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elementos

básicos da Introdução

O presente trabalho pretende ser um exercício de relexão e de

linguagem
análise acerca dos elementos básicos da linguagem visual. Para isso,
foram escolhidas vinte imagens que de certa forma se manifestassem
como directrizes para uma análise especíica e que proporcionassem
uma leitura baseada nos principais conceitos que podemos encontrar
na comunicação e na cultura visual.

visual As imagens que integram este trabalho, foram registadas no Museu


Colecção Berardo, e apresentam-se aqui em dois grupos distintos.
Um dos grupos reúne imagens de obras dos artístas Alexander
Calder, , Angela Detanico e Rafael Lain, Eugenio Dittborn, Joseph
Kosuth, Matt Mullican e Tony Cragg. O outro grupo, são imagens
de lugares, integrados no espaço físico do museu. Tanto um grupo
como o outro e apesar de fazerem incidir o olhar em aspectos
Rogério Silva formais diferentes, foram veículos de relexão a questões inerentes à
percepção visual, mas nem por isso desagregados entre si, tanto em
contexto como na atribuição de conceitos.
Este exercício não pretende ser uma análise crítica ao conteúdo de
qualquer uma destas obras e muito menos aos seus autores, mas
sim uma análise apoiada em conceitos básicos normalmente usados
na relexão acerca da linguagem visual. Neste contexto, foi usada
uma bibliograia de autores como Bruno Munari, Donis Dondis
ou Rudolf Arnheim, que melhor pudessem justiicar e clariicar
alguns pontos desta análise, e assim estruturar de forma coerente o
desenvolvimento deste trabalho.

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa


Palavras-chave:
equilibrio, simetria, construção, repetição, analogia, espaço, linha,
plano, movimento, ritmo, tempo

Esta obra do artista americano Alexander Calder (Figura 1), é um móbile


que vive em suspensão no espaço tridimensional. Se a observarmos como
um desenho, podemos constatar que a sua estrutura é composta por linhas
e planos e que assenta no mesmo princípio de construção dos ramos de uma
árvore (Figura 2), apresentando nas extremidades formas irregulares que
nos fazem lembrar folhas.

«Os móbiles, pelo contrário, são de natureza diferente: parecem ter origem
numa inspiração de carácter vegetal. Poder-se–ia dizer que Calder é o primeiro escultor de
árvores.»1
Figura 1. Black Spray, 1956 (pormenor), Alexander Calder, Museu Colecção Be-
A linha vertical imaginária que passa através da sua estrutura, é a coluna
central de equilíbrio onde assentam os pontos de força que unem as hastes
umas às outras. Se traçarmos essa linha no espaço e separarmos a obra ao
meio, apercebemo-nos que ela vive em equilíbrio simétrico, pois as forças
proporcionais que criam essa estabilidade visual, necessitam que as duas
partes estejam em harmonia.
A construção simples e a suavidade visual que esta obra apresenta, desenvolve-
se em pequenos ritmos. Isso é sugerido pelas hastes que suportam os planos
e na forma como se agarram umas às outras num padrão de repetição
(Figura 3). Esta peça vai alterando a sua forma e posição no espaço físico,
através dos suaves movimentos ambientais, em que o tempo de agora nunca
Figura 3. Black Spray, 1956 (pormenor)
será o mesmo que o anterior.

1.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 11
Figura 2. Estrutura de ramo de árvore
Palavras-chave:
linha, plano, espaço, volume, movimento, simplicidade construção,
opacidade

As escadas de acesso ao piso superior do Museu Colecção Berardo, estão


envolvidas por duas construções volumétricas circulares - uma interior e
outra exterior (igura 3). É no meio destes dois planos sólidos e paralelos que
se faz a passagem de um piso para o outro. As linhas dinâmicas destas formas
deinem-se por semi-circulares, pois não fecham o circulo na totalidade.
O efeito de cápsula e de protecção que se revela, para quem sobe ou desce,
é provocado pela precisão das linhas estruturantes, que se fecham, num
primeiro olhar, na curvatura destes dois volumes estáticos, e se vão abrindo,
num movimento circular, durante o percurso.

Figura 4. Escada de acesso ao piso superior, Museu Colecção Berardo


«A sugestão de movimento nas manifestaçães visuais estáticas é mais difícil
de conseguir sem que ao mesmo tempo se distorça a realidade, mas está implícita em tudo
aquilo que vemos, e deriva da nossa experiência completa de movimento na vida.»2

Existe um interior da forma que está subjacente à cor roxa usada na parede
lateral, lembrando um corte no interior de uma forma orgânica (igura
4). Por outro lado, a opacidade destes volumes limitam o olhar de quem
percorre esta passagem, apontando naturalmente um objectivo preciso - a
via dos dois acessos.

5
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 80
Figura 5. Piso superior,
Palavras-chave:
linha, plano, escala, movimento, tempo, analogia, contraste,
próximidade, distância, sobreposição, perspectiva

O trabalho dos artista brasileiros Ângela Detanico e Rafael Lain, incide


particularmente na instalação, arte digital e no uso da linguagem visual no
espaço.
Esta projecção multimédia (igura 6) pretende criar alguns efeitos ópticos, de
linhas e de planos em movimento. Os planos deslocam-se horizontalmente
da direita para a esquerda, dando a ilusão ao observador de estar em
movimento - mesmo estando parado - visualizando uma paisagem
geométrica, na qual as formas mais próximas se deslocam mais rápidas
que as detrás. Esse fenómeno visual é atribuído ao tempo da deslocação
no espaço o qual podemos constatar em analogia, como quando nos
Figura 6. Exposição Amplitude, 2013 (projecção Multimédia), Angela Detanico e Rafael Lain,
deslocamos de automóvel numa estrada e observamos as árvores a correr Museu Colecção Berardo
mais rápido que as montanhas ao longe.
Os planos estão sobrepostos verticalmente e contrastam entre si pela
variação cromática da cor azul. Neste contexto, podemos visualizar uma
espécie de perspectiva atmosférica em que as variantes tonais (igura 8) do
azul e a distância das linhas entre si (igura 7), transmitem a profundidade
visual do que está próximo e do que está distante.

«Quanto mais nitidamente for apresentado o gradiente na forma, cor ou


movimento, mais convincente será o efeito de profundidade. A idelidade ao mundo físico
não é uma variável decisiva.»3

Figura 8. Esquema da graduação usada

3
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 264 Figura 7. A distância das linhas entre si
dá-nos a ilusão de perspectiva
Palavras-chave:
tipograia, plano, textura, ritmo, construção, código

Ângela Detanico e Rafael Lain usam muitas vezes a tipograia nas suas
instalações, num jogo de relações entre texto e texturas ou densidades.
Nesta imagem (igura 9) podemos ver o cartão de visita do início da
exposição. É-nos apresentado aqui não só o título e o nome dos artistas como
informação para o visitante, mas também a revelação de uma obra. Logo
aqui é-nos sugerido entramos num jogo de descodiicação de signiicados.
Estes planos, formados por manchas de letras, também se transformam em
texturas visuais quando nos dão a percepção, pelas sensações do olhar, que
existem densidades e espaços diferentes nas letras.
A disposição dos planos em forma de um movimento descendente,
transmitem uma preocupação ao nível do agrupamento e distância dos
Figura 9. Exposição Amplitude, 2013, Angela Detanico e Rafael Lain, Museu Colecção
elementos uns dos outros, segundo o príncipio da proximidade. Berardo

«Mas a localização espacial por si só é também um factor de agrupamento;

(...) “próximidade” ou “vizinhança”, na terminologia de Wertheimer;»4

4
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 72
Palavras-chave:
ponto, linha, plano, textura, repetição, tipograia, simetria, equilíbrio

Nesta obra do chileno Eugénio Dittborn (igura 10), o artista joga com
alguns elementos básicos da linguagem visual – o plano, a linha, o ponto, a
fotograia e a tipograia.
Nesta construção de vários elementos, podemos observar a existência de
uma simetria visual. Não uma simetria de repetição de elementos, mas sim
de planos. Os planos que aqui vemos, uns são formados por linhas e outros
por pontos em forma de tramas de impressão. Estas formas rectangulares,
portadoras de um jogo de relações tanto fotográicas como de elementos
tipográicos, transmitem-nos sensações de diferentes complexidades visuais.
Enquanto os planos formados pelos pontos, negros que por vezes também
se apresentam de diferentes tamanhos e densidades e nos dão a impressão Figura 10. La Ciudad en Llamas, Eugenio Dittborn, in Exposição Da solidão do lugar a
de um tom acizentado, os planos formados pelo cruzamento das linhas, são um horizonte de fugas, 2013, Museu Colecção Berardo

abertos e arejados (igura 11).

«Em grande número e justapostos, os pontos criam a ilusão de tom ou de cor, o


que, como já se observou aqui, é o fato visual em que se baseiam os meios mecânicos para
a reprodução de qualquer tom contínuo»5

Ao observarmos estas duas diferenças apercebemo-nos que nos encontramos


perante planos com diferentes texturas visuais que se relacionam em
diferentes expressões. Todas estas nuances e diferenças de linguagem,
parecem-nos à priori que assentam nalguma espécie de desordem visual
mas, mesmo nessa possibilidade de caos poderemos encontrar no seu todo,
uma grande estabilidade formal.

5
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 54
Figura 11. Eugenio Dittborn, La Ciudad en Llamas (pormenor)
Palavras-chave:
ponto, linha, plano, escala, textura, analogia, ritmo, simplicidade,
complexidade, concentração, dispersão

Estes círculos concêntricos expostos no chão de uma das salas do Museu Be-
rardo (igura 12), fazem parte de um conjunto de obras dos artistas Ângela
Detanico e Rafael Lain.
Estas peças de linhas redondas, que se fecham na forma de círculos, en-
caixam-se umas nas outras, encontrando-se o circulo mais pequeno con-
centrado no ponto do centro, passando pela dispersão de outros circulos
de tamanhos e gradações de escalas diferentes, até terminar em toda a sua
amplitude formal, no círculo maior e exterior.
As linhas são construídas em aço polido e reletem a luz branca dos pro-
jectores tornando estas peças nuns objectos de movimento, em que a per-
Figura 12. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta), Angela Detanico
manência de um ritmo visual assemelha-se em analogia às ondas vibratórias e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
da água, causadas pelo caír de uma pedra.
Existem outros grupos de circulos dispostos no mesmo chão que se interli-
gam entre si transformando a simplicidade formal numa complexidade de
novas formas que surgem pelo seu cruzamento de forças (igura 13).

«(...) compreende uma complexidade visual constituída por inúmeras unidades


e forças elementares, e resulta num processo de organização do signiicado no âmbito de um
determinado padrão»6

Num jogo de contrastes entre materiais - o aço polido e a textura do chão de


madeira - a peça entrega-se a sensações de grande leveza visual.
Figura 13. (Pormenor de obra exposta)

6
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 144

Concentração e dispersão
Palavras-chave:
ponto, linha, plano, escala, textura, cor, espaço, volume, tempo,
proximidade, distância, construção

A vista exterior que se pode observar através desta parede em vidro


(igura 14), leva-nos a entender o rigor da extrutura das linhas horizontais
e verticais, tanto das janelas como das linhas extruturantes dos próprios
blocos de pedra que compõem todo o edifício exterior. Ao observarmos
através do grande vidro o edifício em frente, reparamos que ele se apresenta
visualmente compartimentado dentro de quadrados criados pelas linhas
verticais e horizontais da extrutura. Podemos desta forma e nessa divisão
de fragmentos, convocar visualmente uma quadrícula que nos poderá
facilitar a observação isolada de cada parcela do edifício, que na sua escala,
compõem o todo.
Figura 14. Hall (vista de uma janela para o exterior), Museu Colecção Berardo
As linhas que sustentam toda esta imagem, traduzem o rigor volumétrico
da pedra no espaço da construção, e os conceitos visuais de proximidade/
distância falam-nos das texturas do material usado.

«Ao longe, obtém-se uma percepção visual de textura em relevo; ao pé, uma

textura que poderemos deinir como material»7

Os pontos negros que salpicam as paredes texturadas do edifício, não são


nada mais nada menos que respiradores (igura 15).
Existe uma serenidade que o olhar absorve e isso é-nos dado pelo descanso
visual das cores pastel que as pedras comportam. Ao mesmo tempo que
existe distância de volumes, existe o tempo e o espaço criado entre eles.

7.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 97
Figura 15. Respirador
Palavras-chave:
plano, textura, espaço, movimento, tempo, regular, irregular,
distorção, distância, transparência

Nesta imagem de dois ambientes enquadrados em espaços diferentes (igura


16), podemos observar a particularidade de que estão assentes num mesmo
plano, que se estende e se prolonga através do espaço interior para o espaço
exterior.
No interior, um chão regular em pedra polida, espelha e inverte a paisagem
natural do exterior que envolve todo o edifício. Esses relexos da natureza,
prolongam-se visualmente para fora, através de um chão de água que se
manifesta e movimenta através de pequenas irregularidades e texturas.
Estas diferenças texturais evocam, só por si, sensações diversas tanto físicas
como visuais. A primeira, estática e permanente, diz respeito ao silêncio
Figura 16. Auditório (vista para o exterior), Museu Colecção Berardo
interior e ao momento em que o tempo se encontra suspenso em si próprio;
a segunda, exterior, mais distante e em permanente movimento, transmite-
nos a possibilidade de uma extensão do olhar, mostrando-nos um chão de
água relector da realidade, distorcida pela acção de forças naturais, em que
cada movimento avança para um tempo que se adivinha constante e veículo
transformador visual de formas e texturas.

«A distorção adultera o realismo, procurando controlar seus efeitos através do


desvio da forma regular, e, em alguns outros casos, até mesmo da forma verdadeira.»8

8
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 154 Irregular e regular
Palavras-chave:
linha, textura, cor, forma

As texturas artiiciais atribuídas a alguns objectos, podem transmitir-nos


visualmente impressões de variadas formas e dizer-nos algo acerca dos
materiais com que são feitos sem ser necessário o toque da mão.
Nesta alcatifa (igura 17), a cor vermelha relete um valor cromático, o qual
associamos ao calor e ao conforto. A sua textura diz-nos visualmente que é
feita de um material suave e que poderá ser mole ou áspero. Apercebemo-
nos disso porque já todos nós tivemos a experiência de tocar alguma vez
uma alcatifa, icando essa memória associada à sensação que esse contacto
estabeleceu e a qual icou impressa junto ao conhecimento que temos das
coisas. Poderemos também estabelecer alguns parâmetros com as sensações
que temos em relação a outros materiais.
Figura 17. Pormenor de alcatifa com sistema eléctrico
É mais fácil para nós, muitas vezes, percebermos visualmente um objecto
pela comparação com outro objecto diferente. No caso desta imagem, a
alcatifa transmite-nos ao olhar uma moleza e uma uniformidade, tornando-
se mais fácil entendermos porque os conhecemos como identiicadores de
uma experiência táctil de uma superfície em relevo.

«Cada textura é formada por muitos elementos iguais ou similares, dispostos


a igual distância entre si sobre uma superfície a duas dimensões ou com baixo-relevo. A
característica das texturas é a uniformidade, o olho humano apreende-as sempre como
superfície»9

9.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 96 Representação de texturas visuais
Palavras-chave:
linha, plano, ritmo, ordem, lógica, aleatório, repetição, textura, caos

Angela Detanico e Rafael Lain, propõem-nos aqui vários planos (igura 18),
os quais são construídos por linhas formadas por números, quer organiza-
dos segundo uma regra de repetição, quer insinuando uma espécie de caos
(igura 19). De qualquer modo estas duas formas de organização oferecem-
nos duas leituras visualmente distintas.
Podemos observar nas primeiras três linhas que foram usados diferentes al-
garismos que nos evocam texturas visuais e ritmos pela repetição. Na quarta
linha parece haver uma repetição de algarismos diferentes que nos obrigam
a estabelecer uma lógica de organização mental. A última linha tem um
padrão de algarismos que vai do zero ao nove e que se repete vezes sem
conta. Numa primeira abordagem visual, pode parecer-nos que estas linhas
Figura 18. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta) Angela Detanico
não tem qualquer ordem lógica númerica, mas quando as observamos cui- e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
dadosamente, transparece toda uma continuidade lógica e uniicadora.

«(...) a continuídade não se deine apenas pelos passos ininterruptos que


levam de um ponto a outro, mas também por ser a força coesiva que mantém unida uma
composição de elementos díspares»10

As linha posicionadas por cima dos números propõem-nos, pela sua posição,
mais ou menos próxima uma das outras, uma perspectiva visual transfor-
mando a imagem numa paisagem construída com códigos que intuitiva-
mente procuramos descodiicar.

10
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 159
Figura 19. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
plano, tempo, ordem, caos, transparência, sobreposição, textura

Manchas planas de texto, fazem parte do nosso dia-a-dia, através dos livros
que lemos, das revista ou jornais. O tipo de letra adotado para cada um
destes exemplos, varia conforme o design dos seus conteúdos gráicos. Há
tipograias que nos transmitem sensações visuais diferentes umas das outras.
Nas manchas de texto, como o exemplo que se vê na fotograia (igura 20),
em que o texto corre numa certa ordem formando um plano, o corpo de
letra tem um determinado tamanho sendo o seu tipo é patilhado. Podemos
encontrar algumas linhas em que a letra, por vezes é regular e outras itálica.
Visualmente e num contexto geral, apercebemo-nos dessa desigualdade
pois as texturas criadas pelas diferentes manchas de texto, dizem-nos que
existe nessas partes uma determinada distãncia visual entre si.
Figura 20. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta) Angela Detanico
Dentro do corpo do texto, podemos observar que, inesperadamente, surge e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
uma mancha com uma diferente textura que nos chama a atenção para
uma sobreposição de textos (igura 21). Essa porção de texto em transpar-
ência, sugere-nos uma desordem em que as linhas de texto se sobrepõem
regulares mas visualmente diferentes das outras linhas.

«A experiência servirá para conhecer quantos tipos de textura podem existir;


mantendo o príncipio de idealizar superfícies absolutamente uniformes, regularmente
uniformes, mas muito diferentes umas das outras»11

11.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 95
Figura 21. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
linha, plano, movimento, ritmo, cor, luz, sombra

Este quadrado (igura 22), formado por linhas verticais que, pela sua
espessura, também se transformam noutros planos mais estreitos, dá-nos
a ilusão de um movimento visual em que as linhas verticais adquirem
um ritmo cromático que varia entre a luz e a sombra. Essas diferenças
cromáticas, avançam nas duas extremidades do quadrado num tom escuro,
progredindo em degradée para um centro luminoso, dando a ilusão de ser
um plano curvo.

«Variando a inclinação do gradiente, pode-se controlar a forma da curvatura


percebida. Um gradiente mudando a uma razão constante produz o efeito de um plano
inclinado, relectindo o fato físico de que o ângulo de inclinação é constante em toda a
superfície»12
Figura 22 Exposição Amplitude, 2013 Angela Detanico e Rafael Lain,
Museu Colecção Berardo
A separação das linhas verticais por um pequeno espaço branco, torna-
se diferente do que se fora uma mancha contínua e sem separação, mas
com o mesmo degradée. O efeito de ritmo é-nos dado precisamente por esses
espaços numa cadência variável de tonalidades que se vão desdobrando em
cada forma vertical, sendo o nosso olhar o motor para que tal movimento
se cumpra.

12
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 301
Palavras-chave:
linha, ritmo, aleatório, movimento, código

Os textos que aqui vemos projectados na parede (igura 23), é mais uma
instalação que faz parte da exposição Amplitudes. Estas palavras simples for-
mam linhas que por sua vez são os ponteiros de um relógio. Cada ponteiro,
tanto o das horas como dos minutos independentemente, é formado por
certas palavras, que nos propõem alguns conceitos que aparentemente per-
tencem a uma qualquer ordem aleatória. Quando as lemos temos que ser
nós a dar-lhe essa amplitude de entendimento num exercício de descodii-
cação e de junção de conceitos.

«A comunicação visual é assim, em certos casos, um meio insubstituível que

permite a um emissor passar as informações a um receptor (...)»13


Figura 23. Exposição Amplitude, 2013, Angela Detanico e Rafael Lain, Museu
Os ponteiros, ao encontrarem-se, fazem surgir um encadeamento e inter-
Colecção Berardo
calar de palavras (igura 24), atribuíndo-se deste modo outros valores de
descodiicação, pela sobreposição e encontro dessas palavras, local para
onde o olhar divaga num movimento ascendente em direcção ao topo.

13.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 78
Figura 24. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
plano, ritmo, ordem, lógica, signo, cor

Esta obra de Matt Mullican (igura 25), apresenta-nos um plano quadrado


dividido em 16 quadrados mais pequeno, os quais são divididos em 4 gru-
pos. Cada grupo, formado por 4 quadrados, tem uma cor que deine o
grupo.
A obra desenvolve-se num ritmo de registo em que são usados pictogramas,
símbolos informativos com que habitualmente nos confrontamos em espa-
ços públicos.
Existem cores quentes, neutras ou frias associadas a cada um destes símbo-
los, os quais transmitem-nos impressões várias. Para além do valor formal
de signiicados inscrito em cada pictograma, o que realmente os identiica
como elementos numa escala de preferências e de sensações visuais, é a cor
em cada um deles.
Figura 25. Matt Mullican (1951) Signs, 1980 Museu Colecção Berardo

«Essas qualidades podem afectar a posição espacial, uma vez que a temperatura

da cor pode sugerir próximidade ou distância»14

É a cor que os distingue como elementos de cada grupo e não o seu signii-
cado. Por outro lado, é também a cor que nos obriga a fazermos uma sepa-
ração associando cada elemento do grupo ao próprio grupo e daí tentarmos
fazer uma interpretação lógica seguindo o príncipio da similaridade.

14
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 125
Palavras-chave:
plano, ritmo, aleatório, tipograia, analogia

A palavra Univers indica um conceito abrangente e abstrato daquilo que nos


rodeia enquanto habitantes do planeta Terra. Mas também é o nome de um
tipo de letra utilizada no design por designers gráicos.
Aqui (igura 26), nesta intervenção, a palavra está colada a uma parede
branca. Para o observador, esta imensa parede branca onde assenta a pala-
vra Univers, já por si é um universo. A palavra deine o seu tipo de letra, mas
também o espaço em que está inserida.
Ao aproximarmo-nos da palavra, constatamos que toda ela está dividida
com pequenos cortes (igura 27). Em frente à parede branca existe uma
imensa parede negra onde assentam aleatóriamente, pequenos planos bran-
cos como se fossem a representação de pontos de luz num imenso universo
Figura 26. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta) Angela Detanico
abstracto. e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
. «Mas captar a semelhança estrutural entre uma coisa e qualquer representação
dela é, contudo, uma enorme proeza de abstracção.»15

Neste contexto, todos os pequenos cortes da letra começam a fazer sen-


tido, pois eles justiicam a desintegração da palavra, resultando na imagem
daquilo que nós consideramos universo - uma imensa parede escura com
múltiplos pontos brancos.

15
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 130 Figura 27. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
linha, ritmo, ordem, repetição, textura, espaço, analogia, código

Nesta sala do Museu, as linhas que estão coladas ao chão (igura 28), num
primeiro relance parecem-nos uma espécie de trajecto composto por traços
organizados que nos obrigam a seguir um percurso segundo uma ordem
pré-estabelecida. São linhas negras feitas com ita adesiva que se repetem,
ora horizontal ora verticalmente, conforme a nossa posição no espaço e que
nos fazem interrogar acerca da sua função.
O trabalho desenvolvido por Angela Detanico e Rafael Lain, incide muitas
vezes na descodiicação por analogia - um traço vertical é análogo a uma
letra do alfabeto, um traço horizontal é outra letra. Uma formação de traços
verticais e horizontais dispostos de uma certa ordem, formam uma palavra
segundo um padrão codiicado.
Figura 28. Exposição Amplitude, 2013 (Angela Detanico e Rafael Lain,
Museu Colecção Berardo
. «A ordenação pode seguir uma fórmula qualquer, mas em geral envolve uma
série de coisas dispostas segundo um padrão ritmíco.»16

16
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 157 Padrão codiicado
Palavras-chave:
tipograia, cor, signo, contraste

A numeração tipográica é usada muitas vezes como fonte de signiicados


visuais, que nos transmitem informações importantes para quando circula-
mos no interior de espaços públicos. Nestas imagens (igura 29 e 30), temos
um exemplo de uma numeração que nos aponta o piso onde nos encontra-
mos. Estes números de grande escala foram colocados junto ao elevador de
cada piso.
A cor escolhida foi o vermelho, pois é a cor que mais visualmente chama a
atenção e cujo cromatismo e luminosidade contrastam mais com as paredes
brancas. A sua posição junto aos elevadores indica mais facilmente o local
dos acessos aos outros pisos.

. «Suportes da comunicação visual são, portanto o sinal, a cor, a luz, o movi-


Figura 29. Porta de elevador, com número de identiicação do piso 2
mento...que são usados de acordo com quem recebe a mensagem.»17

Outra particularidade na escolha gráica deste posicionamento tipográico,


é o número dobrado na esquina. Tanto é visivel e indicativo para quem vem
de um lado do corredor como do outro.

17.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 80
Figura 30. Piso 0
Palavras-chave:
volume, plano, ritmo, ordem, repetição, textura, constução, cor

Nesta imagem, podemos observar uma escultura de Tony Cragg (igura


31) que no propõem 3 peças construídas com tijolos. Estes volumes dão-
nos três exemplos de materiais de construção diferentes entre si - tijolos
feitos de cimento e tijolos feitos de argila. Essa diferença poderá ser visível
somente pela observação. Através da sua cor, textura e pela forma como
são construídos. Por exemplo, os tijolos de cimento aparentam ser bastante
mais robustos que os tijolos de argila que têm uma espessura de placas mais
estreita.

«Os próprios materiais de construção têm, no código visual de construção civil,


uma textura particular.»18
Figura 31. Tony Cragg (1949) Three modern buildings, 1984 Museu Colecção Berardo

O artísta convoca aqui o tema da construção de edifícios numa sobreposição


de tijolos, organizados por uma ordem formal, sugerindo, pelos planos
frontais, estruturas urbanas as quais apontam para um ritmo de repetição
visual, em que os próprios buracos que formam a estrutura do tijolo, se
assemelham às janelas destas formas de edifícios.

18.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 79
Palavras-chave:
linha, luz, tipograia, cor

Esta obra do artista americano Joseph Kosuth (igura 32), é uma peça
conceptual em que o uso da tipograia se torna um meio artístico para a
transmissão de conceitos e de mensagens para o público.
As letras construídas em tubo de neon sugerem reclamos luminosos muito
usados nos anos 60 e 70 em lojas, móteis, em marcas de produtos, fachadas
de edifícios. É nesse imaginário, porquanto comunicar um desejo se pode
traduzir nestas luzes apetecíveis de qualquer marca comercial, que encaixam
estes textos de Kosuth como o espelho para uma auto relexão.
A frase encontra-se numa linha horizontal agarrada a uma parede, a qual
nos dá a ilusão de emanar um calor abrasador. As letras, a uma temperatura
visualmente quente, transformam, envolvem e determinam o olhar com
a sua cor vermelha, estimulando o observador para uma expressividade
Figura 32. Joseph Kosuth (1945), Self-Described and Self-Deined, 1965
hipnótica. Museu Colecção Berardo

«Ao invés, a cor desperta em nós a reacção também provocada pela estimulação
do calor, e as palavras “quente” e “fria” são usadas para descrever cores, simplesmente
porque a qualidade expressiva em questão é mais forte e biologicamente mais vital no
âmbito da temperatura.»19

19
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 360
glossário
Aleatório - Sujeito ao acaso.
Ordem - Disposição lógica.
Analogia - Relação, semelhança entre elementos diferentes.
Perspectiva - Representação espacial das diversas distâncias e proporção
Caos - Casualidade, desorganização intencional ou acidental.
que os objetos têm entre si.
Código - Conjunto de normas que relacionam signiicantes com signiicados.
Plano - Superfície lisa gerada por uma reta que se move em torno de um
Complexidade - Forças elementares, resultantes de um difícil processo de eixo.
organização do signiicado no âmbito de um determinado padrão.
Ponto - Unidade de comunicação visual mais simples e irredutivelmente
Concentração - Agrupamento de elementos reunidos num ponto. mínima.

Cor - Interacção do espectro de luz com os receptores sensitivos do olho Próximidade - Pequena distância entre objectos; pequeno intervalo de
humano, resultando na percepção visual das categorias conhecidas por tempo.
vermelho, azul, amarelo, verde e outras.
Regular - Distribuição uniforme de elementos.
Construção - Ediicação de um projeto previamente elaborado.
Repetição - Número de execuções de um mesmo elemento.
Contraste - Oposição entre elementos, cor ou forma, em que um faz
sobressair o outro. Ritmo - Elementos que se repetem, seja na dimensão temporal ou espacial,
segundo um padrão estabelecido.
Dispersão - Afastamento de elementos em várias direcções.
Signo - Combinação de um conceito (signiicado) com uma imagem
Distância - Intervalo que separa dois pontos num determinado espaço. (signiicante).
Distorção - Adulteração do real através da deformação da imagem. Simetria - Factor de equilíbrio em que as duas partes de uma composição
Equilíbrio - Elementos actuando com forças iguais e contrárias, resultando são iguais.
visualmente num todo. Simplicidade - É a síntese dos vários elementos de uma composição.
Escala - Representação das medidas de um determinado objecto, na Sobreposição - Acrescentar por camadas.
relação e proporção com a sua medida real.
Sombra - Área escurecida pela presença de um corpo opaco entre ela e
Espaço - Campo de acção e de relação entre formas ou elementos. uma fonte de luz.
Forma - Planos com limites precisos. Tempo - Período que separa dois pontos, usados como base para classiicar
Irregular - Forma inesperada sem qualquer espécie de lógica. uma acção.

Linha - Cadeia de pontos. Textura - Características regulares ou irregulares da forma de uma


determinada superfície.
Lógica - Organização coerente e estruturada.
Tipograia - Desenho de um determinado tipo de letra usado num texto
Luz - Onda eletromagnética, cujo comprimento de onda se inclui num escrito ou impresso.
determinado intervalo dentro do qual o olho humano é a ela sensível.
Transparência - Detalhes visuais através dos quais se pode ver, de tal
Movimento - Na linguagem visual, é a ilusão criada de um elemento modo que o que lhes ica atrás também nos é revelado aos olhos.
animado através de formas estáticas.
Volume - Espaço contido dentro de uma forma tridimensional.
Opacidade - Propriedades de um corpo que não permite que se veja
através dele.
Bibliograia

Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980

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