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Paula Csillag2
Centro Universitário Belas Artes e ESPM
Resumo
O objetivo do presente texto é apresentar uma ligação entre as teorias de percepção
visual que foram desenvolvidas a partir da escola da Gestalt, que correspondem a uma
das bases dos cursos de artes visuais, com as teorias de Lotman & Uspenskij com
relação à interpretação de textos culturais. Segundo estes dois autores, é importante
compreender a manifestação da formulação de sistemas de cultura que nós entendemos
serem sistemas da representação semiótica da visão de mundo, ou seja, sistemas que
relacionem experiências sociais e pessoais (Lotman & Uspenskij, 1981).
Palavras-chave
Princípios compositivos; percepção; processos organizativos; processos interpretativos.
Introdução
O objetivo do presente texto é apresentar uma ligação entre as teorias de percepção
visual que foram desenvolvidas a partir da escola da Gestalt, que correspondem a uma
das bases dos cursos de artes visuais, com as teorias de Lotman & Uspenskij com
relação à interpretação de textos culturais. Segundo estes dois autores, é importante
compreender a manifestação da formulação de sistemas de cultura que nós entendemos
serem sistemas da representação semiótica da visão de mundo, ou seja, sistemas que
relacionem experiências sociais e pessoais (Lotman & Uspenskij, 1981). Para tanto, será
apresentada na primeira seção deste trabalho, uma revisão sobre o estudo da percepção.
Na seção seguinte, serão apresentados alguns princípios estruturais de organização
compositiva, conforme propostos por Uspenskij. Em seguida, será apresentado um
modelo que relacione as teorias de percepção com teorias de Lotman & Uspenskij.
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Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho GT 07 – Sistemas Artísticos e Culturais, do I Encontro Internacional
para o Estudo da Semiosfera.
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Formada em Artes Plásticas com Bacharelado em Pintura pela ECA-USP, tem Mestrado com tema em
Comunicação e Semiótica e Doutorado com tema em Percepção Visual em Organizações Criativas. No Centro Univ.
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O Estudo da Percepção
A percepção é mais do que um reflexo em espelho do mundo, ou seja, uma reprodução
fiel da realidade oferecida pelos órgãos dos sentidos e é determinada por dois fatores
principais: um que se relaciona às características dos estímulos que ativam os órgãos
dos sentidos e outro que compreende as características do observador (Krech &
Crutchfield, 1976). Características dos estímulos referem-se a qualidades, por exemplo,
do timbre ou tonalidade de um som, da cor de um desenho; da espessura de um objeto.
A característica do estímulo é um dado do ambiente que propiciará possibilidades de
interpretações, de acordo com o leque de opções oferecidos por este estímulo específico.
O estudo da percepção tem sido pautado basicamente por duas abordagens nos últimos
três séculos: a abordagem analítica e a sintética, que segundo Aumont (1990) não se
contrapõem necessariamente. A abordagem analítica, apresentada por Berkeley (1709) e
Helmholtz (1925), parte de uma análise da estimulação do sistema visual pela luz,
fazendo com que componentes isolados correspondam a diversos aspectos da
experiência perceptiva real. As mais recentes pesquisas sobre o cérebro humano
reforçam esta abordagem ao evidenciarem a existência de células especializadas nas
funções elementares como a percepção de bordas, linhas, movimentos direcionais, entre
outros. Diversos autores referem-se aos nervos receptores, nos órgãos dos sentidos
gerais e cones e bastonetes nos órgãos de sentidos visuais (Bruce; Green & Georgeson,
2003). Esta vertente consagra importância ao estudo do olhar mais próximo da
consciência, com forte orientação cognitiva, em particular quanto ao problema da
seletividade do olhar, ângulo de atenção e busca visual.
Belas Artes é Docente da Pós-Graduação Lato Sensu e do Curso de Bacharelado em Artes Visuais. É Docente
também da ESPM no Curso de Graduação em Design. E-mail: paula@csillag.net
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A abordagem sintética, apresentada por Hering (1850), a escola da Gestalt e Gibson
(1979), consiste em buscar correspondentes da percepção do mundo visual no estímulo
único. Esta abordagem pressupõe que a imagem óptica na retina contém toda a
informação necessária à percepção dos objetos no espaço, uma vez que nosso sistema
visual está equipado para processá-la completamente.
Indagar qual destas duas abordagens é melhor é no mínimo uma questão ingênua, como
afirma Aumont (1990). Ambas foram desenvolvidas a partir de diversos dados
experimentais que as corroboram, e nem chegam a ser contraditórias, uma vez que seus
objetos são diferentes. Segundo Rock (1977) citado por Aumont (1990), estas duas
abordagens estudam dois modos de percepção diversos:
“O modo da constância, que é dominante na vida cotidiana e é objetivo, uma
vez que corresponde ao mundo físico, e o modo da proximidade, que tem
pouca relação com nosso comportamento habitual, mas desempenha papel
indispensável na percepção global (mesmo que seja difícil de descrever).”
(Aumont, 1990, pg. 57).
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O autor apresenta inicialmente as duas possibilidades para o ponto de vista: interno e
externo. Quando o artista assume ponto de vista externo, há uma perspectiva linear. A
imagem é desenvolvida como se vista por uma janela, com a barreira espacial necessária
entre o artista e o mundo representado. Com o ponto de vista interno, o artista coloca-se
dentro do mundo representado. Não há rigor perspectivo, formas se unem no volume
(Uspenskij, 1973).
Estes são apenas alguns exemplos dos princípios estruturais de organização compositiva
interna apresentados por Uspenskij, entretanto, já bastam para visualizar-se relações
com as teorias de percepção visual, o que veremos a seguir.
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Ligação entre as teorias de percepção com teorias de Lotman & Uspenskij
Entendendo a obra artística visual como um texto cultural, há uma ampla gama de
interpretações que se apresentam. Tais interpretações não podem ser consideradas sem
uma interpretação gestaltista em conjunto, uma vez que a base para a gama possível de
significados de uma obra provém da sua linguagem visual objetiva. Para uma melhor
visualização destas relações, será apresentado um modelo que as explicite.
Impressões Sensoriais
Processos Organizativos
Processos Interpretativos
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A Figura 1, acima, apresenta um esquema com esta subdivisão da percepção visual em
seus três processos. Veremos a seguir uma explanação de cada um dos três processos.
Impressões Sensoriais
As impressões sensoriais são informações recebidas por meio de canais específicos.
Estes canais são as terminações nervosas especializadas, denominadas de receptores,
que dão informações sobre o mundo que nos rodeia. Cada grupo especializado de
terminações nervosas caracteriza um diferente órgão de sentido, tal como, o olho, o
ouvido, o nariz, a boca e a pele.
Processos Organizativos
O processo organizativo da percepção é a primeira etapa da elaboração interna das
impressões sensoriais e ocorre no córtex cerebral. Essas elaborações, para cada espécie
animal, obedecem a determinados princípios gerais ou leis (Krech & Crutchfield, 1976).
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Por meio destes princípios, podemos generalizar afirmações perceptivas para diferentes
espécies.
As teorias propostas por estes estudiosos foram levadas adiante por outros autores
como, Kepes (1995 [1944]), Arnheim (1966, 1969, 1997 [1954],), Munari (2000
[1968]), Scott (1979), Wong (1993) e Dondis (1999). Kepes (1995 [1944]) analisou o
efeito da linguagem visual na estrutura da consciência humana, em particular, como os
elementos da linha e da forma são percebidos e como perspectivas inovadoras podem
resultar em representações mais dinâmicas em arte. O mesmo autor designa os termos
gramática e sintaxe da visão. Ele apresenta as relações de quais forças do sistema
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nervoso humano e do mundo exterior produzem quais tensões visuais e soluções para
tensões; quais combinações de elementos visuais resultam em quais novas organizações
de sentimentos e quais afirmações visuais podem ser feitas com linhas, cores, formas,
texturas e arranjos. Arnheim (1966, 1969, 1997 [1954],) aplicou princípios e
interpretações da Psicologia moderna ao estudo da arte; descreveu o processo visual que
se desenvolve quando as pessoas criam ou observam obras de arte e explicou como a
visão organiza o universo visual. Munari (2000 [1968]) utilizou o termo “coerência
formal” para tratar dos princípios de gestalt em obras, substituindo os julgamentos
subjetivos de bonito ou feio. Scott (1979) apresentou um novo conceito de para o termo
desenho, integrando os princípios de percepção visual e gestalt, para compreender
instâncias, como por exemplo, do ritmo, do movimento e da unidade orgânica de uma
obra. Wong (1993) integrou explicações dos princípios de design com os conceitos
atuais de computação gráfica. Dondis (1999) fez uma analogia da linguagem visual com
a linguagem verbal, usando termos como alfabeto visual, sintaxe visual e poesia visual
para esclarecer os princípios da gestalt e percepção visual.
Processos Interpretativos
Após o processo organizativo, começa o processo interpretativo das sensações, no qual
ocorre a influência de variáveis psicológicas, sociológicas, filosóficas, e culturais.
Ogden e Richards (1972) explicam esta complexidade interpretativa ao separar os
significados dos significantes e referentes, permitindo uma ampla variação de
significados para um mesmo objeto ou estímulo sensorial.
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significante
(símbolo, experiência verbal)
referente significado
(estímulos sensoriais, (referência,
objeto real) unidade cultural)
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vista sobre esta imagem. São as variáveis culturais, de aprendizado, filosóficas,
ideológicas, entre outras, atuando sobre os estímulos visuais elaborados no córtex.
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Os experimentos com pacientes que tiveram o córtex cerebral danificado comprovam a
diferença entre as impressões sensoriais e os processos organizativos. Uma pessoa com
os órgãos de visão normais pode receber normalmente os estímulos visuais, por
exemplo, sua pupila retrai com uma luz intensa. Entretanto, é no córtex cerebral que
estes estímulos recebem uma organização, ou seja, é lá que o cérebro organiza este
estímulo como um elemento claro em contraste com seu redor escuro.
Conclusão
São os processos organizativos que estabelecem qual o leque de possibilidades para
interpretações do texto cultural, compreendendo a manifestação da formulação de
sistemas de cultura que nós entendemos serem sistemas da representação semiótica da
visão de mundo, ou seja, sistemas que relacionem experiências sociais e pessoais.
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Referências Bibliográficas
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17. LOTMAN, J., USPENSKIJ, B. et al. Ensaios de Semiótica Soviética. Lisboa: Horizonte,
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22. SCOTT, R. G. Fundamentos del Diseño. Buenos Aires: Editorial Victor Leru, 1979.
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