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DESENHO DE OBSERVAÇÃO

AULA 8

Profª Marcia Silveira Munhoz Arzua Costa


CONVERSA INICIAL

O desenho de observação é fundamental para quem tem formação nas


áreas de arquitetura e design, não apenas pelo valor ou importância do desenho
em si, mas também pelo despertar do olhar, acostumando-o a ler de maneira
consciente o espaço e o mundo em que vivemos. O objetivo é entender o
desenho de observação no âmbito do design de interiores, cuja proposta é
auxiliar na percepção e representação de formas e espaços, juntamente com o
domínio de propriedades de composição, qualidade do traço, proporção e
perspectiva.

CONTEXTUALIZANDO

Na tentativa de representar a realidade no papel, o artista enfrenta


problemas muito comuns como a representação da profundidade. No mundo que
nos rodeia, entre os objetos reais que estão a nossa volta e esses mesmos
objetos desenhados em uma folha de papel existe uma diferença bastante
importante: no primeiro, encontramos três dimensões, que são altura, largura e
profundidade; no segundo, há apenas duas dimensões, a saber, altura e largura.
Trabalha-se, portanto, neste último caso, em um plano bidimensional e não
tridimensional, como naquele. Portanto, aquilo que o desenhista faz ao
representar uma determinada cena é a tradução de uma realidade já existente
para outra totalmente diferente, servindo-se de regras, para isso.
Devemos considerar que, às vezes, uma cena em perspectiva pareça algo
real e evidente; mas, trata-se esse de mais um traço da nossa herança cultural.
“Assim sendo, não existe uma regra absoluta para representar a realidade que
nos rodeia de forma totalmente fidedigna, mas antes diferentes caminhos para
nos aproximarmos do que seria uma representação satisfatória” (Arcas; Arcas;
González, 2006, p. 4).
O desenho de observação requer um certo domínio dos conceitos básicos
do desenho. Ele não é inspirado em fotos ou desenhos e sim na realidade, na
observação da vida real. É com esse tipo de desenho que você poderá transmitir
suas ideias e demonstrar sua forma de interpretar o mundo. E não há dúvida de
que a perspectiva é um instrumento poderoso de que o desenhista dispõe para
representar um desenho de observação. Poderíamos dizer, então, que o
desenho é qualquer tipo de imagem posta sobre uma superfície. Mas se faz

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interessante definirmos isso de outra forma, para que você mergulhe de fato
naquilo que realmente é um desenho.
Na verdade, um desenho é muito mais do que uma figura ou gravura numa
determinada superfície. Para nós do design de interiores, é necessária uma
intimidade com o desenho à mão livre. Perceberemos que essa é uma excelente
técnica, que, muitas vezes, vamos precisar usar em obras para tirar eventuais
dúvidas de pedreiros, marceneiros etc. Haverá também ocasiões em que você
não terá à disposição os instrumentos de desenho quando seu cliente expressar
uma dúvida ou quiser que você aumente algo no projeto (um detalhe num móvel,
por exemplo) e você, como um(a) bom(a) profissional, precisará fazer o desenho
mesmo sem o uso das ferramentas de desenho.

Figura 1 – Desenho à mão livre

Crédito: Olga Rai/Shutterstock.

TEMA 1 – A PERSPECTIVA

Um simples desenho à mão livre é o início de todo um processo técnico.


Esse é um meio de expressão, de transmissão do pensamento e de toda a
criação do projeto. Ele auxilia na fixação do pensamento de uma primeira ideia,
na solução de um problema e na modificação de um projeto. O desenho à mão
livre é a linguagem, a forma de expressão que permite a fluidez entre o pensar
e o gesto manual que executa tal pensamento, o que ajuda na observação e na
assimilação do conhecimento, bem como no alcance de uma forma construtiva
e dos seus detalhes.

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Um desenho bidimensional é aquele desenho que não apresenta volume,
tratando-se de um desenho plano no qual enxergamos apenas a largura e a
altura (largura x altura). Normalmente, chamamos esse desenho de imagem
chapada, pois somente vemos ali o que está na nossa frente. A imagem
bidimensional é muito importante para a área do design em geral, pois nos
propicia demonstrar, por meio de plantas baixas, cortes, elevações e vistas,
aquilo que o cliente solicitou e que algumas vezes não foi possível tornar claro
em uma perspectiva.
Toda perspectiva de um desenho de interiores tem início com uma planta
baixa ou planificação.

Figura 2 – Planta baixa

Crédito: Bariskina/Shutterstock.

A perspectiva linear é um artifício que possibilita ao desenhista criar uma


ilusão de profundidade numa superfície plana, ou seja, criar a ilusão
tridimensional numa superfície bidimensional, como papel ou tela. Se quisermos
desenhar, realisticamente, uma casa, uma paisagem ou uma caixa,

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precisaremos utilizar a perspectiva, no desenho, como já estudado. Em uma
perspectiva de dois pontos de fuga, o observador verá a figura de quina. Em
lugar de ver o cubo diretamente de frente, como na perspectiva com um ponto
de fuga, na perspectiva com dois pontos de fuga observamos a representação
através de um ângulo. Se pudéssemos olhar para baixo e ver esses cubos, isso
é o que veríamos. Em perspectiva com dois pontos de fuga, o canto do cubo é o
ponto mais próximo de nós.

Figura 3 – Ponto de vista

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

TEMA 2 – DESENHO À MÃO LIVRE

O desenho de observação utilizando a perspectiva com dois pontos de


fuga é feito com base em uma linha denominada linha do horizonte. Essa linha
representa a altura dos olhos do observador, que aqui definimos como uma
altura de 1,6 m, por acharmos apropriado.

Figura 4 – Linha do horizonte

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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Depois, marcamos os dois pontos de fuga, um de cada lado na linha do
horizonte, por sugestão duas vezes para cada lado, embora eles possam ser
marcados três ou quatro vezes e até duas vezes de um lado e três ou quatro
vezes do outro lado. O que isso muda, no desenho, é o lado que se quer mostrar
mais.

Figura 5 – Pontos de fuga

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Vamos, então, desenhar dois cubos, um em vista superior e outro com


vista inferior, usando os mesmos pontos de fuga. E, como foi dito anteriormente,
iniciamos o desenho com uma quina. Marcamos uma altura qualquer, depois
puxamos da base para um ponto de fuga e para o outro e também da altura do
cubo para um ponto e o outro.

Figura 7 – Quina do cubo

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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O próximo passo é marcar as laterais do cubo, nas linhas que puxamos
para os pontos de fuga, marcamos uma linha paralela à quina, novamente puxar
para os pontos de fuga, mas somente do ponto superior, pois os pontos inferiores
estão atrás do cubo. Portanto, não veremos esta outra face.

Figura 8 – Cubo

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Agora, traçamos um outro cubo acima da linha do horizonte e então


vemos a parte inferior do cubo e deslocamos o cubo para ver o que acontece
quando temos a figura mais próxima ou mais longe dos pontos de vista.

Figura 9 – Ponto de vista

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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TEMA 3 – MEDIDAS

Iremos ver como fazer medições para criar proporções corretas. Em todos
os desenhos, temos que ter cuidado para garantir que as proporções estejam
corretas. Para conseguir isso, precisamos aprender alguns métodos de medição
não apenas do modelo, mas das áreas dentro desse modelo. Por exemplo, a
parte superior do cubo deve ter a forma e o tamanho corretos, em comparação
com as laterais e a frente. Todos os modelos são comparativos uns aos outros
e podem ser medidos comparando-os. Por exemplo, se houver um copo e um
livro sobre uma mesa, em uma sala cheia de outros modelos, começaremos pelo
copo. Uma vez desenhado o copo corretamente, poderemos compará-lo com o
livro. Quantos copos de largura e altura terá o livro? Em seguida, quantos livros
de altura e de largura terá a mesa? E quantos comprimentos e larguras de mesa
caberão na sala? E assim por diante... Com esse método, podemos desenhar
tudo o que vemos, começando com o menor modelo e progredindo para o maior.
Existem várias maneiras de realizar as medições, mas a primeira coisa
que precisamos fazer no método geométrico é estabelecer o(s) ponto(s) de fuga
e o ângulo e a elevação corretos do ponto de vista. Logo em seguida, definimos
a linha do horizonte. Se não fizermos isso, o desenho ficará difícil de se
compreender e não poderemos verificar se desenhamos o que queremos
representar corretamente.
Esta é uma maneira simples de medir: o método visual de medição usa o
lápis e o polegar. Segure sempre o lápis na mão, com o braço estendido, pois
assim a distância é sempre constante. Use o polegar para medir um modelo
pequeno. Em seguida, usando essa medida conhecida, desenhe vários modelos
maiores contando o número de modelos pequenos que se encaixam no modelo
maior. Esse também é um bom método para medir a distância entre os modelos.

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Figura 10 – Medição

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

3.1 Proporções e divisões

Para encontrar o centro de um quadrado, desenhe linhas diagonais de um


canto a outro. O ponto onde elas se cruzam é o centro do quadrado.

Figura 11 – Medição de um quadrado

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Em perspectiva, o quadrado forma um ângulo, mas o mesmo método é


usado para encontrar seu centro.
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Figura 12 – Medição em perspectiva

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

3.2 Divisão de áreas

Para dividir uma superfície plana, como um ladrilho, nos segmentos


apropriados, use o exemplo a seguir. Desenhe a área para dividir empregando
a perspectiva de dois pontos de fuga.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Em seguida, defina a largura das divisões traçando uma linha horizontal


na parte inferior da área e dividindo-a em proporções iguais. Agora, desenhe as
linhas de profundidade dos pontos na linha, em direção ao ponto de fuga à
direita.

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Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Em seguida, desenhe uma diagonal de canto a canto e observe que ela


cruza as linhas de profundidade correta de cada ladrilho.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Agora, estenda as linhas desses pontos de contato até o ponto de fuga à


esquerda, e teremos um piso de ladrilho completo e com a perspectiva correta.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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TEMA 4 – DESENHO DE ELIPSES

Faremos agora um desenho de elipses. Uma elipse é um círculo visto de


qualquer posição que não seja de frente. Quando olhamos para a face superficial
do círculo de uma posição angular, o círculo é encurtado e então temos uma
elipse. Independentemente do ângulo com que vemos a elipse, no círculo há
sempre uma dimensão que permanecerá constante. O eixo ou linha constante é
a linha reta que cruza o círculo e a elipse verticalmente e sobre a qual se poderia
girar algo como uma moeda. Abaixo, temos uma série de elipses vistas de
diferentes ângulos. Observe que a altura é constante e igual à do círculo à
esquerda. É importante desenhar as elipses corretamente. Caso contrário,
qualquer que seja o modelo do qual elas façam parte, no desenho isso parecerá
distorcido. A tampa de um copo, um cilindro, um abajur, uma lata de bebida e
um vaso são exemplos de elipses.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Temos um exercício que nos mostra como construir uma elipse usando o
círculo como guia. A maneira mais fácil é desenhar um círculo dentro de um
quadrado. Ao fazer isso, temos algumas arestas que podemos usar para medir.
As medidas do círculo são uniformes, assim como as do quadrado. Juntos, eles
se tornam o meio perfeito.
Ao desenhar uma elipse para o seu tema, é melhor começar desenhando-
a à mão livre. Em seguida, use o método a seguir para verificar se ela foi feita
corretamente ou se você precisa corrigi-la. Primeiro, a partir do ponto de fuga e
passando pelas partes superior e inferior da elipse desenhada, projete linhas até
a borda de outra folha de papel. Desenhe duas linhas horizontais a partir do
ponto de contato com a borda do papel. Essa será a altura do quadrado. Agora,
desenhe duas linhas verticais separadas uma da outra, na mesma distância das
linhas de altura, e já estabelecemos o quadrado em relação à elipse desenhada.

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Agora, divida o quadrado como mostrado na figura a seguir, usando os métodos
que já estudamos. Em seguida, preencha o quadrado com o círculo.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Em seguida, desenhe a borda posterior da elipse medindo a largura da


elipse a olho. Depois, divida esse quadrado de perspectiva como um quadrado
plano.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Para desenharmos essa roda de carroça, desenhamos um quadrado em


perspectiva como limite externo, dividindo-o como antes. Em seguida, o círculo
foi desenhado nele. A elipse foi desenhada como antes, de modo que passasse
pelos pontos de interseção. Colocamos os raios usando as linhas de divisão
como guias. Apenas estenda o centro da roda usando o ponto de fuga e desenhe
outras elipses menores.

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Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Quanto mais próxima uma elipse estiver do nível dos olhos, mais plana
ela parecerá. À medida que se move o traço para baixo e para longe do nível
dos olhos, vemos mais da face dessa elipse. Para desenhar corretamente cada
um desses elementos, devemos começar colocando-os em um plano de
perspectiva e depois resolver os diferentes planos, como vemos aqui. Depois de
estabelecer os planos usando os métodos que aprendemos anteriormente,
desenhamos as elipses, corretamente, dentro do plano onde estão localizadas.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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TEMA 5 – DESENHANDO O INTERIOR

Para desenharmos o interior da representação, é preciso que se abra a


caixa, pois senão não conseguiremos enxergar o que tem dentro dela.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Para desenhar o ambiente o princípio é o mesmo: comece com as


paredes, considerando a altura de pé direito de 2,5 m e a altura do observador a
1,6 m. Divida a altura do ambiente em 5 partes iguais. Você terá uma modulação
de 50 cm em 50 cm, que irá ajudar a manter a proporção entre os móveis e o
ambiente todo.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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Agora, represente os móveis no piso do ambiente. Observe que, desse
ângulo de visão, a cama ficará na frente do armário e da escrivaninha. Por isso,
vamos deixar a cama representada somente no piso.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

Definiremos agora as alturas dos outros móveis: do armário até o teto e a


escrivaninha, com aproximadamente 75 cm de altura.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

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O próximo passo é somente introduzir os detalhes.

Fonte: Marcia Arzua, 2023.

TROCANDO IDEIAS

Comente, com seus colegas, os desenhos realizados, discutindo os


métodos utilizados. Observe as coisas na sua casa e veja como elas se
encontram dispostas. Mas, quando falamos em ver, não queremos dizer apenas
olhá-las e sim observá-las com cuidado, prestando atenção nas suas linhas, para
onde elas vão. Depois, tente copiar um elemento simples, por exemplo uma
mesa quadrada.

NA PRÁTICA

Agora, tente realizar o desenho de um ambiente qualquer, de acordo com


as explicações anteriores. O objetivo desse exercício é ampliar o olhar para
elementos que compõem uma ambientação.

• Técnica: esboço à mão livre com lápis 2B ou lapiseira.


• Dica 1: desenhe em folha A3, que possibilita a melhor visualização de
detalhes e acabamentos.

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• Dica 2: tente não usar régua para a construção dos objetos e sim
experimentar o traçado à mão livre (mas, se não conseguir no início, ela
ajuda a dar mais segurança).
• Dica 3: inicie pelo traçado das estruturas do ambiente e, na sequência,
comece a criar os volumes dos objetos (blocos). Finalize dando-lhes
formas, acabamentos, sombra e luz, volumes aos objetos.

Você pode também utilizar cores, se quiser, mas isso não é essencial; e
também fazer o processo manual, depois escanear o desenho e trabalhá-lo em
algum software de sua preferência.

FINALIZANDO

Vimos algumas técnicas de desenho de observação. Durante nossos


estudos e na profissão de designer de interiores, vamos usar bastante
perspectiva para esboçar croquis em projetos, seja para clientes, seja para
profissionais de uma obra ou até mesmo quando dos primeiros rabiscos de um
projeto, antes de sua finalização. E faremos tudo isso sem o auxílio de
instrumentos. É interessante que você leia e estude o livro Desenhando com o
lado direito do cérebro: um curso para estimular a criatividade e a confiança
artística, pois este lhe ensina, passo a passo, a desenhar com êxito (Edwards,
2021).
O desenho de observação leva o desenhista a obter uma maior percepção
visual e, consequentemente, uma maior noção de espaço, volume e senso de
proporção. É importante e necessário também que o profissional tenha noção de
espaço, ergonomia, cores, contrastes; e que saiba escutar seu cliente. Escutar,
nesse caso, é bem mais importante que falar! Veja o que o cliente realmente
deseja e necessita, para melhor atendê-lo.
Após o projeto elaborado, é necessário fazer uma boa representação.
Para isso, pode-se usar o desenho. Plantas baixas, vistas, perspectivas poderão
ser feitas com o auxílio de instrumentos; mas, ao cobri-las com lápis de cor ou
canetinhas, é necessário fazer tudo sem o auxílio dos instrumentos, ou seja, à
mão livre, para que o desenho fique mais solto e mais bem representado para o
cliente.

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Esperamos que tenha gostado deste estudo de perspectiva à mão livre e
que ele seja sempre uma referência para você, em seu trabalho. Lembre-se:
mantenha as regras de perspectiva simples e elas funcionarão muito melhor!

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REFERÊNCIAS

ARCAS, S.; ARCAS, J. F.; GONZÁLEZ. Perspectiva para iniciantes. Lisboa:


Dinalivro, 2006.

EDWARDS, B. Desenhando com o lado direito do cérebro: um curso para


estimular a criatividade e a confiança artística. São Paulo: nVersos, 2021.

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