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AUTORES:
Lucy Takehara
Issao Shintaku
Débora Matos Rabelo
Francisco Valdir Silveira
Brasília
2015
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
ISBN 978-85-7499-278-5
CDD 553.493
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL
DE TERRAS RARAS NO BRASIL
APRESENTAÇÃO
VII
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
RESUMO
IX
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
X
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................................17
1.1 Panorama Nacional ..............................................................................................................18
1.2 Estuda de Mercado ..............................................................................................................23
1.2.1 Mercado Internacional .......................................................................................................23
1.2.2 Mercado Nacional ..............................................................................................................26
2 ELEMENTOS TERRAS RARAS ....................................................................................................29
2.1 Geoquímica dos Elementos Terras Raras ...............................................................................29
2.2 Minerais de Terras Raras .......................................................................................................36
3 TIPOS DE DEPÓSITOS DE TERRAS RARAS .................................................................................43
3.1 Depósitos Primários .............................................................................................................44
3.1.1 Rochas Alcalinas/Carbonatíticas .........................................................................................44
3.1.2 Rochas Peralcalinas Subsaturadas em Sílica ........................................................................49
3.1.3 Rochas Graníticas Diferenciadas .........................................................................................50
3.1.4 Outros Tipos de Depósitos ..................................................................................................51
3.2 Depósitos Secundários .........................................................................................................51
3.2.1 Depósitos Tipo Placer .........................................................................................................52
3.2.2 Depósitos de Intemperismo Residual (Supergênico) - Lateríticos .......................................53
4. USOS E APLICAÇÕES ...............................................................................................................57
4.1 Caracteríticas de Cada Elemento ...........................................................................................59
4.1.1 Escândio (Sc) .......................................................................................................................59
4.1.2 Ítrio (Y) ................................................................................................................................59
4.1.3 Lantânio (La) .......................................................................................................................60
4.1.4 Cério (Ce) ............................................................................................................................60
4.1.5 Praseodímio (Pr) .................................................................................................................61
4.1.6 Neodímio (Nd) ....................................................................................................................61
4.1.7 Promécio (Pm) ....................................................................................................................62
4.1.8 Samário (Sm) ......................................................................................................................63
4.1.9 Európio (Eu) ........................................................................................................................63
4.1.10 Gadolínio (Gd) ..................................................................................................................63
4.1.11 Térbio (Tb) ........................................................................................................................64
4.1.12 Disprósio (Dy) ...................................................................................................................64
4.1.13 Hólmio (Ho) ......................................................................................................................65
4.1.14 Érbio (Er) ...........................................................................................................................65
4.1.15 Túlio (Tm) ..........................................................................................................................66
4.1.16 Itérbio (Yb) ..................................................................................................................................... 66
4.1.17 Lutécio (Lu) .......................................................................................................................66
5. TERRAS RARAS EM COMPLEXOS ALCALINOS ...........................................................................67
5.1 Depósitos com Potencial Econômico Reconhecido para Terras Raras .....................................61
5.1.1 Morro dos Seis Lagos (AM) ................................................................................................ 71
5.1.1.1 Características do Depósito ................................................................................... 72
5.1.1.2 Histórico .................................................................................................................72
5.1.1.3 Importância Econômica ......................................................................................... 73
5.1.1.4 Geologia ................................................................................................................ 74
5.1.1.5 Mineralização de ETR ............................................................................................. 79
5.1.2 BARRA DO ITAPIRAPUÃ I E II (SP e PR) ................................................................................ 80
5.1.2.1 Características do Depósito ....................................................................................81
5.1.2.2 Histórico .................................................................................................................81
5.1.2.3 Importância Econômica ..........................................................................................82
5.1.2.4 Geologia ................................................................................................................ 82
XI
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
XII
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
XIII
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
XIV
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL
DE TERRAS
RARAS NO BRASIL
1 - Introdução
No Plano Nacional de Mineração 2030 lantanídeos [elementos com número atômico (Z)
(PNM2030), programa plurianual do governo entre 57 e 71, isto é do lantânio – La ao lutécio –
federal, os elementos terras raras (ETR), lítio e Lu], aos quais se juntam o escândio (Z = 21) e o
agrominerais (minerais aplicados na agricultura) ítrio (Z = 39). Estes dois últimos elementos foram
são considerados estratégicos e contam com incluídos por apresentarem propriedades físico-
investimento efetivo e de longo prazo. Neste químicas semelhantes aos ETR.
programa, o governo brasileiro vem reunindo os O início do processo de extração de ETR dos
diferentes órgãos estatais, bem como a iniciativa minerais era na forma de mistura de óxidos,
privada para realizarem em conjunto, estudos recebendo designação de "terra" pelo seu
de desenvolvimento da verticalização da cadeia aspecto terroso, por Johan Gadolin químico
produtiva de ETR no Brasil. finlandês em 1794 (WILLIAM-JONES; MIGDISOV;
A demanda nacional e internacional por SAMSON, 2012). Por serem apenas conhecidos
esses minerais estratégicos fez com que o em minerais oriundos da Escandinávia e a
Ministério de Minas e Energia – MME e o separação em óxidos individuais serem de
Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, difíceis, foram considerados "raros", daí
em esforço conjunto, instituíssem um Grupo resultando a denominação "terras raras". O
de Trabalho Interministerial sobre Minerais termo ainda é utilizado, apesar de alguns destes
Estratégicos - GTI-ME, Portaria Interministerial elementos serem mais abundantes que muitos
Nº 614 de 30 de Junho de 2010. O GTI-ME tem elementos de interesse econômico encontrados
como finalidade a elaboração de propostas na composição da crosta terrestre.
de integração, coordenação e aprimoramento Apesar da sua abundância relativamente
das políticas, diretrizes e ações voltadas para elevada, os minerais de ETR podem ser
minerais estratégicos. O projeto “Avaliação do facilmente explotados, como a monazita
Potencial dos Minerais Estratégicos do Brasil” oriunda dos depósitos tipo placer. A separação
em realização pela CPRM – Serviço Geológico dos ETR dos outros elementos é relativamente
do Brasil vem ao encontro da necessidade de se fácil, no entanto a sua separação em óxidos e /
produzir um diagnóstico do potencial brasileiro ou metais individuais são processos complexos
para esses bens minerais, entre os quais os e dispendiosos, devido às pequenas diferenças
ETR. O projeto Terras Raras vem dar suporte à nos seus comportamentos químicos. O processo
formulação e execução de políticas públicas para de separação em escala industrial foi possível
seu aproveitamento no desenvolvimento da com desenvolvimento e aprimoramento de
indústria brasileira. técnicas de extração, tais como a troca iônica,
Os ETR fazem parte de um grupo de cristalização fracionada e extração líquido -
dezessete elementos quimicamente coerentes, líquido. Estas técnicas foram desenvolvidas
de acordo com a classificação da International nas décadas de 1950 e de 1960, após o
Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC). entendimento da química dos lantanídeos, que
Deste grupo, quinze pertencem ao grupo dos foi a chave para a metalurgia dos actinídeos
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
(CHAKHMOURADIAN & WALL, 2012). O novo panorama fez com que aumentasse a
Atualmente está sendo desenvolvida extração produção ilegal de ETR na China, que o governo
por técnicas de eletroforese, bioextração, entre chinês procura controlar, tanto pela questão de
outras; que poderão vir a ser utilizadas como mercado quanto pela tentativa de minimizar os
método industrial alternativo de separação de danos ambientais provocados pela sua extração.
ETR. Este controle, também motivou a diminuição
Os ETR são conhecidos por diversos adjetivos, da oferta de ETR no mercado mundial. A menor
tais como: “vitaminas da indústria”, “elementos oferta de ETR no mercado fez com que vários
do futuro” e “ouro do século XXI”, que refletem países retomassem as pesquisas deste bem
seu aumento de importância em muitas mineral. Como exemplo destacamos o depósito
aplicações industriais. Os ETR são considerados descoberto no mar pelo Japão (TORRES,
elementos da "terceira onda", por sua ampla 2013), a extração de ETR de lama de rejeito
aplicação em produtos de alta tecnologia. A de bauxita da Jamaica (WESTLAKE, 2013), a
importância dos ETR na indústria moderna deve- reativação de empreendimentos já existentes,
se às suas inúmeras aplicações na metalurgia, como Mountain Pass nos EUA (MOLYCORP
energia eólica e nuclear, indústria petrolífera, INC., 2013), além de vários novos projetos em
agricultura, entre outras. Estas aplicações em andamento ao redor do mundo, inclusive no
produtos de alta tecnologia agregam valor, pois Brasil. Associado a estas movimentações, em
melhoram a sua eficiência, como por exemplo: 2012, os EUA, Europa e Japão denunciaram a
(1) liga de NdFeB (Neodímio-Ferro-Boro) para política de cotas de exportação impostas pela
produzir super imã, de ampla aplicação em China, junto a Organização Mundial do Comércio
carros elétricos, sistema de energia e trens (OMC). Esta organização deu parecer favorável
de alta velocidade; (2) o uso do Európio (Eu) aos países denunciantes, pedindo ao governo
nas telas de computadores e televisão; dentre chinês o encerramento da cota de exportação
outras. (YOUNG, 2014). Em dezembro de 2014, a China
A implantação de cotas de exportação de ETR encerrou a política de cota de exportação para
pela China é uma política iniciada no começo ETR, no entanto especialistas garantem que a
dos anos 2000 e foi intensificada em 2010 (TSE, regularização do suprimento e estabilização
2011). Esta política de cotas de exportação afetou dos preços de ETR não deverá ocorrer em curto
o mercado com forte aumento nos preços de ETR prazo (PAUL, 2015).
em 2011 e problemas de suprimento de matéria
prima. Além da política de cotas de exportação, 1.1 - PANORAMA NACIONAL
o governo chinês adotou algumas medidas de Em 29 de Julho de 2010 foi realizada uma
proteção, tais como: proibição de investimento reunião do Grupo de Trabalho Interministerial
externo na mineração e participação restrita – Ministério de Minas e Energia e Ministério da
nos projetos de fundição e separação de Ciência, Tecnologia e Inovação (GTI-ME MME/
ETR; incentivo de exportação de produtos MCTI) para tratar sobre minerais estratégicos. O
manufaturados; proibição de mineração de grupo de trabalho teve como objetivo agrupar as
monazita com elementos radioativos, entre competências técnico-científicas e empresariais
outras medidas (HURST, 2010; TSE, 2011). existentes no país na área de ETR. Entre os quais,
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
apresentar as áreas temáticas, bem como suas e Terras Raras, publicado em novembro de 2014
linhas de pesquisas prioritárias e as respectivas (BRASIL, 2014).
ações, metas e fontes de financiamentos. O Senado Federal realizou Audiências
O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Públicas sobre a questão das ETR na Comissão
(CGEE) a pedido do MCTI realizou em 2013 o de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicações
estudo prospectivo “Estudo de Usos e Aplicações e Informática do Senado (CCT). Nas audiências
de Terras Raras” para subsidiar políticas da Subcomissão Temporária para Elaboração
de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Marco Regulatório de Mineração em Terras-
(PD&I) fundamentais para o desenvolvimento Raras (CCTTSTTR) foram realizados debates
socioeconômico sustentável da cadeia produtiva com diferentes setores da cadeia produtiva. Os
de ETR no país (BRASIL, 2013). O Departamento resultados destes debates foram publicados
de Transformação e Tecnologia Mineral na Revista de Audiências Públicas do Senando
(DTM) da Secretaria de Geologia, Mineração e Federal, cujo título é “Terras Raras Estratégia
Transformação Mineral (SGM) do MME vem para o Futuro” (EM DISCUSSÃO, 2013).
realizando reuniões sistemáticas desde 2012 Neste sentido, os esforços dos poderes
com as empresas de mineração que estão executivo e legislativo estão voltados para a
desenvolvendo projetos de pesquisas para ETR. discussão e busca de soluções para viabilizar a
Além destas ações realizadas pelos MME e extração e o desenvolvimento da cadeia produtiva
MCTI, tanto a Câmara quanto o Senado Federal dos ETR no Brasil. Estes esforços proporcionarão
criaram comissões específicas para estudos a busca por fontes seguras de suprimento desta
dos ETR. No Congresso Nacional, o Conselho commodity antecipando futuras demandas da
de Altos Estudos tem convidado especialistas indústria brasileira e colocando o país na rota da
para discutir o assunto, resultando na realização inovação tecnológica.
do seminário e publicação do livro “Minerais O alinhamento dos órgãos públicos de
Estratégicos e Terras Raras” (BRASIL, 2014). Em pesquisas, universidades e empresas privadas,
9 de novembro de 2011, o engenheiro Leonam em torno dessa cadeia produtiva dos ETR, faz-se
dos Santos Guimarães fez uma palestra neste oportuna para o desenvolvimento de tecnologias
Conselho versando sobre o assunto e uma de de concentração e extração dos óxidos de ETR
suas conclusões foi a de que “O Brasil começa (OTR). Isto se traduz em pré-requisito básico para
a despertar para o assunto, até porque domina a reativação e aprimoramento dessa cadeia que
as tecnologias para mineração e processamento. conduzirão a novos desafios e desenvolvimentos
Mais do que isso, dispõe de apreciáveis reservas tecnológicos.
e, no passado (década de 1990), demonstrou O Serviço Geológico do Brasil - CPRM tem tido
competência tanto na pesquisa quanto em participação ativa nesses fóruns de discussões,
experimentos de caráter laboratorial, a ponto com apresentação dos trabalhos que estão
de haver criado uma empresa para produzir sendo realizados nesta área do conhecimento.
superímãs, lamentavelmente logo fechada em O Projeto de Avaliação do Potencial de Terras
face de dumping chinês” (GUIMARÃES, 2011). Raras no Brasil, desenvolvido pela CPRM, está
As discussões e apresentações dos especialistas inserido dentro do empreendimento “Avaliação
estão publicadas no livro: Minerais Estratégicos do Potencial de Minerais Estratégicos do Brasil”
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 1.1 - Áreas com depósitos e ocorrências de ETR no território nacional (modif. de LAPIDO-LOUREIRO,
1994; ORRIS; GRAUCH, 2002).
O Brasil foi um dos maiores produtores de de 1984, a China iniciou a produção de ETR
monazita até meados do século passado (ROCIO compartilhando o mercado mundial com os
et al.,2012), substituído pelos EUA na década EUA e de 1990 em diante, passou a dominar
de 1980, que passou a dominar o mercado o mercado gradativamente (Figura 1.2). A
com a produção de Mountain Pass (Figura 1.2) produção brasileira de concentrados de terras
(HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS, 2011). A partir raras foi encerrada em 2002, quando chegou
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 1.2 – Produção mundial de ETR de 1950 até 2010. (modif. de HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS, 2011).
As maiores reservas mundiais conhecidas Córrego do Garimpo e Lagoa Seca Norte, com
de ETR estão apresentadas na Tabela 1.1 reserva medida de 41,4 Mt @ 5,39% de OTR
(DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO (RIBEIRO, 2008). Reservas de depósitos tipo
MINERAL, 2013a), destacando-se China, Brasil placer têm mais de 600 mt (DEPARTAMENTO
e EUA. A reserva brasileira lavrável aprovada NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2013a),
em 2013 é de aproximadamente 22 milhões de que despertam interesse comercial pelo baixo
toneladas (Mt) de OTR contidos, com 14, Mt @ volume de cada depósito e alto teor de tório das
3,02% OTR pertencentes à CBMM e 7,73 Mt @ monazitas.
2,35% óxido de terras raras (OTR) pertencente
à Companhia de Desenvolvimento de Minas Tabela 1.1 – As maiores reservas mundias de ETR
Gerais (CODEMIG) e uma área em Barra do (U.S.GEOLOGICAL SURVEY, 2015).
Itapirapuã com 97,96 mil toneladas (mt) @ Reservas (Milhões de
4,89% OTR (DEPARTAMENTO NACIONAL DE País
toneladas - Mt)
PRODUÇÃO MINERAL, 2013a). Em curto prazo, China 55
a reserva brasileira poderá ser maior, visto que
Brasil 22
outros estudos de viabilidade econômica estão
sendo desenvolvidos, como os Projetos: Morro EUA 1,8
do Ferro, em Poços de Caldas (MG) com 7 Mt @
2,89% OTR (EDEM PROJETOS, 2014); Mineração Índia 3,1
Terras Raras com 6 Mt de reserva medida e Austrália 3,2
em processo de reavaliação; Mina de Pitinga,
Presidente Figueiredo (AM), com reserva
estimada de 2 Mt de xenotima (DEPARTAMENTO Na China e nos EUA, os ETR estão contidos
NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2013a); em bastnaesita [(Ce)2 (Ce,La)(CO3)F], a qual
Complexo de Catalão (GO), que tem os depósitos representa a principal fonte de ETR mundial,
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
enquanto que a reserva brasileira está associada produtos derivados (ou transformados) de
com monazita [(Ce,La,Nd,Th)PO4], como nos ETR. Vale ressaltar que há um esforço mundial
carbonatitos de Araxá (MG) e Catalão (GO) e no desenvolvimento da cadeia produtiva de
também nos depósitos tipo placers marinhos; ETR diante da sua importância em produtos de
no depósito de Pitinga o mineral de minério é alta tecnologia e energia limpa. No entanto,
a xenotima (YPO4); e no granito Serra Dourada a viabilidade dos projetos de extração de
a mineralização está associada às argilas de ETR depende de pontos importantes a serem
adsorção iônica. Os dois primeiros minerais são destacados, como: mercado pequeno, altos
portadores de ETR leves (ETRL) e os dois últimos custos de produção, questões tecnológicas e
de ETR pesados (ETRP). ambientais.
Atualmente alguns depósitos minerais estão O fator mercadológico atual, mercado versus
em processo de desenvolvimento da rota riscos de produção, é um dos grandes problemas
tecnológica para produção de óxidos e metais para esta commodity, além das incertezas
de ETR. Os projetos avançados são: (i) CBMM de fornecimento, diante da instabilidade da
que está produzindo 100 t/mês de sulfato dependência de um único fornecedor. Por
duplo e hidróxidos de ETR no depósito de Araxá outro lado, estão ocorrendo movimentações
(COMPANHIA BRASILEIRA DE METALURGIA E de grupos de pesquisas no desenvolvimento de
MINERAÇÃO, 2013) e firmaram parceria com o rotas tecnológicas alternativas aos existentes,
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para como por exemplo: a separação de ETR por fluxo
a produção de Nd metálico (VILLELA, 2014); livre eletroforesis em desenvolvimento pela
(ii) MbAC Fertilizantes em fase de estudo GéoMéga (GÉOMÉGA RESOURCES INC., 2014).
de viabilidade com previsão para entrar em Os maiores dependentes desta matéria prima
operação em 2016 no depósito de Araxá são França, Japão, EUA e Áustria e os principais
na área conhecida como Área Zero (MBAC produtores e/ou detentores de tecnologia com
FERTILIZANTES CORP., 2013); (iii) Mineração uso de ETR são EUA, China, Índia, França, Japão
Taboca S.A. também tem realizado estudos e Áustria. A previsão do Walters et al. (2010) é
de viabilidade para xenotima no depósito de que a partir de 2014 haja deficiência em Nd, Eu,
Pitinga (GARCIA, 2012); (iv) MINERAÇÃO SERRA Tb e Dy, conhecidos como ETR críticos dos quais
VERDE está realizando estudos de viabilidade o Nd é o de maior déficit. A entrada da produção
no Granito Serra Dourada (GO) (porção centro no mercado dos novos empreendimentos de
– sul) (MINERAÇÃO SERRA VERDE, 2014); ETR mostram que a deficiência desses ETR
e (v) Mineração Mata Azul está firmando críticos pode não ser totalmente solucionada
parcerias com a Canada Rare Earth (CREC) para e que poderá haver super oferta de La e Ce.
desenvolvimento de negócio integrado em ETR Estudos realizados pela Adamas Intelligence em
na porção norte do Granito Serra Dourada (TO) 2014 indicam que a demanda pelos ETR críticos
(BRASIL MINERAL ONLINE, 2014). serão menores do que diagnosticados, por
A integração dos esforços de diferentes outro lado, atualmente é conhecida apenas uma
setores na cadeia produtiva de ETR brasileira pequena fração das aplicações potenciais destes
possibilitará suprir a demanda interna e tornar elementos (CASTILLOUX, 2014).
o país um exportador de matéria prima e de A demanda mundial por ETR e o crescimento
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 1.3 - Principais reservas medidas de ETR entre 2010 e 2013. (Dados do USGS 2011 a 2014).
Figura 1.4 - Principais países produtores de ETR entre 2010 e 2013. (Dados do USGS 2011 a 2014).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 1.5 - Previsão da demanda e suprimento global para os ETR, estimado para 2010, 2015 e 2020 (ERNST
& YOUNG, 2011).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
determinações do governo central chinês. Este baixo custo de produção, apenas para manter o
mercado paralelo é favorecido pelos preços fluxo de caixa.
favoráveis do produto e também por terem
Figura 1.6 – Evolução dos preços dos ETR após o anúncio de cotas de exportações feitas pela China (http://
static.businessinsider.com/image/54184eff69bedd666485259c/image.jpg, acesso em 20/10/2014).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A família dos ETR consiste em dezessete recolhida numa pedreira próxima à localidade
metais de transição pertencentes ao grupo III da de Ytterby, na Suécia (CHAKHMOURADIAN;
tabela periódica (Figura 2.1). Os ETR em ordem WALL, 2012). Na Tabela 2.1 é apresentado de
crescente de número atômico são: lantânio forma resumida o registro da descoberta dos
(La), cério (Ce), praseodímio (Pr), neodímio ETR (HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS, 2011).
(Nd), promécio (Pm), samário (Sm), európio
(Eu), gadolínio (Gd), térbio (Tb), disprósio (Dy), 2.1 - GEOQUÍMICA DOS ELEMENTOS TERRAS
hólmio (Ho), érbio (Er), túlio (Tm), itérbio (Yb) RARAS
e lutécio (Lu). O Sc possui raio iônico menor Os quinze elementos lantanídeos podem ser
e pode ser facilmente substituído por Mg, subdivididos em ETR Leves (ETRL) – La ao Eu e
Fe2+, Zr e Sn, por isto não é classificado como ETR Pesados (ETRP) – Gd ao Lu; ou em: ETRL
pertencente a esta família por alguns cientistas (La ao Pm), ETR Médios (ETRM) (Sm ao Ho) e
(CHAKHMOURADIAN; WALL, 2012). ETRP (Er ao Lu). Em algumas classificações os
Os ETR foram observados pela primeira elementos Sm e Eu são mais transicionais e
vez, quando da descrição do mineral yterbita podem ser colocados como ETRL quanto ETRP.
(Y2Fe2Be2Si2O10), também conhecido como Apesar do seu baixo peso atômico, o Y é incluído
gadolinita–Y [(Ce,La,Nd,Y)2FeBe2Si2O10], a partir no grupo do ETRP, devido ao seu raio iônico e as
de 1800. A descoberta foi feita pelo militar e suas propriedades serem muito semelhantes ao
mineralogista Carl Axel Arrhenius de amostra Ho (ETRP).
29
Tabela 2.1 – Registro da descoberta cronológica dos ETR (HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS, 2011).
Número
Elemento (Símbolo) Ano Descobridor Origem do nome
atômico
Yttrium (Y) 39 1794 Johan Gadolin (finlandês) Mina de Ytterby, Suécia
Jöns Jacob Berzelius e Wilhelm von Hisinger
Cerium (Ce) 58 1803 Planetóide de Ceres
(sueco); Martin Heinrich Klaproth (alemão)
Grego: lanthana (oculto ou não observado) uma vez que estava escondido na
Lanthanum (La) 57 1839 Carl Gustaf Mosander (sueco)
terra.
Terbium (Tb) 65 1843 Carl Gustaf Mosander (sueco) Mina de Ytterby, (Suécia)
Erbium (Er) 68 1843 Carl Gustaf Mosander (sueco) Mina de Ytterby, (Suécia)
Jacques-Louis Soret e Marc Delafontaine (suiço);
Holmium (Ho) 67 1878 Latim: holmia para ‘Estocolmo’
Per Theodor Cleve (sueco)
Jean Charles Galissard de
Ytterbium (Yb) 70 1878 Mina de Ytterby, (Suécia)
Marignac (francês)
30
Scandium (Sc) 21 1879 Lars Fredrik Nilson (sueco) Latim: scandia para ‘Escandinavia’
O mineral samarskita e seu descobridor, o Coronel official Von Samarsky da
Samarium (Sm) 62 1879 Paul Émile Lecoq de Boisbaudran (francês)
mina Russa
Thulium (Tm) 69 1879 Per Theodor Cleve (sueco) Latim: Thule para o nome antigo da ‘Escandinavia’
Gadolinium (Gd) 64 1880 Jean Charles Galissard de Marignac (Suiço) Hebreu: gadol para ‘grande’ e em honra ao químico finlandês Johan Gadolin
Praseodymium (Pr) 59 1885 Carl Auer von Welsbach (austríaco)
Neodymium (Nd) 60 1885 Carl Auer von Welsbach (austríaco) Grego: neos para ‘o novo’ e didimios para os ‘gêmeos’
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 2.2 – Configuração eletrônica dos ETR. [Ar] 1s22s22p63s23p6; [Kr] 1s22s22p63s23p63d104s24p6; [Xe]
1s22s22p63s23p63d104s24p64d105s25p6.
Número Raios iônicos por número de coordenação (Å)
Nome Íon Configuração Eletrônica
Atômico VI VIII XII
21 Escândio Sc 3+
[Ar] 3d 4s
1 2
7,45
39 Ítrio Y3+ [Kr] 4d15s2 9,0 10,19
57 Lantânio La3+ [Xe] 5d16s2 10,32 11,60 13,6
58 Cério Ce 3+
[Xe] 4f 6s
2 2
10,10 11,43 13,4
59 Praseodímio Pr3+ [Xe] 4f36s2 9,90 11,26
60 Neodímio Nd3+ [Xe] 4f46s2 9,83 11,09 12,7
61 Promécio Pm 3+
[Xe] 4f 6s
5 2
12,4
62 Samário Sm3+ [Xe] 4f66s2 9,58 10,79
63 Európio Eu3+ [Xe] 4f76s2 9,47 10,66
64 Gadolínio Gd 3+
[Xe] 4f 5d 6s
7 1 2
9,38 10,53
65 Térbio Tb3+ [Xe] 4f96s2 9,23 10,40
66 Disprósio Dy3+ [Xe] 4f106s2 9,12 10,27
67 Hólmio Ho 3+
[Xe] 4f 6s
11 2
9,01 10,15
68 Érbio Er3+ [Xe] 4f126s2 8,90 10,04
69 Túlio Tm3+ [Xe] 4f136s2 8,80 9,94
70 Itérbio Yb 3+
[Xe] 4f 6s
14 2
8,68 9,85
71 Lutécio Lu3+ [Xe] 4f145d16s2 8,61 9,77
Os ETR são utilizados como indicadores especiais (Figura 2.2). Os elementos Ce, Tb e
geoquímicos, principalmente pelas importantes Pr podem ocorrer como cátions tetravalentes,
implicações de suas propriedades. Os íons sendo que somente o Ce4+ é encontrado na
de ETR com valências diferentes de 3+ (Ce4+ e natureza, em ambientes restritos e altamente
Eu2+), não obedecem a regra da contração dos oxidantes, como em alguns casos de processos
lantanídeos, e a sua ocorrência é muito restrita, superficiais.
pois dependem de condições ambientais
31
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Os elementos Eu, Yb e Sm, por sua vez, podem Por ocorrer tanto no estado trivalente quanto
ocorrer no estado divalente, dos quais o Eu2+ no estado tetravalente, o Ce é utilizado como
é mais comum e ocorre em ambiente redutor, um indicador de processos de oxidação no ciclo
onde a fugacidade de oxigênio é baixa, como exógeno. E a dupla valência do Eu permite seu
encontrado em alguns sistemas magmáticos. uso no estudo de certos processos magmáticos.
Figura 2.2 - Gráfico mostrando a diminuição do raio iônico com aumento do número atômico dos ETR nas
diferentes valências, chamado de ‘contração dos lantanídeos’. Nota-se a ausência do elemento Pm, porque
não possui um isótopo estável. (Valores para o raio atômico obtidos de WHITTAKER; MUNTUS, 1970).
32
Tabela 2.3 - Principais propriedades químicas e físicas dos ETR (modif. de GUPTA; KRISHNAMURTHY, 2005 e Tabela 2.3; outras fontes).
Número Peso Densidade Ponto fusão Ponto Ebulição Abundância Crustal Dureza Estrutura
Elemento (Símbolo)
atômico atômico (g/cm3)1 (°C)1 (°C)1 (ppm)2 Vickers3 cristalina1,4
Escâncio (Sc) 21 44,95 2,989 1541 2832 8 85 Hex
Yttrium (Y) 39 88,90 4,469 1522 3337 30 38 Hex
ETR Leves
Lanthanum (La) 57 138,9 6,146 918 3469 30 37 Hex
Cerium (Ce) 58 140,11 6,773 789 3257 60 24 Cub
Praseodymium (Pr) 59 140,90 6,773 931 3127 7 37 Hex
Neodymium (Nd) 60 144,24 7,008 1021 3217 25 35 Hex
Promethium (Pm)5 61 145,00 7,264 1042 3000 4,5x10-20 - Hex
Samarium (Sm) 62 150,36 7,520 1074 1900 5 45 Rom
33
Europium (Eu) 63 151,96 5,244 822 1597 1 17 Cub
ETR Pesados
Gadolinium (Gd) 64 257,25 7,901 1313 3233 4 57 Hex
Terbium (Tb) 65 158,92 8,230 1356 3041 0,7 46 Hex
Dysprosium (Dy) 66 162,50 8,551 1412 2562 3,5 42 Hex
Holmium (Ho) 67 164,93 8,795 1474 2720 0,8 42 Hex
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Os ETR, por pertencerem ao grupo dos íons elementos mais raros da série, o Tm e o Lu, são
de Alto Potencial Iônico (High Field Strength 200 vezes mais comuns do que o ouro (USGS,
- HFS), tendem a ser incompatíveis, todavia 2002). A exceção é o promécio, que por ser um
aqueles que não ocorrem em estado trivalente, isótopo instável é muito raro e a sua quantidade
são considerados compatíveis. Assim, os ETR são estimada existente na Terra é cerca de 600 g
incompatíveis na estrutura cristalina do mineral, (CHAKHMOURADIAN; WALL, 2012).
deixando-o mais facilmente. O comportamento As abundâncias dos ETR individuais na crosta
litófilo dos ETR leva-os a se concentrar continental superior da Terra são diferenciadas
predominantemente em minerais silicáticos ao devido a dois efeitos que ocorrem associados:
invés de metais puros ou minerais sulfetados nuclear e geoquímico. O primeiro é relacionado
(HENDERSON, 1984). à maior abundância cósmica e terrestre dos
A similaridade geoquímica de todos os ETR ETR pares em relação aos impares (Figura 2.3),
permite a substituição entre si na estrutura gerado pelo processo de nucleossíntese. E o
cristalina do mineral. Isto resulta na sua ampla segundo, os elementos mais leves são mais
distribuição na crosta terrestre e na formação incompatíveis (devido a seu maior raio iônico)
de minerais composto por vários dos ETR e são mais fortemente concentrados na crosta
(CASTOR; HEDRICK, 2006). Apesar dessas continental do que os ETR pesados. No gráfico
similaridades nas propriedades geoquímicas dos de abundância, os ETR são distribuídos na forma
ETR; as propriedades metalúrgicas, químicas, de zig-zag (Figura 2.3). Este princípio é conhecido
catalíticas, elétricas, magnéticas e ópticas como regra de Oddo-Harkins, baseado na maior
variam sutilmente de um elemento para outro, estabilidade relativa das energias de ligação do
tornando a separação em elementos individuais núcleo com nucleons pareados do que com os
difíceis (VERPLANCK; VAN GOSEN, 2011). Por não pareados.
outro lado, estas pequenas diferenças
permitem a sua larga utilização em
diversas tecnologias modernas. E o
fato da indústria de ETR ser jovem,
qualquer previsão de demanda futura
pode ser errônea, pois não tem como
estimar o seu potencial de utilização
em novas tecnologias (CASTILLOUX,
2014).
A concentração média estimada
dos ETR na crosta terrestre varia de
150 a 220 ppm, mais do que alguns Figura 2.3 – Abundância dos ETR na crosta continental superior
metais que são minerados em escala da Terra em relação ao número atômico. Dados de abundância
na crosta, segundo Taylor, 1964.
industrial, como Cu (55 ppm) e Zn (70
ppm) (LONG et al., 2010). O Ce, por exemplo, Este padrão em zig-zag é difícil de ser utilizado
é o 25º elemento mais abundante na crosta para comparar materiais geológicos. A solução
terrestre (WALTERS et al., 2010). Ainda assim, os deste problema é feita com a normalização das
34
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
35
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
minerais de ETR, pois modificam a estabilidade Os depósitos de ETR são formados, pela
dos fluidos: concentração dos ligantes, pH, associação de rochas com teores anômalos em
ebulição e perda de gás. ETR e também pela intensa participação dos
O estado de oxidação do sistema e reações de fluidos hidrotermais. Por isto, o entendimento
oxidação-redução podem ser importantes para da mobilidade hidrotermal dos ETR torna-se
o Eu e Ce. A estrutura cristalina e/ou número muito importante (WILLIAM-JONES; MIGDISOV;
de coordenação dos sítios para ETR também SAMSON, 2012). Normalmente os depósitos
influencia na abundância de ETRL e ETRP nos estão associados geneticamente a carbonatitos
minerais (KANAZAWA; KAMITANI, 2006). A e rochas silicáticas peralcalinas a graníticas
abundância relativa de ETRL e ETRP depende do diferenciadas que tipicamente possuem altas
número de coordenação de cada classe mineral concentrações de ETR.
(Figura 2.4).
Figura 2.4 - O número de coordenação e abundância de ETRL e ETRP nos sítios estruturais de cada classe
mineral de ETR: (O) e (●) mostra ETRL e ETRP respectivamente. O tamanho dos círculos mostra a abundância
de ETR em cada classe mineral (KANAZAWA; KAMITANI, 2006).
36
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
O tamanho grande do raio atômico dos três minerais de ETR com maior importância
ETR restringe a sua entrada nos minerais, econômica, correspondendo a 95% da produção
por serem diferentes dos raios atômicos dos mundial de ETR (JACKSON; CHRISTIANSEN,
elementos passíveis de substituição. Os íons 1993; LAPIDO-LOUREIRO, 1994; WOOD, 2004).
trivalentes, maioria dos íons de ETR, substituem A loparita e a apatita são minerais que podem
os elementos Ca+2, Th+4, U+4, Mn+2, e Zr+4 nos conter importantes concentrações de ETR,
minerais. Enquanto o íon de Eu+2 pode substituir porém de menor expressão econômica. Os
o Pb+2, Ca+2, Sr+2 e Na+; e o Ce+4 substitui o U+4 argilominerais com íons de ETR adsorvidos são
e o Th+4. Apesar do tamanho dos íons serem importantes fontes de ETR pesados – ETRP,
semelhantes, a diferença de carga requer a exemplo dos depósitos chineses (KYNICKY;
compensação ou substituição dupla (diadóquia) SMITH; XU, 2012). Estes argilominerais são: a
ou pela geração de vacância. A compensação caulinita - Al2Si2O5(OH)4; a haloisita - Al4Si4OH8O10.
de carga pode ser feita pela adição de um 8H2O; e a família da esmectita - (½Ca, Na)0,7 (Mg,
ânion nos interstícios da estrutura cristalina, Fe, Al)4 ou 6 [(Si, Al)8O20]OH4.nH2O. No entanto,
como a substituição na anortita, por exemplo, há mais de 200 minerais que contém ETR como
(ETR+3, Al+3) = (Ca+2, Si+4) e (ETR+3, Na+) = (2Ca+2) elementos essenciais ou significantes (CHRISTIE
(HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS, 2011) . et al., 1998 apud HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS,
O número de coordenação influencia 2011). Na Tabela 2.4 temos os principais minerais
no processo de substituição causando de ETR com as suas fórmulas químicas, com
destaque aos minerais com potencial econômico
fracionamento de ETR nos vários minerais.
no Brasil. Apesar da diversidade de minerais
Os minerais com poliedros de coordenação
portadores de ETR, poucos formam depósitos
maiores, como a alanita, são substituídos
viáveis economicamente.
por íons ETRL (La ao Sm), enquanto que os
A bastnaesita é um fluorcarbonato composto
de menor coordenação como o zircão são
de ~70% de ETR (principalmente Ce, La e
substituídos por ETRP (Gd ao Lu). Os minerais
Nd); ocorre em quantidades econômicas em
que possuem coordenação intermediária, como
carbonatitos. Também pode ser encontrada
apatita e esfeno, não mostram preferência
em granitos peralcalinos e sienitos, associadas
entre ETRL ou ETRP. Os minerais formadores
a minerais ricos em ETRP, todavia não é
de rocha apresentam teores variados de ETR,
encontrada em concentração com potencial
onde plagioclásio e muscovita apresentam-se
econômico (MARIANO; MARIANO JR., 2012a).
enriquecidos em ETRL e granada enriquecida em
Esse mineral é a principal fonte de ETR nos
ETRP. Os minerais acessórios, por sua vez, são
depósitos Bayan Obo e Maoniuping, na China e
normalmente minerais pesados e geralmente
em outros carbonatitos, como no depósito de
compostos por altos teores de ETR, alguns dos
Mountain Pass (EUA). Neste último depósito, foi
quais são os minerais de ETR, como a monazita,
o principal mineral de ETR extraído por décadas.
xenotima, entre outros.
No Brasil, é o mineral de minério do Projeto
A bastnaesita [(Ce,La)(CO3)F], a monazita Morro do Ferro, em Poços de Caldas-MG (EDEM
[(Ce,La,Nd,Th) PO4] e a xenotima (YPO4) são os PROJETOS, 2014).
37
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 2.4 - .Principais minerais de ETR com teores de ETR maiores que 10 %. Em negrito estão os principais
minerais com extração de ETR conhecidas. Os minerais que poderão ser explorados no Brasil estão sublinhados
(JACKSON; CHRISTIANSEN, 1993; LAPIDO-LOUREIRO, 1994; CASTOR; HEDRICK, 2006; LONG et al., 2010; entre
outros).
% em peso
Mineral Química mineral
ETR Th U
Aeschinita (Ce,Ca,Fe,Th)(Ti,Nb)2(O,OH)6 36
Alanita (ortita) (Ce,Ca,Y)2(Al,Fe)3(SiO4)3(OH) 30 <3
Ancilita (Ce) SrCe(CO3)2(OH)•H2O 46 <0,4 0,1
Apatita Ca5(PO4,CO3)3(F,Cl,OH) 19
Bastnaesita (Ce)2 (Ce,La)(CO3)F 76 <0,3 0,09
Britolita (Ce,Ca)5(SiO4,PO4)3(OH,F) 62 1,5
Cerianita (Ce4+,Th)O2 81
Churchita YPO4.2H2O 44
Eudialita Na4(Ca,Ce)2(Fe ,Mn2+,Y) ZrSi8O22(OH,Cl)2
2+
10
Euxenita (Y,Ca,Ce,U,Th)(Nb,Ta,Ti)2O6 <40
Fergusonita (Ce,La,Y)NbO4 47
Florencita CeAl3(PO4)2(OH)6 32 1,4
Gadolinita (Ce,La,Nd,Y)2Fe2+Be2Si2O10 52
Gagarinita NaCaY(F,Cl)6 38
Huanghoita BaCe(CO3)2F 38
Kainosita Ca2(Y,Ce)2Si4O12(CO3)•H2O 38
Loparita (Ce,Na,Ca)(Ti,Nb)O3 36
Monazita (Ce,La,Nd,Th)PO4 71 <20 <16
Mosandrita (Na,Ca,Ce)3Ti(SiO4)2F <65
Parisita Ca(Ce,La)2(CO3)3F2 64 <0,5 <0,3
Rabdofana (Ce,La)PO4•H2O 54
Samarskita (Y,Ce,U,Fe3+)3(Nb,Ta,Ti)5O16 12
Sinchisita Ca(Ce,La,Y)(CO3)2F 51 <1,6
Talenita Y3Si3O10(OH) 63
Xenotima YPO4 61 <5
Ytrotantalita (Y,U,Fe )(Ta,Nb)O4
2+
<24
39
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
locais no mundo com teor e tonelagem que total de ETR (∑ETR) no zircão raramente excede
pode vir a ser minerado. O teor de ETR é de 4 1% em peso e pode chegar a 6% em peso de
a 7% e mostra um enriquecimento em ETRP. ETRP, como os zircões secundários do depósito
Este mineral pode ser solubilizado em ácidos de Bokan Mountain (Alaska) (MARIANO;
fracos, mas o isolamento de ZrO2, Y2O3 e ETR2O3 MARIANO JR., 2012a). A sua natureza refrataria
é problemático devido a formação de SiO2 gel e sua resistência à dissolução química evidencia
associado (MARIANO; MARIANO JR., 2012a). problema do processamento químico deste
A solução deste problema será crucial para mineral. No Brasil, é minerado em placers
viabilizar a extração de ETR deste mineral de marinhos e é matéria prima para pigmento,
forma econômica. fundição, cerâmico e refratário (BERTOLINO et
A apatita contém teores significativos de al. 2009).
ETR, principalmente os ETRL, substituindo o Ca, Outros minerais portadores de ETR são
que pode atingir 6% em peso ETR (MARIANO; a fergusonita, euxenita e brannerita, são
MARIANO JR., 2012a). A mina de Khibiny (NE da fontes importantes de ETRP encontrados em
Rússia) produz concentrados de apatita desde rochas graníticas peralcalinas, pegmatitos
1929 e os ETR não têm sido recuperados dos e metamórficas, associados a depósitos de
rejeitos; calcula-se que 50 a 60 mt de ETR tenham urânio e acumulação coluvionar (MARIANO;
sido descartados (CHAKHMOURADIAN; ZAITSEV, MARIANO JR., 2012a). No entanto, são minerais
2012). O depósito de Phalabora na África do sul encontrados em quantidades insuficientes para
tem potencial para extração de OTR a partir da gerar depósitos econômicos.
apatita que tem 125 Mt com 1,5% de apatita As principais fontes de ETR estão associadas
com 7% de OTR (JACKSON; CHRISTIANSEN, com a bastnaesita, com as maiores reservas
1993). A extração de ETR a partir de apatita seria na China (Bayan Obo) e nos EUA (Mountain
tecnologicamente factível, principalmente pelos Pass, Califórnia). E a monazita, produto de
altos teores encontrados de ETR e também pelo carbonatitos e em areias pesadas, como nos
volume minerado e processado de fosfatos. depósitos que ocorrem no Brasil, Austrália, Índia,
No entanto, não há tecnologias de extração de África do Sul, Tailândia, Sri Lanka, entre outros.
ETR neste tipo de mineralização (LINNEN et al., No Brasil, atualmente, destacam-se a ocorrência
2013). de importantes depósitos primários de monazita
O zircão é um silicato, mineral acessório em carbonatitos, como em Araxá (MG) e Catalão
comum em carbonatitos, granitos, sienitos, (GO) e de xenotima associados a granitos em
nefelina sienitos e rochas metamórficas, Pitinga (AM) e os depósitos secundários tipo
podendo ser encontrado enriquecido em ETR em placer em São João da Barra (RJ) e tipo argilas de
algumas ocorrências hidrotermais (MARIANO; adsorção iônica em Minaçu (GO).
MARIANO JR., 2012a). Este mineral pode formar A mineralização de ETR em sua maioria, além
depósitos primários tipo segregação magmática de ser complexa química e mineralogicamente,
(Pitinga – AM), relacionados a intrusões alcalinas geralmente está associada com elementos
(Tapira–MG); bem como depósitos secundários, radioativos como o Th e U (LONG et al., 2010).
tipo placer, encontrados nos cordões litorâneos Assim, depósito de ETR com mineralogia simples
(Mataraca - PB) (BERTOLINO et al. 2009). O e sem presença de elementos radiogênicos tem
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
grande vantagem competitiva, como o caso da transporte devem ser autorizados por este
bastnaesita de Bayan Obo e de Mountain Pass órgão. Os cuidados especiais necessários
(LONG et al., 2010). aumentam o custo operacional, principalmente
As fases minerais que requerem tecnologia de para a disposição adequada de material
extrações distintas torna a separação do minério radioativo. Este foi um dos fatores responsáveis
de alto custo e baixo rendimento. A maior pelo fechamento da extração de monazita para
dificuldade do processo metalúrgico é devido produção de ETR durante a década de 1980 em
às características particulares de cada mineral, diversos países (LONG et al., 2010) e também no
não sendo possível usar o mesmo processo Brasil em 2002 (SERRA, 2013).
para minerais diferentes (LONG et al., 2010). A distribuição dos ETR dentro do depósito
Neste contexto, o processamento de minério de e entre depósitos distintos é variável,
novas minas de ETR deve ser testado por vários principalmente quando há associação com
métodos de extração para ser utilizado àquele processos secundários de enriquecimento
com melhor processamento / rendimento (LONG do minério, que permitem a geração de
et al., 2010). diversos minerais secundários de ETR. Além
Além das dificuldades de processamento desta questão, a maior parte dos depósitos
mineral, a separação e refino dos 15 elementos é enriquecida em ETRL em relação aos ETRP,
individuais necessitam processos tecnológicos gerando produtos com menor valor agregado.
complexos. Estes processos envolvem Muitos minérios enriquecidos em ETRP são
diversas etapas para remoção das impurezas e aqueles que contêm xenotima e doverita [YFCO3.
individualização dos diferentes ETR (LONG et al., CaCO3], como principal mineral de ETR (BAO;
2010). O custo de extração pode ser minimizado ZHAO, 2008; LONG et al., 2010).
quando os ETR são extraídos como subproduto A abundância relativa de ETR no minério é de
ou coproduto de uma mina em operação, grande importância na exploração mineral, além
como o caso da produção iniciada pela CBMM das restrições relacionadas aos tipos de minerais
em Araxá, onde os ETR serão subprodutos do e a disponibidade relativa de ETR específicos e a
processamento de Nb (COMPANHIA BRASILEIRA coordenação das várias etapas de processamento
DE METALURGIA E MINERAÇÃO, 2013). e (LINNEN et al., 2013). Isto porque o mesmo
A presença de elementos radioativos é mineral pode ter concentrações e padrões de
outro complicador, visto que devem obedecer ETR diferentes. Esta variação geoquímica pode
a regulamentos específicos. No Brasil estes afetar o potencial comercial do recurso de ETR
elementos são regulados pelo Conselho Nacional (LINNEN et al., 2013).
de Energia Nuclear (CNEN); cujo manuseio e
41
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 3.1– Contexto tectônico dos maiores tipos de depósitos de ETR. Tipos de rochas estão na legenda,
processos associados estão em letras maiúsculas e os produtores potenciais de ETR no Brasil. (Modif. de
CHAKHMOURADIAN; WALL, 2012).
Tabela 3.1 – Classificação dos depósitos brasileiros de ETR, de acordo com o critério estabelecido por Walters
et al. (2010).
Associação Tipos Exemplos
Magmáticos / Veios Araxá (MG), Catalão (GO), Seis
Carbonatito e Stockworks Lagos (AM)
Primário Rochas peralcalinas Plutons/stocks e Repartimento (RR), Morro do
subsaturadas em sílica diques Ferro (MG)
Pitinga (AM), Serra Dourada
Granitos
Rochas graníticas (GO), Granitos Rondonianos
diferenciados (RO)
Buena (RJ), Guarapari (ES),
Placer marinho Sedimentar Cumuruxativa (BA)
São Gonçalo do Sapucaí (MG),
Secundários Placer fluvial Sedimentar Pitinga (AM)
Argilas com íons Perfil laterítico Serra Dourada (GO)
adsorvidos
43
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
das rochas encaixantes e formação de zonas MORBIDELLI (1990) para Araxá (MG) e Catalão
brechadas, como descrito por GOMES; RUBERTI; (GO).
Figura 3.2 - Mapa do Brasil evidenciando a relação entre o controle estrutural, os principais complexos
alcalinos e carbonatíticos associados. (Modificado de BIONDI, 2003).
As encaixantes dos complexos carbonatíticos, sendo que vários são depósitos minerais. A
geralmente, estão deformadas em estruturas geofísica é uma ferramenta importante, pois
dômicas, gerando padrões de drenagens radiais a permite modelar o corpo alcalino, mesmo em
partir destas rochas circundantes, normalmente, subsuperfície (MARANGONI; MONTOVANI,
mais resistentes (GOMES; RUBERTI; MORBIDELLI, 2013).
1990). Este tipo de drenagem permite o Carbonatitos brasileiros tendem a ter
desenvolvimento de espessa cobertura de composição calcítica com alguns complexos
solo em muitos complexos, o que favoreceu a apresentando intrusões mais dolomíticas
concentração econômica de fosfato e nióbio, subordinadas, como por exemplo, em Araxá,
bem como de titânio e ETR. Muitos destes corpos Catalão, entre outros (GOMES; RUBERTI;
alcalinos apresentam interesses econômicos, MORBIDELLI, 1990). Enquanto que os
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
que são fortemente enriquecidos em F, teores Madeira (POLLARD, 1995). A extração de ETR das
variados de Sn, W, Nb, Ta, Rb, Cs, Be, Li e argilas na China é uma mostra de que este tipo
depletados em Mg, Ti e elementos de transição de depósito em granitos podem gerar depósitos
(LINNEN; CUNEY, 2005). competitivos a custo baixo (KYNICKY; SMITH; XU,
Os pegmatitos relacionados a estes granitos 2012; MARIANO; MARIANO JR., 2012a).
são enriquecidos em elementos incompatíveis
(LINNEN; VAN LICHTERVELDE; CERNY, 2012). 3.1.4 - Outros Tipos de Depósitos
Estes pegmatitos podem ser divididos em duas Os depósitos tipo IOCG (Iron Oxide Copper
famílias, uma rica em Li-Cs-Ta (LCT) e outra rica em and Gold) têm mineralização de ETR associada
Nb, Y e F (NYF) (CERNY, LONDON; NOVÁK, 2012). com as mineralizações principais de Fe, Cu e Au.
A primeira família é extremamente rica em Rb, Esta associação pode estar relacionada com a
Cs, Be, Ta, Nb e Sn, e também em componentes contribuição de magmas alcalinos carbonatíticos,
fluxantes (Li, P, F e B) (CERNY; LONDON; NOVÁK, conforme sugerido por Groves e Vielreicher
2012). O segundo tipo (NYF) pode produzir ETR (2001), que classificam o carbonatito Palabora
e outros metais, mas tem menos importância (África do Sul) como a fase final do magmatismo
econômica que o tipo LCT (LINNEN; VAN IOCG. O depósito de Olympic Dam contém
LICHTERVELDE; CERNY, 2012). Apesar dos aproximadamente 10 Mt de ETR, principalmente
pegmatitos terem sido fonte de ETR de rochas La e Ce, a sua recuperação não é econômica
exploradas em meados do século passado, com a tecnologia existente (REYNOLDS, 2000).
este tipo de depósito é de pequena extensão A mineralização de ETR deste depósito está
e tonelagem (CHAKHMOURADIAN; ZAITSEV, relacionada ao processo hidrotermal com
2012). Além disto, apresentam mineralogia formação dos minerais: bastnaesita, florencita,
bastante complicada e com baixa concentração monazita, xenotima e britolita, que ocorrem em
de minerais de ETR de fácil recuperação (LINNEN; todos os tipos de brechas (ORESKES; EINAUDI,
VAN LICHTERVELDE; CERNY, 2012). Este subtipo 1990). No futuro, estes depósitos poderão
de depósito é encontrado associado a grandes ser importantes fontes de ETR no Brasil, isto
intrusões graníticas, geralmente formam corpos porque a região de Carajás (PA) possui os mais
pequenos e de baixo interesse econômico (LONG importantes depósitos tipo IOCG (WILLIAMS
et al., 2010). et al., 2005). Os depósitos desta região que
A economicidade dos depósitos associados possuem mineralização de ETR associadas são
às rochas graníticas depende da associação Cristalino, Igarapé Bahia, Salobo e Sossego.
com processo intempérico superimposto, que Outro tipo de depósito que pode conter
além de fragilizar a rocha (POLLARD, 1995), ETR associado é o do tipo Skarn, gerados pelo
liberar e transportar íons de ETR, que podem contato de um corpo intrusivo em rochas
formar os depósitos tipo argilas iônicas da China carbonáticas. Este tipo de depósito geralmente
(WU; YUAN; BAI, 1996) e/ou formar depósitos geram depósitos de pequeno porte, sendo de
aluvionares (MARIANO; MARIANO JR., 2012a). baixo potencial econômico.
Como exemplo citamos o depósito de Pitinga,
onde a mineralização de Sn (Ta-Nb) aluvionar foi 3.2 - DEPÓSITOS SECUNDÁRIOS
formada por processo intempérico do granito Os depósitos secundários de ETR ocorrem
51
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
sobre fontes primárias enriquecidas, ou seja, marinhos (LONG et al., 2010). O transporte de
rochas com altos teores destes elementos, mas material erodido/desfragmentado através do
inviáveis economicamente. Estes depósitos meio aquoso e ação dos ventos pode concentrar
secundários são gerados por concentração minerais mais densos e resistentes em locais
associada aos processos de intemperismo, de menor energia, formando os placers. Estes
enriquecimento supergênico, como laterização depósitos são conhecidos também como
e também por processos de transporte e depósito de minerais pesados, cujos minerais
sedimentação. No entanto, essa divisão é são constituintes comuns a muitas rochas
um pouco complicada, pois dificilmente são ígneas, metamórficas e sedimentares antigas. As
encontrados depósitos gerados por apenas um maiores concentrações de monazita e xenotima
tipo de processo secundário superimposto na são encontradas associadas aos depósitos de
rocha primária. minerais pesados como ilmenita e cassiterita
O processo de intemperismo destrói os (LONG et al., 2010).
minerais acessórios de ETR (alanita, apatita, Nos anos 1980, a exploração de monazita
etc) nos seus primeiros estágios, liberando a e xenotima associada aos depósitos de Ti – Zr
maior parte dos ETR, que serão fracionados e em paleoplacer na Austrália foi a terceira mais
redistribuídos na zona saprolítica (BRAUN et importante fonte de ETR do mundo (CASTOR;
al., 1993). No perfil de intemperismo, a maior HEDRICK, 2006). Atualmente, na Austrália, como
parte dos ETR é lixiviada do horizonte superior no Brasil, não há comércio de minerais de ETR
rico em ferro, apenas o Ce é depositado como provenientes destas fontes devido ao alto teor
cerianita (CeO2) pela mudança no pH e estado de Th e também por questões ambientais de
de oxidação. Enquanto os demais ETR movem extração (POLLARD, 1995; CASTOR; HEDRICK,
para a base deste perfil. Os fosfatos formados 2006). Até 1988, a maior fonte de Y era da
neste processo são fortemente enriquecidos xenotima proveniente de placer na Malasia.
em ETRL. Em ambientes superficiais, os ETR são Com a entrada em produção de Y das lateritas de
encontrados em baixas concentrações e possuem Longnan no sul da China, a produção da Malasia
baixa solubilidade em águas superficiais. Apesar diminuiu sua participação no mercado (CASTOR;
de formarem acumulações que podem vir a HEDRICK, 2006).
ser econômicas em ambientes sedimentares Os depósitos de placer mais importantes
(fosforitos, lignito) e em ambientes regolíticos com mineralizações de ETR são aqueles gerados
(laterita residual e bauxita). Enquanto que os durante o Cenozóico, sendo identificados mais
minerais resistados podem ser preservados no de 360 depósitos em diferentes continentes
solo e com o processo de erosão ser desagregado (ORRIS; GRAUCH, 2002). O mineral de ETR mais
da rocha e transportado até serem despositados. importante, neste tipo de depósito, é a monazita;
enquanto os demais minerais ocorrem em
3.2.1 - Depósitos Tipo Placer menor expressão, não gerando concentrações
Os sedimentos produzidos por processos significativas.
intempéricos de todos os tipos de rocha são A monazita de placer apresenta conteúdo
transportados e depositados em diferentes de ERTP relativamente alto quando comparado
ambientes sedimentares continentais e com os depósitos fortemente dominados por
52
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
ETRL em rocha fonte carbonatítica como Bayan depósitos residuais. Os corpos de minérios de
Obo e Mountain Pass (CASTOR; HEDRICK, 2006). ETR ocorrem principalmente na zona totalmente
A distribuição de ETR em monazitas e xenotimas alterada e às vezes, na parte inferior da zona do
de muitos depósitos de placer apresentam solo e/ou na parte superior da zona saprolítica
fortes anomalias negativas de Eu, indicando que (WU; YUAN; BAI, 1996; LONG et al., 2010). No
a sua fonte provavelmente continha plagioclásio Granito Serra Dourada o horizonte argiloso,
(CASTOR; HEDRICK, 2006). acima do saprólito, é o mais enriquecido em ETR
(SANTANA, 2013). Este horizonte também é o
3.2.2 - Depósitos de Intemperismo Residual mais enriquecido em ETR nos granitos estudados
(Supergênico) - Lateríticos por Murakami e Ishihara (2008).
Os depósitos lateríticos formados sobre As condições de climas úmidos e quentes,
rochas graníticas, estudados desde o início associadas a topografia de relevo suave da
da década de 1970, descobertos no Sul da região, levam ao estabelecimento de um perfil
Província de Jiangxi (WU; YUAN; BAI, 1996; CHI de intemperismo bem desenvolvido, onde o
et al, 2006; KYNICKY; SMITH; XU, 2012), ocorrem processo de lixiviação é contínuo e com baixa
em vários outros locais, como no granito Serra taxa de denudação. O relevo suave associado ao
Dourada em Goiás (MARIANO; MARIANO JR., processo intempérico favorece o enriquecimento
2012a; SANTANA, 2013). Também conhecidos de ETR em níveis inferiores do perfil de solo. No
como depósitos de adsorção de íons, onde os horizonte mais superficial (horizonte A), ocorre
ETR ocorrem como íons adsorvidos em argilas a depleção de ETR com enriquecimento das
(CASTOR; HEDRICK, 2006; KYNICKY; SMITH; XU, camadas subjacentes (horizontes B e C) (BAO;
2012). Estes depósitos são geralmente de baixo ZHAO, 2008).
teor, porém de fácil extração (WU; YUAN; BAI, O perfil de intemperismo mostra-se
1996), constituindo grandes recursos e poucos claramente zonado, mas com mudanças
depósitos têm altos teores de ETR (CASTOR; composicionais e texturais graduais (BAO; ZHAO,
HEDRICK, 2006). 2008). Kynicky, Smith e Xu (2012) observaram
Os maiores depósitos conhecidos estão que a porção coluvionar é composta das argilas:
localizados no sul da China, nas províncias de caolinita, haloisita e esmectitas, que possuem
Jiangxi, Hyna, Fujian, Guangdong e Guangxi ETR adsorvidos na sua superfície e chegam a ser
(KYNICKY; SMITH; XU, 2012). Estes depósitos enriquecidas mais de cinco vezes em comparação
estão concentrados, principalmente, próximos com o protólito. A caolinita e haloisita são os
ao paralelo 28°N e são desenvolvidos sobre principais argilominerais portadores de ETR
rochas graníticas altamente evoluídas e em no perfil intempérico e indicam que os ETR
menor expressão sobre rochas piroclásticas, inicialmente estavam como íons aquosos ou
tufos e lamproítos (BAO; ZHAO, 2008). As rochas com hidroxila antes de serem adsorvidos nos
bastante alteradas apresentam perfis de solo argilominerais (CHI, 2006). Apesar dos ETR serem
lateríticos ricos em ferro e alumínio com dezenas considerados relativamente imóveis, é assumido
de metros de espessura nos climas tropicais que a composição de ETR dos sedimentos dos
(LONG et al., 2010). Este processo de laterização rios reflete a composição de materiais fontes
geralmente concentra minerais pesados como que foram intemperizados (BAO; ZHAO, 2008).
53
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Os ETR podem estar contidos em quatro fases, (BAO; ZHAO, 2008; MURAKAMI; ISHIHARA,
do mais para o menos importantes são: fase íon 2008). No horizonte A (horizonte laterítico)
trocável aquosa ou hidroxila (que tem maior há enriquecimento do Ce e nas camadas
proporção no minério, mais de 80%), fase inferiores há empobrecimento deste elemento,
mineral, sedimento coloidal e fase solúvel em provavelmente devido à oxidação do Ce+3
água (muito pouco representativa) (CHI, 2006). para Ce+4. O Ce+4 é menos solúvel que o Ce+3
A diferença nas afinidades relativas dos e é fixado nos minerais secundários como as
ETR é causada pela propriedade da contração argilas. O processo de oxidação ocorre logo
lantanídea, onde os ETRL+3 são preferencialmente após a dissolução do Ce+3 pela solução aquosa,
absorvidos na superfície e os ETRP+3 são retidos na que durante a migração é removido da solução
solução e acumulados nas partes mais profundas pela captura (adorção) em argilo-minerais e/ou
do perfil de intemperismo (BAO; ZHAO, 2008). A óxidos de Fe e Al (BAO; ZHAO, 2008). O Ce+4 tem
adsorção de cátions pelas argilas está associada baixa solubilidade e alta atividade de adsorção,
a dois centros adsortivos ativos: estrutura de onde o Ce ocorre como cerianita ou está
substituição e ligação residual de superfície adsorvido pelas argilas e/ou oxi-hidróxidos de
fraturada. A afinidade de ETR pelos argilominerais Fe e Al (BAO; ZHAO, 2008). Este enriquecimento
diminui com o aumento do número atômico, nestes minerais gera anomalias negativas de Ce
o que causa um enriquecimento de ETRP nas em águas meteóricas que percolam o perfil, bem
partes mais profundas do perfil intempérico como o enriquecimento na camada superior
(BAO; ZHAO, 2008). Além dos argilominerais, os (horizonte A) o que induz o empobrecimento nos
materiais de oxi-hidróxidos de Fe e fosfatos de níveis inferiores do perfil intempérico. A maior
alumínio e matéria orgânica podem absorver parte dos ETR é incorporada, nestes perfis, em
grandes quantidades de ETR, (WALTER et al., minerais acessórios menos resistentes, doverita,
1995; BAO; ZHAO, 2008). Murakami e Ishihara parisita, etc. (BAO; ZHAO, 2008).
(2008) observaram que a adsorção de ETR em A acumulação de ETR nos perfis intempéricos
caolinitas pode estar relacionada com o fluxo sobre granitos é fortemente influenciada pela
de água subterrânea como possível carreador resistência ao intemperismo dos minerais
destes elementos. O grau de acidez da água portadores destes elementos (BAO; ZHAO, 2008;
meteórica também influencia no processo que se MURAKAMI; ISHIHARA, 2008). Os principais
tornam mais ácidas com contribuição de ácidos minerais acessórios portadores de ETR são:
orgânicos das camadas superficiais e associado à bastnaesita, parisita [CaCe1.1La0.9(CO3)3F2],
presença de microgorganismo podem acelerar a gadolinita [Y2Fe2+Be2(Si2O10)], doverita [YFCO3.
dissolução de apatita e minerais secundários de CaCO3], alanita, xenotima, monazita, apatita,
fosfatos (BAO; ZHAO, 2008). entre outros. Minerais resistentes tendem a
Nos perfis de intemperismo bem ser preservados na sua forma original no perfil,
desenvolvidos, ocorre diferenciação nas enquanto os menos resistentes podem ser
concentrações de ETR, provavelmente associada encontrados como relictos apenas no horizonte
com a baixa taxa de denudação que permite a C do perfil (BAO; ZHAO, 2008). Dentre os minerais
acumulação de ETR + Y nos horizontes B (zona no depósito de Xunxiu, na província de Longnan
intemperizado) e C (frente de intemperismo) (China), destaca-se a doverita que é o mineral
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
rico em ETRP, que concentra 60% do total de em depósitos carbonatíticos é rara a formação
ETRP+Y da rocha e contribui para acumulação de argilominerais, devido às características
desses elementos no perfil intempérico (BAO; mineralógicas desta rocha (WALTER et al, 1995).
ZHAO, 2008). O depósito de Heling, por sua vez, O comportamento de ETR durante os
apresenta a bastnaesita-(Ce) e apatita como processos intempéricos não depende somente
principais minerais portadores de ETR, sendo da mineralogia da rocha fonte e química do
assim um depósito de ETRL (BAO; ZHAO, 2008). fluido intempérico. A distribuição dos ETR nos
Nos depósitos de carbonatitos ricos em minerais secundários pode ser influenciada
apatita (P), este mineral se transforma em pela razão água/rocha, visto pela depleção e
vários fosfatos calco-aluminosos (WALTER fracionamento de ETR nos sistemas abertos,
et al., 1995). Em clima tropical ocorre onde a microporosidade entre grãos preserva
enriquecimento de ETRL em relação aos ETRP o teor de ETR (WALTER et al, 1995). As
(alta razão La/Yb) nos materiais altamente substituições por minerais de baixa cristalinidade
intemperizados destes carbonatitos. Walter et como pseudomorfos de minerais primários são
al. (1995) observaram que os padrões de ETR caracterizadas pelo forte enriquecimento de ETR
nos minerais primários e secundários mostram associado com forte fracionamento ETRL-ETRP.
que o processo de intemperismo fraciona Os depósitos do sul da China são normalmente
ETRL e ETRP. A redistribuição de ETR dentro do de baixos teores, cujo minério tem teor em
perfil de intemperismo e dentro de diferentes torno de 0,05 – 0,2 % em peso e são de grande
minerais secundários, indicando diferenças na extensão (BAO; ZHAO, 2008; KYNICKY; SMITH;
mobilização de ETR, em escala de afloramento, XU, 2012). Eles representam a principal fonte
pode proporcionar zonas de acumulação e mundial de ETRP, com produção significativa
lixiviação. Nos perfis de intemperismo, as zonas de ETRL (KYNICKY; SMITH; XU, 2012). O
abundantes de produtos de Fe-Mn tendem a ser desenvolvimento das minas na década de
enriquecidas em ETRP, pois formam compostos 1980 influenciou significantemente o mercado
com baixa cristalinidade e os poros presentes mundial (WU; YUAN; BAI, 1996). No sul da
agem como armadilhas para ETR (WALTER et China, há dois tipos de depósitos explorados de
al., 1995). Os minerais secundários precipitados forma econômica: Longnan (produz ETRP + Y)
nos espaços vazios apresentam depleção e e Xunwu (ETRL). Apesar deste tipo de depósito
fracionamento de ETR; enquanto que os que ser economicamente viável na China, podem
cristalizam em microporos intergranulares não ser viáveis em outros países, devido aos
mostram preservação do teor de ETR e da maiores custos operacionais e fortes restrições
distribuição dos minerais primários substituídos ambientais (MARIANO; MARIANO JR., 2012a).
(WALTER et al., 1995). Nos perfis lateríticos
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
4 - Usos e Aplicações
As propriedades químicas e físicas dos ETR (GAMBOGI, 2011). Os óxidos de Ce, La, Y, Nd,
permitem que sejam utilizadas numa grande Pr, Sm e Gd são os mais utilizados nos diferentes
variedade de aplicações tecnológicas. As formas setores do mercado mundial (Figura 4.1). O Y,
elementares dos ETR são metais tipicamente Nd e Pr são considerados elementos críticos por
macios, maleáveis e dúcteis, geralmente apresentarem demanda maior que a oferta no
reativos, especialmente a temperaturas cenário de mercado atual.
elevadas ou quando finamente divididos
Os óxidos e metais de ETR estão incorporados ETR agrupados, conhecidos como mischmetal,
em aplicações como os supercondutores, e apenas cerca de 1% era usado como ETR
magnetos miniaturizados, catalisadores individuais. Atualmente o uso dos ETR é mais
utilizados em refinamento de produtos diversos diversificado e distribuído em diversos setores
e componentes para carros híbridos (HATCH, industriais, conforme pode ser visto abaixo.
2014). Além das aplicações tecnológicas, a A Tabela 4.1 apresenta o ETR necessário em
concentração relativa de ETR é usada em geologia cada tipo de aplicação. Os principais usos dos
para a determinação da fonte dos magmas que ETR são:
constituem as rochas ígneas e para a datação de • Catalisadores: automotivos, refino de petróleo,
alguns minerais, p. ex. através da abundância aditivo para combustível, controle de poluição
relativa do par samário/neodímio (Sm/Nd). do ar e filtragem de água.
No passado, a partir de 1964 até os anos 1980, • Imãs permanentes e cerâmicos: carros híbridos
o consumo de ETR vinha crescendo cerca de 25% e elétricos, eletrônicos, sistema de som, energia
ao ano. Até 1972, o maior consumo era para limpa, motores elétricos, imagens médicas e
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 4.1 – As principais aplicações de ETR nos diferentes setores industriais (JACKSON; CHRISTIANSEN, 1993;
GUPTA; KRISHNAMURTHY, 2005; HOATSON; JAIRETH; MIEZITIS, 2011; HUMPHRIES, 2013).
Polimentos
Catalisador
Eletrônicos
Cerâmicas
Aditivos e
Medicina
de vidros
Fósforos
Baterias
Lentes
Lasers
óticas
Imãs
La X X X X X X X X
Ce X X X X X X X X
Pr X X X X X X X X X
Nd X X X X X X X X
Pm X X
Sm X X X X X X
Eu X X X
Gd X X X X X X X X
Tb X X X X X X
Dy X X X X X
Ho X X X X X
Er X X X X X
Tm X X X X
Yb X X X X
Lu X X
As principais aplicações dos ETR podem ser (1993); Gupta e; Krishnamurthy (2005); Hoatson,
encontradas em vários trabalhos disponíveis Jaireth, e Miezitis, (2011); Humphries (2013);
na literatura tais como: Jackson e Christiansen entre outros.
58
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
4.1 - CARACTERÍSTICAS DE CADA ELEMENTO estado de oxidação mais comum é +3, devido sua
4.1.1 - Escândio (Sc) propriedade física / química ser similar ao Ho,
O escândio é um elemento classificado como e a sua separação dos ETR é complexa. O metal
ETR por apresentar propriedades similares aos tem brilho prateado metálico e é relativamente
do ítrio, actínios e lantanídios. Não é encontrado estável no ar, exceto quando granulação fina,
no estado nativo. O estado de oxidação mais o seu pó tem cor cinza escuro, e lascas ou
comum é +3 e os sais formados por este elemento fragmentos podem inflamar em temperatura
são incolores. O metal é obtido industrialmente superior a 400°C. O metal tem uma seção de
por processo de redução do fluoreto de escândio choque baixa para captação nuclear. A principal
com cálcio; e é dúctil, muito leve, de coloração fonte de Y é a xenotima, no entanto, pode ser
branca prateada e quando exposto ao ar adquire encontrado em outros minerais portadores de
coloração rosada. ETR.
59
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
61
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
escurece no ar, formando óxido, sendo um dos bandas espectrais nítidas. O seu uso faz com que
metais de ETR mais reativos. É um dos elementos luz transmitida tenha banda de absorção estreita
denominados de ETR críticos devido ao mercado e bem definida. Estes cristais são utilizados
apresentar maior demanda que oferta. por astrônomos para calibrar dispositivos
Os principais usos e aplicações do neodímio denominados espectrômetros e filtros de
são: radiação infravermelha.
• O Nd2O3 é utilizado como componente • Provavelmente devido a semelhança com o
refratário, apresentando maior resistência Ca2+, o Nd3+ foi divulgado como elemento para
térmica em relação aos demais lantanídeos. promover o crescimento vegetal, e são utilizados
• O metal de neodímio: quando adicionado às com frequência na China como fertilizantes.
ligas metálicas de magnésio proporciona maior • Em equipamento cinematográfico como
resistência, sendo utilizadas na fabricação de componente de luzes e refletores para
motores de aviões e na indústria aeroespacial; iluminação.
é usado para produção de lasers, como rubis • O mischmetal utilizado em pedras de isqueiro,
sintéticos dopados com neodímio que produz contem cerca de 6 a 10% do metal.
radiações no infravermelho (1054 – 1064 nm),
e também como o Nd:YAG (granada de ítrio 4.1.7 - Promécio (Pm)
e alumínio dopado com Nd), Nd:YLF (fluoreto O promécio não é encontrado de forma
de ítrio e lítio), Nd:YVO (vanadato de ítrio), em natural na terra. Pouco é conhecido sobre as
odontologia e medicina como lasers para cortes propriedades químicas e físicas do promécio
precisos, entre outros usos; é usado também metálico, sabe-se que são semelhantes ao
para remover a cor verde causada pelo ferro neodímio e samário. Sais deste metal apresentam
contaminante do vidro. luminescência na obscuridade com um fulgor
• A presença do neodímio em imãs permanentes azul ou acinzentado pálido devido à sua elevada
do tipo Nd2Fe14B aumenta o poder de atração radioatividade.
do imã e são mais baratos do que os imãs de Os principais usos e aplicações do promécio
samário-cobalto. São componentes de produtos são:
como fones de ouvido, alto-falantes, disco rígido • Os sais luminescentes na produção de ponteiros
de computadores, acionadores de partidas de e mostradores de relógios.
motores, sensores etc.
• A radiação beta ao incidir sobre o fósforo gera
• O neodímio é um componente do didímio para luz que pode ser usada para produzir baterias
coloração de vidros e fabricação de óculos de muito pequenas, convertem luz em corrente
proteção para os soldadores e assopradores de elétrica com uso de fotocélulas. Tem vida útil de
vidros, pois absorve a luz amarela da chama. aproximadamente cinco anos usando o Pm147, e
• Sais de neodímio são utilizados em corantes podem ser usados em pesquisas espaciais, como
de esmaltes , onde o neodímio confere cores fonte portátil de raios X e de calor em sondas
delicadas aos vidros que variam desde o violeta espaciais, satélites artificiais, aplicações médicas,
puro, vinho até ao cinza claro. para produção de lasers para serem empregados
• A presença de neodímio em fabricação de em comunicação com submarinos, quando
lentes usadas na astronomia permite obter submersos, e também produzir medidores de
62
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
espessuras muito finas. reação com a água. Como outros ETR (a exceção
do lantânio), o európio inflama-se com o ar entre
4.1.8 - Samário (Sm) 150°C e 180°C, aproximadamente. Apresenta
O samário metal é preparado frequentemente uma ductilidade muito alta e é tão duro quanto
pela eletrólise de uma mistura fundida de cloreto o chumbo. Tem um magnetismo elevado, em
de samário III com cloreto de sódio ou de cálcio condições normais de temperatura e pressão.
(GUPTA; KRISHNAMURTHY, 2005). O metal tem Este elemento possui supercondutividade a
brilho prateado brilhante, razoavelmente estável baixas temperaturas de –271,35ºC e pressões de
no ar e inflama-se a temperatura de 150 °C. O 80 gigapascal (GPa).
samário também pode ser obtido reduzindo seu Os principais usos e aplicações do európio
óxido com lantânio. O mischmetal contém até são:
1% de samário, tem sido usado por muito tempo
• O óxido de európio (Eu2O3) é extensivamente
como fonte de samário, por ser difícil separá-lo
usado como componente do fósforo vermelho
dos demais ETR.
(Eu3+) e azul (Eu2+) usado em tubos de raios
Os principais usos e aplicações do samário catódicos para televisores e na fabricação
são:
de cristal líquido para tela de computadores,
• O metal é usado na dopagem de cristais de quando ocorrem as duas valências gera a luz
fluoreto de cálcio (CaF2) para produção de lasers branca usada em lâmpadas fluorescentes
ópticos e em óculos de sol; como absorvente de compactas.
nêutrons em reatores nucleares; e em ligas para
• Európio é usado para dopar alguns tipos de
a produção de fones de ouvido.
plásticos para a fabricação de lasers e como
• Liga de samário-cobalto (SmCo5) é usado para a agente para a produção de vidros fluorescentes.
produção de imãs permanentes com resistência
• Isótopos de európio são bons absorvedores de
à desmagnetização em altas temperaturas.
nêutrons para uso em reatores nucleares.
• O óxido de samário é usado em vidros ópticos
para absorção de radiação infravermelha e 4.1.10 - Gadolínio (Gd)
usado como catalisador para a desidratação e O gadolínio é um metal branco prateado,
desidrogenação do etanol. maleável, dúctil com um brilho metálico
• Sais de samário são usados em cintiladores e é fortemente magnético à temperatura
fotossensíveis na região do infravermelho e ambiente (possui 2 elétrons desemparelhados).
vermelho. Ao contrário dos demais ETR, o metal é
• O titanato de samário estabilizar o desempenho relativamente estável no ar seco, porém perde
de condensadores elétricos. o brilho rapidamente no ar úmido formando um
óxido sobre a superfície, reage lentamente com
• Em lâmpadas de eletrodos de carbono
a água e é solúvel em ácido diluído. O gadolínio
na indústria cinematográfica utilizadas em
tem a mais elevada secção de captura de nêutrons
iluminação de cenários e projetores de filmes.
térmicos conhecido entre os elementos, 49.000
4.1.9 - Európio (Eu) barns, porém tem uma rápida taxa de perda de
O európio é o mais reativo dos ETR; oxida-se efetividade, limitando sua utilidade como barras
rapidamente ao ar e assemelha-se ao cálcio na sua de controle em centrais de fissão nuclear. O
63
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
nuclear como um absorvente de nêutrons; multiplica por dez, porém a 40.000 atm, cai
como dopante em amplificadores ópticos a fibra bruscamente para próximo de 10% da sua
(EDFAs); e em filtro fotográfico. resistividade à temperatura ambiente.
Os principais usos e aplicações do itérbio são:
4.1.15 - Túlio (Tm) • Yb2Co13Fe3Mn é considerado imã mais forte
O túlio é fácil de ser trabalhado, apresenta do mundo, porém o custo de sua produção é
boa ductilidade, tem brilho cinza prateado e excessivamente elevado.
pode ser cortado com uma faca. É o elemento • Um isótopo do itérbio tem sido usado como
do grupo menos abundante e os seus compostos fonte de radiação alternativa para uma máquina
não são comercialmente importante. Apresenta de raios X portátil, quando não há energia
certa resistência a corrosão quando no ar seco. disponível.
O túlio natural é composto inteiramente de um
• O metal adicionado no aço inoxidável melhora
único isótopo estável, o Tm169.
o refinamento dos grânulos, aumentando a
Os principais usos e aplicações do Érbio são: resistência e de outras propriedades mecânicas;
• O túlio estável (Tm169), bombardeado em algumas ligas metálicas são usadas em
reatores nucleares, pode ser usado como fonte odontologia.
de radiação em dispositivos portáteis de raio-X. • É utilizado na produção de determinados
• O Tm171 é instável pode ser possivelmente ácidos; e também na tecnologia do laser.
usado como fonte de energia.
4.1.17 - Lutécio (Lu)
• Tm169 tem potencial uso em materiais
O lutécio é o elemento mais pesado e duro
magnéticos cerâmicos denominados ferritas,
de todos ETR. O metal tem coloração branco
que são usados em equipamentos de micro-
prateado, resistente à corrosão e relativamente
ondas.
estável em presença do ar. É o elemento mais
difícil de isolar entre todos eles, o que justifica o
4.1.16 - Itérbio (Yb)
seu preço e sua pouca utilização.
O metal itérbio é um elemento macio,
Os principais usos e aplicações do lutécio são:
maleável e bastante dúctil que exibe um brilho
prateado, facilmente atacável e solúvel por • O metal é empregado como catalisador no
ácidos minerais, reage lentamente com a água e craqueamento do petróleo nas refinarias, e em
se oxida no ar. O itérbio apresenta 3 alótropos, diversos processos químicos como alquilação,
denominados de alfa, beta e gama, com pontos hidrogenação e polimerização.
de transformação a -13°C e a 795°C. A forma beta • Oxiortosilicato de Lutécio para ativar cintilador
ocorre na temperatura ambiente e apresenta de Cério em câmera gama de última geração, na
estrutura cristalina centrada nas faces, por outro medicina nuclear.
lado, a forma gama ocorre em temperaturas • O seu isótopo de massa 177 é utilizada como
elevadas e apresenta uma estrutura cristalina fonte de radiação beta (-), associado a partículas
corpo centrado. A forma beta tem condutividade de hidroxiapatita, para pesquisas em tratamento
elétrica similar a dos metais e se comporta como de tumores. As partículas carreadoras do isótopo
semicondutor em pressões próximas a 16.000 podem atuar de forma seletiva nas células
atm; a 39.000 atm sua resistência elétrica se tumorais evitando a irradiação de células sadias.
66
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.1 - Mapa com localização das ocorrências de complexos alcalinos no norte do Brasil (modif. de
ULBRICH; GOMES, 1981).
complexos brasileiros, os que apresentam maior Lineamento 125º, a exemplo dos complexos
importância econômica estão relacionados ao alcalinos minerados atualmente no Brasil.
Figura 5.2 - Mapa com os locais de ocorrências alcalinas no sul do Brasil. Os limites da Bacia do Paraná e o
Craton São Francisco estão delineados. Os cinturões de dobramento metamórficos estão representados por
BB (Brasília) e RB (Ribeira), são caracterizados por estruturas e idades do ciclo Brasiliano (modif. de ULBRICH;
GOMES, 1981).
68
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.3 - Tamanho estimado das reservas de ETR em diferentes complexos alcalinos brasileiros com sua
afinidade química (modif. de BROD, 2012).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
mina de nióbio do mundo. Outros depósitos de • Terras raras - a monazita é o principal mineral
nióbio estão relacionados com carbonatitos de de ETR, que podem ocorrer também associados
complexos alcalino-ultramáficos em Catalão I, ao fosfato de alumínio. São encontrados
Tapira e Serra Negra (MG) e ao ferrocarbonatito principalmente em Catalão I (GO) e Araxá (MG);
de Seis Lagos (AM). e possivelmente em Salitre, Serra Negra e Tapira
• Titânio - mineralização associada a ilmenita, (MG), devido às gêneses similares.
perovskita, anatásio, titanita, rutilo e leucoxênio • Fluorita em Mato Preto (PR);
(óxidos / hidróxidos amorfos TI), em Tapira, • Urânio em Poços de Caldas (MG);
Catalão I, Salitre e Serra Negra (MG). • Bauxita em Lages (SC) e Poços de Caldas (MG).
Tabela 5.1 - Tabela com as reservas minerais medidas e / ou estimadas dos principais corpos alcalinos
brasileiros (modif. de COMPANHIA BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO, 1984; BROD, 2012).
70
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
As idades dos complexos alcalinos são na estimada, serão abordados ao final do capítulo.
sua maioria do Cretáceo Superior, gerados após
a geração do magmatismo da Formação Serra 5.1 - DEPÓSITOS COM POTENCIAL ECO-
Geral (ULBRICH; GOMES, 1991). Ocorrem alguns NÔMICO RECONHECIDO PARA TERRAS
complexos do Cretáceo Inferior (Província RARAS
Ponta Grossa), enquanto os mais jovens são da 5.1.1 - Morro dos Seis Lagos (AM)
Província da Serra do Mar cujas idades variam O Complexo Alcalino Carbonatítico Seis Lagos
do Cretáceo Superior ao Eoceno (BROD et al., é definido por três corpos circulares alinhados
2004; MARANGONI; MONTOVANI, 2013). Os N-S (Figura 5.4), denominados de Morro dos
complexos da região norte e nordeste, por Seis Lagos (corpo maior), Morro do Meio e
sua vez, são mais antigos, sendo o Complexo Morro do Norte, cujos diâmetros são 6 km, 1
Angico do Dias de idade Paleoproterozóica e o km e 2 km, respectivamente (PINHEIRO et al.,
depósito de Maicuru de idade Neoproterozóica 1976). Estas estruturas intrudem as rochas do
(DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001). O depósito embasamento precambriano nos domínios da
de Seis Lagos tem idade provável do Mesozoico bacia do rio Cauaburi (VIÉGAS FILHO; BONOW,
(VIEGAS FILHO; BONOW, 1976). Os depósitos 1976). As reservas estimadas para nióbio (JUSTO,
serão apresentados em ordem cronológica do 1983), tornou este complexo carbonatítico
mais antigo para o mais novo. conhecido como um dos maiores depósitos
Os complexos alcalinos com reservas de Nb do mundo. O minério de ETR associado
estimadas de ETR serão descritos com a este depósito é composto, principalmente,
abordagem de sua geologia e mineralização de por florencita e monazita, enquanto o Ce é o
ETR. Aqueles que têm características geológicas principal elemento de ETR encontrado e possui
e mineralizações de ETR e não tem reserva teores menores que 2% (JUSTO, 1983).
Figura 5.4 - Mapa de localização do Morro dos Seis Lagos (Fonte da imagem esquerda: Esri, DigitalGlobe,
GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo,
and the GIS User Community).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
O Projeto Uaupés foi criado em complemento semelhantes ao Morro dos Seis Lagos,
aos resultados do Projeto Seis Lagos e resultou com volumes de crosta laterítica menores.
na cubagem do depósito de Nb de classe Ocorrências de fosfato com teores de 26,6%
mundial. As informações estão sumarizadas nos e 15,8% de P2O5 foram identificadas no Morro
relatórios: Projeto Uaupés – Relatório Preliminar do Norte, onde pode ter até 1,46% de Ce. Os
de Pesquisa (PAIONE, 1981); Projeto Uaupés – teores expressivos de Fe (> 40%) nos três morros
Relatório Final de Pesquisa (JUSTO, 1983), Vol estudados mostra ser economicamente viável
I (Textos) e Vol. II (Anexos) e Informe Técnico para produção de ferro-gusa (CARNEIRO et al,
(1984); Caracterização Tecnológica do Depósito 1984).
Niobífero do Morro de Seis Lagos (Projeto
5.1.1.4 - Geologia
Uaupés) (CARNEIRO et al, 1984) e; demais
As alcalinas do Morro dos Seis Lagos, de idade
relatórios auxiliares.
provável Mesozóica, estão inseridas no Domínio
5.1.1.3 - Importância Econômica Imeri (COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS
O depósito de Morro dos Seis Lagos MINERAIS, 2006), que é caracterizado por
consiste de uma elevação sustentada por estruturas regionais NW-SE a EW truncadas por
crosta laterítica ferruginosa (canga ferrífera) estruturas NE-SW e estão relacionadas a zonas
com mais de 250 metros de espessura. Esta de cisalhamento destrais (Figura 5.5). As rochas
crosta laterítica apresenta o nióbio (Nb) como deste domínio, que forma o embasamento, são
principal mineralização, associado aos minerais constituídas por ortognaisses e metagranitóides
de Nb-brookita e ilmenorutilo, com pirocloro cálcico-alcalinos (fácies Santa Izabel), além de
ocorrendo de forma subordinada. O teor médio augen gnaisses monzograníticos (fácies Tarsira),
estimado de Nb é de 2,81% Nb2O5 (JUSTO, com idades entre 1.810 Ma a 1.790 Ma (idades
1983). A mineralização de ferro também mostra dos protólitos ígneos). Anfibolitos e migmatitos
ser significativa, visto que recobre mais de 95% são bem mais raros. Todo este conjunto de
da área do corpo, constituída por goethita e litótipos está agrupado no Complexo Cauaburi
hematita que forma o protominério de ferro. (COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS
Há três ocorrências expressivas de minério de MINERAIS, 2006, ALMEIDA et al., 2011, 2013),
Mn distribuídas nas encostas do Morro dos Seis anteriormente definida como Complexo
Lagos em cotas inferiores a 200 metros (VIÉGAS Guianense. A região foi afetada por uma tectônica
FILHO; BONOW, 1976). Concentrações de ETR mais jovem (evento K´Mudku: 1,38-1,20 Ga),
na canga laterítica também são expressivas, com além de dois orógenos acrescionários (Cauaburi
Ce e La atingindo valores de até 2,0% e 0,1%, e Querari) e um colisional (Içana) (ALMEIDA et
respectivamente. Além dessas mineralizações, o al., 2011). A tectônica mais jovem seria o reflexo
complexo revela potencialidade econômica para intracratônico de uma orogenia com idade
outras mineralizações como Th, Zn, V, Sc e Ba similar ao da Orogenia Sunsás (ALMEIDA et al.,
(VIÉGAS FILHO; BONOW, 1976). 2011). Esse evento seria em tese responsável
Os outros dois morros, do Meio e do Norte, por boa parte dos cataclasitos e milonitos da
apresentam contexto geológico e mineralizações região (“cataclasitos K´Mudku”)
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A B
Figura 5.6 - (A). Imagem de satélite com destaque às alcalinas de Seis Lagos, Folha NA.19-Z-D (PINHEIRO et
al., 1976). (B) Mapa Radiométrico da Concentração de Tório (em ppm). O ponto verde corresponde ao centro
do depósito de Morro dos Seis Lagos.
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A B
Figura 5.8 - Cangas limoníticas e hematíticas do Carbonatito Seis Lagos, mostrando estrutura do tipo bandada
(A) e pisolítica (B), Folha NA.19-Z-D (PINHEIRO et al., 1976).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.9 - Variação de teores dos elementos no perfil laterítico do furo de sondagem SG-01-AM. (A)
Distribuição dos elementos Ce, La, Nd, Pb, Nb, TiO2 e MnO; (B) Ce, P2O5 e Al2O3.
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A B
C D
Figura 5.10 - Amostras de testemunhos do Furo de sondagem 1-SG-01-AM. (A) 2,3 m - Crosta pisolítica, com
bandas de Fe, bandas ocre de argila; (B) 16, 55 m - Crosta faixas verticalizadas com argila esverdeada; (C)
34,5 m - Crosta homogênea óxido de manganês maciços; (D) 75,0 m - Crosta mais homogênea coloração
vermelha-marronzada. (Fotos: L.Takehara).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.11 - Difratograma da amostra entre 31,2 m e 32,0 m de profundidade do furo de sondagem SG-01-
AM (Análise de Difração de Raios X realizados na SUREG-MA).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.14 - Mapa de localização do Complexo Barra do Itapirapuã (Imagem do GoogleEarth, preparada por
Helena Zanetti Eyben).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.15 - Mapa geológico do Maciço Alcalino de Barra do Itapirapuã (modif de RUBERTI, 1998).
RUBERTI (1998) identificou também que rica em ETR e minerais de ETR, principalmente
as rochas carbonatíticas ocorrem formando fluorcarbonatos (RUBERTI, 1998).
stockwork. Nos níveis superficiais, em filões
milimétricos a centimétricos e, nas porções 5.1.2.5 - Mineralização de ETR
mais profundas, em diques e venulações
Os carbonatitos são compostos
decimétricos a métricos. Os stockworks de
principalmente de carbonatos calcíticos (>50%)
carbonatitos dolomíticos e ferro dolomíticos,
e apatita, pirocloro, fluorcarbonatos de ETR,
que cortam as rochas graníticas ferritizadas,
óxidos hidratados de ferro e quartzo em menores
pode ser atribuídos a dois focos principais de
quantidades. Os principais minerais de ETR
carbonatitos (LAPIDO-LOUREIRO, 1988). Outra
identificados foram a bastnaesita e a sinchisita –
forma de ocorrência observada são brechas
parisita (apatitas ricas em ETR), e ancilita de forma
sílico-carbonatíticas, formadas na transição
entre as rochas fenitizadas e os carbonatitos. O esporádica (RUBERTI; ENRICH; GOMES, 2008). A
carbonatito apresenta composição heterogênea, bastnaesita pode ser substituída por sinchisita e
com dolomitas enriquecidas em ferro, ankeritas parisita ou apresentar como sobrecrescimento.
diversas e calcita, apesar do teor de cálcio As variações de Ca e ETR sugerem também que
ser homogêneo, mostra grande variação em estes minerais formam camadas com diferentes
teores de magnésio e ferro e na granulação proporções de bastanaesita e sinchisita
desses carbonatos (RUBERTI, 1998). Este autor (RUBERTI; ENRICH; GOMES, 2008). A cerianita
observou predomínio do litotipo magnésio foi encontrada em uma amostra de rocha
carbonatitos nas variedades texturais média bastante alterada, com 11,9% de CeO2 e 6,9% de
a grossas. Essas rochas são cortadas por veios La2O3 (LAPIDO-LOUREIRO, 1988). Uma amostra
tardi-magmáticos e/ou hidrotermais portadores de granito rico em apatita apresentou teor de
de quartzo, fluorita (incolor e roxas), apatita 3,21% de TR2O3 (LAPIDO-LOUREIRO, 1988).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.16 - Ferrocarbonatito de granulação média/grossa com quartzo e abundante fluorcarbonato de ETR
fibrosos e fibrorradiados, normalmente impregnados com óxido de ferro. 10 X (foto lado maior 1,39 mm, filtro
azul e polarizador cruzado) (RUBERTI, 1998, pag. 68).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.17 - Mapa de localização do Complexo Carbonatítico de Araxá (Imagem do GoogleEarth, preparada
por Helena Zanetti Eyben).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
DE METALURGIA E MINERAÇÃO, 2013). A MBAC (VALE, 2014). A partir de 2010 a VALE iniciou os
Fertilizantes Corp é outra empresa que está trabalhos na pesquisa e desenvolvimento de
trabalhando no desenvolvimento de tecnologia tecnologia mineral de terras raras (VALE, 2014).
para extração de ETR (MBAC FERTILIZANTES A MBAC Fertilizantes Corp é outra
CORP., 2014). empresa que também está trabalhando neste
Produção: A CBMM tem capacidade atual de depósito, com estudos de viabilidade para
produção de sulfato duplo e hidróxido de ETR ETR em finalização (final de 2014), em fase de
em 1,2 mt/ano. licenciamento e com planta piloto em operação
produzindo concentrado de óxidos de ETR (OTR)
5.1.3.2 - Histórico com > 99% de pureza (BRASIL, 2014). A previsão
de entrar em operação é em 2015 com produção
O carbonatito foi inicialmente caracterizado
de 8,75 mt/ano de OTR.
por J. F. de Andrade Júnior e Djalma Guimarães
em 1925 (LEONARDOS, 1956). A primeira reserva
de rocha apatítica com 100 Mt foi calculada entre 5.1.3.3 - Importância Econômica
1947 a 1949.A reserva de nióbio foi reconhecida O complexo alcalino carbonatítico de Araxá
em 1955 como depósito de pirocloro gerado a pertence à Província Ígnea do Alto Paranaíba
partir da decomposição da rocha magnetítica. e é conhecido principalmente como o maior
Os trabalhos de prospecção indicaram reserva produtor de nióbio do mundo (CBMM) e um
de 120 Mt @ 2% de minério de pirocloro, 4 Mt grande produtor de fosfato no Brasil (VALE). O
de columbita, 130 mt de ThO2, 60 mt de uranila e depósito de Araxá está com previsão de produzir
de 60 a 90 mt de ETR (LEONARDOS, 1956). 150 mt de ferronióbio até 2016 (COMPANHIA
A CBMM foi fundada em 1955, com início BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO,
das operações de lavra e produção de nióbio em 2013). A produção de fosfato deste depósito
1961, chegando a produzir 3.600 toneladas de representou 16% da produção nacional de
concentrados de nióbio em 1965. Na década de concentrado pela VALE (DEPARTAMENTO
1970 passou a produzir também o ferronióbio NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2013c).
e óxidos de nióbio, enquanto na década de O depósito apresenta o maior potencial
80 passou a produzir ligas grau vácuo. Estes econômico de ETR conhecido no Brasil. O total de
produtos tiveram aumento de sua produção até reserva obtido pelas três empresas totaliza 24,23
a década de 2010, quando iniciou a produção de Mt de OTR. Outra empresa que trabalha neste
sulfatos duplos e hidróxidos de ETR (COMPANHIA corpo é a VALE, mas não apresentou o cálculo
BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO, de reserva para este depósito. O depósito conta
2013). A CBMM firmou parceria com o IPT para com o projeto de ETR mais avançado no Brasil,
desenvolvimento de tecnologia para fabricação é o desenvolvido pela CBMM. A empresa já
de Nd metálico (VILLELA, 2014). está produzindo sulfatos duplos e hidróxidos de
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atual ETR. Atualmente, está buscando parceiros para
VALE, é outra empresa que explora fosfato neste desenvolvimento tecnológico para produção de
depósito, desenvolvendo pesquisas geológicas óxidos e metais de ETR. A MBAC Fertilizantes
e tecnológicas desde 1972 (MAIA, 2001), com Corp está realizando estudos de viabilidade
produção de rocha fosfática e de ácido sulfúrico econômica para exploração de fosfato, nióbio
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
e ETR, e também está investindo em pesquisas recursos minerais. O complexo é uma intrusão
para produção de óxidos de ETR (BRASIL, circular com 4,5 km de diâmetro e 15 km2 de
2014). Além dos minérios de nióbio e fosfato, o área, encaixada em xisto e quartzitos do Grupo
depósito também será importante produtor de Ibiá (Figura 5.18) (BROD et al., 2004). O tipo de
ETR, conforme pode ser visto pelas empresas rocha dominante são carbonatitos, glimeritos,
atuantes. foscoritos, piroxenitos, lamprófiros e silexitos
(GOMES; RUBERTI; MORBIDELLI, 1991). O intenso
5.1.3.4 - Geologia processo de intemperismo formou um manto de
O complexo Alcalino de Araxá, também alteração complexo com horizontes pedológicos
conhecido como Barreiro, é um dos complexos transicionais da rocha sã ao capeamento (Figura
alcalino-carbonatíticos com importantes 5.19) (BROD et al, 2004).
Figura 5.18 - Geologia do Complexo Carbonatítico do Barreiro (modif. de BROD et al., 2004).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.19 - Logs dos testemunhos de sondagem 5.18 da mina de fosfato da Bunge Fertilizantes S. A. (BROD
et al., 2004 pontos 4 e 5 na Figura).
Figura 5.20 - Mapa do Sinal Analítico do Complexo de Araxá (MBAC FERTILIZANTES CORP., 2012).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
O processo de fenitização foi bastante granulação média a grossa, com calcita e ankerita
intenso nas rochas encaixantes, com auréolas subordinadas, dentre os minerais acessórios
de até 2,5 km nos quartzitos e mica xistos, bem são encontrados a barita, apatita, magnetita,
como se observa forte flogopitização das rochas perovskita, quartzo secundário, pirita, monazita,
ultramáficas (GOMES; RUBERTI; MORBIDELLI, entre outros (BROD et al, 2004).
1990), como a zona de flogopitito metassomático O processo de concentração gerou acúmulo
observado entre o núcleo carbonatítico/ de apatita primária no horizonte denominado
foscorítico e a encaixante fenitizada (BROD et Saprólito Fino, onde as fases carbonáticas
al., 2004). e silicáticas foram transformadas em
Os depósitos de fosfato e nióbio gerados argilominerais do grupo da caolinita (TORRES,
por processo de concentração residual durante 2008). A monazita ocorre associada aos silexitos
intenso intemperismo e o sistema de drenagem (TORRES, 1996). A complexidade de veios e
radial permitiu a formação de espessa camada de diques cortando as camadas de rochas pode ser
solo (250 m) (BROD et al., 2004). Este processo de visualizada na Figura 5.21. No saprólito a apatita
alteração das rochas carbonatíticas e foscoríticas é o principal carreador de ETR, principalmente
geraram altas concentrações de minerais de nas fases secundárias e tardias. A transformação
minério de fosfato e nióbio. As mineralizações de apatita em monazita pode ser observada
estão concentradas em locais diferentes: (i) a nos pseudomorfos (Figura 5.21). O fluido
de nióbio está na porção central do complexo; enriquecido de ETR dissolvido dos minerais
(ii) a de fosfato está na porção nordeste e; (iii) primários descem no perfil laterítico, onde os
na porção norte tem as de fosfato, urânio e ETR ETR substituem o cálcio das apatitas.
(TORRES, 2008).
Figura 5.21 - Pseudomorfos de monazita substituindo as apatitas dos carbonatitos de Araxá (MARIANO E
MARIANO, 2012a).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.23 - Mapa do aerolevantamento magnetométrico (sinal analítico) dos complexos de Catalão I (a SE)
e Catalão II (a NW), superposto a imagem de radar. A anomalia magnética na porção oeste de Catalão I cor-
responde a uma barragem de rejeito rico em magnetita (PALMIERI, 2011).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.24 - Distribuição dos depósitos minerais constituindo recursos e reservas no Complexo Carbonatítico
Catalão I (RIBEIRO, 2008).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A produção de fosfato a partir de apatita 1,44% de OTR (NEUMANN, 1999), indicando que
ocorre há mais de 30 anos e não foi aproveitado importante quantidade de recursos de ETR tenha
o ETR contido na apatita, que pode chegar a se perdido (TASSINARI; KAHN; RATTI, 2001).
Tabela 5.2 - Estimativa dos recursos por tipo de minério a um teor médio de 5,5% de ETR e teor de corte >
2% de ETR.
Catalão II tem o seu potencial conhecido desde geoquímicos e mineralógicos neste alvo
a década de 1970. A Mina Boa Vista entrou em (PALMIERI, 2011), identificando a presença de
operação em 1973, produz aproximadamente novos depósitos de nióbio e fosfato. A Anglo
4.000 toneladas de nióbio por ano a partir do American produz fosfato na porção norte e
saprólito (ANGLO AMERICAN, 2013). A partir nióbio na porção sul do complexo, conforme
de 2005, a empresa Anglo American Brasil Ltda. Figura 5.25. Não se tem conhecimento de
intensificou os estudos geológicos, geofísicos, estudos para ETR neste complexo.
Figura 5.25 - Áreas de fosfato e nióbio explorados pela Anglo American Brasil Ltda no Complexo Catalão II.
(CAIXETA, 2009).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.26 - Mapa geológico esquemático do Complexo Carbonatítico de Catalão I, após informações obtidas
por furos de sondagens e afloramenteos (modif. de BROD et al., 2004).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.27 - Mapa Geológico de Catalão II, com indicação da localização dos depósitos. (Modif. PALMIERI,
2011).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
apatita confirma sua origem carbo-hidrotermal até 3 m de espessura (RIBEIRO, 2008). Este autor
(RIBEIRO, 2008). O minério nelsonítico da propõe que as mineralizações do Córrego do
Lagoa Seca Norte também sofreu alteração por Garimpo e Lagos Seca Norte têm uma gênese
fluidos carbo-hidrotermais, visto pelos veios e única, onde os eventos metassomáticos tardios,
diques preenchidos por brechas com monazita relacionados ao magmatismo carbonatítico,
cortando rochas foscoríticas (RIBEIRO, 2008). rico em ETRL derivado da transformação da
A monazita ocorre associada com carbonatos, perovskita para anatásio, teria alterado outros
apatita e ilmenita em camadas horizontais com litotipos.
Figura 5.28 - Seção típica de distribuição de ETR no depósito Córrego do Garimpo (RIBEIRO, 2008).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 5.3 – Tipos de minério do depósito do Córrego do Garimpo com mineralogia relacionada (modif. de
NEUMANN, 1999).
Figura 5.29 - Padrão de distribuição dos ETR em monazitas nos diferentes tipos de minério. (RIBEIRO, 2008).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
metalúrgico com uso de lixiviação com ácido trabalhos de pesquisa da mineração Catalão
sulfúrico à temperatura ambiente mostra bom de Goiás Ltda é a primeira manifestação
desempenho para minérios com alto ferro e carbonatítica deste complexo, que constitui
apatita, com recuperação em torno de 55%. Já o protólito da mineralização de nióbio. Os
para o minério silexito esta recuperação é de minerais de ETR estão associados aos calcíticos
30%, em média (TASSINARI; KAHN; RATTI, 2001). anqueríticos e silexitos, juntamente com o bário
Isto porque para o minério silexítico há perda de e o tório (MACHADO JUNIOR, 1991).
ETR na solução lixiviada. Assim, para minérios A mineralização de ETR em Catalão II está
com maiores quantidades de material silexítico, associada à série anquerítica calcítica dos
o uso de temperaturas maiores melhora carbonatitos deste complexo, como carbonatos
a eficiência no processo hidrometalúrgico de ETR, associadas ao quartzo e barita
(TASSINARI; KAHN; RATTI, 2001). integrantes de fase intersticiais (MACHADO
Apesar do baixo teor de ETR recuperado JUNIOR, 1991). Este autor descreve que os
no processamento mineral, os fatores que carbonatos de ETR ocorrem como pequenos
favorecem a exploração do depósito de ETR do cristais prismáticos ou aciculares, dispostos
Córrego do Garimpo é o tamanho da reserva, em arranjo radial formando drusas. Análises
custo mínino de lavra e processamento mineral. químicas deste composto calcítico anquerítico
Os teores baixos de U e Th, processamento indica altos teores de Ce, bem como de F. Pela
hidrometalúrgico a temperatura ambiente e ausência de fluorita e apatita, conclui-se que
possível integração desse processamento com estes elementos provavelmente representam
plantas de ácido sulfúrico e fosfórico são fatores fluorcarbonatos de Ce, do tipo bastnaesita,
que diminuem o custo global do processamento sinchisita ou parisita (MACHADO JUNIOR, 1991).
hidrometalúrgico de ETR (TASSINARI; Além dos carbonatos, o pirocloro também é um
KAHN; RATTI, 2001). Conforme já descrito mineral portador de ETR, com teores de mais de
anteriormente, a VALE está desenvolvendo 4,5% de ∑OTR (MACHADO JUNIOR, 1991).
pesquisas para extração de ETR como subproduto Bilal et al. (2012) observaram que os minerais
de seu minério de fosfato. A Anglo American de ETR de piroxenitos e carbonatitos calcíticos de
por sua vez não tem manifestado publicamente Catalão II mostram enriquecimento substancial
qualquer estudo para exploração de ETR de seus de ETR nos estágios magmáticos. Estes autores
depósitos de fosfato e nióbio. sugerem que o enriquecimento magmático
As mineralizações de Catalão II, por sua vez, em ETR e Ti é favorecido pela presença da fase
apresentam associações com tipo(s) litológico(s) carbonato, relacionada à elevada atividade de
distinto(s) (MACHADO JUNIOR, 1991). O fosfato CO32- e atividades de Ti e Na no carbonatito,
pode estar associado com piroxenitos, foscoritos, explicando a ausência de apatita. O estágio de
“rocha mineralizada” e sílico calcíticos, quase intemperismo promove a perda de ETR e Ba dos
todos os tipos principais de rochas, enquanto minerais, que são incorporados no pirocloro,
que o nióbio está associado com os foscoritos que quando alterado perde Na, Ca, F (BILAL et al,
e “rocha mineralizada”. Segundo este autor, 2012). Este depósito não tem estudo específico
“rocha mineralizada”, termo usado à época dos para ETR publicados.
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.30 - Mapa de localização do Complexo Tapira (Imagem do GoogleEarth, preparada por Helena
Zanetti Eyben).
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
com perovskita (processo de transformação rochas são cortadas por diques de ultramáficas
progressiva) e/ou minerais portadores de ETR, e carbonatitos de granulação fina, que são ricos
Th e U (GUIMARÃES, 2004); e (ii) segundo, os em carbonatos, que indicam imiscibilidade do
processos metalúrgicos disponíveis para extração líquido carbonatítico nos estágios iniciais da
de titânio utilizam apenas ilmenita e/ou rutilo evolução do complexo (BROD, 1999). Os diques
(Edson Ribeiro, comunicação verbal). A Vale tem de carbonatitos em contato com os piroxenitos
desenvolvido estudos de aproveitamento deste e dunitos foram convertidos para flogopititos
minério, com extração de Ti e de ETR, a partir metassomáticos (BROD, 1999). Estas rochas
do rejeito de Ti. No entanto, as rotas até então são cortadas também por bolsões de silexitos
desenvolvidas não apresentaram resultados intemperizados associados a zonas de falhas
satisfatórios. Além disso, há a presença do Th no (GUIMARÃES, 2004).
rejeito como material radiogênico que deve ser As rochas deste complexo intrudem e
avaliado (Edson Ribeiro, comunicação verbal). deformam o embasamento formado por
quartzitos e filitos do Grupo Canastra (BROD et
5.1.5.4 - Geologia al., 2000; DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001),
O Complexo de Tapira é formado pela que apresentam auréola de fenitização restrita
amalgamação de várias intrusões de rochas aos quartzitos, com presença de piroxênio sódico
silicáticas e carbonáticas (Figura 5.31). As rochas e feldspatos (BROD, 1999). O anel de quartzito
deste complexo são principalmente rochas que circunda o complexo foi responsável
ultrabásicas como piroxenitos/bebedouritos pelo desenvolvimento do espesso manto de
com dunitos serpentinizados, carbonatitos, intemperismo sobre as rochas alcalinas, gerando
sienitos, melilitolito subordinados (BROD, 1999; os depósitos de fosfato (apatita) e titânio
GUIMARÃES, 2004; BROD et al., 2013). Estas (anatásio) (PINHO-TAVARES, 2007).
Figura 5.31 - (A) Mapa geológico do Complexo Alcalino Carbonatítico de Tapira; (B) perfil NW-SE, mostrando
os perfis de mineralização, (modif. de MELO, 1997).
105
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Os depósitos minerais deste complexo são (90%), minerais de magnetita, apatita, flogopita
resultado do processo de enriquecimento e pirocloro, bem como barita e sulfetos tardios
supergênico gerado pelo intemperismo (BROD, 1999).
das rochas ultramáficas (FERRARI, 2000; As anomalias geofísicas demarcam bem este
GUIMARÃES, 2004). Os piroxenitos apresentam complexo (Figura 5.32), cujo mapa da amplitude
enriquecimento em apatita, magnetita e do sinal analítico apresenta dois picos de maior
perovskita, que podem se apresentar como intensidade com baixo magnético no centro.
bandas monominerálicas com concentrações Isto ocorre devido à presença de piroxenito
de perovskita, normalmente entre 8% a 10%, contornando o corpo de carbonatito no centro,
(DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001). Os que é menos ferromagnético (RIBEIRO, 2011).
carbonatitos podem conter, além da calcita
Figura 5.32 - Mapa da Amplitude do Sinal Analítico da região da alcalina de Tapira; (B) Mapa da concentração
radiométrica do Tório (Th) (RIBEIRO, 2011).
106
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
com anatásio e minerais secundários de ETR, amostras minerais puras. A monazita ocorre
principalmente rabdofânio. Segundo Soubiès, em menor proporção que a rabdofana, onde
Melfi e Autefage (1991) a perovskita seria o Soubiès, Melfi e Autefage (1991) sugerem que
principal mineral portador de ETR na rocha mãe a monazita foi formada a partir da desidratação
(TR2O3 = 1,9%), muito superiores aos teores da rabdofana.
encontrados na apatita. A zona mais profunda Neste depósito, o perfil mineralizado
apresenta maiores teores de nióbio e ETR com gerado por transformações progressivas dos
presença de titânio e apatita (GUIMARÃES, minerais primários, pode ser dividida em
2004). A rocha fresca mineralizada pode conter cinco zonas principais. Do topo para a base,
teores de até 1,2% de Nb2O5, geralmente as zonas mineralizadas são: estéril, titânio,
associado com os ETR (MELO, 1997). Lapido- fosfato com titânio, fosfato e nióbio (Figura
Loureiro (1988) por sua vez associa a ocorrência 5.31) (GUIMARÃES, 2004). As principais fases
de ETR com o minério de anatásio, com teores minerais ocorrem nas diferentes zonas do perfil
oscilando entre 1 a 10% de TR2O3. intempérico de Tapira (Tabela 5.4).
Ferrari (2000) identificou
três gerações de apatitas neste
depósito, apatitas primárias,
hidrotermais e supergênica. As
apatitas secundárias (hidrotermal
e supergênica) apresentaram
maiores teores de ETR (0,1 a
0,4% de TR2O3) (SOUBIÈS; MELFI;
AUTEFAGE, 1991; FERRARI, 2000).
A rabdofana ocorre intimamente
associado com o anatásio,
preenchendo e revestindo suas
cavidades (Figura 5.33) (SOUBIÈS; Figura 5.33 - (A) Apatita primária (p) inclusa em anatásio (an) e
MELFI; AUTEFAGE, 1991; FERRARI, rabdofânio (Rh) no contato entre os dois minerais. (B) Rabdofânio
2000). Esta associação torna difícil (rh) crescido em anatásio (an) (MEV – BSE). (C) Fosfato de ETR
(ftr) em fissura da apatita primária alterada (p) (SOUBIÈS; MELFI;
a sua separação para obtenção de AUTEFAGE, 1991).
Tabela 5.4 - Fases minerais encontradas nos perfis de alteração do Complexo de Tapira (CONCEIÇÃO;
BONOTTO, 2006).
107
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.34 - Mapa de localização do Complexo Morro do Ferro – Poços de Caldas (Fonte da imagem
esquerda: Esri, DigitalGlobe, GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX,
Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo, and the GIS User Community).
108
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Aspectos gerais: As litologias principais do Produção: Não há produção atual, mas foi região
complexo são tinguaítos e fonolitos, nefelina produtora de urânio até a década de 1990. Há
sienitos com lavas, tufos e brechas vulcânicas ocorrência de bauxita sobre este Complexo
ocorrem de forma subordinada. As rochas (DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001).
encaixantes são quartzitos e xistos do Grupo
5.1.6.2 - Histórico
Canastra de idade neoproterozoica. As estruturas
Os recursos minerais da região de Poços
regionais são fraturamentos paralelos e
de Caldas são conhecidos desde o século XIX,
profundos com direção geral NW-SE e, as locais,
descritos inicialmente por O. A. Derby (1887)
fraturas radiais e concêntricas, falhas radiais,
(LEONARDOS, 1956). As rochas que compõem
estruturas dômica e zonas de cisalhamento. O
a chaminé são todas alcalinas formadas
manto intempérico deste depósito é de 20 a 50
por associações plutônicas e vulcânicas
m de espessura.
(LEONARDOS, 1956). No centro do complexo
Mineralização: terras raras (EDEM, 2014);
é encontrado o Morro do Ferro, formado por
urânio, molibdênio, zircônio (FRAENKEL et al.,
rochas completamente decompostas que
1985) e bauxita (DARDENNE; SCHOBBENHAUS,
formam um depósito de magnetita e manganês,
2001).
bem como um depósito de tório (LEONARDOS,
Minerais de Minério: bastnaesita, cerianita 1956). O depósito de tório é formado por
e thorugummita (EDEM, 2014); uraninita, uma parte superficial e massa subjacente que
jordisita/ilsemannita – minerais secundários de reunidas tinha uma reserva total de 36 mt de
molibdênio, fluorita, pirita e zirconita (FRAENKEL óxido de Th. À época foram realizadas pesquisas
et al., 1985). por meio de sondagens e túneis, onde J. J. R.
Tipo de jazimento: Associado às estruturas Branco identificou bastnaesita como o mineral
circulares secundárias e também gerado pelo carbonático que preenchia as fissuras dos
processo hidrotermal e posterior enriquecimento foiaitos alterados (LEONARDOS, 1956). Além
superficial laterítico (CAVALCANTE et al., 1977). do Th e ETR também foi identificada presença
Recurso estimado: 7 Mt @ 2,89% OTR, com de zircônio, principalmente badeleita uranífera
potencial para 10 Mt @ 5% OTR de minério no (0,2% a 2,0% de uranila).
saprólito (EDEM, 2014) e também reservas de Na década de 1970 foram realizados estudos
26,8 mt de U3O8, 25 mt de MoO2, e 172,4 mt de para ser usado como depósito de lixo radioativo
ZrO3 (FRAENKEL et al., 1985). natural, porque a radioatividade nos solos
do Morro do ferro é tão alta que folhagem
Idade da mineralização: Os tinguaítos e fonolitos
natural poderia ser facilmente autoradiografado
apresentam idade em torno de 72 a 78 Ma e
(WABER, 1992).
os nefelinas sientitos com idades entre 60 e
64 Ma, interpretadas como idades mínimas de 5.1.6.3 - Importância Econômica
resfriamento (ULBRICH, 1984). O Morro do Ferro muito conhecido por ser
Situação atual: A PRIME STAR BRASIL a primeira mina de Urânio Osamu Utsumi com
MINERAÇÃO LTDA é a empresa que está lavra iniciada em 1981 (FRAENKEL et al., 1985),
realizando estudo de viabilidade econômica explorada pela NUCLEBRAS/INB até a década
para ETR. de 1990. Na década de 1970 teve indicações de
109
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
reservas de Th e ETR (CAVALCANTE et al., 1977). 1956; ULBRICH; GOMES, 1981), cuja evolução
Além destes bens minerais é conhecido também iniciou em 87 Ma e terminou em torno de 52 Ma
pela ocorrência de bauxita sobre este Complexo (ULBRICH; GOMES, 1981). O alojamento desta
(DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001). intrusão alcalina soergueu as rochas encaixantes,
As pesquisas realizadas pelo DNPM na década gerando estruturas verticalizadas nas bordas.
de 1970 indicaram reservas na ordem de 6 Mt Esta estrutura circular, segundo Marangoni
@ 5% TR2O3, dos quais 5 Mt com teor médio e Montovani (2013) seria de dique anelar de
de 0,5% de ThO2 e 1 Mt com teor médio de 1% rochas nefelínicas circundadas por migmatitos
ThO2, estimada uma reserva de 35 mt de ThO2 e precambrianos. No centro da intrusão, na parte
300 mt de TR2O3, (LAPIDO-LOUREIRO, 1994). Os mais baixa e na depressão, são encontradas
teores de ETR são variáveis, localmente atingem rochas sedimentares areno argilosas e materiais
22% de TR2O3, geralmente acompanham teores vulcânicos. O corpo é constituído por tinguaítos,
de Th. No minério com 1% de ThO2 os teores foiaítos e fonolitos seguidos de nefelina sienitos,
de TR2O3 são maiores que 10%. Dentre os ETR tufos e brechas vulcânicas. Estas rochas são
predominam o Ce, La, Nd e Pr. cortadas por diques anelares e intrusões de
Atualmente, a mineração Prime Star Brasil lujauritos, chibinito e foiaítos, associados
Mineração Ltda está com projeto avançado neste por forte atividade hidrotermal e brechação
depósito. Após reavaliação dos testemunhos (DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001).
de sondagens, reamostragem em galerias (210
m de amostragem de
canal), trincheiras (5) e
novas sondagens estimam
os recursos de 7 Mt @
2,89% OTR, com potencial
para 10 Mt @5% OTR
de minério no saprólito
(EDEM, 2014).
O conceito preliminar
do projeto da mina será
uma mina a céu aberto,
com alimentação de 600
Kt/ano ROM; produção de
117 Kt de OTR ao longo Figura 5.35 - Mapa geológico do Complexo de alcalino de Poços de Caldas
(MG) (RICARDI, 2010).
de 12 anos, com 70% de
recuperação de OTR. Os resultados das respostas magnetométricas
e radiométricas mostram anomalias geofísicas
5.1.6.4 - Geologia bem visíveis, como podem ser observadas pelo
A chaminé alcalina de Poços de Caldas é a recorte de uma área dentro do complexo (Figura
maior do país e forma um planalto circular de 5.36).
30 km de diâmetro (Figura 5.35) (LEONARDOS, O depósito de urânio é formado por
110
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
7,5
A B
Figura 5.36 - Interpretação geofísica terrestre. (A) Sinal analítico; (B) anomalia de Th. (PRIME STAR BRASIL
MINERAÇÃO LTDA, 2013).
111
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
112
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
não são retidos neste ambiente superficial e 5.2.1 - Angico dos Dias (BA)
migram para baixo no perfil intempérico. Com O Complexo foi conhecido inicialmente pelas
a alta concentração em profundidade são ocorrências de vermiculita, com identificação
disponibilizados para formação de minerais do potencial para fosfato após trabalhos de
secundários, como o carbonato Nd-lantanito pesquisas realizados pela CBMM na década de
e hidroxifosfatos de ETR e adsorvidos em 1980 (SILVA et al., 1997).
hidróxidos de ferro e alumínio de baixa Os trabalhos de pesquisa mineral realizado
cristalinidade (WABER, 1992).
pela CBMM identificaram teores anômalos para
A zona mineralizada do Morro do Ferro, com P, Zr, Sr, Ba e ETR. Na década de 1980 foi realizado
500 m de extensão e largura máxima de 130 m e estudos de detalhe com desenvolvimento de
chega a atingir 100 m de profundidade na porção ensaios de beneficiamento para fosfato. A
mais rica do depósito (CAVALCANTE et al., 1977). partir de 2005, a Galvani explora o fosfato deste
O corpo de minério Th – ETR é composto por complexo (GALVANI, 2014). Pereira et al. (2000)
matriz argilo-siltosa cortado por abundantes estudaram a viabilidade de recuperação de ETR
veios de magnetita de espessuras variáveis, como subprodutos do processo de produção de
que protegeu o morro da erosão e permitiu o ácido fosfórico de concentrados de apatitas.
enriquecimento residual de minerais de Th e
Atualmente o complexo é produtor de
ETR (WABER, 1992). O minério a ser explotado
fosfato, explorado pela empresa Galvani desde
é o material saprolítico argiloso derivado do
2005, conhecido como Unidade de Mineração
processo de alteração que afetaram as rochas,
de Angico dos Dias (UMA), que desenvolveu
com geração de rochas alcalinas profundamente
tecnologia de concentração a seco (GALVANI,
brechadas, alteradas hidrotermalmente e
2014).
intemperizada (PRIME STAR BRASIL MINERAÇÃO
LTDA, 2013). A bastnaesita é o principal mineral
de ETR deste depósito. Lapido-Loureiro (2011) 5.2.1.1 - Características do Depósito
apresentou que, localmente, o depósito contém Localização: [9° 19’ 25”S; 43° 24’ 12”W]. O
intervalo de cinco metros de minério com teor complexo está situado no Noroeste do estado da
de 14,3% de TR2O3. A bastnaesita representou Bahia na fronteira com o estado do Piauí (Figura
22,5% do minério ou 74,9% de TR2O3 (CeO2 5.37).
=32,8%; La2O3 = 22,1%; Nd = 11,5%; Pr6O11 =
Aspectos gerais: A litologia principal deste
4,4%).
complexo são carbonatitos calcíticos, que
ocorrem associados com olivina-apatita, biotita-
5.2 - OUTROS CORPOS ALCALINOS PO- apatita e magnetita-olivina, seguido de álcali-
TENCIAIS feldspato sienito, álcali diorito e albitito (SILVA et
Os complexos apresentados neste item são al., 1997). As rochas encaixantes são as rochas
aqueles que possuem mineralizações de ETR e do embasamento gnaisse migmatitíco da Faixa
tem potencial reconhecido. No entanto, não há Riacho do Pontal. Na parte noroeste ocorrem
cálculos de recursos e/ou reservas estimadas platôs sustentados por arenitos e conglomerados
para ETR. siluro-devonianos da Formação Serra Grande,
113
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Bacia do Parnaíba (SILVA et al., 1997). As rochas corpo carbonatítico (SOUZA, inédito).
deste complexo estão deformadas, gerando Minerais de Minério: Apatita. Minerais de ETR:
sistema de dobramentos, eixo na direção NE-SW, Monazita e Xenotima.
seguido de dobramento com eixo na direção NW Tipo de jazimento: Eluvial (manto de
– SE (SILVA et al., 1997). intemperismo) (SILVA et al., 1997).
Mineralização Principal: Fosfato, apresenta Recurso estimado: O depósito de fosfato residual
teores anômalos para Zr, Sr, Ba e ETR em tem reserva medida de 15 Mt @ 15,4% de P2O5
amostras de solo e sedimento de corrente (SILVA (SILVA ET AL., 1997). Não tem reserva medida
et al., 1997). Os concentrados de bateia da para ETR.
Folha Peixe mostram anomalias de monazita e
xenotima, em menor expressão, relacionada ao
Figura 5.37 - Mapa de localização do Complexo Angico dos Dias (Fonte da imagem esquerda: Esri, DigitalGlobe,
GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo,
and the GIS User Community).
114
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
estirado, feldspato alcalino, com ilmenita, zircão manto de decomposição. O manto supergênico
e apatita como minerais acessórios (SILVA et al., residual de crosta fosfática recobrem os corpos
1997). carbonatíticos e está mineralizado para fósforo
As principais rochas do complexo são os e ETR, principalmente cério (LAPIN; IWANUCH;
carbonatitos calcíticos e suas associações e as PLOSHKO, 1999). A apatita é encontrada tanto
rochas feldspáticas (álcali-feldspato sienito, na crosta fosfática quanto no carbonatito
álcali diorito e albitito) (Figura 5.38), onde são primário, onde seu teor varia de 16,5% a 32,5%
observadas interações nos contatos entres essas P2O5. Os processos supergênicos geraram perfis
litologias (SILVA et al., 1997). Essas rochas são de alterações diferentes sobre o carbonatito
cortadas por corpos alongados de rochas básicas formando variações bruscas no contato com
de granulação fina e de piroxenitos distribuídos outras rochas. A mineralização fosfática residual
de forma esparsa (SILVA et al., 1997; LAPIN; (apatitito) tem espessura média de 10 metros.
IWANUCH; PLOSHKO, 1999).
As zonas fenitizadas típicas dos
complexos carbonatíticos não são
encontradas, apenas auréolas com
fácies diferenciadas pelo grau de
interação carbonatito e rochas
feldspáticas (LAPIN; IWANUCH;
PLOSHKO, 1999). A fácies mais
proximal ao carbonatito é formada
por rocha de carbonato e albita. A
fácies intermediária é composta
por albitito, com diversos minerais
associados, entre os quais os
fosfatos e carbonatos de ETR. A
fácies mais distal é representada
pelos quartzo-sienitos com
texturas cataclásticas. No entanto,
Lapin, Iwanuch e Ploshko (1999)
interpretam esta zonação
como fenitos reomórficos e Figura 5.38 - Mapa geológico do Complexo Angico dos Dias
metassomáticos, produzidos pela (modif. de SILVA et al., 1997).
intrusão carbonatítitca de alta
temperatura rica em sódio e voláteis no milonito Os carbonatitos formam dois corpos principais
gnaisses leucocráticos. de forma tabular e subvertical com direção
A rocha fresca de carbonatitos é identificada geral N20E-S20W deformados no Brasiliano
em apenas dois afloramentos superficiais, (Neoproterozoico a Eopaleozoico) pela faixa
sendo identificados em trincheiras, poços e/ Riacho do Pontal (SILVA et al., 1997; LAPIN;
ou testemunhos de sondagens abaixo do IWANUCH; PLOSHKO, 1999). Segundo estes
115
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
autores os carbonatitos foram submetidos a pelo por uma espessa crosta laterítica. Estudos
menos duas fases de deformação, o primeiro realizados neste complexo identificaram
dobramento com eixo na direção NE-SW e o potencial econômico para Fe, Ti, P e ETR. No
segundo, na direção NW – SE. Estes processos entanto, a sua viabilidade econômica está
tectônicos geraram a recristalização parcial ou intrinsicamente relacionada à questão de
total dos minerais, bem como deformação e logística e infraestrutura.
estiramento dos minerais do complexo (SILVA et No início da década de 1970, as primeiras
al., 1997). sondagens rasas foram realizadas pela Companhia
A apatita é preservada por ser mais resistente Meridional de Mineração, com quatro furos
que o carbonato durante o intemperismo de sondagens na porção norte do complexo
(SILVA et al., 1997). A badeleita (óxido de (COSTA et al., 1991). A investigação geológica
zircônio) é encontrada na interface carbonato foi sucedida pelo Projeto RADAMBRASIL
/ apatita, e em poucas lâminas delgadas é (ARAÚJO et al., 1976), com coletas de amostras
observada englobando os carbonatos. A barita lateríticas da porção norte do corpo. Estes
é de ocorrência eventual e ocorre preenchendo autores reconheceram a natureza alcalina com
microfraturas. A monazita ocorre em bordas e carbonatito associado, recoberto por espessa
fraturas da apatita e como cristais dispersos nos camada de lateritos. O potencial deste complexo
carbonatos, cujos aspectos texturais sugerem é para fosfatos apatíticos (fosfatos aluminosos)
a neoformação da monazita por blastese sin e e titânio (anatásio e ilmenita) identificados
pós-tectônica. nos lateritos ferruginosos (COSTA et al., 1991;
A mineralização de ETR deve ser mais LEMOS; COSTA, 1987).
bem estudada, visto que foi identificada nos O depósito apresenta teores de mais de 20%
concentrados de bateia coletados ao redor de TR2O3 em alguns pontos amostrados, cuja
deste complexo (SOUZA, inédito e Maisa Abram mineralização está associada com a florencita,
comunicação verbal). A monazita, também mineral do grupo da crandalita, e demonstra
identificada por Silva et al (1997), ocorre nas forte correlação com os fosfatos (LEMOS, 1990).
bordas e fraturas da apatita como diminutos
cristais dispersos na rocha carbonatítica (teores 5.2.2.1 - Características do Depósito
de 0,25% ETR), e nas apatitas, onde têm teores
Localização: [0° 30’N; 54° 14’W]. O complexo
de até 0,8% TR2O3.
está situado na região Norte do estado do Pará
(Figura 5.39), próximo da divisa com o estado
5.2.2 - Maicuru (PA) do Amapá, município de Monte Alegre, 40 km a
O Complexo de Maicuru é um complexo leste do rio Maicuru.
alcalino – ultramáfico – carbonatítico recoberto
116
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.39 - Mapa de localização do Complexo Maicuru Dias (Fonte da imagem esquerda: Esri, DigitalGlobe,
GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo,
and the GIS User Community).
117
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.40 - Mapa geológico simplificado com a distribuição dos Complexos alcalinos carbonatíticos do norte
do Pará (VASQUEZ, 2012).
118
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
acessórios. No contato com os piroxenitos são O estudo dos furos de sondagens realizados
encontradas zonas de glimerito com vários em um projeto da DOCEGEO permitiu observar
centímetros de espessura, compostos de que os processos supergênicos geraram perfis
flogopita, calcita, dolomita, apatita e opacos de alterações diferentes. O perfil laterítico
(COSTA et al., 1991). também apresenta variações nos seus diferentes
As unidades litológicas identificadas na horizontes, que contém concentrações
superfície da estrutura podem ser separadas diferentes dos minerais de minério (LEMOS,
conforme apresentado na Figura 5.41 (COSTA et 1990; LEMOS; COSTA, 1987):
al., 1991), onde se percebe que as mineralizações • Crosta – Texturas oolítica-pisolítica, vesicular e
predominam em porções diferentes na brechóide. Abundância de maghemita, goethita,
superfície do corpo. A superfície do corpo anatásio e fosfatos de Al.
do complexo apresenta perfis lateríticos com • Horizonte Argilo-Fosfático – raras estruturas
variações litológicas diferenciadas segundo o primárias. Relictos de titanita. Predomínio de
protólito do qual foi gerado, cujos perfis e seus caolinita, goethita e anatásio.
processos evolutivos podem ser encontrados em • Horizonte Transição – Fragmentos de rochas
Lemos (1990). A variação textural e mineralógica com estruturas originais e minerais primários
mostram que os teores de P e Ti no perfil (apatita, titanita, perovskita e ilmenomagnetita)
apresentam correlação negativa (COSTA et al., preservados, dispersos em matriz esmectítica-
1991). clorítica.
• Substrato – Piroxenito, glimerito, sienito, dunito
e biotitito cortado por veios de carbonatito e
apatitito.
As rochas mineralizadas em apatita são,
principalmente, piroxenitos, apatititos e
carbonatitos (COSTA et al., 1991). Os altos teores
de P2O5 estão distribuídos de forma irregular
no perfil laterítico e nas rochas primárias, cuja
heterogeneidade nas rochas primárias é refletida
na superfície laterítica (COSTA et al., 1991).
O mineral de titânio principal, no perfil
laterítico é o anatásio com ilmenita subordinada,
enquanto que na rocha primária a mineralogia de
titânio inclui perovskita, titanita, titnaomagnetita
e ilmenita (COSTA et al., 1991). Os teores dos oxi-
hidróxidos de ferro e titânio são normalmente
maiores dos que os dos fosfatos, enquanto
os principais minerais são hematita, goethita,
Figura 5.41 - Mapa com a distribuição dos domínios
maghemita, ilmenita e anatásio. Gibbsita e
dos diferentes tipos de mineralição na superfície
intemperizada do complexo (modif. de COSTA et al, bohemita são produtos secundários (LEMOS;
1991). COSTA, 1987). O teor de TiO2 nos lateritos é
119
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
alto, sendo maiores do que 18% na parte sul do desenvolvendo testes de caracterização dos
complexo (Figura 5.41). minérios juntamente com o CETEM (Centro
O principal mineral de ETR é do grupo da de Tecnologia Mineral) para definição de
crandalita e é denominado de florencita quando rotas tecnológicas para a recuperação dos ETR
os teores de TR2O3 são maiores que 10% em (BEMISA, 2014).
peso. Neste complexo ocorrem teores de até
20% TR2O3 (LEMOS; COSTA, 1987; COSTA et al.,
5.2.3.1 - Características do Depósito
1991). A formação deste grupo funcionaria como
Localização: [18° 30’N; 46° 30’W, ponto central]
extrator de ETR e outros elementos relacionados
O Grupo Mata da Corda forma um planalto
aos fosfatos (ANGÉLICA; COSTA, 1993). Neste
homônimo que ocupa uma área de 2.200 km2
depósito há o predomínio dos ETRL sobre os
que se estende ao longo do flanco ocidental da
pesados que apresentam razão média de ETRL/
zona de arqueamento do Alto Paranaíba (Figura
ETRP de 16,2, cuja razão aumenta à medida que
5.42).
há o domínio do membro florencita (LEMOS;
COSTA, 1987). Aspectos gerais: O Grupo Mata da Corda é
caracterizado por derrames, plugs subvulcânicos
O cobre ocorre localmente, na forma de
e depósitos piroclásticos e epiclásticos de
turquesa e crisocola (COSTA et al., 1991). O
afinidade kamafugítica. As litologias que
Nb ocorre substituindo o Ti na estrutura do
compreendem este Grupo formam um conjunto
anatásio, com maiores teores em materiais
diversificado de rochas vulcanoclásticas (lavas,
intemperizados dos piroxenitos e solos de
tufos, aglomerados) e epiclásticas, sendo
concreções ferruginosas.
predominantes os depósitos explosivos do
vulcanismo (DANNI; SCARTEZINI, 1990)
5.2.3 - Mata da Corda (MG)
Mineralização Principal: fosfato, ferro, titânio
O Grupo Mata da Corda é formado por
com ETR subordinado e diamante (ROLIM, 2014).
rochas vulcânicas e vulcanoclásticas, todos de
afinidade kamafugítica que foram divididas em Minerais de Minério: fluorapatita e seus produtos
duas Formações: Patos e Capacete (CAMPOS; secundários para o fosfato; Ti-magnetita com
DARDENNE, 1997). produção de ferro fundido ou gusa e escória
titanífera; titanomagnetita e anatásio e; terras
A região do Planalto Mata da Corda consiste
raras como subproduto da lixiviação de minério
de uma área de grande extensão territorial
de titânio (ROLIM, 2014).
(~2.200 km2) que apresenta potencial para
fosfato, titânio e subprodutos como ferro-titânio Recurso estimado: Potencial para fosfato e Ti, o
e ETR (ROLIM, 2014). Entretanto, a viabilidade ETR seria subproduto do processamento de Ti.
econômica depende do desenvolvimento de Idade da mineralização: 68 – 81 Ma (U-Pb em
rotas de processos tecnológicos para extração perovskita; Sgarbi, Gaspar e Valença, 2000).
destes elementos (ROLIM, 2014). A região conta Situação atual: Há três empresas trabalhando na
com algumas empresas de mineração (Bemisa, região do Planalto de Mata da Corda, quais são:
TerrAtiva Mineração e Vicenza Mineração) Vicenza Mineração, Brasil Exploração Mineral
realizando pesquisa mineral. A Bemisa está S.A. (Bemisa) e TerrAtiva Mineração.
120
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.42 - Mapa de localização da região de Mata da Corda (Imagem do GoogleEarth, preparada por
Helena Zanetti Eyben).
Figura 5.43 - Mapa geológico simplificadoda região aflorante do Grupo Mata da Corda e adjacências (modif.
de MELO, 2012).
121
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A Formação Patos, base deste Grupo, é Neste Grupo a perovskita é abundante (SGARBI;
formada por rochas vulcânicas e subvulcânicas GASPAR; VALENÇA, 2000). Na base da sequência
de afinidade kamafugítica (mafuritos e vulcanoclástica a matriz é composta de
uganditos) e rochas vulcanoclásticas associadas fluorapatita, gorceixita, wavellita, argilominerais
(MELO, 2012). Os mafuritos e uganditos são e zeólitas, onde se concentram os maiores teores
rochas básicas e ultrabásicas, sem feldspatos de fosfato neste Grupo (MELO, 2012).
com abundantes clinopiroxênios e Ti-magnetita.
A B
Figura 5.44 - (A) Mapa de anomalia do sinal analítico e (B) Mapa do levantamento aerogamaespectrométrico
da região aflorante do Grupo Mata da Corda (ROLIM, 2014).
122
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.45 - Distribuição dos elementos no perfil estratigráfico do furo de sondagem PMC-FD-0020 da Vicenza
Mineração (modif. de ROLIM, 2014).
Figura 5.46 - Mapa de localização do depósito Serra do Repartimento, áreas com os direitos minerários
pertencentes à CPRM (linha amarela) e aTerra Indígena Yanomami demarcada em linha azul. (Fonte imagem
esquerda: Esri, DigitalGlobe, GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping,
Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo, and the GIS User Community).
124
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
FREITAS, 1994). Neste período ocorreu a Anortosito Repartimento. A idade dessas rochas
intrusão indistinta de corpos alcalinos, traquitos é de 1.527 ± 7 Ma em badeleitas pelo método
e sienitos, nas rochas mais antigas (FRAGA, U-Pb por SHRIMP (SANTOS et al. 1999). Próximos
2002). a estes corpos de anortositos afloram corpos
Os corpos de anortosito intrusivos em rochas gabróicos de pequena extensão, denominados
do embasamento foram definidos por BORGES; como Gabro Caracaraí por Montalvão et al.
SOUZA (1990) e BRANDÃO; FREITAS (1994) como (1975).
Figura 5.47 - Mapa geológico da região, com destaque em branco da área do Projeto Serra do Repartimento
(modif. de FRAGA, 2002).
O Complexo Alcalino Serra do Repartimento As litologias principais das rochas alcalinas são
(BORGES, 1990), Suíte Alcalina Apiaú (BRANDÃO; sienitos e traquitos (com ou sem feldspatóides)
FREITAS, 1994) ou Suíte Sienítica Apiaú e monzonitos. São também identificados diques
(BORGES; SOUZA, 1990) e Complexo Vulcânico de traquitos com ou sem feldspatóides, fonolito
Apiaú (COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS e nefelinito, de ampla ocorrência na região
MINERAIS, 1999) são denominações utilizadas (BORGES; SOUZA, 1990; BRANDÃO; FREITAS,
para as rochas alcalinas. Estas rochas alcalinas 1994). Estes corpos alcalinos apresentam
foram caracterizadas como os nefelina sienitos e anomalias radiométricas identificadas nos
litchfelditos formando diversos stocks de rochas levantamentos aeroradiométricos da região
sieníticas e monzoníticas e, também, traquitos (BORGES; SOUZA, 1990). Como pode ser visto na
e fonolitos (BORGES, 1990; BRANDÃO; FREITAS, Figura 5.48 que apresenta forte anomalia de Th
1994). no corpo alcalino da Folha Vila Nova (1:100.000).
125
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Na área do Projeto Serra do Repartimento, nefelina foidito (BORGES; SOUZA, 1990). Além
o corpo alcalino principal forma elevação de disto, os processos de alteração observados
dois patamares, a qual é cercada por cristas são feldspatização, localmente silicificação e/ou
de rochas de composição sílico-feldspática e oxidação das rochas encaixantes, o que indica
lateritos no topo (BORGES; SOUZA, 1990). O atuação do processo de fenitização (BORGES;
corpo alcalino principal ocorre em associação SOUZA, 1990). A associação do processo de
com corpos menores e diques alcalinos, fenitização com as rochas alcalinas fez com que
identificados por meio de geoquímica de solo os autores sugerissem se tratar de um complexo
e radiometria terrestre. As rochas próximas à alcalino com possibilidade de ser encontrado
borda do corpo principal apresentam textura carbonatito do tipo miascítico (BORGES; SOUZA,
muito fina, classificadas como fonotefrito e 1990).
Figura 5.48 - Mapa geológico simplificada Folha Vila Nova (1:100.000) com anomalia de tório superposto, em
vermelho as áreas pesquisadas pela CPRM.
Nos topos das maiores elevações são em drusas, feldspato caulinitizado, manganês e
encontrados os lateritos. A crosta laterítica possui sílica (BORGES; SOUZA, 1990).
em média três metros e meio, chegando a até A mineralogia identificada por difração de
nove metros de profundidade. Em alguns locais, raios X (DRX) em algumas amostras de solo
esta crosta laterítica pode estar fragmentada, foi: grupo da caulinita, goyazita, gorceixita,
presente em diferentes profundidades. Neste ilmenita, magnetita, rutilo, monazita, quartzo,
perfil laterítico, ocorre também, camadas de gibbsita, brookita, zircão, goethita, hematita,
argila vermelha e de aspecto mosqueado, bem lepidocrosita, barita, anatásio, ilita, entre outros
como níveis de aglomerado de barita, às vezes (BORGES; SOUZA, 1990). Dos quais, os prováveis
126
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
portadores de ETR, são monazita e xenotima e, onde predominam bebedouritos com diques
em menor expressão, a gorceixita. A gorceixita é anelares de carbonatitos e subordinadamente
um fosfato de alumínio de Ba, mineral secundário foscoritos. O Complexo Salitre I é composto por
gerado a partir de apatitas e pode conter altos três sistemas intrusivos principais, porção norte
teores de ETR (DUTRA; FORMOSO, 1995). onde ocorrem perovskita bebedouritos que
A monazita encontrada em concentrados de formam pilha de cumulados. Na porção sul, a
bateia tem ampla distribuição e localmente, intrusão é composta de melanita bebedouritos.
chega a ser encontrada entre 5 a 50%. Enquanto Na porção central, o complexo é cortado por
que a xenotima é de ocorrência restrita com sistema tardio de diques anelares radiais de
concentração máxima de 5% em alguns locais. foscorito e carbonatito. O complexo de Salitre
Os resultados de análises químicas das amostras II é composto de rochas da série bebedourítica
dos perfis lateríticos em alguns locais atingem (dunitos, perovskitos, clinopiroxenitos) cortadas
valores de até 24% do somatório de ETR (∑ETR). localmente por diques e veios de carbonatitos.
Em lâminas delgadas observou-se também Por sua vez, o Complexo de Salitre III tem a
presença de apatita e alanita (~1%), sendo composição principal de piroxenitos, associados
este último encontrado principalmente nas com rochas da série foscoríticas que se localizam
amostras coletadas sobre o corpo alcalino. A na porção sul do corpo.
apatita apresenta ampla ocorrência tanto nas
rochas alcalinas, quanto nas encaixantes e com 5.2.5.1 - Características do Depósito
potencial de ser fonte de ETR, conforme exemplo Localização: [19° 00’ S; 46° 47’ W] (Figura 5.49).
das apatitas de Angico dos Dias, Catalão e Araxá Estes complexos estão localizados na região de
(DUTRA; FORMOSO, 1995). Todos os minerais Patrocínio (MG). Salitre I tem forma oval de 35
citados são portadores de ETR, no entanto, km2, com 7 km N-S e 5 km E-W; Salitre II é um
o mineral de maior potencial desta área é a corpo arredondado com 2,5 7 km2 e; Salitre III
monazita, apesar de não ter sido determinado o tem diâmetro de 2 km. Os três complexos não
potencial econômico para este depósito. apresentam altos topográficos.
O fosfato ocorre como depósito residual Aspectos gerais: Os complexos tem como
associado a ETR e apresenta ampla distribuição litologia principal o carbonatito calcítico, com
espacial. No perfil laterítico há uma maior peridotito, piroxenito, álcali-sienito, glimerito e
concentração entre 7m e 10 m de profundidade, outras rochas alcalinas.
conforme resultados dos poços de pesquisas As rochas encaixantes são quartzitos do
(BORGES; SOUZA, 1990). A barita, por sua vez, Grupo Bambuí de idade neoproterozoica.
também tem ampla distribuição, tanto em As estruturas regionais são fraturamentos
superfície quanto em subsuperfície, e ocorre paralelos e profundos com direção geral NW-SE,
como veios na forma de stockworks. associados ao Arco Alto Paranaíba, enquanto,
as locais, fraturas radiais e concêntricas,
5.2.5 - SALITRE I, II E III (MG) falhas radiais, estruturas dômica e zonas de
Os complexos de Salitre I, II e III intrudidos cisalhamento. O solo laterítico tem espessura
por rochas metassedimentares do Grupo variável e localmente atinge 100 m.
Bambuí, são compostos por intrusões múltiplas
127
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.49 - Mapa de localização Complexo Serra Negra e Salitre (Fonte da Imagem da esquerda: Esri,
DigitalGlobe, GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN,
IGP, swisstopo, and the GIS User Community).
Idade da mineralização Salitre I: idade K/Ar 86,3 É composto por três sistemas de intrusões
± 5,7 Ma (flogopita do bebedourito) (SONOKI; denominadas Salitre I, Salitre II e Salitre III
GARDA, 1988). (último a ser descoberto) (BARBOSA, 2009).
Idade da mineralização Salitre II: idade K/Ar 79 São caracterizados por intrusões múltiplas com
Ma (SONOKI; GARDA, 1988). predomínio de bebedouritos, associados com
Mineralização Principal: Titânio, fosfato, nióbio, diques anelares de carbonatitos, foscoritos
águas minerais e vermiculita (MELO et al., 1997). ocorrendo de forma subordinada (Figura 5.50).
Minerais de Minério: Anatásio, hidroxiapatita, As rochas deste complexo intrudem rochas
vermiculita (COMPANHIA BRASILEIRA DE metassedimentares do Grupo Bambuí, sem
METALURGIA E MINERAÇÃO, 1984). evidências de ter atingido a superfície à época
da intrusão (MELO et al., 1997). As anomalias
Tipo de jazimento: enriquecimento residual.
geofísicas definem bem o Complexo Alcalino
Recurso estimado: 852 Mt @ 10,7% P2O5; 694,3
de Salitre que juntamente com o Complexo
Mt @ 17,5 % TiO2 e 166 Mt @ 0,73% de Nb2O5
Serra Negra, formam uma grande anomalia,
(MELO et al., 1997).
conforme pode ser visto pela anomalia Bouguer
Situação atual: Projeto de produção de fosfato apresentada na Figura 5.51.
no Complexo de Salitre I, cuja estimativa da VALE
O Complexo Salitre I é composto por três
é de produzir 2,0 Mtpa com reserva estimada
sistemas intrusivos principais: (i) porção norte
para mais de 100 anos (FOSFERTIL, 2008).
composta por perovskita bebedouritos que
formam pilha de cumulados; (ii) porção sul, onde
5.2.5.2 - Aspectos Geológicos
a intrusão é composta de melanita bebedouritos
O complexo alcalino carbonatítico de Salitre e ; (iii) porção central que é cortada por um
faz parte da Província Ígnea do Alto Paranaíba. sistema tardio de diques anelares radiais de
128
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
foscorito e carbonatito (BARBOSA, 2009). Além formam cinturões concêntricos, indicando ser
dos bebedouritos típicos, as rochas ultramáficas enxame de diques anelares interconectados
apresentam variações modais significativas, intimamente associados com enxame de diques
com fácies ricas em olivina perovskita e apatita de carbonatito (BARBOSA, 2009).
(BROD et al., 2004). Os foscoritos deste complexo
Figura 5.50 - Mapa geológico do Complexo de Salitre I, baseado nas zonas de predominâinca dos principais
tipos litológicos em testemunhos de sondagem do Complexo de Salitre (BARBOSA, 2009).
As rochas da série carbonatítica são Complexo de Salitre III (Figura 5.52), último corpo
predominantemente as calcíticas, com tipo a ser descoberto, tem a composição principal de
dolomítico subordinado, no qual são encontrados piroxenitos/bebedouritos e menor quantidade
bolsões irregulares de apatita. Os flogopititos de titanita, a qual está associada com rochas
são produtos do metassomatismo carbonatítico da série foscorítica localizadas na porção sul do
sobre as rochas ultramáficas (BROD et al., 2004). corpo (BARBOSA, 2009).
Estas zonas metassomáticas podem variar de Estes complexos são conhecidos como
poucos milímetros a muitos metros (BARBOSA, depósitos de fosfato e titânio, enquanto o
2009). ETR é considerado apenas ocorrência. O
O complexo de Salitre II é composto de rochas enriquecimento gerado pela decomposição e
da série bebedourítica (dunitos, perovskitos, transformação por processos de lixiviação e
clinopiroxenitos), cortados localmente por solubilização dos componentes está relacionado
diques e veios de carbonatitos. Por sua vez, o aos processos intempéricos (MELO et al., 1997).
129
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.51 - Anomalia Bouguer dos Complexos Alcalinos de Serra Negra e Salitre I e II, em detalhe o carbonatito
do Complexo Serra Negra (RUGENSKI, 2005).
130
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
131
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Idade da mineralização: 83,7 – 83,4 Ma em K – de fosfato a partir de 2003, onde foi revelada
Ar biotita de peridotito (AMARAL et al., 1967). a presença de intrusão carbonatítica com
Situação atual: Recurso de Ti e P com potencial foscoritos subordinados na depressão central de
econômico e com ETR como subprodutos. Serra Negra, após interpretações dos dados das
sondagens (GRASSO, 2010).
5.2.6.2 - Aspectos Geológicos
O complexo alcalino carbonatítico de Serra
O complexo forma um chapadão com crosta Negra é o maior da PIAP e ocorre intrudindo
laterítica de 10 km por 20 km de diâmetro e rochas metassedimentares do Grupo Canastra,
foi interpretado por Horace E. Williams como que geram estruturas dômicas formadas por
chaminé vulcânica que intrudiu e deformou múltiplos anéis concêntricos (Figura 5.53)
as rochas do Supergrupo Minas (LEONARDOS, (GRASSO, 2010). O complexo é coberto por
1956). Posteriormente, foi descrito por Andrade espessa camada laterítica que localmente
Jr e Djalma G, em 1825, como jacupiranguito pode atingir 200 m de espessura, sendo raros
constituído de augita, biotita (produto de afloramentos frescos, conforme pode ser visto
alteração do piroxênio), magnetita, perovskita pelos logs dos furos de sondagens (Figura 5.54)
e apatita (LEONARDOS, 1956). A Fosfertil iniciou (GRASSO, 2010).
trabalhos de pesquisa mineral para estudo
Figura 5.53 - Mapa geológico do Complexo de Serra Negra (BROD et al., 2004). Os pontos 15-17 são os furos
de sondagens
132
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
133
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.55 - Mapa de localização do Complexo Lages (Fonte do mapa da esquerda: Esri, DigitalGlobe, GeoEye,
Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo, and
the GIS User Community).
134
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
ilitios) dos Grupos Tubarão e Passa Dois da O Complexo Alcalino de Lages é formado
sequência gondwânica. As estruturas regionais por várias intrusões rasas, brechas de chaminé
são fraturamentos regionais com direção geral e diques concêntricos dispersos dentro de uma
NW-SE, associados ao Arco Lagoa Vermelha e, estrutura de domo encaixada em sedimentos
as locais, estruturas dômicas e fraturas radiais e Permianos e Triássicos (SCHEIBE, 1986; COMIN-
concêntricas. Manto de intemperismo tem solo CHIARAMONTI et al., 2002). O complexo associa-
residual com espessura média inferior a 1 metro, se ao soerguimento de um grande bloco crustal
localmente ultrapassa a 12 metros. limitado, a norte pelo alinhamento de Corupá
Mineralização: Alumínio (COMPANHIA e, ao sul, pelo Rio Engano (SCHEIBE, 1986). A
BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO, pequena profundidade das rochas aflorantes
1984). é indicada pela textura e estrutura observadas
(SCHEIBE, 1986). O termo Distrito Alcalino de
Minerais de Minério: Bauxita (COMPANHIA
Lages (Figura 5.56) foi proposto por SCHEIBE
BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO,
(1986) diante da diversidade de rochas alcalinas
1984).
encontradas na região de Lages, carbonatito
Tipo de jazimento: Eluvial (manto de Fazenda Varela, kimberlito Janjão e diversas
intemperismo) e em rocha fresca (COMPANHIA brechas de chaminés.
BRASILEIRA DE METALURGIA E
MINERAÇÃO, 1984).
Recurso estimado: Não foi estimado
recurso para ETR. Alumínio 0,05 Mt@
56,81% Al2O3 (COMPANHIA BRASILEIRA
DE METALURGIA E MINERAÇÃO, 1984).
Idade da mineralização: 76 Ma (TRAVERSA
et al., 1996).
Situação atual: Produtora de fonolito
para indústria de vidraria, metalúrgica
e cerâmica com reserva medida de 27
Mt @ 20%. A vida útil da jazida prevista
é de 379 anos com produção mensal
de 2,5 Kt/mês. A lavra a céu aberto é
feita em 2 bancadas de 3,0 metros cada
(CRIPPA, 2003 em http://pt.scribd.com/
Figura 5.56 - Mapa geológico simplificado do Complexo
doc/34723338/Relatorio-de-Pesquisa- Alcalino de Lages (modif. de ROLDAN, 2007).
de-Fonolito, acesso 26 Mai2014).
A reativação das estruturas secundárias
Produção: Produção de fonolito para indústria
NW presentes no embasamento do escudo
cerâmica e metalúrgica. Há ocorrência de
catarinense indicam ser a responsável pela
bauxita sobre este Complexo (DARDENNE;
estruturação do Domo de Lages, conforme
SCHOBBENHAUS, 2001).
estudo de lineamento estruturais com uso de
5.2.7.2 - Aspectos Geológicos imagens de satélite realizado por Roldan et al
135
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
136
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.57 - Mapa de localização do Complexo Mato Preto (Fonte da imagem da esquerda: Esri, DigitalGlobe,
GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo,
and the GIS User Community).
Tipo de jazimento: Rocha fresca. Carmo Ltda explora mina a céu aberto em Cerro
Recurso estimado: Não foi estimado recurso Azul, (PR), por bancada em cava, os teores de
para ETR. A reserva lavrável de fluorita é de 2,58 CaF2 variam de 44,9% a 27,6%. Esta mina produz
Kt de CaF2 contido (DEPARTAMENTO NACIONAL 47% da produção nacional de fluorita ROM
DE PRODUÇÃO MINERAL, 2014d). (DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO
Idade da mineralização: 70,2 e 71,7 Ma (datação MINERAL, 2014d). O depósito de fluorita de
K-Ar de diques fonolito) (CORDANI E HASSUI, Mato Preto II é a maior do Brasil, com reserva
1968; SONOKI; GARDA, 1984). medida na ordem de 3,15 Mt de minério com
60% de CaF2.
Situação atual: A Mineração Nossa Senhora do
137
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.58 - Esboço geológico do Complexo Alcalino Carbonatítico de Mato Preto (PR) (Modif. RUBERTI,
1998).
Os carbonatitos são encontrados em duas RUBERTI, 1998). O tipo calcítico é dominante e
áreas distintitas, divididas em: (i) Mato Preto geneticamente mais antigo, com mais de 95%
I, representada principalmente por brechas de calcita e de forma subordinada, pirocloro,
carbonatíticas com abundantes clastos de apatita e minerais tardi-magmáticos em veios
k-feldspatos e veios carbonatíticos e; (ii) (RUBERTI, 1998). O tipo ferrocarbonatítico é
Mato Preto II, área onde se encontra o corpo tardio e de menor expressão, restrito à matriz
carbonatítico principal (RUBERTI, 1998; COMIN- de brechas e vênulas que cortam os diques e
CHIARAMONTI et al, 2002). Os carbonatitos veios de calciocarbonatitos e fenitos (RUBERTI,
apresentam duas gerações principais: (i) tipo 1998). Estas gerações de carbonatitos são
calcítico, relacionado a matriz de brechas normalmente encontradas no depósito Clugger,
carbonatíticas e; (ii) tipo dolomita a ankerita, o mais importante, localizado no quadrante NE,
comumente associado com clastos de feldspatos onde os processos de intemperismo atingiram
(SANTOS; DARDENNE; OLIVEIRA, 1996; profundidades de até 70 m (SANTOS; DARDENNE;
138
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
139
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Anitápolis é um stock, que forma depressão locais, fraturas radiais e concêntricas e complexo
circular de 6 km2, do Cretáceo Inferior (~132 sistema de falhas. O manto de intemperismo é
Ma), intrudido em rochas granito gnáissicas carcterizado por um solo residual com espessura
proterozóicas de idade Brasiliana (570 Ma – 630 média de 30 metros, localmente atingindo 50
Ma) (COMIN-CHIARAMONTI et al., 2002). metros.
Mineralização: Fosfato.
5.2.9.1 - Características do Depósito Minerais de Minério: Apatita.
Localização: [27° 49’S; 49° 06’W]. Situa-se a SW Tipo de jazimento: Eluvial (manto de
da capital Florianópolis (Figura 5.59). intemperismo) e em rocha fresca.
Aspectos gerais: As litologias principais do Recurso estimado: Não foi estimado recurso
complexo são carbonatito calcítico (VERGARA, para ETR. Fosfato residual 53,5 Mt@ 8,20% P2O5
1997), seguido de piroxenito, urtito, ijolito, com teor de corte de 5,0%; Fosfato de rocha
melteijito, shonkinito, glimerito, nefelina sienito 206,5 Mt@ 5,9% P2O5 com o teor de corte 4,0%
e tinguaíto. As rochas encaixantes são granitos (COMPANHIA BRASILEIRA DE METALURGIA E
do Pré-cambriano. As estruturas regionais são MINERAÇÃO, 1984).
fraturamentos regionais com direção geral NW- Idade da mineralização: 131 Ma – 132 Ma (K –
SE, associados ao Arco Lagoa Vermelha (?) e, as Ar, SONOKI; GARDA, 1988).
Figura 5.59 - Mapa de localização do Complexo Anitápolis (Fonte da imagem da esquerda: Esri, DigitalGlobe,
GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo,
and the GIS User Community).
Situação atual: Produziu fosfato na década 1980 de fosfato, mas com pendências em questões
a 1990 a partir de apatita. Não houve produção ambientais (SOUZA; FONSECA, 2009).
de ETR, foi uma mina de fosfato até a década Produção: Não houve produção de fosfato.
de 1990. A reserva de fosfato era de 189 Mt @
6,72% P2O5 (KAUL, 1977). Em 2009, a empresa 5.2.9.2 - Aspectos Geológicos
Bunge anunciou novo projeto de produção O complexo alcalino representa um stock
140
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
intrusivo, que forma uma depressão vulcânica (KAUL, 1977). As rochas básicas e ultrabásicas
com 6 km2 (Figura 5.60), composta de flogopita alcalinas apresentam faixas de carbonatitos,
piroxenitos e apatita biotita piroxenitos formando corpos lenticulares com presença
circundados por nefelina sienitos e ijolitos, em de magnetita compacta, associada a biotita,
menor proporção (COMIN-CHIARAMONTI et al., hornblenda, apatita, entre outros minerais (KAUL,
2002). Localmente, são cortados por diques de 1977). A depressão vulcânica é circundada por
nefelinito e melanefelinito. O carbonatito deste rochas do Grupo Taboleiro, formando morros
complexo é formado por um corpo pequeno de encostas abruptas com altitudes em torno de
(10 m2) e diques e veios dispersos abundantes 1200 m.
(COMIN-CHIARAMONTI et al., 2002; GRASSO, Os dados isotópicos de oxigênio e carbono
2010). Pereira e Formoso (1994) definem duas dos carbonatitos deste complexo indicam
gerações de carbonatitos calcíticos e que os composição primária, sem processos de
veios tardios são de nelsonitos e glimeritos. empobrecimento ou enriquecimento posterior
Segundo PEREIRA; FORMOSO; TOLEDO (1997), (COMIN-CHIARAMONTI et al., 2002). Os dados
este complexo é formado por múltiplas injeções petrográficos das rochas alcalinas mostram
alcalinas e carbonatíticas de composições zoneamento concêntrico. No centro, encontram-
variadas, provocando autometassomatismo e se as rochas básicas alcalinas, ultrabásicas
fenitização das rochas encaixantes. alcalinas e carbonatitos e, nas bordas, são
O carbonatito é um Ca-carbonatito e ocorre encontradas as rochas sieníticas (Figura 5.60)
como pequeno corpo no centro da depressão (KAUL, 1977). A ausência de rochas vulcânicas
e também, como diques e veios dispersos e a associação das rochas básica/ultrabásicas/
que apresentam uma notável associação carbonatitos podem ser indicativas de zonas mais
com piroxenitos. A mineralização de fosfato, profundas das chaminés alcalinas, onde o atual
apatita, ocorre na forma de filões, filonetes ou nível de erosão foi interpretado como sendo de
disseminações em todas as unidades litológicas nível médio a profundo por Kaul (1977).
Figura 5.60 - Mapa geológico simplificado da região de Anitápolis (Modif. COMIN-CHIARAMONTI et al., 2002).
141
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
142
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Aspectos gerais: As litologias principais são fenitizados (ALCOVER NETO; TOLEDO, 1993;
carbonatito dolomítico, seguido de piroxenito, MARANGONI; MONTOVANI, 2013). As rochas
peridotito, ijolito, pulaskito, lamprófiro, sienito, fenitizadas consistem de cumulados de olivina
álcali-gabro, nefelina sienito e tinguaíto. As clinopiroxenito na parte norte, que representa
rochas encaixantes são gnaisses com quartzitos 74% do volume e, na sua parte sul, é composta de
e micaxistos subordinados do Grupo Açungui, ijolitos-melteigitos-urtitos e nefelinas sienitos,
neoproterozoico. As estruturas regionais são com essexitos e sienodioritos subordinados,
fissuramentos Guapiara, de direção geral NW- com núcleo de carbonatito magnesífero (1%)
SE e, as locais, fraturas radiais e concêntricas, (BECCALUVA et al, 1992).
lineamentos N15W e N45W. O solo residual Os dados aeromagnéticos indicam forte
possui espessura média de 5 metros, localmente anomalia com polaridade reversa que circunda
atinge 10 metros. uma anomalia menos intensa de polaridade
Mineralização: Fosfato e ferro. normal (MARANGONI; MONTOVANI, 2013). A
anomalia reversa foi interpretada por Rugenski,
Minerais de Minério: Ca-apatita e magnetita.
Montovani e Shukowsky (2006) como sendo
Tipo de jazimento: Eluvial (manto de
devido ao posicionamento do corpo durante o
intemperismo) e em rocha fresca.
episódio de campo magnético reverso ou pela
Idade da mineralização: 133 Ma (SONOKI; baixa susceptibilidade magnética do piroxenito
GARDA, 1988). em relação ao sienito.
Recurso estimado: Não foi estimado recurso
para ETR. Fosfato 0,02 Mt@ 16,0% P2O5;
Ferro 0,01 Mt@ 63,9% Fe2O3 (COMPANHIA
BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO,
1984).
Situação atual: Até 2009, a empresa SOCAL
S.A. operava na produção de rocha fosfática
(SOUZA; FONSECA, 2009).
5.2.10.2 - Aspectos Geológicos
O Complexo Alcalino Carbonatítico
de Juquiá, de idade cretácica (130 – 135
Ma), é uma intrusão circular que cortam
Figura 5.62 - Mapa geológico esquemático e seção do
gnaisses do embasamento Pré-cambriano complexo Juquiá (Modif. de BECCALUVA et al, 1992).
(Figura 5.62) (BECCALUVA et al, 1992). O
complexo é considerado uma das estruturas O carbonatito que aflora numa área de 2
mais antigas ao redor da bacia do Paraná e km2, é formado basicamente por dolomita rica
contemporâneo ao magmatismo toleítico da em Fe e Mn e apatita, com magnetita, barita,
bacia (MARANGONI; MONTOVANI, 2013). É flogopita, pirocloro, monazita e carbonatos de
uma intrusão circular zonada com 14 km2 de Sr, Ba e ETR, como fases acessórias (BECCALUVA
área exposta, encaixada em gnaisses compostos et al, 1992; ALCOVER NETO; TOLEDO, 1993). Na
por migmatitos heterogêneos parcialmente porção interna é de composição ankerítica e
143
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
144
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.64 - Mapa de localização do Complexo Jacupiranga (Fonte da imagem esquerda:Esri, DigitalGlobe,
GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo,
and the GIS User Community).
145
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 5.65 - Mapa geológico simplificado da área do Complexo Alcalino de Jacupiranga (modif. de ALVES,
2008).
O carbonatito foi definido por Melcher em limites não são claros visto que ocorre aumento
1954, após mapeamento de detalhe e descrição de carbonatito dolomítico próximo aos contatos
petrográfica, que propôs que a intrusão teria de borda do corpo que pode estar associado
ocorrido em dois eventos distintos. Gaspar ao processo metassomático de dolomitização
e Wyllie (1983) propõem cinco intrusões de (GASPAR; WYLLIE, 1983). Há áreas cortadas
diferentes idades, na parte sul (C1, C2 e C3) e por diques deste carbonatito que ocorrem
na parte norte (C4 e C5), onde o ordenamento intrudindo os carbonatitos calcíticos.
indica do mais antigo (1) para o mais novo (5). Os
Figura 5.66 - Anomalia Bouguer observada para a alcalina de Jacupiranga (RUGENSKI, 2005).
146
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A apatita é mineral chave na cristalização zirconolita [(Ca, ETR) Zr (Ti, Fe)2 O7]; estroncianita
dos carbonatitos, pois são formados desde as [SrCO3] e monazita-Ce (Ce, La, Nd, Th, Y)PO4.
fases líquidas precoces até os estágios finais de Outra forma de ocorrência de ETR são halos
atividade hidrotermal. A mineralização principal enriquecidos em ETR circundando os cristais de
deste corpo para fosfato é a apatita , que ocorre apatita dentro de dolomitas (CONSTANZO et al,
em veios, porções enriquecidas, disseminadas 2006).
ou agregados maciços (ALVES, 2008). A exploração do fosfato ocorre há várias
Aparentemente forma um corpo de minério décadas, iniciado pela parte alterada no topo
contínuo de importância econômica. As apatitas do corpo carbonatítico deste complexo, com
deste depósito apresentam baixos teores de ETR contínuo desenvolvimento da mina a céu
variando de 0,04% a 0,49%, sendo que as fases aberto (ALVES, 2008). Em comparação com
precoces dos carbonatitos apresentam apatitas outros depósitos de fosfatos em carbonatitos
pouco mais ricas (La2O3 + Ce2O3 = 0,17% a 1,21%) brasileiros, este minério de apatita é o mais
(ALVES, 2008). homogêneo, provavelmente por não ter sido
As fases ricas em ETR ocorrem como pequenas afetado por processos de laterização posterior
porções anédricas dispersas dentro de dolomitas (ALVES, 2008). As apatitas de áreas próximas
e apatitas, circundado cristais primários, dentro às falhas são avermelhadas e produzem menor
de fraturas que cortam inclusões e preenchido recuperação no processo de flotação. Assim
com minerais secundários de ETR (CONSTANZO como àquelas associadas com silicatos das zonas
et al, 2006). Os principais minerais de ETR ricas em xenólitos e aos fluidos hidrotermais
ocorrem como cristais isolados ou agregados, a (podem ser mais duras) que também apresentam
saber: ancilita-(Ce) [Sr (La, Ce)(CO3)2 (OH)* H2O], ; menor rendimento na flotação (ALVES, 2008).
147
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
148
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
149
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.1 - Mapa de localização do depósito de Pitinga (Fonte da imagem esquerda: Esri, DigitalGlobe, GeoEye,
Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo, and
the GIS User Community).
150
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
da fácies albita granito é de 1.822 ± 22 Ma e Ta. Estão sendo realizados estudos de viabilidade
do topázio granito é de 1.816 ± 20 Ma (BASTOS econômica para xenotima (GARCIA, 2012).
NETO et al., 2014). Produção: a mina de Pitinga produz, atualmente,
Situação atual: mina em produção de Sn, Nb e cassiterita, nióbio e tântalo.
151
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
de pequeno a médio porte, com largura de 40 m principal mineral de minério de ETR que tem
a 600 metros e profundidade média de 2 m a 3 como grande atrativo seu alto teor de ETRP
metros são distribuídos numa área de 700 km2. (Y, Dy e Tb), que é de aproximadamente 98 %
Os depósitos do Complexo Madeira mostraram (Figura 6.2). A mineralização de xenotima está
quantidades significativas de cassiterita, associada às zonas pegmatíticas dos sistemas de
associada a zircão, columbita-tantalita, pirocloro falhas, indicando forte controle estrutural. Esta
e xenotima, enquanto que os do Complexo composição coloca o depósito de Pitinga numa
Água Boa são de cassiterita, columbita-tantalita posição privilegiada em comparação com outros
e topázio (KOURY; ANTONIETTO, 1988). projetos de ETR no mundo (GARCIA, 2012).
Os testes do processo de concentração
6.1.1.3 - Importância Econômica indicam recuperação maior que 60% – 70% no
O depósito de Pitinga é conhecido como beneficiamento de Y2O3 com teores de ROM
província mineral devido à diversidade de bens entre 0,1% e 5 %, quando utilizado processos de
minerais com potencial econômico, como Sn, separação mecânica ou flotação. Além disto, no
Nb, Ta, Zr, Li, topázio, criolita (Na3AlF6), Y e REE. processamento mineral para Nb-Ta, o resíduo da
A pesquisa exploratória desenvolvida pela flotação apresenta teores de aproximadamente
Mineração Taboca S.A. confirma a ocorrência 0,3% Y2O3. Os recursos e reservas potenciais
de minerais ricos em ETR: xenotima, gagarinita para xenotima é em torno de 2 Mt @ 0,1% Y2O3
e fluocerita. Dentre os quais, a xenotima é o ROM (run-of-mine) (GARCIA, 2012).
Figura 6.2 - Gráfico apresentando a distribuição de ETRP por projetos em andamento no mundo; no detalhe
tem a distribuição dos OTR contido no minério de Pitinga (GARCIA, 2012).
152
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.3 - Mapa Geológico e coluna estratigráfica da província mineral de Pitinga (modif. de COSTI, 2000).
153
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A unidade estratigráfica mais antiga da rápida pelo alívio de pressão e possível separação
região é conhecida como Complexo Anauá e é da fase fluida com as fases posteriores (topázio
intrudida pelos granitos cálcio-alcalinos da Suíte granito e albita granito).
Água Branca. Esta Suíte é cortada pelas rochas A Suíte Madeira é sobreposta pela Formação
vulcânicas ácidas a intermediárias relacionadas Urupi, que é uma sequência de sedimentos
ao Grupo Iricoumé do Supergrupo Uatumã fluvio-eólicos continentais e rochas piroclásticas
(COSTI; BORGES; DALL’AGNOL, 2005). Os e cortada por rochas básicas toleíticas da
equivalentes plutônicos das rochas vulcânicas Formação Quarenta Ilhas de idade 1780 ± 3Ma
do Grupo Iricoumé, são os granitos alcalinos a (SANTOS et al., 2002) . A Formação Seringa,
subalcalinos anorogênicos agrupados na Suíte rochas magmáticas mais jovem de idade ~1.100
Intrusiva Mapuera (VEIGA JÚNIOR et al., 1979). Ma (VEIGA JUNIOR et al., 1979), corta essa
A correlação genética entre as rochas vulcânicas sequência de rochas e consiste de extensos
do Grupo Iricoumé e as rochas plutônicas da derrames de diabásios, basaltos e andesitos,
Suíte Mapuera são confirmadas pelas idades relacionados aos processos extensionais (COSTI;
próximas, 1,87 Ga e 1,88 Ga, respectivamente BORGES; DALL’AGNOL, 2005).
(COSTI; BORGES; DALL’AGNOL, 2005). A geologia da área da mina de Pitinga é
Os granitos Madeira, Água Boa e Europa, por formada predominantemente por rochas
sua vez, apresentam idades em torno de 1,82 vulcânicas ácidas do Grupo Iricoumé, intrudidos
Ga e estão agrupados na Suíte Madeira (COSTI, pelos complexos ígneos multifásicos da Suite
2000). O alongamento dos corpos graníticos Madeira (Figura 6.4) (LENHARO; POLLARD;
da Suíte Madeira paralelo às falhas maiores BORN, 2003; COSTI; BORGES; DALL’AGNOL,
na região é indício de que seu posicionamento 2005). Estes estágios múltiplos são identificados
foi controlado por estruturas preexistentes pelos dados geocronológicos da Suíte Madeira
(LENHARO; POLLARD; BORN, 2003). (Tabela 6.2) (BASTOS NETO et al., 2014).
As diferentes profundidades de cristalização Os Complexos Ígneos Água Boa e Madeira
dos corpos graníticos são mostradas pelas integram a Suíte Madeira, apresentam a mesma
variações composicionais e texturais (rapakivi, direção NE-SW, com área aproximada de 350 km2
porfirítica e granofírica) (LENHARO; POLLARD; e de 60 km2, respectivamente, e são circundados
BORN, 2003). Os magmas são originados pelas rochas vulcânicas e piroclásticas do Grupo
a partir de fontes distintas, gerados por Iricoumé (Figura 6.3) (LENHARO; POLLARD;
fracionamento magmático em dois a três BORN, 2003; COSTI; BORGES; DALL’AGNOL,
estágios de cristalizações, devido ao processo 2005). Estes dois complexos são formados por
de descompressão durante ascensão do magma três fácies principais. As fácies mais evoluídas
(DARDENNE; SCHOBBENHAUS, 2001). Segundo para Água Boa é o granito topázio e para a
LENHARO; POLLARD; BORN (2003) a evolução Madeira é o albita granito (Figura 6.3). Os
destes granitos ocorreu da seguinte forma: (1) granitos Madeira e Água Boa apresentam como
estágio de lento equilíbrio de cristalização na mineralização primária principal o Sn, associado
câmara magmática profunda; (2) ascensão da principalmente as fácies mais evoluídas. No
fusão e cristais com posicionamento em níveis primeiro, a mineralização está relacionada
mais rasos e; (3) estágio final de cristalização ao albita granito e está associada com outras
154
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
mineralizações, tais como Nb, Ta, Zr, ETR, micáceos e episienitos sódicos (COSTI; BORGES;
criolita (Na3AlF6) e fluorita. Já no granito Água DALL’AGNOL, 2005).
Boa a mineralização é controlada por greisens
Tabela 6.2 - Dados geocronológicos de trabalhos anteriores para o Complexo Ígneo Madeira (modif. BASTOS
NETO et.al., 2014). (a 207Pb/206Pb evaporação zircão;. b U-Pb zircão – TIMS; c U-Pb zircão SHRIMP II; d Ar- Ar
mica; e e U-Pb zircão LA-MC-ICPMS).
Idade (Método)
Granito Madeira
Granito fácies rapakivi 1.824±2 Ma (Pb-Pb Zra)
Fácies biotita granito 1.822±2 Ma (Pb-Pb Zra) e 1.810±6 Ma (U-Pb Zrc)
Granito fácies hipersolvus 1.818±2 Ma (Pb-Pb Zra)
1.834±6 Ma (U-Pb Zrb); 1.794±19 Ma (U-Pb Zrc); 1.782±4 Ma (Ar-
Fácies albita granito enriquecido
Ard); e 1.822±22 Ma (U-Pb Zre)
Granito Água Boa
Granito fácies rapakivi 1.824±2 Ma (U-Pb Zre)
Fácies biotita granito 1.824±2 Ma (U-Pb Zre)
Fácies topázio granito 1.824±2 Ma (U-Pb Zre)
Greisen 1.824±2 Ma (Ar-Ard)
Granito Europa
Granito alcalifeldspato Europa 1.824±2 Ma (Pb-Pb Zra); 1.824±2 Ma (U-Pb Zre)
COSTI (2000) divide o albita granito em dissolução das fases primárias preenchidas por
duas fácies: núcleo e borda (Figura 6.4). A fases tardias, como criolita, micas e pirocloro
fácies borda é a derivação da fácies núcleo (COSTI; BORGES; DALL’AGNOL, 2005). Ambas
por metassomatismo. O metassomatismo é subfácies são importantes economicamente,
evidenciado: (i) pela modificação da mineralogia principalmente pelas mineralizações de Sn, Nb e
peralcalina por ação de fluidos residuais Ta disseminadas, bem como para os ETR (COSTI,
e também (ii) pelas feições texturais de 2000).
Figura 6.4 - Mapa geológico de detalhe da Mina de Pitinga com apresentação das diferentes fácies do albita-
granito do Granito Madeira onde as falhas principais e locais abrigam zonas pegmatíticas ricas em xenotima
(modif. de COSTI; BORGES; DALL’AGNOL, 2005; GARCIA, 2012).
155
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.5 - Diagrama esquemático apresentando a evolução dos granitos ricos em Sn, Nb e Ta do depósito de
Pitinga (modif. de GARCIA, 2012).
156
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 6.3 - Principal mineralogia de minério do albita granito (modif. de GARCIA, 2012).
Elementos Mineral Outros
Estanho Cassiterita [SnO2]
Columbita – tantalita [(Fe,Mn)
Nióbio e Tântalo Niobidatos metamícticos de pirocloro [(Na3Ca)2 (Nb,Ta).(O,F)7]
(Nb,Ta)7O6]
Xenotima [YPO4], gagarinita [NaCaYF6] e waimirita [fluoreto de Y
Ítrio
com ETRP]
Catapleita (zirconado de sódio
Zircônio Malacon [ZrSiO4.nH2O] e zircão [ZrSiO4]
hidratado)
Urânio e Tório Toriae [Th(SiO4)]
ETRP Xenotima [YPO4], [(Na3Ca)2(Nb,Ta).(O,F)7] e fluocerita [(Ce,La)F3]
Poliotionita / annita siderofilita e
Lítio [K2Li3Al3(AlSi3O10)2(O,OH,F)4]
biotita
A pesquisa exploratória realizada pela até 5 % de Y2O3, onde são formadas zonas
MINERAÇÃO TABOCA SA confirma a ocorrência pegmatíticas no albita granito do Complexo
de minerais ricos em ETR como xenotima, Madeira (Figura 6.5 e 6.6) (GARCIA, 2012).
gagarinita e fluorcerita (GARCIA, 2012). A Estudos realizados indicaram que este minério
xenotima é o principal mineral ETR do albita de xenotima tem alto conteúdo de ETRP (Y, Dy
granito do Complexo Madeira. As mineralizações e Tb), conteúdo global é de aproximadamente
de xenotima estão associadas com os sistemas 98%, pois são também considerados como ETR
de falhas principais e locais, que podem conter críticos (GARCIA, 2012).
A B
C D
Figura 6.6 - Formas de ocorrências de xenotima. (A) Sistema de falhas e o veio de xenotima. (B) Lente sub-
horizontal do veio de xenotima. (C) Detalhe do veio de xenotima. (D) Detalhe do veio de xenotima, com
observação dos cristais. (Fotos tiradas por Lucy Takehara).
157
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.7 - Mapa de localização do depósito Granito Serra Dourada (Fonte da imagem esquerda: Esri,
DigitalGlobe, GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX, Getmapping, Aerogrid, IGN,
IGP, swisstopo, and the GIS User Community.).
158
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Situação atual: A empresa Mineração Serra O granito Serra Dourada é um corpo com
Verde está desenvolvendo estudos para altos teores de ETR em toda sua extensão,
Avaliação da Viabilidade econômica do Projeto sendo prospectado pela Mineração Mata Azul,
na parte Sul do corpo granítico e apresentou o na parte norte, e a Mineração Serra Verde, na
NI 43-101 (MINERAÇÃO SERRA VERDE, 2014). A parte centro e sul.
Mineração Mata Azul na parte norte, no estado A Mineração Serra Verde, nos trabalhos de
de Tocantins, assinou carta de intenções com prospecção no alvo Pela Ema, porção sul deste
Canadá Rare Earth Corp, para criação de uma granito, definiu uma reserva medida de 0,7 a 1
joint venture para desenvolvimento integrado Mt com teor de ETRP de 0,05% a 0,4%, usando
de terras raras no Brasil (BRASIL MINERAL, 2014). sondagem a trado para a coleta de amostras
(MINERAÇÃO SERRA VERDE, 2014).
6.1.2.2 - Histórico O potencial da área está associado ao evento
Os corpos graníticos da região da Província de lateritização e a região de maior potencial são
Estanífera de Goiás foram identificados pelo os platôs preservados, com teores anômalos de
159
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
6.1.2.4 - Geologia
Figura 6.8 - Mapa geológico simplificado da subprovíncia Tocantins da Província
A Província Estanífera de Goiás (TEIXEIRA; BOTELHO, 2006)
Estanífera de Goiás
(Figura 6.8) é formada
por diferentes corpos de granitos com idades O granito Serra Dourada pertence à Sub
paleo a neoproterozoicas e é dividida em província Tocantins, com o biotita granito de
quatro sub províncias, das quais, somente afinidade metaluminosa a peraluminosa como
duas são economicamente importantes: litologia predominante. Este biotita granito
Subprovíncia Paranã (NE do Estado de Goiás) foi dividido pela petrologia e textura, em três
e Subprovíncia Tocantins (N do Estado fácies: Principal, Porfirítico e Borda (TEIXEIRA;
de Goiás) (TEIXEIRA; BOTELHO, 2002). Os BOTELHO, 2002). A fácies Principal é o litotipo
corpos graníticos da Subprovíncia Paranã dominante, está cortado pela fácies Porfirítica
são intrusivos no embasamento granito- que representa a fácies mais evoluída. A Fácies
160
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Principal é caracterizada por um biotita granito granito primário (MARINI; BOTELHO; ROSSI,
rosa; a Porfíritica é formado por veios e filões 1992). Os albititos e biotititos, produtos de
de granito porfirítico; e a Fácies de Borda é um alteração hidrotermal do granito Serra Dourada,
ortognaisse milonitizado que ocorre nas bordas têm maiores teores de ETR do que as fases
do maciço (TEIXEIRA; BOTELHO, 2006). greisenizadas (TEIXEIRA; BOTELHO, 2006).
Marini, Botelho e Rossi (1992) observaram As diferenças no comportamento dos ETR
que quanto mais feldspato potássico na rocha durante o processo hidrotermal devem-se às
granítica maior era o teor do somatório de todos composições do fluido. A intensa greisenização
ETR (∑ETR) e observaram também que quanto que ocorre na região da subprovíncia Paranã
maior o metassomatismo sofrido pela rocha, é devido ao fluido ser mais ácido e rico em F,
menor é o teor do ∑ETR. Ou seja, os granitos mobilizando e lixiviando os ETR. No granito Serra
primários (biotita granitos) apresentam valores Dourada, este fluido era mais alcalino e pobre em
maiores de ETR que nos greisens. A diferença F, favorecendo a formação de albititos e biotititos
entre o granito Serra Dourada e o granito e os ETR tendem a permanecer no sistema
Pedra Branca é que neste último o processo de (TEIXEIRA; BOTELHO, 2006). Os granitos Serra
greisenização foi mais intenso e os teores de Dourada e Serra do Encosto mais diferenciados
ETR são menores e são proporcionalmente mais com texturas e estruturas ígneas preservadas
enriquecidos em ETRP. Os autores observaram são mais enriquecidos em ETR. Normalmente,
ainda que há um maior empobrecimento dos estes granitos apresentam teores anômalos em
ETRL e enriquecimento em ETRP na Subprovíncia ETR, que localmente, atingem quase 2.000 ppm
Paranã. Enquanto que no granito Serra Branca (Figura 6.9) (POLO; DIENER, 2013). Os maiores
da Subprovíncia Tocantins há um maior teor teores de ETR estão associados com os monzo
de ETR com empobrecimento de ETRP, que foi a sienogranitos com processos incipientes de
atribuído ao metassomatismo progressivo do deformação e metamorfismo.
Figura 6.9 - Distribuição de ETR nos granitos com maiores teores da Folha Mata Azul (1:100.000) (POLO;
DIENER, 2013).
161
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
A B
Figura 6.10 - Recorte dos levantamentos geofísicos do Granito Serra Dourada. (A) Sinal Analítico; e (B)
anomalia de Th.
162
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
163
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.11 - Dados do SIGMINE 08/10/2014 para Cassiterita (amarelo) e ETR (vermelho) (DEPARTAMENTO
NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2014).
164
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.12 - Mapa de localização do Complexo de Costa Marques (Fonte da imagem esquerda: Fonte da
imagem esquerda: Esri, DigitalGlobe, GeoEye, Earthstar Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AEX,
Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo, and the GIS User Community).
165
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
pesquisa mineral em quatro áreas requeridas com a entrada da produção de ETR pela
junto ao DNPM em 1984 (COSTA, 1990). No China, que tinham baixos custos operacionais,
entanto, a conclusão do projeto foi a de que as inviabilizando inclusive a produção do depósito
áreas apresentavam pouco potencial econômico estabelecido de Mountain Pass nos Estados
para ETR (COSTA, 1990). Unidos da América (CASTOR E HENDRICK, 2006).
Figura 6.13 - Mapas geológico simplificado da região de Costa Marques (RIZZOTO et al., 2004).
166
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.14 - Mapas com o recorte de anomalia gamaespectrométrica de Th obtida pelo aerolevantamento
do Sudoeste de Rondônia (RIZZOTO et al., 2004).
167
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
deste complexo, visto os depósitos de ETR em de detecção da técnica. Destaca-se aqui que
argilas adsorvidas ser fonte importante de ETRP. as de solo apresentaram muitas amostras com
Talvez, novos estudos com nova abordagem resultados acima do limite de detecção.
podem gerar conclusões diferentes do estudo
anterior, onde se procurava depósito de ETR 6.1.3.2 - Mineralizações de Terras Raras
conforme modelo de exploração em rochas Relacionados aos Depósitos Estaníferos de
alcalinas/carbonatitos (COSTA, 1990). Rondônia
Os resultados químicos para fósforo nos
6.1.3.2.1 - Características do Depósito
diferentes tipos de amostras de solo, sedimento
de corrente e rocha, mostram teores muito Localização: Em todo o estado de Rondônia,
baixos para a ocorrência de mineralização o estanho é explotado por diversas empresas
fosfatada (COSTA, 1990). Os dados químicos de mineração, garimpeiros e cooperativas de
para Ce, La, Y e Yb analisados por espectroscopia garimpeiros. Na base de dados do GEOBANK
ótica, por sua vez, apresentaram resultados (Banco de dados da CPRM) estão cadastrados
interessantes, considerando a mineralização 39 depósitos, 109 ocorrências e 11 indícios de
em rochas graníticas. Análises de algumas estanho, dos quais 33 são minas, 16 garimpos e
amostras de rochas, sedimento de corrente, solo 110 são ocorrências ou indícios não explorados
e bateia mostraram resultados acima do limite (Figura 6.15) (QUADROS, 2007).
Figura 6.15 - Mapa com a distribuição dos principais depósitos, ocorrências e indícios de estanho no Estado
de Rondônia, dados do GEOBANK (QUADROS, 2007).
168
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
são aqueles mais tardios, conhecidos como de cassiterita no estado de Rondônia ocorreu
Granitos Rondonianos afetados por processos em 1952, quando o mineral preto, pesado
hidrotermais. As mineralizações estão associadas encontrado pelos garimpeiros de diamante
às porções apicais das cúpulas destas intrusões foi analisado pelo geólogo Donald Campbell
graníticas (granitos tardios) e nas encaixantes, (LOBATO et al., 1966). A partir de 1959, a região
como endogreisens e exogreisens e em veios despertou para a importância desta ocorrência
e venulações/stockworks de quartzo, que econômica, cuja extração era na forma de
podem estar associados a zinwaldita, topázio, garimpo. Em 1960, houve grande incremento,
wolframita e columbita-tantalita (QUADROS, com estabelecimento de pontos de garimpagem
2007). A mineralização de ETR pode estar em locais mais afastados, o que contribuiu
associada à de estanho conforme apresentado também para a expansão da colonização no
nos depósitos anteriores. território. A produção de cassiterita passou de
O depósito secundário de estanho é 30 t/ano em 1960 para quase 1.000 t/ano em
representado por placers aluviais associados 1962. A atividade de garimpo foi muito ativa até
a rios anastomosados, coluvionais, coluviais- o início da década de 1970.
eluviais que são as fácies mais propícias à Os estudos realizados pelo DNPM em meados
acumulação de minerais pesados (BETTENCOURT da década de 1960 selecionaram algumas áreas
et al., 1988). que foram cubadas para avaliar a potencialidade
Mineralização Principal: Cassiterita, wolframita, econômica de cassiterita no estado de Rondônia
columbita-tantalita, topázio, fluorita, monazita, (LOBATO et al., 1966). Além da cassiterita,
zircão, apatita e minerais de Li (zinwaldita) foram identificadas ocorrências de outros
Minerais de minério de ETR: Monazita e minérios como o manganês, ilmenita e cinábrio.
xenotima. A ocorrência de cassiterita primária está
associada à fácies greisenizadas dos granitos,
Idade da mineralização: depósito primário
principalmente, na forma de veios, onde este
(Meso- a Neoproterozoico, 1 Ga); depósitos
mineral está associado com quartzo, topázio
secundários: Pleistoceno médio a Holoceno.
e turmalina. Entretanto, o maior potencial
Tipo de jazimento: Depósito associados à
econômico está associado com depósitos
fácies greisenizadas dos granitos Rondonianos
secundários, nos depósitos aluvionares,
(primário) e aluviões (secundário)
eluvionares e coluvionares, gerados a partir da
(BETTENCOURT et al., 1988; CARVALHO, 1988).
alteração e desagregação das rochas graníticas
Tipo de lavra: Garimpo e lavra a céu aberto.
e greisens. Nestes depósitos secundários, a
Situação atual: O principal mineral minério concentração de cassiterita atingiam teores
explorado é a cassiterita. Nas minas Santa maiores que 60% de Sn, os quais normalmente
Bárbara/CESBRA e Bom Futuro, a wolframita estavam associados com ilmenita, magnetita,
ocorre como subproduto; na Mina Cachoeirinha,
hematita e zircão e, mais raramente xenotima,
a columbita-tantalita (nióbio) é o subproduto e
monazita e tântalo-columbita (LOBATO et al.,
na Mina Massangana, o topázio é o subproduto
1966).
(QUADROS, 2007).
6.1.3.2.2 - Histórico 6.1.3.2.3 - Importância Econômica
O primeiro reconhecimento da presença A Província Estanífera de Rondônia abrange
169
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 6.4 - Relação de idades de posicionamento entre as diferentes Suítes Intrusivas encontradas na
Província Estanífera de Rondônia (BETTENCOURT et al., 1999).
Suite Intrusiva Idade de posicionamento (Idade U-Pb)
Serra da Providência Entre 1.606 Ma e 1.532 Ma
Santo Antônio 1.406 Ma
Teotônio 1.387 Ma
Alto Candeias Entre 1.346 Ma e 1.338 Ma
São Lourenço - Caripunas Entre 1.341 Ma e 1.309 Ma
Santa Clara Entre 1.082 Ma e 1.074 Ma
Granitos Jovens ou Rondonianos Entre 998 Ma e 974 Ma
A Suíte Intrusiva Serra da Providência corta a extensional (BETTENCOURT et al., 1999). As duas
crosta Paleoproterozoica Rio Negro – Juruena, suítes mais jovens, Santa Clara e Rondonianos,
enquanto as demais estão posicionadas na representariam o magmatismo durante os
crosta Rondônia – San Ignácio de idade 1,50 episódios de retrabalhamento da Província Rio
Ga a 1,30 Ga, que são contemporâneas com as Negro – Juruena, durante os estágios de colisão
atividades orogênicas da região (BETTENCOURT da orogenia Sunsás/Aguapeí em 1,1 Ga a 1,0
et al., 1999). As Suítes Intrusivas Santo Antônio, Ga (BETTENCOURT et al., 1999). A evolução do
Teotônio, Alto Candeias e São Lourenço- posicionamento destes corpos relacionados
Caripunas são relacionados com os estágios com os eventos orogênicos estão representados
finais da orogenia Rondônia – San Ignácio, na Figura 6.16.
representando o magmatismo anorogênico
170
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 6.16 - Diagrama com a distribuição das Suítes Intrusivas da Província Estanífera de Rondônia em
relação aos diferentes eventos orogênicos no Sudeste do Craton Amazônico (BETTENCOURT ET AL., 1999).
Os três granitos rapakivi mais jovens, São et al., 2005). Estas suítes são formadas por
Lourenço-Caripunas, Santa Clara e os granitos várias intrusões, sendo que o estágio tardio
Rondonianos estão associados com geração de é volumetricamente menor. O estágio tardio
depósitos de Sn polimetálicos por processos pode ser dividido em dois grupos de rochas: (1)
de alteração hidrotermal (BETTENCOURT et grupo metaluminoso a peralcalino composto
al., 1999; BETTENCOURT et al., 2005). A Suíte principalmente de hornblenda álcali feldspato
Intrusiva São Lourenço – Caripunas pode sienito e microsienito, traquiandesito e traquito,
ter sido posicionada dentro do regime de bem como biotita álcali feldspato granito e
extensão tectônica relacionada com a quebra riolito e; (2) o grupo peraluminoso é formado
do continente, representando o início de novo por biotita álcali feldspato granito, alasquito,
ciclo de Wilson (Sunsás – Aguapeí) (Figura mica de lítio- riolito (BETTENCOURT et al., 2005).
VI.16) (BETTENCOURT et al., 1999). Enquanto Os depósitos Sn polimetálicos dos maciços de
os dois mais jovens representariam os efeitos Oriente Novo da Suíte Intrusiva Santa Clara e o
magmáticos mais distais do orógeno colisional maciço Santa Bárbara dos Granitos Rondonianos
Sunsás – Aguapeí na crosta Rondônia – San são associados às fácies greisenizadas do
Ignácio (BETTENCOURT et al., 1999). segundo grupo.
Os depósitos de Sn na Província Estanífera de Os depósitos secundários ocorrem
Rondônia estão associados com o álcali feldspato intimamente relacionados com os granitos
granito peraluminoso rico em flúor, relacionado estaníferos (ISOTTA et al., 1978, 1978a;
ao processo de greisenização (BETTENCOURT BETTENCOURT et al., 1988; CARVALHO, 1988;
171
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
172
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 6.5 - Análises químicas de concentrados e rejeitos magnéticos de separadoras dos principais distritos
mineiros de Rondônia (Mineração Oriente Novo S. A.). As análises de estanho para todas as amostras é > 1000
ppm (modif. de BETTENCOURT et al., 1988).
% ppm
Am Tipo Minério
Ti La Nd Th Ce Zr Ta Nb Y
Rejeito
1 8,86 915 1.200 435 1.930 1.460 120 1.184 400
separadora
Rejeito
2 5,11 300 1.600 4.240 >10.000 3.100 600 2.695 5.487
separadora
Rejeito
3 21,36 12 100 30 265 40 <10 124 <20
separadora
Rejeito
4 7,69 3.630 4.200 1.035 7.530 1.300 3.040 >10.000 2.066
separadora
Pré-
5 17,48 9 <50 15 125 <20 10 169 <20
concentrado
Pré-
6 0,42 15 <300 60 210 <600 >10.000 >10.000 <20
concentrado
Escória
7 5,03 5.540 3.000 2.410 >10.000 4.000 >10.000 >10.000 1.044
secundária
Amostras: 1 – Mina Belém – Distrito Oriente Novo; 2 – Mina Primavera – Distrito Oriente Novo; 3 – São Lourenço – Distrito São
Lourenço – Macisa; 4 – Igarapé Cachoeirinha – Distrito Cachoeirinha; 5 – Lateral Saubinha – Distrito São Lourenço; 6 – Queimada –
Distrito Cachoeirinha; 7 – Bera do Brasil (metalúrgica) – Grupo Brumadinho.
173
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
174
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Figura 7.1 - Distribuição de minerais pesados na zona econômica exclusiva e extensão da plataforma
continental do Brasil (modif. de CAVALCANTI, 2011).
175
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
176
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
limítrofe entre os estados do Ceará e Rio Grande VANUZZI, 1997; SERRA, 2013). O período de 1886
do Norte; foram identificados teores entre 0,5% a 1900 foram exportadas 117.706 toneladas de
e 2,4% de minerais pesados; monazita do litoral baiano, enquanto entre 1900
• Plataforma continental nordeste/leste e 1947 foram exportados 62.115 toneladas do
– nas desembocaduras dos rios: Pardo e litoral capixaba (TESCH, 1984).
Jequitinhonha (BA) e Doce (ES), próximo às O Brasil até a década de 1950 foi um dos
cidades de Itapemirim e Guarapari e Itabapoana maiores produtores de monazita do mundo.
(RJ), bem como no delta do rio Paraíba do Sul A partir desta década, após a proibição de
(RJ); os teores da maior parte das amostras são exportação de concentrados de monazitas,
maiores que 1% de minerais pesados na amostra buscou-se despertar o interesse de companhias
total, sendo que, na última área, são detectados estrangeiras para o seu processamento no país.
teores de até 5,2% em paleocanais afogados; Assim foram montadas usinas de concentração
• Plataforma continental sudeste/sul – entre primária de monazita em Buena e Cumuruxatiba
Iguape (SP) e Paranaguá (PR), os teores de e usina de processamento químico em São Paulo
minerais pesados variam entre 0,6% a 1,4% por um grupo alemão (TOREZAN; VANUZZI,
e também estão relacionados à paleocanais 1997). Também foram constituídas as empresas
SULBA – Sociedade Comercial de Minérios
afogados; nas lagunas dos Patos e Mirim (RS) os
Ltda e ORQUIMA – Indústria Química Ltda para
minerais pesados são encontrados em frente à
minerar, concentrar e industrializar a monazita
barra de Rio Grande em três áreas com teores
e os demais minerais pesados de interesse
de até 2,4%.
econômico (TOREZAN; VANUZZI, 1997). Foi
7.1.1 - Histórico também criada a CNEN – Comissão Nacional
A descoberta da monazita no Brasil é de Energia Nuclear, autarquia que passou a ter
atribuída ao Professor Gorceix que caracterizou direito de lavra das minas de areias monazíticas,
amostras da região de Prado (BA), as quais bem como para coordenar e executar a política
foram encaminhadas pelo inglês John Gordon de energia atômica do Brasil (TOREZAN;
via Orville, conforme comunicado feito na VANUZZI, 1997).
Academia de Ciências de Paris em 1885 Ainda na década de 1950, o Brasil dominou
(TESCH, 1984). O aproveitamento das areias o processo de obtenção de óxidos puros a partir
monazíticas brasileiras iniciou em 1886 com o de monazitas das praias do Espírito Santo e Rio
estabelecimento da mina de Cumuruxatiba por de Janeiro, realizado pela ORQUIMA (SERRA,
John Gordon (TOREZAN; VANUZZI, 1997). Em 2013). Esta empresa, que chegou a processar
1889, foram descobertas areias monazíticas mais de 200 toneladas de monazita por ano, foi
e ilmeníticas no litoral capixaba pelos irmãos nacionalizada no início da década de 1960, onde
Anibal e Dioclécio Pereira Borges, cujas passou a lavrar monazita e produzir ETR de baixa
exportações iniciaram em 1900 para a Alemanha pureza e concentrado de CeO2 (SERRA, 2013). A
com 600 toneladas (TESCH, 1984). O principal produção de todo e qualquer produto de ETR foi
destino da monazita era Áustria e Alemanha, desativada pelo Indústrias Nucleares do Brasil
onde eram processadas para produção de sais em 2002.
de tório e de terras raras para produzir mantas Os projetos Cumuruxatiba (BA) e Buena
incandescentes para lampiões a gás (TOREZAN; (RJ) foram executados pelo convênio CNEN/
177
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
178
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
maiores e isto faz com que gere produtos de próximas ao litoral. A concentração de minerais
baixo valor agregado. pesados ocorre em diferentes formas associadas
O Brasil possui reservas conhecidas deste tipo com o processo de sedimentação em ambiente
de depósito da ordem de 140,21 mil toneladas, costeiro. A mineralização é gerada pelo acúmulo
associadas com minerais pesados (ilmenita, de minerais em dunas, areias de praias,
zircão, rutilo, principalmente). Esta reserva sedimentos lacustres e de brejos formadas por
poderá ser muito maior, visto que durante o processos de regressão do mar encontrados ao
levantamento aerocintilométrico, realizado em longo da costa brasileira.
1967 entre Rio de Janeiro até Fortaleza foram A declividade da plataforma continental é
identificadas 101 áreas anômalas e na região de um fator importante na remodelação do relevo
Tutóia (MA) foram identificadas mais 67 áreas litorâneo e a sedimentação é favorecida quanto
(LAPIDO-LOUREIRO, 1994). mais suave for esta declividade. A amplitude
As áreas mineralizadas estão em superfície e altura da maré também influenciam na
ou em subsuperfície, a poucos metros de acumulação de material fluvial no litoral.
profundidade, conhecidos como depósitos de Outro ponto importante é a geomorfologia
minerais pesados, composto de ilmenita, rutilo, litorânea. Na região norte não ocorre barreiras,
zircão e monazita (INDÚSTRIAS NUCLEARES DO a costa e a rede de drenagem têm um pequeno
BRASIL, 2014). gradiente. Na região oriental, no entanto, o
O processo de lavra do minério e a comportamento é diversificado, tem linhas
recomposição do solo lavrado são feitos de escarpas do planalto Atlântico que entram
concomitantemente, minimizando o impacto para o continente formando largas faixas de
ambiental (INDÚSTRIAS NUCLEARES DO BRASIL, terras baixas e quando os depósitos terciários
2014). Este processo inicia-se com a retirada do aproximam da costa formam as falésias.
solo rico em matéria orgânica, que é armazenado Ocorre também a presença de restingas que
para uso após a lavra para recuperação do são formadas pela pequena declividade da
terreno lavrado. Após esta etapa utilizam-se plataforma continental, associadas à pequena
escavadeiras hidráulicas para extrair o minério amplitude no movimento das marés e morfologia
que é transportado para unidade de tratamento em forma de amplas enseadas, que permitem
a deposição de sedimentos transportados por
de minério por caminhões basculantes. Onde a
drenagens. A sedimentação contínua provoca o
fração estéril, 85 % a 90% do material retirado
avanço da linha de praia, levando ao aumento
retorna para a mina para obturação da cava
constante das planícies costeiras.
minerada. O processo de retirada do minério e
As observações de feições submersas de vales
recomposição do terreno é realizado de forma
fluviais e praias antigas na plataforma continental
integrada, seguida da colocação do solo retirado.
podem ser usadas como guia prospectivo de
O material útil corresponde a 10 % ou 15 % do
minerais pesados, onde os prospectos com
volume total retirado.
melhores potenciais geralmente se situam
7.1.3 - Aspectos Geológicos do Depósito próximos a depósitos emersos conhecidos
O depósito é gerado pela concentração de (CAVALCANTI, 2011). Os antigos canais de rios
minerais provenientes da desagregação de associados a depósitos fluviais permitem a
rochas ígneas e metamórficas encontradas preservação de placers marinhos importantes,
179
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
sendo expostos nas fases regressivas e afogados Parnaíba e Piriá, é de 3,3 Mt de ilmenita, que
na transgressão marinha final do Pleistoceno é o mineral mais abundante representando em
e início do Holoceno (CAVALCANTI, 2011). média 33,5 % do peso total dos minerais pesados
Outras acumulações marinhas submersas são (ARTHAUD; MORAIS; FREIRE, 1976). A monazita,
encontradas em concentrações irregulares, por sua vez, representa pequena proporção
no fundo marinho, devido ao transporte menor que 3 %.
e retrabalhamento dos minerais pesados Idade da mineralização: Quaternário
pelas correntes em regiões de alta energia Situação atual: Ocorrência.
(CAVALCANTI, 2011).
Os placers enriquecidos nos minerais 7.2.2 - Piauí
ilmenita, rutilo, zircão e monazita de idade 7.2.2.1 - Sudeste da Vila De Bitupitá (Litoral
Cenozóica estão associados à maior exposição piauiense)
de terrenos cristalinos que tem estes minerais Tipo de Depósito e Geologia Básica: os depósitos
como acessórios comuns (CABRAL JUNIOR et costeiros estão relacionados com a formação
al., 2001). Apesar de que os placers costeiros de dunas e areias de praia, condicionados
podem ser formados com materiais distantes de com o desenvolvimento morfológico do litoral
suas áreas fontes. (COSTA et al., 1979). A morfologia das dunas
As deposições dos minerais ocorrem como apresenta-se com escalonamento acentuado
lentes de espessuras, comprimentos e teores da linha da costa com as pontas voltadas para
variáveis. A espessura varia de decímetros a NW, possivelmente conduzidas pelo maciço
decâmetros, onde a berma presente atinge 40 quartzítico de Jericoacoara subjacente. É também
metros, enquanto que o comprimento pode encontrada na forma de barcanas isoladas. As
variar de centenas de metros a dezenas de areias são quartzosas, de granulação fina, bem
quilômetros. O teor também é variável, em classificada e com leitos finos estratiformes
alguns locais atinge 80 %. de minerais mais escuros (minerais pesados)
na superfície das barcanas e como filetes nas
7.2 - RESERVAS DE MONAZITA EM PLACERS marcas de jusante sob as dunas que bordejam
MARINHOS os canais limítrofes das ilhas. Os principais
7.2.1 - Maranhão minerais pesados mais comuns são hornblenda
7.2.1.1 - Área Tutóia (Litoral maranhense) e ilmenita, seguidos de epidoto, zircão e cianita.
Tipo de Depósito e Geologia Básica: os minerais Onde a ilmenita representa 20 % da fração de
pesados estão associados com os sedimentos minerais pesados, foi alvo de maior investigação
eólicos, cujas dunas alcançam mais de 60 km de pela empresa Rutilo e Ilmenita do Brasil S.A.,
extensão por 25 km de largura e altura média que não se mostrou viável economicamente
de 20 m. Estas dunas são constituídas de areias (COSTA et al., 1979). Esta ocorrência é similar
quartzosas com minerais pesados, tais como ao que ocorre no litoral cearense, com menores
turmalina, feldspato, ilmenita e anatásio, que concentrações e teores de zircão mais elevados
geralmente ocorrem com granulometria fina (LAPIDO-LOUREIRO, 1994).
(RIBEIRO; SANTOS, 1988). As reservas estimadas Idade da mineralização: Quaternário.
da faixa costeira maranhense, entre os rios Situação atual: Ocorrência está situada a 2 km a
180
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
SE da vila de Bitupitá (COSTA et al., 1979). pela seleção de material pelas vagas marinhas e
Recurso estimado: A avaliação indicou não ser por gravidade, onde a água transporta a fração
viável economicamente. fina do material clástico, separando os minerais
pesados, concentrados por processos eólicos.
7.2.3 - Rio Grande do Norte Estes depósitos são diferentes dos depósitos do
7.2.3.1 - Tibaú, Cunhaú, Estrelas e Baia Formosa sul da Bahia e do Espírito Santo e Rio de Janeiro,
Tipo de Depósito e Geologia Básica: os minerais por serem de baixa concentração de minerais
pesados formam camadas centimétricas de pesados (1,10 % - 1,87 %). Bem como pela
minerais escuros, intercaladas em sedimentos proporção dos minerais como ilmenita (79,92 %
arenosos inconsolidados de dunas móveis, a 85 %), monazita (0,55 % - 4,12 %) e zirconita
paleodunas e sedimentos (BARBOSA; BRAGA, (13,18 % - 15,18%) (LAPIDO-LOUREIRO, 1994).
1974). Dentre os minerais pesados predominam Idade da mineralização: Quaternário.
ilmenita e zircão e, de forma subordinada, Situação atual: Ocorrência.
ocorrem magnetita, granada, monazita,
7.2.5 - Paraíba
turmalina, cianita e leucoxênio. A ocorrência
7.2.5.1 - Mina Guaju – Mataraca [6° 32’ 23,07”S;
mostra não ser economicamente viável devido
34° 58’ 31,58”W]
a espessura reduzida das camadas ricas em
minerais pesados. Tipo de Depósito e Geologia Básica: O depósito
é formado por processos sedimentares recentes
Idade da mineralização: Cenozóico.
de formação de dunas que recobrem as rochas
Situação atual: Tem ocorrências conhecidas
sedimentares do Grupo Barreiras (SANTOS,
de monazita em Tibau, Cunhaú, Estrelas e
2010; SABEDOT; SAMPAIO, 2002). Este depósito
Baia Formosa, no entanto, não têm viabilidade
está inserido na faixa sedimentar costeira da
econômica.
Paraíba, onde o Grupo Paraíba é formado por
Recurso estimado: Não há recurso estimado.
sequencia basal clástica (Formações Beberibe
Em 1972, a reserva estimada de monazita foi de
e Itamaracá) e sequencia superior carbonática
390 t no litoral do Rio Grande do Norte (MACIEL;
(Formações Gramame e Maria Farinha). Este
CRUZ, 1973).
grupo encontra-se recoberto por sedimentos
7.2.4 - Ceará areno-argilosos do Grupo Barreiras e sedimentos
7.2.4.1 - Beberibe, Majorlândia e Paracurú inconsolidados de idade Quaternária.
Tipo de Depósito e Geologia Básica: os cordões A mineralização ocorre nestes sedimentos
litorâneos de idade recente são representados quaternários, representados por coberturas
por arenitos flúvio-marinhos e sedimentos arenosas, terraços fluviais, aluviões, areia de
inconsolidados de origem eólica (dunas) (BRAGA praias e dunas. O tipo deste depósito pode
et al., 1977). Os depósitos eólicos formam ser comparado com os depósitos de dunas
cordões contínuos que se desenvolvem de existentes nos litorais maranhense e piauiense,
forma irregular paralelo à costa, sobrepostas sendo diferente dos depósitos litorâneos da
a sequencia sedimentar do Grupo Barreiras. Bahia, Espirito Santo e Rio de Janeiro (SANTOS,
Os sedimentos de praia e de dunas estão 2010).
relacionados com concentração de ilmenita O depósito de minerais pesados ocorre associado
(BRAGA et al., 1977). A concentração ocorre principalmente a dunas, onde a mineralização
181
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
está associado a pré-dunas e praias pretas são encontradas nas frações mais grossa > 80 #
paralelas à costa, compreendendo uma área (SABEDOT; SAMPAIO, 2002).
aproximada de 1,2 km2 e espessura de até 60m Idade da mineralização: Quaternário.
(CAÚLA E DANTAS, 1997). É um depósito de Situação atual: É o maior depósito de titânio
ilmenita/rutilo e zircão, com teores de até 47 % em fase de exploração no Brasil, os teores
de ilmenita nas faixas de praias pretas, que se variam entre 3,3 % e 5,0 %, sendo explorado
estendem por várias centenas de metros e são economicamente ilmenita, zircão, rutilo e cianita.
formadas por retrabalhamento das pré-dunas. A monazita encontra-se em concentrações muito
A monazita é encontrada em pequenas baixas (SANTOS, 2010). O depósito pertence à
concentrações, principalmente, como mineral empresa Millennium Inorganic Chemicals do
liberado e pode estar inclusa nos cristais de Brasil S.A.
ilmenita (FERREIRA ET AL, 2007). A baixa Produção: Há produção de ilmenita (114.000 t/
susceptibilidade magnética da monazita faz com ano), zirconita (19.000 t/ano), rutilo (1.950 t/
que acompanhe a ilmenita nas demais etapas ano) e cianita (400 t/ano) (SANTOS, 2010).
de beneficiamento do mineral (FERREIRA ET
Recurso estimado: Possui reservas de 2,7 Mt
AL, 2007). Durante o processamento mineral foi
de minerais pesados, com 81,54 % ilmenita,
observado que nos concentrados de ilmenita
2,4 % rutilo e 16,06 % zirconita (DARDENNE;
o teor de monazita é 0,10 % (Tabela VII.1)
SCHOBBENHAUS, 2001).
(FERREIRA et al., 2007). E nos concentrados de
zircão, as maiores concentrações de monazita
Tabela 7.1 - Caracterização mineralógica do concentrado de ilmenita (FERREIRA et. al, 2007).
Mineral Composição (%)
Ilmenita 98,66
Estaurolita 0,20
Zircão 0,17
Monazita 0,10
Turmalina 0,08
Rutilo 0,08
Cianita 0,02
Outros 0,69
Total 100
182
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
(5 %), zircão (1,4 %) e monazita (1,4 %), recurso é formada por lentes estreitas com gradação
estimado cerca de 2 Mt de minerais pesados longitudinal para as zonas menos enriquecidas.
(BARRETO; PINTO, 1972). As lentes podem atingir teores que chegam a
Idade da mineralização: Terciário. 80 %. A geometria do depósito exata não pode
Situação atual: Ocorrência. ser definida devido a intensa mobilização dos
minerais devido dinâmica no ambiente praia,
Recurso estimado: Recurso estimado de 62 mt
o que modifica constantemente os teores de
de monazita (BARRETO; PINTO, 1972).
minerais pesados (BARRETO; PINTO, 1972).
7.2.7 - Bahia
Um destaque deste depósito é a alta concentração
Os depósitos do sul da Bahia são formados por de ilmenita (70 %), bem como pela sua qualidade,
vários corpos de minerais pesados (Figura 7.1). tipo pseudorutilo, sendo considerada uma das
Estes depósitos são importantes, pois foi onde melhores do Brasil para produção de dióxido de
a monazita foi descoberta em 1885 (depósito titânio. Outra característica importante deste
de Prado) e o primeiro depósito explorado depósito é a localização da mineralização na área
(Cumuruxatiba). de atuação das marés, permitindo migração dos
7.2.7.1 - Alcobaça (BA) [17° 15’S; 39° 14’W] corpos de minério dentro dos limites da enseada
(VANUZZI et al., 1984). Os principais minerais
Tipo de Depósito e Geologia Básica: depósito
pesados são ilmenita, leucoxênio, rutilo,
associado com areias de dunas e de praia, placer
granada, turmalina, epidoto, monazita, entre
marinho. O mineral de ETR é a monazita.
outros; a granulometria dos minerais apresenta
Idade da mineralização: Terciário superior ou
uma razão inversa em relação à sua gravidade
Pleistoceno – Holoceno.
específica (BARRETO; PINTO, 1972). A monazita
Situação atual: Depósito exaurido. Produtor de apresenta-se muito fina.
monazita no passado, como produto secundário
A mineralização está sempre voltada para a
das areias pesadas do litoral brasileiro, explorado
crista contrária ao mar, com grande número de
pela Nuclebras/Nuclemon 1989.
lâminas regulares, com profundidade de 4,5m –
Recurso estimado: teor de 0,47 % monazita 5,0m e lentes de 0,20m a 0,30 m. A composição
(ORRIS; GRAUCH, 2002). do concentrado é de 70% de ilmenita, 10% – 20
7.2.7.2 - Cumuruxatiba (BA) [18° 22’S; 40° 42’W] % de zirconita, 4% a 5% de monazita e 1% de
Tipo de Depósito e Geologia Básica: este rutilo (VANUZZI et al. ,1984).
depósito marcou o início da explotação das Idade da mineralização: Quaternário.
areias monazíticas do Brasil, Situação atual: Depósito exaurido, com
A concentração de minerais pesados está paralização da usina de beneficiamento de
distribuída ao longo de cordões litorâneos que minerais pesados em 1971 (BARRETO; PINTO,
controla a geomorfologia da praia atual numa 1972). Produtor de monazita no passado, como
extensão de 6.200 metros e 20 metros de largura produto secundário das areias negras do litoral
média (BARRETO; PINTO, 1972). O depósito está brasileiro, explorado pela Nuclemon Minero-
localizado na zona de espraiamento, relacionado Química Ltda. até 1989. Atualmente as reservas
às ondas que atingem o sopé da Grupo Barreiras. estão tituladas à Indústrias Nucleares do Brasil.
A maior concentração dos minerais pesados Recurso estimado: As reservas medidas do
183
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
associados com zona de espraiamento, onde negras do litoral brasileiro, explorado pela
são observados trabalho de classificação pelas Nuclemon de Monazita e Associados Ltda. 1989.
ondas. Estes depósitos não contêm grandes Recurso estimado: Reservas medidas 698
concentrações de minerais pesados, mas o toneladas de monazitas (com 60,02% de OTR)
aproveitamento pode ser feito de forma manual (ORRIS; GRAUCH, 2002).
ou semi-mecanizada com lavra, onde o material
depositado na maré alta pode ser retirado na 7.2.8.2 - Aracruz (ES) [19° 58’S; 40° 09’W]
maré baixa. A construção do Porto Ponta Ubú Tipo de Depósito e Geologia Básica: Este depósito
interferiu na deposição do depósito de Mãe- está associado às areias do Grupo Barreiras.
Bá, reduzindo a deposição de minerais pesados Mineral de ETR é a monazita, como subproduto
(VANUZZI et al., 1984). de extração de ilmenita, rutilo e zircão das areias
O estudo da estratigrafia do Grupo Barreiras negras.
para determinação de áreas fontes de minerais Idade da mineralização: Terciário superior.
pesados mostra que ocorreram vários ciclos de
Situação atual: Produtor de monazita no passado,
sedimentação com indicação de maturidade
como produto secundário das areias pesadas
mineralógica decrescente da base para o topo
do litoral brasileiro, explorado pela Nuclebras/
(TESCH, 1984). A distribuição dos minerais
Nuclemon 1989. Atualmente as reservas estão
pesados provenientes do Grupo Barreiras que
tituladas às Indústrias Nucleares do Brasil.
se encontram no litoral capixaba apresentam
Recurso estimado: reserva medida de 2,9 mt de
variações composicionais. Esta variabilidade
monazita com teor de 59,98% OTR (1986).
está associada com as diferentes rochas mãe que
forneceram os minerais, bem como as condições
7.2.9 - Rio de Janeiro
de exposição do corpo alimentador.
Os depósitos de minerais pesados na costa
Idade da mineralização: Holocênica.
fluminense estão associados principalmente
Situação atual: Depósitos do litoral capixaba
aos complexos deltáicos dos grandes rios que
estão exauridos ou não são economicamente
desembocam no mar, como por exemplo, os
viáveis.
depósitos relacionados ao rio Paraíba do Sul
7.2.8.1 - Anchieta (ES) (Parati, Imbiri, Pipa De (Figura 7.2). A monazita extraída do depósito
Viho, Maebá) [20° 46’S; 40° 35’W] de Buena já foi processada pela Indústrias
Nucleares do Brasil até a década de 2000. Hoje
Tipo de Depósito e Geologia Básica: Este
são extraídos outros minerais pesados como a
depósito está associado aos sedimentos do
ilmenita e o zircão.
Grupo Barreiras. Os depósitos estão associados
com pequenos placers marinhos modernos 7.2.9.1 - São Francisco de Itabapoana (Unidade
e nas barras elevadas. Os minerais de ETR são de Minerais Pesados da Indústria Nuclear do
monazita, como subproduto de extração de Brasil Buena) [21° 22’S; 40° 30’W]
ilmenita, rutilo e zircão das areias negras. Tipo de Depósito e Geologia Básica: Os
Idade da mineralização: Terciário superior. sedimentos que formam este depósito são os
Situação atual: Produtor de monazita no do Grupo Barreiras retrabalhados, formado por
passado, como produto secundário das areias extensas falésias “fósseis” de direção norte sul e
185
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
com desníveis maiores que seis metros (COUTO; NETO, 1974; SCHNELLRATH et al., 2002).
GOMES; NETO, 1974). A Figura 7.2 mostra a Estes cordões formam corpos alongados com
influencia das correntes marítimas na formação centenas de metros a alguns quilômetros de
e distribuição dos corpos mineralizados de extensão e dezenas a centena de metros de
minerais pesados. largura. A maior parte dos cordões se destaca
Os depósitos dos cordões litorâneos são na topografia com cota média de 4 metros e
formados durante as fases de avanço e recuo se encontram margeando áreas pantanosas,
do mar (tipo paleopraia), ou seja, processo de muitos destes corpos já foram lavrados (COUTO;
retrabalhamento e deposição (COUTO; GOMES; GOMES; NETO, 1974).
Figura 7.2 - (A) Transporte litorâneo das correntes marítimas; e (B) Áreas com tendência erosiva e deposicional
estimado para o Delta do Rio Paraíba do Sul (GONÇALVES; SILVA, 2005).
Segundo DIAS; SILVA; RODRIGUES (1997), base das falésias “fósseis” da Grupo Barreiras.
neste depósito é encontrado três tipos de A erosão dos sedimentos do Grupo Barreiras é
mineralizações: (i) formado diretamente da praia a principal origem dos minerais pesados deste
atual, corpos arenosos paralelos à praia atual; depósito atual.
(ii) situados sobre sedimento argilo-arenosos do A composição de minerais é ilmenita/
Grupo Barreiras; e (iii) depósitos formados na pseudorutilo, óxidos de ferro, zirconita, rutilo
186
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Tabela 7.2 - Reservas de minerais pesados (mt) em concentrações acima de 5 % entre Guaxindiba e Barra do
Itabapoana (COUTO; GOMES; NETO, 1974).
Fração/Reserva Ilmenita Monazita Zirconita/Rutilo Retidos Total
Medida 525.256 31.883 259.859 210.578 1.027.846
Indicada 144.379 8.768 65.230 49.644 268.021
Inferida 88.751 6.284 40.754 34.093 169.882
Total 758.556 46.935 365.843 294.315 1.465.749
Tabela 7.3 - Reservas medidas de minerais pesados para os diversos corpos localizados entre Guaxindiba e
Barra do Itabapoana de acordo com a NUCLEMON (DIAS, SILVA; RODRIGUES, 1997).;
7.2.9.2 - Delta do Rio Paraíba do Sul (São João da indicam que a paleodrenagem do rio Paraíba
Barra) [21° 38’S; 41° 03’W] do Sul teve grande influencia na concentração
Tipo de Depósito e Geologia Básica: Ao longo dos minerais pesados. Estes depósitos minerais
do delta do rio Paraíba do Sul é encontrada estão associados aos cordões litorâneos
áreas anômalas de minerais pesados em arenosos dos terraços marinhos e apresentam
prováveis paleocanais dos distributários deste variações faciológicas complexas de aluviões,
delta (PALMA, 1979). A relação entre as zonas sedimentos de brejos e lagos associados aos
anômalas e a expressão batimétrica do canal cordões litorâneos (VANUZZI et al.,1984). As
187
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
188
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
e Iguape (SP) são encontradas duas ocorrências Tinto) com estimativa de produção de 400 mt/
dispostas obliquamente à plataforma, o que ano de ilmenita, 50 mt/ano de zircão e 20 mt/
sugere uma associação com paleocanais da ano de rutilo quando a mina estiver em plena
plataforma média (Figura 7.1) (KOWSMANN; capacidade de produção (LAGUARDIA, 2014).
COSTA, 1977). O mineral de ETR é monazita. Produção: Previsão de produção anual esperada
Idade da mineralização: Final do Wisconsiniano de 900 mil toneladas de TiO2 pela empresa Rio
e início do Holoceno. Grande Mineração S.A (BIZZI, 2013).
Situação atual: Ocorrência. Recurso estimado: A reserva estimada foi de 10,8
Recurso estimado: Reserva medida na ocorrência Mt de titânio. Não há estimativa para monazita.
de Paranaguá é de 55 ton de monazita com 1,81
7.3 - PLACER FLUVIAIS
% OTR (ORRIS; GRAUCH, 2002).
Os placers fluviais no Brasil apresentam
7.2.12 - Rio Grande do Sul potencial para minerais pesados contendo
7.2.12.1 - São José do Norte (Depósito de Bojuru) monazita e xenotima e outros bens minerais.
[31° 57’07,23”S; 51° 41’ 15,41”W] Estão associados às redes de drenagens que
Tipo de Depósito e Geologia Básica: A monazita cortam complexos alcalinos e em algumas
deste depósito encontra-se localizada próximo regiões em unidades sedimentares contendo
ao Farol de Albardão (PALMA, 1979). estes minerais de interesse, a exemplo do Grupo
Barreiras. No estado da Bahia são conhecidas
O depósito está relacionado com os campos
ocorrências de monazita nos municípios de
de dunas litorâneas com largura de 1 km a
Canavieiras, Maracas, Lençóis e Areias, todas
4 km e 1 m a 5 m de espessura (DARDENNE;
com baixas concentrações, ou seja, sem valor
SHOBBENHAUS, 2001). Estas barreiras
econômico e; no estado do Rio Grande do Norte,
costeiras, formadas por dunas de areia, são
foram descobertas eluviões com monazita em
de natureza transgressiva, formadas pela
Florânia e São Rafael (MACIEL; CRUZ, 1973).
migração no sentido do continente de barreiras
pré-existentes (DILLENBURG, 2005). Estas No Estado do Rio Grande do Sul tem
barreiras ocorrem sobrepondo os sedimentos ocorrências conhecidas de monazita aluvial no
lagunares que acompanham a atual linha de Arroio das Pedras, no município de Encruzilhada
praia (DARDENNE; SHOBBENHAUS, 2001). É um do Sul. O cascalho aluvial foi explorado para
depósito de ilmenita, rutilo e zircônio associado cassiterita e wolframita, sendo que o rejeito
aos sedimentos inconsolidados da planície desta mineração gera concentrações de 20 a 30
Costeira do Rio Grande do Sul. O mineral mais % de monazita, com 1 a 2 % de ThO2 (MACIEL;
abundante é a ilmenita que constitui 55 % do CRUZ, 1973).
concentrado de minerais pesados. 7.3.1 - São Gonçalo do Sapucaí (MG)
Idade da mineralização: Holocênico. Localização: este depósito ocorre nas margens
Situação atual: A empresa Rio Grande Mineração do rio São Gonçalo do Sapucaí, envolvendo os
S.A tem quatro áreas a serem exploradas municípios mineiros de Turvolância, Cordislândia,
no projeto denominado Atlântico Sul (BIZZI, São Gonçalo do Sapucaí, Careaçu, Silvianópolis,
2013). O projeto consiste na junção de antigos São Sebastião da Bela Vista e Pouso Alegre.
projetos Bojuru (Paranapanema) e Retiro (Rio Tipo de Depósito e Geologia Básica: é conhecido
189
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
como depósito de ouro, ilmenita, zirconita e ocorreu em ambiente semi-árido com grande
monazita, contidos em 27,6 Mt de minério movimento de massas, que permitiram o
(LAPIDO-LOUREIRO, 1994). O minério é formado enriquecimento de cassiterita durante formação
por camadas de cascalho e areia dos aluviões de depósito tipo placer fanconglomerático
atuais e recentes. A camada econômica do leito (LAPIDO-LOUREIRO, 1994). Este depósito tipo
tem espessura média de 3,5 m de espessura. placer foi lateritizado que foi retrabalhado e
Enquanto que nas várzeas são encontrados os sedimentos foram redepositados formando
canais econômicos dos aluviões com espessura depósitos estaníferos de baixo teor e não
média de 2,9 m e 3,6 m de estéril, normalmente econômicos. Os principais depósitos secundários
argilas (LAPIDO-LOUREIRO, 1994). As reservas de estanho são de placers aluviais associados
medidas + indicadas dos aluviões perfazem de principalmente, a rios anastomosados. O
34,7 Mt, com 27,6 Mt de cascalho e 6,1 Mt de produto dos depósitos tipo placer é resultante
estéril. do intemperismo e denudação dos granitos
Idade da mineralização: Quaternário estaníferos, granitos Rondonianos. Estes granitos
Situação atual: Depósito de pequeno porte com apresentam corpos mineralizados na forma de
ocorrência de monazita. A Vale é a detentora stockwork de filetes, corpos de greisen, pipes
dos direitos minerários, após a compra da S. A. brechados diapíricos e corpos pegmatíticos
Mineração Trindade (SAMITRI). (LAPIDO-LOUREIRO, 1994). Os principais
minerais de minério de interesse econômico são
Recurso estimado: as reservas em termos
cassiterita e tantalita-columbita (enriquecido
econômicos são: ilmenita 631,8 mt; zirconita
nos rejeitos magnéticos). Outros mineriais de
70,7 mt e monazita 29,3 mt (LAPIDO-LOUREIRO,
interesse econômico podem estar associados
1994).
com a tantalita-columbita, pois se concentram
7.3.2 - Mineração Oriente Novo (RO) no rejeito magnético como zirconita, monazita,
xenotima, ilmenita e rutilo (BETTENCOURT et al.,
Localização: Região Central de Rondônia
1988).
Tipo de Depósito e Geologia Básica: Em Rondônia
Idade da mineralização: Quaternário
são conhecidas diversas áreas com presença
Situação atual: Depósito de pequeno porte.
de monazita e xenotima. A mineralização está
associada com duas sequencias sedimentares Recurso estimado: Não há recurso estimado de
quaternárias ricas em cassiterita. A primeira monazita para estas ocorrências.
190
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
8 - Conclusões
Os ETRs são considerados como elementos de compostos de ETR no país, não nos coloca
portadores do futuro com riscos de oferta nos em vantagem competitiva no mercado, pois a
próximos anos, em relatórios publicados por monazita dos placers marinhos brasileiros é rica
diferentes órgãos americanos e europeus. E no em tório. O que faz com que seja um material
entendimento do Plano Nacional de Mineração complicado para manuseio e descarte, não
2030, elaborado pelo Ministério de Minas e despertando interesse no momento. Além disto,
Energia em 2010, os ETRs são considerados este tipo de depósito geralmente é de pequeno
estratégicos como materiais “portadores do volume e disperso ao longo da costa brasileira.
futuro” (PLANO NACIONAL DE MINERAÇÃO As reservas brasileiras de ETR são relacionadas
2030, 2010). O Projeto Avaliação do Potencial tanto aos depósitos primários quanto
de Terras Raras no Brasil foi desenvolvido como secundários, observa-se que os depósitos
parte das Metas e Investimentos em Geologia primários poderão fornecer tanto ETRL quanto
e Recursos Minerais estabelecidas neste Plano. ETRP. Enquanto que o depósito secundário,
O projeto tem como enfoque a pesquisa de ETR com projeto em desenvolvimento no Granito
(minerais estratégicos) para a avaliação dos Serra Dourada, fornecerá principalmente ETRP,
depósitos e ocorrências existentes e identificação a partir de argilas de adsorção iônica.
de novas áreas potenciais para ETR, com o Os depósitos primários associados aos
objetivo de ampliar as reservas e a capacidade complexos carbonatíticos são os mais
produtiva desses minerais no Brasil. Isto para conhecidos e de maior potencial econômico na
subsidiar o desenvolvimento desta indústria de atualidade, devido a possibilidade de extração
alta tecnologia no médio e em longo prazo. como subproduto de outros commodities que
O Brasil contem reservas e ocorrências de já estão sendo minerados. Dentre os depósitos
ETR distribuídos em todo o território nacional, mais importantes estão Araxá (MG) e Catalão I
com depósitos de mineralizações primárias (GO), que possuem minas de nióbio e fosfato.
(carbonatitos, alcalinas e granitos) e secundárias Outros depósitos com menor potencial para
(enriquecimento residual e supergênico e lavra, pois no momento não há mineração
placers fluvial e marinho). Esta condição coloca associada, são os de Morro do Ferro (MG); Barra
o país, dentro do cenário mundial, como uma de Itapirapuã (SP), Seis Lagos (AM); Maicuru
das maiores potencialidades para estes tipos de (PA), Tapira e Salitre (MG), entre outros. Este tipo
elementos estratégicos da sociedade atual. de depósito é conhecido como ser enriquecido
O depósito secundário tipo placer foi a maior em ETRL, sendo a monazita e bastnaesita os
fonte de monazita, colocando o Brasil entre os principais minerais de minério. O depósito de
maiores produtores mundiais até a década de Araxá é o primeiro com extração de compostos
1950. O Brasil produziu compostos de ETR, a de ETR, que vem sendo realizado pela CBMM
partir desta fonte, até o início dos anos 2000, como subproduto do processamento de nióbio
quando foi encerrado todo o seu processamento (CBMM, 2013). Neste depósito também, a
(SERRA, 2013). O fato de termos produção MBAC Fertilizantes está realizando estudos de
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
2
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
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Nº 02 - Fosfato da Serra da Bodoquena - Mato Grosso do Sul, 2000.
Nº 03 - Estudo do Mercado de Calcário para Fins Agrícolas no Estado de Pernambuco, 2000.
Nº 04 - Mapa de Insumos Minerais para Agricultura e Áreas Potenciais nos Estados de Pernambuco, Alagoas,
Paraíba e Rio Grande do Norte, 2001.
4
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
Nº 05 - Estudo dos Níveis de Necessidade de Calcário nos Estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio
Grande do Norte, 2001.
Nº 06 - Síntese das Necessidades de Calcário para os Solos dos Estados da Bahia e Sergipe, 2001.
Nº 07 - Mapa de Insumos Minerais para Agricultura e Áreas Potenciais de Rondônia, 2001.
Nº 08 - Mapas de Insumos Minerais para Agricultura nos Estados de Amazonas e Roraima, 2001.
Nº 09 - Mapa-Síntese de Jazimentos Minerais Carbonatados dos Estados da Bahia e Sergipe, 2001.
Nº 10 - Insumos Minerais para Agricultura e Áreas Potenciais nos Estados do Pará e Amapá, 2001.
Nº 11 - Síntese dos Jazimentos, Áreas Potenciais e Mercado de Insumos Minerais para Agricultura no Estado
da Bahia, 2001.
Nº 12 - Avaliação de Rochas Calcárias e Fosfatadas para Insumos Agrícolas do Estado de Mato Grosso, 2008.
Nº 13 - Projeto Fosfato Brasil – Parte I, 2011.
Nº 14 - Projeto Fosfato Brasil – Estado de Mato Grosso – Áreas Araras/Serra do Caeté e Planalto da Serra,
2011.
Nº 15 - Projeto Mineralizações Associadas à Plataforma Bambuí no Sudeste do Estado do Tocantins (TO) –
Goiânia, 2012.
Nº 16 – Rochas Carbonáticas do Estado de Rondônia, Porto Velho, 2015.
5
Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil
SÉRIE DIVERSOS
Nº 01 – Potencialidade dos Granulados Marinhos da Plataforma Continental Leste do Ceará – Recife, 2007.
Nº 01 – Diretrizes para Avaliação do Potencial de Potássio, Fosfato, Terras Raras e Lítio no Brasil, Brasilia, 2015
Nº 02 – Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil, Brasilia, 2015.