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OS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO DA IMAGEM: UMA INTRODUÇÃO

Vamos discutir a intencionalidade fotográfica e de que maneira atingir


esse objetivo da forma mais coerente possível. O que você quer dizer? Como
mostrar isso em imagem? Quais são os recursos disponíveis para sua
execução? Estabelecer coerência entre seus objetivos será decisivo para sua
produção.

É necessário que se trabalhe suas ideias de forma que elas caibam no quadro,
mas que estejam bem construídas e em consonância com a narrativa, de modo que se
crie uma unidade da imagem. Essa unidade é voltada à base de qualquer
mensagem que se queira passar com o suporte imagético: O enquadramento.

Quando os elementos de uma fotografia se combinam para criar uma


declaração visual, dizemos que a cena tem UNIDADE. O conceito se aplica a todos os
elementos de uma cena: iluminação, cor, figurino, cenário, objetos de cena, etc.
Pensando nisso, é essencial construir a composição em torno de um único centro de
interesse. Antes de fotografar, questione qual o elemento da tomada que comunica
a sua ideia básica. Seja o que for, os elementos secundários dentro da cena devem
apoiar e não tirar a atenção sobre o elemento principal.

Isso não quer dizer que você precise eliminar tudo o que não seja o centro de
interesse, apenas o que de alguma maneira não apoie a ideia central que se pretende
apresentar. O olhar tende a excluir o que não é relevante, mas a câmera e o microfone
não têm esse mesmo poder.

As composições estáticas mantêm um único centro de interesse. Mas as


composições dinâmicas, os eles podem mudar com o decorrer do desenvolvimento da
cena. O movimento pode também ser usado para mudar o foco da atenção.
Embora nosso olho possa estar fixo no centro de interesse da imagem, ele será
atraído pelo movimento numa área secundária da imagem.

Bons fotógrafos se aproveitam desta tendência e observam cuidadosa


e atentamente os elementos específicos que fazem parte da cena. Os elementos de
uma imagem podem ser claros e óbvios ou podem ser sutis para sugerir um
significado subconscientemente.
Outra noção que devemos levar em consideração está na escolha de elementos
e formas de abordagem concretas ou abstratas. Enquanto no fotojornalismo o
objetivo é apresentar imagens da maneira mais clara e completa possível, uma
fotografia em uma proposta mais artística deve levar os leitores a entenderem o
significado pretendido sem, necessariamente, apelar para o concreto. Deve-se
deixar espaço para os pensamentos e interpretações pessoais.

O pintor, antes de agir em sua obra, sabe a dimensão de sua tela. Sabe se será
em posição vertical ou em formato paisagem, se terá proporções retangulares ou não
e etc. A partir dos limites físicos de seu suporte, ele faz uma seleção criteriosa
dos elementos que mostra. Fala através do que faz ver. Ou seja: ele compõe a cena.

A genialidade desses artistas é viva. Permanece por seu eco na maneira como
pensamos o espaço do vídeo, da fotografia. O mesmo princípio é aplicado ao
fotógrafo. Seguimos, graças a eles, algumas regras pelas quais o olho humano é atraído
com maior facilidade. Se enquadrarmos respeitando algumas dessas regras,
certamente o resultado dessa seleção é mais atrativo. A possibilidade de conseguir
conservar determinada realidade em um espaço bidimensional perpassa a técnica.

As regras de composição se destinam a organizar o espaço da tela no intuito de


harmonizar os elementos nela presentes para que falem por nós. A divisão igualitária
do quadro em 3 partes verticais e 3 partes horizontais é o que constitui a regra dos
terços.
A regra dos terços pode criar composições harmoniosas como na foto ao lado. Ao
observar a divisão da tela em 9 partes iguais, percebemos os pontos brancos
nas interseções entre as linhas de corte: esses são os pontos áureos, guias da regra
dos terços.

Quadrante

Terço
vertical

Terço horizontal

Nos terços à direita do quadro, o pássaro de madeira é um elemento de destaque. Ele, em toda sua
extensão, ocupa os 3 terços mais orientais e parece olhar para a parte ocidental da cena, onde o sol
clareia em seus primeiros raios. O pássaro situa-se nos terços superiores e, ao fundo, o céu lhe dá aval ao
vôo. A combinação de cores do céu, a presença das nuvens, a planície logo abaixo constituem o fundo da
imagem. Esse padrão é mantido exceto pelas presenças do pássaro e do sol, justamente os elementos de
destaque.

Segundo a regra dos terços, o enquadramento pode ser separado em três


terços verticais, três terços horizontais e nove quadrantes. Além disso, a composição
fica interessante quando definimos o enquadramento das seguintes formas: 1/3 para o
objeto fotografado e 2/3 para o fundo, ou, 1/3 para o fundo e 2/3 para o objeto
fotografado.

Enquadrar segundo a regra dos terços é evitar posicionar a linha do horizonte na


exata metade do quadro. Fugir desse lugar-comum. No entanto, toda regra tem sua
exceção e negar a regra dos terços também pode produzir resultados muito
satisfatórios. Neste caso, para subvertê-la, é necessário conhecer seus parâmetros e
indicações.
A partir dessa regra, podemos guiar os olhos do espectador pela cena, sem exagero
de elementos, destacar ou rebaixar determinados objetos pelo posicionamento da
câmera. Além disso, teremos sempre a possibilidade de utilizar elementos que podem
estar presentes nos ambientes, paisagens e lugares onde nossas produções estão
sendo realizadas. Observar esses elementos é uma tarefa que começa no
reconhecimento de campo e podem nos levar a construções imagéticas fortes e cheias
de expressão.

Imagens retiradas da plataforma Pinterest

Linhas. Trabalhar com linhas é uma boa forma de compor sua imagem. O
horizonte é a principal delas, mas existem inúmeras possibilidades, como prédios,
troncos de árvores, postes, estradas, móveis, etc. Nossos olhos tendem a seguir essas
linhas à medida que se movem de uma parte do quadro para outra.

Utilize as linhas para guiar a atenção dos espectadores para as partes do


quadro que deseja enfatizar – especialmente sobre o centro de interesse. Observe a
imagem que está acima e do lado esquerdo e note que as linhas direcionam o olhar do
leitor até o sujeito que está no segundo plano da imagem. O mesmo acontece com a
fotografia da direita. As linhas formadas pela disposição dos arcos e do teto guiam o
olhar até o centro de interesse da imagem.

De acordo com a regra dos terços as linhas horizontais devem estar ou no terço
de cima ou no terço de baixo do quadro. Da mesma maneira, as linhas verticais não
devem dividir o quadro em duas partes iguais.
Perspectiva. As posições de câmera e a distância focal da lente alteram a
perspectiva da tomada, tanto quanto a distância aparente entre objetos Uma distância
mínima entre a câmera e objeto associada com uma lente de distância focal curte ou
uma lente zoom na posição de grande angular exagera a perspectiva).

Utilizando o controle criativo sobre a distância focal das lentes e a distância


câmera-objeto, podemos sugerir impressões bastante diferentes sobre um sujeito ou
objeto. A perspectiva é a representação em uma superfície plana da
tridimensionalidade inerente à forma do olhar humano. Imageticamente, usar
criativamente as linhas, sejam elas retas ou curvas, possibilitam uma construção em
torno de uma noção de perspectiva.

Importante! Chamamos de Ponto de Fuga, o ponto de convergência das linhas de uma


figura, que forjam a noção de perspectiva e de tridimensionalidade na imagem plana.

Moldura. Atribui destaque para o centro de interesse da sua imagem. Para


emoldurar, o fotógrafo poderá utilizar janelas, portas, pessoas, folhagens, objetos,
arcos etc. Usar a criatividade e observar a cena ao redor é a melhor maneira de
enquadrar usando molduras. Colocar objetos em uma ou mais de uma borda da
imagem, é uma maneira de emoldurar a tomada. A cena emoldurada ajuda a prender
a atenção do espectador dentro do plano e evita que ele se distraia do centro de
interesse.
Imagens retiradas da plataforma Pinterest

Espaço para o movimento. Em todas as filmagens, coloque o elemento


principal no lugar certo e deixe espaço para o movimento no enquadramento.
Geralmente, quando alguém está se movendo em uma determinada direção, devemos
deixar espaço no lado do quadro para o sujeito “se mover”.

Imagens retiradas da plataforma Pinterest

Da mesma maneira, devemos deixar “espaço para o olhar” quando o sujeito


está olhando para fora do quadro. Isso garante o “respiro” do elemento principal na
imagem. Alinhada com a regra dos terços, essa forma de compor utiliza 1/3 do
enquadramento para o centro de interesse e 2/3 para o fundo ou vice-versa, seguindo
as indicações da regra dos terços.
Foco pela luz. O olho é atraído para as
áreas mais brilhantes de uma cena. Isso
quer dizer que o uso cuidadoso da
iluminação pode ser uma ferramenta de
composição, com a função de enfatizar
importantes elementos cênicos e
desenfatizar outros. Diferente do exemplo
ao lado, que utiliza uma fresta de luz
natural, em estúdio o recorte ou a
delimitação focal da luz é mais viável e
fornece várias possibilidades ao fotógrafo.
Foto: Henri Cartier Bresson

Foco seletivo. Funciona para guiar a atenção do espectador através da cena. É um


artifício de linguagem cinematográfica, e que foram assimilados também pelo vídeo e
pela televisão. Consiste em desfocar os elementos secundários da imagem para deixar
a atenção exclusivamente no assunto principal.

Imagens retiradas da plataforma Pinterest

As ferramentas que temos para jogar com foco seletivo são aquelas que alteram a
profundidade de campo: distância do assunto, distância focal e abertura. Grandes
aberturas conseguem melhores resultados de foco seletivo, devido à pequena
profundidade de campo que elas conseguem alcançar.

Simetria e Reflexo. A composição simétrica significa solidez, estabilidade e


força, é também eficaz na organização de imagens com detalhes elaborados. Uma das
estratégias oferecida por uma apresentação simétrica é a simplicidade dos elementos
de um tema. Algumas superfícies são boas refletoras, e criam as suas próprias
imagens, espelhando as coisas que estão á sua volta. A água, o vidro, e os metais
polidos oferecem a oportunidade de fotografar coisas de uma maneira indireta.
Reflexos também podem denotar simetria.

Imagens retiradas da plataforma Pinterest

Saber o que e como você irá fotografar, é essencial. Por isso, antes de
começar, duas coisas precisam estar bem claras: a razão específica daquela imagem,
todo e qualquer ensaio precisa ter um motivo, precisa estar previamente
planejado e roteirizado.

Se uma variedade de objetos aparece numa foto ou numa cena de vídeo


ou cinema, nós tentamos interpretar porque eles estão lá e o que representam.
Nós assumimos que as coisas não estão ali por mero acidente. Neste texto,
conhecemos alguns dos artifícios que podemos utilizar para contarmos visualmente
boas histórias. Bons resultados fílmicos trabalham com a união da ideia de unidade e a
boa utilização dos elementos para criar padrões de significados e tornar mais rica
a experiência estética e de imersão na obra.

REFERÊNCIAS
RODRIGUES, Chris. O cinema e a produção. 3.ed. Rio de Janeiro: Lamparina editora,
2007.
MOURA, Edgar. 50 anos luz, câmera e ação. 2. ed. São Paulo: SENAC São Paulo, 2001.
SIMMONS, Mike. Como criar uma fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.

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