaKc7s>. Acesso em 09 de novembro de 2014.

Percepção Quadridimensional. Disponível em: <http://www.webartigos


.com/artigos/percepcao-quadridimensional/79617/>. Acesso em 09 de
novembro de 2014.

Perspectiva (gráfica). Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/


Perspectiva_(gr%C3%A1fica)>. Acesso em 09 de novembro de 2014.

Three-Point Perspective. Disponível em: <https://www.youtube.com


/watch?v=aL4tqD17myI>. Acesso em 09 de novembro de 2014.

VASARI, Giorgio. Vidas dos artistas. Martins Fontes, 2011.

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