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básicos da Introdução
linguagem
análise acerca dos elementos básicos da linguagem visual. Para isso,
foram escolhidas vinte imagens que de certa forma se manifestassem
como directrizes para uma análise especíica e que proporcionassem
uma leitura baseada nos principais conceitos que podemos encontrar
na comunicação e na cultura visual.
«Os móbiles, pelo contrário, são de natureza diferente: parecem ter origem
numa inspiração de carácter vegetal. Poder-se–ia dizer que Calder é o primeiro escultor de
árvores.»1
Figura 1. Black Spray, 1956 (pormenor), Alexander Calder, Museu Colecção Be-
A linha vertical imaginária que passa através da sua estrutura, é a coluna
central de equilíbrio onde assentam os pontos de força que unem as hastes
umas às outras. Se traçarmos essa linha no espaço e separarmos a obra ao
meio, apercebemo-nos que ela vive em equilíbrio simétrico, pois as forças
proporcionais que criam essa estabilidade visual, necessitam que as duas
partes estejam em harmonia.
A construção simples e a suavidade visual que esta obra apresenta, desenvolve-
se em pequenos ritmos. Isso é sugerido pelas hastes que suportam os planos
e na forma como se agarram umas às outras num padrão de repetição
(Figura 3). Esta peça vai alterando a sua forma e posição no espaço físico,
através dos suaves movimentos ambientais, em que o tempo de agora nunca
Figura 3. Black Spray, 1956 (pormenor)
será o mesmo que o anterior.
1.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 11
Figura 2. Estrutura de ramo de árvore
Palavras-chave:
linha, plano, espaço, volume, movimento, simplicidade construção,
opacidade
Existe um interior da forma que está subjacente à cor roxa usada na parede
lateral, lembrando um corte no interior de uma forma orgânica (igura
4). Por outro lado, a opacidade destes volumes limitam o olhar de quem
percorre esta passagem, apontando naturalmente um objectivo preciso - a
via dos dois acessos.
5
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 80
Figura 5. Piso superior,
Palavras-chave:
linha, plano, escala, movimento, tempo, analogia, contraste,
próximidade, distância, sobreposição, perspectiva
3
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 264 Figura 7. A distância das linhas entre si
dá-nos a ilusão de perspectiva
Palavras-chave:
tipograia, plano, textura, ritmo, construção, código
Ângela Detanico e Rafael Lain usam muitas vezes a tipograia nas suas
instalações, num jogo de relações entre texto e texturas ou densidades.
Nesta imagem (igura 9) podemos ver o cartão de visita do início da
exposição. É-nos apresentado aqui não só o título e o nome dos artistas como
informação para o visitante, mas também a revelação de uma obra. Logo
aqui é-nos sugerido entramos num jogo de descodiicação de signiicados.
Estes planos, formados por manchas de letras, também se transformam em
texturas visuais quando nos dão a percepção, pelas sensações do olhar, que
existem densidades e espaços diferentes nas letras.
A disposição dos planos em forma de um movimento descendente,
transmitem uma preocupação ao nível do agrupamento e distância dos
Figura 9. Exposição Amplitude, 2013, Angela Detanico e Rafael Lain, Museu Colecção
elementos uns dos outros, segundo o príncipio da proximidade. Berardo
4
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 72
Palavras-chave:
ponto, linha, plano, textura, repetição, tipograia, simetria, equilíbrio
Nesta obra do chileno Eugénio Dittborn (igura 10), o artista joga com
alguns elementos básicos da linguagem visual – o plano, a linha, o ponto, a
fotograia e a tipograia.
Nesta construção de vários elementos, podemos observar a existência de
uma simetria visual. Não uma simetria de repetição de elementos, mas sim
de planos. Os planos que aqui vemos, uns são formados por linhas e outros
por pontos em forma de tramas de impressão. Estas formas rectangulares,
portadoras de um jogo de relações tanto fotográicas como de elementos
tipográicos, transmitem-nos sensações de diferentes complexidades visuais.
Enquanto os planos formados pelos pontos, negros que por vezes também
se apresentam de diferentes tamanhos e densidades e nos dão a impressão Figura 10. La Ciudad en Llamas, Eugenio Dittborn, in Exposição Da solidão do lugar a
de um tom acizentado, os planos formados pelo cruzamento das linhas, são um horizonte de fugas, 2013, Museu Colecção Berardo
5
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 54
Figura 11. Eugenio Dittborn, La Ciudad en Llamas (pormenor)
Palavras-chave:
ponto, linha, plano, escala, textura, analogia, ritmo, simplicidade,
complexidade, concentração, dispersão
Estes círculos concêntricos expostos no chão de uma das salas do Museu Be-
rardo (igura 12), fazem parte de um conjunto de obras dos artistas Ângela
Detanico e Rafael Lain.
Estas peças de linhas redondas, que se fecham na forma de círculos, en-
caixam-se umas nas outras, encontrando-se o circulo mais pequeno con-
centrado no ponto do centro, passando pela dispersão de outros circulos
de tamanhos e gradações de escalas diferentes, até terminar em toda a sua
amplitude formal, no círculo maior e exterior.
As linhas são construídas em aço polido e reletem a luz branca dos pro-
jectores tornando estas peças nuns objectos de movimento, em que a per-
Figura 12. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta), Angela Detanico
manência de um ritmo visual assemelha-se em analogia às ondas vibratórias e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
da água, causadas pelo caír de uma pedra.
Existem outros grupos de circulos dispostos no mesmo chão que se interli-
gam entre si transformando a simplicidade formal numa complexidade de
novas formas que surgem pelo seu cruzamento de forças (igura 13).
6
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 144
Concentração e dispersão
Palavras-chave:
ponto, linha, plano, escala, textura, cor, espaço, volume, tempo,
proximidade, distância, construção
«Ao longe, obtém-se uma percepção visual de textura em relevo; ao pé, uma
7.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 97
Figura 15. Respirador
Palavras-chave:
plano, textura, espaço, movimento, tempo, regular, irregular,
distorção, distância, transparência
8
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 154 Irregular e regular
Palavras-chave:
linha, textura, cor, forma
9.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 96 Representação de texturas visuais
Palavras-chave:
linha, plano, ritmo, ordem, lógica, aleatório, repetição, textura, caos
Angela Detanico e Rafael Lain, propõem-nos aqui vários planos (igura 18),
os quais são construídos por linhas formadas por números, quer organiza-
dos segundo uma regra de repetição, quer insinuando uma espécie de caos
(igura 19). De qualquer modo estas duas formas de organização oferecem-
nos duas leituras visualmente distintas.
Podemos observar nas primeiras três linhas que foram usados diferentes al-
garismos que nos evocam texturas visuais e ritmos pela repetição. Na quarta
linha parece haver uma repetição de algarismos diferentes que nos obrigam
a estabelecer uma lógica de organização mental. A última linha tem um
padrão de algarismos que vai do zero ao nove e que se repete vezes sem
conta. Numa primeira abordagem visual, pode parecer-nos que estas linhas
Figura 18. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta) Angela Detanico
não tem qualquer ordem lógica númerica, mas quando as observamos cui- e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
dadosamente, transparece toda uma continuidade lógica e uniicadora.
As linha posicionadas por cima dos números propõem-nos, pela sua posição,
mais ou menos próxima uma das outras, uma perspectiva visual transfor-
mando a imagem numa paisagem construída com códigos que intuitiva-
mente procuramos descodiicar.
10
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 159
Figura 19. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
plano, tempo, ordem, caos, transparência, sobreposição, textura
Manchas planas de texto, fazem parte do nosso dia-a-dia, através dos livros
que lemos, das revista ou jornais. O tipo de letra adotado para cada um
destes exemplos, varia conforme o design dos seus conteúdos gráicos. Há
tipograias que nos transmitem sensações visuais diferentes umas das outras.
Nas manchas de texto, como o exemplo que se vê na fotograia (igura 20),
em que o texto corre numa certa ordem formando um plano, o corpo de
letra tem um determinado tamanho sendo o seu tipo é patilhado. Podemos
encontrar algumas linhas em que a letra, por vezes é regular e outras itálica.
Visualmente e num contexto geral, apercebemo-nos dessa desigualdade
pois as texturas criadas pelas diferentes manchas de texto, dizem-nos que
existe nessas partes uma determinada distãncia visual entre si.
Figura 20. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta) Angela Detanico
Dentro do corpo do texto, podemos observar que, inesperadamente, surge e Rafael Lain, Museu Colecção Berardo
uma mancha com uma diferente textura que nos chama a atenção para
uma sobreposição de textos (igura 21). Essa porção de texto em transpar-
ência, sugere-nos uma desordem em que as linhas de texto se sobrepõem
regulares mas visualmente diferentes das outras linhas.
11.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 95
Figura 21. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
linha, plano, movimento, ritmo, cor, luz, sombra
Este quadrado (igura 22), formado por linhas verticais que, pela sua
espessura, também se transformam noutros planos mais estreitos, dá-nos
a ilusão de um movimento visual em que as linhas verticais adquirem
um ritmo cromático que varia entre a luz e a sombra. Essas diferenças
cromáticas, avançam nas duas extremidades do quadrado num tom escuro,
progredindo em degradée para um centro luminoso, dando a ilusão de ser
um plano curvo.
12
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 301
Palavras-chave:
linha, ritmo, aleatório, movimento, código
Os textos que aqui vemos projectados na parede (igura 23), é mais uma
instalação que faz parte da exposição Amplitudes. Estas palavras simples for-
mam linhas que por sua vez são os ponteiros de um relógio. Cada ponteiro,
tanto o das horas como dos minutos independentemente, é formado por
certas palavras, que nos propõem alguns conceitos que aparentemente per-
tencem a uma qualquer ordem aleatória. Quando as lemos temos que ser
nós a dar-lhe essa amplitude de entendimento num exercício de descodii-
cação e de junção de conceitos.
13.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 78
Figura 24. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
plano, ritmo, ordem, lógica, signo, cor
«Essas qualidades podem afectar a posição espacial, uma vez que a temperatura
É a cor que os distingue como elementos de cada grupo e não o seu signii-
cado. Por outro lado, é também a cor que nos obriga a fazermos uma sepa-
ração associando cada elemento do grupo ao próprio grupo e daí tentarmos
fazer uma interpretação lógica seguindo o príncipio da similaridade.
14
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 125
Palavras-chave:
plano, ritmo, aleatório, tipograia, analogia
15
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 130 Figura 27. Exposição Amplitude, 2013 (pormenor de obra exposta)
Palavras-chave:
linha, ritmo, ordem, repetição, textura, espaço, analogia, código
Nesta sala do Museu, as linhas que estão coladas ao chão (igura 28), num
primeiro relance parecem-nos uma espécie de trajecto composto por traços
organizados que nos obrigam a seguir um percurso segundo uma ordem
pré-estabelecida. São linhas negras feitas com ita adesiva que se repetem,
ora horizontal ora verticalmente, conforme a nossa posição no espaço e que
nos fazem interrogar acerca da sua função.
O trabalho desenvolvido por Angela Detanico e Rafael Lain, incide muitas
vezes na descodiicação por analogia - um traço vertical é análogo a uma
letra do alfabeto, um traço horizontal é outra letra. Uma formação de traços
verticais e horizontais dispostos de uma certa ordem, formam uma palavra
segundo um padrão codiicado.
Figura 28. Exposição Amplitude, 2013 (Angela Detanico e Rafael Lain,
Museu Colecção Berardo
. «A ordenação pode seguir uma fórmula qualquer, mas em geral envolve uma
série de coisas dispostas segundo um padrão ritmíco.»16
16
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003, pag. 157 Padrão codiicado
Palavras-chave:
tipograia, cor, signo, contraste
17.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 80
Figura 30. Piso 0
Palavras-chave:
volume, plano, ritmo, ordem, repetição, textura, constução, cor
18.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982, pag. 79
Palavras-chave:
linha, luz, tipograia, cor
Esta obra do artista americano Joseph Kosuth (igura 32), é uma peça
conceptual em que o uso da tipograia se torna um meio artístico para a
transmissão de conceitos e de mensagens para o público.
As letras construídas em tubo de neon sugerem reclamos luminosos muito
usados nos anos 60 e 70 em lojas, móteis, em marcas de produtos, fachadas
de edifícios. É nesse imaginário, porquanto comunicar um desejo se pode
traduzir nestas luzes apetecíveis de qualquer marca comercial, que encaixam
estes textos de Kosuth como o espelho para uma auto relexão.
A frase encontra-se numa linha horizontal agarrada a uma parede, a qual
nos dá a ilusão de emanar um calor abrasador. As letras, a uma temperatura
visualmente quente, transformam, envolvem e determinam o olhar com
a sua cor vermelha, estimulando o observador para uma expressividade
Figura 32. Joseph Kosuth (1945), Self-Described and Self-Deined, 1965
hipnótica. Museu Colecção Berardo
«Ao invés, a cor desperta em nós a reacção também provocada pela estimulação
do calor, e as palavras “quente” e “fria” são usadas para descrever cores, simplesmente
porque a qualidade expressiva em questão é mais forte e biologicamente mais vital no
âmbito da temperatura.»19
19
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980, pag. 360
glossário
Aleatório - Sujeito ao acaso.
Ordem - Disposição lógica.
Analogia - Relação, semelhança entre elementos diferentes.
Perspectiva - Representação espacial das diversas distâncias e proporção
Caos - Casualidade, desorganização intencional ou acidental.
que os objetos têm entre si.
Código - Conjunto de normas que relacionam signiicantes com signiicados.
Plano - Superfície lisa gerada por uma reta que se move em torno de um
Complexidade - Forças elementares, resultantes de um difícil processo de eixo.
organização do signiicado no âmbito de um determinado padrão.
Ponto - Unidade de comunicação visual mais simples e irredutivelmente
Concentração - Agrupamento de elementos reunidos num ponto. mínima.
Cor - Interacção do espectro de luz com os receptores sensitivos do olho Próximidade - Pequena distância entre objectos; pequeno intervalo de
humano, resultando na percepção visual das categorias conhecidas por tempo.
vermelho, azul, amarelo, verde e outras.
Regular - Distribuição uniforme de elementos.
Construção - Ediicação de um projeto previamente elaborado.
Repetição - Número de execuções de um mesmo elemento.
Contraste - Oposição entre elementos, cor ou forma, em que um faz
sobressair o outro. Ritmo - Elementos que se repetem, seja na dimensão temporal ou espacial,
segundo um padrão estabelecido.
Dispersão - Afastamento de elementos em várias direcções.
Signo - Combinação de um conceito (signiicado) com uma imagem
Distância - Intervalo que separa dois pontos num determinado espaço. (signiicante).
Distorção - Adulteração do real através da deformação da imagem. Simetria - Factor de equilíbrio em que as duas partes de uma composição
Equilíbrio - Elementos actuando com forças iguais e contrárias, resultando são iguais.
visualmente num todo. Simplicidade - É a síntese dos vários elementos de uma composição.
Escala - Representação das medidas de um determinado objecto, na Sobreposição - Acrescentar por camadas.
relação e proporção com a sua medida real.
Sombra - Área escurecida pela presença de um corpo opaco entre ela e
Espaço - Campo de acção e de relação entre formas ou elementos. uma fonte de luz.
Forma - Planos com limites precisos. Tempo - Período que separa dois pontos, usados como base para classiicar
Irregular - Forma inesperada sem qualquer espécie de lógica. uma acção.
Bruno Munari, A arte como ofício, Editorial Presença, Lisboa, 2ª edição, 1982
Donis Dondis, Sintaxe da liniguagem visual, Martins Fontes, São Paulo, 2003
Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora, Pioneira,
Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo 2ª edição, 1980