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EDIFICAÇÕES
Juliana M. VILHENA
Arquiteta e Urbanista, Especialista em Construção Civil
julianamvilhena@terra.com.br
RESUMO
A estratégia para a introdução de uma metodologia nacional de avaliação de impactos
ambientais de edifícios iniciou-se quando o Brasil formalizou a sua integração ao projeto
Green Building Challenge durante a Conferência Sustainable Building 2000. Desde então novas
implementações foram elaboradas para se adequarem ao contexto nacional e refletirem as
necessidades da agenda brasileira. Uma nova metodologia desenvolvida por SILVA (2003)
ampliou o escopo tradicional de avaliação ambiental para avaliação de sustentabilidade de
edifícios através da incorporação de aspectos sócio-econômicos. No entanto uma interface
de avaliação ainda está em desenvolvimento. Além disso, a consulta às partes interessadas
na construção civil do estado de São Paulo revelou a carência de ferramentas de orientação
para o mercado no ciclo de vida das edificações, principalmente para a etapa de projeto. O
objetivo deste trabalho é, portanto, definir diretrizes para a sustentabilidade das edificações
capazes de orientar clientes, incorporadores, projetistas, construtores, fornecedores e
usuários na tomada de decisões em cada fase do ciclo de vida do empreendimento. Para
cumprir com o objetivo proposto foi elaborada uma planilha de diretrizes para a
sustentabilidade das edificações que foram aplicadas em um estudo de caso demonstrando
como esta ferramenta contribui na busca de metas sustentáveis.
Palavras-chave: diretrizes para sustentabilidade, edifícios, gestão do ciclo de vida
ABSTRACT
The strategy to introduce a national methodology of Building Construction Environment
Impact Assessment began when Brazil formally joined the Green Building Challenge
Program at the Sustainable Building 2000 Conference. Since then, new implementations
were created and proposed in order to align and fulfill the demands of the Brazilian
Agenda. A new methodology developed by SILVA (2003) has amplified the traditional
environmental assessment of Buildings to a Sustainable Environmental Assessment of
Building through the implementation of Social and Economical analisys on it. However, a
evaluation interface is still under development. In addition, a research with the players of
the Civil Construction in the State of São Paulo, showed up a lack of Market Oriented Tools
concerning the life cycle of edifications, specially on the design stage. The goal of this paper
is to introduce guidelines (and milestones) in order to align the decision making process of
all the construction players (customers, architects, design engineers, supplyers, contractors
and users), from each stage of the life cycle of the construction investment. In order to show
the avalability of contents of this paper, this milestone table has been used as a guide line
tool in a case analisys of sustainability of edifications.
Keywords: sustainable guidelines, buildings, life cycle management
1 Também conhecida como World Commission on Environment and Development (WCED). Em menção a Gro Harlem
Brundtland, coordenadora dos trabalhos e então Primeira-Ministra da Noruega. Esta comissão eleborou o documento
denominado “Our Common Future”, o qual tem servido de guia para a teoria e prática do desenvolvimento
sustentável.
2 International Council for Research and Innovation in Building and Construction.
2 OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é apresentar diretrizes para a sustentabilidade das
edificações capazes de orientar clientes, incorporadores, projetistas, construtores,
fornecedores e usuários na tomada de decisões em cada fase do ciclo de vida do
empreendimento. O conhecimento destas diretrizes estabelece as responsabilidades
de cada agente e a integração dos mesmos em busca do cumprimento de metas
sustentáveis. Para finalizar, será apresentada a aplicação de algumas das diretrizes
propostas em um breve estudo de caso.
4
SINDUSCON-SP - SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Meio
Ambiente – Construção Sustentável – Avaliação de Sustentabilidade nas Edificações (download programa para
avaliação de edifícios no site: www.sindusconsp.com.br)
Æ Natureza do projeto; Æ Área total de solo ocupado + Æ Execução do paisagismo e do Æ Área construída /
Alterações da Æ Facilidade de acesso afetado pelo edifício e atividades projeto de áreas externas para usuário (real);
Ecologia e ao transporte público. relacionadas (m2); redução de ilhas de calor. 1.2) Ecologia Local:
Biodiversidades 1.2) Ecologia Local: Æ Eficiência no uso do solo (m2 Æ Área verde total
Locais Æ Avaliar o impacto do terreno / m2 construído); (espécies nativas +
empreendimento sobre Æ Área construída / usuário; plantadas).
* uso de habitats e espécies; Æ Área impermeável do terreno;
recursos Æ Prever ações Æ Vagas estacionamento / área
naturais específicas para construída.
proteger / melhorar a 1.2) Ecologia Local:
ecologia local (habitat e Æ Área de paisagismo com espécies
AMBIENTAIS
Interno iluminação natural em todos os espaços projetados interno durante o primária em distância de até
com correta orientação. processo de 2H, onde H é a altura da
* impacto sobre 6.2) Ventilação natural: construção. janela ou onde haja boa
os usuários Æ Estudo da forma e da orientação do edifício para: iluminação natural vinda de
a) maximizar a exposição do edifício às correntes de clarabóias;
vento através da correta orientação; b) utilizar 6.2) Ventilação natural:
dispositivos arquitetônicos que direcionem o fluxo de Æ % área de ocupação
ar para o interior; c) projetar espaços fluidos que primária que tenha relação
permitam a circulação do ar entre os ambientes área de janelas operáveis /
internos e destes com o exterior; d) promover a área de piso acima de 17%;
ventilação vertical para retirada do ar quente através 6.3) Conforto térmico:
SOCIAIS
8) Qualidade 8.1) Responsabilidade na Æ Projeto com previsão de diferentes usos Æ Manutenção das metas de
dos Serviços edificação do ambiente além do original ao longo do tempo e desempenho;
construído: flexibilidade da planta e estrutura da Æ Controle dos sistemas;
(manutenção do Æ Planejamento do uso edificação para possibilitar mudanças e Æ Manutenção dos sistemas
desempenho, da edificação e adaptações com facilidade e reaproveitamento e reformas no edifício;
flexibilidade, previsibilidade de dos espaços. Æ Reutilização e adaptação
controlabilidade alterações; dos espaços do edifício para
dos sistemas e Æ Liberdade e continuidade do uso.
impactos nos flexibilidade de uso no
sítios decorrer do tempo pós-
adjacentes) construção.
Qualidade final: Æ Redução de prazos previsto ( custo/m2 construção); Æ Verificar no ato da entrega Æ Comparação entre o
Æ Pesquisas de com maior e após período de retificação, problemas como: falha custo de operação real /
* melhoria no opinião do usuário previsibilidade estrutural, revestimentos e trincas, rejunte e pequenos defeitos planejada global e
produto oferecido final; (tempo de conclusão e comparação dos dados com a média da empresa; Æ trimestral (R$/m2);
/ custos ciclo de Æ Análise de banco do projeto / Número de reclamações de vizinhos e ações judiciais movidas Æ Custo de
vida, de dados. planejado: %); contra a empresa por clientes e usuários, por unidade de valor manutenção real /
investimentos, 9.2) Implantar Æ Redução de custo agregado (qtd/R$); planejado global e
agregação de práticas de controle ao longo do ciclo de 9.2) Integração de práticas de controle da qualidade ao trimestral (R$/m2);
valor e benefícios de qualidade: vida, com maior processo: Æ Número de
ECONÔMICAS E SOCIAIS
* Integração de
Æ Seleção de previsibilidade (custo Æ Verificar se a etapa da construção segue um SGQ certificado reclamações de usuários
práticas de
empresas e / m2 construído – (ISO 9001); finais e clientes, por
controle de
profissionais que orçamento previsto); Æ Realizar testes na pré entrega de sistemas de unidade de valor
qualidade ao
processo atendam ao SGQ e Æ Uso de materiais condicionamento e ventilação artificial; agregado (qtd/$).
* produtividade ao SGA; locais (porcentagem Æ Desenvolver protocolos de verificação de conformidade de 9.2) Integração de
no canteiro Æ Coordenação dos do custo total de desempenho pré-entrega por profissional habilitado; práticas de controle da
* impacto sobre os projetos. materiais); 9.3) Investimento, agregação de valor e benefícios da qualidade ao processo:
operários sustentabilidade: Æ Planejamento da
(satisfação, saúde, Æ Custo de produção em m2 “sustentável” / m2 convencional operação e manutenção
segurança e (%); Æ Valor de venda m2 “sustentável” / m2 convencional do edifício: 1) programa
ambiente de (%); Æ Porcentagem de aumento do custo como investimento de manutenção
trabalho) em sustentabilidade (%); Æ Valor agregado / unidade de valor preventiva dos sistemas
* impactos sobre a de vendas (%); Æ Retorno médio do capital empregado (%); Æ e equipamentos
sociedade Subsídios e benefícios fiscais recebidos (% custo obra); consumidores de água e
(relacionamento 9.4) Produtividade no canteiro: energia; 2) treinamento
com a Æ Horas.homens/m2; Æ Horas de retrabalho ou gastas em do pessoal de
comunidade, correção de defeitos pré entrega (em % total de horas manutenção e operação.
clientes e usuários trabalhadas); Æ Custo de retificação de defeitos pré entrega
finais e
(em % custo total obra);
fornecedores)
empregados formais);
* Integração de
9.7) Satisfação dos operários e treinamento:
práticas de
Æ Implementação de práticas para avaliação da satisfação dos
controle de
funcionários;
qualidade ao
processo Æ Satisfação média dos funcionários com: pontualidade no
* produtividade pagamento, pacote de salários e benefícios, saúde e segurança no
no canteiro local de trabalho, igualdade de oportunidades e valorização de RH;
* impacto sobre os Æ Programa para melhoria contínua da satisfação dos funcionários;
operários Æ Treinamento profissional e/ou treinamento ambiental para
(satisfação, saúde, pessoal próprio e para pessoal contratado;
segurança e Æ Programa para reduzir a rotatividade de operários;
ambiente de 9.8) Satisfação dos clientes:
trabalho) Æ Implementação de prática para avaliação da satisfação dos
* impactos sobre a clientes;
sociedade Æ Satisfação média dos clientes com: pontualidade na entrega,
(relacionamento qualidade do produto, retorno do investimento, valor agregado,
com a relacionamento à longo prazo;
comunidade, 9.9) Relacionamento com fornecedores:
clientes e usuários Æ Satisfação média dos fornecedores com: pontualidade no
finais e
pagamento, relação de trabalho, tratamento justo e igual entre
fornecedores)
fornecedores, comunicação eficiente, relacionamento a longo prazo.
Ambiental
de qualidade no ambiental implantadas Æ Controle de poluição: a) do ar; b) sonora; c) de corpos d’água e de uso;
(SGA) e sobrecarga da infra-estrutura de águas pluviais; Æ Gestão de RCD; Æ Sensibilização de usuários e
planejamento, como: no projeto:
Aspectos de Æ Monitoramento de poluição e número de incidentes, total e por disseminação de informações
Æ Seleção de Æ Avaliação ambiental
Sustentabilidade trimestre quanto a: poluição do ar, poluição da água, contaminação do sobre minimização de resíduos de
profissionais integrada ao processo de
solo, ruído (perturbação). uso e separação para reciclagem;
habilitados em projeto;
* Integração de 10.3) Sistema de gestão: Æ Condução de auditoria
questões de Æ Seleção de
gestão ambiental Æ Política para a sustentabilidade com objetivos e atribuição de trimestral na geração de resíduos
sustentabilidade de profissionais habilitados responsabilidades; Æ Metas de sustentabilidade revisadas anualmente de uso.
ao planejamento projeto, construção e em questões de e implementação na forma de um plano de ação; Æ Processo interno 10.2) Implantação de sistema de
do processo operação; sustentabilidade de de auditoria de sustentabilidade; gestão de uso da água:
* Æ Integração do projeto, construção e 10.4) Relato e benchmarking de desempenho: Æ Política de conservação de água
Sistema de Gestão da operação.
INSTITUCIONAIS
Ficha Técnica:
Projeto residencial
unifamiliar
Local: Lagoa Santa, MG.
Área do terreno: 3.585 m2
Área construída: 400 m2
Área permeável: 3.300 m2
No de pavimentos: 02
• Uso de sistema solar para aquecimento da água. A instalação das placas será na
laje do 2º pavimento voltadas para o norte e com a inclinação necessária para o
maior rendimento das placas. O sistema será com circulação natural da água,
sem a necessidade de bombas. O gás será utilizado como complemento ao
aquecimento solar;
• Coleta e reaproveitamento de água pluvial para irrigação dos jardins, descarga
dos vasos sanitários, limpeza das varandas e lavagem de automóveis. Será
utilizado o filtro autolimpante (3P Technik) e o armazenamento da água
coletada será em duas cisternas de 5000 litros. A coleta da água de chuva e a sua
retenção em cisternas também contribui com a diminuição de água lançada na
rede de drenagem pública evitando enchentes urbanas.
• Utilização de água subterrânea (lençol artesiano) como fonte principal para uso
diário em toda a residência devido a sua boa qualidade. Caso seja necessário o
sistema será realimentado com água potável fornecida pela companhia de água;
• Racionalização do uso da água através de instalações hidráulicas que utilizam
dispositivos economizadores como: bacias sanitárias com caixa acoplada,
chuveiros com vazão moderada, torneiras com arrejadores e metais dos
lavatórios monocomando;
5 CONCLUSÕES
A utilização do modelo proposto como uma ferramenta de trabalho pode auxiliar
os projetistas no desenvolvimento de edificações de menor impacto ambiental e
incentivar os construtores e futuros usuários no cumprimento das metas
sustentáveis estabelecidas no planejamento e projeto.
O conhecimento de práticas sustentáveis e a disseminação de informações
relacionadas à minimização de impactos ambientais podem melhorar a qualidade
do ambiente construído. Todos os agentes envolvidos no processo de construção
devem se conscientizar e buscar uma integração entre eles para que os princípios
da sustentabilidade façam parte dos empreendimentos.
A incorporação de diretrizes e metas sustentáveis pelo mercado poderá ocorrer por
diversos fatores, como: aspectos de responsabilidade social das empresas, busca de
oportunidades e de novos mercados, redução de custos á longo prazo e maior
lucratividade, agregação de valor ao produto oferecido, melhoria da imagem
corporativa e reconhecimento dos esforços dispensados a sustentabilidade. Diante
do cenário atual, a competitividade e a permanência no mercado são fatores
decisivos capazes de levar as empresas do setor à adoção de novas práticas de
construção.