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FUNDAMENTOS FORMAIS
DA REPRESENTAÇÃO
VISUAL
NELSON MACEDO
2016
INTRODUÇÃO
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ções, p. ex., sabemos disso intuitivamente, mas não faz parte da experiência
corrente a existência dos elementos plásticos, com os quais o desenhista tra-
balha diretamente e que são a matéria-prima da forma visual. Assim é porque
os dados sobre os objetos reais são referências intelectuais racionalizáveis
com as quais estamos familiarizados, enquanto os elementos abstratos da
forma escapam à nossa compreensão racional. Essa condição é um fato na-
tural, eles não participam e nunca são solicitados na nossa vivência cotidiana,
eles só têm importância para o artista. Temos que buscar, então, e em primei-
ro lugar, esses elementos plásticos materiais que constituem a forma visual,
que são: o ponto, a linha, o claro-escuro e a cor. Esse é o primeiro e defini-
tivo passo no estudo da forma artística, mesmo quando se está realizando
um desenho absolutamente “realista”. Não se trata, entretanto, de negar ou
ignorar o objeto representado e cair na pura abstração, é apenas uma questão
de ênfase, de hierarquia: colocamos os elementos plásticos em primeiro lu-
gar, ficando o objeto referência em segundo plano, mas não ignorado. Como
é o caso, por exemplo, do efeito de luz e sombra, quando temos que levar em
consideração a realidade física do objeto e as informações sobre ela: se ele é
esférico, como no caso de uma laranja, cilíndrico, como no de uma garrafa,
etc., pois a luz e a sombra vão se apresentar de modo diferenciado de acordo
com a forma básica de cada objeto no espaço.
Assim, o ensino artístico deve se dar a partir dos fundamentos que regem
a criação da forma e não a partir da constituição física do objeto real. Esse é
o primeiro problema da objetividade na produção da arte: não se desenha o
objeto referência, mas se desenha o próprio Desenho.
Esta é a orientação desta apostila, que visa uma introdução aos fatos bási-
cos da representação visual. Nela são tratados apenas a linha e o claro-escu-
ro, pois o ponto não tem a mesma relevância dos outros elementos e a cor
será considerada à parte. Sua simplicidade é apenas aparente, pois aqui estão
colocados os princípios mais elementares e fundamentais da forma repre-
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A CONFIGURAÇÃO
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A B
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A LINHA
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Desenhar uma linha é, então, desenhar uma direção no campo visual. Daí
que, ao traçar qualquer linha, devemos estar conscientes da direção que ela
define, do seu percurso no papel. É por essa razão que Delacroix afirmou
que, antes de colocar o lápis no papel, o pintor tem que se dar conta das dire-
ções principais do modelo. O desenho surge da combinação dessas direções
e o resultado final é um efeito geral criado pelo conjunto dinâmico das linhas
traçadas sobre o papel. A consciência dessas direções é um componente fun-
damental do ato de desenhar. Assim é tanto para uma configuração abstrata
(fig. A) como para uma representativa (fig. B). Num primeiro momento, as
linhas devem ser traçadas uma a uma e de forma independente umas das
outras:
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B
Devemos ter em mente que existe uma hierarquia entre as linhas que
constituem o desenho. Algumas linhas serão sempre mais importantes que
outras, e o desenhista deve identificar e selecionar estas linhas. Nesse sentido,
devemos traçar as que julgamos mais importantes em primeiro lugar e de-
pois completar com as secundárias. Esse julgamento é subjetivo, é de ordem
particular a cada um, não há regras a serem seguidas. Nesse âmbito, as no-
ções de “certo” e “errado” devem desaparecer da mente do artista. Normal-
mente, entretanto, aquelas linhas mais abrangentes tendem a ser vistas como
mais essenciais para o conjunto. Essa seleção, essa escolha, não é, portanto,
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Além disso, essas direções gerais não são ainda o contorno definitivo da
configuração do objeto. As linhas de contorno só aparecem num segundo
momento da produção do desenho. Elas são definidas pelo percurso que
descrevem e pelos acidentes que apresentam neste percurso. Por exemplo, o
perfil de uma montanha:
1º momento: marcação das direções.
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As recomendações acima não são regras fixas, pois não há regras a se-
rem seguidas no ato de desenhar. Elas dizem respeito a um modo de ser da
imagem visual. O aluno não pode esquecer que o desenho que ele faz é uma
imagem e que esta possui uma realidade própria, distinta e à parte da realida-
de da natureza. Podemos definir o desenhista como alguém que compreen-
deu a natureza do desenho e trabalha sobre ela e a partir dela.
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O CLARO-ESCURO
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Essas áreas abstratas são definidas pelos diferentes grupos de cinzas que
subdividem o campo visual selecionado, seja ele qual for:
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EXEMPLOS
Para que fique mais evidente a importância desse fato formal e da ênfa-
se que os pintores sempre deram à estrutura abstrata dos cinzas no campo
visual, tornando-a um elemento ativo da composição, apresentamos abaixo
quatro exemplos ilustrativos. Neles podemos observar a presença de uma
intencionalidade sobre as áreas abstratas, as quais são também desenhadas,
possuem suas configurações específicas e um desenho próprio e indepen-
dente dos objetos representados:
1. Um estudo que Poussin realizou para o quadro que serviu mais acima
como exemplo demonstra o interesse específico do pintor sobre esse plano
de realidade da forma visual;
2. Quadro de Delacroix e sua respectiva estrutura abstrata de valores de
claro-escuro;
3. Uma paisagem de Turner com seus valores abstratos, onde se observa
que o pintor trabalhou com as fusões, ao contrário de
4. Cotman, que trabalhou com os recortes, separando o campo visual em
áreas abstratas.
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1. Poussin
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3.Turner
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4.Cotman
É fácil observar que em Turner e Cotman a ordenação abstrata dos va-
lores praticamente resume a composição, tal é a ênfase que os dois artistas
conferem a ela, ficando os objetos representados sugeridos pelo contexto.
Não há o efeito de luz e sombra, tudo se dá sobre a ordenação abstrata do
campo visual.
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3. Sombra projetada:
A sombra que o objeto lança sobre o plano em que está apoiado ou sobre
outro objeto a seu lado é chamada sombra projetada.
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4. Luz refletida:
A luz que atinge os objetos atinge também o ambiente e o plano em que
estão apoiados e, ao atingir esse plano, ela se irradia em torno e ilumina suas
áreas de sombra natural. Daí a presença de uma claridade suave no interior
das áreas de sombra natural. As sombras projetadas também recebem essa
irradiação de luz refletida, só que com menor intensidade. Essa luz no inte-
rior das sombras é chamada de luz refletida.
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Assim, o esquema geral da relação de luz e sombra nos objetos está com-
posto por quatro elementos: luz natural (LN), sombra natural (SN), sombra
projetada (SP) e luz refletida (LR):
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O ATO DE DESENHAR COMO
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DA IMAGEM
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3. A seleção das luzes mais intensas (que são os pontos e áreas mais
claras do desenho);
4. As áreas de sombra natural, de luz natural e de sombra projetada
dos objetos;
5. A distribuição das áreas abstratas de valores, as modulações e o mo-
vimento dos cinzas no campo inteiro do desenho;
6. As luzes refletidas (no interior da sombra natural dos objetos);
7. O desenho final, contendo todos os fatos visuais de 1 a 6, aonde
eles aparecem superpostos, sendo percebidos simultaneamente;
Cada passo da sequência trabalha e constitui um elemento formador do
desenho, e o resultado é como um somatório de todos eles, que ficam super-
postos na forma do desenho:
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Devemos ter sempre em mente que, na representação visual de um objeto
do natural, estamos simultaneamente afirmando: (1) o plano (do papel onde
corre o lápis) e (2) o espaço (onde esse objeto tem sua existência e que lhe é
constituinte). Nesse sentido, os fatos visuais presentes na forma configurada
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APÊNDICE
A TÉCNICA DO BICO-DE-PENA
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A)
B)
As penas mais rígidas são mais propícias para as linhas sem modulação,
enquanto as mais maleáveis facilitam as modulações. Nesses casos, as varia-
ções na espessura acontecem pela simples variação na pressão sobre a pena,
a qual, afastando as duas metades em que se divide a ponta, produz esse
efeito:
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branca.
O artista não trabalha como uma máquina que se define por sua efici-
ência em atingir determinados objetivos previamente estabelecidos, daí que
o aluno não deve projetar o resultado final como algo fixo, mas procurar
entender e se concentrar no processo de produção do desenho. As noções
de “perfeição”, “eficiência”, etc. não têm lugar aqui. Elas só servem para
conferir ao ato de desenhar a ao próprio artista um caráter mecânico, como
se tudo dependesse de um adestramento e nada mais. Para um resultado
mecânico usam-se instrumentos e meios mecânicos, e não a mão livre com
suas variações naturais. Não há nenhum mérito artístico no fato de alguém
conseguir traçar à mão livre um círculo perfeito ou uma linha absolutamente
reta, pois para isso existem o compasso e a régua. O estudo do desenho não
corresponde a um “adestramento da mão”, mas a uma compreensão dos
problemas que constituem o ato de produção de uma imagem.
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