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Letícia Maria de Araújo Zambrano (1); Leopoldo Eurico Gonçalves Bastos (2); Jules
Ghislain Slama (3)
(1) PROARQ/ FAU/ UFRJ, leticiazambrano@uol.com.br
(2) PROARQ/ FAU/ UFRJ, leeurico@terra.com.br
(3) PROARQ/ FAU/ UFRJ, jules@rionet.com.br
RESUMO
O impacto ambiental gerado pela construção civil, as pressões para melhoria ambiental das edificações
e a consciência de Desenvolvimento Sustentável levaram diversos países, a partir do início da década
de 1990, a buscarem construções com melhor desempenho ambiental em consonância com critérios
sociais e econômicos. Entre as iniciativas nesta direção estão as avaliações ambientais de edifícios,
apontando caminhos para a melhoria de seu desempenho.
Na mesma época, as organizações, também na direção do Desenvolvimento Sustentável, passaram a
adotar uma postura pró-ativa para a redução do impacto causado por suas atividades sobre o meio
ambiente.
Neste cenário, observa-se que as instâncias de gestão ambiental das organizações, desconhecem os
métodos de avaliação da edificação, deixando de considerar estes aspectos nas suas ações ambientais.
A aproximação da avaliação do desempenho ambiental da edificação à gestão ambiental das
organizações representa uma forma eficaz de tratar do impacto ambiental dos edifícios, e contribui
para a qualidade ambiental das organizações.
Propõe-se portanto a inserção da avaliação ambiental das edificações nas práticas de gestão ambiental
das organizações. Este trabalho apresenta a proposta de uma ferramenta para avaliação ambiental das
edificações a ser usada em gestão ambiental.
Palavras-chave: Ferramentas de Avaliação Ambiental, Desempenho Ambiental de Edificações, Gestão
Ambiental, Gestão para Sustentabilidade.
1. INTRODUÇÃO
As edificações representam um dos maiores agentes de degradação ambiental, tanto pelo seu consumo
energético, quanto pela contribuição para a poluição atmosférica, ruído, utilização de recursos naturais
entre outros.
Os avanços tecnológicos observados a partir do fim da segunda guerra mundial permitiram o
desenvolvimento de sistemas artificiais de iluminação, ventilação, condicionamento de ar etc, fazendo
com que se acreditasse, que a utilização de tais sistemas supririam quase todas as necessidades de
conforto para os usuários das edificações. Esta crença levou arquitetos e engenheiros a tendência de
projetar edificações sem considerar adequadamente o clima do local, distanciando-os do conhecimento
do comportamento dos fenômenos da natureza.
Com a crise de energia da década de 70, esse quadro começou a se reverter, voltando-se a buscar
sistemas passivos e o aproveitamento do clima e da natureza para a promoção de conforto nos
ambientes construídos. Tornou-se importante estabelecer critérios de projeto que garantissem à
arquitetura uma identificação maior com o lugar, considerando o conforto dos indivíduos e a redução
no consumo de energia.
A década de 80, foi marcada por grandes impactos da poluição que começaram a transpor as fronteiras
nacionais, afetando regiões e o planta, levando às atuais preocupações com os riscos globais, como a
contaminação da água, do ar, solo e das cadeias alimentares, o efeito estufa, a explosão demográfica e
o empobrecimento da biodiversidade (DRUCKER, 1989, citado por MAIMON, 1996).
Em resposta aos grandes impactos ambientais observados na década de 80, surgiu o conceito de
Desenvolvimento Sustentável, apresentado ao mundo pelo Relatório Brundtland1, das Nações Unidas
em 1987, formando as bases das transformações observadas na década de 90 e que, até hoje, vem
orientando as políticas ambientais dos diferentes países, onde se busca o equilíbrio entre a eficiência
econômica, justiça social e harmonia ecológica.
A Conferência das Nações Unidas de 1992 no Rio de Janeiro (ECO 92) teve um importante papel na
disseminação mundial do conceito de Desenvolvimento Sustentável bem como no entendimento de
que deveriam ser postas em curso estratégias que integrassem os aspectos ambientais nos planos e
políticas de desenvolvimento. Relacionada a este evento, foi publicada a Agenda 21 (UNITED
NATIONS, 1992), um plano ambicioso de ação global para o século seguinte, que estabelecia uma
visão de longo prazo para equilibrar necessidades econômicas e sociais com os recursos naturais do
planeta. No setor da construção civil, as interpretações da Agenda 21 mais relevantes são: a Agenda
Habitat II, assinada na Conferência das Nações Unidas realizada em Instambul em 1996; a CIB2
Agenda 21 on Sustainable Construction; e a CIB/UNEP3 Agenda 21 for Sustainable Construction in
Developing Countries (SILVA, 2003).
Os edifícios passaram então a ser alvos de pesquisas e ações que levassem à melhoria do seu
desempenho frente ao meio ambiente e às pessoas. Passou-se a buscar, além da eficiência energética,
fontes de energia renováveis e menos poluidoras, tratamento de esgotos, economia e reuso da água,
uso de materiais de construção mais amigáveis ao meio ambiente, estudo de formas mais eficientes, e
promoção saúde e de conforto para os usuários das edificações.
Os anos 90 foram marcados pelo surgimento de novos atores atuantes na questão ambiental, como as
empresas, que, respondendo aos princípios do Desenvolvimento Sustentável, passaram a adotar
atitudes pró-ativas, na introdução de mecanismos de gestão ambiental.
Data deste período o desenvolvimento de instrumentos da chamada Gestão Ambiental Privada (das
empresas), dentre os quais destacam-se os desenvolvidos, no âmbito da série de normas ISO 14.000,
pela International Standardization Organization – ISO, envolvendo: Sistema de Gestão Ambiental
(SGA), Auditoria Ambiental (AA) e Avaliação de Desempenho Ambiental (ADA), relacionados à
gestão ambiental de sítios ou organizações; Ciclo de Vida, Rotulagem e Aspectos Ambientais em
Padrões, relacionados à gestão ambiental de produtos. Através da adoção de instrumentos de gestão
ambiental as empresas reavaliam suas atividades e encaminham ações para melhorar a qualidade das
trocas com o meio ambiente.
Observa-se, porém, que os SGA ora implementados nas organizações, focalizam-se nas relações do
empreendimento com o meio ambiente exterior, como por exemplo, derramamentos no solo, o
descarte de resíduos e as emissões para a atmosfera; e no ambiente interior restringem-se a aspectos
ergonômicos, de segurança, saúde, conforto ambiental lumínico, acústico e higro-térmico.
A avaliação do desempenho ambiental da edificação pode ir muito além dos aspectos ora considerados
pelos SGA das corporações, podendo trazer grandes benefícios para o seu desempenho ambiental.
Nas pesquisas relacionadas à construção civil verifica-se a existência de diversos métodos associados à
avaliação e previsão do desempenho ambiental da edificação, como o BREEAM – Building Research
1
Também conhecido como “Nosso Futuro Comum”.
2
International Council for Research and Innovation in Building and Construction
3
United Nations Environment Programme
Establishment Environmental Asessment Method, o HQE – Haute Qualité Environnemental, o GBC –
Green Building Challenge, entre outros, cada um com características próprias para atender a
determinadas tipologias arquitetônicas e a fases específicas do empreendimento, desde a programação
do projeto até ao gerenciamento da edificação em uso.
Observa-se o distanciamento das instâncias de gestão ambiental das organizações em relação à estas
pesquisas, desconhecendo e desconsiderando o enorme benefício que este tipo de avaliação poderia
oferecer para o seu desempenho ambiental.
A realização da avaliação de desempenho ambiental da edificação e a implementação de mudanças
que levem a melhoria deste desempenho são ações coerentes com os objetivos ambientais das
organizações, o que cria condições de uma implementação efetiva deste modelo.
Propõe-se, portanto, uma abordagem do problema ambiental relacionado aos edifícios a partir das
instâncias de gestão ambiental das organizações (empresas, instituições públicas, corporações etc).
Na década atual observa-se a tendência das políticas ambientais para um enfoque integrador, ou seja,
de criação e aplicação de instrumentos compartilhados de gestão, de implementação de ações
conjuntas de preservação ambiental, de formação de parcerias, de integração da dinâmica da
problemática ambiental local com a global e integração dos agentes públicos e privados na gestão do
meio ambiente. Estas se apresentam como as formas mais viáveis de encaminhamento das políticas
ambientais nos dias de hoje. (MAGRINI, 2001).
A proposta de aproximação de métodos de avaliação da edificação às ferramentas de gestão ambiental
vai de encontro com tendência atual de integração nas políticas ambientais, representando uma forma
de tratar o problema ambiental das edificações e ao mesmo tempo, criando meios de aprimorar o
desempenho ambiental das empresas.
A partir do estudo dos instrumentos de gestão ambiental privada e dos métodos de avaliação ambiental
da edificação, propõe-se uma ferramenta que tenha, como pressuposto, sua adequação para aplicação
na gestão ambiental das organizações. Para tanto, esta deve ser familiar as já utilizadas em gestão
ambiental, para que possa ser facilmente incorporada às rotinas da organização.
Com o intuito de testar o método, foi conduzido um estudo de caso em indústria farmacêutica. Estas
fazem parte do grupo de indústrias de maior potencial de impacto ao meio ambiente – as indústrias
químicas, e ao mesmo tempo, junto com as químicas e petroquímicas, figuram no topo do ranking em
relação ao número de certificações ISO 14001, o que demonstra o esforço deste grupo de indústrias no
sentido da melhoria de desempenho. Pelas razões mencionadas, o estudo de caso neste setor apresenta
um especial interesse.
4
Comitê TC 207.
Observa-se nos instrumentos de gestão ambiental, principalmente no SGA e ADA, a importante
característica de apoiarem processos gerenciais que levam à melhoria contínua.
O SGA, Norma ISO 14001, corresponde a um conjunto de políticas, práticas e procedimentos de uma
empresa que visam a obtenção de um melhor desempenho ambiental. A implantação de um SGA
constitui a estratégia para que o empresário, em um processo de melhoria contínua, identifique
oportunidades de melhorias que reduzam os impactos das atividades da empresa sobre o meio
ambiente (LA ROVERE, 2000). A norma de SGA considera um processo de avaliação que leva à
certificação ISO 14001.
A Avaliação do Desempenho Ambiental (ADA), Norma ISO 14031, é baseada no conceito de que o
que é medido é gerenciado. Pode-se definir Desempenho Ambiental, como sendo uma função do nível
de conformidade em relação à legislação ambiental e/ou a metas estabelecidas pela própria empresa,
em relação ao meio ambiente e a manutenção destas e seu aprimoramento (CAVALIERE, 1997).
Este método é de aplicação voluntária e não direcionada para certificação, como acontece com a ISO
14001, sendo baseada no processo de avaliação PDCA5 e em indicadores de desempenho ambiental. A
norma visa descrever um processo formal de medir, analisar, reportar e comunicar o desempenho
ambiental da empresa segundo critérios definidos pela gerência. O processo envolve a coleta de
informação e a avaliação de quão efetivamente a empresa gerencia os aspectos ambientais. A ADA
vem sendo utilizada globalmente para melhorar o desempenho ambiental, demonstrar o atendimento às
normas, aumentar a eficiência das operações e para criar uma base para benchmarking6 de
desempenho (PUTNAM, 2002).
O modelo de ADA proposto pela Norma ISO 14031, baseada em indicadores de desempenho facilitam
o entendimento das informações sobre as questões ambientais, diferentemente de outros métodos,
como por exemplo a Análise do Ciclo de Vida, que embora bastante completo, é muito difícil de ser
empregado pela falta de informações e conhecimento que viabilizem este tipo de análise.
A incorporação da ADA é uma atitude voluntária, indo além do que exigem as normas e
regulamentos, ou seja, o empreendedor adianta-se numa postura pró-ativa em relação ao desempenho
ambiental.
A presente pesquisa leva à indicação de que a ADA possa representar uma referência no pensar de um
modelo de avaliação para edificações em uso.
5
Plan, Do, Check and Act (planejar, realizar, verificar e agir)
6 Segundo SILVA, 2002, Benchmarking é uma ferramenta para melhoria de desempenho a partir do aprendizado
das chamadas best practices e da compreensão do processo através do qual estas práticas de excelência são
obtidas..
ambiente em geral (SENIITKOVA, 2001). Atores de diferentes áreas do conhecimento, como
fabricantes, arquitetos, engenheiros, pesquisadores entre outros, têm seu papel, participando, cada um
com sua especialização e ótica própria, da construção de métodos que levem a construções
sustentáveis.
As avaliações ambientais e a incorporação dos conceitos de sustentabilidade nos edifícios representam
respostas para a busca da melhoria na eficiência dos mesmos, com a redução de seus impactos sobre
os ocupantes e o meio ambiente exterior. Além disso, maximizam o potencial de criação de valor do
bem imóvel e de desenvolvimento social, devendo ser incorporada em políticas nacionais orientadas
para este fim (SILVA, 2003).
Diversos países, dos cinco continentes vêm tomando iniciativas no sentido de promover a melhoria de
desempenho das edificações. As iniciativas envolvem a implantação de padrões e guias para melhoria
de desempenho, criação de certificações e selos verdes, promoção do desenvolvimento de métodos
para avaliação de projetos e construções entre outros. Há, portanto, atualmente, um grande número de
ferramentas que abordam do desempenho ambiental do edifício, considerando uma grande variedade
de condições físicas, características das edificações e prioridades ambientais que ocorrem em
diferentes países. As ferramentas para atingir esses objetivos variam de simples listas de verificação a
complexos sistemas informatizados. Desde etapas de programação, orientando para o planejamento de
edifícios sustentáveis, passando por simuladores de desempenho que apóiam as etapas de projeto
básico e projeto executivo, até métodos de avaliação do edifício já em operação. A Tabela 2.1 a seguir
apresenta os principais métodos e sistemas relacionados à ao desenvolvimento de projetos sustentáveis
e à avaliação de edifícios.
Tabela 2.1 – Principais métodos de apoio a projetos e avaliação de edifícios7.
País/região Sistema/ método Ano
Reino Unido BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment 1990
Method)
Canadá BEPAC (Building Environmental Performance Assessment Criteria). 1993
França HQE (Haute Qualité Environnemental) 1993
Consorcio Internacional GBC (Green Buildin Challenge) 1996
(iniciado pelo Canadá)
Estados Unidos LEED TM (Leadership in Energy and Environmental Design) 1999
Japão CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental 2002
Efficiency)
A evolução dos métodos deu-se a partir da cultura da Gestão Ambiental, tanto no que tange à visão da
avaliação ao longo do ciclo de vida da edificação, considerando o edifício desde o estágio inicial
planejamento e concepção até a pós-ocupação; quanto nas características de avaliação e certificação.
Os métodos de avaliação da edificação têm, de forma geral, objetivos semelhantes no que tange à
conscientização de profissionais e do público em geral para a questão ambiental e no sentido de se
construir ambientes mais saudáveis e com melhor comportamento em relação ao meio ambiente e às
pessoas. Por outro lado, apresentam direcionamentos que permitem distingui-los em dois grupos: um
grupo destinado ao mercado, ou seja, desenvolvido com objetivos comerciais, como o BREEM, HQE,
LEED e CASBEE; e um segundo grupo direcionado principalmente para a pesquisa e
desenvolvimento tecnológico, como o GBC e o BEPAC.
Os métodos dirigidos ao mercado são direcionados para a certificação, concedida em função de um
processo de projeto e obra desenvolvidos com qualidade ambiental ou em função de um desempenho
verificado a partir de uma avaliação aplicada. Já os métodos dirigidos para pesquisa são direcionados a
estabelecer um perfil de desempenho, criar benchmarks e estabelecer condições para aprofundamento
do conhecimento do tema e estimular novas pesquisas.
De forma geral, reconhecendo as diversas peculiaridades, grande parte deles trabalha com categorias e
7
Tabela modificada de SILVA 2003.
critérios, que são pontuados e ponderados (ora por categoria, ora em relação ao todo). As pontuações
levam o edifício estudado a um determinado nível de certificação, ou quando não (no caso dos
orientados à pesquisa), permitem análises de comparação com benchmarks ou com o limite máximo
que poderia ser atingido numa situação ideal.
Comparando as ferramentas de gestão ambiental, em especial a ADA, com as ferramentas de avaliação
da edificação, pode-se observar que enquanto a ADA trabalha com o acompanhamento de indicadores
ambientais associados a processos gerenciais que levam à melhoria contínua; as segundas são
direcionadas para a definição de um perfil de desempenho e certificação, não considerando o processo
de melhoria contínua. A característica da ADA de apresentar um processo para melhoria contínua
pode representar uma contribuição para os métodos de avaliação de edifícios.
8
Ver: FERNANDEZ, 2002 e LASSANCE, 2002.
9
Fonte dos indicadores: GOTTFRIED, 1996; CAVALIERE, 1997; MEYER, 2000; BACCALI, 2001;
PANEK,2001; FERNANDEZ, 2002; PUTNAM, 2002; IBGE, 2002; OCDE, 1993 em CONSORCIO
PARCERIA 21, 2001.
Tabela 3.1 - Matriz de relacionamento dos Elementos da Edificação e Indicadores Ambientais.
Esta matriz, utilizada como referência na etapa de planejamento, orienta o avaliador, a selecionar e
destacar os elementos relevantes em cada caso estudado.
A verificação dos elementos relevantes para cada caso deverá considerar as características próprias do
edifício em questão, que deverão ser analisadas pela equipe que esteja realizando a avaliação, além de
considerar a opinião dos usuários da edificação, levantada através de questionários e entrevistas.
Nesta matriz, cada cruzamento entre linhas e colunas, ou seja, entre elemento da edificação e indicador
abre uma questão para avaliação. Por exemplo, ao cruzar o elemento ar condicionado com o indicador
Emissão de GHG10 pode-se notar uma relação, ainda que não facilmente perceptível, onde o tipo de
líquido refrigerante utilizado no sistema de ar condicionado pode estar somando às emissões danosas à
camada de ozônio. Desta forma, o ar condicionado afeta o resultado de desempenho do referido
indicador.
3.2.1.1 Relacionamento dos elementos da edificação com os indicadores de desempenho
ambiental
O desempenho dos elementos da edificação expressa-se pelos resultados medidos ou avaliados dos
indicadores. Estes, por sua vez, são o resultado do somatório dos desempenhos dos diversos elementos
que venham a afetá-los. Alguns elementos da arquitetura são mais relevantes do que outros para o
desempenho ambiental de um dado indicador. A modificação de desempenho de um dado elemento
pode afetar imediatamente o resultado de um indicador, outros podem afetar indiretamente. Para
melhor compreender a complexa trama de relacionamentos existentes entre os elementos da edificação
e os indicadores ambientais, propõe-se estabelecer níveis de relacionamento conforme o tipo de efeito
causado no indicador:
Relacionamento nulo (0) – quando o elemento da edificação não interfere no desempenho do
indicador;
Relacionamento primário (1) – quando há uma relação direta e imediata entre o desempenho
ambiental do elemento e o resultado do indicador;
Relacionamento secundário (2) – quando um resultado ambiental (indicador) do elemento depende
ou se modifica a partir do resultado de outro indicador, por exemplo: o consumo de água (na forma
natural) se modifica com o acréscimo ou diminuição do uso de água tratada;
Relacionamento terciário (3) – quando um resultado ambiental do elemento (nível 1 ou 2) somado
a um fator externo reflete-se em terceiro indicador, por exemplo, a taxa de renovação do ar interior,
somada à presença de fumantes no ambiente ocasiona em um número de fumantes passivos.
Relacionamento quaternário (4) – quando a percepção do avaliador indica que deve haver algum
efeito, mas no momento não se consegue identificá-lo.
Os efeitos primários devem ser o alvo imediato da avaliação, já que estes concorrem para o resultado
de outros indicadores (de efeito secundário, terciário etc). Ou seja, melhorando o desempenho dos
relacionamentos de efeito primário, automaticamente se estará melhorando o desempenho dos
relacionamentos de efeito secundário. Os relacionamentos de efeito terciário são os mais complexos
porque podem depender de efeitos combinados e devem ser alvo de estudos mais aprofundados para o
entendimento do impacto que fatores combinados podem ter sobre os indicadores.
A matriz geral de relacionamentos deve portanto, apontar para cada elemento da edificação, quais os
indicadores que sofrem impacto pelo elemento, indicando, no campo correspondente ao cruzamento de
linha e coluna, o nível de relacionamento considerado: 0, 1, 2, 3, 4.
Para exemplificação do método proposto, será apresentada a avaliação do sistema de ar condicionado.
Este, no estudo de caso na indústria farmacêutica demonstrou-se como um dos maiores vilões, tanto
no que tange à eficiência, quanto no que tange ao conforto dos usuários. Além disso, o ar
condicionado está intimamente relacionado à Síndrome do Edifício Doente, o que, por si só, já
justificaria um estudo aprofundado deste elemento.
10
Green House Gases: Gases de efeito estufa
A
Tabela 3.2 apresenta um destaque da matriz de relacionamentos, com o elemento ar condicionado e os
indicadores de desempenho ambiental a ele relacionados, conforme o nível de relacionamento.
Tabela 3.2 – Indicadores relevantes para avaliação do Ar Condicionado
A essência da etapa de planejamento está na definição dos elementos da edificação mais críticos e os
indicadores que se modificam em função do desempenho destes elementos.
Com o conhecimento das interações consideradas relevantes no caso estudado e do nível de
relacionamento entre cada elemento e os indicadores, encaminham-se as etapas subseqüentes de
medições e avaliações do desempenho de cada elemento da arquitetura, e orientação quanto a
mudanças que venham a melhorar o seu desempenho em relação ao meio ambiente.
A partir da matriz de relacionamentos, são geradas fichas para a avaliação de cada elemento da
edificação, que dão suporte a etapa subseqüente.
11
Considerando a complexidade de relacionamentos existentes entre os elementos da edificação e os indicadores,
recomenda-se, numa primeira avaliação do empreendimento, focalizar os relacionamento de nível 1, ou seja, onde os
elementos da edificação têm efeito direto sobre os indicadores. Ao longo do tempo, nas futuras avaliações, inserem-se novos
itens para o monitoramento.
Os padrões de desempenho são aqueles expressos em normas e posturas, assim como podem ser
identificados em benchmarks de desempenho, ou representar objetivos da empresa, ou ainda,
requisitos expressos pelos usuários.
Comunicação dos resultados - relatório de desempenho e recomendações. Este relatório deve
descrever os elementos da edificação que foram avaliados, assim como os resultados obtidos,
tecendo comentários acerca das comparações com padrões adotados e as recomendações de
mudanças sugeridas.
Armazenamento dos resultados obtidos para comparação com novas avaliações que venham a ser
realizadas na empresa. Estes aspectos serão alvo das futuras avaliações e do acompanhamento da
evolução do desempenho ambiental ao longo do tempo.
As fichas de avaliação, que dão suporte a esta etapa, devem conter:
os diversos indicadores ambientais que reagem ao elemento que está sendo analisado;
os valores medidos do elemento, no caso que está sendo avaliado;
padrões de desempenho estabelecidos por normas ou outras fontes de referência;
metas de desempenho estipuladas pela organização;
Campos para avaliação dos resultados e recomendações.
Sobre o padrão, será avaliado o referido elemento da edificação, e conforme os resultados obtidos
pelas comparações, se expressará o bom ou mau desempenho do elemento através dos diversos
indicadores considerados.
Assim como o caso do ar condicionado, todos os demais elementos da edificação devem ser avaliados
quanto ao seu relacionamento com cada aspecto ambiental e os referidos indicadores.
A Figura 3.1 e Figura 3.2 apresentam modelos de fichas de avaliação do elemento ar condicionado e
seus indicadores de desempenho.
O monitoramento dos resultados medidos nas avaliações, através dos indicadores apresentados,
permite verificar a evolução do desempenho ambiental da edificação ano após ano, através de séries
históricas de seus diversos elementos componentes. Esses resultados devem ser divulgados pela
empresa como forma de comprovar perante a sociedade, seu compromisso com a melhoria de
desempenho.
A tabela a seguir apresenta um modelo de matriz de acompanhamento anual dos indicadores, que
permite avaliar sua evolução ano a ano e comparar com referências normativas, benchmarks e metas
estabelecidas pela organização.
Tabela 3.3 – Exemplo de Matriz de Acompanhamento Anual dos Indicadores
Dimensão: Domínio: Indicadores: 2004 2005 2006 Norma Benchmark Meta
Emissões de GHG*1 - Gases de Efeito Estufa (CO2, CH4, SO2, N2O,
Emissões Emissões de SDOs - Substâncias que destroem a Camada de Ozônio
Global Emissão de poluentes atmosféricos
Recursos Naturais reciclados
R.nat.
Armazenamento de materiais recicláveis
Ventos locais
Chuvas
Clima Incidência solar
Temperaturas locais
Umidade relativa do ar
Ruído exterior
Emissões
Odores emitidos
Economia de água
Valor ecológico do sítio
Número de espécies da flora por unidade de área
Qualidade da vegetação
Uso do solo e mudanças no valor ecológico da terra
Local M. Amb. e
Erosão do solo
Concentração de contaminantes no solo
Rec. Nat.
Concentração de contaminantes em animais
Número de espécies identificadas por unidade de área
Qualidade de atrativos e desenvolvimento do sítio
Concentração de contaminantes na água;
Número de coliformes por litro de água;
Oxigênio dissolvido na água
Saúde Saúde dos moradores do entorno
Sombreamento de outros prédios ou relevo
Ocupação do Impactos no terreno e propriedades adjacentes
solo Área livre de terreno consumida pela edificação e apoio
Efeitos sobre o tráfego no local
Fumantes passivos
Qualidade do ar, ventilação e umidade
Saúde Iluminação natural, iluminação artificial e acuidade visual
Espaço Ruído e acústica
Interior Saúde dos usuários da edificação
Riscos com materiais/ produtos perigosos
Riscos
Riscos físicos e ergonômicos
..... .....