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ISBN

978-85-7499-348-5

SB.24-X-A-IV
SB.24-V-B-VI
A elaboração do mapa geológico e recursos minerais GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS Programa Geologia do Brasil
das Folhas Quixadá e Itapiúna, na escala 1:100.000, DAS FOLHAS QUIXADÁ – SB.24-V-B-VI
resulta de uma ação do Serviço Geológico do Brasil – E ITAPIÚNA – SB.24-X-A-IV Levantamentos Geológicos Básicos
CPRM, empresa pública vinculada à Secretaria de Escala: 1:100.000
Geologia, Mineração e Transformação Mineral, do

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS


Ministério de Minas e Energia.
ESTADO DO CEARÁ
O projeto foi executado pela Residência de Fortaleza do
DAS FOLHAS QUIXADÁ – SB.24-V-B-VI

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS DA FOLHA QUIXADÁ E ITAPIÚNA


Serviço Geológico do Brasil – CPRM, dentro das
diretrizes do Programa Geologia do Brasil.

A Carta Geológica na escala 1:100.000 – cujo objetivo é


E ITAPIÚNA – SB.24-X-A-IV
o de gerar e difundir informações geológicas e de
recursos minerais para subsidiar o planejamento
territorial e o uso do solo e subsolo, além de induzir o
aumento dos investimentos em prospecção e pesquisa
mineral, com vistas ao desenvolvimento da indústria de
mineração no país.

Esse produto deverá auxiliar o governo do estado e


órgãos de planejamento, no estabelecimento de
políticas públicas de desenvolvimento regional, na
medida em que servirão de base para estudos de
prospecção e exploração mineral e na adoção de ações
estratégicas que visem o desenvolvimento econômico-
social.

Nesse contexto, o conhecimento geológico


sistematizado pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM
também passa a ser considerado como fonte primordial
DEZEMBRO DE 2017
de informação do meio físico e requisitado para os
estudos de zoneamento ecológicoeconômico e de
gestão ambiental.

Escala: 1:100.000
www.cprm.gov.br 2017

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO USUÁRIO - SEUS OUVIDORIA


Tel: 21 2295-5997 – Fax: 21 2295-5897 Tel: 21 2295-4697 – Fax: 21 2295-0495
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1:100.000

SECRETARIA DE
GEOLOGIA, MINERAÇÃO MINISTÉRIO DE
E TRANSFORMAÇÃO MINERAL MINAS E ENERGIA
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL
SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM
DIRETORIA DE GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
RESIDÊNCIA DE FORTALEZA

Programa Geologia do Brasil

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS DAS


FOLHAS QUIXADÁ (SB.24-V-B-IV) E
ITAPIÚNA (SB.24-X-A-IV)
Escala 1:100.000

Felipe Grandjean da Costa & Edney Smith de Moraes Palheta (Org.)

ESTADO DO CEARÁ

FORTALEZA
2017
PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL - PGB
INTEGRAÇÃO, ATUALIZAÇÃO E DIFUSÃO DE DADOS DA GEOLOGIA DO BRASIL

CPRM – RESIDÊNCIA DE FORTALEZA


AV. ANTÔNIO SALES, 1418 – JOAQUIM TÁVORA
FORTALEZA – CE – 60135-101
FAX: (85) 3878.0240
TEL: (85) 3878.0200
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C837g Costa, Felipe Grandjean da.


Geologia e recursos minerais das folhas Quixadá - SB.24-V-B-IV e Itapiúna – SB.24-X-A-IV
: estado do Ceará. Escala 1:100.000. / Felipe Grandjean da Costa, Edney Smith de Moraes
Palheta --- Fortaleza: CPRM, 2017.
133p.: il.; + mapa (disponível em meio digital)
Programa Geologia do Brasil - PGB. Integração e Difusão de Dados da Geologia do Brasil.
ISBN: 978-85-7499-348-5

1. Geologia Regional - Ceará. 2. Recursos Minerais. 3. Estratigrafia. 4. Geotectônica. 5.


Petrologia. 6. Prospecção Geoquímica. I. Palheta, Edney Smith de Moraes. II. Título.
CDD 558.131

Direitos desta edição: Serviço Geológico do Brasil – CPRM.


É permitida a reprodução desta publicação desde que mencionada a fonte.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL
SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM
DIRETORIA DE GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
RESIDÊNCIA DE FORTALEZA

Programa Geologia do Brasil

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS DA FOLHA BANABUIÚ


ESTADO DO CEARÁ
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
FERNANDO BEZERRA COELHO
Ministro de Estado

SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO ETRANSFORMAÇÃO MINERAL


VICENTE HUMBERTO LÔBO CRUZ
Secretário

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM


ESTEVES PEDRO COLNAGO
Diretor Presidente
JOSÉ LEONARDO SILVA ANDRIOTTI
Diretor de Geologia e Recursos Minerais
ANTONIO CARLOS BACELAR NUNES
Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial
ESTEVES PEDRO COLNAGO
Diretor de Relações Institucionais e Desenvolvimento
JULIANO DE SOUZA OLIVEIRA
Diretor de Administração e Finanças
LÚCIA TRAVASSOS DA ROSA COSTA
Chefe do Departamento de Geologia
MARCELO ESTEVES ALMEIDA
Chefe do Departamento de Recursos Minerais
MARCO TÚLIO NAVES DE CARVALHO
Chefe do Departamento de Relações Institucionais e Divulgação
EDILTON JOSÉ DOS SANTOS
Chefe da Divisão de Geologia Básica
HIRAN SILVA DIAS
Chefe da Divisão de Geoprocessamento
DENISE PIMENTEL ASSIS
Chefe da Divisão de Marketing e Divulgação

RESIDÊNCIA DE FORTALEZA
DARLAN FILGUEIRA MACIEL
Chefe da Residência
ANTÔNIO MAURÍLIO VASCONCELOS
Coordenador Executivo da DGM
EDNEY SMITH DE MORAES PALHETA
Assistente de Produção do DGM
FRANCISCO EDSON M. GOMES
Assistente de Relações Institucionais e Desenvolvimento
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL
SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM
DIRETORIA DE GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
RESIDÊNCIA DE FORTALEZA

CRÉDITOS DE AUTORIA DA CARTOGRAFIA GEOLÓGICA


Felipe Grandjean da Costa e Edney Smith de Moraes Palheta.

CRÉDITOS DE AUTORIA DO RELATÓRIO


1 - Introdução Edney Smith de Moraes Palheta
Felipe Grandjean da Costa 6 - Geocronologia
Edney Smith de Moraes Palheta Felipe Grandjean da Costa
2 - Geologia Regional Edney Smith de Moraes Palheta
Edney Smith de Moraes Palheta 7 - Geologia Estrutural
Felipe Grandjean da Costa Edney Smith de Moraes Palheta
3 - Geofísica Felipe Grandjean da Costa
Tércyo R. Gonçalves Pinéo 8 - Recursos Minerais
4 - Unidades Litoestratigráficas Edney Smith de Moraes Palheta
Edney Smith de Moraes Palheta Felipe Grandjean da Costa
Felipe Grandjean da Costa 9 - Conclusões e Recomendações
5 - Litogeoquímica Felipe Grandjean da Costa
Felipe Grandjean da Costa Edney Smith de Moraes Palheta

COORDENADOR EXECUTIVO DA DGM


Antônio Maurílio Vasconcelos

APOIO TÉCNICO
Iaponira Paiva Gomes (Petrografia - REFO)
Joseneusa Brilhante Rodrigues (Geocronologia - SEDE)
Afonso R. Almeida (Petrografia - UFC)
Íris Pereira Gomes (Geobank – REFO)
Vicente Calixto Duarte Neto (Técnico em Mineração - REFO)
Antônio Celso R. de Melo (Técnico em Mineração - REFO)
Raimundo Anunciato de Carvalho (Técnico em Geologia - REFO)
Francisca Giovania F. Barros (Bibliotecária - REFO)
Guilherme Marques e Souza (Técnico em Geoprocessamento – REFO)

EDIÇÃO DO PRODUTO DIGITAL


Diretoria de Relações Institucionais e Desenvolvimento
Departamento de Relações Institucionais e Divulgação – DERID – Marco Túlio Naves de Carvalho
Divisão de Marketing e Divulgação – DIMARK – Denise Pimentel Assis
Divisão de Geoprocessamento – DIGEOP - Hiran Silva Dias
Editoração - Eriveldo da Silva Mendonça - REFO
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

APRESENTAÇÃO

O conhecimento geológico do território brasileiro constitui um instrumento


indispensável para o planejamento e a implementação das políticas públicas
voltadas para o desenvolvimento sustentável dos recursos minerais, petrolíferos e
hídricos subterrâneos do país e, simultaneamente, fonte de dados imprescindível
para o conhecimento do meio físico tendo em vista a execução de estudos de
zoneamento ecológico-econômico e de gestão ambiental do território nacional.
É com esta premissa que a Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação
Mineral do Ministério de Minas e Energia, através da CPRM - Serviço Geológico
do Brasil, tem a grata satisfação de disponibilizar à comunidade técnico-
científica, aos empresários do setor mineral e à sociedade em geral os resultados
alcançados pelo PROJETO FOLHAS QUIXADÁ - SB.24-V-B-IV e ITAPIÚNA - SB.24-
X-A-IV . Executado pela Residência de Fortaleza da CPRM - Serviço Geológico
do Brasil, o projeto apresenta o estado da arte do conhecimento geológico e de
recursos minerais na escala 1:100.000 de uma área de 3.000 km2 abrangendo
áreas dos municípios de Quixadá, Choró, Itapiúna, Ibaretama e Ibicuitinga, além
de porções dos municípios de Madalena, Canindé, Quixeramobim, Capistrano,
Baturité, Aracoiaba, Ocara e Morada Nova, localizados no estado do Ceará.
Na preparação deste produto foram compilados e integrados todos os dados
e informações geológicas, tectônicas, geoquímicas, geofísicas e de recursos
minerais disponíveis na região abrangida pela folha. Estes dados foram
complementados com a interpretação de fotografias aéreas e de imagens de
satélite, seguida de intensa programação de trabalhos de coleta de dados
de campo e da elaboração de um texto explicativo. Todos estes dados estão
hospedados em robusto e moderno banco de dados (GEOBANK) da CPRM.
Este produto é mais uma ação do PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL que
vem desenvolvendo trabalhos em todas as regiões do país e cujo objetivo
é proporcionar o incremento do conhecimento geológico e hidrogeológico
do território brasileiro, como parte do PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO
CRESCIMENTO - PAC.
Com mais este lançamento, a CPRM - Serviço Geológico do Brasil dá continuidade
à política governamental de atualizar o conhecimento geológico do país, seja
através dos levantamentos geológicos básicos nas escalas 1:250.000 e 1:100.000
e dos levantamentos aerogeofísicos de alta resolução, com linhas de vôo
espaçadas de 500m, ou ainda pela integração da geologia e dos recursos minerais
em mapas dos Estados da Federação nas escalas 1:500.000 e 1:1.000.000,
contribuindo desta forma com o resgate e a caracterização do conhecimento
geológico como uma obra de infra-estrutura de fundamental importância para
o desenvolvimento regional e importante subsídio básico à formulação de
políticas públicas e de apoio à tomada de decisão dos investimentos.

ESTEVES PEDRO COLNAGO JOSÉ LEONARDO SILVA ANDRIOTTI


Diretor-Presidente Diretor de Geologia e Recursos Minerais
Serviço Geológico do Brasil - CPRM Serviço Geológico do Brasil - CPRM

V
Programa Geologia do Brasil

RESUMO

As folhas Quixadá (SB.24-V-B-VI) e Itapiúna (SB.24-X-A-IV), em escala 1:100.000,


são delimitadas, respectivamente, pelas coordenadas geográficas 4°30’S -
5°00’S/39°30’W - 39°00’W e 4°30’S - 5°00’S/38°30’W - 39°00’W. Situam-se na
região central do Estado do Ceará, sendo Quixadá e Itapiúna as principais cidades
da área. No contexto geológico regional, a áreas das folhas inserem-se no Domínio
Ceará Central, norte da Província Borborema. A litoestratigrafia proposta para a
área mapeada compreende: (1) Complexo Cruzeta representado por ortognaisses
cinzentos migmatíticos de pouca extensão aflorante; (2) Complexo Jaguaretama
ocorre apenas na Folha Itapiúna, correspondendo a diatexitos e metatexitos
predominantemente paraderivados; (3) Complexo Algodões caracteriza-se por
uma sequência plutono-vulcano-sedimentar metamorfizada em fácies xisto-
verde a anfibolito alto, localmente migmatizadas. Composta essencialmente de
anfibolitos, paragnaisses arcósio-grauvaquianos, quartzitos, metaconglomerados e
metandesitos. Na litogeoquímica dos anfibolitos foi possível distinguir três grupos
principais: basaltos tipos N-MORB e E-MORB e outros dois, com componente de
subducção. Análises em zircões detríticos por U-Pb (LA-ICPMS) no “quartzito
Choró” revelaram apenas zircões paleoproterozoicos, com pico entre 2,2-2,1 Ga; (4)
Ortognaisses Cipó são de composição tonalítica e quimicamente similar às suítes
TTG. Para estes ortognaisses Cipó, datações U-Pb em zircão (LA-ICPMS) revelaram
idades de 2180 ± 15 Ma e 2190 ± 6 Ma; (5) Complexo São José da Macaoca
representa uma associação de orto- e paragnaisses migmatíticos, constituindo o
embasamento paleoproterozoico das sequencias supracrustais do Complexo Ceará;
(6) Ortognaisse Serra da Palha são ortognaisses de composição granítica, de alta-
sílica com tendência cálcio-alcalina de alto-K. Uma amostra deste ortognaisse
foi datada e revelou idade de 2150 ± 16 Ma (U-Pb em zircão por LA-ICPMS); (7)
Ortognaisses Madalena são de composição quartzo-diorítica, sendo pouco
deformados e raramente migmatizados. Quimicamente são rochas intermediárias,
com afinidade para séries cálcio-alcalina de médio-K; (8) Formação Santarém
(Grupo Orós) representa sequência predominantemente metapelítica, em fácies
xisto-verde a anfibolito alto. Análise em zircões detríticos (U-Pb LA-ICPMS) de
micaxisto indicou uma população mais nova em torno de 1,7 Ga, interpretada como
idade máxima de deposição dos sedimentos; (9) O Complexo Ceará corresponde
a uma sequência de rochas supracrustais com predomínio de biotita xistos com
± granada, ± sillimanita e abundante ocorrência de migmatitos paraderivados. As
análises em zircões detríticos (U-Pb LA-ICPMS) revelaram idades neoproterozoicas
para as unidades Independência e Quixeramobim, ambas com população de zircões
mais jovens entre 800-700 Ma (idade máxima da deposição); (10) leucogranitos
Itapiúna e Ibicuitinga representam unidades graníticas do tipo S nas proximidades
das cidades homônimas; (9) granitoides neoproterozoicos das folhas Quixadá e
Itapiúna, destacam-se em dois principais grupos: Monzonitos Quixadá, Serrote
Feio, Suíte Pedra Aguda, Granodiorito Veados e Granitoide Boqueirão, com
predomínio de composição intermediária, com feições de misturas com magmas
máficos, sugerindo uma componente mantélica no magmatismo. Granitoides
Serra Azul e Juatama são tipicamente granitos (sensu strictu) com características
químicas que sugerem uma fonte crustal; (11) magmatismo Rio Ceará Mirim são
diques máficos compostos por gabros e diabásios referentes à abertura do Oceano
Atlântico, em torno de 110-140 Ma; (12) Os depósitos cenozoicos são formados
pelos sedimentos continentais do Grupo Barreiras, Depósitos Colúvio-Aluviais

VI
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

compostos por sedimentos inconsolidados, geralmente arenosos, e Depósitos


Aluvionares constituídos principalmente de areias quartzosas encontradas ao longo
dos principais rios. O arcabouço estrutural das duas folhas é sintetizado em duas
principais fases deformacionais de idade brasiliana: D1 relativa à tectônica tangencial
com transporte de massa para NW, e D1 atribuída à tectônica transcorrente de
direção NE-SW, de cinemática predominantemente dextral, com áreas localmente
transpressivas. Os bens minerais da área são representados por ocorrências de
grafita, manganês, talco, calcário, minerais de pegmatitos, urânio/fosfato, areia,
argila, brita e rocha ornamental.

VII
Programa Geologia do Brasil

ABSTRACT

The Quixadá (SB.24-VB-VI) and Itapiúna (SB.24-XA-IV) sheets, 1:100,000 scale, limited
respectively by 4°30’S - 5°00’S/39°30’W - 39°00’W and 4°30’S - 5°00’S/38°30’W -
39°00’W geographic coordinates. The area is located in the central part of the Ceará
State, with Quixadá and Itapiúna as the main cities enclose. In terms of regional
geology, the area inserts in the Ceará Central Domain, north Province Borborema.
The proposed lithostratigraphy comprises: (1) Cruzeta Complex represented by
gray migmatitic orthogneisses, with little occurrence of outcrops; (2) Jaguaretama
Complex occurs only in the Itapiúna sheet, corresponding mainly of paraderived
diatexites and metatexites; (3) Algodões Complex is a volcano-sedimentary sequence,
metamorphosed to green-schist and amphibolite facies, rarely migmatized. It consists
of amphibolites, paragneisses, quartzites, metaconglomerates and metandesites.
The amphibolites were divided into three geochemical groups: one with N-MORB
and E-MORB affinity, and two groups with a subduction component. U-Pb (LA-ICPMS)
zircon ages of the “Choró quartzite” revealed only Paleoproterozoic zircons, peaking
between 2.2-2.1 Ga, (4) Cipó orthogneisses are mainly of tonalitic composition,
with geochemical signatures similar to TTG suites. For the Cipó orthogneisses, we
obtained U-Pb (LA-ICPMS) zircon ages of 2180 ± 15 Ma and 2190 ± 6 Ma; (5) São
José da Macaoca Complex represents an association of migmatized ortho- and
paragneisses, constituting the Paleoproterozoic basement for supracrustal of the
Ceará Complex; (6) Serra da Palha orthogneisses are of granitic composition, with
high-silica content, and a high-K calc-alkaline trend. One sample of it yielded a U-Pb
(LA-ICPMS) age of 2150 ± 16 Ma; (7) Madalena orthogneisses are represented by
quartz-diorites, slightly deformed and rarely migmatized. Geochemical analyses
reveled a medium-K calc-alkaline affinity; (8) Santarém Formation (Orós Group) is
a volcano-sedimentary sequence metamorphosed in green-schist to amphibolite
facies. The U-Pb (LA-ICPMS) zircon ages of mica schist yielded a younger population
around 1.7 Ga; (9) Ceará Complex corresponds to a supracrustal sequence,
predominantly represented by biotite schists with ± garnet ± sillimanite and
abundant occurrence of paraderived migmatites. U-Pb (LA-ICPMS) zircons ages
for Independence and Quixeramobim units, yielded younger zircons population
between 800-700 Ma; (10) Itapiúna and Ibicuitinga leucogranites represent S-type
granitic units, nearby the homonymous towns; (9) Neoproterozoic granitoids of the
Quixadá and Itapiúna sheets, highlight two main groups: the Quixadá and Serrote
Feio monzonites, Pedra Aguda Suite, Veados Granodiorite and the Boqueirão
Granitoid, all with magmas mingling features, and the Serra Azul and Juatama
granitoids, being typically granites; (11) Rio Ceará Mirim Magmatism represent
mafic dikes composed of gabbros and diabases, related to Atlantic Ocean opening
(110-140 Ma); (12) The Cenozoic deposits are formed by continental sediments of
the Barreiras Group, Colluvium-Alluvial deposits and Alluvial deposits. The two main
phases of deformation are: D1 relative to tangential tectonic, with mass transport
toward NW; and D2 transcurrent tectonics, with NE-SW strike, dextral kinematics,
with locally transpressive areas. The mineral resources of the area are represented
by graphite, manganese, talc, limestone, pegmatite minerals, uranium/phosphate,
sand, clay, gravel and dimension stones.

VIII
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO.................................................................................. 13
2 – CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL.................................................. 15
3 – GEOFÍSICA DE PROSPECÇÃO............................................................ 19
3.1 - AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO DOS DADOS.................................................. 19
3.2 - INTERPRETAÇÃO DOS DADOS......................................................................... 20
3.2.1. Magnetometria.......................................................................................... 20
3.2.2. Gamaespectrometria................................................................................. 22
4 – UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS................................................... 25
4.1 - COMPLEXO CRUZETA (INDIVISO) (A4cz)..............................................................
25
4.2 - COMPLEXO JAGUARETAMA (PP2j)................................................................... 26
4.3 - COMPLEXO ALGODÕES (PP2al)....................................................................... 28
4.3.1. Anfibolitos (PP2βal).................................................................................... 28
4.3.2. Meta-máfica ultramáficas (PP2δmual) ...................................................... 29
4.3.3. Paragnaisses (PP2al) .................................................................................. 29
4.3.4. Quartzitos (PP2alq).................................................................................... 30
4.3.5. Metandesitos (PP2λal)............................................................................... 31
4.4 - ORTOGNAISSE CIPÓ (PP2γcip)......................................................................... 33
4.5 - ORTOGNAISSE MADALENA (PP2γma).............................................................. 35
4.6 - COMPLEXO SÃO JOSÉ DA MACAOCA............................................................... 36
4.6.1. Ortognaisses tonalíticos (PP2γsjmt)........................................................... 36
4.6.2. Ortognaisses Graníticos (PP2γsjmg)........................................................... 37
4.6.3. Paragnaisses Migmatíticos (PP2sjmp)........................................................ 38
4.7 - ORTOGNAISSE SERRA DA PALHA (PRγsp)......................................................... 39
4.8 - COMPLEXO CANINDÉ DO CEARÁ CENTRAL...................................................... 40
4.8.1. Unidade Canindé do Ceará Central - Paraderivadas (PRcn1)..................... 40
4.8.2. Complexo Canindé do Ceará Central - Ortognaisses (PRcn2)..................... 42
4.9 - GRUPO ORÓS ................................................................................................. 42
4.9.1. Formação Santarém (PP4os)...................................................................... 43
4.10 - COMPLEXO CEARÁ........................................................................................ 45
4.10.1. Unidade Quixeramobim (PRcq)................................................................ 45
4.10.2. Unidade Independência (NP2ci).............................................................. 46
4.11 - LEUCOGRANITO IBICUITINGA (PRγlib)........................................................... 48
4.12 - LEUCOGRANITO ITAPIÚNA (PRγli)................................................................. 49
4.13 - UNIDADE JUATAMA (NP3j)............................................................................ 50
4.14 - MONZONITO QUIXADÁ (NP3γq).................................................................... 51
4.15 - MONZONITO SERROTE FEIO (PRγsf).............................................................. 53
4.16 - SUÍTE PEDRA AGUDA (NP3δ2pag)................................................................. 53
4.17 - GRANODIORITO VEADOS (NP3γve)............................................................... 54

IX
Programa Geologia do Brasil

4.18 - GRANITO SERRA AZUL (NP3γsa).................................................................... 55


4.19 - GRANITOIDE BOQUEIRÃO (NP3γb)................................................................ 56
4.20 - DIQUES MÁFICOS RIO CEARÁ-MIRIM (JKβc).................................................. 57
4.21 - GRUPO BARREIRAS (ENb)............................................................................. 58
4.22 - DEPÓSITOS COLÚVIO-ELUVIAIS (N23c).......................................................... 59
4.23 - DEPÓSITOS ALUVIONARES (Q2a)................................................................... 59
5 – LITOGEOQUÍMICA E PETROLOGIA................................................... 60
5.1 - ANFIBOLITOS E METAVULCÂNICAS FÉLSICAS/INTERMEDIÁRIAS - COMPLEXO ALGODÕES.60
5.2 - ORTOGNAISSES PALEOPROTEROZOICOS.......................................................... 67
5.3 - ORTOGNAISSES NEOPROTEROZOICOS............................................................. 79
5.4 - LEUCOGRANITO ITAPIÚNA.............................................................................. 87
6 – GEOCRONOLOGIA........................................................................... 90
6.1 - IDADES U-Pb (LA-ICPMS) EM ZIRCÕES DETRÍTICOS.......................................... 90
6.1.1. Quartzo xisto – Formação Santarém, Grupo Orós...................................... 90
6.1.2. Quartzito Choró – Complexo Algodões...................................................... 91
6.1.3. Paragnaisse migmatítico, Unidade Independência (Complexo Ceará)....... 92
6.1.4. Paragnaisse migmatítico, Unidade Quixeramobim (Complexo Ceará)....... 93
6.1.5. Paragnaisse migmatítico do Complexo Canindé do Ceará Central............. 95
6.2 - IDADES U-Pb (LA-ICPMS) EM ORTOGNAISSES.................................................. 96
6.2.1. Ortognaisses Cipó (Serra do Veríssimo)..................................................... 96
6.2.2. Ortognaisses Cipó (Serra da Conceição) .................................................... 97
6.2.3. Ortognaisses Serra da Palha....................................................................... 98
7 – GEOLOGIA ESTRUTURAL E TECTÔNICA............................................ 99
7.1 - DOMÍNIO 1..................................................................................................... 99
7.2 - DOMÍNIO 2..................................................................................................... 99
7.3 - DOMÍNIO 3................................................................................................... 102
7.4 - QUADRO EVOLUTIVO ESTRUTURAL PRÉ-CAMBRIANO................................... 107
7.5 - ESTRUTURA RÚPTIL...................................................................................... 110
8 – RECURSOS MINERAIS.................................................................... 112
8.1 - ROCHAS E MINERAIS INDUSTRIAIS ............................................................... 112
8.1.1. Grafita...................................................................................................... 112
8.1.2. Manganês................................................................................................. 115
8.1.3. Talco......................................................................................................... 116
8.1.4. Calcário.................................................................................................... 117
8.1.5. Pegmatitos............................................................................................... 118
8.1.6. Urânio e fosfato........................................................................................ 118
8.2 - MATERIAIS DE USO NA CONSTRUÇÃO CIVIL.................................................. 119
8.2.1. Areia......................................................................................................... 119
8.2.2. Argila........................................................................................................ 119
8.2.3. Pedra de cantaria e brita.......................................................................... 120
8.2.4. Rocha ornamental.................................................................................... 120

X
9 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................ 122
9.1 - CONCLUSÕES................................................................................................ 122
9.2 - RECOMENDAÇÕES........................................................................................ 125
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 126
GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS
DAS FOLHAS QUIXADÁ E ITAPIÚNA

ESTADO DO CEARÁ
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

1 – INTRODUÇÃO
As folhas Quixadá (SB.24-V-B-VI) Madalena, Canindé, Quixeramobim, Capistrano,
e Itapiúna (SB.24-X-A-IV) são delimitadas, Baturité, Aracoiaba, Ocara e Morada Nova.
respectivamente, pelas coordenadas geográficas Nesta região Quixadá é a cidade que apresenta a
4°30’S - 5°00’S/39°30’W - 39°00’W e 4°30’S melhor estrutura hoteleira. A partir de Fortaleza
- 5°00’S/38°30’W - 39°00’W. Localizam-se na o acesso pode ser feito, para as duas folhas,
região central do Estado do Ceará, nordeste do pelas rodovias BR-116, até Triângulo, e depois
Brasil (Fig. 1.1). Na área das folhas destacam-se as a CE-359. Outra opção de acesso é diretamente
cidades de Quixadá, Choró, Itapiúna, Ibaretama de Fortaleza para Quixadá, via Itapiúna, pela
e Ibicuitinga. Porém, a área abrange também rodovia CE-060, e também pelas rodovias BR-
trechos sob a jurisdição dos municípios de 020 e CE-456 até Quixadá (Fig. 1.1).

Figura 1.1. Localização das folhas Quixadá e Itapiúna e principais vias de acesso.

O clima é semi-árido, com temperaturas principais são os rios Choró, Castro, Cangati,
médias, variando de 26 a 28°C, com pluviosidades Pirangi e Sitiá, tendo como principais açudes o
irregulares, concentrando-se entre os meses de Cedro (em Quixadá), Choró-Limão (Choró) e o
feverreiro e abril, que podem ser menor que 500 Castro (em Itapiúna).
mm, e com vegetação típica de caatinga. A base econômica da região compreende
A região encontra-se na unidade a agropecuária, geralmente, de subsistência.
geomorfológica Depressão Sertanenja, com A principal economia é representada pelo
alguns morros residuais (inselbergs), bem município de Quixadá, compreendendo o
conhecidos como monólitos (formações setor terciário (comércios e serviços), pecuária
rochosas isoladas), e áreas serranas, com (avicultura, bovinocultura, ovinocultura e
destaque para as serras do Estevão, da caprinocultura), além de pequenas indústrias
Conceição e Azul (Fig. 1.2). Os monólitos fazem alimentícias, tecelagens, calçadistas e uma
parte do “Monumento Natural dos Monólitos usina de biodiesel. A região tem destaque na
de Quixadá”, uma área de preservação e mineração dado pela exploração de manganês
conservação ambiental. As drenagens regionais no município de Ocara (Folha Itapiúna).

13
Programa Geologia do Brasil

Figura 1.2. Imagem digital de terreno (SRTM), integrando as folhas Quixadá e Itapiúna, com as principais feições de
relevo que compõe a região, a Depressão Sertaneja (A: área arrasada – imagem e foto), as serras (B: imagem e foto) e os
monólitos de Quixadá (área delimitada por linha tracejada preta na imagem).

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

2 – CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL


A área das folhas Itapiúna e Quixadá Vários pesquisadores propuserem
(1:100.000) está inserida na Província Borborema diferentes modelos de compartimentação
(ALMEIDA et al., 1981), cuja superfície abrange tectônica para Província Borborema baseados
cerca de 400.000km2 do Nordeste brasileiro, em subdivisões de domínios estruturais, terrenos
e pertence à Plataforma Sul-Americana. A ou faixas de dobramento (ex: SANTOS e BRITO
Província Borborema (Fig. 2.1) representa parte NEVES, 1984; JARDIM DE SÁ, 1994; FERREIRA et
de uma ampla colisão continental pan-africana- al., 1997; SANTOS, 1996; FETTER et al., 2000).
brasiliana do Neoproterozoico, consequência Subdivisões regionais da província adotam três
da aglutinação entre os crátons São Luís-Oeste grandes subprovíncias: Setentrional, Transversal
Africano e São Francisco-Congo, ao redor e Meridional (Fig. 2.1). A Transversal está limitada
de 600 Ma. A Província Borborema é uma pelas zonas de cisalhamento Patos, a norte e
unidade geotectônica integrante do Gondwana Pernambuco a sul; a Meridional situa-se entre o
Ocidental (VAN SCHMUS e BRITO NEVES, 2002), Cráton São Francisco e a zona de cisalhamento
e tem como uma das principais características Pernambuco; e a Setentrional, localizada acima
estruturais uma extensa rede de cisalhamento da zona de cisalhamento Patos, na qual, a área
transcorrente com magmatismo associado. alvo está localizada.

Figura 2.1. A: figura adaptada de Schobbenhaus et al (1984). B: subdivisão da Província Borborema (modificado de
TROMPETTE, 1994) com localização das folhas Itapiúna e Quixadá (1:100.000). Subprovíncia Setentrional baseado na
subdivisão apresentada em Delgado et al. (2003).

A Subprovíncia Setentrional tem como Neste domínio também ocorrem supracrustais


subdivisões tectônicas os seguintes domínios da Faixa Ubajara-Martinópole, depositadas a
(Fig. 2.1): Noroeste do Ceará ou Médio Coreaú, partir de 0,81 Ga (FETTER et al., 1997), granitos
Ceará Central, Jaguaribeano e Rio Grande do brasilianos (p.ex.: Meruoca e Mucambo de 0,53
Norte, descritas a seguir: Ga), e a sequência molássica vulcanossedimentar
Domínio Noroeste do Ceará - situa-se a brasiliana do Grupo Jaibaras. Dados
oeste da zona de cisalhamento Transbrasiliana, geocronológicos e isotópicos, U-Pb e Sm-Nd,
cujo embasamento é composto pelo Complexo revelaram que as rochas do embasamento
Granja, que inclui ortognaisses de afinidade TTG, representariam crosta juvenil formada entre
granulitos orto-paraderivados e migmatitos. 2,3 - 2,35 Ga, posteriormente afetadas pelo
15
Programa Geologia do Brasil

Evento Brasiliano entre 0,55 - 0,58 Ga (SANTOS al., 2008; ALMEIDA et al., 2008). Com base em
et al., 2008). Granitoides pós-colisionais neste imagens gamaespectrométricas e compilação
domínio, são representados principalmente de dados geocronológicos, Pinéo e Costa (2013)
pelos plutons Mucambo e Meruoca, que estão delimitaram o núcleo arqueano, restrito na
intimamente ligados a movimentação da zona região de Pedra Branca e Mombaça.
de cisalhamento Sobral-Pedro-II, e apresentam Segmentos crustais de idade
idades entre 540-530 Ma (ex: ARCHANJO et al., paleoproterozoica ocorrem ao redor deste núcleo
2009; SANTOS et al., 2013). arqueano (Complexo Cruzeta), representados
Domínio Ceará Central - compreende a principalmente pela Suíte Madalena e a
região entre as zonas de cisalhamento Sobral- Unidade Algodões, com idades entre 2,1-2,2 Ga
Pedro II e a Orós-Aiuaba, e é limitado a oeste (MARTINS, 2000; CASTRO, 2004; ARTHAUD et
pela Bacia do Parnaíba. Este domínio engloba al., 2008). A primeira consiste de uma associação
o “Maciço arqueano de Tróia” (BRITO NEVES, de rochas dioríticas, com idades de 2130-2150
1972), representado pelo Complexo Cruzeta Ma (CASTRO, 2004) intrusivas no Complexo
(unidades Tróia, Pedra Branca e Mombaça); Cruzeta (núcleo arqueano) e na Unidade
que por sua vez é “envelopado” por sequências Algodões. A Unidade Algodões é composta por
paleoproterozoicas, representadas pelo uma sequência metavulcanossedimentar, com
Complexo São José da Macaoca (TORRES et abundante presença de anfibolitos, associados
al., 2007), Suíte Madalena e Unidade Algodões a ortognaisses de composições tonalíticas
(MARTINS, 2000; MARTINS et al., 2009; CASTRO, (adakitos) (MARTINS et al., 2009). Segundo estes
2004; ARTHAUD et al., 2008). Associadas a autores, os anfibolitos da Unidade Algodões
estas litologias (arqueana/paleoproterozoica) revelaram idade isocrônica (Sm-Nd rocha total)
encontram-se sequências supracrustais de 2236 ± 55 Ma, e afinidade química para
proterozoicas dos complexos Canidé e Ceará basaltos de platô oceânico e/ou retro-arco.
(unidades Independência, Quixeramobim e As rochas supracrustais presentes no
Arneiroz), Unidade Acopiara e Grupo Novo Domínio Ceará Central são representadas
Oriente (CAVALCANTE et al., 2003). Também principalmente pelas sequências
fazem parte do domínio Ceará Central um metassedimentares do Complexo Ceará,
extenso magmatismo, representado pelo geralmente metamorfizadas em fácies
Complexo Tamboril-Santa Quitéria (620-640 anfibolito alto, contendo porções fortemente
Ma) (ex: FETTER et al., 2003), granitoies pós- migmatizadas (CAVALCANTE et al., 2003). Para a
colisionais diversos (580-530 Ma), geralmente Unidade Independência, dados geocronológicos
associados a zonas de cisalhamento de alto recentes, obtidos em zircões detríticos
ângulo (NOGUEIRA, 2004; ALMEIDA et al., 2008) apresentaram populações de idades entre 0,75-
e pulsos tardios (anorogênicos ?) (460-480 Ma) 0,80 Ga (ARTHAUD, 2007; ARAÚJO et al., 2012).
(TEIXEIRA, 2005; CASTRO et al., 2009). Segundo Arthaud (2007), estas idades foram
Segundo Fetter (1999), o Bloco Tróia- interpretadas como período de rifteamento
Pedra Branca (Complexo Cruzeta) é constituído responsável pelo afinamento do embasamento
por uma associação de ortognaisses cinzentos e pela sedimentação dos sedimentos do
de composições tonalítica e granodiorítica, Complexo Ceará, que representaria uma
típica de terrenos TTG. Estudos geocronológicos sequência plataformal de margem passiva.
revelaram idades arqueanas, entre 2,7 - 2,8 Ga (U- No entanto, alternativamente, Araújo et al.
Pb), com TDMS entre 2,7-3,0 Ga (FETTER, 1999). (2012) propuseram para esta sedimentação
Entretanto, idades-modelo paleoproterozoicas um ambiente sin-orogênico, com participação
foram registradas no Complexo Cruzeta de detritos provenientes de arcos magmáticos
(ARTHAUD et al., 2008). Silva et al. (2002), em entre 800-700 Ma. Recentemente, Kalsbeek et
metatonalito do Complexo Cruzeta, obtiveram al. (2013) apresentou idades U-Pb em zircões
idade em zircão (U-Pb SHIRIMP) de 3,27 Ga. detríticos de sequências supracrustais no NE
Em relação a esses zircões foi sugerido que do Brasil (Complexo Ceará e Grupo Seridó) e
poderiam ser herdados, indicando envolvimento NW da África, sugerindo a presença de duas
de crosta arqueana mais antiga (ARTHAUD et principais sequências de idade neoproterozoica,
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

sendo uma com deposição entre 1100-950 Ma zircão destes granitoides revelaram cristalizações
(Early Neoproterozoic sequence) e outra entre entre 0,56 - 0,58 Ga (NOGUEIRA, 2004). Os
700-650 Ma (Late Neoproterozoic sequence). granitos pós-brasilianos (ou anorogênicos?)
Para as supracrustais de Acopiara, Palheta et al. são representados pelos corpos Pajé, de 0,46
(2010) sugeriram, a partir de idades U-Pb em Ga (TEIXEIRA, 2005), Complexo Anelar Quintas
zircões detríticos, uma sequência pré-colisional (também conhecido como Granito Taperuaba),
neproterozoica, cuja bacia evoluiu entre 1000- de 0,47 - 0,49 Ga (CASTRO et al., 2009), assim
620 Ma. como os plutons de Morrinho e São Paulo que
O Complexo Tamboril-Santa Quitéria, também são representantes desse magmatismo.
denominado informalmente de “Arco magmático Domínio Jaguaribeano – situado entre
de Santa Quitéria” (FETTER et al., 2003), as zonas de cisalhamento Orós-Aiuaba e Porto
representa uma associação ígnea/anatética com Alegre, abrange a Faixa Orós-Jaguaribe e o
idades entre 650-610 Ma (ex: FETTER et al., 2003; Complexo Jaguaretama. A faixa compõe duas
CASTRO, 2004; COSTA et al., 2013). Apresentam- unidades supracrustais, a Orós, a oeste, na
se geralmente sin-tectonicos a foliações de baixo direção N-S e a Jaguaribe, a leste, na direção
ângulo, apresentando deformações sin a tardi NNE-SSW. A faixa no setor sul estrutura-se na
magmáticas (ARTHAUD et al., 2008). Com base em direção E-W. Entre essas supracrustais está
dados geocronológicos (U-Pb em zircão e TDMs) o Complexo Jaguaretama. A faixa é formada
este magmatismo foi interpretado como pré- por sequências metavulcanossedimentares,
colisional, representando um arco magmático associadas à ortognaisses (SÁ, 1991; SÁ
continental de idade neoproterozoica (FETTER et et al., 1995; PARENTE & ARTHAUD, 1995),
al., 2003). Alternativamente, Costa et al. (2010; metamorfizados, localmente, em condições
2013) sugeriram que grande parte do volume de fácies xisto verde, mas com gradação de
magmático teria sido gerado em ambiente sin- anfibolito baixo para fácies granulito, em direção
a pós-colisional, relacionado a processo de slab ao setor norte da faixa. Datações U-Pb em zircão
breakoff durante a fase de colisão continental, de rochas metavulcânicas revelaram idades
enquanto que a fase pré-colisional seria entre entre 1,75-1,8 Ga, e nos ortognaisses idade de
0,80 - 0,65 Ga (ARAÚJO et al., 2010; COSTA et 1,69 Ga (SÁ, 1991). Estas idades são atribuídas
al., 2010). aos rifteamentos acontecidos no Estateriano. As
O metamorfismo de alta pressão rochas metassedimentares, principalmente as
no Domínio Ceará Central é registrado pela basais, foram formadas em ambiente plataformal
presença de rochas retro-eclogíticas, sendo que e/ou paraplataformal, antecedendo um estágio
os estudos geocronológicos indicam idades em associado a um intenso magmatismo (PARENTE
torno de 650-640 Ma para o pico de alta pressão e ARTHAUD, 1995). O Complexo Jaguaretama
(SANTOS et al., 2009; AMARAL, 2010), evoluindo consiste de rochas gnáissico-migmatíticas.
para metamorfismo de alta temperatura Os ortognaisses possuem composições
com pico entre 630-610 Ma (CASTRO, 2004; granodioríticas a tonalíticas e estão associados
AMARAL, 2010). Nota-se que o Complexo a restos de rochas metassedimentares de grau
Tamboril-Santa Quitéria é contemporâneo a elevado de metamorfismo e em estágios variados
este metamorfismo de alta temperatura, assim de migmatização. As rochas plutônicas desse
como granitoides tipo-S resultantes de fusões embasamento indicam idades de cristalização
parciais de sequências metassedimentares, entre 2,19-2,22 Ga (FETTER, 1999).
como os batólitos de Nenelândia e Banabuiú Domínio Rio Grande do Norte – situa-se a
(ALMEIDA et al., 2008; PALHETA et al., 2011). leste da zona de cisalhamento Porto Alegre e seu
Os granitoides sin-transcorrentes são aqueles limite sul é balizado pela zona de cisalhamento
que se alojaram em regime transtensional Patos. Este domínio agrupa as supracrustais
(NOGUEIRA, 2004), tendo como exemplos, no da Faixa Seridó e das sequência Lavras da
Domínio Ceará Central, o Granito Nova Russas, Mangabeira/Caipu, os terrenos São José do
a Suíte Magmática Tauá, as rochas do Complexo Campestre, Rio Piranhas e Granjeiro. A Faixa
Granítico Rio Quixeramobim e o Monzonito Seridó está posicionada entre os terrenos São
Quixadá (ALMEIDA et al., 2008). Idades U-Pb em José de Campestre e Rio Piranhas, estruturada
17
Programa Geologia do Brasil

na direção NNE-SSW, com arrasto para E-W. A Natal - RN, constitui-se de um complexo gnáissico-
faixa é constituída pelo Grupo Seridó composto migmatítico, tendo ortognaisses de composições
por xistos, quartzitos, gnaisses e mármores do tipo TTG, formados no Arqueano entre 2,7-
(JARDIM DE SÁ e SALIM, 1980). A ocorrência de 3,5 Ga (DANTAS et al., 1998). O Terreno Granjeiro
zircões detríticos de 0,65 Ga, encontrados nas localiza-se na porção sul do Ceará, compreende
rochas metassedimentares deste grupo, sugeriu uma associação metavulcanossedimentar com
posicionar a unidade no Neoproterozoico (VAN horizontes químicos exalativos, intrudidos por
SCHMUS et al., 2003). As Sequências Lavras rochas plutônicas de composições tonalítica a
da Mangabeira e Caipu, correlacionáveis ao granodiorítica (VASCONCELOS e GOMES, 1998),
Grupo Seridó, situam-se no âmbito do Terreno com idade de 2,54 Ga (SILVA et al., 1997c). O
Granjeiro, no sul do Ceará. Consistem de Terreno Rio Piranhas representa o embasamento
rochas metavulcanossedimentares (Caipu) e do Grupo Seridó. Compõe-se de rochas
metassedimentares (Lavras da Mangabeira) metavulcanossedimentares e metaplutônicas
(GOMES e VASCONCELOS, 2000), sobrepostas (TTG), além de augen gnaisses graníticos. Idades
discordantemente ao Terreno Granjeiro. Fetter de cristalização dos protólitos dos ortognaisses
(1999) datou zircões detríticos da Sequência indicam formação de crosta Paleoproterozoica,
Caipu, obtendo, para população mais nova, entre 2,16 – 2,24 Ga (DANTAS, 1992; LEGRAND
idade em torno de 0,67 Ga. O Terreno São José et al., 1991a) com vestígios de crosta arquena
do Campestre situa-se na porção leste, próximo a (TDM de 2,65 Ga, DANTAS, 1992).

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

3 – GEOFÍSICA DE PROSPECÇÃO
O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) Ceará realizado, entre os anos de 2008 e 2009,
iniciou no ano 2004, junto com a retomada do pela empresa Prospectors Aerolevantamentos e
mapeamento geológico básico do território Sistemas LTDA, contratada pelo Serviço Geológico
brasileiro, levantamentos aerogeofísicos do Brasil (Fig. 3.1). Foram levantados 111.080 km
sistemáticos através das técnicas de de perfis em uma área de 52.181 km2. As linhas
magnetometria e gamaespectrometria. Estes de vôo foram orientadas na direção N-S, com
dois métodos são amplamente utilizados em espaçamento de 500 m, e as linhas de controle
atividades de mapeamento geológico e pesquisa na direção E-W, com espaçamento de 10 km,
mineral (e.g. JAQUES et al., 1997; BLUM et al., sendo a altura do vôo de aproximadamente 100
2001; DANTAS et al., 2003; GOUT et al., 2011; m (± 15 metros) e a medição dos dados a cada
MEDEIROS et al., 2011). 0,1 segundo.
Constam, neste capítulo, os resultados O processamento dos dados
do processamento e interpretação dos dados aerogeofísicos foi realizado com o uso do software
provenientes dos dois métodos geofísicos Oasis Montaj da GEOSOFT. O tratamento dos
citados, referente à região que abrange as dados iniciou com uma análise da qualidade dos
folhas Quixadá e Itapiúna. Este trabalho foi mesmos, seguido do corte da área de interesse.
realizado na etapa preliminar do projeto e teve Posteriormente, foi realizada uma interpolação
o objetivo de dar suporte ao mapeamento através do método bidirecional (Bi-Directional
geológico das citadas folhas. Portanto, foram Line Gridding), utilizando uma malha regular de
individualizados principalmente lineamentos 125x125 m. Por fim, foram elaborados os temas
magnéticos, anomalias magnéticas e domínios a partir dos dados magnetométricos (campo
gamaespectrométricos, cabendo aos geólogos magnético total, amplitude do sinal analítico e
responsáveis pelo mapeamento checar em primeira derivada vertical do campo magnético
campo as interpretações geofísicas. total) e, a partir dos dados gamaespectrométricos,
foram geradas as imagens do canal de potássio
3.1 - AQUISIÇÃO E (K), do canal do equivalente tório (eTh), do
PROCESSAMENTO DOS DADOS canal do equivalente urânio (eU) e a imagem
ternária, resultante da composição entre os três
Os dados aerogeofísicos trabalhados radioelementos e as cores vermelho, verde e
(magnetométrico e gamaespectrométrico) são azul, o que facilita a visualização integrada dos
provenientes do Projeto Aerogeofísico Norte do elementos.

Figura 3.1. Mapa simplificado do Estado do Ceará com a localização da área referente ao Projeto Geofísico Norte do
Ceará, em contorno preto, e das folhas Quixadá (A) e Itapiúna (B) em contorno azul.

19
Programa Geologia do Brasil

3.2 - INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Domínio B apresenta anomalias estiradas de


baixa amplitude (20 nT) na sua porção mais a
Os dados aeromagnetométricos sul (b1) e uma anomalia fortemente magnética
foram utilizados para a caracterização da (160 nT) na porção central (b2). O Domínio C
compartimentação tectônica, do arcabouço corresponde ao Batólito Quixadá, apresenta um
estrutural da área e individualização de padrão magnético homogêneo, sem anomalias
anomalias magnéticas, com base nas diferenças magnéticas bipolares, com amplitude em torno
entre os padrões de amplitudes, comprimentos de 45 nT.
de onda e direção dos lineamentos magnéticos. A porção centro-noroeste do Domínio
Já os dados aerogamaespectométricos magnético D é representado por um alto
possibilitaram a individualização de domínios magnético com amplitude máxima de 150 nT
geofísicos, com base nos padrões de distribuição e por anomalias bipolares (100 nT), ambos
dos radioelementos, bem como na relação entre extremamente estirados e orientados na
os mesmos. direção NE-SW (d1), e que corresponde a
rochas miloníticas situadas entre as zonas
3.2.1. Magnetometria de cisalhamento Senador Pompeu e Orós,
respectivamente, localizadas a oeste e a leste.
O método geofísico magnetométrico Já a porção centro-sudeste deste domínio
investiga a geologia com base nas anomalias apresenta uma anomalia bipolar sinuosa com
do campo magnético da Terra, resultantes amplitude variando de 110 a 300 nT (d2).
das propriedades magnéticas das rochas O Domínio E é homogêneo, com rochas
em subsuperfície, possibilitando estimar a mais magnéticas na porção centro-leste (50 nT)
localização, o tamanho, a forma, o volume e a e rochas menos magnéticas na sua porção oeste
profundidade das fontes magnéticas (KEAREY et (30 nT), o que pode indicar um embasamento
al., 2009). mais raso referente a porção mais magnética.
Com base no mapa do campo magnético Apesar do padrão homogêneo deste domínio, há
anômalo foram diferenciados cinco domínios duas anomalias bipolares com formato distinto,
principais (Fig. 3.2). O Domínio A é caracterizado uma é circular com amplitude variando de 150 a
por anomalias magnéticas bipolares alongadas 250 nT (e1), podendo representar uma intrusão
e sinuosas com amplitude máxima em torno cuja rocha é magnética e a outra anomalia está
de 115 nT (a1), representativas de rochas estirada (e2), representando rochas magnéticas
fortemente magnéticas e bem deformadas. O deformadas com amplitude em torno de 100 nT.

Figura 3.2. Imagem do campo magnético total anômalo, com a sobreposição dos cinco domínios magnéticos interpretados
(A, B, C, D e E) e com destaque de algumas anomalias magnéticas. A linha tracejada em azul marca o limite entre as
folhas Quixadá e Itapiúna.

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Anomalias magnéticas lineares foram entre litotipos distintos. Os lineamentos L2 são


realçadas na imagem da primeira derivada retilíneos com orientação NE-SW, representando
vertical (Fig. 3.3) originada a partir do campo uma faixa de rochas miloníticas que está limitada
magnético anômalo. Estas anomalias podem pelas zonas de cisalhamento Senador Pompeu
corresponder a estruturas geológicas, a (noroeste) e Orós (sudeste). Os lineamentos L3
contato entre litotipos ou representar também são retilíneos e com orientação NE-SW.
intrusões lineares do tipo dique, composto por No entanto, são discordantes em relação a L1
minerais magnéticos. Na área de estudo foram e devem representar estruturas rúpteis (falhas
interpretados quatro grupos de lineamentos ou fraturas) relativamente mais recentes. Os
magnéticos. Os lineamentos L1 são sinuosos, lineamentos L4 são extensos, desmembrados,
estão orientados preferencialmente na direção discordantes e com orientação aproximada E-W,
E-W e são interpretados como estruturas dúcteis porém com inflexão para NW-SE na área da
paralelas as foliações tectono-metamórficas, Folha Itapiúna. Devem corresponder a intrusões
sendo que algumas podem corresponder contato em forma de diques.

Figura 3.3. A: imagem da primeira derivada vertical do campo magnético total anômalo, realçando os lineamentos
magnéticos. B: lineamentos interpretados a partir da imagem da primeira derivada vertical. A linha tracejada em azul
marca o limite entre as folhas Quixadá e Itapiúna.

21
Programa Geologia do Brasil

3.2.2. Gamaespectrometria a intrusões graníticas deformadas/cisalhadas.


Os domínios cujo padrão radiométrico
O método gamaespectrométrico mede pode corresponder a rochas ortoderivadas são: C,
a variação geoquímica de potássio, urânio e E, H e O. O Domínio C possui baixa contagem em
tório, emitidos por uma camada superficial da U e Th e contagem moderada em K; o Domínio E
superfície terrestre (aproximadamente 30 cm), possui contagem moderada nos três elementos;
sendo que a variação destes radioelementos no o Domínio H possui contagem moderada em U e
solo ou na rocha exposta permite o mapeamento Th e alta em K e; o Domínio O possui contagem
de mudança litológica (DICKSON e SCOTT, 1997). alta a moderada nos três elementos.
Além disso, rochas não ou pouco alteradas Os domínios G, K e L apresentam forma
podem exibir uma boa correlação com padrões e padrão radiométrico que sugerem representar
de dados gamaespectrométricos (GUNN et al. rochas de natureza ígnea e intrusiva. O Domínio
1997). G, que possui baixa contagem em U e Th e
A imagem ternária (K-eTh-eU) foi o contagem moderada em K, apresenta na sua
principal produto utilizado na interpretação porção sul faixas típicas do Domínio F, o que deve
dos dados gamaespectrométricos e possibilitou representar enclaves deste (g1), corroborando
a individualização de quinze domínios, com a ideia de uma rocha intrusiva. O Domínio
possivelmente correlatos a litotipos ou a L possui alta contagem nos três radioelementos.
associações de litotipos que ocorrem na O Domínio D apresenta contagem
área de estudo. No entanto, também foram moderada nos três radioelementos e uma cor verde
interpretadas as imagens individuais de cada com níveis em azul na imagem ternária, podendo
radioelemento (Fig. 3.4, 3.5). Será apresentada representar rochas metassedimentares. Entretanto,
uma interpretação litológica possível para zonas com alto teor em K pode corresponder a
cada domínio, de modo a contribuir com o rochas ortoderivadas intrusivas ou exposição de
mapeamento geológico. um embasamento (d1). O Domínio F possui baixa
Os domínios gamaespectrométricos contagem nos três radioelementos, padrão que
A, B, J e M são alongados, conforme o padrão sugere o predomínio de rochas de composição
estrutural da área (Fig. 3.3) e demonstram alta básica. O Domínio I também possui baixa contagem
contagem para os elementos U e Th (3 a 7 ppm nos três elementos. Porém, por ser discordante ao
e 20 a 45 ppm, respectivamente) e contagem padrão estrutural e aos outros domínios adjacentes,
moderada para o elemento K (igual ou inferior deve corresponder a coberturas sedimentares
a 1%), sugerindo que representem rochas inconsolidadas. O Domínio N apresenta contagem
supracrustais de natureza paraderivada. A moderada nos três elementos e geologicamente
porção oeste dos domínios A e B possui maior corresponde ao Complexo Jaguaretama,
teor em K (2 a 3%), indicando que os litotipos caracterizado por ortognaisse e paragnaisses, porém
regionais podem ser migmatitos com alta taxa de há locais com alta contagem nos três elementos,
fusão, ou seja, muito leucossoma existente. Os que pode corresponder a uma zona migmatítica
domínios J e M apresentam faixas alongadas (j1 e com alta taxa de fusão, ou mesmo granitoides
m1) com alto teor em K, podendo corresponder deformados (n1).

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 3.4. Imagens gamaespectrométricas da área, com a sobreposição dos domínios interpretados: a) canal do
potássio, b) canal do tório, c) canal do urânio. A linha tracejada em azul marca o limite entre as folhas Quixadá e Itapiúna.

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Programa Geologia do Brasil

Figura 3.5. Imagem ternária K-eTh-eU (RGB) com sobreposição dos domínios geofísicos. A linha tracejada em azul marca
o limite entre as folhas Quixadá e Itapiúna.

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

4 – UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS
A proposta litoestratigráfica para as et al., 2007; ARTHAUD E MAGINI, 2008).
folhas Quixadá e Itapiúna, ora apresentada, Na Folha Quixadá as rochas associadas
tem 22 unidades litoestratigráficas principais ao Complexo Cruzeta são principalmente
individualizadas. Esta proposta permitiu uma ortognaisses cinzentos de composição
reformulação no arranjo geológico da área, tonalítica-granodiorítica, em parte
baseado principalmente na cartografia de Torres migmatizados, e localmente com lentes de
et al. (2007) da Folha Quixadá (1: 250.000), além anfibolitos. Ocorrem na porção sudoeste
de consultas de trabalhos pioneiros como de da folha, fazendo contato com anfibolitos e
Braga et al. (1981) - Projeto Fortaleza, Gomes et metassedimentos do Complexo Algodões e
al. (1981) - Projeto RADAMBRASIL e Souza et al com metaquartzo-dioritos da Suíte Madalena
(1984) - Folha Itapiúna (1: 100.000). As figuras (Fig. 4.1). O contato com os anfibolitos e
4.1 e 4.2 ilustram a coluna litoestratigráfica a e metassedimentos é de caráter tectônico, onde
distribuição espacial das unidades que serão o Complexo Cruzeta representa a infraestrutura
descritas a seguir: (embasamento) desta unidade supracrustal.
Os ortognaisses quartzo-dioríticos da Suíte
4.1 - COMPLEXO CRUZETA Madalena fazem contato e também ocorrem
(INDIVISO) (A4cz) intrusivos no Complexo Cruzeta.
Na imagem gamaespectrométrica, em
As rochas arqueanas na região central do composição ternária RGB, nota-se claramente
Ceará, representantes do intitulado “Maciço de a extensão regional do domínio que referimos,
Tróia” (BRITO NEVES, 1975), inicialmente foram e sua resposta distinta das rochas arqueanas
designadas de Grupo Cruzeta (BARRETO, 1967) da região de Pedra Branca (alto-Th, cor verde)
ou Complexo Pedra Branca (GOMES et al., 1981), (não mostrado). Com base nestas respostas
posteriormente substituído por Complexo gamaespectrométricas e dados geocronológicos
Cruzeta, segundo Oliveira e Cavalcante (1993). existentes na literatura, Pinéo e Costa (2013)
Embora com pouca exposição na área da Folha sugerem que o limite entre rochas arqueanas
Quixadá, esta unidade de ortognaisses cinzentos e paleoproterozoicas ocorre exatamente nesta
foi correlacionada ao Complexo Cruzeta “Indiviso” interface marcada pela geofísica. Em termos
com base em mapeamentos anteriores (TORRES de geocronologia, as idades arqueanas de 2,8-

Figura 4.1. Mapa geológico simplificado da Folha Quixadá (1: 100.000) e sua respectiva coluna litoestratigráfica proposta.

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2,7 Ga obtidas por Fetter (1999) (U-Pb zircão, mesmo afloramento de ≈ 3,27 Ga, revelaram
diluição) ocorrem somente na porção central apenas idades em torno de 2,15-2,13 Ga (CPRM,
do complexo, na região de Pedra Branca, sendo não publicado). Portanto, é provável que este
que na região “externa” do Complexo Cruzeta domínio “externo” do Complexo Cruzeta,
predominam idades paleoproterozoicas. A idade denominado informalmente de Complexo
U-Pb (SHRIMP) de 3,27 Ga determinada por Silva Cruzeta “Indiviso”, seja predominantemente de
et al. (2002) para um metatonalito do Complexo idade paleoproterozoica, representando margem
Cruzeta, insere-se nesta porção “externa”. do núcleo arqueano com franca participação de
Porém dados inéditos U-Pb (SHRIMP) para o granitoides riacianos (≈ 2,2-2,0 Ga).

Figura 4.2. Mapa geológico simplificado da Folha Itapiúna (1: 100.000) e sua respectiva coluna litoestratigráfica proposta.

4.2 - COMPLEXO JAGUARETAMA Jaguaribe (SÁ, 1991; CAVALCANTE, 1999).


(PP2j) O Complexo Jaguaretama ocorre
somente na Folha Itapiúna, no seu extremo
A ocorrência regional desta unidade sudeste. Os litotipos não apresentam bons
é representada por rochas gnáissicas- afloramentos. Estão fortemente alterados,
migmatíticas situadas a leste da Faixa Orós aflorantes em ravinas ou rasteiros, além de
até a Chapada do Apodi. Cavalcante (1999) estarem geralmente cobertos por sedimentos
utilizou o termo complexo para as rochas recentes. Os litotipos dispõem-se na direção
conhecidas como do Bloco Jaguaretama. NE-SW, em estrutura planar milonítica, com
Neste complexo predominam rochas mergulho médio para SE, e estão seccionados
ortognáissicas migmatizadas, de composição por zonas de cisalhamento NE-SW. Para Bezerra
tonalítica a granodiorítica, com enclaves et al. (1992), o segmento crustal onde ocorrem
dioríticos a gabroides, e supracrustais, em as rochas do Complexo Jaguaretama assinalam
proporções reduzidas, descritas por rochas dois comportamentos para as principais zonas
metassedimentares aluminosas, anfibolitos e de cisalhamento: um com mergulhos variáveis
quartzitos (BEZERRA et al., 1992; CAVALCANTE para leste, apresentando rake de 45° a 90°,
et al., 2003). A maior participação sedimentar, interpretados como de empurrão oblíquo; e
segundo Cavalcante al. (2003), se faz presente outro com mergulhos verticalizados, com rake
na porção norte. O Complexo Jaguaretama inferior a 20°, interpretado como decorrente
compõe o embasamento das sequências Orós e de tectônica transcorrente. Os critérios
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

cinemáticos indicaram empurrão de SE para NW bandada, a qual é dada por níveis quartzosos
e as transcorrências movimentos sinistrais. Essas (25%), alternados por bandas onde há
estruturas são truncadas por transcorrências predominância de clinopiroxênio (18%) e/ou
dextrais, tendo como exemplo as da Faixa anfibólio (10%), associados a cristais de titanita
Jaguaribe. (3%), opacos (1%), feldspatos potássicos
Na folha predomimam gnaisses, (15%) e plagioclásio (20%), comumente
normalmente migmatizados, de coloração saussuritizados para argilominerais e epidoto
cinza, granulação fina, contendo principalmente (pistacita) (8%).
biotita e raramente granada. São frequentes Ortomigmatitos também ocorrem, mas
leucossomas quartzo-feldspáticos, sendo em raros afloramentos, como aquele exposto
que alguns formam bolsões anatéticos (Fig. na entrada da cidade de Ibicuitinga. Trata-se
4.3A). Em seção delgada os granada-biotita de biotita ortognaisse migmatítico, granulação
paragnaisses apresentam textura, variando fina a média, de coloração cinza a rosada,
de granoblástica a lepidoblástica, constituídos com faixas estreitas estromáticas e veios
por quartzo (25-36%), plagioclásio (oligoclásio) ptigmáticos quartzosos/quartzo-feldspáticos
(23-35%), feldspato potássico (16%) e biotita (Fig. 4.3B). Em lâmina delgada mostram-se
(15-34%). Os principais minerais acessórios com textura granoblástica a milonítica, com
são compostos por granada (3%), óxido de granulação cominuída devido à recristalização
ferro e grafita (3%), apatita (1%), epidoto (3%) em subgrãos dos principais constituintes,
e zircão (1-2%). As granadas têm formas de tais como microclínio (12%), plagioclásio
porfiroblastos fraturados, estão oxidadas e (31%) e quartzo (25%). Têm-se finas lamelas
com formação de opacos ao longo das fraturas orientadas de biotita (12%), com cristais de
e nas suas bordas. Os minerais opacos ainda opacos (martita/magnetita e ilmenita) (7%),
ocorrem geralmente ao longo das placas de titanita (5%), zircão (1%), apatita (1%), epidoto
biotita. Além dos paragnaisses, estão presentes disseminado (4%) e muscovita secundária (2%),
rochas xistosas com níveis de quartzito micáceo oriunda do feldspato potássico. A petrografia
e cálcio-silicáticas bandadas. Ao microscópio indicou composição granodiorítica, mas
esta última mostra textura granoblástica ocorrem termos graníticos.

Figura 4.3. Complexo Jaguaretama. A: granada-biotita gnaisse migmatítico (EP-367; 9461324-551126). B: biotita
ortognaisse migmatítico (EP-39; 9449982-539643).

Domina nos litotipos metamorfismo em Fetter (1999) obteve em ortognaisse do


fácies anfibolito de médio a alto, cujas condições Complexo Jaguaretama idade paleoproterozoica
de pressão e temperatura também alcançaram a de 2.191±9 Ma (U-Pb em zircão). Em
anatexia. Não foi possível observar a relação de paragnaisse migmatítico, Fetter (1999) também
contato entre os orto e paramigmatitos do Complexo obteve a idade de 2.217±14 Ma (monazita em
Jaguaretama. Mas com as unidades ao redor o leucossoma), atrelando a uma migmatização
contato é, na maioria, tectônico, principalmente transamazônica. Além disso, este autor obteve
com o Grupo Orós, por meio de empurrão ou em uma TDM de 2,73 Ga, em paragnaisse, nos
zonas de cisalhamento transcorrentes. arredores de Ibicuitinga.
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Programa Geologia do Brasil

4.3 - COMPLEXO ALGODÕES Paragnaisse (PP2al), Quartzito (PP2alq),


(PP2al) Metandesito (PP2λal), Gnaisses e Migmatitos
(PP2algnaf) (Fig. 4.1). Estas unidades litológicas
Arthaud e Landin (1995) foram os ocorrem distribuídas com direção E-W,
primeiros a descrever a “Sequência Algodões” seguindo da porção sudoeste da Folha Quixadá,
como um conjunto de rochas anfibolíticas e adentrando para região oeste da Folha Itapiúna
metassedimentares associadas à ortognaisses (Fig. 4.2).
na localidade de Algodões (Município de
Quixeramobim). 4.3.1. Anfibolitos (PP2βal)
Segundo Martins (2000), o termo
Suíte Metamórfica Algodões-Choró para esta Os anfibolitos (PP2βal) na Folha
sequência é mais adequado, enquanto que Quixadá ocorrem principalmente ao redor dos
Castro (2004), estendendo também para região ortognaisses Cipó e intercalados com rochas
de Madalena, sugeriu o termo Complexo metassedimentares na região do açude Choró, e
Madalena-Algodões-Choró. com boa exposição no flanco noroeste da Serra
Esta “sequência” tem uma expressão do Estevão. Na Folha Itapiúna os anfibolitos
regional em torno de quase todo o Complexo ocorrem na porção oeste como lentes de
Cruzeta, cartografada a partir de mapeamentos comprimentos métricos, alguns quilométricos,
recentes, na escala 1:100.000, nas folhas Itatira inserida no domínio de Gnaisses e Migmatitos
(ARTHAUD, 2008), Quixeramobim (ALMEIDA, Algodões (PP2algnaf).
2008), Boa Viagem (ARTHAUD e MAGINI, Em geral os anfibolitos (PP2βal) são
2008) e Várzea do Boi (CAVALCANTI, 2011). de granulação fina a média, coloração preta,
Todos estes mapeamentos utilizaram o termo apresentam-se foliados, por vezes migmatizados
“Unidade Algodões” para esta sequência, e raramente com granada. Injeções de granitoides
assim como cartografado por Cavalcante et al. (tipo Cipó) ocorrem com frequência, assim
(2003) e Torres et al. (2007). Sugerimos aqui, como veios leucocráticos (trondhjemíticos) de
o termo Complexo Algodões, tendo em vista espessuras centimétricas (Fig. 4.4A). Em geral,
que regionalmente esta unidade estratigráfica os anfibolitos são bastante homogêneos, sem
apresenta litologias misturadas irregularmente, bandamentos e/ou variações composicionais
com segmentos orto e paraderivados distintos, visíveis, descartando a hipótese de protólito
variado grau metamórfico, e ainda com pouca sedimentar. A origem ígnea para estes anfibolitos
informação geocronológica. é mais adequada, provavelmente representando
Nas folhas Quixadá e Itapiúna foram rochas vulcânicas máficas a subvulcânicas
individualizadas seis unidades referentes ao (basaltos e diabásios). Localmente, na drenagem
Complexo Algodões: as unidades Anfibolito do riacho Choró (Faz. Monte Castelo) níveis de
(PP2βal), Metamáfica-ultramáficas (PP2μal), quartzo descontínuos sugerem possível estrutura

Figura 4.4. Complexo Algodões. A: anfibolito finamente foliado com níveis segregados de composição trondhjemítica.
Região da serra do Estevão (FC-532; 9463172-485082). B: níveis de quartzo descontínuos e deformados, como possível
estrutura primária (vesicular?) (FC-1132; 9467630-467229).

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

amigdaloide (vesículas?) deformada (Fig. 4.4B).


acessórios de plagioclásio e titanita, tratando-
A petrografia dos anfibolitos revela se de metahornblenditos (Fig. 4.5A). Ainda
composição basicamente de plagioclásio (20- nesta região, próximo a Fazenda Galante,
30%) e hornblenda (60-70%), com textura encontram-se metagabros migmatizados
granonematoblástica a nematoblástica. Alguns (Fig. 4.5B), petrograficamente de textura
anfibolitos apresentam minerais de epídoto cumulática, formados por cristais milimétricos
(clinozoisita), subordinadamente clinopiroxênio,
de hornblenda/tremolita (75%) e clinopiroxênio
titanita, apatita e óxidos de ferro. (5%) envolvidos por plagioclásio (15%). Nota-
A partir de uma isócrona Sm-Nd se localmente desestabilização de hornblenda
(rocha total) em anfibolitos na região da Serra
para tremolita, e cristais de quartzo (5%)
do Estevão (Folha Quixadá), Martins et al. intersticiais atrelados a plagioclásio e anfibólio.
(2009) obtiveram a idade de 2.236±55 Ma, e Associado a essas rochas ocorrem proclorita-
interpretaram como sendo a idade mínima talco-actinolita-tremolita xisto de textura fibrosa
para a formação dos protólitos (basaltos), radial, constituída por tremolita/actinolita (70%),
provavelmente formados em ambiente de platô alterada para talco (5%) e proclorita (15%), além
oceânico e/ou bacia de back-arc. de minerais opacos (3%), oriundos da tremolita,
apatita (3%) e clinopiroxênio (4%).
4.3.2. Meta-máfica ultramáficas Na Folha Quixadá, rochas
(PP2δmual) metaultramáficas ocorrem associadas a
anfibolitos na região de Santa Luzia, porção
Estas rochas foram individualizadas sul do mapa. Nesta região, no ponto FC-668
na Folha Itapiúna aflorantes, principalmente, (9449695-4171120), estas rochas ocorrem
a nordeste da cidade de Quixadá (cerca na forma de blocos em beira de estrada,
de 21km), nas vizinhanças do povoado de representados por talco-clorita-tremolita-xisto
Tesouro. São expostas em forma de blocos, e blocos de hornblendito.
centimétricos a métricos, compondo rochas Possivelmente, o protólito destas rochas
de coloração esverdeadas, granulação fina ultramáficas é de origem vulcânica, podendo
a média, de textura granular, formadas representar derrames komatiíticos e/ou
essencialmente por hornblenda/tremolita, com picríticos.

Figura 4.5. Complexo Algodões. A: blocos de hornblendito (EP-170; 9459997-516492). B: blocos de metagabro (EP-540;
9462205-518838).

4.3.3. Paragnaisses (PP2al) Geralmente, este paragnaisses são marcados por


finos níveis de biotita como possível estrutura
Esta unidade ocorre exclusivamente primária (S0) (Fig. 4.6A). Estas estruturas
na Folha Quixadá e corresponde a biotita- finamente bandadas são similares àquelas
paragnaisses cinzentos de protólitos arcóseo- encontradas em ritmitos e/ou turbiditos.
grauvaquianos, com biotita ± moscovita Análise em microscópio petrográfico para uma
(raramente sillimanita) e subordinados leitos amostra de paragnaisse (amostra FC-547, Fig.
de muscovita-xistos, quartzitos e anfibolitos. 4.6B) revela composição de quartzo (42%),
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Programa Geologia do Brasil

plagioclásio (28%), biotita (20%), granada (5%) e Barbada e das Caçadas (porção oeste da Folha
de acessórios: zircão, apatita, clorita e moscovita Quixadá). A presença destas lentes (seixos?)
(5%). A presença de 28% de feldspato revela nos paragnaisses sugerem uma intima relação
natureza imatura da rocha (grauvaca feldspática), (variação gradacional) com os quartzitos e
e a dominância de plagioclásio sugere uma conglomerados da região de Choró, que também
fonte predominantemente tonalítica, similar a apresentam estes seixos estirados. Intercalação
terrenos TTG por exemplo. Segundo Martins et com rochas cálcio-silicáticas também são
al. (2005) as características litoquímicas deste frequentes nos paragnaisses, nesta mesma
paragnaisses sugerem a presença de rochas região, e localmente, subordinados leitos de
félsicas e máficas nas suas áreas fontes. ortognaisses tonalítico-granodioríticos também
Estruturas lenticulares como possíveis ocorrem. Frequentemente, nota-se a presença
seixos (?) de quartzito ou camadas boudinadas de óxido de manganês remobilizado por
(Fig. 4.6B) ocorrem com frequência nos intemperismo, preenchendo fraturas e planos
paragnaisses, na região entre as serras da de foliação nos paragnaisses.

Figura 4.6. Complexo Algodões. A: paragnaisses com níveis ricos em biotita alternado com granada-biotita-feldspato-
gnaisse. Região da serra da Barbada (FC-546; 9470407-484602). B: níveis de quartzito como possíveis seixos (?) em
matriz de granada-biotita-feldspato gnaisse (FC-547; 9471356-485256).

4.3.4. Quartzitos (PP2alq) clara e amarelada, apresentando seixos de


quartzitos e metapelitos (xistos) (Fig. 4.7B). A
Esta unidade ocorre exclusivamente matriz é geralmente de granulometria média
na Folha Quixadá e foi primeiramente a grossa, mal a mediamente selecionada.
individualizada por Torquato e Santos (1998), Em lâmina petrográfica nota-se uma matriz
durante mapeamento realizado na escala de composição basicamente formada por
1:50.000 na região da cidade de Choró. Nesta quartzo (42%), plagioclásio (26%), moscovita
unidade, dominam moscovita quartzitos, (30%) e opacos (2%). A presença de 26%
raramente com sillimanita, alternados a leitos de feldspatos caracteriza a rocha como um
de micaxistos (± granadíferos) e localmente meta-arcóseo conglomerático, sendo que os
metaconglomerados suportados por matriz. feldspatos são exclusivamente plagioclásio,
Os quartzitos são geralmente de remetendo proveniência de uma fonte
coloração creme, às vezes avermelhados predominantemente tonalítica.
(oxidados), frequentemente com moscovita e Os níveis xistosos, ricos em biotita,
localmente magnetita. Bons afloramentos de são possivelmente seixos de metapelitos,
quartzitos ocorrem na área urbana da cidade porém podem ser também interpretados como
de Choró e na margem norte do açude Choró- camadas argilosas restritas, e boudinadas
Limão. Localmente, para estas rochas, nota-se durante deformação.
um bandamento composicional, com variação Níveis de anfibolito ocorrem associados
de níveis de moscovita micaxistos, sillimanita- aos conglomerados e podem ser vistos em
quartzo xistos e metarcóseos (Fig. 4.7A). concordância estrutural no mesmo afloramento.
Os metaconglomerados são do tipo Esta íntima relação com os anfibolitos (PP2βal), a
matriz suportados, de coloração cinza- presença dos seixos de quartzito nos paragnaisses
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

(PP2al), e a dominância de plagioclásio nos nenhum seixo de composição ígnea (ex: granito
conglomerados e paragnaisses evidenciam e/ou gnaisse) foi encontrado.
que estas unidades (anfibolitos, paragnaisses, Para esta unidade foram obtidas neste
quartzitos e metaconglomerados) possivelmente mapeamento, idades U-Pb por LA-ICPMS
sejam correlacionáveis e pertencentes ao mesmo em zircões detríticos que revelaram fonte
paleoambiente deposicional. Os seixos nestas exclusivamente paleoproterozoica, entre ≈ 2,1-
rochas provavelmente refletem autofagia da 2,2 Ga (ver Capítulo 6), provavelmente refletindo
bacia (ex: conglomerado intraformacional), pois erosão em ambiente de arco magmático.

Figura 4.7. Complexo Algodões. A: bandamento composicional em moscovita-sillimanita quartzito e moscovita-


sillimanita quartzo xisto em afloramento na CE-456, saída norte da cidade de Choró (FC-507; 9464735-484374). B: seixos
de quartzito e de metapelitos em metaconglomerado próximo ao açude Choró-Limão (FC-542; 9465330-484196).

4.3.5. Metandesitos (PP2λal) recristalizados em subgrãos, evidenciando


deformação no estado sólido.
Na Folha Quixadá, na região dos povoados As rochas metapiroclásticas que ocorrem
de Poço do Barro, Mulungu e Boa Vista, a sudoeste associadas aos metandesitos são de coloração
do açude Choró-Limão, foi cartografada uma cinza, granulação fina, com estruturas acamadadas
associação de rochas metavulcânicas félsicas/ e frequentemente lenticulares (Fig. 4.8B).
intermediárias intercaladas aos quartzitos Estas lentes, de comprimentos centimétricos,
e anfibolitos do Complexo Algodões. Esta apresentam variação granulométrica e
associação é representada principalmente por composicional, tendo composição félsicas à
metandesitos e prováveis metapiroclásticas. intermediária, com domínio de biotita em
Os metandesitos são de coloração cinza, alguns níveis, e outrora, com domínio de
com granulação fina e, em geral, porfiríticos hornblenda. Em lâmina delgada estas variações
com fenocristais de plagioclásio. A principal também se repetem, o plagioclásio é o feldspato
exposição (afloramentos) destas rochas fica na dominante e, em alguns níveis lenticulares, têm-
região do povoado de Poço do Barro, onde pode se granulação bastante fina com fenocristais de
ser observada a intercalação de metandesitos hornblenda e plagioclásio, sugerindo possíveis
com rochas metapiroclásticas, evidenciando fragmentos vulcânicos (lapilli, bombas, etc.),
estruturas primárias preservadas (Figs. 4.8A e B). similares a estruturas de ignimbritos (Fig. 4.8C).
Os níveis de metandesito são provavelmente o Localmente, alguns afloramentos apresentam
registro de derrames ou intrusões subvulcânicas níveis lenticulares maiores, com até 0,5 metro
(sills). Análise em lâmina petrográfica dos de comprimento e de composição máfica, com
metandesitos revela composição mineralógica granada e hornblenda. A matriz é fina de cor
formada por plagioclásio (48%), quartzo (15%), cinza, de composição intermediária, e também
biotita (23%), clorita (3%), calcita (3%) e epidoto com granada. Para estas rochas sugerimos
(3%). Tem-se uma rocha de granulação muito que sejam prováveis metapiroclásticas e/ou
fina, onde os maiores cristais são de plagioclásio. metassedimentos vulcanongênicos associados
Os cristais de quartzo encontram-se de forma aos metandesitos (Fig. 4.9).
intersticial entre os cristais de plagioclásio, 4.3.6. Gnaisses e Migmatitos (PP2algnaf)

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Programa Geologia do Brasil

Figura 4.8. Complexo Algodões. A: nível de metandesito maciço com aproximadamente 1 metro de espessura, intercalado
com rochas metapiroclásticas de composição intermediária (FC-688; 9458217-476198). B: detalhe do contato entre
metandesito maciço e rocha metapiroclástica (moeda de R$ 1,00 na escala). C: foto em lâmina delgada (nicóis cruzados),
mostrando bandas de composição e granulação distintas, com nível de granulação fina na porção central, localmente
com fenocristais de hornblenda (Hb) e plagioclásio (Pl).

Figura 4.9. Complexo Algodões. Gnaisse cinza fino, rico em plagioclásio e granada, com níveis lenticulares máficos ricos em
hornblenda e granada (FC-698; 9460423-478397). Prováveis metapiroclásticas e/ou metassedimentos vulcanongênicos.

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Na Folha Itapiúna o Complexo Algodões média a grossa e coloração cinza a cinza-


ocorre predominantemente na porção centro- claro. Em seção delgada apresentam texturas
oeste, expostos em afloramentos do tipo ravinas, granoblástica a xenoblástica, constituídos por
rasteiros e lajedos. As rochas apresentam-se plagioclásio (oligoclásio/andesina: 32-47%),
frequentemente intemperizadas e ocorrem feldspato potássico (microclínio: 8-14%), quartzo
em diversos estágios de migmatização, o que (23-26%), biotita (16-20%) e hornblenda (13%).
fez individualizarmos um segmento com esta Acessoriamente estão titanita (1-3%), apatita (1-
característica no Complexo Algodões, o PP2algnaf, 3%), epidoto (3%), allanita (2%), zircão (1-2%) e
que compreende paragnaisses, ortognaisses e óxidos de ferro (2%).
anfibolitos. Este conjunto litológico se apresenta
com grau metamórfico mais elevado (fácies 4.4 - ORTOGNAISSE CIPÓ
anfibolito alto) do que as rochas do Complexo (PP2γcip)
Algodões nas regiões do açude Choró e da serra
do Estevão (fácies anfibolito baixo a médio). O termo ortognaisses Cipó foi proposto
Os paragnaisses migmatíticos apresentam por Martins et al. (2009) para designar uma
bandamentos tectônico e/ou composicional, associação de rochas metaplutônicas de
coloração cinza-clara, granulação fina a média, composição quartzo-diorítica a tonalítica,
geralmente a biotita, alguns com granada tanto que se encontram intrusivos nos anfibolitos
no mesossoma como no leucossoma, com Algodões e metassedimentos Choró. No
formação de níveis de leucognaisses (protólito entanto, o magmatismo de composição
tipo S). predominantemente quartzo diorítica que ocorre
Dentre esses paragnaisses, faz- na porção sul da Folha Quixadá, foi enquadrado
se presentes rochas xistosas, como aquela como referente aos ortognaisses Madalena (ver
encontrada no afloramento EP-77, de coloração próximo item).
cinza azulada, aspecto fibroso, granulação fina, Os ortognaisses Cipó, essencialmente
composta por finíssimas fibras de sillimanita, tonalíticos, ocorrem em ampla distribuição nas
rica em aglomerados centimétricos (3 a 5cm) de folhas Quixadá e Itapiúna, apresentando-se
granada. A análise petrográfica não contemplou na forma de pequenos corpos (stocks), folhas
as granadas. Mas tratar-se de andaluzita- (sheets) e até dimensões batolíticas (Fig. 4.1). Na
quartzo-fibrolita xisto, rico em granada, de porção sudoeste da Folha Quixadá, um grande
textura granulítica, formada principalmente corpo se estende com aproximadamente 30 km
por feixes fibrosos de sillimanita (fibrolita -57%) na direção E-W, abrangendo áreas das serras
alternados paralelamente por faixas quartzosas do Veríssimo e dos Picos, e Fazenda Cipó. Este
(30%). Além desses minerais ocorrem andaluzita grande corpo ocorre intrusivo em anfibolitos e
(5%), plagioclásio (2%), cristais de opacos (óxido metassedimentos, e se assemelha a uma grande
de ferro e/ou magnetita - 5%) e zircão (1%). estrutura dômica, típica de terrenos granito-
Os ortognaisses migmatíticos ocorrem greenstone. Na porção central da Folha Quixadá,
em meio aos paragnaisses/anfibolitos. outro corpo tonalítico de grande dimensão,
Na maioria das vezes, estão fortemente ocorre intrusivo no contato entre os complexos
migmatizados, compondo faixas metatexíticas Algodões e São José da Macaoca, abrangendo
a porções bem evoluídas, representadas principalmente as regiões das serras do Teixeira
por diatexitos nebulíticos. São observáveis e da Conceição. Segundo Torres et al. (2007),
níveis, concordantes a foliação, de minerais este corpo foi inserido no Complexo São José
máficos (biotita/hornblenda?) semelhante a da Macaoca, representando uma litofácies de
materiais primitivos (enclaves magmáticos). composição predominantemente granítica. No
Os leucossomas são formados por quartzo e entanto, durante o levantamento de campo,
feldspato, ocorrendo em alguns afloramentos à petrográfico e litogeoquímico deste trabalho,
geração de mais de uma fase de migmatização. notamos uma natureza essencialmente tonalítica
A composição desses ortognaisses predomina a e característica trondhjemítica para este corpo,
granodiorítica, mas ocorrem termos tonalíticos e, portanto, decidimos inseri-lo na unidade
(sem feldspato potássico). São de granulação Ortognaisse Cipó. Por fim, outro grande domíno
33
Programa Geologia do Brasil

de ortognaisses Cipó foi individualizado na (ex: fácies dioríticas com hornblenda) são
região da serra do Estevão (SE da Folha Quixadá) extremamente raros, mostrando pouca variação
que se estende para a região sudoeste da Folha de fácies magmáticas para os ortognaisses
Itapiúna. Na região da serra do Estevão, no flanco Cipó. Enclaves de anfibolitos dos mais variados
sudeste, os ortognaisses Cipó ocorrem na forma tamanhos são frequentemente encontrados,
de folhas, intercaladas com local participação de às vezes ocorrem com estrutura tipo schollen
anfibolitos e paragnaisses cinzentos. (Fig. 4.10D), sugerindo uma provável relação
Estes ortognaisses apresentam genética entre as rochas anfibolíticas e os
composições tonalíticas, raramente ortognaisses Cipó. Segundo Martins et al. (2009)
granodioríticas, de coloração cinza, granulação e Martins e Oliveira (2010), os ortognaisses Cipó
equigranular média a grossa, e biotita como apresentam características químicas similares à
mineral máfico dominante (Figs. 4.10A e B). rochas trondhjemíticas (TTGs), e, portanto são
Veios tardios e aplitos quartzo-feldspáticos provavelmente derivados da fusão parcial de
de coloração branca ocorrem em abundância. rochas metabásicas (ex: anfibolitos).
Geralmente apresentam-se fortemente Em lâmina petrográfica nota-se
deformados, por vezes migmatizados, e a composição predominantemente tonalítica,
rocha quando alterada confere uma coloração raramente granodiorítica, sendo compostos
bege caramelada. Frequentemente nota-se de plagioclásio (40-30%), quartzo (25-20%),
a presença de diques de cor cinza escura e biotita (20-15%), hornblenda (10%) e feldspato
granulação fina, às vezes com aspecto sin- potássico (5%). Titanita, apatita, epidoto e zircão
plutônico, porém sempre com a mesma ocorrem como minerais acessórios. A textura é
composição tonalítica (Fig. 4.10C). Enclaves granoblástica, sendo formada principalmente
máficos magmáticos e termos mais primitivos por plagioclásio, quartzo e biotita.

Figura 4.10. Ortognaisse Cipó. A: aspecto geral em afloramento dos ortognaisses Cipó (FC-641; 9455992-465217). B:
detalhe de ortognaisse de granulação média e foliação gnáissica bem marcada (FC-1044; 9456219-456204). C: diques
sin-plutônicos de composição tonalítica, coloração cinza escura e granulação fina, intrusivos em fácies tonalítica de
granulação média a grossa, de cor cinza clara (FC-676; 9453926-471346). D: ortognaisse tonalítico rico em enclaves de
anfibolitos, com feição similar a diatexitos com estrutura do tipo schöllen (FC-1055; 9458505-446516).

Do ponto de vista geocronológico, Redonda, respectivamente. No entanto, a idade


Martins et al. (2009) obteve idades Pb-Pb U-Pb (diluição isotópica em zircão) reportada
(evaporação em zircão) de aproximadamente por Martins et al. (2009) de 2.130±3 Ma para
2.172 Ma e 2.160 Ma para ortognaisses Cipó ortognaisses Cipó quartzo diorítico, insere-se
da região da serra do Estevão e Fazenda Lagoa no domínio que mapeamos como ortognaisses
34
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Madalena na Folha Quixadá. Durante este Madalena ocorrem intrusivos, marcando parte
mapeamento foram obtidas idades U-Pb em do limite entre os complexos Algodões e Cruzeta,
zircão por LA-ICPMS para ortognaisses Cipó na e também são intrusivos no Complexo Algodões,
região da serra do Verríssimo (2.180±15 Ma) e na forma de folha, no sopé da serra da Palha, a
na serra da Conceição (2.190±6 Ma) (ver Capítulo sul do açude Choró-Limão.
6). Diferentemente dos ortognaisses
tonalíticos Cipó, os ortognaisses Madalena
4.5 - ORTOGNAISSE MADALENA são predominantemente de composição
(PP2γma) quartzo diorítica, tendo a hornblenda
como mineral máfico principal. Apresenta
Ortognaisses Madalena teve seu primeiro granulação média equigranular, cor cinza
reconhecimento efetuado por Braga et al. escura e, frequentemente, enclaves máficos,
(1981), caracterizando como hornblenda-biotita evidenciando mistura de magmas (Fig. 4.11A).
gnaisses, rochas dioríticas a quartzo dioríticas da A deformação nestas rochas é geralmente
região da cidade de Madalena. Posteriormente, baixa, às vezes com lineação predominando
Cavalcante et al. (2003) individualizaram um sobre foliação (tectonitos L), localmente com
corpo nesta região, denominado de dioritos e bandamento gnáissico pronunciado, porém
gabros, e inferiram uma idade paleoproterozoica raramente migmatizados. Diques tardios
a estas rochas. Segundo Castro (2004), idades de composição tonalítica e coloração cinza
paleoproterozoicas são confirmadas para clara ocorrem com frequência (Fig. 4.11B).
estas rochas (≈ 2,15 Ga), na qual se refere à Frequentemente, níveis ultramáficos, ricos em
hornblenda gnaisses de Madalena. Arthaud et anfibólios verdes (tremolita-actinolita) ocorrem
al. (2008) foram os primeiros a sugerir o termo na forma de blocos próximos aos afloramentos
Suíte Madalena para esta associação de dioritos dos ortognaisses Madalena, raramente com
e quartzo dioritos da região de Madalena e relação de contato preservada, evidenciando sua
proximidades. No entanto, anteriormente, para natureza de enclave (magmático ou xenólitos?).
estas mesmas rochas na Folha Quixadá, Martins Níveis de alteração propilítica (a base de epidoto
(2000) e Martins et al. (2009) enquadram-nas e feldspato potássico) são também frequentes,
(informalmente) na unidade Cipó (Cipó tonalítico geralmente associados a pequenas falhas
à quartzo diorítico), enquanto Torres et al. (2007) e fraturas, podendo representar alteração
denominaram estas mesmas de Ortognaisse hidrotermal relacionada aos fluidos magmáticos
Sítio dos Bois. Na Folha Quixadá (1:100.000) tardios da rocha.
sugerimos que o domínio de dioritos, quartzo Microscopicamente, a rocha revela uma
dioritos a tonalitos, presentes na porção sul composição quartzo diorítica, com domínio
do mapa, sejam denominados de Ortognaisse de plagioclásio (35-45%), quartzo (5-10%),
Madalena. hornblenda (20-30%) e biotita (10-20%). Entre os
Na Folha Quixadá, os ortognaisses minerais acessórios destacam-se titanita, apatita

Figura 4.11. Ortognaisse Madalena. A: ortognaisse de composição quartzo diorítica, com presença de enclave máfico
(diorítico) (moeda de 50 centavos na escala) (FC-635; 9452410-466121). B: dique tardio de composição tonalítica em
ortognaisse quartzo diorítico (FC-635; 9452410-466121).

35
Programa Geologia do Brasil

e epidoto. A textura é em geral granoblástica oeste da Folha Itapiúna e inflexionando em


média e com matriz recristalizada, sendo que os direção à zona de cisalhamento Senador Pompeu
cristais de quartzo exibem extinção ondulante até (Figs. 4.1 e 4.2). Este domínio litológico faz
limites de sub-grãos. Para uma amostra de dique contato, a sul, com rochas do Complexo Algodões
cinza tardio (Fig. 4.11B), nota-se composição e, a norte, com rochas metassedimentares
tonalítica com plagioclásio (47%), quartzo (16%) do Complexo Ceará. Ambos os contatos são
e biotita (20%), dominando sobre hornblenda de carácter tectônico, sendo que a norte, o
(6%) e epidoto (5%); e para uma amostra de Complexo São José da Macaoca apresenta-
enclave ultramáfico, nota-se dominância de se como a infraestrutura (embasamento) do
anfibólios (hornblenda e tremolita - 88%), Complexo Ceará, e localmente, aflora em
quartzo (5%), plagioclásio (2%) e clorita (3%). domínios antiformais.
Do ponto de vista estrutural, apresentam Neste projeto adotaremos, parcialmente,
foliação gnáissica (quando existente) com a proposta deste complexo por Torres et al.
mergulho para SE, e lineação de estiramento (2007), redefinindo-o com nomenclaturas
mineral geralmente com mergulho suave (10- diferentes como subunidades: Ortognaisses
30º) para NE. Aparentemente se alojaram na Tonalíticos (PP2γsjmt), Ortognaisses Graníticos
forma de folha, próximo ao contato entre os (PP2γsjmg) e Paragnaisses Migmatíticos
complexos Algodões e Cruzeta, possivelmente (PP2sjmp). Além disso, incluímos também a
marcando limites tectônicos entre estes terrenos Unidade de Ortognaisses (PRcn2) do Complexo
paleoproterozoicos. Canindé do Ceará, definida por Torres et al.
As informações geocronológicas (2007), na subunidade Ortognaisses Tonalíticos
existentes na literatura para os ortognaisses (PP2γsjmt) do Complexo São José da Macaoca
quartzo dioríticos de Madalena são referentes (embasamento), pelo menos na região das folhas
ao trabalho de Castro (2004), que obteve idades Quixadá e Itapiúna. As subunidades listadas
de 2.156±8 Ma e 2.142±20 Ma (U-Pb diluição acima serão descritas a seguir:
isotópica) para ortognaisses da região da cidade
de Madalena; e a idade de 2.130±3 Ma (U-Pb 4.6.1. Ortognaisses tonalíticos
diluição isotópica) obtida por Martins et al. (2009) (PP2γsjmt)
para ortognaisse quartzo diorítico da região do
açude São José, na Folha Quixadá (1:100.000). Domínio composto por ortognaisses/
No entanto, como já abordamos anteriormente, migmatíticos cinzentos, de granulação
Martins et al. (2009) denominaram estas rochas média a grossa e composição variando entre
na região de Quixadá como “ortognaisses Cipó” granodiorítica a tonalítica. Subordinadas fácies
tonalítico/quartzo-diorítico. quartzo diorítica ocorrem na forma de enclaves
máficos magmáticos e diques sin-plutônicos,
4.6 - COMPLEXO SÃO JOSÉ DA formando uma associação do tipo magma
mixing/mingling (Fig. 4.12). Estruturalmente,
MACAOCA
nota-se uma associação de gnaisses cinzas
Este complexo foi definido por Torres foliados, alternando com porções migmatizadas.
et al. (2007) para englobar os litotipos orto e Os leucossomas quartzo-feldpáticos são
paraderivados, geralmente migmatizados, e com de coloração branca (raramente rosada) e,
boa exposição de afloramentos na BR-020, na geralmente, com hornblenda neoformada
região do distrito de São José da Macaoca. Este (peritética). Localmente, encontram-se seções
domínio corresponde ao segmento atribuído com migmatitos paraderivados. Os termos
por Cavalvcante et al. (2003) como pertencente tonalíticos são predominantes, constituídos
a Unidade Mombaça (Complexo Cruzeta), por plagioclásio (≈ 30-40%), biotita (≈ 10-20%),
sendo destacado pela grande participação de hornblenda (≈ 10-20%) e quartzo (≈ 18-25%).
granitoides paleoproterozoicos. Os termos dioríticos são de granulação fina e
O Complexo São José da Macaoca ocorre coloração escura, e apresentam como principais
como uma extensa faixa de direção E-W na região minerais: plagioclásio (≈ 30-40%), hornblenda (≈
central Folha Quixadá, adentrando na região 30-40%), biotita (≈ 20-30%) e quartzo (≈ 5%).
36
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 4.12. Complexo São José da Macaoca (PP2γsjmt). Ortognaisse tonalítico em afloramento na BR-020 (FC-593;
9473155-445567). Níveis primitivos de composição quartzo diorítica ocorrem na forma de diques sin-plutônicos,
paralelizados a foliação do ortognaisse.

Na porção oeste da Folha Quixadá, bons cisalhamento Senador Pompeu até a região de
afloramentos destes ortognaisses tonalíticos Macacos, município de Ibaretama. No entanto,
ocorrem ao longo da BR-020, com boa são encontrados como corpos menores, não
exposição nos cortes de estrada próximos ao ultrapassando dimensões métricas, alguns
distrito de São José da Macaoca. Nesta região, de formato tabular, em meio aos litotipos da
idades U-Pb em zircão (diluição isotópica), em subunidade PP2γsjmt. Os principais afloramentos
metatonalitos, foram obtidos por Fetter (1999), ocorrem no distrito de Vargem da Onça, na CE-
revelando idades em torno de 2.130 Ma e 265, dispostos em lajedos e pedreiras.
idade modelo Sm-Nd de 2.440 Ma. Para outro Estes ortognaisses têm coloração
afloramento, também na BR-020, Castro (2004) cinza a cinza rosado, granulação média a
obteve em ortognaisse tonalítico a idade, U-Pb grossa, às vezes porfiríticos (Figs. 4.13A e
em zircão (diluição isotópica), de 2.139±12 C). São compostos por quartzo, feldspato e
Ma. Do ponto de vista litogeoquímico estes máficos, como hornblenda e biotita. Ocorrem
ortognaisses tonalíticos representam magmas intercalados aos ortognaisses níveis máficos,
cálcio-alcalinos de médio-K, com assinatura mais ricos em biotita, semelhantes a enclaves
muito semelhante aos ortognaisses Madalena magmáticos (Fig. 4.13C). A milonitização é tão
(ver Capítulo 5). As idades entre estas duas intensa nessas rochas que impõe, nos cristais
unidades são também semelhantes (2.150- de hornblenda e feldspato, formas amendoadas
2.130 Ma), sendo, portanto, provavelmente (Figs. 4.13A e C). Os leucossomas quartzo-
magmatismos correlatos. Mas a distinção em feldspáticos estão fortemente transpostos (Fig.
relação aos ortognaisses Madalena se dá devido 4.13B), onde raramente observam-se veios
o caráter deformacional e metamórfico ser mais discordantes e injeções tardias de pegmatitos
elevado nos ortognaisses São José da Macaoca ricos em turmalina.
(migmatização neoproterozoica?). Em seção delgada apresentam textura
granoblástica, com níveis alongados e estirados
4.6.2. Ortognaisses Graníticos (PP2γsjmg) de cristais de quartzo, alternados paralelamente
por bandas ricas em plagioclásio (32-33%)
Subunidade cartografada na Folha e feldspato potássico (15-18%). Alternam,
Itapiúna, compreendida por ortognaisses de também, com finos níveis de minerais máficos
composição, variando predominantemente de orientados, formados por biotita (12-18%) e
granítica a termos subordinados granodioríticos. hornblenda/clinopiroxênio (8%), definindo assim
São migmatizados, bandados e miloníticos, a foliação e/ou bandamento. Ocorrem casos
dispostos principalmente na direção NE-SW. em que o bandamento composicional se dá
São fortemente afetados e paralelos à zona de pela alternância de níveis quartzo-feldspáticos

37
Programa Geologia do Brasil

Figura 4.13. Complexo São José da Macaoca (PP2γsjmg). A: ortognaisse porfirítico de composição granítica e milonítico
(EP-528; 9456284-518660). B: ortognaisse, de composição granodiorítica, com leucossoma fortemente transposto
(EP-30; 945254-513911). C: enclave máfico rico em biotita (EP-184; 9458304- 519654). D e E: colocação ligeiramente
tardia dos ortognaisses graníticos (PP2γsjmg – seta vermelha) em relação aos ortognaisses granodiorítico a tonalítico da
subunidade PP2γsjmt. D (EP 250; 9469649- 530124) e E (EP-416; 9475360- 536573).

e tonalítico a quartzo-diorítico. Os cristais de ocorre frequentemente e evidenciam o grau


plagioclásio tem composição de oligoclásio e os metamórfico elevado desta unidade, fácies
feldspatos potássicos são do tipo microclínio, anfibolito alto a granulito. As grafitas ocorrem
raramente pertítico. Os acessórios presentes são disseminadas, na forma de flake grafites, típica de
titanita (2-3%), apatita (1%), zircão (1%), epidototerrenos de alto grau. As porções mais psamíticas
(1-2%), alanita (< 1%) e minerais opacos (2%). (metagrauvaca), por serem menos susceptíveis
No campo, os ortognaisses sugerem uma a fusões parciais, ocorrem, com frequência, na
colocação ligeiramente tardia em relação aos forma de schöllens em diatexitos. Os leucossomas
litotipos da subunidade PP2γsjmt (Figs. 4.13D e quartzo-feldspáticos e níveis pegmatíticos são,
E). Isótopos de Nd forneceram a idade modelo em geral, de coloração branca, e às vezes ocorrem
(TDM) de 2,2 Ga (FETTER, 1999) para esses com cristais de grafita e raramente columbita/
ortognaisses graníticos. tantalita. Níveis de anfibolitos são também
encontrados nesta unidade, ocorrendo na forma
4.6.3. Paragnaisses Migmatíticos (PP2sjmp) de lentes (boundins) e geralmente apresentam-
se como granada-anfibolitos com estruturas
Unidade de rochas metassedimentares de descompressão (auréolas de plagioclásio ao
disposta em extensa faixa de direção E-W na porção redor de granada).
central da Folha Quixadá e pouco expressiva na Esta unidade foi atribuída ao Complexo
Folha Itapiúna (Fig. 4.2). Estruturalmente ocorre São José da Macaoca, e, portanto de idade
encaixada tectonicamente entre ortognaisses paleoproterozoica. No entanto, não existe
tonalíticos (PP2γsjmt), com foliação mergulhando nenhuma informação geocronológica nestas
para S/SE. rochas, como zircões detríticos ou idade
Unidade de paragnaisses migmatíticos, modelo (TDM). A relação de contato com os
geralmente com alta taxa de fusão parcial, ortognaisses paleoproterozoicos não foi possível
chegando a formar diatexitos e leucogranitos. observar no campo. A resposta na imagem de
Predominam metatexitos de estrutura bandada gamaespectrometria aérea (domínio D; Capítulo
e dobrada, com paleossoma de paragnaisses com 3) é distinta das unidades metassedimentares
granada, biotita e níveis quartzo-feldspáticos neoproterozoicas (domínios A, B e J; Capítulo 3),
(Fig. 4.14A). Minerais como sillimanita e grafita sugerindo se tratar de sequências distintas (?).
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 4.14. Complexo Saõ José da Macaoca (PP2sjmp). A: paragnaisse migmatítico alterado (FC-753; 9408109-467119);
B: detalhe de paragnaisse alterado com granada, biotita, quartzo e feldspato (FC-837; 9482038-477895).

4.7 - ORTOGNAISSE SERRA DA (Figs. 4.12B, C e D). Os fenocristais são de


PALHA (PRγsp) feldspato potássico com tamanho em torno
de 1 cm. Biotita ocorre como mineral máfico
A unidade Ortognaisse Serra da Palha dominante, e muito raramente, encontram-se
foi individualizada neste projeto, na região anfibólios. No diagrama Streckeisen plotam-
sudeste da Folha Quixadá, representando se no campo de granitos e quimicamente são
um corpo granítico que sustenta o relevo da granitoides com tendência cálcio-alcalina de
serra da Palha (Fig. 4.15A), ponto mais alto alto-K e alto conteúdo de sílica (SiO2 ≈ 70%)
na região do povoado de Dom Maurício (serra (ver Capítulo 5).
do Estevão). O ortognaisse Serra da Palha foi
Estruturalmente, encontra-se alojado, datado, neste projeto, pelo método U-Pb
na forma de folha, entre os ortognaisses Cipó (LA-ICPMS) em zircão, revelando a idade de
a sudeste, e as supracrustais do Complexo 2.143±26 Ma. Esta idade é contemporânea
Algodões a norte. A leste, faz contato com ao intervalo de idade dos ortognaisses
os ortognaisses Madalena. Os contatos são Madalena e São José da Macaoca. Porém,
tectônicos, formando, nesta região, uma é cerca de 40 milhões de anos mais jovem
associação de litologias imbricadas na forma do que os ortognaisses Cipó (≈ 2.190
de leque (ver Capítulo 7). Ma). Portanto, podemos sugerir que uma
O ortognaisse Serra da Palha apresenta mudança de ambiente tectônico ocorre
foliação penetrativa em toda sua extensão, entre um magmatismo essencialmente
com mergulhos médios de 30-40º para sudeste. trondhjemítico, em torno de 2.190 Ma,
Apesar de bastante foliado, apresenta-se para magmatismo cálcio-alcalino típico,
sem migmatização. Esse ortognaisse é de com granitos (Serra da Palha), tonalitos
composição granítica, coloração creme a cinza, (Macaoca) e quartzo-dioritos (Madalena)
granulação média e geralmente porfirítico em torno de 2.150-2.130 Ma.
39
Programa Geologia do Brasil

Figura 4.15. Ortognaisse Serra da Palha. A: relevo que sustenta o Ortognaisse Serra da Palha, na região leste do açude
Choró, foto com visada para sul. B: detalhe de afloramento na margem da CE-060, 5 km a leste do município de Choró
(FC-504; 9465867-490015). C: detalhe do mesmo afloramento na CE-060, mostrando ortognaisse granítico de coloração
cinza. D: detalhe do ortognaisse granítico com fenocristais de feldspato potássico (FC-1158; 9457685-481283).

4.8 - COMPLEXO CANINDÉ DO Migmatitos: constitui as rochas que predominam


CEARÁ CENTRAL nesta unidade formada por diatexitos, comumente
de estrutura schlieren, de coloração creme e
4.8.1. Unidade Canindé do Ceará Central - granulação média a grossa, com frequentes
Paraderivadas (PRcn1) restitos de fusão compostos por biotita e granada,
de coloração escura (Fig. 4.16A). Também é notório
Esta unidade foi utilizada por Cavalcante metatexitos estromáticos e dobrados formados,
et al. (2003) como “Unidade Canindé”. No principalmente, por mesossomas de composição
mapeamento geológico da Folha Quixadá biotita gnaisse, com ou sem granada e sillimanita.
(1: 250.000) Torres et al. (2007) utilizaram o Os leucossomas são quartzo-feldspáticos e
termo Complexo Canindé do Ceará, sendo possuem geralmente granada, às vezes sillimanita,
adotado por mapas posteriores (por ex.: folhas e grafita associada. Alguns mesossomas, em
Novo Oriente e Independência). Para suprimir lâmina delgada, apresentam textura granoblástica,
problemas de inconsistência no banco de dados sobressaindo porfiroblastos de granada associados
geológicos da CPRM (Geobank) e Código de à biotita e sillimanita (fibrolita). Entre cristais
Nomemclatura Estratigráfica, definiu-se o nome de sillimanita têm-se restos de andaluzita, e em
como Unidade Canindé do Ceará Central, que certas porções ocorre a cordierita. Além destes
corresponde a individualização PRcn1 de Torres minerais, têm-se quartzo, plagioclásio e cristais de
et al. (2007) em alusão a um conjunto de rochas opacos (magnetita, rutilo, grafita e provavelmente
predominantemente paramigmatíticas. sulfetos) associados à biotita. Ocorrem ainda como
Esta unidade ocorre e domina na porção fases acessórias apatita, epidoto, zircão e monazita.
setentrional das folhas Quixadá e Itapiúna, em A presença de sillimanita fibrosa, formada a partir
formato de “S”, desenhado pelo arranjo das da andaluzita e biotita, e de cristais de granada e
estruturas planares N-S, NW-SE e E-W, e na faixa cordierita, nesses mesossomas, são indicativas de
NE-SW situada entre as zonas de cisalhamento que as rochas foram submetidas a metamorfismo
Senador Pompeu e Orós da Folha Itapiúna. As progressivo de fácies granulito (zona da sillimanita),
rochas afloram em áreas de relevo geralmente caracterizando rochas kinzigíticas. As principais
arrasado. A unidade compreende as seguintes associações minerais presentes são plagioclásio
caracterizações litológicas: + quartzo + granada + biotita + sillimanita +
40
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

andaluzita, plagioclásio + quartzo + granada + textura granoblástica a lepidoblástica, com


biotita + opacos e quartzo + biotita + cordierita + porfiroblastos de granada, cristais de quartzo,
opacos (magnetita). As condições encontradas magnetita, restos de biotita e principalmente
nessas rochas admite afirmar que ocorreu processo por sillimanita (fibrolita prismática). Possui como
de fusão parcial considerável, dando origem a minerais acessórios cristais de zircão e monazita.
granitos peraluminosos como os cartografados na Alguns porfiroblastos de granada contêm
unidade Leucogranito Itapiúna (PRγli). inclusões de fibrolita, de quartzo e opacos,
Rochas gnáissicas e xistosas: ocorrem em meio aos indicando crescimento simultâneo. A rocha varia
migmatitos representadas por níveis descontínuos de granada-sillimanita quartzito a megnetita-
de paragnaisses/xistos (Fig. 4.16B), de granulação sillimanita quartzito (khondalitos). A associação
fina a média, coloração variando nos tons de cinza, quartzo+sillimanita+granada+opaco é típica de
contendo feldspatos, biotita, muscovita e quartzo, metamorfismo de alto grau, fácies granulito.
além de sillimanita e granada, podendo alcançar Rochas lenticulares: estão presentes
proporções acima de 5%. Estas rochas contêm mármores micáceos, de coloração branca,
grafita e manganês disseminados ou ocorrem em bem recristalizados, de espessuras métricas,
lentes concentradas de dimensões centimétricas. alguns de aproximadamente 100 m, encaixados
No geral, em seção delgada, as rochas apresentam concordantemente a metatexitos bandados.
textura granolepidoblástica a granoblástica, Entre as zonas de cisalhamento Senador Pompeu
formada por níveis micáceos, contendo biotita, e Orós são frequentes rochas cálcio-silicáticas
opacos (hematita, magnetita, grafita), muscovita, associadas a granadas anfibolitos migmatizados
granada e zircão. Entre os níveis micáceos têm- e mármores. A petrografia das rochas cálcio-
se quartzo, feldspatos potássico e plagioclásio. silicatadas revela textura granoblástica a
A biotita sofre alteração para muscovita e passa bandada, constituída por faixas ricas em
para fibrolita, indicando elevadas temperaturas. clinopiroxênios (diopsídio-hedenbergita) e
Feixes de sericitas alongadas e estiradas são plagioclásio (andesina) que se alternam por
encontrados e representam antigos cristais de faixas quartzosas. Secundariamente, ocorrem
fibrolita. Dependendo da variação dos principais hornblenda e minerais traços como ilmenita,
minerais, as rochas classificam-se como granada- zircão, titanita, epidoto e apatita.
sillimanita-muscovita-biotita gnaisse a granada- A relação de contato com os ortognaisses
sillimanita-muscovita-biotita xisto, feldspato- do Complexo São José da Macaoca é tectônico
quartzo micaxisto, biotita-muscovita-sericita (Fig. 4.16D), possivelmente em superfície
gnaisse com granada. As associações minerais milonítica de baixo ângulo, tipo nappe, e mais
quartzo + feldspato potássico + plagioclásio + raramente de ângulo alto. Com os anatexitos
biotita + muscovita + sillimanita + granada + opaco da unidade Leucogranito Itapiúna o contato é
indicam condições de metamorfismo progressivo transicional a abrupto ou tectônico.
de médio a alto grau, fácies granulito. No entanto, Uma amostra de paragnaisse migmatítico,
a associação sericita + muscovita + biotita + quartzo segundo Kalsbeek et al (2013), foi coletada na
+ plagioclásio + opaco (óxido de ferro ou grafita) Folha Quixadá (BR-020, no entrocamento com a
insinua metamorfismo de baixo grau, fácies xisto CE-456) e datada pelo método U-Pb (LA-ICPMS)
verde, indicativo de processo retrometamórfico. em zircões detríticos. De acordo com esses
Rochas quartzíticas: na Folha Itapiúna, próximo autores, 60 grãos com concordância de 90-110%
ao povoado de Placa do José Pereira, na CE- revelaram idade entre 2,0 – 2,20 Ga, sendo
359, ocorrem quartzitos (PRcn1q), de coloração que um grão (discordante) apresentou idade
amarelada a tons esbranquiçados, granulação de 1,1 Ga, interpretada como idade máxima
fina a grossa, às vezes imtemperizados, de deposição. Neste projeto uma amostra de
e que igualmente aflora numa elevação paragnaisse grafitoso (EP-589) da Unidade
denominada de “serrote”. Em amostra de mão, Canindé do Ceará Central (Folha Itapiúna)
o quartzito é composto por aglomerado de foi analisada pelo método U-Pb (LA-ICPMS)
granadas associada a magnetitas, milimétricas em zircões detríticos, que revelou população
a centimétricas (Fig. 4.16C), e ripas de exclusivamente paleoproterozoica, entre 1,9- 2,1
sillimanita. Ao microscópio a rocha apresenta Ga (ver Capítulo 6).
41
Programa Geologia do Brasil

Figura 4.16. Complexo Ceará - Unidade Canindé do Ceará Central. A: migmatito com melanossoma rico em biotita
e granada (EP-221; 9501136-518504). B: rocha xistosa rica em grafita (EP-93; 9485839- 512226). C: quartzito com
porfiroblasto de granada e magnetita (EP-431; 9496286-546667). D: estrutura de baixo ângulo - estilo nappe (linha
tracejada vermelha) de gnaisse grafitoso alterado (seta preta) sobre ortognaisse migmatizado verticalizado (seta
vermelha) do Complexo São José da Macaoca (EP-587; 9502238- 522991).

4.8.2. Complexo Canindé do Ceará Central - xenoblásticos, geralmente geminados segundo


Ortognaisses (PRcn2) a Lei da Albita e Albita-Carlsbad. O quartzo
encontra-se em cristais anédricos com extinção
Os ortognaisses do Complexo Canindé ondulante e ainda recristalizados em subgrãos.
do Ceará afloram no extremo noroeste e no A biotita apresenta-se em cristais lamelares,
sudeste da área, sendo composta por biotita exibindo pleocroísmo castanho-escuro. O
hornblenda plagioclásio gnaisse, de composição anfibólio (hornblenda) mostra-se em cristais
variando de granodiorito a tonalito, de cor cinza prismáticos anédricos, alongados e orientados
claro e granulação fina a média, com foliação paralelamente, definindo assim a foliação e estão
de baixo ângulo marcada pela orientação dos quase sempre associados à biotita. A apatita
minerais máficos e bandamento gnáissico ocorre em cristais anédricos, associados à biotita
preservado. Ocorrem, ainda, ortomigmatitos e anfibólio. A titanita mostra-se em diminutos
com leucossoma de composição sienogranítica cristais inclusos em anfibólio. O zircão ocorre em
e formato irregular, com trama gnáissica pouco grãos arredondados, geralmente associados ao
preservada, sendo ainda cortado por veios anfibólio e biotita.
ácidos (quartzo-feldspato potássico). Comum é A paragênese mineral definida por
a presença de enclaves máficos, de composição Plagioclásio + Feldspato Potássico + Biotita +
diorítica e de granulação muito fina, tanto no Hornblenda é característica do fácies metamórfico
ortognaisse como no ortomigmatito. anfibolito. Ademais, a mineralogia identificada em
Em seção delgada observa-se uma seção delgada indica protólito ígneo, conforme já
textura granoblástica a xenoblástica, sendo os definido em trabalho de campo, cuja composição
minerais essenciais constituintes: plagioclásio varia de granodiorito a tonalito.
(32% a 63%), feldspato potássico (4%), quartzo
(14% a 35%), anfibólio (10% a 20%) e biotita (5% 4.9 - GRUPO ORÓS
a 20%). Os minerais acessórios compreendem
a apatita, o zircão, a titanita e opacos. O Regionalmente, os litotipos desta
plagioclásio (oligoclásio) forma cristais hipi e unidade ocorrem em uma extensão linear
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

desde Boqueirão do Cesário - Banabuiú até Orós sugerido por Braga e Mendonça (1984) e Sá
(segmento N-S). Outras ocorrências estão nas (1991). Entretanto, Parente e Arthaud (1995)
mediações de José de Alencar-Jucás (CE) até Pio discordaram em parte desse modelo inicial
IX (PI) (segmento E-W). Na região do Jaguaribe de rifteamento, propondo que primeiramente
esta unidade apresenta-se na direção NE-SW. ocorreu uma sedimentação areno-pelítica-
O nome Orós remota a Moraes (1924) apud carbonatada, de ambiente plataformal ou
Campos et al. (1979), cuja denominação dada foi paraplataformal, e posteriormente teria havido
de “Zona de Orós”. No trabalho de Campos et al. a fase de rifte.
(1979) as rochas desta unidade foram agrupadas O Grupo Orós ocorre apenas na Folha
no domínio, por eles definidos, de Grupo Ceará. Itapiúna e está representado pela Formação
Braga e Mendonça (1984) foram os pioneiros no Santarém descrita a seguir:
reconhecimento das sequências metavulcano-
sedimentares de Orós (lado ocidental) e 4.9.1. Formação Santarém (PP4os)
Jaguaribe (lado oriental), as quais são separadas
pelo Complexo Jaguaretama (Cavalcante, 1999; Ocupa duas faixas de direção NE-SW, de
Sá, 1991). Santos et al. (1984) denominaram de largura média de aproximadamente de 4 km, no
Complexo Orós, mas a definição de grupo se deve quadrante SE da Folha Itapiúna. A faixa mais longa
a Cavalcante (1987), posteriormente adotada compõe serrotes estreitos, com cristas alongadas,
por Medeiros et al. (1993). Segundo Cavalcante como os do Feijão, Palhano, Pedra Branca e
(1999), o Grupo Orós é definido pelas formações: Três Irmãs. A Formação Santarém faz contato
Santarém constituída pela predominância de tectônico, ao longo da zona de cisalhamento
quartzitos, puro e impuro, além de micaxistos transcorrente Orós, com as supracrustais da
e metacarbonatos; e Campo Alegre formada Unidade Canindé do Ceará Central (Complexo
por metandesitos, metabasaltos, metariolitos, Ceará) e ortognaisses do Complexo São José da
metariodacitos, intercalados a metatufos e Macaoca. Esta relação de contato também ocorre
rochas metassedimentares. Além das duas com os litotipos do Complexo Jaguaretama
formações citadas acima, Cavalcante et al. (2003) e Leucogranito Ibicuitinga, em zonas de
incluíram no Grupo Orós as formações Farias cisalhamento indiscriminadas e empurrões. Esta
Brito composta por gnaisses, contendo biotita unidade compreende os seguintes litotipos:
e/ou hornblenda, com lentes de metacalcário e Rochas quartzíticas: ocorre principalmente
rochas calcissilicáticas; e Gnáissica compreendida ao longo das cristas acima citadas, composta
por gnaisses a hornblenda e biotita, paragnaisses por material de conteúdo psamítico formado
associados a quartzitos, anfibolitos/anfibólio por quartzitos, puros e impuros (micáceos), de
gnaisses e metatufos. coloração creme a esbranquiçada, que quando
Estruturalmente, as faixas Orós e ferruginosos alteram-se para tons avermelhados.
Jaguaribe apresentam nos segmentos N-S/NE- Possuem granulação fina a média, raramente
SW uma foliação de alto ângulo, enquanto no grossa. Alguns estão fortemente cisalhados, com
segmento E-W os mergulhos estão acima de faixas milonítica a ultramilonítica. Os quartzitos
45°, sendo comum encontrar zonas miloníticas a impuros apresentam, em lâmina delgada, textura
ultramiloníticas, cujas lineações de estiramento granolepidoblástica a granoblástica, constituídos
associadas são normalmente subhorizontais, por cristais de quartzo interlobulados e
em regime transcorrente dextral (SÁ, 1991; recristalizados estaticamente em subgrãos.
MENDONÇA e BRAGA, 1987). Mas, parte da Subordinadamente ocorrem muscovita, biotita,
deformação ocorreu em regime transpressional óxidos de ferro, às vezes contendo fibrolita e
dextral (SÁ, 1991; SÁ e BERTRAND, 1992). turmalina.
Para Cavalcante (1999), o Grupo Orós Rochas xistosas: bons afloramentos ocorrem
(faixas Orós, Jaguaribe e correlatas) foi derivado no serrote Viçosa, intercalados aos quartzitos
a partir de um sistema fluvial, de ambiente de dobrados (Fig. 4. 17A). Estes constituintes
rifte, que progrediu para um sistema deltáico pelíticos são formados por muscovita-biotita-
progradante, com episódios de vulcanismo quartzo xisto, com sillimanita, granada e, às vezes,
bimodal, em regime extensional, como também turmalina. Apresentam textura lepidoblástica a
43
Programa Geologia do Brasil

milonítica, levemente crenulados, com estrutura As finas faixas micáceas de biotita e muscovita
S-C, aos quais se desenvolveram, ao longo das alternam-se paralelamente a finas faixas
“trilhas” de biotita e muscovita, feição tipo fish, quartzosas. Ocorrem associados aos xistos níveis
que promovem em alguns casos, indicação de de metacherts, metarritmitos (Fig. 4. 17C) e
sentido de movimento para NW (Fig. 4. 17B). filitos sericitizados.

Figura 4.17. Grupo Orós – Formação Santarém. A: intercalação de quartzito e micaxisto dobrados (EP-40; 9449668-
541121). B: microfotografia (LP 4X) de feição de mica-fish, com indicação de sentido de movimento para NW (EP-288;
9458783-543734). C: conjunto litológico deformado, em cisalhamento transcorrente de movimentação dextral, com
níveis de metapelito, metachert e metarritmito crenulado (EP-285; 9457270- 541928). D: bloco de mármore (EP-354;
9461474- 548515).

Mármores: entre os povoados de Pedra ou menos equigranulares, e gnaissificados.


Branca e Timbaúba encontrou-se blocos de Neste mesmo setor são observadas rochas
mármores, de coloração esbranquiçada (Fig. metabásicas anfibolitizadas.
4.17D), associadas a rochas cálcio-silicáticas A paragênese destas rochas indica
de coloração esverdeadas. A petrografia condições metamórficas entre fácies xisto-
dos mármores revela textura em mosaico verde a anfibolito alto. Mas, segundo
granoblástico, formado por cristais de calcita Parente e Arthaud, (1995) o metamorfismo
e/ou dolomita. De forma intersticial têm-se das rochas metassedimentares da Faixa
cristais de quartzo, plagioclásio (alterado para Orós mostra uma variação progressiva de
argilominerais e sericita), relíquias de diopsídio, oeste para leste (região de José de Alencar
cristais fibrosos de tremolita, placas tabulares – Orós - Cangati), de fácies xisto verde
de muscovita e de flogopita, ilmenita, pirita e para fácies anfibolito baixo, com presença
diminutos cristais de titanita. de estaurolita e andaluzita. Já Caby et al.
Ao sul de Ibicuitinga ocorrem, em (1995) registraram metamorfismo no fácies
menores proporções, interestratificados aos granulito, em metapelitos, na região do
micaxistos, biotita-muscovita paragnaisses Boqueirão do Cesário.
e quartzitos, rochas metavulcânicas Neste projeto foram analisados zircões
félsicas, representadas por metarriolitos detríticos, pelo método U-Pb (LA-ICPMS),
e metarriodacitos, coloração cinza-claro a de quartzito micáceo (EP 38) da Formação
rosado, de granulação muito fina a fina, mais Santarém. O resultado indicou uma população
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

mais nova em torno de 1,7 Ma, interpretada transicional com a Unidade Juatama
como a idade máxima para a deposição dos (granitoides e migmatitos). Na Folha
sedimentos (ver Capítulo 6). Sá (1991) obteve Itapiúna, ocorre numa faixa que circunda as
a idade U-Pb em zircão de 1.790±9 Ma nos rochas monzoníticas do batólito Quixadá,
metarriolitos de Orós, o que o fez correlacionar além das rochas da Unidade Juatama.
às rochas metavulcano-sedimentares de Orós Os litotipos estão estruturados na
com as das sequências Uatumã, Espinhaço e direção NE-SW em forma de xistosidades
Araí de idade estateriana. e estruturas primárias reliquiares. Planos
de acamamento são paralelos a S1, esta
4.10 - COMPLEXO CEARÁ por sua vez paralela a S2, com mergulho,
variando 30 a 45° para SE (GOIS et al.,
A “Série Ceará” foi à primeira referência 1991; GOIS e FERNANDES, 1991; ARTHAUD
dada às rochas de origem sedimentar et al.; 1993).
metamorfizadas no Ceará (CRANDALL, 1910 Predominam na unidade os termos
apud CAMPOS et al., 1979). Na literatura biotita xistos, com ou sem granada e/
geológica encontram-se trabalhos utilizando ou sillimanita, ± moscovita e raramente
a designação de grupo (SANTOS et al., 1984; cianita. Geralmente estão migmatizados,
ARTHAUD, 2007). Neste projeto adotou-se a apresentando leucossomas brancos quartzo-
terminologia de complexo, apoiado nos mapas feldspáticos com estruturas estromáticas e
da Folha Quixadá - escala 1: 250.000 (TORRES dobradas. Localmente os níveis de biotita
et al., 2007) e Geológico do Ceará – escala 1: xistos gradam para níveis de quartzitos, que
500.000 (CAVALCANTE et al. 2003), englobando se destacam pela coloração avermelhada
os litotipos essencialmente paraderivados das de origem intempérica (Fig. 4. 18A). Nos
unidades Independência, Quixeramobim e quartzitos, geralmente a sillimanita é
Canindé do Ceará Central, que serão descritas abundante (Fig. 4.18B). A presença de
a seguir: sillimanita, dominando sobre moscovita,
revela metamorfismo de alta temperatura
4.10.1. Unidade Quixeramobim (PRcq) (fácies anfibolito alto a granulito), enquanto
que a ocorrência local de cianita, descrito
Esta unidade representa uma por Arthaud et al. (1993), revela também
associação paraderivada composta por metamorfismo de alta pressão nesta
micaxistos e paragnaisses, muitos deles unidade. Diatexitos e leucogranitos também
migmatíticos, com subordinadas lentes são frequentes, evidenciando alta taxa de
de quartzitos, metacarbonatos e rocha fusão parcial, e geralmente apresentando
cálcio-silicáticas, antes posicionadas em estruturas como schlieren e schöllen. As
diversos trabalhos executados pela CPRM rochas cálcio-silicáticas (PRcqcs) ocorrem na
(ex: CAMPOS et al. 1979; CAVALCANTE et região da serra Branca, formada inteiramente
al. 1983), como pertencentes ao Complexo por estas rochas. Mármores impuros estão
Independência. A denominação em intercalados com rochas cálcio-silicáticas
questão deve-se a Góis e Fernandes (1991), (Fig. 4.18C).
seguida posteriormente por Cavalcante et Neste projeto, dados de U-Pb (LA-ICPMS)
al. (2003), como Unidade Quixeramobim em zircões detríticos foram obtidos para uma
do Complexo Ceará. amostra (FC-133) desta unidade (ver Capítulo 6).
Na Folha Quixadá, distribui-se em A amostra coletada ao longo da CE-060 refere-
uma faixa localizada no extremo SE, com se a um xisto com sillimanita, granada, biotita,
extensão de aproximadamente 30 km na quartzo e feldspato (Fig. 4.18D). Os zircões
direção NE, e espessura média de 2 km apresentaram idades de fontes variadas (paleo,
(espessura aparente). Ocorre principalmente meso e neoproterozoica), sendo que população
entre a serra do Estevão (Dom Maurício) e mais jovem situa-se em torno de 700-900 Ma,
a cidade de Quixadá. Tem contato tectônico representando a idade máxima para deposição
com ortognaisses Cipó a NW, e contato desta sequência.
45
Programa Geologia do Brasil

Figura 4.18. Complexo Ceará - Unidade Quixeramobim. A: corte de estrada com rocha alterada na CE-060, mostrando
contato de nível xistoso (cinza) com nível de muscovita-sillimanita quartzitos (vermelho) (FC-819; 9457075-495179). B:
detalhe do sillimanita quartzito (avermelhado) da foto anterior. C: afloramento de rocha alterada, em corte de estrada
na CE-060, com rocha xistosa coletada para datação U-Pb em zircões detríticos (FC-1133; 945873-494940). D: detalhe do
xisto da foto anterior, mostrando a presença de granada, sillimanita e biotita.

4.10.2. Unidade Independência (NP2ci) Intercalados, em contato gradacional,


ocorrem níveis de paragnaisses biotíticos, com ou
O nome desta unidade surgiu no trabalho sem muscovita, granada e sillimanita, contendo
de Barreto (1967) como Grupo Independência cristais de quartzo arredondados e estirados
formado por gnaisses facoidais e xistos, ambos (Fig. 4.19A), de coloração cinza esbranquiçado,
biotíticos e granadíferos, e metacalcários. granulação fina a média, de composição
Campos et al. (1979) definiram de Complexo psamítica a semi-pelítica. Além de paragnaisses,
Independência um conjunto paragnáissico estão presentes intercalações de quartzitos,
aflorante desde Pedra Branca – Independência a bem cristalizados, alguns micáceos, coloração
Quixeramobim, termo utilizado posteriormente esbranquiçada em situação de rocha fresca,
por Braga et al. (1981). avermelhada em alteração, e de granulação fina
Neste presente mapeamento, a Unidade a média. Na subida da serra para Cajueiro de
Independência distribui-se principalmente baixo, vindo de Onofre, as foliações de mergulho
na Folha Itapiúna, no quadrante extremo baixo, contidas nos xistos/paragnaisses, mostram
noroeste. Foi cartografada em litofácies estruturas S/C, indicando movimento de massa
de domínios xistosos (NP2cix), quartzíticos para N, e as lineações de cristais de sillimanita,
(NP2ciq) e indiferenciado (NP2ci), quase sempre se dispõem quase frontalmente aos planos das
milonitizados, descritos a seguir: foliações (Figs. 4.19B e C).
Unidade Independência, Xistos (NP2cix): esta No noroeste da Folha Quixadá
litofácies ocorre principalmente na serra Onofre, individualizou-se a litofácies NP2ciqx,
nos arredores do povoado de Cajueiro de Baixo que engloba micaxistos, mais ou menos
e Onofre. migmatizados, associados a níveis de quartzitos,
Constituída pela predominância de estruturados em um braquisinforme invertido,
litotipos xistosos, com granada e sillimanita, sobreposto as rochas da Unidade Canindé do
e menor percentual de quartzo e fedspato. A Ceará Central.
granulação varia de fina a média, raramente Em lâmina delgada os xistos apresentam
grossa, coloração na variação de cinza, às grandes porfiroblastos de granada envoltos
vezes com tons prateados, frequentemente por fibras de sillimanita e restos de biotita.
intemperizados. Os xistos granadíferos alterados Os porfiroblastos de granada são anédricos
possuem coloração avermelhada. e fraturados preenchidos por processo de
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

oxidação. O quartzo e os minerais opacos contínua de faixa quartzítica, contendo níveis


ocorrem como cristais anédricos. A sillimanita ricos em muscovita e sillimanita, com ou sem
forma porções fibro-radiais, geralmente com turmalina. São de granulação variando de
restos de biotita. A biotita forma cristais média a grossa, bem cristalizados, coloração
tabulares e encontra-se transformada para esbranquiçada e creme a tons avermelhados,
sillimanita na variedade fibrolita. Opacos (óxido quando alterado. A petrografia dos quartzitos
de ferro e grafita) ocorrem em cristais compridos revela textura granoblástica, formada por
e anédricos, associados à biotita e a sillimanita. cristais anédricos de quartzo e por finos cristais
Têm-se também cristais de quartzo associados à tabulares e lamelares de muscovita. A muscovita
fibrolita e biotita. exibe liberação de opaco nos planos de clivagem.
Unidade Independência, Quartzitos (NP2ciq): Quando presentes, a turmalina e opacos (óxido
litofácies que ocorre na serra do Boqueirão e de ferro) ocorrem localmente em cristais
serrote Touro, em cristas elevadas em forma anédricos, associados à muscovita.

Figura 4.19. Complexo Ceará - Unidade Independência. A: paragnaisse com cristais de quartzo estirados e amendoados
(seta vermelha) (EP-208; 9501265-506325). B: micaxisto alterado com cristais de sillimanita estirados (seta vermelha)
(EP-502; 9501730-506204). C: estrutura S/C em micaxisto com granada e sillimanita (EP-502; 9501730-506204). D:
paragnaisse pouco migmatizado (seta preta) com intercalações de níveis pelíticos de coloração escura (seta vermelha)
(EP-209; 9499591-506578).

Unidade Independência (NP2ci): litofácies que e estirados sob a forma de ribbons entre faixas
compreende quartzitos, de granulação fina a de feldspatos. Os cristais de feldspato potássico
média, intercalados a sillimanita-granada-biotita são tipo microclínio. Alguns dos cristais de
xisto, que gradam para granada paragnaisses, com granada, cassiterita e titanita são parcialmente
níveis de migmatização, onde os leucossomas substituídos por opaco (ilmenita e óxido de ferro).
estão dispostos paralelo à foliação (Fig. 4.19D). Além desses minerais ocorrem também como
No contexto desta litofácies são acessórios apatita e zircão. O contato da Unidade
encontrados sheets de metaleucogranitos, de Independência ocorre de forma tectônica, por
textura granoblástica bandada, onde se tem zona de cisalhamento transcorrente, com as
faixas constituídas por feldspatos potássico, litotipos da Unidade Canindé do Ceará Central.
plagioclásio e quartzo, alternadas paralelamente Para Arthaud (2007) a evolução
por finas faixas compostas de biotita e metamórfica da Unidade Independência se deu de
porfiroblastos de granada. O quartzo apresenta- forma complexa, evoluindo de condições de fácies
se em cristais anédricos, comumente alongados eclogito (T ≈ 800°C; pressão entre 16-17 kbar),
47
Programa Geologia do Brasil

passando por fácies granulito de alta pressão (T de cisalhamento Orós, que reune domínios de
> 800°C; pressão > 12 kbar) e, finalizando, em anatexitos derivados da fusão parcial das rochas
condições de fácies anfibolito com início de fusão metassedimentares do Complexo Jaguaretama.
(T > 650°C; pressão entre 6-8 kbar). As melhores exposições encontram-se no
A partir de análise (U-Pb/SHRIMP) assentamento Boa vista, 1km a NW de Ibicuitinga.
em zircões detríticos, Arthaud (2007) obteve Os afloramentos ocorrem em lajedos, rasteiros e
populações de idade entre 750-800 Ma e idade estão normalmente intemperizados.
modelo (TDM) mais nova em torno de 1,27Ga, Trata-se de leucogranitos (Fig. 4.20A),
admitindo então que a deposição dos protólitos geralmente gnaissificados e milonitizados
sedimentares da Unidade Independência na direção NE-SW com ângulos de mergulho
ocorreu no Neproterozoico. Neste projeto, variando de médio a alto, para SE, concordantes
dados de U-Pb (LA-ICPMS), em zircões detríticos, com a estruturação regional. As rochas são de
foram obtidos para uma amostra (FC-997) coloração cinza-clara a esbranquiçada, quando
nesta unidade (ver Capítulo 6). A amostra não alteradas, e creme a tons amarelados, quando
coletada refere-se a paragnaisse migmatítico alteradas, e possuem granulação média a grossa.
localizado a oeste da Folha Quixadá. Os zircões Os minerais presentes são quartzo, feldspatos,
apresentaram idades de fontes variadas (paleo, com variações de biotita e muscovita, além
meso e neoproterozoica), sendo que população de granada e, subordinadamente, sillimanita.
mais jovem situa-se em torno de 700-900 Ma, Nas ocorrências destas rochas normalmente
representando a idade máxima para deposição encontram-se estruturas diatexíticas schlieren,
desta sequência. resto de rochas fundidas, como enclaves de
quartzo xisto e paragnaisse, e fácies pegmatíticas.
4.11 - LEUCOGRANITO IBICUITINGA Um aspecto importante refere-se a alguns
(PRγlib) desses leucognaisses que foram submetidos
à pressão e temperatura que proporcionaram
Unidade definida neste projeto, situada condições de fusão parcial com formação de
no quadrante SE da Folha Itapiúna, a leste da zona leucossomas quartzo-feldspáticos (Fig. 4.20B).

Figura 4.20. Leucogranito Ibicuitinga. A: aspecto leucocrático e gnaissificado da rocha contendo granadas milimétricas
(EP-282; 9456965-540655). B: veio ptigmático quartzo-feldspático (EP-279; 9452252-539412).

Em seção delgada estas rochas são compostos por apatita (2%), zircão (2%),
apresentam textura granoblástica, xenoblástica granada (1%) e monazita (1%). Os cristais de
a milonítica, com diminuição de granulometria, plagioclásios tem composição entre albita-
devido ao processo de recristalização dinâmica oligoclásio e os feldspatos potássicos são do tipo
em subgrãos dos principais constituintes, tais microclínio, por vezes pertíticos.
como feldspato potássico (26-30%), plagioclásio A disposição desta unidade, em meio às
(18-37%) e quartzo (20-25%), além de muscovita rochas paraderivadas do Complexo Jaguaretama,
(2-17%) e biotita (10%). Os minerais acessórios ocorre por contato concordante com as mesmas
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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

e se dá de forma intercalada e transicional. A diatexítico, com estrutura schlieren a nebulítica,


unidade é correlacionável com as outras que é constante, contendo enclaves de rochas cálcio-
representam produto de fusão de material silicáticas, paragnaisses e xistos (Fig. 4.21E).
de origem sedimentar, como o Leucogranito Não menos comum são encontrados enclaves
Itapiúna, descrito neste projeto, e o Granito de rochas anfibolitizadas (metamáficas) de
Nenelândia datado em 620 Ma (PALHETA et al., granulação fina a grossa.
2011). São características desta unidade, sítios
disseminados em grafita ou concentrações
4.12 - LEUCOGRANITO ITAPIÚNA elevadas deste mineral, contida nos planos da
(PRγli) foliação, muitas das vezes de aspecto maciço
em forma lenticular, variando de centimétricas a
Unidade definida neste projeto que métricas, e em associação com manganês.
apresenta grande parte cartografada na Folha Há também veios e bolsões, alguns de
Itapiúna, na sua porção setentrional-central, dimensões métricas acima de 10m de espessura,
com continuidade e estreitando-se ao adentra- de pegmatitos discretamente milonitizados,
se na Folha Quixadá. Suas ocorrências também tendo em certas ocorrências registro de
são observadas, em proporções relativamente minerais como columbita-tantalita, cassiterita
menores, nos arredores dos povoados de e quartzo róseo no município de Itapiúna.
Lagoinha, Diamantina, Massapê e Fazenda São de granulação muito grossa, granadíferos
Ipueiras, sudoeste da Folha Itapiúna. A opção e turmaliníferos, subconcordantes e,
do nome Itapiúna se deve a uma elevação, eventualmente, discordantes à foliação de baixo
constituída por este granito, que se encontrada a médio ângulo dos leucogranitos gnaissificados.
próximo à cidade homônima. No campo observa-se que a relação destas
São rochas estruturadas, no geral, na rochas está intimamente ligada a evolução dos
direção E-W, e dobradas com inflexão para NE- leucognaisse facoidais tipo S (Fig. 4.21F).
SW, concordantes com os litotipos do Complexo Em meio aos ortognaisses do
Caniondé do Ceará Central. A unidade é Complexo São José da Macaoca encontram-
composta dominantemente por leucogranitos se metaleucogranitos a granada e sillimanita,
gnaissificados, frequentemente porfiríticos (Fig. cartografados, neste projeto, como pertencente
4.21A), com cristais de feldspato de até 5cm (eixo à unidade Leucogranito Itapiúna, interpretados
C), alguns subédricos, zonados, sendo a maioria como restos originários de fusão de rocha
das rochas de aspecto facoidal (Fig. 4.21B). São metassedimentar sobre o embasamento.
de colorações cinza esbranquiçados, granulação Em seção delgada os metaleucogranitos
fina a grossa, compostos por feldspatos porfiríticos (facoidais) apresentam textura
potássico, plagioclásio, quartzo, biotita, e menor granoblástica xenoblástica, constituídos por
quantidade de granada e sillimanita. cristais de feldspato potássico (18-32%),
Ocorrem associados às rochas porfiríticas, plagioclásio (20-40%), quartzo (18-25%), biotita
metaleucogranitos de coloração esbranquiçada, (15-18%) e muscovita (3-8%). Os cristais de
granulação fina a média, foliados e pouco granada (1%), monazita (2%), opacos (hematita,
milonitizados, contendo biotita, muscovita e magnetita e, raramente, grafita) (2%), zircão
granada. Geralmente se deparam com atitudes (2-3%), apatita (1%) e sillimanita (fibrolita)
concordantes à foliação gnáissica-bandada dos (1%) representam os minerais acessórios. O
termos porfiríticos ou, raramente, discordantes. plagioclásio tem composição de oligoclásio e
Observações de campo indicam que as rochas os feldspatos potássicos são cristais pertíticos
porfiríticas foram submetidas à fusão in situ e de microclínio, sendo comum alteração para
(Fig. 4.21C), e que estes fundidos geraram os muscovita e argilominerais. São classificados
metaleucogranitos esbranquiçados (Fig. 4.21D), como biotita ortognaisses com granada de
sendo comum a ocorrência nos arredores do composição monzogranítica a granodiorítica.
serrote Branco e no povoado de Bastiões. A petrografia dos metaleucogranitos
No domínio mapeado como Leucogranito esbranquiçados revela textura granoblástica,
Itapiúna a frequência de litotipos de aspecto xenoblástica, formada por feldspato potássico
49
Programa Geologia do Brasil

(30-38%), plagioclásio (22-27%), quartzo (22- ricas em granada são frequentes. A composição
24%) e biotita (2-12%). Os minerais acessórios do plagioclásio varia de albita a oligoclásio e
são constituídos por opacos (2%), zircão (2%) e os feldspatos potássicos são do tipo pertítico.
granada (5%). Geralmente os feldspatos e biotita Estes litotipos são classificados como granada
alteram-se para muscovita e a clorita ocorre ortognaisses de composição sienogranítica a
como produto secundário da biotita. Bandas monzogranítica.

Figura 4.21. Leucogranito Itapiúna. A: rocha porfirítico milonitizada (EP-221; 9501136-518504). B: gnaisse facoidal,
contendo granada (EP-143; 9493592-506563). C: aspecto migmatizado da rocha porfirítica com leucossoma
alojado no plano da foliação de baixo ângulo (seta vermelha). D: contato concordante entre os metaleucogranitos
esbranquiçado, granulação fina a média, e o porfirítico migmatizado (EP-158; 9488713-527108). E: metapegmatito
injetado concordantemente a foliação do metaleucogranito (seta preta) e enclave de sillimanita-granada micaxisto com
grafita (seta vermelha) (EP 589; 9488741-519853). F: relação entre pegmatito rico em turmalina (seta vermelha) e o
metaleucogranito porfirítico (FC-1166; 9492574-498813).

O Leucogranito Itapiúna tem contato estava inserida no Complexo Independência


transicional e tectônico de empurrão com as (CAVALCANTE et al., 1983), e posteriormente
rochas do Complexo Canindé do Ceará Central. como Unidade Canindé do Complexo Ceará
Até o presente momento não há dados (CAVALCANTE et al., 2003). Santos et al. (1984)
geocronológico desta unidade. Mas, tudo indica mencionaram semelhanças litológicas desta
que os granitos de Itapiúna são possivelmente segmento com as rochas diatexitos-granitoides
produto de fusão parcial das rochas do Complexo Tamboril-Santa Quitéria. Segundo
metassedimentares do Complexo Canindé do Almeida (2008) esta unidade seria do Complexo
Ceará Central. Na região de Senador Pompeu Ceará, compreendendo diatexitos e metatexitos
(CE), regionalmente próximo à área mapeada, o paraderivados, equivalente a Unidade
granito tipo S Nenelândia foi datado em 620 Ma Quixeramobim.
(PALHETA et al., 2011). Esta unidade ocorre nas porções sudeste
da Folha Quixadá e sudoeste da Folha Itapiúna.
4.13 - UNIDADE JUATAMA (NP3j) Encontra-se distribuída numa faixa marginal,
de direção NE-SW, contornando parcialmente o
Representa um segmento cartografado Monzonito Quixadá, em contato intrusivo. Com
nos mapas geológicos das folhas Quixadá a Unidade Quixeramobim a relação de contato é
(1:250.000) (TORRES et al., 2007) e transicional.
Quixeramobim (1:100.000) (ALMEIDA, 2008). A Unidade Juatama é formada por
Em mapeamentos anteriores, esta unidade diatexitos e metatexitos, com paleossomas de
50
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

biotita-ortognaisses cinzentos, provavelmente estromática à dobrada, com níveis de gnaisses


referente ao embasamento paleoproterozoico. de coloração cinza, alternando com leucossomas
Os metatexitos geralmente apresentam estrutura rosas (Fig. 4.22A).

Figura 4.22. Unidade Juatama. A: metatexito alternando níveis de ortognaisses cinza (paleossoma) com níveis rosados
graníticos (neossoma) (FC-513; 9451853-494292). B: diatexito mostrando nível anatético rosa e restitos da rocha fonte já
bastante consumidos (rafts ou shöllens/schlieren) (FC-514; 9451955-493977). C: granito rosa pouco deformado inserido
na Unidade Juatama (FC-1033; 9456607-495392). D: lajedo de diatexito com níveis monzoníticos na forma de enclaves
magmáticos e diques sin-plutônicos (FC-1029; 9453825-495497).

Os diatexitos apresentam estruturas 4.14 - MONZONITO QUIXADÁ


schilieren e schöllen, composição granítica e (NP3γq)
biotita como mineral máfico dominante (Fig.
4.22B). Granitos rosados pouco deformados Este granitoide sempre esteve presente
ocorrem com abundância e provavelmente na cartografia geológica do Estado do Ceará,
evoluem a partir dos diatexitos (Fig. 4.22C). sendo inicialmente denominadas de “Rochas
Estes granitos são ricos em feldspato potássico, Plutônicas Granulares” do Pré-Cambriano
tem biotita como mineral máfico principal e Indiferenciado (ex: CAMPOS et al., 1979;
apresentam química compatível com rochas BRAGA et al., 1981) e posteriormente como
cálcio-alcalina de alto-K (ver Capítulo 5). “Plutônicas de Quixeramobim” (CAVALCANTE
Migmatitos de protólitos paraderivados também et al., 1983). Arthaud et al. (1987) propuseram
ocorrem, com paleossoma de paragnaisses, o termo Complexo Granítico de Quixadá-
micaxistos e rochas cálcio-silicáticas. Quixeramobim para esta associação plutônica,
Nas proximidades com o Batólito que posteriormente foi objeto de tese de
Quixadá, nota-se grande quantidade de injeções doutorado de Almeida (1995) e Nogueira (2004).
aplíticas e localmente enclaves magmáticos Monzonito Quixadá foi a denominação dada
de composição monzonítica inseridos nos por Almeida e Ulbrich (2003) para este corpo,
diatexitos da Unidade Juatama (Fig. 4.22D). de dimensão batolítica, sendo também utilizada
Esta relação de contato é uma evidência de no mapeamento da Folha Quixadá 1: 250.000
que a fusão parcial da Unidade Juatama, (TORRES et al., 2007) e Folha Quixeramobim
provavelmente se deu contemporaneamente (ALMEIDA, 2008).
a colocação do Batólito Quixadá (≈ 585 Ma). Na região das folhas Quixadá e Itapiúna,
Portanto, podemos sugerir que se trata de uma o Batólito Quixadá ocorre na área circundante
fusão parcial de contato, desencadeada com o à cidade homônima, correspondendo a uma
aumento de temperatura nas proximidades do intrusão semi-elipsoidal, com eixo principal na
batólito monzonítico. direção NE-SW, paralelo a zona de cisalhamento
51
Programa Geologia do Brasil

Senador Pompeu. Nesta região, este granitoide porfiríticas; e um equigranular, constituído por
é destacado pelo desenvolvimento de granitos e granodioritos, de granulação fina a
monólitos isolados, que constituem o maior e média, intrusiva na fácies porfirítica.
mais espetacular campo de inselbergs da região Estruturalmente, o Monzonito Quixadá
nordeste do Brasil (Fig. 4.23A). No perímetro apresenta-se tanto exibindo deformação,
das folhas em questão, o batólito Quixadá é quanto sem deformação aparente, com a
caracterizado principalmente por monzonitos deformação se intensificando constantemente
e monzodioritos de granulação grossa, nas bordas. Geralmente, apresenta estruturas
geralmente com enclaves máficos magmáticos de fluxo (schlierens e orientação de minerais)
e diques sin-plutônicos, como feições de concordantes com a estruturação regional. A
magma mingling (Fig. 4.23B). Predominam foliação é desenvolvida, inicialmente, no estado
neste granitoide os termos porfiríticos, com pré-cristalização total (pre-full crystallization), e,
fenocristais de feldspatos em matriz rica em posteriormente, evoluindo para deformação no
hornblenda e titanita (Fig. 4.23C). Localmente, estado sólido. Enclaves magmáticos geralmente
cristais de titanita podem ser observados se encontram orientados (Fig. 4.23B), e contidos
a vista desarmada. Raramente, grandes em planos de foliação, de direção NE-SW. O
xenólitos de ortognaisses cinza (embasamento mecanismo de alojamento do Batólito Quixadá,
paleoproterozoico?) ocorrem em meio à facies segundo Nogueira (2004), resultou da canalização
monzonítica (FC-1025; 498512-9451213). de magma de níveis profundos para o local de
Diques finos de coloração cinza e composição alojamento final em regime transpressivo.
granodiorítica e aplítos brancos quartzo- Quimicamente estas rochas são
feldspáticos, ocorrem em abundância, e classificadas como monzonitos e quartzo
representam pulsos finais do magmatismo em monzonitos, com leve tendência alcalina,
questão (Fig. 4.23D). Silva (1987) descreveu, e afinidade para a série shoshonítica (ver
neste batólito, três fácies petrográficas: Capítulo 5).
um porfirítico, constituído por monzonitos, Para o Monzonito Quixadá, Nogueira
quartzo monzonitos e quartzo monzodioritos; (2004) obteve idades em zircão de 585±5 Ma
um equigranular mesocrático, composto por (U/Pb), 597±4Ma (Pb/Pb evaporação), e idade-
diversos enclaves dioríticos dispersos nas rochas modelo (Nd) de 1,83Ga.

Figura 4.23. Monzonito Quixadá. A: aspectos dos monólitos desenvolvidos em rochas monzoníticas do Batólito Quixadá
(EP-401; 9456324-502353). B: monzonito com enclaves máficos orientados (FC-866; 9457320-499489). C: detalhe de
fenocristais de feldspatos em matriz de hornblenda e titanita (FC-1036; 9450945-497044). D: dique tardio (aplito)
quartzo-feldspático, intrusivo em fácies monzonítica (FC-1039; 9450303-493896).

52
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

4.15 - MONZONITO SERROTE FEIO ± clinopiroxênio, hornblenda, biotita e quartzo.


(PRγsf) Geralmente ocorrem pouco deformados, com
porções preservadas (isotrópicas) (Fig. 4.24). Mas
Foram mapeados corpos plutônicos na também ocorrem deformados e, localmente,
porção central da Folha Quixadá, ocorrendo com porções migmatizadas. Enclaves máficos
de forma alongada na direção NE-SW a magmáticos e xenólitos de anfibolito são
E-W. Apresentam-se, aparentemente, como restritos.
intrusões sin a tardi-tectônicas, associadas Quimicamente, estas rochas apresentam
a zonas de cisalhamento de alto ângulo, uma leve tendência alcalina com afinidade para
semelhante ao Monzonito Quixadá (descrito no série shoshonítica, muito similar às rochas do
item anterior). Monzonito Quixadá (ver Capítulo 5). Em termos
Estes corpos plutônicos apresentam geocronológicos, esta rocha não apresenta
composição, variando de quartzo monzonitos a informações, mas provavelmente é de idade
quartzo monzogabros, de coloração cinza-escura neoproterozoica, com algo em torno de 590 Ma,
e granulação média equigranular. Compostos de assim como o Monzonito Quixadá e Suíte Pedra
plagioclásio, feldspato potássico, ± ortopiroxênio, Aguda (na Folha Itapiúna).

Figura 4.24. Monzonito Serrote Feio. Rocha sem deformação, com detalhe de enclave máfico magmático (FC-726;
9469649-469874).

4.16 - SUÍTE PEDRA AGUDA Na sua zona de borda ocorrem gabros e


(NP3δ2pag) dioritos, com xenólitos de rochas migmatíticas, e
no seu interior dominam granitos (FRAGOMENI,
Braga et al. (1981) descreveram rochas 2011). Ao redor do corpo ocorrem diques
predominantemente dioríticas e, localmente anelares, que formam serrotes alongados,
graníticas e aplitos, na toponímia conhecida constituídos por quartzo leitoso (NP3paqz),
por Pedra Aguda, a leste de Capistrano, exibindo agregados de cristais fibro-laminares
agrupadas na unidade definida como Rochas (SOUZA e BRAGA, 1984).
Plutônicas Granulares (Gabróides). Braga et al. No entanto, neste mapeamento,
(1984) as denominaram de Complexo Anelar encontrou-se apenas dioritos injetados, por
Gabro-Diorito de Pedra Aguda, inserindo, além meio de veios e diques, nos ortomigmatitos
das rochas acima citas, gabros, diques ácidos do Complexo São José do Macaoca e nos
e migmatitos. A designação de Suíte Pedra paramigmatitos do Complexo Canindé do Ceará
Aguda foi adotada no mapeamento da Folha Central, que são as suas rochas encaixantes
Baturité (1:100.000) (Pinéo e Zwirtes, 2013), (Figs. 4.25A e 4.25B). Entretanto, em alguns
cuja unidade adentra-se sutilmente na Folha afloramentos visitados no domínio da Folha
Itapiúna na sua porção norte. Baturité, coletou-se amostras de rocha quartzo
53
Programa Geologia do Brasil

diorítica, coloração cinza claro, granulação média plagioclásio (labradorita - 40%), porções máficas
a grossa, de textura granular, hipidiomórfica, constituídas por ortopiroxênio (25%), biotita
constituída por minerais essenciais de plagioclásio (18%) e hornblenda (15%), além de acessórios
(andesina - 40%), quartzo (10%), biotita (27%), como apatita (1%) e opacos (1%).
anfibólio (17%), e minerais acessórios como zircão Segundo Bessa (2000) as rochas da
(3%), magnetita (2%) e apatita (1%). Também Suíte Pedra Aguda são classificadas como
destacamos rocha de composição gabro-norítica, jotunitos, noritos, charno-enderbitos e
coloração cinza escuro, granulação grossa, de charnockitos, cuja fonte seria mantélica com
textura intergranular a subofítica, formada por contaminação crustal.

Figura 4.25. Suíte Pedra Aguda. A: dique de diorito injetado discordantemente em paramigmatito (EP-586; 9501543-
523486). B: mesma situação da figura 4.25A, mas injetado em ortomigmatito (EP-587; 9502238-522991) (seta vermelha
– dique).

O corpo Pedra Aguda tem datações Complexo São José da Macaoca, paraderivadas
de 594±12 e 595±8 Ma, obtida por Bessa do Complexo Canindé do Ceará Central e
(2000) pelo método de evaporação de Pb em rochas do Complexo Jaguaretama. As melhores
zircão, interpretada como sendo a idade de exposições ocorrem em lajedos, de grande
metamorfismo das rochas máficas. No atual porte, situados na Fazenda Veados, que lhe
projeto, admite-se que as idades acima sejam de deu o nome, aproximadamente 19 km ao norte
cristalização e correlaciona-se temporalmente de Ibicuitinga.
esta suíte a unidade Monzonito Quixadá. A rocha tem coloração cinza-claro,
aspecto de gnaisse facoidal, por se tratar
4.17 - GRANODIORITO VEADOS de uma rocha porfirítica milonitizada,
(NP3γve) com cristais de feldspato, frequentemente
amendoados, em uma trama anastomosada
Corpo reconhecido e descrito pela (Fig. 4.26A). Estes pórfiros são centimétricos
primeira vez neste projeto. Restringe-se à Folha (5 a 6 cm eixo C), imersos em matriz,
Itapiúna no seu quadrante SE, a partir da zona de de granulação média grossa, composta
cisalhamento Senador Pompeu. basicamente por biotita e pouco quartzo.
O Granodiorito Veados é representado São observáveis feições de concentração de
por dois corpos, um alongado com extensão minerais máficos de granulação fina a média,
de quase 17 km, na direção NE-SW, e outro, lembrando enclaves magmáticos (Fig. 4.26B).
estirado na direção NE-SW, com inflexão para Ocorrem diversas injeções graníticas, de
E-W. Este último situa-se entre as duas faixas coloração rosado e cinza-claro, granulação
da Formação Santarém (Grupo Orós). São fina a média, algumas concordantes, outras
concordantes com a estruturação regional subconcordantes e discordantes a foliação
e fortemente deformados. Por isso, exibem do corpo (Fig. 4.26C). Estas injeções também
contatos concordantes com os ortognaisses do estão milonitizadas.
54
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 4.26. Granodiorito Veados. A: aspecto de gnaisse facoidal (EP-259; 9463214-540450). B: enclave magmático
(seta vermelha) (EP 342; 9452145-540632). C: injeções graníticas no gnaisse facoidal (seta vermelha) (EP-518; 9463104-
540346).

Em lâmina delgada, a rocha apresenta


este corpo, que aflora na Serra Azul,
texturas granoblástica, xenoblástica e incluindo-o na unidade Rochas Plutônicas
inequigranular, destacam-se pórfiros de Granulares (Granitoides). Braga et al. (1984)
plagioclásio (18-42%), em matriz de quartzo
cartografaram denominando-o de Granito da
(20-28%) e biotita (18-30%). Algumas amostras
Serra Azul.
contêm feldspato potássico com percentual de O corpo tem aproximadamente 10
40%. Os acessórios são constituídos por apatita
km (eixo maior) na direção NE-SW e as suas
(2-3%), titanita (3%), rutilo (2%), zircão (2-3%),
bordas têm contorno facetado. É intrusivo nos
ilmenita (1%) e monazita (1%). Os cristais de
ortognaisses do Complexo São José do Macacoca
plagioclásios geralmente têm composição, e Cipó.
variando entre andesina – oligoclásio e alteram- São frequentes blocos rolados nas
se para sericita, argilominerais e carbonato.
bordas do corpo (Fig. 4.27A), de dimensões
Alguns cristais contêm inclusões diminutas
métricas, e lajedos bem expostos nas mediações
de quartzo e de biotita. A composição modal
do povoado de Oiticica. A rocha tem textura
predomina entre granodiorito a tonalito, com
fanerítica porfirítica, com matriz de granulação
algumas fácies graníticas. grossa, de coloração rosada a amarelada. No
Neste projeto correlaciona-se o seu lado leste, encontra-se milonitizado na
Granodiorito Veados aos granitoides sin- direção NE-SW (Fig. 4.27B), nota-se estrutura
transcorrentes das unidades Monzonito Quixadá
de aspecto facoidal e cataclasitos, efeitos da
e do Complexo Granítico Rio Quixeramobim (≈
atuação da zona de cisalhamento Senador
590 Ma). Pompeu (ZCSP). Também está presente uma
foliação de fluxo magmático, paralelo à foliação
4.18 - GRANITO SERRA AZUL da ZCSP, dado pela orientação de cristais de
(NP3γsa) feldspato potássico (Fig. 4.27C).
Em seção delgada o granito apresenta
Ocorre na parte central da Folha composição monzogranítica, textura granular
Itapiúna. Braga et al. (1981) destacaram grossa, xenomórfica, com porções quartzosas
55
Programa Geologia do Brasil

(27%), envolvendo cristais de feldspato potássico potássicos são pertíticos e micropertíticos.


(32-40%), plagioclásio (20-25%), biotita (6-10%) É comum encontrar feldspatos pouco
e hornblenda (1%). Os minerais acessórios são saussuritizados para epidoto e argilominerais.
constituídos por epidoto (1-4%), titanita (2%), Com base em aspectos de campo, é possível que
apatita (3%), zircão (1%) e minerais opacos o Granito Serra Azul seja ligeiramente mais novo
(1%). Os cristais de plagioclásios apresentam que o Monzonito Quixadá (≈ 590 Ma) e alojado
composição albita – oligoclásio e os feldspatos em nível crustal mais raso por falhamento.

Figura 4.27. Granito Serra Azul. A: blocos soltos do Granito Serra Azul (EP-486; 9468983-526558). B: foliação milonítica
do granito na direção NE-SW (EP 235; 9461128-524787). C: fluxo magmático - orientação de fenoscristais de feldspato
potássico na direção NE-SW (EP 247; 9468902-527444).

4.19 - GRANITOIDE BOQUEIRÃO média a grossa, sendo que os fenocristais de


(NP3γb) feldspato, nas duas fácies, não ultrapassam 1cm
(eixo maior) (Fig. 4.28C).
Este corpo situa-se no canto NW da Folha Ao microscópio o Granitoide Boqueirão
Itapiúna. Aflora nos arredores do povoado de revelou que as rochas de granulação com
Boqueirão, município de Capistrano, em blocos tendência mais fina são de composição
métricos e pequenos lajedos. Sustenta dois sienogranítica, textura intergranular
serrotes alongados (Fig. 4.28A), grosseiramente porfirítica, que se caracteriza pela presença
em forma de “U”. É intrusivo nos micaxistos de fenocristais de pertita albitizadas
(NP2cix) da Unidade Independência (Complexo dispersos em matriz fina (holocristalina).
Ceará). É composta por feldspato potássico (38%),
As rochas possuem coloração cinza a plagioclásio (12%), quartzo (15%), biotita
cinza-claro, variam de leucocrática a mesocrática (25%) e rara hornblenda (1%). Os acessórios
e são isotrópicas. São comuns injeções são formados por minerais opacos (ilmenita)
pegmatíticas e venulações quartzo-feldspáticas (3%), apatita (3%), zircão (1%) e titanita (1%).
discordantes. Texturalmente, o Granitoide Os fenocristais de feldspato potássico são
Boqueirão possui duas fácies microporfiríticas pertíticos albitizados e do tipo microclínio.
de contato gradacional (Fig. 4.28B): uma de Alguns destes são fenocristais poiquilíticos
granulação fina a média (predominante) e outra com inclusões de quartzo.
56
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 4.28. Granitoide Boqueirão. A: serrote que compõe o Granitoide Boqueirão. B: as duas texturas observadas no
granitoide: granulações média a grossa (seta preta) e fina a média (seta vermelha) (EP-206; 9501480- 508209). C: mesmo
afloramento anterior, mostrando fenoscristais de feldspato (feição microporfirítica).

Enquanto que as rochas de granulação granitogênese que formou a Suíte Pedra Aguda
de tendência mais grossas são termos no Neoproterozoico (Ediacariano).
granodioríticos, de textura porfirítica antipertítica,
onde sobressaem fenocristais de plagioclásio 4.20 - DIQUES MÁFICOS RIO
com exsoluções de feldspato potássico, CEARÁ-MIRIM (JKβc)
formando antipertitas. A massa fundamental é
formada por plagioclásio (38-44%), quartzo (20- O termo Rio Ceará-Mirim foi proposto
23%), biotita (15-21%) e, subordinadamente, por Gomes et al. (1981) para representar o
feldspatos potássico (5%). Têm-se ainda uma magmatismo máfico toleítico, associado à
gama de minerais como hornblenda (1-5%), abertura do Atlântico Sul, materializado por
granada (3%), opacos (magnetita e óxido de diques de diabásio/gabro, de direções ENE e NE-
ferro - 3%), titanita (1%), epidoto (1%), apatita SW, que se estende desde a costa do Rio Grande
(1%), zircão (3%), clinopiroxênio e ortopiroxênio do Norte até a região de Santa Quitéria no Ceará.
(5%). Os fenocristais de plagioclásios, Na Folha Itapiúna os diques apresentam
composicionalmente, situam-se entre albita e inflexão de E-W para NW-SE. Enquanto que
andesina, com formas triclínicas, mostrando uma na Folha Quixadá, ocorrem nas direções E-W
parcial substituição pelo feldspato potássico, (porção central) e NW-SE (norte da folha). Estes
sendo que alguns destes microclínio são do tipo diques destacam-se muito bem nas imagens de
micropertítico. Têm-se restos de clinopiroxênio e satélite e principalmente na primeira derivada
ortopiroxênio, oxidados, associados à biotita e a e no sinal analítico de imagem magnetométrica
restos de anfibólio. aérea (ver Capítulo 3).
As rochas encontradas no Granitoide Os afloramentos são geralmente na forma
Boqueirão não são classicamente enderbitos de blocos arredondados e ovalados, envoltos por
e charnockitos ígneos, mas são litotipos solos vermelhos, decorrentes do intemperismo
assemelhados a certas rochas da Suíte Pedra destas rochas máficas (Fig. 4.29A). As relações
Aguda. Por isso, correlacionamos a geração de contato com as rochas encaixantes são
deste corpo possivelmente associada à mesma dificilmente observadas. As espessuras dos diques
57
Programa Geologia do Brasil

são aproximadas na ordem de dezenas de metros, Nas análises microscópicas, os diabásios


podendo chegar até 100m. Localmente, nota-se apresentam granulação muito fina e com
variação na granulação da rocha, sugerindo que pequenos pórfiros de plagioclásio, ostentando
os níveis mais finos são as bordas (basalto) e as textura ofítica a subofítica. São formados por
mais grossas, são as partes centrais dos diques ripas de labradorita, médios fenocristais de
(diabásio/gabro) (Fig. 4.29C). No entanto, como hiperstênio (normalmente zonado), diopsídio
não foram observadas boas exposições das e augita. O diopsídio altera-se levemente para
relações de contato destas rochas, pode ser que uralita. Como acessórios, são observados
eles representem diques menores (granulação fina) minerais opacos (ilmenita ou magnetita) e
próximos a diques maiores (granulação grossa). cloropatita em finas agulhas.

Figura 4.29. Diques Máficos Rio Ceará-Mirim. A: matacões ovalados em solo amarronzado é o principal modo de
ocorrência dos diques Rio Ceará Mirim no terreno (FC-853; 9491714-481857). B: detalhe do bloco de diabásio do
afloramento na foto anterior. C: próximo a este mesmo afloramento encontra-se rocha alterada in situ, de nível afanítico
(basalto), exibindo fenocristais de plagioclásio.

Uma série de datações K-Ar foram representada pelo Grupo Barreiras Indiviso
realizadas na década de 70 para estas rochas. definido por arenitos argilosos, de matriz
Estas datações revelaram intervalos de idade argilo-caulinítica e com nódulos lateríticos;
entre 125-145 Ma e 160-175 Ma, podendo ainda e pelas formações: Faceiras, constituída por
existir pulsos magmáticos mais antigos (≥ 200 conglomerados basais, arenitos pouco litificados
Ma) (ver GOMES et al. 1981). Em diabásios no e siltitos; e Camocim, compreendida por
Rio Grande do Norte, dados geocronológicos ortoconglomerados oligomíticos e compactados
40Ar/39Ar (em plagioclásio) atribuídos a esta (CAVALCANTE et al., 2003).
unidade foram obtidos por Araújo et al. (2001) Grande parte da região nordeste da Folha
em: 127±1,3 Ma (João Câmara), 143±4Ma (Assu), Itapiúna apresenta uma faixa irregular de material
111±1,3 Ma (Lages) e 113±4Ma (Florânia). sedimentar, aflorante em pequenos cortes
de estrada, frequentemente intemperizado,
4.21 - GRUPO BARREIRAS (ENb) constituído por variações de arenitos argilo-
caulinítico a argilito caulinítico arenoso (Fig.
A proposta de grupo foi originalmente 4.30A), com níveis conglomeráticos, de coloração
utilizada por Bigarella e Andrade (1964). A extensão avermelhada a mosqueada, pouco compactados
dos sedimentos do Grupo Barreiras ocorre desde a e espessos. Ocorrem, às vezes, seixos quartzosos
foz do rio Amazonas até o Rio de Janeiro. embutidos na massa areno-argilosa ou argilo-
No estado do Ceará esta unidade está arenosa. Cimentação ferruginosa é comum na
58
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

área de ocorrência de manganês com formações rochas de composição granítica, geralmente


lateríticas (nódulos). associadas aos leucognaisses que ocorrem na
Esta capa sedimentar recobre área. Estão associados a estes depósitos mistura
principalmente as rochas do Complexo Canindé de materiais areno-argilosos, com cascalhos
do Ceará Central e restritas áreas onde ocorrem subarrendondados, de dimensões centimétricas,
os ortognaisses do Complexo São José da derivados de processo coluvionar (Fig. 4.30A).
Macaoca e o Leucogranito Itapiúna.
O Grupo Barreiras representa uma 4.23 - DEPÓSITOS ALUVIONARES
cobertura sedimentar neogênica de origens (Q2a)
continental e marinha, depositada entre 12-20
Ma e 4-5Ma (ARAI, 2006). Neste projeto, esses Unidade que compreende sedimentos
sedimentos, de trato continental, encimados ao inconsolidados recentes relacionados às planícies
embasamento cristalino, são correlacionados aluvionares (Fig. 4.30B) dos rios e riachos que
com o Grupo Barreiras Indiviso. ocorrem nas folhas Itapiúna e Quixadá. Como
grandes calhas desses depósitos se destacam os
4.22 - DEPÓSITOS COLÚVIO- rios Choró, Castro e Pirangi, e riacho do Feijão.
ELUVIAIS (N23c) Os depósitos são constituídos
por materiais clásticos de granulação,
Cobertura sedimentar de distribuição predominantemente arenosas, mas ocorrem
irregular cartografada na Folha Itapiúna. É frações argilosas, níveis de cascalhos e pouca
representada por material arenoso, de coloração matéria orgânica. As faixas arenosas são bem
esbranquiçada, produto de desagregação de vistas na região como recursos mineral.

Figura 4.30. Corte de estrada de ferro, mostrando contato (linha pontilhada vermelha) entre os sedimentos argilo-
arenosos avermelhados do Grupo Barreira (seta preta) e material cascalhoso com matriz areno-argilosa dos Depósitos
Colúvio-Eluviais (seta vermelha) (próximo ao afloramento EP-523; 9500116-511056). B: rio Choró preenchido por
material aluvionar, próximo ao povoado de Passagem Funda (IG-14; 9500085-531689).

59
Programa Geologia do Brasil

5 – LITOGEOQUÍMICA E PETROLOGIA
Foram coletadas 196 amostras para de mg# inferiores a 63, são característicos de
litogeoquímica nas Folhas Quixadá e Itapiúna, magmas diferenciados, diferente de um magma
englobando somente rochas ortoderivadas primitivo onde os valores são próximos de 80.
presentes nas principais unidades mapeadas. A Para as rochas metaultramáficas os valores de
empresa GEOSOL Laboratórios LTDA realizou as mg# variam entre 70 e 86, e portanto, estas
análises litoquímicas. Os óxidos maiores (SiO2, rochas podem representar magmas primitivos
TiO2, Al2O3, Fe2O3t, MgO, CaO, MnO, Na2O, (komatiítos?) associados aos anfibolitos.
K2O, P4O5, Cr2O3) e LOI (PF- perda ao fogo) Para fim de comparação, utilizaremos
foram analisados por ICP-AES, com abertura da junto com os dados deste relatório, as analises
amostra por fusão de metaborato de lítio. Os químicas em anfibolitos do Complexo Algodões
elementos Ba, Be, Co, Cs, Ga, Hf, Nb, Rb, Sn, Sr, obtidas por Martins et al. (2009).
Ta, Th, U, W, Zr, Y e elementos terras raras (ETR) No diagrama AFM (IRVINE e BARAGAR,
foram determinados por ICP-MS, após abertura 1971) da Figura 5.1, nossa amostras de
por fusão de metaborato de lítio. Os elementos anfibolitos exibem um padrão toleítico, assim
Mo, Cu, Pb, Zn, Ni, As, Cd, Sb, Bi, Ag, Au, Hg e Se como os anfibolitos analisados por Martins et al.
foram determinados por ICP-MS, após abertura (2009). As rochas metavulcânicas intermediárias
por água régia. (obs: não estão nas tabelas todos apresentam trend cálcio-alcalino, enquanto
estes elementos, pois muitos estão abaixo do que as metaultramáficas plotam próximas da
limite de detecção). extremidade MgO. No diagrama de Jensen
(1976) da Figura 5.2, as amostras de anfibolitos
5.1 - ANFIBOLITOS E posicionam-se no campo de basaltos toleíticos
METAVULCÂNICAS FÉLSICAS/ de alto-Fe e as amostras de metaultramáficas
no campo de komatiítos e basaltos-komatiíticos.
INTERMEDIÁRIAS - COMPLEXO As amostras das metavulcânicas intermediárias
ALGODÕES classificam-se como basalto cálcio-alcalino e
Foram coletadas 12 amostras de rochas dacito.
metamáfica (anfibolitos) (PP2βal), 5 amostras de No diagrama Nb/Y vs. Zr/Ti para
rocha metaultramáfica (PP2δmual) e 2 amostras classificação de rochas vulcânicas segundo
de metavulcânica intermediária (PP2λal), todas Pearce (1996), as amostras de anfibolitos
presentes no Complexo Algodões. Os anfibolitos inserem-se no campo de basaltos, enquanto
variam entre anfibolitos com/ou sem granadas, e que as metavulcânicas intermediárias estão no
geralmente se encontram intercalados com rochas campo de andesitos e basalto-andesíticos (Fig.
metassedimentares e também como enclaves 5.3A). No diagrama de Peccerillo e Taylor (1976)
(de variados tamanhos) nos ortognaisses Cipó. os anfibolitos apresentam-se no campo de
As rochas metaultramáficas e metavulcânicas médio- a baixo- potássio, assim como as rochas
intermediárias ocorrem associadas aos metavulcânicas intermediárias. Para os valores
anfibolitos e rochas metassedimentares do de sílica, nota-se que a amostra mais primitiva
Complexo Algodões. das rochas intermediárias (SiO2= 57,41 wt%)
As rochas metamáficas (anfibolitos) se aproxima do anfibolito mais evoluído (SiO2=
do Complexo Algodões apresentam teores 56,19 wt%) (Fig. 5.3 B). As rochas metavulcânicas
de SiO2 entre 49 e 56%, com teores de MgO félsicas apresentam alta razão Sr/Y de 46 e 76,
variando de 5 a 7% e valores de mg# (=100. e baixos valores de Y (14 e 6 ppm) (Tabela 5.1),
MgO/MgO+FeOt) [proporção molar] que em sugerindo semelhança com rochas adakíticas
geral variam entre de 32 e 49 (Tabela 5.1) (FeOt (e.g., MARTIN, 1999).
wt% foi calculado por Fe2O3t wt% * 0,8998). Considerando processos pós-
Para as rochas metavulcânicas intermediárias magmáticos, como intemperismo e
mg# apresenta valores de 55 e 39, relativamente metamorfismo, elementos considerados móveis
alto, comparando com os anfibolitos. Os valores (ex: K, Rb, Na) devem ser tratados com cautela nos
60
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.1. Diagrama classificatório AFM (IRVINE & BARAGAR, 1971). Anfibolitos do Complexo Algodões analisados por
Martins et al. (2009) estão plotados juntos para comparação.

Figura 5.2. Diagrama classificatório de Jensen (1976). Legenda para símbolos na figura 5.1.

diagramas. No entanto, elementos considerados de 3 grupos para os anfibolitos do Complexo


menos móveis (ex: Ti, Nb, Zr e Th) não são Algodões: Grupo-1 apresenta altos valores de Ta
afetados por processos pós-magmáticos, sendo e Th, Grupo-2 com altos valores de Th, Nb e Ce (e
então utilizados para identificar as características ETRs em geral) e Grupo-3 com baixos valores de
originais do magma (ROLLINSON, 1993). Th e Ta, similares as amostras dos anfibolitos de
Para os anfibolitos, em diagramas de Martins et al. (2009).
variação em função de Zr (Fig. 5.4), nota-se Os três grupos de anfibolitos podem
claramente trends distintos de evolução, quando ser facilmente visualizados nos diagramas
plotados contra alguns elementos (ex: Th, Ce, multielementares normalizados ao MORB,
Nb e Ta) (Fig. 5.4). Estes alinhamentos distintos segundo valores de Pearce (1983) (Fig. 5.5).
(trends) sugerem que nem todos os anfibolitos Nestes diagramas, os anfibolitos do Grupo-3
são cogenéticos, podendo haver magmas apresentam padrão semelhante aos anfibolitos
com fontes e idades diferentes. Com base analisados por Martins et al. (2009), caracterizado
neste comportamento, sugerimos a presença por anomalia positiva de Ba e K, muito similar aos
61
Programa Geologia do Brasil

Figura 5.3. A: diagrama de classificação de rochas vulcânicas (PEARCE, 1996). B: diagrama de variação de SiO2 vs. K2O
com campos de classificação definidos por Peccerillo e Taylor (1976). Legenda para símbolos na figura 5.1.

espectros dos elementos traços para N-MORB Nos diagramas de elementos terras
e E-MORB compilados de Sun e McDonough raras (ETR) normalizado ao condrito (Fig. 5.6)
(1989). Segundo Martins et al. (2009), esta nota-se que o grupo-2 apresenta-se maior
característica é típica de basaltos oceânicos fracionamento com razão (La/Yb)N de 2,21
modernos (cadeias oceânicas). No entanto, até 3,13 e maior conteúdo na somatória de
o Grupo-1 e Grupo-2 apresentam um padrão elementos terras raras ∑ETR = 77 a 88 ppm.
diferente dos basaltos de cadeias oceânicas Para os anfibolitos do grupo-1 e grupo-3, os
(N-MORB e E-MORB), com enriquecimento espectros são menos fracionados, com razões
relativo para alguns elementos (Fig. 5.5). O (La/Yb)N de 1,6 a 2,0 e menor conteúdo
Grupo-1 apresenta anomalia positiva de Th em total de ETR (33-56 ppm). Similarmente,
relação a Ba e Ta, e anomalia negativa de Nb anfibolitos analisados por Martins et al. (2009)
em relação a Ta e Ce. Enquanto que o Grupo-2 apresentam fracionamento moderado e baixo
apresenta anomalia positiva de Th e negativa conteúdo total dos elementos terras raras. Já as
de Ta em relação aos mesmos elementos. Estes metavulcânicas intermediárias são altamente
“altos” e “baixos” (anomalias) para elementos fracionadas com razões (La/Yb)N de 13 a 20 e
como Th, Ta e Nb estão provavelmente refletindo somatório de ETR de até 180 ppm. E relação
enriquecimento e/ou empobrecimento destes a anomalias de Európio (Eu), em geral todas
elementos na fonte. Estas características as amostras, anfibolitos e metavulcânicas
sugerem uma origem em manto heterogêneo, intermediárias apresentam pouca ou nenhuma
previamente metassomatizado por fluidos e/ anomalia de Eu, com valores de Eu/Eu*
ou magmas em ambiente de subducção. Para geralmente próximos de 1. Nesta mesma figura
os anfibolitos do Grupo-2, uma característica estão plotados a média dos valores para OIB
comum são os altos valores de Nb (8,04 até 10,09 (basaltos de ilha oceânica), N-MORB (basaltos
ppm) (Fig. 5.4), sugerindo processos peculiares de cadeia oceânica normais) e E-MORB (basaltos
para a gênese destas rochas. Na literatura de cadeia oceânica enriquecidos) extraídos de
internacional, basaltos enriquecidos em Nb Sun e McDonough (1989). Em comparação,
(Nb-enriched basalts) são típicos de zona de as amostras de anfibolitos apresentam maior
subducção e associados a uma fonte mantélica similaridade com basaltos tipo E-MORB,
metassomatizada por magmas trondhjemíticos enriquecidos em elementos terras raras leves
(adakitos) (e.g., DEFANT e KEPEZHINSKAS, 2001). (ex: La, Ce e Nd) (Fig. 5.6).
62
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.4. Diagramas de variação em função de Zr para anfibolitos do Complexo Algodões. Com base no comportamento
de alguns elementos como Th, Ta e Nb, sugerimos 3 grupos de anfibolitos distintos para nossos dados.

Figura 5.5. Diagramas multielementar com valores normalizados ao MORB (basaltos de cadeia meso-oceânica) segundo Pearce (1983).

63
Programa Geologia do Brasil

Figura 5.6. Diagramas para os elementos terras raras com valores normalizados ao condrito segundo Boynton (1984). As
linhas padrões OIB (basaltos de ilha oceânica), N-MORB (basaltos de cadeia oceânica normais) e E-MORB (basaltos de
cadeia oceânica enriquecidos) foram extraídas de Sun e McDonough (1989).

Uma característica de magmatismo arco (IAB) (Fig. 5.7).


máfico e sua relação com o manto são Muitos diagramas discriminantes
observadas na Fig. 5.7. Neste diagrama Zr x Ti, de ambiente tectônico para basaltos são
esta lançada a linha equivalente as razões Ti/ encontrados na literatura, sendo em geral
Zr = 100 que é a razão condrítica, ou do manto construídos com elementos de alto potencial
primitivo registrado por rochas mantélicas como iônico, conhecidos em inglês como high field
komatiítos e basaltos toleíticos de fundo oceânico streigth elements (HFSE) (e.g., ROLLINSON, 1993).
(SUN e McDONOUGH, 1989). O alinhamento Estes elementos (ex: Zr, Ti, Nb, ETR, Th, U e Ta)
das amostras junto à linha Ti/Zr = 100 mostra são incompatíveis, e em geral não são móveis em
sua origem mantélica, e a evolução ao longo processos pós-magmáticos (ex: metamorfismo e
do mesmo valor mostra um fracionamento hidrotermalismo) (e.g., ROLLINSON, 1993).
onde Ti e Zr não foram importantes. Os desvios Para o diagrama Th/Yb vs. Nb/Yb
no sentido dos valores maiores de Zr são segundo Pearce e Peate (1995), basaltos de
atribuídos à contaminação crustal. Neste mesmo cadeias oceânicas tipo N-MORB e E-MORB
diagrama (Fig. 5.7) estão mostrados os campos apresentam um range composicional que plotam
discriminantes segundo Pearce (1982) para ao longo de um campo diagonal de variação (Fig.
basaltos de arco de ilha (Island Arc Basalts - IAB), 5.8). Magmas máficos que tenham interagido
basaltos intra-placa (Within Plate Basalts - WPB) com material crustal durante sua ascensão,
e basaltos de cadeia oceânica (Mid Ocean Ridge ou magmas com componentes de subducção,
Basalts - MORB). As amostras em geral plotam no tendem a se movimentar para altos valores de
campo de basaltos de cadeia oceânica (MORB) e Th/Yb, acima do campo diagonal de basaltos
também se sobrepõem ao campo de basaltos de oceânicos N-MORB e E-MORB (Fig. 5.8).
64
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.7. Diagrama Zr x Ti (ppm) com linha da razão Ti/Zr = 100 e campos discriminantes segundo Pearce (1982) para
basaltos de arco de ilha (Island Arc Basalts - IAB), basaltos intraplaca (Within Plate Basalts - WPB) e basaltos de cadeia
oceânica (Mid Ocean Ridge Basalts – MORB). Legenda para símbolos na figura 5.1. (somente para as rochas metabásicas).

Para as amostras de anfibolitos do Para os anfibolitos do Complexo Algodões,


Complexo Algodões, notamos que o Grupo-1 e podemos concluir que existem magmas máficos
Grupo-2 plotam acima do campo diagonal para distintos na gênese destas rochas, sendo o Grupo-3,
basaltos ode cadeias oceânicas, apresentando similar aos anfibolitos analisados por Martins et
alta razão Th/Yb, se posicionam no campo para al. (2009), com assinatura próxima de basaltos
basaltos de arcos oceânicos e/ou continentais de cadeias meso-oceânicas ou platôs oceânicos
(Fig. 5.8). No entanto, como descrevemos (N-MORB e E-MORB), assim como previamente
anteriormente, os anfibolitos do Grupo-3 e aqueles interpretado por estes autores. No entanto, os
analisados por Martins et al. (2009) plotam ao outros dois grupos descritos aqui, sugerem uma
longo do campo diagonal para basaltos oceânicos componente de subducção para enriquecimento
tipo N-MORB e E-MORB. Para comparação em elementos como Th e Ta para o Grupo-1 e Th
inserimos também o campo para basaltos de e Nb para o Grupo-2. Basaltos de arco enriquecidos
arcos oceânicos Cenozoicos compilado de Polat em Th e Ta (Grupo-1) são provavelmente originados
et al. (2011). Segundo estes autores, anfibolitos por magmas gerados a partir de um manto
(metabasaltos) arqueanos estudados no sudoeste metassomatizados por fluidos em zona de subducção
da Groelândia (Isua greenstone belt), plotam neste (e.g., PEARCE, 2008), enquanto que para basaltos
campo de basaltos de arcos oceânicos e, portanto enriquecidos em Nb, o metassomatismo do manto é
interpretados como originados em ambientes de associado a magmas adakíticos (e.g., KEPEZHINSKAS
supra-subducção (retro-arco, arco, ante-arco). et al., 1996; DEFANT & KEPEZHINSKAS, 2001).

Figura 5.8. Diagrama Nb/Yb vs. Th/Yb com campos para basaltos de arcos oceânicos e arcos continentais segundo Pearce
& Peate (1995) (N-MORB= basaltos de cadeia meso-oceânica normal e E-MORB= basaltos de cadeia meso-oceânica
enriquecidos). O campo para basaltos de arcos oceânicos Cenozoicos foram foi extraído de Polat et al. (2011). Legenda
para símbolos na figura 5.4.
65
Programa Geologia do Brasil

Tabela 5.1. Análises químicas para anfibolitos, metaltramáficas e metavulcânicas intermediárias do Complexo Algodões.
Numero de magnésio (mg#) calculado por (MgO/(MgO+FeOt)) em proporção molar, sendo FeOt calculado por (FeOt =
Fe2O3t * 0,8998).

66
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

A presença de anfibolitos toleíticos com diagrama podemos visualizar a variação de SiO2


assinatura de arco oceânico e/ou continental para nosso conjunto de amostras, sendo em geral
junto com anfibolitos tipo MORB configuram entre 55 e 75 wt%. Nota-se que os ortognaisses
uma suíte máfica bimodal similar as que ocorrem Madalena são os mais primitivos, com SiO2
em ambientes de retro-arco (e.g., PEARCE, aproximadamente entre 55 e 65 wt%, enquanto
2008). Por exemplo, segundo Manikyamba et que os ortognaisses Cipó, Vargem da Onça e Serra
al. (2009) a presença bimodal de metabasaltos da Palha são mais ricos em sílica, com valores
“enriquecidos” (arco) e “empobrecidos” entre 65 e 75 wt% (Fig. 5.9 C). Os ortognaisses
(N-MORB) do Hutti greenstone belt, na Índia, Macaoca são os mais expandidos, apresentando
caracteriza um par arco-retro-arco (paired arc- termos de baixa sílica 55 wt% e termos de alta
back-arc) de basaltos toleíticos, interpretado sílica 70 wt% (Fig. 5.9 C). Ainda neste diagrama,
como gerados em ambiente de arco oceânico. segundo os campos de classificação de rocha de
Esta associação de rochas anfibolíticas Middlemost (1985) as amostras variam entre
(metabasaltos), junto com a presença de rochas gabro-dioritos a granitos, no entanto, com
metaultramáficas (prováveis picritos?), e rochas base em dados petrográficos sabemos que os
metavulcânicas cálcio-alcalinas (andesitos e ortognaisses Cipó são em geral tonalitos (Fig.
dacitos) com assinatura adakítica (alta razão Sr/Y), 5.9 D), e, portanto, diagramas de classificação
configura uma sequência vulcano-sedimentar da rocha por analise química devem ser
de ambiente de arco (e.g., MANIKYAMBA et al., tratados com cautela. No diagrama Streckeisen
2009). No entanto, estudo geocronológico de (1974) com composição modal (petrografia)
proveniência de zircão nos metassedimentos dos ortognaisses paleoproterozoicos, notamos
associados é necessário para definir a ambiência que granitos (sensu stricto) são somente os
oceânica ou continental desta sequencia de arco. ortognaisses Vargem da Onça e Serra da Palha,
sendo que no restante ocorre predomínio de
5.2 - ORTOGNAISSES tonalitos (e poucos granodioritos) (Fig. 5.9 D).
PALEOPROTEROZOICOS Alguns termos mais primitivos dos ortognaisses
Madalena e Macaoca plotam no campo de
Foram coletadas 122 amostras de quartzo-dioritos (Fig. 5.9 D).
ortognaisses migmatíticos do embasamento Nos diagramas de variação de SiO2
paleoproterozoico das folhas Quixadá e Itapiúna, para alguns elementos notamos uma correlação
sendo 51 amostras para ortognaisses tonalíticos negativa de SiO2 com TiO2 e MgO e positiva para
do Complexo São José da Macaoca (Macaoca) K2O (Fig. 5.10). No diagrama de SiO2 vs. K2O com
(PP2γsjmt), 46 amostras para os ortognaisses campos de classificação de séries magmáticas
Cipó (PP2γcip), 12 amostras para ortognaisses segundo Peccerillo e Taylor (1976), as amostras
Madalena (PP2γma), 7 amostras para os em geral apresentam um trend cálcio-alcalino
ortognaisses Vargem da Onça (PP2γsjmg) e 6 de médio-K, com exceção dos ortognaisses
amostras para os ortognaisses Serra da Palha graníticos Varzea da Onça e Serra da Palha que
(PP2γspa). (Os ortognaisses Vargem da Onça se inserem no campo de rochas cálcio-alcalinas
representam os termos graníticos inseridos no de alto-K (Fig. 5.10). Ainda neste diagrama, nota-
Complexo São José da Macaoca). se que parte das amostras dos ortognaisses Cipó
No diagrama AFM todas as amostras plotam no campo de baixo-K, evidenciando para
apresentam-se no campo de rochas cálcio- o baixo conteúdo em potássio para estas rochas
alcalinas (Fig. 5.9 A). Em relação ao índice de (Fig. 5.10).
saturação em alumínio, as amostras em geral No diagrama de variação de sílica
plotam no campo metaluminoso, e com uma (SiO2) em função da razão K2O/Na2O, notamos
leve tendência peraluminosa para parte dos que a maioria das amostras dos ortognaisses
ortognaisses Cipó, Macaoca e Serra da Palha (Fig. Cipó e algumas dos ortognaisses Macaoca
5.9 B). No diagrama K2O+Na2O vs. SiO2, todas as se enquadram na classificação de rochas
amostras apresentam-se no campo para séries trondhjemíticas (TTG) segundo Barker e Arth
magmáticas subalcalinas segundo a curva de (1976), sendo TTG rochas ricas em sílica (SiO2 >
Irvine e Baragar (1971) (Fig. 5.9 C). Neste mesmo 64 %, geralmente 70 % ou mais) e baixa razão
67
Programa Geologia do Brasil

Figura 5.9. Diagramas discriminantes para os granitoides paleoproterozoicos das folhas Quixadá e Itapiuna. A: Diagrama
AFM (IRVINE e BARAGAR, 1971). B: diagrama A/CNK vs A/NK (Al2O3/(CaO+Na2O+K2O) vs. Al2O3/(Na2O+K2O) (mol. %))
de Shand (1943) (em MANIER e PICCOLI, 1989) para discriminar composições metaluminosa, peraluminosa e peralcalina.
C: diagrama TAS (Total Alcalis vs Silica) com campos classificatórios de rocha segundo Middlemost (1985) e campos para
distinção entre séries magmáticas Alcalinas e Subalcalinas segundo a curva de Irvine e Baragar (1971). D: diagrama
Streckeisen (1974) com contagem modal (petrografia) dos ortognaisses paleoproterozoicos.

K2O/Na2O (< 0,5) (Fig. 5.10). definidos por Martin (1994) (Fig. 5.11 A). Neste
Notamos que as amostras, com exceção diagrama os ortognaisses Vargem da Onça e
dos ortognaisses Vargem da Onça e Serra da Palha, Serra da Palha apresentam uma tendência cálcio-
todas se enquadram em rochas cálcio-alcalinas alcalina “normal”, evoluindo para extremidade
de médio- a baixo-K, e em geral com baixa razão do potássio (K).
K2O/Na2O (<0,5) (Fig. 5.10), caracterizando No diagrama An-Ab-Or para classificação
uma suíte de rochas magmáticas ricas em sódio de rochas utilizando minerais normativos
(Na2O), similares a rochas trondhjemíticas e (An=anortita, Ab=albita e Or=ortoclásio) segundo
adakíticas. Portanto, utilizaremos agora alguns O’Connor (1965), com exceção dos ortognaisses
diagramas para explorar melhor esta assinatura. Vargem da Onça, as amostras plotam nos campos
No diagrama ternário Na-K-Ca em de Tonalitos, Trondhjemitos e Granodioritos,
proporção molecular mostrando tendência para definindo uma suíte tipicamente TTG (Tonalito-
séries Cálcio-Alcalina (CA) (linha tracejada) e Trondhjemito-Granodiorito) (Fig. 5.11B). Os
Trondhjemítica (linha inteira) segundo Barker e trondhjemitos que fazem parte das suítes
Arth, (1976), as amostras em geral apresentam TTG (Tonalitos-Trondhjemitos-Granodioritos)
um trend trondhjemítico, evoluindo para a são caracterizados por tonalitos sódicos, com
extremidade do sódio (Na), tendo algumas termos representados pelos ortognaisses Cipó
amostras no campo dos Trondhjemitos (Tdh) e Macaoca. Trondhjemitos são formados por
68
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.10. Diagramas de variação de sílica vs. (K2O, Na2O, TiO2, MgO, K2O/Na2O e Sr) para os granitoides
paleoproterozoicos das folhas Quixadá e Itapiuna. No diagrama SiO2 vs. K2O estão os campos para classificação das
séries cálcio-alcalinas de alto potássio (alto-K), médio potássio (médio-K) e baixo potássio (baixo-K) segundo Peccerillo
e Taylor (1976). Campo de rochas TTG foi construído com base na classificação de rochas trondhjemíticas de Barker e
Arth (1976), sendo TTG rochas ricas em sílica (SiO2 > 64 %, geralmente 70 % ou mais) e baixa razão K2O/Na2O (< 0,5).
Legenda para símbolos na figura 5.9.
69
Programa Geologia do Brasil

principalmente por quartzo-plagioclásio-biotita, (HSA) (Adakitos de alta-SiO2; > 64 wt%) e Low


pouca quantidade de K-feldspato, e interpretados Silica Adakites (LSA) (Adakitos de baixa-SiO2;
como fusão de rochas metabásicas (BARKER e 50 até 60 wt%). Dentro deste critério, podemos
ARTH, 1976; MARTIN, 1994). (para os próximos dizer que os ortognaisses Cipó são similares
diagramas não utilizaremos as amostras dos aos HSA, enquanto que os demais (Macaoca e
ortognaisses Vargem da Onça e Serra da Palha, Madalena) são similares aos LSA. Os HSA são
por se tratarem de granitoides potássicos, sem interpretados como produto da fusão de crosta
assinatura “tipicamente” TTG/adakítica). oceânica em subducção, no qual este fundido
Martin (1999) propôs que as rochas (slab-melt) interage com peridotitos durante
adakíticas podem ser consideradas como sua ascensão pelo manto (MARTIN et al., 2005).
análogas modernas das suítes arqueanas do A concentração de Mg, Cr e Ni no HSA é mais
tipo TTG, no entanto, existem restrições nesta elevada do que os valores encontrados em
comparação (e.g., SMITHIES, 2000; MARTIN líquidos tonalíticos gerados em experimentos
et al., 2005). Nos diagramas Sr/Y vs. Y (ppm) e de fusão de metabasaltos (RAPP et al., 1991),
YbN vs. (La/Yb)N proposto para identificação e, portanto, atribui-se este enriquecimento a
de adakitos por Drummond e Defant (1990), as interação do magma com o manto peridotítico.
amostras dos ortognaisses paleoproterozoicos Os adakitos de baixa-SiO2 (LSA), apresentam
das folhas Quixadá e Itapiúna plotam no campo maior conteúdo em MgO e são considerados
de rochas adakíticas (Fig. 5.11 C e D). como formados por fusão parcial do manto
Segundo Martin et al. (2005) os adakitos peridotítico que foi previamente modificado
são divididos em dois grupos; High Silica Adakites (metassomatismo) por fundidos de crosta

Figura 5.11. Diagramas discriminantes para rochas adakíticas e trondhjemíticas. A: diagrama Na-K-Ca em proporção
molecular mostrando tendência para séries Cálcio-Alcalina (CA) (linha tracejada) e Trondhjemítica (linha inteira)
segundo Barker e Arth, (1976) e campo dos Trondhjemitos (Tdh), segundo Martin (1994). B: diagrama An-Ab-Or para
classificação de rochas utilizando minerais normativos (An=anortita, Ab=albita e Or=ortoclásio), segundo O’Connor
(1965). C: Diagrama Sr/Y vs. Y (ppm) . D: YbN vs. (La/Yb)N proposto por Drummond e Defant (1990) para distinção entre
adakitos e rochas cálcio-alcalinas “normais” (ou “clássicas”) para arcos de ilha. Legenda para símbolos na figura 5.9.
70
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

oceânica (slab-melts). mesmo diagrama, os ortognaisses Macaoca e


Quando plotamos nossas amostras em Madalena, plotam predominantemente no campo
diagramas extraídos de Martin et al. (2005) para de adakitos que interagiram com o manto, seja em
distinção entre HSA e LSA, notamos que estas processo de subducção de crosta oceânica ou por
em geral plotam no campo de HSA, porém os delaminação de crosta máfica inferior (Fig. 5.14).
ortognaisses Madalena e Macaoca sempre com Nos diagramas de multielementos
uma tendência para o campo de LSA, afastando- normalizados ao manto primitivo, os ortognaisses
se dos ortognaisses Cipó (Fig. 5.12). No diagrama em geral apresentam espectros semelhantes,
de SiO2 vs. MgO, notamos uma afinidade dos principalmente pelas marcantes anomalias
ortognaisses Cipó com magmas experimentais negativas de Nb, P e Ti e anomalia positiva de Sr
gerado pela fusão de metabasaltos, enquanto (Fig. 5.15). No entanto, os ortognaisses Madalena
que as outras amostras (Macaoca e Madalena) apresentam pouca ou nenhuma anomalia negativa
apresentam maior variação de SiO2 e MgO, de Ti, e os ortognaisses Vargem da Onça pouca
plotando em quase todos os campos (Fig. 5.12 anomalia positiva de Sr (Fig. 5.15). As anomalias
F). negativas de Nb, P e Ti são geralmente associadas a
No diagrama Sr/Y vs. Y em escala ambiente de subducção (PEARCE, 1982). Para Nióbio
logarítimica podemos notar dois alinhamentos (Nb) e Titânio (Ti), estes elementos provavelmente
(trend) paralelos, mostrando linhas de evolução são retidos na fonte por minerais como rutilo e/ou
distintas dos ortognaisses Cipó para os ilmenita que apresentam coeficiente de partição
ortognaisses Macaoca e Madalena (Fig. 5.13). (Kd) alto para estes elementos (eg: KdNb para rutilo
Esta posição inferior dos ortognaisses Cipó em é > 20; FOLEY et al., 2000).
relação aos outros, é similar ao posicionamento A anomalia positiva de Sr é uma
nos diagramas da Figura 5.12 e, portanto reflete característica intrínsecas de TTGs e magmas
duas suíte magmáticas distintas. adakíticos, e reflete comportamento do
Dentro deste contexto, sugerimos a plagioclásio durante a fusão parcial de rochas
presença dos dois tipos de rochas adakíticas para os basálticas (e.g., MARTIN et al., 2005). Durante a
ortognaisses paleoproterozoicos aqui analisados, fusão, o plagioclásio é extremamente dependente
que também refletem suas características de da pressão, e, portanto, a concentração de Sr no
campo. Os ortognaisses Macaoca e Madalena magma originado também. Adakitos de alta-sílica
são em geral horblenda-biotita tonalitos, com (HSA) apresentam concentração de Sr até 1100
frequente mistura de magmas na forma de ppm e adakitos de baixa-sílica (LSA) de 1000 até
enclaves máficos magmáticos e diques máficos sin- 3000 ppm (e.g., MARTIN et al., 2005). Segundo
plutônicos. Portanto, para estes ortognaisses com dados experimentais de Zamora (2000), a fusão
assinatura tendendo para adakitos de baixa-sílica de rochas basálticas sob elevadas temperatura
(LSA), é evidente uma componente mantélica na (850-1150 ºC) e pressão (7-35 kbar) pode
gênese destas rochas, provavelmente uma fonte explicar ao conteúdo de Sr em magmas TTGs e
mantélica previamente metassomatizada por adakíticos de alta-sílica (HSA). No entanto, as altas
fundidos adakíticos. Para os ortognaisses Cipó, concentrações de Sr para adakitos de baixa-sílica
o aspecto de campo também corrobora com sua (LSA) é mais consistente com uma origem mantélica
assinatura (crustal) TTG e/ou adakitos de alta-sílica previamente enriquecida por metassomatismo,
(HSA), apresentando biotita como mineral máfico similarmente como proposto para os granitos
principal, sem mistura com magmas mais primitivos orogênicos (High Ba-Sr granites) de Tarney e
e frequentemente com xenólitos de anfibolitos. Jones (1994). Comparando com nossas amostras,
A semelhança composicional dos os valores mais altos de Sr são encontrados nos
ortognaisses Cipó com líquidos experimentais ortognaisses Macaoca e Madalena (Sr até 1200
da fusão de metabasaltos (Fig. 5.12F) sugere ppm) (Fig. 5.10), refletindo para estas rochas, uma
pouco ou nenhum envolvimento do magma origem mantélica enriquecida, provavelmente
trondhjemítico com manto peridotítico. Sendo metassomatizada por fundidos trondhjemíticos.
assim, os ortognaisses Cipó se assemelham com Para os diagramas de elementos terras
adakitos formados por fusão de crosta máfica raras (ETR) normalizados ao condrito, notamos
espessada, como mostra a Figura 5.14. Neste em geral espectros fracionados para todos
71
Programa Geologia do Brasil

Figura 5.12. Diagramas segundo Martin et al. (2005) para discriminação entre HSA (High Silica Adakites) e LSA (Low Silica
Adakites). Figura D mostra o campo de líquidos experimentais gerados pela fusão de metabasaltos segundo Rapp et al.
(1991). Legenda para símbolos na figura 5.9.

Figura 5.13. Diagrama Sr vs Y em escala logarítmica para os ortognaisses paleoproterozoicos das folhas Quixadá e
Itapiúna. Legenda para símbolos na figura 5.9.

72
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.14. Diagrama MgO vs. SiO2 para os ortognaisses paleoproterozoicos das Folhas Quixadá e Itapiun. Os campos
de adakitos produzidos por (a) fusão de crosta oceânica subductada, (b) fusão de crosta máfica inferior delaminada e
(c) fusão experimental de metabasaltos e eclogitos (1-4.0 Pa) são todos extraídos de Wang et al. (2006). O campo de
adakitos formados por fusão de crosta inferior espessada foi extraído de Zhao e Zhou (2008) e referências contidas.
Legenda para símbolos na figura 5.9.

Figura 5.15. Diagramas multielementares normalizados pelo manto primitivo segundo valores de Sun e McDonough
(1989) e diagramas para elementos terras raras normalizados pelo condrito segundo constantes de Boynton (1984).

73
Programa Geologia do Brasil

Tabela: 5.2. Análises químicas para os ortognaisses do Complexo São José da Macaoca.

74
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Tabela: 5.3. Análises químicas para os ortognaisses do Complexo São José da Macaoca. (continuação)

75
Programa Geologia do Brasil

Tabela: 5.4. Análises químicas para os ortognaisses São José do Macaoca (continuação) e ortognaisses Cipó.

76
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Tabela: 5.5. Análises químicas para os ortognaisses Cipó (Continuação).

77
Programa Geologia do Brasil

Tabela: 5.6. Análises químicas para os ortognaisses Cipó (Continuação) e ortognaisses Madalena.

78
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Tabela: 5.7. Análises químicas para os ortognaisses Serra da Palha e Vargem da Onça.

os ortognaisses, seno os ortognaisses Cipó e Macaoca, provavelmente refletindo a presença


Macaoca com os valores mais elevados da razão de granada residual na fonte, pois este mineral
(La/Yb)N (Fig. 5.15). Também para os ortognaisse apresenta alto coeficiente de partição (kd) para
Cipó e Macaoca, valores mais elevados de elementos terras raras pesadas (e.g., ROLLINSON,
da razão Eu/Eu* evidenciam, predominante 1993). Este fato é importante para gênese de
anomalia positiva de Eu para estas rochas. O rochas trondhjemíticas e adakíticas, pois a rocha
Európio assim como o Sr, também tem forte fonte sendo metabásica, granada geralmente
relação com o comportamento do plagioclásio ocorre na fase residual (ex: eclogitos), e, portanto,
na fonte e/ou durante cristalização fracionada. os magmas gerados apresentam baixo conteúdo
Em relação aos elementos terras raras de elementos terras raras pesadas e também de
pesadas (ex: Lu, Yb, Tm, Er) os valores mais Ítrio (Y), que tem comportamento semelhante
baixos são encontrados nos ortognaisses Cipó e ao Itérbio (Yb) (MARTIN et al., 2005).
79
Programa Geologia do Brasil

5.3 - ORTOGNAISSES (Fig. 5.16D), e, portanto sugerimos que a


NEOPROTEROZOICOS classificação química é mais adequada neste
caso (Fig. 5.16C). Da mesma forma, sugerimos
O total de 44 amostras foram coletadas a classificação química para o Granodiorito
para granitoides neoproterozoicos das folhas Veados, que na classificação modal varia
Quixadá e Itapiúna, sendo 17 amostras para de tonalito, granodiorito e granito, e para
o Monzonito Quixadá (NP3γq), 7 aplitos o Monzonito Serrote Feio, classificado no
(diques evoluídos) contidos no Monzonito Streckeisen (1974) como quartzo-diorito e
Quixadá, 11 amostras do Monzonito Serrote quartzo-monzodiorito.
Feio (PRγsf), 4 amostras do Granodiorito Para os granitoides Serra Azul, Juatama
Veados (NP3γve), 3 amostras para o Granito e aplitos do Monzonito Quixadá, a classificação
Serra Azul (NP3γsaz) e 2 amostras para de granito (sensu stricto) prevalece tanto pela
granitos da unidade Juatama (NP3j). química (Fig. 5.16C) como na contagem modal
No diagrama AFM todas as amostras (Fig. 5.16D).
configuram um padrão cálcio-alcalino (Fig. No diagrama SiO2 vs. K2O (wt%) com
5.16A). Neste diagrama as amostras sugerem campos de classificação de séries magmáticas
dois alinhamentos (trends) distintos, sendo definidos por Peccerillo e Taylor (1976), as
um para os granitoides Quixadá, Serrote Feio amostras do Monzonito Quixadá delineiam
e Veados alinhados aos aplitos do Monzonito um trend shoshonítico, evidenciando o alto
Quixadá, e um trend, ligeiramente acima, conteúdo em potássio destas rochas (Fig.
para os granitoides Serra Azul e Juatama 5.17A). A amostra EP-400B, corresponde a
(Fig. 5.16A). uma rocha rica em potássio (K2O = 5,51 wt%)
Segundo o diagrama de Shand (1943) para seu baixo teor de sílica (SiO2 = 51,01
as amostras dos monzonitos Quixadá e wt%) (Fig. 5.17A). Esta amostra tem elevado
Serrote Feio plotam no campo de rochas conteúdo de magnésio (MgO = 7,36 %) (Tabela
metaluminosas, o Granodiorito Veados é 5.8) e é a única que pode ser classificada
ligeiramente peraluminoso, e as demais como ultrapotássica segundo os critérios de
amostras (granitoides Juatama, Serra Azul Foley et al. (1987) (K2O/Na2O>2 e MgO>3)
e aplitos Quixadá) plotam no limite dos para distinção de rochas ultrapotássicas. O
campos peraluminoso e metaluminoso (Fig. Monzonito Serrote Feio também apresenta
5.16B). tendência para série shoshonítica, enquanto
Na classificação feita pelo diagrama que os demais granitoides têm maior
K2O+Na2O vs SiO2, conhecido como afinidade para série cácio-alcalina de alto-K
diagrama TAS (Total Álcalis vs Silica) estão (Fig. 5.17A).
representados os campos classificatórios Na classificação segundo os trends
de rocha segundo Middlemost (1985) e específicos no diagrama R1-R2 (Fig. 5.17B) e os
os campos para distinção entre séries campos dos diagramas de Liégeois et al. (1998)
magmáticas alcalinas e subalcalinas segundo (Fig. 5.17C), as amostras classificam-se também
a curva de Irvine e Baragar (1971) (Fig. 5.16C). nas séries shoshonítica e cálcio-alcalinas de
Neste diagrama, as amostras do Monzonito alto-K, excluindo a presença de rochas alcalinas
Quixadá tem uma tendência para rochas entre as amostras.
alcalinas, enquanto que as demais para rochas Em diagramas de variação de SiO2 vs.
sub-alcalinas (Fig. 5.16C). Neste diagrama as CaO (wt%) e SiO2 vs. MgO (wt%) podemos
amostras do Monzonito Quixadá plotam em notar uma forte correlação negativa para as
geral no campo de monzonitos, com alguns amostras, provavelmente refletindo processos
termos mais primitivos no campo de monzo- de cristalização fracionada, podendo sugerir
dioritos. No entanto, quando observamos a uma certa correlação entre os granitoides (Fig.
composição modal no diagrama Streckeisen 5.18). No entanto, quando plotamos SiO2 em
(1974), nota-se uma grande variação função de TiO2 (wt%) ou Zr (ppm), notamos a
80
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.16. Diagramas discriminantes para os granitoides neoproterozoicos. A: Diagrama AFM (IRVINE e BARAGAR,
1971). B: Diagrama A/CNK vs A/NK (Al2O3/(CaO+Na2O+K2O) vs. Al2O3/(Na2O+K2O) (mol. %)) de Shand (1943) (em
MANIER e PICCOLI, 1989) para discriminar composições metaluminosa, peraluminosa e peralcalina. C: Diagrama TAS
(Total Álcalis vs Silica) com campos classificatórios de rocha segundo Middlemost (1985) e campos para distinção entre
séries magmáticas Alcalinas e Subalcalinas segundo a curva de Irvine e Baragar (1971). D: Diagrama Streckeisen (1974)
com contagem modal (petrografia) das amostras.

Figura 5.17. A: Diagrama K2O vs SiO2 com campos de classificação das séries cálcio-alcalinas de alto potássio (alto-K),
médio potássio (médio-K) e baixo potássio (baixo-K) definidos por Peccerillo e Taylor (1976). B: Diagrama de classificação
de rocha R1-R2 de De LaRoche et al. (1980) com trends evolutivos das séries: (1)-Alcalina, (2)-Shoshonítica/Monzonítico/
Cálcio-alcalina de alto-K e (3)-Cálcio-alcalina normal). C: Diagrama de Liégeois et al. (1998) para distinção de séries
Cálcio-alcalinas de alto-K e Shoshoníticas das séries Alcalinas. Legenda para símbolos na figura 5.16.

81
Programa Geologia do Brasil

presença de dois alinhamentos (trend) distintos, negativas de Eu podem estar associadas à


evidenciando duas suítes magmáticas que cristalização fracionada de plagioclásio, ou
evoluíram separadamente, e provavelmente associada a processos na fonte do magma,
a partir de fontes distintas. Da mesma forma, quando plagioclásio é uma fase estável
quando plotamos alguns elementos em função no resíduo. Os granitoides Serra Azul e
de Zr (ppm), notamos claramente os dois trends Juatama são tipicamente granitos (sensu
distintos para as amostras (Fig. 5.19). Um stricto), de coloração rosa, compostos por
alinhamento ocorre para o Monzonito Quixadá quartzo, K-feldspato, plagioclásio e biotita.
com seus termos evoluídos (aplitos) junto com Em função de suas características químicas,
as amostras do Monzonito Serrote Feio e do podemos sugerir que são gerados por uma
Granodiorito Veados, enquanto que o outro mesma fonte crustal, provavelmente os
alinhamento é delineado pelos granitoides Serra ortognaisses tonalíticos/granodioríticos
Azul e Juatama (Fig. 5.19). do embasamento paleoproterozoico. Na
Nos diagramas de multielementos literatura, alguns autores descrevem que
normalizados ao manto primitivo, nota- granitos “rosas” com assinatura cálcio-
se que para todas as amostras, anomalias alcalina de alto-K e levemente peraluminosa,
negativas de Nb, P, e Ti estão presentes podem derivar da fusão parcial de rochas
(Fig. 5.20). O Monzonito Quixadá apresenta tonalíticas/granodioríticas ortoderivadas,
semelhança com o padrão de seus aplitos, sendo comprovado tanto por dados
ambos contendo anomalias positivas de Ba experimentais (PATINO DOUCE e BEARD,
e Sr. Para os aplitos, a anomalia negativa 1995; PATINO DOUCE, 2005) ou em relações
de P é muito mais pronunciada do que no de campo (PETCOVIC e GRUNDER, 2003).
Monzonito Quixadá, e provavelmente está Os dados experimentais revelam que a
relacionada à cristalização fracionada de fusão de protolitos tonalíticos sob pressões
apatita. relativamente baixas (10 kbar), origina
Nos diagramas de multielementos, magmas com anomalia negativa de Eu e Sr,
o Monzonito Serrote Feio apresenta um pois o plagioclásio permanece no resíduo
peculiar enriquecimento de Cs, e assim como (PATINO DOUCE e BEARD, 1995; PATINO
o Granodiorito Veados não apresentam as DOUCE, 2005). Neste caso, podemos sugerir
anomalias positivas de Ba e Sr observadas que o Granito Serra Azul e Juatama, com baixo
no Monzonito Quixadá (Fig. 5.20). Para os conteúdo de Eu e Sr, são gerados pela fusão
granitoides Serra Azul e Juatama, notamos
de protólitos tonalíticos/granodioríticos sob
um comportamento similar entre eles,
pressões relativamente baixas (10 kbar).
principalmente pela queda de Sr junto com P,
Para os Monzonitos Quixadá, Serrote
registrando um baixo conteúdo de Sr nestas
Feio e o Granodiorito Veados, o predomínio
rochas quando comparado com os monzonitos
de composição intermediária (SiO2 entre 50-
Quixada, Serrote Feio e o Granodiorito Veados
65 wt%), as feições de misturas de magmas
(Fig. 5.20).
(magma mingling) observadas no campo
Nos diagramas de elementos terras
e a presença ortopiroxênio magmático no
raras (ETR) normalizado ao condrito,
Monzonito Serrote Feio, são característica
notamos também forte semelhança entre
que sugerem uma componente mantélica na
os granitoide Serra Azul, e Juatama,
evolução destas rochas. A afinidade com a
principalmente pela pronunciada anomalia
série shoshonítica, e até ultrapotássica para
negativa de Eu, refletindo em baixos valores
uma das amostras do Monzonito Quixadá
da razão Eu/Eu* entre 0,35 e 0,75 (Fig. 5.21).
(Fig. 5.17A), revelam uma fonte mantélica
Para os outros granitoides (Quixadá, Serrote
enriquecida para este magmatismo,
Feio e Veados) pouca ou nenhuma anomalia
provavelmente um manto litosférico sub-
negativa de Eu esta presente, com valores de
continental.
Eu/Eu* próximos de 1 (Fig. 5.21). Anomalias
82
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 5.18. Diagramas de variação em função de sílica (SiO2 wt%) vs. (CaO, MgO, TiO2 e Zr) para os granitoides
neoproterozoicos das folha Quixadá e Itapiúna. Legenda para símbolos na figura 5.16.

Figura 5.19. Diagramas de variação em função de zircônio (Zr) para os granitoides neoproterozoicos das folha Quixadá e
Itapiúna. Legenda para símbolos na figura 5.16.

83
Programa Geologia do Brasil

Figura 5.20. Diagramas multielementares normalizados pelo manto primitivo segundo valores de Sun e McDonough
(1989) para os granitoides neoproterozoicos das folhas Quixadá e Itapiúna.

Figura 5.21. Diagramas para elementos terras raras normalizados pelo condrito segundo constantes de Boynton (1984).

84
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Tabela: 5.8. Análises químicas para os granitoides Juatama, Serra Azul e Quixadá.

85
Programa Geologia do Brasil

Tabela: 5.9. Análises químicas para os granitoides Quixadá (Continuação), aplitos Quixadá e Serrote Feio.

86
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Portanto, concluímos que estamos 5.4 - LEUCOGRANITO ITAPIÚNA


tratando de uma suíte bimodal para os
granitoides neoproterozoicos, sendo um A unidade mapeada como leucogranito
magmatismo de derivação crustal (granito Serra Itapiúna corresponde a corpos de granitóides
Azul e Juatama), com fonte representada por tipo-S, onde a maior participação destas rochas
ortognaisses intermediários do embasamento; ocorre na região do município de Itaiúna.
e um magmatismo de derivação mantélica, Foram coletadas 11 amostras referentes a este
com fonte representada por manto litosférico magmatismo, sendo que em geral as amostras
apresentam em sua mineralogia alguns
sub-continental.
minerais aluminosos como moscovita, biotita e
Em relação ao ambiente tectônico,
granada. Por serem granitos tipo-S, com fonte
não precisamos discutir com geoquímica,
metassedimentar já estabelecida, decidimos
pois todo este magmatismo (crustal e tratar estes dados separadamente dos granitoides
mantélico) é sin- a tardi-transcorrência da neoproterozoicos descritos anteriormente.
zona de cisalhamento Senador Pompeu, As analises de litoquímica para estas rochas
provavelmente com colocação entre 590-560 revelam altos teores de sílica (SiO2) variando de
Ma, e, portanto de ambiente pós-colisional 69,8 a 76,38 %, alumínio (Al2O3) entre 13,67 e
no contexto regional. No entanto, a única 18,57 %, altos valores de potássio (K2O) variando
datação disponível na literatura para estas de 2,43 a 6,05 % e baixos valores de magnésio
rochas corresponde à idade U-Pb (diluição (MgO) entre 0,11 e 1,28 % (Tabela 5.10).
isotópica) de 585 Ma para o Monzonito No diagrama de Shand (1943) as
Quixadá (FETTER, 1999). amostras em geral caem no campo de rochas

Tabela: 5.10. Análises químicas para os Leucogranitos Itapiúna.

87
Programa Geologia do Brasil

Figura 5.22. Diagramas discriminantes para o Leucogranito Itapiúna. A: Diagrama A/CNK vs. A/NK (Al2O3/(CaO+Na2O+K2O)
vs. Al2O3/(Na2O+K2O) (mol. %)) de Shand (1943) (em MANIER e PICCOLI, 1989) para discriminar composições
metaluminosa, peraluminosa e peralcalina. B: Diagrama TAS (Total Alcalis vs. Silica) (K2O+Na2O vs. SiO2) (em %), com
campos classificatórios de rocha segundo Middlemost (1985) e campos para distinção entre séries magmáticas Alcalinas
e Subalcalinas segundo a curva de Irvine e Baragar (1971). C: Diagrama K2O vs. SiO2 (em %) para classificação das séries
cálcio-alcalinas de alto potássio (alto-K), médio potássio (médio-K) e baixo potássio (baixo-K), segundo campos definidos
por Peccerillo e Taylor (1976). D: Diagrama para classificação entre granitos Ferrosos e Magnesianos, com campo de
leucogranitos peraluminosos (n = 90), granitos cordilheiranos e tipo-A segundo Frost et al. (2001).

peraluminosas (Fig. 5.22 A), sendo que as duas 5.22D), cujos dados foram extraídos principalmente
amostras são levemente metaluminosas. do ambiente sin-colisional Himalayano.
A maioria das amostras plotam no campo No diagrama de multielementos
de granitos (subalcalinos) segundo a classificação normalizados por granitos de cadeia oceânica
de Middlemost (1985) no diagrama TAS (Fig. 5.22B). (ORG) segundo valores de Pearce et al. (1984),
Segundo o diagrama K2O vs SiO2 com foram lançados os dados de leucogranitos sin-
campos definidos por Peccerillo e Taylor (1976) colisionais do Himalaya, na região de Yunnan (SW
para classificação das séries cálcio-alcalinas, China) e Gabug (Tibet) (Fig. 5.23A). Neste diagrama
as amostras se apresentam na extremidade do o Leucogranito Itapiúna apresenta um padrão
campo cálcio-alcalino de alto-K (Fig. 5.22C). semelhante ao dos granitos de Gabug (Tibet) e de
O diagrama FeO/(FeO+MgO) vs. SiO2 Yunnan (SW da China) gerados por fusão crustal
(Fig. 5.22D) com campo para 90 analises de (metasedimentos) durante colisão continental no
leucogranitos peraluminosos foi extraído de Frost Himalaia. Portanto, o enriquecimento nos teores
et al. (2001). Segundo estes autores este diagrama em Rb, Th, Ce e Sm no Leucogranito Itapiúna
não é discriminante de ambiente tectônico, e pode ser atribuído à processos similares aqueles
sim uma classificação não-genética. No entanto, da gênese dos leucogranitos Himalayanos, fusão
com as serie de dados copilados para granitos parcial de metasedimentos.
de arco (cordilheiranos), anorogênicos (tipo-A) e O espectro de elementos terras raras (REE)
leucogranitos, fica reforçada a interpretação tectônica para o Leucogranito Itapiúna apresenta-se fracionado
quando os dados são lançados neste diagrama. Para o (Fig. 5.23A), com valores de (La/Yb)N entre 8,347
caso do leucogranito Itapiúna, estes plotam na região a 127,2. Altos valores de Lutércio (Lu) em algumas
do campo de leucogranitos peraluminosos (Fig. das amostras podem estar relacionados à presença

88
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

de granada nestas rochas, pois a granada apresenta por Pearce et al. (1984), as amostras variam entre
um alto coeficiente de partição (Kd) para elementos granitos de arco e granitos sin-colisionais (Fig.
terras raras pesadas (e.g., ROLLINSON, 1993). 5.24). Interessante notar que para granitos sin-
No espectro de elementos terras raras (REE) o colisionais neste diagrama, utiliza-se o elemento
Leucogranito Itapiúna apresenta em geral anomalias Tantálio (Ta) na ordenada, refletindo alto
negativas de Európio (Eu), com valores de Eu/Eu* conteúdo deste elemento nestes granitoides.
entre 0,4 e 1,35 e média 0,88 (Fig. 5.23B). Segundo Para este fato podemos fazer um link para
Harris et al. (1986), os leucogranitos sin-colisionais, os indícios de mineralizações de Columbita/
geralmente apresentam anomalias negativas de Eu, Tantalita que ocorrem na região de Itapiúna,
com valores de Eu/Eu* entre 0,4 e 0,6. todas associadas a pegmatitos, provavelmente
Nos diagramas discriminantes proposto derivados do Leucogranito Itapiúna.

Figura 5.23. Diagramas multielementares. A: Diagrama multielementar normalizado por granitos de cadeia oceânica
(ORG = Ocean Ridge Granite), valores de normalização extraídos de Pearce et al. (1984). Neste diagrama foram lançados
a média para leucogranitos de Yunnan (SW China) e Gabug (Tibet), com valores também extraídos de Pearce et al.
(1984). B: Diagrama para elementos terras raras normalizados pelo condrito segundo constantes de Boynton (1984).

Figura 5.24. Diagramas discriminantes proposto por Pearce et al. (1984) onde VAG = granito de arco vulcânico, WPG =
granito intra-placa, ORG = granito de cadeia meso-oceânica e syn-COLG = granito sin-colisional.

89
Programa Geologia do Brasil

6 – GEOCRONOLOGIA
Análises geocronológicas pelo método sequências metassedimentares mapeadas.
U-Pb em zircão por laser ablation- inductive
coupled plasma mass spectrometry (LA- 6.1.1. Quartzo xisto – Formação Santarém,
ICPMS) foram efetuadas no Laboratório Grupo Orós
de Geocronologia da Universidade de
Brasília (Unb). Os métodos analíticos foram Amostra (EP-38; 9451257-535868)
desenvolvidos segundo os procedimentos referente a um quartzo xisto da Formação Santarém
descritos em Bühn et al. (2009). Foram datadas (Grupo Orós) na Folha Itapiúna (1:100.000), foi
7 amostras pertencentes aos projetos de coletada para estudos geocronológicos. Na imagem
mapeamento das folhas Quixadá e Itapiúna, de elétrons retro-espalhados (backscattered
sendo quatro amostras (EP-38, FC-997, EP-589, electron image) notam-se zircões pequenos
FC-1133) para análise de proveniência de zircões (de 200 a 50 μm), geralmente com vértices
detríticos e três amostras (FC-943, FC-722, FC- arredondados e alguns grãos esféricos. Nenhuma
1158) de ortognaisses. Todos os zircões foram estrutura borda/núcleo é observada nas imagens
previamente imageados (backscattered electron backscattered. Foram analisados 60 grãos de
images) no microscópio de varredura eletrônica zircão, com spots de 25 μm, sendo que 30 grãos
(MEV) do Laboratório de Geocronologia da foram descartados pelo alto erro analítico e 2 grãos
Unb. Os diagramas concórdia e os histogramas descartados pela alta discordância. Um total de 32
de frequência foram realizados utilizando o grãos, com concordância entre 90-110%, foram
ISOPLOT 3.0 (LUDWIG, 2003). utilizados (Tab. 6.1) para elaboração do histograma
de frequência da Figura 6.1. Neste histograma,
6.1 - IDADES U-Pb (LA-ICPMS) EM nota-se que ocorre uma expressiva população
de zircões paleoproterozoicos e alguns grãos de
ZIRCÕES DETRÍTICOS
idade arqueana (Fig. 6.1). Os zircões mais jovens,
Foram coletadas amostras para analise de em torno de 1700 Ma, definem a idade máxima
proveniências de zircões detríticos nas principais de deposição.

Figura 6.1. Histograma de frequência para as idades dos grãos detríticos da amostra EP-38do quartzo-xisto da Formação
Santarém, Grupo Orós.

90
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Tabela 6.1. Resultados analíticos U-Pb para a amostra EP-38 do quartzo-xisto da Formação Santarém, do Grupo Orós.

6.1.2. Quartzito Choró – Complexo 60 grãos de zircão, com spots de 25 μm, sendo
Algodões descartados 11 grãos pelo alto erro analítico
e 4 grãos, pela alta discordância. Os 49 grãos
Amostra (FC-542; 9465330-484196) de restantes, com concordância entre 90-110%
quartzito da Unidade Choró, do Complexo Algodões (Tab. 6.2), foram utilizados para elaboração do
na Folha Quixadá (1:100.000), foi coletada para histograma de frequência da Figura 6.2. Nota-
estudos geocronológicos. Na imagem de elétrons se uma fonte exclusivamente paleoproterozoica
retro-espalhados (backscattered electron image) para esta rocha. A idade máxima de deposição
notam-se zircões pouco arredondados, com em torno de 2075 Ma é marcada pela presença
extremidades piramidais. Foram analisados de dois zircões neste intervalo de idade (Fig. 6.2).

Figura 6.2. Histograma de frequência para as idades dos grãos detríticos da amostra FC-542 do quartzito Choró, Complexo
Algodões.

91
Programa Geologia do Brasil

Tabela 6.2. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-542 do Quartzito Choró.

6.1.3. Paragnaisse migmatítico, Unidade spots de 25 μm, sendo que 5 grãos foram
Independência (Complexo Ceará) descartados pelo alto erro analítico e 15 grãos
pela alta discordância. Um total de 44 grãos, com
Amostra (FC-997; 9484643- 445959) concordância entre 90-110%, foram utilizados
de paragnaisse migmatítico da Unidade (Tab. 6.3) para elaboração do histograma de
Independência, do Complexo Ceará, na Folha frequência da Figura 6.3. Nota-se uma população
Quixadá (1:100.000), foi coletada para estudos com idades em torno de 700-800 Ma (16 zircões),
geocronológicos. Na imagem de elétrons retro- que define a idade máxima para deposição.
espalhados (backscattered electron image) Para um dos zircões zonados foi obtida uma
notam-se zircões pouco arredondados e idade de aproximadamente 2449 Ma no núcleo
localmente com bordas de sobre-crescimento e 800 Ma nas bordas. No entanto, apenas com
(magmático?). Portanto, para os grãos com imagem backscattered não é possível identificar
zoneamento, as analises form concentradas se o domínio de borda é rejuvenescido por
nos núcleos dos grãos, fugindo de zonas de metamorfismo ou representa sobrecrescimento
interferência para não obter idades mistas. magmático, sendo necessárias imagens de
Foram analisados 60 grãos de zircão, com catodo-luminescência nesse caso.
92
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 6.3. Histograma de frequência para as idades dos grãos detríticos da amostra FC-997 do paragnaisse-migmatítico
da Unidade Independência ( Complexo Ceará).

Tabela 6.3. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-997 do paragnaisse Independência.

6.1.4. Paragnaisse migmatítico, Unidade Quixadá (1:100.000), foi coletada para estudos
Quixeramobim (Complexo Ceará) geocronológicos. Na imagem de elétrons retro-
espalhados (backscattered electron image)
Amostra (FC-1133; 9458733-494940) notam-se zircões pequenos e arredondados, sem
de paragnaisse migmatítico da Unidade estruturas de núcleo e borda como na amostra
Quixeramobim, do Complexo Ceará, na Folha anterior, e, portanto, sem muitos problemas
93
Programa Geologia do Brasil

de idades mistas. Foram analisados 60 grãos de nota-se uma forte presença de zircões (23 grãos)
zircão, com spots de 25 μm, sendo que 5 grãos entre 700-900 Ma, que definem a idade máxima
foram descartados pelo alto erro analítico e 11, de deposição (Fig. 6.4). Apenas um grão apresenta
pela alta discordância. Um total de 48 grãos, com idade em torno de 600 Ma, que regionalmente é
concordância entre 90-110%, foram utilizados uma idade para metamorfismo de alto-grau no
(Tab. 6.4) para elaboração do histograma de Ceará Central. No entanto, a razão Th/U deste
frequência da Figura 6.4. Assim como na amostra grão (Th/U = 0.38) não é compatível com a razão
anterior (FC-997) da Unidade Independência, Th/U de zircões metamórficos (Th/U < 0.03).

Figura 6.4. Histograma de frequência para as idades dos grãos detríticos da amostra FC-1133, paragnaisse-migmatítico,
Unidade Quixeramobim ( Complexo Ceará).

Tabela 6.4. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-1133 do paragnaisse da Unidade Quixeramobim (Complexo Ceará).

94
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

6.1.5. Paragnaisse migmatítico do grãos, pela alta discordância. Um total de


Complexo Canindé do Ceará Central 11 grãos, com concordância entre 90-110%,
foram utilizados (Tab. 6.5) para elaboração do
histograma de frequência da Figura 6.5. Esta
Amostra (EP-589; 9488741-519853) amostra apresenta zircões essencialmente
de paragnaisse migmatítico do Complexo paleoproterozoicos, com idade máxima
Canindé do Ceará Central, Folha Itapiúna para deposição do protólito em torno de
(1:100.000), foi coletada para estudos 1.9 Ga. No entanto, estatisticamente não
geocronológicos. Foram analisados 36 é recomendável analise de proveniência
grãos de zircão, sendo que 15 grãos foram com apenas 11 zircões, sendo necessário
descartados pelo alto erro analítico e 10 complementar a análise futuramente.

Figura 6.5. Histograma de frequência para as idades dos grãos detríticos da amostra FC-589, paragnaisse migmatítico,
Complexo Canindé do Ceará Centra.

Tabela 6.5. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-589 de paragnaisse migmatítico do Complexo Canindé do
Ceará Central.

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Programa Geologia do Brasil

6.2 - IDADES U-Pb (LA-ICPMS) EM 200 a 300 μm, e relação entre comprimento
ORTOGNAISSES largura de 3:1 a 2:1. Localmente observam-se
cristais com zoneamento oscilatório tipicamente
6.2.1. Ortognaisses Cipó (Serra do magmático. Foram analisados 24 grãos de zircão,
Veríssimo) sendo que 2 grãos foram descartados pelo
alto erro analítico e 4 grãos descartados pela
Amostra (FC-943; 9459735-465683) alta discordância. Um total de 18 grãos, com
de ortognaisse tonalítico Cipó da Folha concordância entre 90-102%, foram utilizados
Quixadá (1:100.000), foi coletada para estudos (Tab. 6.6) para elaboração do diagrama concórdia
geocronológicos. Na imagem de elétrons retro- da Figura 6.6. A idade obtida para esta amostra
espalhados (backscattered electron image) é de 2.180±15 Ma com mean squared weighted
notam-se zircões geralmente alongados com deviation (MSWD) igual a 2.0.

Figura 6.6. Diagrama concórdia com idade de 2180 +/- 15 Ma calculada para a amostra FC-943, Ortognaisse Cipó (Serra
do Veríssimo).

Tabela 6.6. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-943 do ortognaisses Cipó na Serra do Veríssimo.

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

6.2.2. Ortognaisses Cipó (Serra da maioria dos cristais apresenta zoneamento


Conceição) oscilatório tipicamente magmático. Foram
analisados 24 grãos de zircão, sendo que 5 grãos
Amostra (FC-722; 9476620-475673) foram descartados pela alta discordância. Um
de ortognaisse tonalítico Cipó da Folha total de 19 grãos, com concordância entre 92-
Quixadá (1:100.000), foi coletada para estudos 105%, foram utilizados (Tab. 6.7) para elaboração
geocronológicos. Na imagem de elétrons retro- do diagrama concórdia da Figura 6.7. A idade
espalhados (backscattered electron image) obtida para esta amostra é de 2.190±6 Ma com
notam-se zircões com relação entre comprimento mean squared weighted deviation (MSWD) igual
largura 2:1, ligeiramente arredondados e a a 1.01.

Figura 6.7. Diagrama concórdia com idade de 2190 ± 6 Ma calculada para a amostra FC-722, Ortognaisse Cipó (Serra da
Conceição).

Tabela 6.7. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-722 do ortognaisse Cipó na Serra da Conceição.

97
Programa Geologia do Brasil

6.2.3. Ortognaisses Serra da Palha Geralmente observa-se estrutura de zoneamento


interno típico de zircões magmáticos. Foram
Amostra (FC-1158; 9457685-481283) de analisados 24 grãos de zircão, sendo que 12
ortognaisse granítico da região da Serra da Palha, grãos foram descartados pelo alto erro analítico
Folha Quixadá (1:100.000), foi coletada para e 4 grãos, pela alta discordância. Um total de 8
estudos geocronológicos. Na imagem de elétrons grãos, com concordância entre 87-102%, foram
retro-espalhados (backscattered electron image) utilizados (Tab. 6.8) para elaboração do diagrama
notam-se zircões com tamanhos variados, sendo concórdia da Figura 6.8. A idade obtida para estes
os maiores com ~250-400 μm, bi-piramidais, 8 grãos é de 2.150±16 Ma com mean squared
com razão comprimento largura de 2:1 e até 3:1. weighted deviation (MSWD) igual a 1.18.

Figura 6.8. Diagrama concórdia com idade de 2.150 ± 16 Ma calculada para a amostra FC-1158, ortognaisse Serra da
Palha.

Tabela 6.8. Resultados analíticos U-Pb para a amostra FC-1158 do ortognaisse Serra da Palha.

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Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

7 – GEOLOGIA ESTRUTURAL E TECTÔNICA


A análise conjunta da diversidade também na mesma direção (NE-SW) e sentido
litológica presente na região, das folhas Quixadá e dextral, atribuído a geração da foliação S3.
Itapiúna, e o arcabouço dos principais elementos Em termos de estrutura linear, no Domínio
estruturais sugere uma compartimentação da 1 é frequente a lineação de estiramento mineral,
área em três domínios tectono-estruturais, a formada pela deformação de quartzo, feldspato
saber: a algumas sillimanitas. A atitude do caimento se
dá na ordem de 11° para NE e 8º para SW (Fig.
7.1 - DOMÍNIO 1 7.1). Já os eixos das dobras isoclinais, de flancos
inclinados para SE, normalmente possuem
O Domínio 1 ocupa a porção extremo caimentos paralelos as lineações de estiramento
sudeste da área (Fig. 7.1). Este domínio mineral. Mas, ocorrem outras atitudes de
compreende rochas gnáissico-migmatíticas do eixos de dobras com caimentos subverticais a
Complexo Jaguaretama, metassedimentares verticais, possivelmente associados à foliação
da Formação Santarém (Grupo Orós) e o S2, que representa o plano axial verticalizado
Granodiorito Veados. dessas dobras.
A principal feição macroscópica A relação espacial entre a foliação e a
corresponde à zona de cisalhamento Orós, lineação indica, para esse domínio, um baixo
segundo a direção NE-SW, assim como zonas rake indicativo de forte dominância de tectônica
de cisalhamentos secundárias, expressivas em transcorrente.
serrotes alinhados, principalmente a partir de Baseado nas observações acima
cristas esculpidas em rochas quartzíticas da descritas, definimos, para este domínio,
Formação Santarém. eventos deformacionais relacionados a D1, que
O feixe destas zonas de cisalhamento, corresponde à compressão para NW, compondo
em meso-escala, é composto por foliação a foliação S1, resgatada principalmente nas
milonítica/xistosidade com predominância de supracrustais da Formação Santarém (Grupo
mergulho médio em torno de 43° para SE (Fig. Orós); e a D2, que corresponde à transcorrência
7.1), além de reconhecimento de acamamento dextral, representada pelas foliações S2
(S0) no contato entres os xistos e quartzitos. e S3 (fase mais tardia da deformação em
Nestas rochas ocorre uma foliação Sn paralelo regime rúptil-dúctil) e que paralelizou Lx1-
a S0, dobrada, em forma isoclinal fechada, Lx2-Lx3. Provavelmente, estes eventos estão
que apresenta uma superfície axial, dada pelo relacionados ao Evento Brasiliano. Embora,
comportamento da foliação com caimento para possivelmente ocorreu atuação também do
SE, que representa a foliação S1. Esta superfície Evento Transamazônico associado a um Sn
registra nas rochas, principalmente nos quartzo (Dn) que afetou apenas as rochas do Complexo
xistos, estruturas S-C, planos axiais de dobras Jaguaretama.
apertadas centimétricas (Fig. 7.2), às vezes
rompidos, com indicação de empurrão com 7.2 - DOMÍNIO 2
vergência para NW (Fig. 7.3A1).
Entretanto, o comportamento da foliação Compreende a área situada entre as
milonítica torna-se de alto ângulo nas zonas de zonas de cisalhamento Senador Pompeu e Orós
cisalhamento transcorrente, como a de Orós, (Fig. 7.1), abarcando as rochas da Unidade
sendo comum observar estruturas S-C, bandas de Canindé do Ceará Central (Complexo Ceará),
cisalhamento, com indicação de rotação dextral. Complexo São José da Macaoca (ortognaisses
Esta inflexão de S1 permitiu o imprint de S2, tonalítico a granodiorítico) e do Granodiorito
em planos, geralmente, subverticais a verticais. Veados.
Em resposta ao incremento da deformação, Macroscopicamente, representa uma
em nível crustal propício, formaram-se diversos faixa de direção NE-SW, com largura na ordem de
milonitos/cataclasitos, em zonas de alto strain, 10 km, constituída por feixes de cisalhamento,

99
Programa Geologia do Brasil

Figura 7.1. Mapa de compartimentação de domínios estruturais das folhas Itapiúna e Quixadá. Diagramas de foliação e
lineação de estiramento mineral (pólos de concentração máxima) dos domínios estruturais. Hemisfério inferior (rede de
Schmidt-Lambert).

Figura 7.2. Dobras apertadas com vergência para NW. Quartzito com intercalação de xisto da Formação Santarém (Grupo
Orós). Afloramento EP-40 (9449668-541121), próximo a Ibicuitinga.

100
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 7.3. Perfis geológico-estruturais das folhas Itapiúna e Quixadá.

bem expressivo em fotografia área, imagens de porfiroclastos tipo δ, estrutura S-C, dobras
satélite e magnetométrica. em Z, sugerindo movimentação de massa,
Em afloramento, a estrutura planar bem predominantemente, dextral (Fig. 7.4A). São
marcante e penetrativa refere-se à foliação observadas estruturas distensivas, preenchidas
milonítica, que constitui principalmente pela por quartzo, na direção N-S (Fig. 7.4B).
foliação S3, de direção NE-SW. Predominam O mesmo movimento dextral encontra-
mergulhos altos, em média 82° para SE e 75º se em estruturas impressas no Granodiorito
NW (Fig. 7.1). Este domínio é estruturalmente Veados e nas rochas mestassedimentares da
complexo, a foliação S2 é paralela a S3. Além Unidade Canindé do Ceará Central.
disso, a atitude do mergulho ora para SE ora A lineação de estiramento mineral
para NW, sugere uma ondulação que pode (Lx3), que está paralelizada a L2, é marcada
está associada a um dobramento pretérito. Por pela deformação de cristais de quartzo e
isso, o arranjo geométrico da foliação configura feldspato nos ortognaisses, e sillimanita/biotita
antiformas e sinformas bem apertadas, cujas nos paragnaisses e xistos. A atitude média do
superfícies axiais, subverticais a verticais caimento não ultrapassa 10º, sendo ora para NE
(Fig. 7.7A1), são zonas onde encontram-se ora para SW (Fig. 7.1). Os eixos das dobras estão
normalmente milonitos e ultramilonitos, além posicionados na vertical (Fig. 7.4A), sendo bem
de cataclasitos. comum formas em bengalas (dobras rompidas).
Bandamentos gnáissicos estão presentes No entanto, ocorrem caimentos sub-horizontais
nos ortognaisses, cujo forte strain paralelizou para NE e para SW, associados às dobras
mobilizados quartzo-feldspáticos, formando- sinformais e antiformais apertadas citadas
se feições simétricas. Porém, são observadas anteriormente.
formas assimétricas como sombra de pressão, A relação espacial entre a foliação e a

101
Programa Geologia do Brasil

lineação caracteriza um domínio estritamente lineação L3, bem marcada nas zonas de cisalhamento
transcorrente. transcorrente NE-SW, consideradas de evento
Os eventos deformacionais identificados transcorrente Brasiliano. As ondulações da foliação
estão relacionados principalmente a D2, para SE e para NW, são registros dos dobramentos
representada principalmente pela foliação S3 e anteriores brasilianos (compressão - D1).

Figura 7.4. A: dobras centimétricas com eixo subverticais a verticais, sugerindo movimentação transcorrente dextral.
B: faixa milonítica a ultramilonítica de direção NE-SW, de movimento transcorrente dextral e indicaçãode estrutura
extensional N-S (seta preta). Ortognaisse migmatítico milonítico do Complexo São José da Macaoca. Afloramento EP-384
(9454614- 522030), na rodovia CE-265.

7.3 - DOMÍNIO 3 gnássico e composicional, xistosidade e clivagem


de crenulação.
A delimitação do Domínio 3 abrange área A análise estatística da foliação neste
a oeste da zona de cisalhamento Senador Pompeu subdomínio revela um predomínio médio da atitude
(Fig. 7.1). Nele ocorre grande parte das unidades em torno de 30º de mergulho para SE (Fig. 7.1).
da Folha Itapiúna e todas as unidades mapeadas Porém, o diagrama estrutural dos pólos da foliação
na Folha Quixadá. Para melhor visualizar o que mostra distribuições em guirlandas, sugerindo
ocorre neste domínio, separou-se o mesmo em mais de uma macrodobra, com assimetria para N.
subdomínios 3A e 3B descritos a seguir: Os eixos calculados indicam mergulhos de 20º para
- Subdomínio 3A: esta área cobre E e de 5º para SW (Fig. 7.1).
praticamente todas as unidades mapeadas Na região da serra do Estevão, a seção
atribuídas ao Paleoproterozoico (complexos de direção NW-SE denota um relevo estruturado
Algodões, São José da Macaoca e Ortognaisse Cipó) com existência de feições escalonadas no seu
e unidades neoproterozoicas (por. ex. Unidade lado ocidental, sugerindo estruturas de fronts de
Juatama, Monzonito Quixadá e Ortognaisse cavalgamento (Fig. 7.3B1). Neste segmento uma
Serra da Palha), situadas na porção centro-sul e foliação Sn encontra-se paralelizada a S0, impressas
sudoeste. Na porção nordeste deste subdomínio nas rochas metassedimentares e anfibolitos do
predomina as supracrustais da Unidade Canindé do Complexo Algodões e no Ortognaisse Cipó. Esta
Ceará Central, Leucogranito Itapiúna com “janelas” estrutura desenha dobras abertas e fechadas, às
do embasamento atinente aos ortognaisse do vezes apertadas, inversas, com superfície axial na
Complexo São José da Macaoca. direção NE-SW, constituindo a foliação S1, em que
A macroestrutura é caracterizada, os planos axiais possuem mergulhos com valores
em linhas gerais, por traços e lineamentos baixo a médio para SE (Fig. 7.5A). Estas dobras
estruturais na direção NE-SW, flexionando-se geralmente estão rompidas e indicam vergência
para W-E e NW-SE, configurando uma superfície para NW. Essas características acima descritas
dobrada (Fig. 7.1). Ao longo destas estruturas representam estruturas de cavalgamento em
estão instaladas zonas de cisalhamento. geometria de imbricamento tectônico. Em meio
Diferente dos domínios anteriores, a essas lascas tectônicas encontra-se alojado, em
as estruturas planares estão em arranjos forma de sheets, o Ortognaisse Serra da Palha de
mais abstrusos. Dentre estas estruturas são idade paleoproterozoica (2.150 Ma ver Capítulo 6).
identificadas foliação milonítica, bandamentos Nos arredores da cidade de Choró, os
102
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 7.5 – A: dobras apertada com plano axial inclinado, de direção NE-SW, indicativo de vergência para NW, na subida
da serra do Estevão, vindo de Quixadá (FC-524; 9455179-484070). B: rompimento de nível quartzoso (boudinagem) com
sentido de vergência para NW, rodovia CE-456, cidade de Choró (FC-507; 9464735-484374).

quartzitos micáceos do Complexo Algodões de dimensões centimétrica a métrica, de aspecto


apresentam variação de níveis mais pelítico crenulado. O plano axial principal destas dobras
e psamítico, sendo possível reconhecer o tem direção NE-SW com mergulho médio para SE,
acamamento sedimentar (S0). Nesses litotipos representativa da foliação S1. A deformação gerou
desenvolveram uma foliação pretérita (Sn) bem nas porções quartzosas estrutura de boudinagem,
visível nas porções mais micáceas. Ondulações com rompimento, indicando movimento de massa
desta foliação desenham dobras abertas e fechadas, para NW (Fig. 7.5B).

Figura 7.6. Exemplos de transposição da foliação S1, geralmente paralelo a Sn, pela foliação S2 subvertical a vertical. A:
ortognaisse migmatítico do Complexo São José da Macaoca (FC-1142; 9471635-499870). B: paragnaisse do Conplexo
Algodões (FC-564;9479199-495835). C: ortognaisse migmatítico Cipó (EP-14; 9470190-522429).

103
Programa Geologia do Brasil

Forte transposição e bandas de milonítica possuem geralmente mergulhos baixo


cisalhamento de movimento dextral são a médio, variando de S para E. Ao analisar a relação
frequentes em paragnaisses (Complexo espacial entre estas foliações e as lineações de
Algodões) e nos ortognaisses migmatíticos estiramento mineral revelou-se que os rakes
(Cipó e Complexo São José da Macaoca), com possuem ângulos baixos, indicando atuação
planos axiais de tendência a ser subverticais a de componente transcorrente. Neste setor as
verticais, na direção NE-SW, que representam a foliações também possuem mergulhos com
foliação S2 (Fig. 7.6). Normalmente as foliações caimento para N, que permitiu gerar antiformas/
Sn e S1 estão paralelizadas, evidenciadas sinformas, tendo algumas destas dobras
por leucossomas quartzo-feldspáticos e vergência para N, possuindo eixos com caimento
melanossomas biotíticos. Além disso, são sub-horizontal. Além dessas características, este
observadas nos ortognaisses feições de setor é seccionado por zonas de cisalhamento
interferência de dobra (Fig. 7.7) do tipo 2 - de alto ângulo (transcorrentes), de direções
bumerangue (RAMSAY, 1967). E-W e NW-SE, onde estão presentes estruturas
Na região entre Ibaretama e o distrito S-C, na maioria dextrais, rotação dextrais de
de Juá (Folha Itapiúna) as foliações gnássica/ boudins e dobras isoclinais rompidas. As lentes

Figura 7.7. Padrão de inteferência tipo bumerangue em ortognaisse migmatítico. A: Complexo São José da Macaoca, na
rodovia CE-060 (FC – 1159; 9473873-499927). B: Ortognaisse Cipó, próximo a rodovia CE-359 (EP-14; EP-14; 9470190-
522429).
anfibolíticas do Complexo Algodões apresentam (590 Ma) registra foliação de fluxo magmático,
também o controle estrutural E-W. evidenciada pelo alinhamento de cristais de
Nas proximidades do traçado principal feldspato (estrutura primária), e enclaves
da zona de cisalhamento Senador Pompeu magmáticos estirados, ovalados/elipsoidais, de
(ZCSP) as rochas foram afetadas em condições dimensões centimétricas. Ainda ocorre foliação
de regime dúctil-rúptil. Tem porções que o milonítica (Fig. 7.8B), principalmente na borda
controle estrutural desta zona adentra-se 7 km, leste do corpo, e raras bandas de cisalhamento.
como é o caso da área entre Quixadá e o distrito Tanto a foliação primária como a tectônica tem
de Vargem da Onça. Os ortognaisses apresentam direção NE-SW.
forte transposição tectônica em que os Neste subdomínio, em geral as lineações
leucossomas estão totalmente paralelizados na de estiramento mineral, dada por cristais de
direção NE-SW. São frequentes faixas miloníticas quartzo e feldspato, mostram certa dispersão.
NE-SW que caracterizam, no âmbito regional da Entretanto, as atitudes médias principais
área, a foliação S3, que imprimiu movimentação possuem mergulhos de 18º para ESE, 7º para
dextral ao longo da ZCSP. No entanto, bandas de NE e 8º para SW (Fig. 7.1). Regionalmente,
cisalhamento sinistrais NE-SW, aqui atribuídas alguns eixos de dobra (Fig. 7.1) acompanham
a foliação S3, ocorrem na porção SW da Folha o comportamento das lineações, ou seja, estão
Quixadá (Fig. 7.8A). Dentre os corpos brasilianos, geralmente paralelizados.
instalados próximo a ZCSP, o Monzonito Quixadá Subdomínio 3B: este subdomínio estrutural é
104
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 7.8. A: banda de cisalhamento sinistral NE-SW, com faixa ultramilonítica (foliação S3), em ortognaisse migmatítico
Cipó (FC-640; 9454934-465405). B: faixa milonítica a ultramilonítica dextral (foliação S3) imposta no Monzonito Quixadá
(FC-1026; 9451958-497999).

delimitado desde a porção noroeste-oeste da Folha algumas zonas de cisalhamento (Fig. 7.1).
Quixadá até a porção noroeste da Folha Itapiúna. No trecho da Folha Itapiúna, entre o
Esta área compreende rochas das unidades Canindé distrito de Caio Prado e Itapiúna (rodovia CE-060),
do Ceará Central e Independência, Leucogranito o conjunto litológico, formado pelo Leucogranito
Itapiúna, parte do Complexo São José da Macaoca Itapiúna associado às paraderivadas migmatíticas
e Ortognaisses Cipó. da Unidade Canindé do Ceará Central, encontra-
De modo geral, o comportamento da se dobrado assimetricamente, com superfícies
direção da foliação, à medida que se afasta de axiais (foliação S2), mergulhando de ângulo
oeste (Folha Quixadá) em traçado NW-SE a baixo a médio entre S/SSE, com vergências para
quase N-S, encurva-se nas direções E-W e passa N/NNW (Fig. 7.9A). Ocorrem ainda exemplares
para NE-SW em sentido norte da Folha Itapiúna. de dobras recumbentes e dobras apertadas de
Neste controle estrutural estão instaladas planos axiais subverticais a verticais (foliação S2),

Figura 7.9. A: Corte de estrada na CE-060, próximo a entrada de Caio Prado, em leucognaisse milonítico com dobra
recumbente e vergência para NNW. B: Foto do mesmo afloramento, porém a foliação milonítica é subvertical a vertical
na direção E-W. Afloramento EP-68 (9486086- 505436).

que promoveram movimentos transcorrentes indicativo de movimento sinistral (foliação S2).


dextrais (Fig. 7.9B). Entretanto, a zona de Estruturas macroscópicas identificadas
cisalhamento transcorrente de Itapiúna, cuja na parte centro-norte da Folha Itapiúna (Fig. 7.1),
direção é E-W, apresenta como indicadores tais como zonas cisalhamento transpressiva,
cinemáticos estruturas S-C e dobras em S, antiformas e sinformas invertidas são sugestivas
105
Programa Geologia do Brasil

de empurrões para NE. A característica deste se aquelas estruturas observadas nas rochas que
segmento leva a interpretar a priori empurrões compõe a serra do Estevão (Domínio 3A). Ou
para N e NE (Fig. 7.3A2), com feição tectônica de seja, nessas áreas ocidentais da Folha Quixadá há
nappe, associado a escape lateral de massa. interferência de estruturas de empurrão.
Na Folha Quixadá, o trecho da rodovia BR- Na projeção estereográfica desde
020, vindo de Canindé para Madalena, a situação é subdomínio, a foliação destaca uma concentração
muito semelhante da descrição anterior, porém o principal na direção NE-SW, com mergulho
sentido de deslocamento de massa é inverso. Os médio de 21º para SE (Fig. 7.1). Além dessa, há
empurrões tem sentido para SW (Figs. 7.3B2 e 7.10A), outras concentrações secundárias de direções:
materializados por dobras assimétricas de dimensões E-W de mergulhos altos para N e para S, e NW-SE
métricas, cuja foliação S2 mergulha com valores de mergulhos baixo a médio para NE (Fig. 7.1).
angulares de baixo a médio para NE. Mas, às vezes O arranjo dos dados está relacionado ao padrão
muda radicalmente para alto ângulo, verticalizando- de dobramento desse domínio, definido assim
se. Além disso, ocorrem dobras recumbentes e feição por duas guirlandas de macrodobra assimétrica,
mesoscópica de branquisinforma (Fig. 7.10B). Estes uma com eixo de caimento baixo para W e outra
empurrões ocorrem tanto nas rochas do Complexo com eixo de caimento baixo para SE (Fig. 7.1). As
São José da Macaoca como nas da Unidade Canindé lineações de estiramento mineral apresentam
do Ceará Central. uma concentração principal com caimento em
Nos arredores do povoado de São José torno de 8º para E. O predomínio de caimento
da Macaoca certos afloramentos de ortognaisses dos eixos medidos das dobras é de baixo a médio
migmatíticos apresentam empurrão para NW para E, sentido similar o das lineações (Fig. 7.1).
(Fig. 7.10C). A mesma condição ocorre nos As deformações identificadas no Domínio
paramigmatitos da Unidade Canindé do Ceará 3 estão relacionadas ao predomínio da D2
Central, na região de São Salvador - rodovia CE-456. (evento transpressivo Brasiliano) representada,
Esta situação de empurrão para NW assemelha- principalmente, pela foliação S2. As macrodobras,

Figura 7.10. Cortes de estrada na BR-020. A: ortognaisse migmatítico com vergência para SW (FC-593; 9473155-
445567). B: paragnaisse, com níveis psamítico e pelítico, da Unidade Independência (Complexo Ceará), com feição de
um braquisinforma (seta preta e foto em planta) (FC-966; 9479839-449488). C: ortognaisse migmatítico com vergência
para NW (FC-968; 9477233-448211). A e C: Complexo São José do Macaoca.
106
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

geradas pelos empurrões, são bem visíveis no regime transpressional.


diagrama geral dos pólos de concentração da foliação
do Domínio 3 (Fig. 7.11). A guirlanda de direção 7.4 - QUADRO EVOLUTIVO
N-S, representa o dobramento com vergência para ESTRUTURAL PRÉ-CAMBRIANO
N. A guirlanda NE-SW representa o dobramento
com vergência para SW. Essa deformação causou A tectônica da região das folhas Quixadá e
redobramento das dobras da D1 (evento tangencial Itapiúna é bastante complexa em termos geométrico
Brasiliano), representada pelas inflexões e arrastos e cinemático, fruto principalmente de uma
da foliação S1, prenetrativas nos dois subdomínios evolução advinda desde o Paleoproterozoico até o
(3A e 3B). A guirlanda de direção SE-NW representa Neoproterozoico. No entanto, o contexto tectônico
o dobramento da D1, com vergência para NW. É desde último período Pré-Cambriano foi tão
possível que o arranjo das estruturas lineares aqui penetrativo que praticamente ocultou intensamente
analisadas se deu pela rotação das mesmas em as estruturas instaladas pré-Neoproterozoico.

Figura 7.11. Diagramas de foliação e lineação de estiramento mineral (pólos de concentração máxima) do Domínio 3.
Hemisfério inferior (rede de Schmidt-Lambert).

Grande parte da área registra um NW (Fig. 7.12), bem caracterizada nos domínios
segmento crustal formado no Paleoproterozoico. 1 e 3, que provocou deformação/metamorfismo
Este segmento é representado pelos complexos (sin-D1), que atingiu o fácies anfibolito alto
Algodões, São José da Macaoca, Jaguaretama (isógrada da sillimanita) e granulito. As condições
e Ortognaisse Cipó. Além disso, o Complexo reinantes de pressão e temperatura permitiram
Cruzeta, mapeado na Folha Quixadá, é atribuído, a geração de forte migmatização na área. Nesta
em parte, ao Arqueano. Portanto, é plausível fase, as rochas paraderivadas da Unidade Canindé
mencionar que houve um evento tectono- do Ceará Central e do Complexo Jaguaretama
deformacional pretérito (Dn) pré-Brasiliano, foram submetidas a elevadas temperaturas
confirmado pela idade de 2,05 Ga (GOMES, (acima de 650ºC), o que gerou a formação de
2013), obtida em leucossoma de ortognaisse, diversos leucogranitos a granada (granitos tipo
de 2,13 Ga (Complexo São José da Macaoca), S de Itapiúna e Ibicuitinga). Essa tectônica é
interpretada como registro de migmatização bem expressiva também nos quartzitos/xistos
do evento orogenético entre o Riaciano e o da Formação Santarém - Grupo Orós (serrote
Orosiriano. da Viçosa), nos paragnaisses/anfibolitos do
Regionalmente, o arcabouço tectono- Complexo Algodões e no Ortognaisse Cipó (serra
estrutural das duas folhas reporta-se a duas do Estevão), que atingiram, localmente, grau
fases principais: metamórfico mais baixo, entre os fácies xisto-
Tangencial (D1): tectônica compressiva, de verde e anfibolito.
direção NW-SE, com transporte de massa para Transcorrente (D2): a evolução se deu de
107
Programa Geologia do Brasil

forma progressiva para regime transcorrente- da Unidade Quixeramobim, com população de


transpressivo, de direção NE – SW, de zircões detríticos entre 700-800 Ma, imbricadas
movimentação dextral (Fig. 7.12). sobre o Ortognaisse Cipó de idade riaciana
Esta tectônica transpressiva impôs uma (2.150 Ma). Ainda em regime transcorrente,
estruturação localizada de nappes, que afetaram instalaram-se faixas miloníticas, de direção
tantos as rochas paleoproterozoicas com as NE-SW, geralmente dextrais, como aquelas
neoproterozoicas. A porção noroeste da área encontradas dentro do Monzonito Quixadá, e
foi submetida a empurrão com deslocamento principalmente entre as zonas de cisalhamento
de massa para SW, e simetricamente, na região Senador Pompeu e Orós.
central e nordeste da área, os empurrões A estruturação final da área estudada e
sucederam-se com transporte de massa para adjacência pode ser explicada por um modelo
N/NE. Ainda nesta fase, em sítios extensionais, transpressivo, de um mega-arrasto, segmentado
alojaram-se uma série de corpos plutônicos, tais pelas grandes zonas de cisalhamento de direção
como o Monzonito Quixadá e o Granodiorito NE-SW (Figs. 7.12 e 7.13). Nesta estruturação estão
Veados. Entre lascas transpressivas, herdadas da envolvidas as zonas de cisalhamento Senador
D1, encontram-se as rochas metassedimentares Pompeu, Orós e, fora da área, a Paramoti (Fig. 7.13).

Figura 7.12. Modelo estrutural proposto para a área das folhas Itapiúna e Quixadá.

108
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 7.13. A: imagem de satélite (composição 4-5-3) das folhas Itapiúna e Quixadá, mostrando os traçados estruturais.
B: indicação das principais zonas de cisalhamento transcorrentes que compõem o arranjo geométrico proposto. C:
desenho esquemático da atuação da fase deformacional 2 (D2) com indicação do eixo de maior esforço (σ1).

109
Programa Geologia do Brasil

Os aspectos evolutivos da estruturação encontram-se sintetizados na Tabela 7.1:


pré-cambriana das folhas Itapiúna e Quixadá

FASE DE METAMORFISMO IDADE CINEMÁTICA – UNIDADE ENVOLVIDA PRINCIPAIS


DEFORMAÇÃO REGIME DE ESTRUTURAS
DEFORMAÇÃO
Complexos Cruzeta,  Foliação
EVENTO PRÉ-
BRASILIANO

Algodões, São José  Bandamento


Dn ? Entre o Riaciano - ? do Macaoca, composicional
Orosiriano Jaguaretama,  Dobra intrafolial
ortognaisses Cipó  Migmatítica

 Foliação milonítica
 Lineação de
Predomina Tangencial Principalmente as estiramento mineral
Fácies Unidade Canindé do  Xistosidade
anfibolito de Dúctil/ Ceará Central,  Clivagem de
D1 alto grau a Neoproterozoico Dúctil-Rúptil Complexo São José crenulação
anatexia e da Macaoca  Dobra suave
granulítica  Dobra apertada
 Antiforme
EVENTO BRASILIANO

 Sinforme
 Migmatítica

 Foliação milonítica
Transcorrente Praticamente todas.  Lineação de
- transpressivo Estruturas estiramento mineral
D2 Fácies xisto Neoproterozoico fortemente dúcteis  Dobra recumbente
verde Dúctil-Rúptil/ não afetaram a  Dobra intrafolial
Rúptil-Dúctil maioria dos plútons  Braquiantiforme
brasilianos.  Braquisinforme
 Banda de
cisalhamento

Tabela 7.1. Síntese da evolução tectono-estrutural pré-cambriana das folhas Itapiúna e Quixadá.

7.5 - ESTRUTURA RÚPTIL fraturas, geralmente verticalizadas, observado


no campo denota a existência de direções
A partir de modelo digital de terreno preferenciais N-S, NW-SE e NE-SW (Fig. 7.14C), o
(MDT) e de fotografias aéreas foram obtidos que mostra a compatibilização com as direções
lineamentos retilineares (Fig. 7.14A) interpretados obtidas dos lineamentos estruturais.
como de estruturas rúpteis tardias fanerozoicas Os Diques Máficos Rio Ceará-Mirim
associados à fraturas/falhas. O padrão destes (Juro-Cretáceo) estão alojados em fraturas
lineamentos relevou uma predominância nas extensionais nas direções NW-SE e E-W (Fig.
direções N-S e NW-SE (Fig. 7.14B). O padrão de 7.14A).

110
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 7.14. A: modelo digital de terreno (MDT) das folhas Itapiúna e Quixadá. B: frequência acumulada dos lineamentos
estruturais. C: frequência acumulada das fraturas medidas no campo. D: exemplo de faturamento de direção N-S (FC-
839; 9482100-478905).

111
Programa Geologia do Brasil

8 – RECURSOS MINERAIS
Os recursos minerais cadastrados economicamente o mais importante, em função
totalizaram 93 jazimentos, de diversas classes das grandes reservas. De acordo com este autor,
utilitárias, distribuídos nas folhas Quixadá nesta mesma região, porém nas proximidades
e Itapiúna (Tabs. 1 e 2). Foram cadastradas de Pedra Branca, os corpos de minérios são
substância minerais como manganês, grafita,
maciços do tipo “veio.” Os teores de carbono
talco, calcário, urânio, fosfato, minerais de
são elevados, entre 20 a 60%, encontrados em
pegmatito e material para uso na construção
civil. formas de stockwork, bolsões lenticulares e
tabulares, de pequenas dimensões, distribuídos
8.1 - ROCHAS E MINERAIS ao redor da Suíte Pedra Aguda. A reserva total,
INDUSTRIAIS estimada a partir de 8 corpos de minérios, é
de 17.289.200t de protominério e 843.618t de
8.1.1. Grafita grafita contida, com destaque ao depósito do
assentamento Nova Terra (Fazenda Lajes) (Fig.
As ocorrências de grafita ocorrem 8.1A). Este minério é composto por grafita,
associadas a xistos e paragnaisses aluminosos feldspato, quartzo, e proporções menores de
migmatíticos (kinzigitos) do Complexo Canindé biotita, goethita, argilominerais, anfibólio,
do Ceará Central e na faixa paraderivada do sillimanita e/ou cianita, rutilo, leucoxênio,
Complexo São José da Macaoca (PP2sjmp) em hematita, magnetita e ilmenita. Variações do
níveis irregulares ou disseminados. Geralmente, δ13C entre - 20,83 e -27,03 ‰ em amostras de
essas rochas são constituídas por biotita, grafita, maciça e disseminada, revelaram que
muscovita, quartzo, plagioclásio, feldspato as mesmas são derivadas de matéria orgânica
potássico, grafita, sillimanita (fibrolita), hematita, (FRAGOMENI e PEREIRA, 2013).
magnetita e zircão. Também são frequentes No povoado de Bastiões, como
ocorrências de grafita nos granito-gnaisses destaque, são encontrados, em forma de blocos
peraluminosos (tipo S), do domínio Leucogranito centimétricos a métricos, grafitas maciças
Itapiúna, cujo protólito originou-se pela fusão associadas a manganês, encaixadas em granada
parcial, principalmente, das rochas paraderivadas leucognaisses miloníticos na direção NE-SW
das unidades acima citadas. Os jazimentos das (Leucogranito Itapiúna). Possivelmente o alto
grafitas nos granito-gnaisses ocorrem em forma conteúdo de grafita, contido nas rochas xistosa
de bolsões e níveis irregulares ou disseminados, e gnáissica, foi remobilizado. Este processo se
formando agregados (flakes), principalmente deu principalmente pela forte migmatização
nas porções mais quartzo-feldspáticas. Essas que atuou na área, concentrando, em certos
ocorrências orientam-se nas direções W-E e sítios, bolsões de minério de grafita maciça e
NE-SW, quase sempre na mesma direção das disseminada, semelhante à situação deparada
lineações de estiramento mineral (baixo ângulo), na região de Piquet Carneiro-CE (Folha Senador
normalmente paralelas aos eixos de dobras. Pompeu – 1: 100.000).
Segundo Fragomeni (2011), na região Entre os povoados de Choró Junco e
entre os povoados de Itans – Lagoinha e Pedra Passagem Funda certas áreas de ocorrência de
Branca (Folha Itapiúna), a mineralização de grafita grafita são expostas em solo, de coloração cinza
ocorre como minério disseminado, em forma escuro (Fig. 8.1B), grande parte derivado da
lenticular, com teores de carbono, variando de ação bioprospectiva de minhocas, pelos seus
1,5 a 8%, em jazimento de grande dimensão excrementos, que remobilizaram e concentraram
(dezenas a centenas de metros) o que o faz ser materiais argilo/areno grafitosos.

112
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Tabela 8.1. Recursos minerais cadastrados na Folha Itapiúna.

113
Programa Geologia do Brasil

Tabela 8.2. Recursos minerais cadastrados na Folha Quixadá.

114
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 8.1. A: ocorrência de grafita do assentamento Nova Terra (povoado de Pedra Branca) (EP-584; 9502316 - 523121).
B: solo com alto conteúdo de grafita (EP-585; 9497784 - 527284).

8.1.2. Manganês fragmentos de minério de manganês e blocos


ferro-manganesíferos ocorrem como cobertura
As principais ocorrências de manganês coluvionar (Fig. 8.2B).
estão na região nordeste da Folha Itapiúna, Segundo a pesquisa de Souza e Filho
inseridas nos depósitos de manganês da (1983), nos depósitos de manganês da Província
Província Aracoiaba-Pacajús, que são conhecidas Aracoiaba-Pacajús, o protominério de manganês
desde a década de 50. Os corpos de minério de é do tipo silicático e trata-se de gondito que
manganês estão encaixados, em forma lenticular, consiste de quartzo (20%), espessartita (75%),
nas rochas do Complexo Canindé do Ceará rodonita (< 2%) e mangano-cummingtonita (<
Central constituídas por gnaisses migmatíticos, 2%), além de pirita e pirrotita, ocorrendo como
geralmente ricos em granada, na base, gonditos, inclusões em granada e quartzo; e o minério é
no topo, e intercalações de granada-sillimanita composto por criptomelana, pirolusita, litioforita
quartzitos. São corpos de minérios estruturados, e mangano n-sutita. A paragênese do minério-
geralmente, nas direções NW-SE e E-W, gondito revelou uma evolução de origem
respectivamente, com mergulhos entre 35-70º sedimentar, seguido por metamorfismo em
para NE e N. As principais ocorrências estão nos fácies anfibolito alto a granulito, com surgimento,
arredores dos povoados de Lagoa do Riacho, principalmente, de espessartita e rodonita, e
Bola, Curupira, Açudinho e Oitenta. posteriormente enriquecimento supergênico. O
As ocorrências são em forma de protominério alterado apresenta os melhores
blocos, às vezes dispersos, de dimensões teores de manganês, entre 18-39%, e são
centimétrica a métrica, de minério maciço, considerados depósitos de pequenas reservas
comumente associado a quartzo, de coloração (SOUZA e FILHO, 1983).
preta, situados sobre uma cobertura arenosa. Cita-se ainda outras ocorrências como
Furos de sondagem da mina de manganês da aquelas a nordeste do povoado Choró-Junco,
empresa Libra Ligas do Brasil indicam que até próximo à margem direita do rio Choró e
100m de profundidade ocorrem biotita gnaisses na Fazenda Belém, noroeste da cidade de
migmatíticos granadíferos (diatexitos). Em Ibaretama. A primeira está encaixada em
trincheiras de pesquisa ou em abertura de lavra granada-biotita paragnaisse migmatítico
de mina observa-se que o contato do minério alterado (Complexo Canindé do Ceará Central),
com as encaixantes é brusco ou intercalado com níveis estratificados de manganês,
a foliação, dando aspecto aparente de uma associado a grafita e ferro, formando lentes
estrutura estratificada (Fig. 8.2A). Ocorrem centimétricas descontínuas, concordantes à
também porções com desenvolvimento de foliação regional. A segunda representa blocos
lateritização, associados a quartzo e óxido de maciços, de dimensões centimétrica e métrica,
ferro, onde são comuns nódulos. Além disso, contendo manganês associado aos minerais de

115
Programa Geologia do Brasil

quartzo e granada, encaixado em biotita gnaisse escura a preta, estrutura granular variada, e
migmatítico (Complexo Algodões – PP2algnaf) composta essencialmente de quartzo, granada
de atitude 70/00º Az. e óxido de manganês. Segundo Gomes (2013),
Na Folha Quixadá, destaca-se a a partir de química mineral e difratometria
ocorrência de minério de manganês no distrito de raios-X, é possível diferenciar dois tipos de
de Juá, localidade de São Bernardo, limite protominério nesta região: um com predomínio
entre os municípios de Choró e Quixadá. Nesta de granada manganesífera (espessartita); e
região predomina a ocorrência do protominério outro, onde o minério é a rodonita (piroxênios
(metamórfico), apresentando-se como lentes manganesíferos). O enriquecimento supergênico
de gondito em paragnaisses migmatíticos do dos protominérios gerou minérios maciços,
Complexo Algodôes (Fig. 8.2C). Estes corpos contendo pirolusita, manganita, criptomelana e
lenticulares apresentam coloração cinza todorokita em porções variadas (GOMES, 2013).

Figura 8.2. A: manganês em planos de foliação e/ou em estrutura estratificada (IG-01; 9501932 - 552968). B: fragmentos
de manganês, nas áreas intemperizadas, em material coluvionar (IG-01; 9501932 - 552968). C: ocorrência de protominério
de manganês (gondito) na forma lenticular em paragnaisses migmatíticos do Complexo Algodões, região de Juá (FC-566;
9479859-494554).

8.1.3. Talco afetados por zonas de cisalhamento, de


direção W-E. O talco encontra-se associado à
Na Folha Itapiúna há ocorrências de tremolita-actinolita-biotita-muscovita xisto,
talco. Uma delas situa-se na Fazenda Vitória provavelmente produto hidrotermalizado
(antiga Fazenda Cachoeira) a oeste do distrito dos anfibolitos (Fig. 8.3A). O minério tem
de São João dos Queirozes. Neste local coloração esbranquiçada a amarelada,
existia uma mina que explotava este minério. granulação fina, de hábito fibro-lamelar e
Ocorre como lentes encaixadas em anfibolito granular, e compacto (Fig. 8.3B). Associado
migmatítico (Complexo Algodões – PP2βal), ao talco ocorre tremolita, actinolita, clorita,
fortemente alterados e regionalmente sericita, calcita e argilo-minerais.

116
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 8.3. A: passagem entre anfibolito talcificado e biotita-muscovita xisto (EP-556; 9469380 - 507441). B: exemplar de
minério de talco (EP-556; 9469380 - 507441).

Outra região em destaque situa-se A segunda ocorrência cadastrada


nas vizinhanças do povoado de Tesouro e na limita-se a um corpo lenticular no povoado
Fazenda Galante. O protominério é constituído de Serrote Preto, no riacho da Abelha. Trata-
por actinolita-tremolita xisto, contendo além se de mármore, de coloração branca, bem
de talco, proclorita, clipiroxênio, magnetita e cristalizado (Fig. 8.4B), de quase 1km de
apatita. Esta rocha está associada a anfibolitoscomprimento por 100m de largura. Encontra-
e hornblenditos, de protólito máfico-ultramáficose encaixado em paramigmatito da Complexo
do Complexo Algodões (PP2δmual). Certos Canindé do Ceará Central, de atitude
hornblenditos registraram, em análise química, 40/140º Az. A rocha tem textura em mosaico
quase 2.700 ppm de cromo. granoblástico, formada por cristais de calcita,
dolomita, wollastonita e, minerais acessórios,
8.1.4. Calcário de plagioclásio e quartzo.
A terceira ocorre próximo ao povoado
Foram registradas três ocorrências de Timbaúba, no município de Ibicuitinga.
na Folha Itapiúna. Uma associada a talco, na Representa uma lente de mármore, de coloração
Fazenda Vitória (descrita no item anterior), cinza-esbranquiçada, granulação fina, associado
que corresponde a carbonato dolomítico à rocha cálcio-silicática. Encontra-se encaixado,
(Fig. 8.4A), de coloração esbranquiçada, na direção NE-SW, em xisto e quartzito da
granulação fina a média, bem cristalizado e não Formação Santarém (Grupo Orós). O mármore
estruturado. Está intimamente ligado a rocha apresenta textura em mosaico granoblástico,
xistosa, contendo tremolita-actinolita fibrosas formado por cristais de calcita e/ou dolomita,
e radiais, esverdeadas, derivada possivelmente tremolita, diopsídio, quartzo e plagioclásio. Tem
da interação de fluidos hidrotermais com os como acessórios muscovita, flogopita, ilmenita,
anfibolitos do Complexo Algodões (PP2βal). pirita, titanita e apatita.

Figura 8.4. A: carbonato dolomítico associado a talco (EP-556; 9469380 - 507441). B: mármore encaixado em
paramigmatito do Complexo Canindé do Ceará Central (EP-570; 9500361 - 512393).

117
Programa Geologia do Brasil

8.1.5. Pegmatitos muscovita, granada, albita e quartzo (alguns


de tonalidade rosada), apresenta quantidade
Foram cadastradas três ocorrências de apreciável de turmalina preta (afrisita),
rochas pegmatíticas, contendo mineralizações cristais de columbita-tantalita e alguns berilos
na Folha Quixadá. Essas ocorrências fazem (água marinha) (Fig. 8.5A). Mas, informações
parte da Província Pegmatítica de Itapiúna. A locais relataram que foi extraído, no passado,
mais importante se refere ao antigo garimpo grande volume de cassiterita.
conhecido como a mina do Jucá. O corpo Na ocorrência do garimpo Vai-Quem-
representa um possante pegmatito, de atitude Quer, onde atualmente extrai-se quartzo róseo
10/175ºAz, encaixado subconcordantemente (Fig. 8.5B), observou-se que os pegmatitos estão
em anfibolito migmatítico, associado a granito- geneticamente associados às suas encaixantes,
gnaisse da unidade Leucogranito Itapiúna. os leucognaisses facoidais (Leucogranito
No campo constatou-se que Itapiúna). Observa-se a geração de vários
o pegmatito, além de conter cristais “pacotes” centimétricos de pegmatitos, muitos
centimétricos de feldspato potássico, deles ricos em turmalina preta.

Figura 8.5. A: cristais de tantalita, berilo e água marinha do garimpo desativado de Jucá, município de Itapiúna (FC- 1167;
9491116). B: ocorrência de quartzo róseo também no garimpo de Jucá.

8.1.6. Urânio e fosfato fina e localmente com feições brechadas, dando


aspecto de rocha vulcânica hidrotermalizada
Na Folha Quixadá, ocorrências de Fosfato- (Figs. 8.6A e B). Neste local, a porção rosada
Urânio foram resgatadas de projetos anteriores, aparece como fase tardia, percolando como veios
mas somente duas foram identificadas no na rocha vulcânica cinza (Fig. 8.6A).
campo, enquanto que outros pontos não foram A outra ocorrência esta inserida em
encontrados. Foram compiladas também, rochas metassedimentares do Complexo Canindé
informações recentes levantadas durante os do Ceará Central. Localiza-se na Fazenda Pedra
estudos do Projeto Fosfato (CPRM, inédito). Preta (FC-1126; 9492598; 477455), e apresenta
Segundo estes estudos, estas duas ocorrências as mesmas características encontradas na
na Folha Quixadá, estão relacionadas com ocorrência anterior, sendo reconhecidas como
anomalias de urânio, resultados positivos nos rochas rosadas a azuladas, de granulação fina, e
testes com molibdato de amônia, e medidas no localmente com aspecto brechado.
cintilômetro acima de 5000c Segundo estudos do Projeto Fosfato
Uma das ocorrências encontra-se (CPRM, inédito) a ocorrência da Fazenda
(intrusiva?) em domínio de ortognaisses tonalíticos Manocoba e da Fazenda Pedra Preta apresentam
do Complexo São José da Macaoca, localizado teores de P2O5 superiores a 25 wt% (análise
na Fazenda Manocoba, município de Madalena. química em rocha total), e valores de urânio
Apresenta-se em um pequeno afloramento de de 721,51 e 1503,11 ppm, respectivamente.
rocha cinza-azulada e rosada, com granulação Ao microscópio petrográfico, estas rochas

118
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

são de granulação fina, hidrotermalizada, distribuídos por toda rocha.


onde uma massa constituída essencialmente Curiosamente, estas duas ocorrências
por plagioclásio se encontra totalmente encontram-se posicionadas segundo grandes
substituída/impregnada por diminutos cristais alinhamentos magnéticos correlacionados aos
aciculares e ripiformes de difícil identificação. Diques Máficos Rio Ceará-Mirim, e, portanto,
Além destes, ocorrem ainda quantidade tornam estes diques, objetos importantes para
significativa de cristais de apatita com hábitos estudos mais aprofundados na prospecção de
variados, inclusive aciculares e hexagonais fosfato e urânio nestas áreas.

Figura 8.6. A: aspecto de amostra vulcânica (?) cinza com níveis rosados na forma de veios na localidade da Fazenda
Manocoba (FC-980; 947652 - 456704). B: detalhe de bloco rosado, com aspecto brechado, recortado por pequenas
vênulas de alteração hidrotermal.

8.2 - MATERIAIS DE USO NA 8.2.2. Argila


CONSTRUÇÃO CIVIL
Diversos pontos de extração de argila
8.2.1. Areia são encontrados na Folha Itapiúna. São
materiais de colorações marrom e cinza-
Os depósitos deste bem mineral estão escuro, consistentes, de frações argilosas,
associados às coberturas aluvionares mapeadas, às vezes areno-argilosas, obtidas em cavas
principalmente, ao longo dos rios Castro, Choró, rasas, de profundidade média de um metro,
Cangati e Pirangi, inseridos nas folhas Itapiúna e explotadas para fabricação de tijolos e
Quixadá. Foram registradas duas ocorrências de telhas.
areia quartzosa, sendo uma atualmente explotada Algumas olarias em atividades, de
no rio Cangati, no distrito de Juá (CE-060) (Fig. 8.7A). porte médio, localizadas nas rodovias CE-
Bons volumes promissores podem ser 265 e CE-359, utilizam extração mecanizada
encontrados também nas coberturas colúvio-aluviais em trator (Fig. 8.7B) e geram empregos para
mapeadas nos quadrantes SW e SE da Folha Itapiúna. população local.

Figura 8.7. A: explotação de areia no rio Cangati – rodovia CE-060 (EP-97; 9483814- 502389). B: extração de argila para
fabricação de tijolo no município de Ibaretama (IG-12; 9470360 - 523172).

119
Programa Geologia do Brasil

8.2.3. Pedra de cantaria e brita Os blocos são extraídos de modo


artesanal (Fig. 8.8B) e talhados, segundo
O distrito de Vargem da Onça (município o plano da foliação, comercializados nas
de Quixadá), na Folha Itapiúna, representa regiões circunvizinhas e de Fortaleza. A
a principal área dessa categoria de recurso maior pedreira (Poço Verde) encontra-
mineral. Nesse distrito são encontradas diversas se nas proximidades da rodovia CE-265,
pedreiras, em atividade, que extraem pedras apresentando uma área de aproximadamente
para revestimento, britas, paralelepípedos, 70.000m2.
calçamento e pisos (Fig. 8.8A). Outra ocorrência de material para brita
A rocha é constituída por hornblenda- refere-se à pedreira na CE-060, situada a 3km da
biotita ortognaisse migmatítico (Compelxo São entrada do distrito de Caio Prado, utilizada para
José da Macaoca – PP2sjmg), de composição revestimento asfáltico. A rocha é composta por
granodorítica a granítica, granulação média granada-biotita gnaisse facoidal, de coloração
a grossa, coloração cinza, foliação gnáissica, cinza esbranquiçado, granulação média a
subvertical a vertical, bandado e milonítico, na grossa e migmatizado, foliado com atitude de
direção 40ºAz. 30/140ºAz.

Figura 8.8. A: explotação em ortognaisse na pedreira de Poço Verde (EP-30; 945254-513911). B: modo artesanal de
extração de pedra de cantaria e de revestimento (EP-30; 945254-513911).

8.2.4. Rocha ornamental migmatitos do Complexo Canindé do Ceará


Central e no Leucogranito Itapiúna. A primeira
Na Folha Itapiúna encontram-se litotipos dessas ocorrências situa-se numa pedreira
com grande potencial para rocha ornamental, desativada no serrote Preto, a 4,5 km da cidade
em condições para exploração. Nesta folha de Itapiúna. A rocha corresponde a segregações
registra-se a serra Azul, a oeste da cidade de centimétricas quartzo-feldspática com
Ibaretama. Esta elevação compõe, em grande granada (leucossoma) e biotítica com granada
parte, um biotita granito porfirítico (Granito (melanossoma), que dão aspecto exótico à rocha
Serra Azul - NP3γsa), de coloração amarelada (Fig. 8.9B). A segunda representa uma pedreira
a rosada, granulação grossa e isotrópico (Fig. desativada, localizada próximo ao povoado de
8.9A). No campo observou-se que já houve Choró Junco (município de Baturité). Trata-se
comercialização desta rocha, dado pela presença de um leucognaisse com granada, de coloração
de alguns blocos talhados nos arredores do esbranquiçada, granulação média a grossa,
povoado de Oiticica. com níveis grossos de aspecto pegmatíticos,
Outras ocorrências para aproveitamento centimétrico a métrico, biotítico e milonítico de
de rochas ornamental foram cadastradas em atitude 80/155ºAz.

120
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

Figura 8.9. A: bloco de granito da serra Azul (EP-486; 9468983- 526558). B: bloco de migmatito do serrote Preto (EP-567;
9498921- 510989).

121
Programa Geologia do Brasil

9 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A integração das folhas Itapiúna e Complexo Algodões, revelaram apenas zircões
Quixadá permitiu resultados que puderam paleoproterozoicos, com pico entre 2,2-2,1 Ga,
atualizar a visão cartográfica da área e dos provavelmente refletindo ambiente de arco.
recursos minerais, além de contribuir com Os Ortognaisses Cipó representam
novos dados geoquímicos e geocronológicos, domínios bastantes expressivos nas folhas
possibilitando informações relevantes que serão Quixadá e Itapiúna, apresentando-se como
listadas a seguir: domos gnáissicos inseridos nas sequencias
metavulvano-sedimentar do Complexo Algodões,
9.1 - CONCLUSÕES tipicamente como estruturas de domos e quilhas
em greenstone belts. Estes ortognaisses são de
O Complexo Cruzeta ocorre unicamente composição tonalítica, raramente granodiorítica,
na porção sudoeste Folha Quixadá, sendo de granulação média e biotita como mineral
composto de ortognaisses cinzentos de máfico dominante. Em parte estão encaixados em
composição tonalítica a granodiorítica, em anfibolitos, que ocorrem como enclaves dos mais
parte migmatizados e localmente anfibolitos. variados tamanhos. Geralmente apresentam-
Conforme discutido neste relatório, este domínio se deformados e localmente migmatizados.
merece melhor reconhecimento regional para Quimicamente são granitoides de alta-sílica
sua definição, sendo que na Folha Quixadá a (SiO2 ≈ 70%), baixo potássio (K2O ≈ 1,5%) e
ocorrência destas rochas é pouco expressiva. alto sódio (Na2O ≈ 4,5%), similar as suítes TTG
O Complexo Jaguaretama ocorre apenas ou seus análogos modernos (adakitos de alta-
na Folha Itapiúna e corresponde a diatexitos e sílica). Para os ortognaisses Cipó, duas amostras
metatexitos paraderivados com ou sem granada, foram datadas neste projeto e revelaram idades
associados a lentes de anfibolitos e rochas cálcio- de 2.180±15 Ma (Serra do Veríssimo) e 2.190 ± 6
silicáticas, e subordinadamente, a ortognaisses Ma (Serra da Conceição).
migmatizados de composição granodiorítica. O Complexo São José da Macaoca
O Complexo Algodões caracteriza-se por representa uma associação de orto- e
uma sequência plutono-vulcano-sedimentar paragnaisses migmatíticos de grande expressão
metamorfizada em fácies xisto-verde a anfibolito nas folhas Itapiúna e Quixadá, constituindo
alto, sendo que o grau metamórfico aumenta na o embasamento paleoproterozoico para
direção N/NW. Apresenta-se como uma sequência sequências supracrustais do Complexo Ceará.
de anfibolitos, às vezes com metaultramáficas O domínio ortoderivado é predominante neste
associadas, paragnaisses arcósio-grauvaquianos, complexo, representado por migmatitos,
quartzitos, metaconglomerados e localmente tonalitos e granodioritos, frequentemente com
metavulcânicas intermediárias. Uma unidade enclaves máficos magmáticos e diques sin-
gnáissica-migmatítica foi mapeada na plutônicos de composição diorítica/tonalítica.
extremidade N/NW do Complexo Algodões, São ortognaisses com hornblenda e biotita como
atribuindo uma variação lateral e gradacional minerais máficos. Os leucossomas quartzo-
do metamorfismo. A partir dos dados de feldpáticos são de cor branca (raramente rosa)
litogeoquímica para os anfibolitos do Complexo e geralmente com hornblenda neoformada
Algodões foi possível distinguir um grupo com (peritética). Quimicamente estes ortognaisses
assinatura próxima de basaltos de cadeias são rochas subalcalinas com afinidade para
meso-oceânicas ou platôs oceânicos (N-MORB série cálcio-alcalina de médio-K, e assinatura
e E-MORB), e outros dois grupos de anfibolitos próxima de adakitos de baixa-sílica. As análises
que sugerem uma componente de subducção geocronológicas disponíveis na literatura
para enriquecimento em elementos como Th revelam idades de ≈ 2.130-2.139 Ma. Ainda no
e Ta (Grupo-1) e Th e Nb (Grupo-2). Análise contexto mapeado como do Complexo São José
de proveniência em zircões detríticos por da Macaoca ortoderivado ocorrem ortognaisses,
U-Pb (LA-ICPMS) no “quartzito Choró” do alguns porfiríticos, de estruturas bandadas,

122
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

com raras lentes anfibolíticas, de composição, mármores, rochas cálcio-silicáticas, metachert,


variando de granítica a granodiorítica, além de metavulcânicas félsicas e máficas,
subordinadamente tonalítica, cálcio-alcalinos metamorfizados em fácies xisto-verde a
de alto K, encontrado na região de Vargem da anfibolito alto. Análise em zircões detríticos
Onça. O domínio paraderivado é representado (U-Pb LA-ICPMS) de micaxisto indicou uma
por migmatitos de mesossoma xistosos ricos população mais nova em torno de 1,7 Ga,
em biotita, com ou sem granada e sillimanita e interpretada como idade máxima de deposição
geralmente com leucossomas brancos quartzo- dos sedimentos.
feldspáticos (± granada). Frequentemente O Complexo Ceará corresponde, nas
encontram-se feições schilieren e schöllen em folhas Itapiúna e Quixadá, a uma sequência de
diatexitos (alta taxa de fusão). Localmente rochas paraderivadas sobre o embasamento
cristais de grafita (≈ 1 cm) ocorrem disseminados paleoproterozoico referente aos complexos
na forma de flocos (flake graphite). Canindé do Ceará Central, São José da Macaoca e
O Ortognaisse Serra da Palha foi mapeado Algodões. Estas unidades correspondem à biotita
neste projeto, representando uma folha granítica xistos com ± granada, ± sillimanita e abundante
que sustenta o relevo da serra homônima, na ocorrência de migmatitos paraderivados.
região de Dom Maurício, na Folha Quixadá. São Ocorrem também quartzitos, metacarbonatos,
ortognaisses de composição granítica, tendo rochas cálcio-silicáticas e injeções de
a biotita como mineral máfico dominante. leucogranitóides. Migmatitos paraderivados são
Geralmente porfiríticos, com fenocristais de geralmente de estrutura estromática, alternando
K-feldspato de até 1 cm. Estes granitóides são leucossomas brancos quartzo-feldspáticos
bastante foliados, sem migmatização e ocorrem com mesossomas xistosos, ricos em biotita,
intrusivos em rochas metassedimentares comumente com ± granada e ± sillimanita.
do Complexo Algodões. Quimicamente são Diatexitos e participação de leucogranitoides
granitoides de alta-sílica (SiO2 ≈ 70%) com ocorrem com frequência. Localmente cristais de
tendência cálcio-alcalina de alto-K. Uma amostra grafita ocorrem disseminados no mesossoma e
de ortognaisse granítico na Serra da Palha foi às vezes em leucossomas. As análises em zircões
datada neste projeto e revelou idade de 2.150 ± detríticos (U-Pb LA-ICPMS) realizadas neste
16 Ma (U-Pb em zircão por LA-ICPMS). projeto revelaram idades neoproterozoicas para
A unidade Ortognaisse Madalena refere- as unidades Independência e Quixeramobim,
se a um magmatismo já conhecido no Domínio ambas com população de zircões mais jovens
Ceará Central, caracterizado por metaquartzo entre 800-700 Ma (idade máxima da deposição).
dioritos inicialmente definidos na região da Individualizaram-se duas unidades de
cidade de Madalena. Neste projeto, esta unidade derivação granítica tipo S: Leucogranito Itapiúna
ocorre somente na porção sul da Folha Quixadá, e que compõe termos com ou sem granada e
engloba oque foi anteriormente mapeado como sillimanita, peraluminosos, cálcio-alcalinos
granitoides Sítios dos Bois. Estes ortognaisses de alto K, evoluído em sílica, geralmente
apresentam composição quartzo-diorítica a gnaissificados, às vezes porfiríticos, contendo
tonalítica, sendo pouco deformados e raramente grafitas disseminadas, com frequentes porções
migmatizados. Frequentemente ocorrem com diatexíticas, restos de paragnaisses e xistos, além
enclaves máficos magmáticos e aplitos tardios de enclaves de rochas anfibolíticas. Corpos de
de coloração cinza. Lineação geralmente composição granítica oriundos principalmente
predominando sobre foliação (tectonitos-L). da fusão parcial de rochas metassedimentares
Quimicamente são rochas intermediárias, com do Complexo Canindé do Ceará Central;
SiO2 entre 52-63%, e afinidade para série cálcio- Leucogranito Ibicuitinga contém granada, às
alcalina de médio-K. Dados geocronológicos vezes a duas micas e sillimanita, gnaissificados,
disponíveis na literatura indicam idades de ≈ alguns migmatizados, contendo restitos xistosos,
2.130-2.150 Ma. definido como sendo rochas originadas de fusão
A Formação Santarém (Grupo Orós) parcial das rochas paraderivadas do Complexo
é representada por quartzitos intercalados Jaguaretama.
com micaxistos diversos, associados a Para os granitoides neoproterozoicos
123
Programa Geologia do Brasil

das folhas Quixadá e Itapiúna, destacam- inconsolidados, de coloração esbranquiçada,


se dois principais grupos de rochas com de distribuição irregular, predominantemente,
características de campo e litogeoquímicas arenosos, podendo ocorrer materiais cascalhosos
que refletem fontes distintas na geração de (seixos centimétricos) com matriz argilosa
magma: (i) para os Monzonitos Quixadá, Serrote lateritizada; Depósitos Aluvionares constituídos
Feio e o Granodiorito Veados, o predomínio principalmente de areias quartzosas e
de composição intermediária (SiO2 entre feldspáticas, conglomeráticas ou não, cascalhos e
50-65 wt%), feições de misturas de magmas argilas. Estão presentes principalmente ao longo
(magma mingling) observadas no campo, dos rios Cangati, Choró, Castro e Pirangi que
e presença de ortopiroxênio magmático no tem suas nascentes na área da Folha Quixadá e
Monzonito Serrote Feio, são característica drenam em direção a Leste, adentrando na área
que sugerem uma componente mantélica na da Folha Itapiúna.
evolução destas rochas, sendo que afinidade O quadro do arcabouço tectono-
com a série shoshonítica e até ultrapotássica estrutural da área é representado pelas seguintes
para o Monzonito Quixadá, revelam uma fases deformacionais:
fonte de magma em manto litosférico sub- Pré D1 (Dn): evento tectono-deformacional que
continental. (ii) Já para os granitoides Serra afetou rochas dos complexos Algodões, São José
Azul e Juatama, que são tipicamente granitos da Macaoca, Jaguaretama e Cruzeta registrado
(sensu stricto), coloração rosa, compostos por entre o Riaciano e o Orosiriano;
quartzo, K-feldspato, plagioclásio e biotita, suas Tangencial brasiliano (D1): tectônica de direção
características químicas sugerem que são gerados NW-SE, com transporte de massa para NW
por uma fonte crustal, provavelmente atribuída que provocou deformação/metamorfismo
aos ortognaisses tonalíticos do embasamento (sin-D1), que atingiu o fácies anfibolito
paleoproterozoico. alto (isógrada da sillimanita). As condições
Além dos granitoides neoproterozoicos reinantes de P e T permitiram a geração de
acima citados ocorrem, na parte norte da Folha uma forte migmatização e fusão parcial in
Itapiúna, rochas gabro-noríticas e quartzo situ. Nesta fase as rochas paraderivadas da
dioríticas, com enclaves microgranulares Unidade Canindé e do Complexo Jaguaretama
máficos, atribuídas à Suíte Pedra Aguda; e foram submetidas a elevadas temperaturas
granitos e granodioritos, microporfiríticos e (acima de 650ºC), o que gerou a formação
isotrópicos, denominados neste projeto como de diversos leucogranitos a granada (granitos
Granitoide Boqueirão. tipo S de Itapiúna e Ibicuitinga). Essa tectônica
O magmatismo Rio Ceará Mirim compressiva (D1) é bem expressiva também na
corresponde a diques máficos compostos por Formação Santarém (deposição máxima de ≈ 1,7
gabros e diabásios de coloração preta, que Ga, Grupo Orós - serrote da Viçosa), nas rochas
geralmente afloram na forma de blocos e metassedimentares da Unidade Quixeramobim
matacões esféricos. Estes corpos diqueformes (idade máxima deposicional de 800-700 Ma),
foram inicialmente identificados nas imagens de e nos paragnaisses/anfibolitos do Complexo
magnetometria aérea (sinal analítico e primeira Algodões (serra do Estevão), que, atingiram
derivada), e posteriormente checados em localmente, grau metamórfico mais baixo, entre
campo. Dados geocronológicos disponíveis na os fácies xisto-verde e anfibolito.
literatura indicam idades em torno de 110-140 Transcorrente brasiliano (D2): a evolução se deu
Ma para este magmatismo, sendo associado à de forma progressiva para regime transcorrente-
abertura do Oceano Atlântico. transpressivo de direção NE-SW, com cinemática
Os depósitos cenozoicos mapeados são dextral. Esta tectônica transpressiva impôs uma
formados pelos sedimentos: do Grupo Barreiras estruturação localizada de nappes, que afetaram
consistindo por arenitos argilosos de tonalidade tantos as rochas paleoproterozoicas como as
variável, matriz argilo-caulinítica, com cimento neoproterozoicas. A porção noroeste da área
ferruginoso e, às vezes, silicoso, com leitos foi submetida a empurrão com deslocamento
conglomeráticos e nódulos lateríticos; Depósitos de massa para SW, e simetricamente, na região
Colúvio-Aluviais compostos por sedimentos central e nordeste da área, os empurrões
124
Geologia e Recursos Minerais das Folhas Quixadá e Itapiúna

sucederam-se com transporte de massa para sendo então recomendado, pertencer a outra
N/NE. Neste episódio transcorrente, em sítios unidade ou complexo, a fim de separar das
extensionais, alojaram-se uma série de corpos rochas arqueanas da região de Pedra Branca.
plutônicos, por exemplo, o Batólito Quixadá de - O Complexo São José da Macaoca,
≈ 585 Ma. Ainda em domínio transcorrente, neste projeto, foi mapeado como um
porém, em nível mais raso, instalaram-se faixas domínio de ortognaisses e paragnaisses
miloníticas, de direção NE-SW, geralmente migmatíticos, correspondendo ao embasamento
dextrais, como aquelas encontradas dentro paleoproterozoico na região. No entanto, para
do Batólito Quixadá, e principalmente entre as a unidade paraderivada cartografada aqui,
zonas de cisalhamento Senador Pompeu e Orós. não existem informações geocronológicas
Foram cadastradas 93 ocorrências para garantir seu posicionamento no
minerais, representantes das classes de rochas paleoproterozoico. Portanto, são recomendados
e minerais industriais (grafita, manganês, talco, estudos futuros de proveniência, como U-Pb em
calcário, pegmatitos, urânio e fosfato) e materiais zircões detríticos e Sm-Nd em rocha total. Para os
de uso na construção civil (areia, argila, pedra de ortognaisses deste complexo, idades existentes
cantaria, brita e rocha ornamental). na literatura foram feitas pelos métodos U-Pb
Merecem destaque as ocorrências de (diluição) e Pb-Pb (evaporação), e por se tratar de
grafita e manganês, como áreas de grande potencial rochas migmatíticas (fácies anfibolito alto), idades
metalogenético, associadas principalmente às pontuais em zircão, por métodos mais robustos
rochas paraderivadas e migmatizadas do Complexo (SHRIMP ou LA-ICPMS) são aqui recomendadas.
Canindé do Ceará Central. - As duas ocorrências de urânio-fosfato
Certos pegmatitos da região de Itapiúna são registradas na Folha Quixadá apresentam-se
portadores de minerais como columbita-tantalita, em domínios litológicos distintos daquele de
berilo, água marinha, cassiterita, turmalina, rochas carbonáticas da região de Itataia, uma
granada e quartzo róseo. Estão associados à importante mineralização de urânio-fosfato no
unidade Leucogranito Itapiúna. Muitos desses Estado do Ceará. Além disso, essas ocorrências
corpos podem ter boa viabilidade econômica. estão geograficamente posicionadas próximas
Nas rochas máficas/ultramáficas do dos diques máficos Rio Ceará Mirim, abrindo,
Complexo Algodões e comum a presença portanto, perspectiva de exploração ao longo
de talco, como produto gerado pela ação de destes alinhamentos diqueformes.
processos hidrotermais. - A ocorrência de manganês na região
A região de Vargem da Onça se mostra com de Juá, na Folha Quixadá, diferentemente do
grande potencial para lavra e beneficiamento de minério na região de Ocara, que é tipicamente
materiais usados na construção civil, tais como supergênico, encontra-se em nível mais profundo,
brita e pedra de cantaria, obtidos a partir de predominando minério metamórfico (gondito).
ortognaisses do Complexo São José da Macaoca. Portanto, abre perspectiva para prospecção em
áreas do embasamento, a procura de minério
9.2 - RECOMENDAÇÕES encaixado na rocha, e não somente supergênico,
como na região de Ocara, na Folha Itapiúna.
- O Complexo Cruzeta (Arqueano/ - Do ponto de vista metalogenético, o
Paleoproterozoico) na região da Folha Quixadá Complexo Algodões merece ser alvo de maiores
ocorre de maneira pouco expressiva. Portanto, investigações, tendo em vista que se trata de
para melhor entendimento, necessita de ser uma sequência metavulcano-sedimentar similar a
investigada regionalmente, o que não foi possível terrenos tipo greenstone, com ampla distribuição
neste trabalho. O Complexo Cruzeta foi inserido de anfibolitos, metaultramáficas, metavulcânicas
no mapa, em consonância com trabalhos de intermediárias e ortognaisses trondhjemíticos.
mapeamento adjacente (ex: Folhas Boa Viagem e Estudos de prospecção de ouro mesotermal (tipo
Quixeramobim 1:100.000). No entanto, sabemos lode) são recomendados nas regiões de mais
que grande parte deste domínio “externo” (fora baixo grau metamórfico do complexo, assim como
da região de Pedra Branca) do Complexo Cruzeta, estudos voltados para sulfetos maciços associados
é dominantemente de idade paleoproterozoica, às metavulcânicas máficas e intermediárias.
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133
ISBN
978-85-7499-348-5

SB.24-X-A-IV
SB.24-V-B-VI
A elaboração do mapa geológico e recursos minerais GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS Programa Geologia do Brasil
das Folhas Quixadá e Itapiúna, na escala 1:100.000, DAS FOLHAS QUIXADÁ – SB.24-V-B-VI
resulta de uma ação do Serviço Geológico do Brasil – E ITAPIÚNA – SB.24-X-A-IV Levantamentos Geológicos Básicos
CPRM, empresa pública vinculada à Secretaria de Escala: 1:100.000
Geologia, Mineração e Transformação Mineral, do

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS


Ministério de Minas e Energia.
ESTADO DO CEARÁ
O projeto foi executado pela Residência de Fortaleza do
DAS FOLHAS QUIXADÁ – SB.24-V-B-VI

GEOLOGIA E RECURSOS MINERAIS DA FOLHA QUIXADÁ E ITAPIÚNA


Serviço Geológico do Brasil – CPRM, dentro das
diretrizes do Programa Geologia do Brasil.

A Carta Geológica na escala 1:100.000 – cujo objetivo é


E ITAPIÚNA – SB.24-X-A-IV
o de gerar e difundir informações geológicas e de
recursos minerais para subsidiar o planejamento
territorial e o uso do solo e subsolo, além de induzir o
aumento dos investimentos em prospecção e pesquisa
mineral, com vistas ao desenvolvimento da indústria de
mineração no país.

Esse produto deverá auxiliar o governo do estado e


órgãos de planejamento, no estabelecimento de
políticas públicas de desenvolvimento regional, na
medida em que servirão de base para estudos de
prospecção e exploração mineral e na adoção de ações
estratégicas que visem o desenvolvimento econômico-
social.

Nesse contexto, o conhecimento geológico


sistematizado pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM
também passa a ser considerado como fonte primordial
DEZEMBRO DE 2017
de informação do meio físico e requisitado para os
estudos de zoneamento ecológicoeconômico e de
gestão ambiental.

Escala: 1:100.000
www.cprm.gov.br 2017

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO USUÁRIO - SEUS OUVIDORIA


Tel: 21 2295-5997 – Fax: 21 2295-5897 Tel: 21 2295-4697 – Fax: 21 2295-0495
E-mail: seus@cprm.gov.br E-mail: ouvidoria@cprm.gov.br
1:100.000

SECRETARIA DE
GEOLOGIA, MINERAÇÃO MINISTÉRIO DE
E TRANSFORMAÇÃO MINERAL MINAS E ENERGIA

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