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o cultivo do desenho infantil

Repensando a Experiência Escolar da Criança

Igor Rodolpho Pupo


Isabelle Alfonso Ittner

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o cultivo do desenho infantil
Repensando a Experiência Escolar da Criança

Igor Rodolpho Pupo


Isabelle Alfonso Ittner

A partir da problemática do bloqueio da criança com


o desenho, pensamos algumas soluções: quebrar as
ideias de “desenho bom” e “desenho ruim”, propor-
cionar um ensino que tenha sentido na vida da crian-
ça e seja estimulante.

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"E deixar a mão correr, brincar, seguindo os olhos e o coração,
deixando os pensamentos e sensações marcados no papel.
Inscrevendo sua marca.
Marcando sua presença."

Ana Angélica Albano Moreira

Camila Couto. Sem título, 2017.


Lápis de cor sobre papel.

Camila Couto (in memorian), presente.

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Índice
8 Desenhando com Paul Klee

16 Desenhando e explorando as linhas no e do


espaço

20 Vendo o mundo com Basquiat

27 Anexos: Cartões com imagens das obras


dos artistas.

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Faixa etária:

Crianças de 5 a 11 anos.

Objetivos:

- Proporcionar a descoberta de téc-


nicas de desenho alternativas, que
exigem a preparação do suporte.
- Ampliar o repertório visual dos
alunos com as obras do artista Paul
Klee.
- Estimular a observação dos alu-
nos para a imagem seus colegas,
desenvolvendo alteridade.
- Quebrar a ideia de desenho de ob-
servação como cópia da realidade,
estimulando a imaginação sobre o
olhar.
- Experimentar a representação vi-
sual da música e seus elementos
sonoros.
- Proporcionar experiências lúdicas
de atividades de desenho.
- Estimular a int eração entre os alu-
Sequência didática 1 nos, através dos grupos e duplas.
- Desenvolver a percepção sobre

Desenhando com Paul Klee.


material e suporte no desenho.

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Justificativa:

A leitura de imagem em grupo é A primeira atividade propõe dese-


importante para promover a troca nho de observação de retrato do
entre os alunos e somar às interpre- colega. Nesse momento a apren-
tações, despertando em cada um dizagem é contextualizada, pois os
a atenção pro que não seria visto alunos convivem entre si cotidia-
individualmente. Paul Klee foi um namente, o que torna interessante
importante pintor modernista e in- para além da sala de aula a ação
fluente no universo do desenho até de representar uns aos outros.
hoje, inclusive para ilustrações e A segunda atividade propõe o de-
animações muito presentes na vida senho com música, relacionando
da criança, o que torna relevante as diferentes linguagens artísticas
essa apresentação de repertório. como o próprio Klee fazia. Pen-
As atividades práticas propõem sar a visualidade da música é um
uma experimentação incomum de exercício de descoberta e criativi-
materiais e suportes, como o uso da dade. Se tratando de músicas in-
ponta seca e a preparação da folha fantis conhecidas, representá-las
com tinta antes da realização do através do desenho é uma forma
desenho. O contato com essas téc- de contextualizar a atividade na
nicas é estimulante e desperta inte- vida da criança.
resse pelas descobertas materiais e
Paul Klee. Máscara do Medo,1932. Óleo sobre lona. visuais no desenho.

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Apresentação das obras de Paul Klee

Em grupos de 6 alunos. Cada grupo recebe uma imagem de


uma obra do artista Paul Klee. O grupo deve analisar a ima-
gem, conversar, e depois contar pra turma o que observou.

Atividade 1: Retrato Indireto

Apresentação de trabalho de Klee feito com a técnica do dese-


nho indireto.
Cada aluno recebe duas folhas. Uma folha é untada com tinta
óleo e colocada sobre a outra, com a tinta para baixo. O dese-
nho é feito com ponta seca no verso da folha untada, de forma
que a imagem é transferida para a folha em branco. É impor-
tante que o processo seja explicado e realizado primeiro pelo
professor, para que os alunos compreendam o procedimento
antes de iniciar a primeira etapa.
Em duplas, os alunos devem desenhar retratos dos colegas
através da observação, seguindo o procedimento do desenho
indireto. Assim, não se vê as linhas durante o processo, de for-
ma que a imagem final se distorce em relação à expectativa
do aluno. É interessante permitir a brincadeira e imaginação
durante o desenho, e deixar claro que a ideia não é copiar a
imagem real do colega.

Paul Klee. Equilibrista,1923.

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Paul Klee. Pavilhão Sinalizado, 1955.

Atividade 2: Linha colorida com música

Apresentação de trabalho de Klee feito com a técnica do dese-


nho sobre folha colorida e coberta com tinta preta.
Cada aluno recebe uma folha com a proposta de preenchê-la
com giz-de-cera colorido. Depois de preencher, os alunos de-
vem “esconder” a pintura cobrindo com nanquim.
Sobre as folhas cobertas de nanquim, os alunos desenham
com ponta seca, raspando o nanquim e revelando as cores de
giz que estavam escondidas. A proposta do desenho é tentar
representar os sons de uma música que será reproduzida du-
rante a atividade, podendo ser uma música infantil.

Materiais

Papel sulfite, papel canson, nanquim, ponta seca (agulha, tam-


pa de caneta, etc.), tinta óleo, giz-de-cera, dispositivo de repro-
dução de música.

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Faixa etária:

Crianças de 5 a 11 anos.

Objetivos:

- Ampliar o repertório visual dos


alunos através da apreciação artís-
tica e da leitura de imagens de ar-
tistas modernos.
- Trabalhar as noções da linguagem
visual através do ritmo nos diferen-
tes tipos de linhas.
- Desenvolver a percepção visual da
criança para os elementos e formas
que estão presentes no seu contex-
to e cotidiano.
- Estimular a expressão pessoal
por meio do compartilhamento em
roda.
- Incentivar o desenho de observa-
ção, bem como a criação própria do
Sequência didática 2 aluno eliminando as possibilidades
de interferências e bloqueios por
conta dos estereótipos presentes

Desenhando e explorando as nos desenhos prontos.

linhas no e do espaço.

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Metodologia:

O que são os sonhos? Quais os sonhos que as crianças têm?


Como é o universo onírico e com quais linhas e formas é cons-
truído o imaginário infantil?
Para essa atividade, cada criança deve contar compartilhando
em roda, um sonho seu, de maneira que esse exercício seja
sempre mediado e conduzido também pelo professor da sala.
Após essa conversa, os alunos deverão se reunir em grupos de
cinco, para um momento de apreciação e leitura de imagem,
onde serão distribuídas para cada grupo um cartão com uma
imagem do artista Joan Miró.
Observada a obra, a professora poderá fazer alguns aponta-
mentos no intuito de despertar a percepção visual dos alunos
para as linhas e formas que compõem a obra do artista, ques-
tionando como são essas linhas, para onde elas vão e como
elas se comportam na obra do artista.
Após levantar essas questões referentes à linha e à linguagem
visual, a professora pode levar os alunos ao pátio o parquinho
Joan Miró. O Sorriso Das Asas Extravagantes,1953. Óleo sobre tela. da escola para que elas observem as linhas que compõem e
formam os objetos presentes nesses espaços, de forma a in-
centivar o olhar da criança para coisas e formas presentes no
seu dia-a-dia.
Justificativa: Feito isso, é o momento da produção artística, onde as crian-
ças irão receber lãs e barbantes de diversas cores para pode-
A importância de se pensar uma se- através da interação entre grupos e rem instalar em conjunto dentro da sala de aula, formando
quência didática,consiste em prio- pares de modo que o conhecimento uma espécie de desenho coletivo, que posteriormente servirá
rizar a qualidade de atividades que seja construído coletivamente. Além de “fundo”, ambiente, para que elas desenhem os colegas nes-
são propostas à criança aliadas ao da socialização, valorizamos a im- se espaço.
tempo disponibilizado à essas ativi- portância de se criar espaços e tem-
dades para que junto à metodolo- pos para que a criança se expresse Materiais:
gia, sejam significativas ao aprendi- verbalmente, de maneira a estimu-
zado da criança. lar a expressão pessoal e o respeito Cartões com as obras do artista Miró, linhas de diferentes es-
Com as propostas de atividades mútuo entre os demais colegas, por pessuras e cores : barbantes, lãs, sisal, fita crepe, sulfite, giz de
apresentadas acima, pretendemos meio do compartilhamento no for- cera, canetinha.
incentivar a socialização da criança, mato de roda de conversa.

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Faixa etária:

Crianças de 5 a 10 anos.

Objetivos:

- Estimular a reflexão política numa lin-


guagem significativa para o universo in-
fantil.
- Estimular o pensamento crítico e o olhar
atento para a realidade.
- Ampliar o repertório dos alunos com o
trabalho do artista contemporâneo Jean-
Michel Basquiat.
- Exercitar o olhar e ampliar percepções
sobre o mundo visual através da leitura
de imagem.
- Experimentar de materiais diversos na
criação plástica.
- Trabalhar a possibilidade do desenho
em suporte vertical, explorando o corpo
de forma diferenciada.
- Proporcionar criação coletiva, em su-
porte único, promovendo alteridade na
prática artística.
- Explorar a possibilidade do desenho ex-
Sequência didática 3 pandido pelo espaço, se fundindo à ar-
quitetura.
- Quebrar estereótipos do desenho, pro-
Vendo o mundo com pondo uma atividade mais lúdica, que
usa todo o corpo, e com materiais e su-

Basquiat
portes diferentes.
- Contextualizar a atividade ao repertório
de vida dos alunos, através da conversa
sobre o que cada um queria mudar no
mundo.

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Justificativa:

Começando com uma conversa so- são variados e por isso a criança
bre o que as crianças gostariam de deve escolher antes de desenhar, o
mudar no mundo, inicia-se a sequ- que permite uma descoberta das ca-
ência didática com a contextualiza- racterísticas que os distinguem. Com
ção, seguindo a proposta triangular retalhos de papéis e tecidos explora-
de Ana Mae Barbosa. -se a colagem, possibilitando trans-
Apresentar as obras do artista Je- formar as texturas, relevos, cores,
an-Michel Basquiat vem como com- formas e camadas do trabalho. Com
plemento dessa conversa, já que o o guache preto também é possível
artista aborda temas políticos e explorar a mancha no desenho, pas-
tem uma poética de crítica a rea- sando pela linguagem da pintura. A
lidade humana. Nessa sequência, cor preta é para evitar uma atenção
a obra de Basquiat pode se fazer grande às cores, que não é o foco da
mais significativa para a criança do atividade. O giz e o canetão cum-
que se fosse apresentada em um prem o papel de fazer linhas, essen-
momento descontextualizado. Esse cial para o aprendizado em desenho.
momento é de leitura de imagem, e O tema da atividade prática, “as coi-
tem também a importância de pro- sas no mundo que queríamos mu-
mover a exploração do olhar para o dar”, é estimulante para a expressão
universo visual e artístico. Feito em da visão de mundo através das artes
grupo e com as imagens impressas, plásticas. A ação também dialoga
estimula-se a troca de leituras e com o trabalho do artista Basquiat
ideias, assim como a curiosidade do por abordar o sentimento de incon-
corpo que segura a folha e a obser- formismo e provoca nas crianças a
va de perto. reflexão sobre a realidade.
Na atividade prática há um estí- É importante ressaltar que a sequên-
mulo de ações experimentais do cia didática quebra com estereótipos
corpo na relação com os materiais do desenho, por abordar um artista
e o suporte, pois tudo se apresen- contemporâneo com traços rudes e
ta de forma distinta do comum. O imperfeitos, por propor uma ativida-
suporte é coletivo, está na parede de prática diferenciada do comum,
da sala de aula, se fundindo com a que não se debruça sobre a carteira,
arquitetura e disposto na vertical, e e por trazer contextualização e leitu-
também não é branco como o mais ra de imagem para a prática escolar. Jean Michel Basquiat. Flexível,1984.
comum, e sim pardo. Os materiais

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Metodologia:

Primeiro ocorre um momento de conversa sobre “o que gosta-


ríamos de mudar no mundo?”, deixando que as crianças colo-
quem suas próprias percepções sobre os problemas da reali-
dade.
Depois, as crianças recebem imagens impressas de obras do
artista Jean-Michel Basquiat. Para isso, forma-se grupos de 6
crianças e cada um recebe uma imagem e elas podem ser tro-
cadas entre grupos no decorrer da atividade. Nesse momento,
a leitura de imagem pode ser orientada com a pergunta “o que
será que esse artista queria mudar no mundo?”. Assim, dá-se
continuidade à conversa anterior e aprende-se sobre o traba-
lho de Basquiat.
Em seguida, é proposta uma atividade de criação com o tema
“as coisas no mundo que queríamos mudar”. Para realizar a
ação, forra-se as paredes com papel kraft para que os alunos
desenhem em posição vertical. Os papéis são agrupados sem
deixar divisões, de forma que o suporte de todos os alunos seja
um só, assim os desenhos se misturam e o trabalho é coletivo.
O educador pode sugerir que as crianças imaginem a parede
como uma janela que revela o mundo real.
Para a ação, diversos materiais são dispostos para o aluno es-
colher e explorar as características de cada um. É importante
haver retalhos de papel e/ou tecido, tesouras para recortá-los
e cola para fixá-los no kraft. Assim, a atividade mistura cola-
gem e desenho. Com guache preto, é possível explorar as man-
chas e a linguagem da pintura também, mas sem aprofundar
na questão da cor.

Materiais:
Papel kraft (rolo), giz-de-cera, canetão, guache preto, retalhos
de papel e/ou tecido, tesoura, cola.

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