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Linguagem Visual

Material Teórico
Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Claudemir Nunes Ferreira

Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Introdução aos elementos
da Linguagem Visual

• Introdução
• Ponto
• Linha
• Forma

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Abordar os elementos básicos da linguagem visual - ponto, linha e
forma; seus conceitos; características; funções e variações; além de
alguns de seus valores agregados.
· Compreenderemos suas relações na composição e aplicações nas
artes visuais, exemplificadas em obras de diferentes linguagens,
períodos e estilos.

ORIENTAÇÕES
Iniciaremos nossos estudos com uma breve introdução sobre a linguagem
visual e, em seguida, analisaremos seus elementos construtivos básicos. O
ponto, a unidade mais simples e irredutível da linguagem visual e seu poder
de atração visual. A linha, o elemento que registra um gesto numa superfície,
demarca espaços, traça caminhos, dá lugar à forma e atribui dinamismo
à composição, com todos os seus diferentes modos de apresentação. E,
por fim, a forma, o elemento originado pela organização de um conjunto
de linhas que configura a imagem representada. Exemplificaremos ainda
suas relações na composição e aplicações nas artes visuais com a análise
de diversas obras.
Após ler o Conteúdo teórico, não deixe de realizar as Atividades de
sistematização e de Aprofundamento, e explore também o Material
complementar para ampliar seus conhecimentos.
Bons estudos!
UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Contextualização
A linguagem visual é universal, rompe barreiras, aproxima. Diferentemente da
linguagem verbal, formada por um conjunto de códigos distintos e característicos
de uma determinada cultura em um determinado período, os elementos da
linguagem visual são únicos, reconhecíveis e utilizados por qualquer pessoa,
independentemente de sua língua nativa ou aprendida, do local onde viva ou do
momento histórico.

Também é nata, nascemos com a capacidade de ver e logo aprendemos a dar


significados a tudo que apreendemos com o olhar. Desde muito cedo, o bebê
identifica a fisionomia da mãe entre tantas outras, familiares ou não, já sabe que
será alimentado ao visualizar a mamadeira se aproximar e é capaz de reconhecer o
estado de espírito das pessoas ao seu redor pela expressão facial.

Muito antes de dominar a linguagem escrita, ou mesmo a oral, a criança se


expressa através da linguagem visual. Três pontos e uma linha, dentro de uma
forma parecida com um círculo, formam um rosto, e mais cinco linhas completam
um corpo. Algo parecido com isso é o primeiro autorretrato que todos nós já
fizemos, usando esses mesmos elementos também para representar as pessoas e
animais presentes em nossa infância. Um triângulo sobre um quadrado é uma casa.
Dois retângulos, um menor sobre um maior, com mais dois círculos, um carro.

A criança não tem consciência disso, mas desde muito cedo ela já trabalha,
à sua maneira, com os mesmos elementos da linguagem visual que os artistas e
designers trabalham de uma forma mais aprimorada.

Nós, mesmo impactados por milhares de imagens a todo o momento, geralmente


não pensamos em como elas foram estruturadas, quais são seus elementos
construtivos, como são combinados e quais seus significados agregados. Ou mesmo
quando nos expressamos através de imagens, talvez não saibamos ao certo por
que escolhemos e combinamos de tal forma seus elementos, nem se exploramos
todos os seus potenciais para comunicar uma ideia. Como já dizia o filósofo chinês
Confúcio no século V a.C., “uma imagem vale por mil palavras”.

Não deixem de refletir sobre os conhecimentos que serão assimilados nesta


unidade e bons estudos!

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Introdução
Somos impactados diariamente por milhares de imagens - televisão, cinema, rede
mundial de computadores, vídeos, fotografias, anúncios publicitários, sinalizações
e intervenções urbanas, entre tantos outros meios. A exposição às múltiplas
manifestações visuais gera a necessidade de uma educação específica para saber
ver e identificar as ideias, sentimentos e significados contidos nessas imagens.

Assim como a linguagem verbal (oral e escrita) é constituída por palavras, a


linguagem visual é constituída por um conjunto de elementos fundamentais, como
ponto, linha, forma, tom, textura, cor, escala, direção, dimensão e movimento.
Elementos básicos que podem ser apreendidos e compreendidos por todos.

Cada um desses elementos tem características próprias e assume uma função


específica na constituição de uma imagem. A partir de suas várias possibilidades de
aplicação e combinação, expressam pensamentos de diversas maneiras. Saber perceber
e distingui-los individualmente, enfatizando suas características próprias e efeitos, ou
associados em conjunto, favorece tanto a elaboração quanto a leitura formal correta de
uma imagem, além de compreensões mais amplas de seus significados.

Ponto
O ponto é o elemento mais simples e irredutível da linguagem visual, o primeiro
elemento que detém nossa atenção em uma composição. O formato arredondado
corresponde à sua apresentação mais recorrente na natureza. Qualquer ponto
exerce um grande poder de atração visual sobre o olho humano, sendo um elemento
útil de referência espacial (Fig.1).

Figura 1
O encontro da ponta de um lápis, de um pincel ou de qualquer outro material
ou instrumento sobre uma superfície já indica a existência do ponto. Ele pode
ser o “ponto de partida” de uma obra, o gesto que desencadeia o processo de
configuração de linhas e formas.

Quando vistos em conjunto, os pontos se ligam e são capazes de conduzir


o nosso olhar sobre uma superfície. Essa capacidade é intensificada pela maior
proximidade entre eles (Fig.2).

Figura 2

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Quando justapostos em grande número, os pontos se fundem no olhar do


espectador, criam a ideia de unidade e podem configurar imagens complexas. As
diferentes quantidades, tamanhos e distâncias entre si podem criar a ilusão de
texturas e tonalidades diversas (Fig.3).

Figura 3

Esse fenômeno perceptivo foi explorado por Georges Seurat em seus trabalhos
pontilhistas, nos quais a partir da justaposição de pontos formam-se imagens
complexas com cores e tons extremamente variados (Fig.4). O artista acreditava
que as cores eram vistas como pontos de pigmento e que se colocasse pequenos
pontos uns ao lado dos outros, com uma certa distância, criaria uma imagem
completa com intensa luminosidade.

Figura 4 – La parade (1889) – Georges Seurat


Fonte: www.obviousmag.org

Figuras 4a e 4b (detalhes)
Fonte: www.obviousmag.org

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A obra-prima de Seurat, Uma tarde de domingo na ilha da Grande Jatte
(Fig.5) é a maior representante do Pontilhismo. A paisagem apresenta 48 pessoas,
8 barcos, 3 cachorros e 1 macaco, todos formados por pequenas manchas verticais
e horizontais e por pontos de cor que, justapostos, provocam uma mistura óptica
nos olhos e compõem a imagem final como a percebemos. A técnica é uma
consequência das experimentações realizadas pelos impressionistas anos antes.

Figura 5 - Uma tarde de domingo na ilha da Grande Jatte (1884-1885) – Georges Seurat
Fonte: www.obviousmag.org

Você Sabia? Importante!

O Pontilhismo surgiu na França por volta de 1880. Trata-se de uma técnica de


pintura em que o artista faz desenhos e representações usando pequenos pontos ou
manchas (muitas vezes só de cores primárias), criando um efeito óptico diferente
da pintura convencional. O Pontilhismo teve como artistas e teóricos principais
Georges Seurat e Paul Signac.

O mesmo procedimento para a obtenção de cores e tons amplamente variados


foi adotado pela indústria gráfica no processo de impressão conhecido como
quadricromia, no qual é possível reproduzir qualquer imagem com a maioria das
cores do espectro visual utilizando apenas as quatro cores do padrão CMYK: C =
Cyan (azul), M = Magenta, Y = Yellow (amarelo) e K = Black (preto).

Nesse processo de impressão, a imagem é decomposta em quatro conjuntos


distintos de pontos, um para cada uma das quatro cores, costumeiramente
chamados de retículas (Fig.6). As retículas de cada uma das cores apresentam
distâncias variadas entre os pontos que a compõem. Esse recurso é chamado de
meio tom e controla a quantidade de tinta que será transferida para o papel.

Figura 6 – Decomposição de uma imagem em quadricromia


Fonte: www.obviousmag.org

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Quando os pontos de cada uma das retículas


são justapostos sobre o papel, nossos olhos os
percebem em conjuntos e é essa mistura de cores
que forma a ampla gama de tons que percebemos
na imagem final (Fig.7). Os pontos amarelos
justapostos aos pontos magentas criam os tons
de laranja da flor, e assim acontece com todas as
Figura 7
demais cores e suas variações de tons nesta
Fonte: Wikimedia Commons
imagem, formada pela justaposição de pontos de
apenas quatro cores.

O princípio de formação das imagens digitais é similar. São milhares de pontos


que justapostos compõem as imagens com a ampla gama de cores e tons que
percebemos. A unidade mínima das imagens digitais é conhecida como pixel.

Figura 8 – Fotografia de Lisa Armstrong


Fonte: nationalgeographic.com

Muitos artistas contemporâneos também elegeram o ponto como o elemento


visual primordial em suas composições.

O artista pop americano Roy Lichtenstein, além de apropriar-se de imagens das


histórias em quadrinhos em suas obras, copiou também o seu processo de impressão.
Na década de 60, os quadrinhos em cores eram impressos pela técnica Benday dots,
na qual os pontos de cor são aplicados sobre a superfície com uma certa distância
e deixam para o olho humano a tarefa de uni-los para compor a imagem final. A
técnica, baseada nos mesmos princípios do pontilhismo, era aplicada na impressão
dos quadrinhos para minimizar seu custo final de produção. Lichtenstein, ao copiar
a técnica, encontrou o estilo que tornaria suas obras imediatamente reconhecíveis.

Figura 9 – M-Maybe (1965) - Roy Lichtenstein


Fonte: popart.paginaoficial.ws

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A série Spot paints do inglês Damien Hirst compreende inúmeras obras
constituídas apenas por pontos, geralmente coloridos e em disposições simétricas,
em composições que variam de apenas 1 a 25.781 pontos pintados em telas de
diferentes formatos, que podem chegar a mais de 12 metros.

Figura 10 – 2-Amino-5-Bromobenzotrifluoride (2011) – Damien Hirst


Fonte: damienhirst.com

Na série de fotografias Divas e monstros, o brasileiro Vick Muniz reproduz


imagens icônicas do cinema - estrelas e monstro, a partir de diamantes e caviar,
respectivamente. Cada unidade desses materiais isolada pode ser considerada
como um ponto, e a imagem final é configurada pelo ajuntamento deles.

Figura 11 – Marilyn (2004) – Vick Muniz


Fonte: vikmuniz.net

Figura 12 – Frankenstein (2004) – Vick Muniz


Fonte: vikmuniz.net

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

O ponto também é o elemento primordial no trabalho da artista japonesa Yayoy


Kusama, inserido em distintas linguagens, como escultura e instalação, além da pintura.

Figura 13 – Broken heart (2012) Figura 14 – I’m here, but nothing (2000-2014)
Pintura – Yayoy Kusama Instalação com bolinhas fluorescentes – Yayoy Kusama.
Fonte: vejasp.abril.com.br Fonte: guia.uol.com.br

Figura 15 – Filled with the brilliance of life (2011) - Instalação com luzes de LED
refletidas ao infinito em espelhos dispostos no teto e nas paredes – Yayoy Kusama
Fonte: guia.uol.com.br

Qualquer forma, um objeto ou mesmo uma figura humana, dependendo do


referencial e das proporções, pode assumir-se como um ponto em uma composição
ao apresentar sua característica essencial – o poder de atração visual (Fig.16).

Figura 16 – Dusseldorf, Flughafen II (1994) - Andreas Gursky


Fonte: artgallery.nsw.gov.au

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Nesse caso, tais elementos são denominados de focos de atenção e, dependendo
de sua posição no espaço, podem sugerir um maior ou menor dinamismo à
composição (Fig.17).

Figura 17 – Startende Blässhühner (1949) - Siegfried Lauterwasser


Fonte: photoscala.de

Linha
A linha é o elemento visual formado por uma cadeia de pontos, tão próximos entre
si que se torna impossível identificá-los individualmente, ou, em outras palavras, pode
ser definida como a trajetória de um ponto pelo espaço. A linha nunca é estática, sua
natureza linear fluida aumenta a sensação de direção e sugere movimento.

A linha raramente existe na natureza, mas pode ser sugerida pelo meio fio de uma
calçada, pelo cabeamento da energia elétrica, pelos postes e prédios observados
a distância, pelos caules das plantas, pelos ramos secos de uma árvore e pelo
horizonte. Na arte, é o elemento essencial do desenho, que captura a informação
visual e a reduz a um estado em que só o essencial permanece e toda a informação
supérflua é eliminada.

A linha registra um gesto numa superfície,


demarca espaços, traça caminhos, dá lugar
à forma, atribui dinamismo à composição e
pode apresentar-se de diferentes modos, de
acordo com a intenção da obra. Pode ser
usada objetivamente para criar ideogramas,
na representação das notas musicais ou do
alfabeto na escrita, no desenho de mapas,
nos projetos arquitetônicos, na definição
dos limites externos do formato de um
Figura 18 – Estudo para o Monumento Sforza
objeto, na elaboração de esboços, de (1488-1489) – Leonardo Da Vinci
desenhos e na elaboração de obras maiores. Fonte: leonardoda-vinci.org
A linha conforma, contorna e delimita as
coisas de um modo geral.

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Subjetivamente, a linha pode sugerir diversos estados emocionais, incluindo


sentimentos e sensações, como raiva, tensão, hesitação, angústia, tranquilidade,
energia, equilíbrio e densidade, entre outros, agregando significados diversos a uma
imagem. Na obra Minha mãe morrendo (Fig.19), Flávio de Carvalho conseguiu
transmitir toda a angústia do tema utilizando-se exclusivamente de linhas.

Figura 19 – Minha mãe morrendo (1947) – Flavio de Carvalho


Fonte: mac.usp.br

Além da capacidade de descrever fatos e emoções, as linhas podem expressar


ações, no sentido gestual, sugerindo movimento ao tema representado. As linhas
gestuais são traçadas com liberdade, rapidez e, aparentemente, desinibição, como
na obra Trio (Fig.20), cujas linhas evocam a energia dos músicos.

Figura 20 – Trio (1966) – Steve Magada


Fonte: sapalmer.wordpress.com

As características físicas da linha se relacionam intimamente com outros


elementos visuais, já que a linha pode possuir valor tonal, cor e textura, conferindo
esses elementos à composição em si própria. Por isso, em muitas composições, os
artistas exploram esses valores intrínsecos em obras nas quais a linha predomina
em relação aos demais elementos.

O grau de luminosidade ou escuridão que uma linha apresenta contra o


seu fundo é chamado de valor tonal e esse grau pode variar de acordo com as

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características físicas da linha – as linhas mais grossas criam tons escuros e as mais
finas, tons claros. Em grupos de linhas paralelas, as variações de valor tonal podem
ser controladas tanto pela espessura das linhas quanto pelo espaçamento entre
elas. É o que chamamos de hachura. Valores tonais mais baixos (escuros) podem
ser obtidos com o uso da hachura cruzada, na qual dois grupos de linhas paralelas
cruzam-se em direções distintas.

As hachuras são muito utilizadas em gravuras, nos desenhos e ilustrações


produzidos em preto e branco, pois ajudam a dar sensação de sombreamento e
tridimensionalidade às imagens. A gravura Knight, death, and the devil (Fig.21),
de Albrecht Dürer, apresenta diferentes valores tonais obtidos apenas com o uso de
hachuras, simples e cruzadas, com diferentes espaçamentos entre as linhas.

Figura 21 – Knight, death, and the devil (1513–14) - Albrecht Dürer


Fonte: metmuseum.org

Grupos de linhas também podem ser combinados ou instrumento e materiais


utilizados em seu traçado – pincéis de cerdas duras ou suaves, tintas diluídas ou
viscosas, diferentes lápis e creions ou o próprio dedo, para criar uma textura
visual e sugerir uma sensação tátil à imagem. Em obras produzidas com tinta
acrílica e técnicas mistas sobre tela, o artista Jean-Michel Basquiat criou diversas
superfícies texturizadas por meio de muitas combinações de linhas traçadas em
diferentes técnicas.

Figura 22 Sem título (Crânio) (1981) – Jean-Michel Basquiat


Fonte: thebroad.org

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Nas artes tridimensionais, como escultura e instalação, a linha corresponde a


um fenômeno visual. Interpretamos visualmente como linhas as mudanças de valor
tonal, cor ou textura que indicam o encontro dos planos (Fig.23), além dos próprios
limites da figura.

Figura 23 – Development of a bottle in space (1913) – Umberto Boccioni.


Fonte: metmuseum.org

Materiais como barbantes, arames, tubos e barras maciças permitem


explorações mais lineares do espaço, trazendo as características intrínsecas da
linha nas composições bidimensionais para as tridimensionais, como podemos
observar no móbile (Fig. 24) de Alexandre Calder e na construção (Fig.25) de
Mark Di Suvero.

Figura 24 – Spider (1939) – Alexandre Calder.


Fonte: moma.org

Figura 25 – Iroquois (1983-1999) - Mark di Suvero.


Fonte: archive.fpaa.org

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As linhas possuem diversas classificações, de acordo com suas características
físicas, como a qualidade, tipo, direção e posição.

A qualidade corresponde às propriedades mensuráveis da linha – comprimento,


espessura e continuidade, estabelecendo uma dinâmica emocional:

Linha longa ou curta (Fig.26).

Figura 26
Linha grossa ou fina (Fig.27): as linhas grossas tendem a comunicar uma maior
sensação de estabilidade e são mais impactantes, enquanto as finas são mais
elegantes, suaves e delicadas.

Figura 27
Linha contínua, tracejada, pontilhada ou combinada (Fig.28): na linha contínua
o traço é feito sem nenhuma interrupção, tornando o movimento visual mais
rápido; a linha pontilhada é representada por meio de pontos e o intervalo entre
eles tornam o movimento mais lento; a linha tracejada é representada por traços e
quanto maior o intervalo entre eles, mais lento e pesado torna-se o movimento; as
linhas combinadas são formadas por pontos e traços alternados.

Figura 28

O tipo corresponde ao movimento inerente à linha, à sua trajetória:

Linha reta (Fig.29): a trajetória segue em uma única direção. Devido à sua
continuidade, transmite a impressão de dureza e rigidez.

Figura 29 – Composition C (1935) – Piet Mondrian


Fonte: piet-mondrian.org

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Linha curva (Fig.30): as mudanças de direção ocorrem gradualmente e pode


formar um arco de circunferência ou continuar aumentando sua angularidade e
gerar uma espiral. É naturalmente graciosa, porém um tanto instável.

Figura 30 – The spiral jetty (1970) – Robert Smithson


Fonte: unews.utah.edu

Linha sinuosa ou ondulada (Fig.31): é composta por uma sequência de linhas curvas
em constante mudança de direção que a torna ondulada. Transmitem instabilidade.

Figura 31 – O grito (1893) – Edvard Munch


Fonte: obviousmag.org

Linha angular ou poligonal (Fig.32): as mudanças de direção são repentinas,


abruptas. É muito instigante. Como nossos olhos têm certa dificuldade para se
adaptarem aos desvios de direção inesperados, causa excitação e/ou confusão.

Figura 32 – Bahrain I (2005) - Andeas Gursky


Fonte: tate.org.uk

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Linha de contorno ou mista (Fig.33): uma mesma linha ainda pode ser mista,
por exemplo no contorno de uma figura, mesclando trajetórias.

Figura 33 – Untitled (1982) – Keith Haring


Fonte: haring.com

A direção da linha conduz o nosso olhar dentro da composição e existe


independentemente de sua trajetória inerente, podendo contradizer ou enfatizar o
seu tipo, ou seja, tanto uma linha reta quanto uma ondulada podem assumir uma
posição predominantemente vertical, horizontal ou diagonal na composição.

Figura 34 – Desenhos de parede – Sol LeWitt


Fonte: extensao.cecierj.edu.br

Linha horizontal (Fig.35): indica serenidade e equilíbrio.

Figura 35 – Lake superior, Cascade River (1995) - Hiroshi Sugimoto


Fonte: pbs.org

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Linha diagonal ou inclinada (Fig.36): sugere agitação, movimento e instabilidade.

Figura 36 – Desenho de parede 279 (1975) – Sol LeWitt


Fonte: saatchigallery.com

Linha vertical (Fig.37): tende a sugerir equilíbrio e expectativa.

Figura 37 – Cathedra (1951) – Barnett Newman


Fonte: stedelijk.nl

A posição de uma linha refere-se ao seu posicionamento em relação às demais


linhas presentes na composição.

Linhas paralelas (Fig.38): seguem na mesma direção.

Figura 38

Linhas perpendiculares (Fig.39): são linhas que se cruzam formando um


ângulo reto.

Figura 39

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Linhas convergentes (Fig.40): partem de pontos distintos e dirigem-se para o
mesmo ponto.

Figura 40

Linhas divergentes (Fig.41): partem do mesmo ponto e dirigem-se para


pontos distintos.

Figura 41

Forma
A forma corresponde ao elemento visual descrito pela linha. As formas
bidimensionais, que apresentam apenas largura e altura, são chamadas de planos
e destacam-se do entorno por seus limites definidos pela linha ou pelos contrastes
de valor tonal, cor e textura. Existem três formas básicas (Fig.42): o quadrado, o
círculo e o triângulo equilátero.

Figura 42

Cada uma das formas básicas possui características específicas e a cada uma
delas são atribuídos significados por associação, vinculação arbitrária ou por
percepções psicológicas ou fisiológicas.

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Quadrado: figura formada por quatro lados com o mesmo comprimento e ângulos
retos, à qual se associam retidão, equidade, estabilidade, solidez, confiabilidade, resistência.

Figura 43 – Homage to the square: glow, (1966) - Josef Albers


Fonte: hirshhorn.si.edu

Círculo: figura continuamente curva que apresenta todos os pontos de seu


contorno equidistantes de seu ponto central, à qual se associam infinitude, calidez,
proteção e perfeição.

Figura 44 - Rowan leaves laid around hole (1987) - Andy Goldsworthy


Fonte: anothermag.com

Triângulo equilátero: figura formada por três lados e ângulos iguais, à qual se
associam ação, força, conflito e tensão. Estabilidade (com um dos lados na base) ou
instabilidade (com um dos ângulos na base)

Figura 45 - Concreção 5629 (1956) - Luiz Sacilotto


Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

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A partir das formas planas (bidimensionais) são constituídas as formas sólidas
(tridimensionais). Os tridimensionais correspondentes às três formas básicas planas
- quadrado, triângulo equilátero e círculo são, respectivamente, cubo, pirâmide
triangular ou tetraedro e a esfera (Fig.46 e 47).

Figura 46

A planificação exata da esfera é impossível, embora existam algumas


representações gráficas aproximadas como o mapa-múndi. Podemos considerar
que a esfera seja originada por uma rotação de 360 graus de um semicírculo em
torno de seu diâmetro.

Figura 47

Na série Construções espaciais, o artista construtivista Aleksandr Rodchenko


criou obras tridimensionais baseadas nas formas geométricas sólidas a partir da
união de formas bidimensionais correspondentes.

Figura 48 - Spatial construction nº 12 (1920) - Aleksandr Rodchenko


Fonte: moma.org/

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

Nas artes visuais, as formas sólidas (tridimensionais) podem existir tanto


fisicamente, como nas esculturas e instalações que ocupam espaços reais (Fig.49),
quanto em um plano bidimensional, quando criadas pelas leis da perspectiva ou por
efeitos ópticos (Fig.50), quando desenvolvidas em programas 3D (Fig.51) ou em
representações fotográficas (Fig.52).

Figura 49 - Trabum (1972) - Carl Andre Figura 50 – Vega lava (1984) - Vitor Vassarely
Fonte: c4gallery.com Fonte: vasarely.com

Figura 51 – Animação luxo, Jr - Pixar Figura 52 – Pyramids, Egypt – Foto de Jesus Oranday
Fonte: prism.gatech.edu Fonte: nationalgeographic.com

A partir da combinação e das variações infinitas das três formas básicas,


derivam-se todas as demais formas existentes fisicamente na natureza ou apenas na
imaginação humana, sejam elas bidimensionais ou tridimensionais, geométricas,
orgânicas e amorfas.

Formas geométricas: são figuras regulares, estruturadas, precisas e


frequentemente bem definidas. Assumem várias configurações, que incluem
triângulos, retângulos, hexágonos, pentágonos, elipses, cones, cilindros,
paralelepípedos, entre outros formatos constituídos pela matemática e, geralmente,
apresentam um caráter retilíneo (de linhas retas) ou curvilíneo (composto por
curvas). Na natureza podem ser encontradas nas conchas espirais, em favos de
mel, em flocos de neve e em pedras como o diamante.

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Figura 53 – PROUN 10 (1919) - El Lissitzky Figura 54 – Untitled (1969) – Donald Judd
Fonte: thecharnelhouse.org Fonte: guggenheim.org

Formas orgânicas: são figuras irregulares e fluidas, compostas por contornos


arredondados, curvos ou ondulados que sugerem os organismos vivos ou a força da
natureza. Podem ser encontradas no corpo humano, folhas, poças de água e nuvens.

Figura 56 – The dangerous logic of wooing (2002)


Figura 55 – La nuit (1953) Ernesto Neto
Fonte: joanmiro.co.uk Fonte: hirshhorn.si.edu

Formas amorfas: embora as formas


mais óbvias sejam criadas por limites
distintos e contínuos, tais linhas não são
fundamentais na constituição de uma
forma. Suas bordas podem ser meramente
sugeridas e, ainda assim, nossos olhos
são capazes de identificá-las, por exemplo,
quando observamos uma árvore sob uma
forte neblina, vemos uma forma embaçada
e com contornos imprecisos, ou seja, a
forma amorfa de uma árvore. Nas obras
impressionistas, que exploram o efeito
atmosférico da luz do sol, é muito comum Figura 57 - Le parlement (1904) – Claude Monet
Fonte: nga.gov.au
a presença de formas amorfas, já que o
objetivo é registrar a impressão causada pelo efeito da luz sobre a superfície do
objeto mais do que a representação naturalista do objeto em si.

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

As formas ainda podem ser figurativas ou não figurativas. Consideramos uma


forma figurativa quando ela representa algo, seja real ou fantástico, que podemos
identificar. As obras de arte tradicionais, produzidas até o fim do século XIX,
buscavam uma representação realista dos temas abordados. Os movimentos de
vanguarda, que se sucederam a partir do fim do século XIX, encontraram outras
maneiras de representar a realidade, entre elas a fragmentação geométrica do real
em diversos pontos de vista simultâneos nas obras cubistas (Fig.58), a primazia na
expressão dos sentimentos nas obras expressionistas (Fig.59) ou a fusão do real
com o onírico nas obras surrealistas (Fig.60).

Figura 58 - Girl with a mandolin (Fanny Figura 59 – The skat players (1920)
Tellier) (1910) – Pablo Picasso Otto Dix
Fonte: moma.org Fonte: ips-dc.org

Figura 60 – A pesistência da memória (1931) – Salvador Dalí


Fonte: infoescola.com

As formas presentes nessas obras são figurativas. Apesar da fragmentação,


distorção e expressividade, podemos identificar os temas representados.

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As formas não figurativas não são regidas pela representação. Em uma oposição
mais radical ao caráter representacional da arte tradicional ou priorizando a
autoexpressividade do artista, movimentos artísticos chegaram à abstração total. Em
algumas obras cubistas da fase sintética, por exemplo, o objeto foi tão fragmentado
que se tornou impossível identificá-lo (Fig.61).

Figura 61 - Still life with glass and lemon (1910) – Pablo Picasso
Fonte: pablo-ruiz-picasso.net

Inúmeros movimentos e artistas aderiram à abstração, que se tornaria um dos


eixos centrais da produção artística no século XX. Uma das vertentes abstracionistas,
chamada de informal ou lírica, foi influenciada pelo Expressionismo e pelo
Fauvismo, priorizando a expressão dos impulsos individuais, a emoção e o ritmo da
cor. Wassily Kandinsky, um dos organizadores do grupo alemão O cavaleiro azul,
é considerado o pioneiro na realização de pinturas não figurativas, com a obra
Primeira aquarela abstrata (Fig.62) e a série Improvisações. Formas orgânicas e
cores vibrantes são uma constante nas obras do Abstracionismo informal.

Figura 62 – Primeira aquarela abstrata (1910) – Wassily Kandinsky


Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br

Outra vertente, chamada de geométrico, é baseada nos fundamentos racionalistas


das composições cubistas, no rigor matemático e na depuração da forma. O
Abstracionismo geométrico está presente em muitos movimentos modernos, dentre
eles o Suprematismo, movimento artístico russo iniciado por Kasimir Malevich, e
o Neoplasticismo, doutrina estética proposta pelo artista holandês Piet Mondrian.

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UNIDADE Introdução aos elementos da Linguagem Visual

O Suprematismo defende uma arte comprometida com a pesquisa metódica da


estrutura da imagem, centrada nas formas geométricas básicas - particularmente
o quadrado e o círculo. A geometria suprematista se apresenta na célebre obra
Quadrado preto (Fig.63) de Malevich.

Figura 63 – Quadrado preto (1915) – Kasimir Malevich


Fonte: kazimir-malevich.org

O Neoplasticismo propõe uma nova forma de expressão plástica, liberta de


sugestões representativas e reduzida a seus elementos mínimos: a linha reta,
o retângulo e as cores primárias - azul, vermelha e amarela, além da preta e
branca, como na obra Composição com vermelho, amarelo, azul e preto
(Fig.64), de Mondrian.

Figura 64 – Composição com vermelho, amarelo, azul e preto (1921) - Piet Mondrian
Fonte: infoescola.com

Nas artes visuais nem sempre é fácil classificar uma forma individual. Ela pode ser
geométrica ou orgânica em um de seus lados e fundir-se com o entorno do outro,
tornando-se amorfa. O número de formas possíveis é infinito, elas podem variar
de objetivas a subjetivas, geométricas a orgânicas, figurativas a não figurativas.
O potencial da forma para a expressão artística é ilimitado.

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Material Complementar
Há vários materiais, como vídeos, filmes, livros e sites, que podem ampliar seu conhecimento
sobre os elementos básicos da linguagem visual - ponto, linha e forma.
Indicamos aqui os seguintes:
Vídeos
O ponto, o elemento visual mais simples
Esse breve vídeo de Rui Leitão apresenta o elemento mais simples da linguagem visual
– o ponto, e sua aplicação nos movimentos artísticos Pop art e Pontilhismo.
www.youtube.com/watch?v=Q89vpzfxwrs

Livros
Ponto e linha sobre o plano
Leia o livro de KANDINSKY, W. Martins Fontes: São Paulo, 2012.
Publicada originalmente em 1926, no período em que o artista lecionava na famosa
escola da Bauhaus, essa obra de Kandinsky apresenta sua teoria das formas, seminal
nos estudos que formataram a arte abstrata.

Sites
Para conhecer mais trabalhos de Kandinsky, navegue pela coleção online do Museu
Guggenheim de Nova Iorque.
www.guggenheim.org/new-york/collections/collection-online/artists/1515

Filmes
Fantasia
Fantasia, a terceira animação produzida pela Wall Disney Pictures em 1940, integra
oito grandes obras da música clássica com visuais criativos e originais. No capítulo
Sinfonia pastoral, composição de Ludwig van Beethoven, o som é desenhado pela
linha na animação.
www.youtube.com/watch?v=r7gLlIv4ito

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Referências
ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. Nova
versão. 11. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.

CAGE, J. A cor na arte. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,


2003.

FRASER, T.; BANKS, A. O guia completo da cor. 2. ed. São Paulo: Editora
Senac São Paulo, 2010.

GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto. São Paulo: Escrituras editora, 2000.

OSTROWER, F. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

PEDROSA, I. O universo da cor. Rio de Janeiro: Senac, 2004.

WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Webgrafia
Enciclopédia Itaú cultural.
Disponível em: <www.enciclopediaitaucultural.org.br>. Acesso em: 14 jul. 2015.

Hirshhorn.
Disponível em: <www.hirshhorn.si.edu>. Acesso em: 14 jul. 2015.

Museum of modern art (MOMA). Disponível em: <www.moma.org>.


Acesso em: 14 jul. 2015.

Museu de arte contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP).


Disponível em: <www.mac.usp.br> Acesso em: 14 jul. 2015.

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