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Concordância verbal
Como já estudamos anteriormente, a concordância diz respeito à conformidade de palavras que mantêm
relações entre si.
As palavras que acompanham um substantivo ou substituem-no ficam no mesmo gênero e no mesmo
número que ele (normalmente, são artigos, adjetivos, numerais e pronomes).
Na concordância verbal, o conceito de concordância se mantém. O que ocorre nesse caso é a relação
entre o verbo e o sujeito.
Note, por exemplo, o primeiro período deste parágrafo anterior: “Na concordância verbal, o conceito de
concordância se mantém”. Imagine se ele estivesse escrito assim: “Na concordância verbal, o conceito de
concordância se mantêm, ...”
E aí? Alguma diferença?
É claro que sim! Sutil, mas sim, há diferença!
Nessa reescritura, o sujeito o conceito de concordância está na 3ª pessoa do singular, e o verbo
mantêm está na 3ª pessoa do plural. Por isso, não há concordância, pois o verbo deve concordar com
o sujeito, ficando na mesma pessoa e no mesmo número!
Toda vez que você quiser saber se o verbo está concordando em número e pessoa com o sujeito, busque
o verbo da oração. Depois de encontrado, procure o núcleo do sujeito. Em regra geral, o verbo
concorda com o núcleo do sujeito.
Os jogadores de futebol ganham um salário exorbitante.
Por que o verbo (ganham) está no plural? Porque o núcleo do sujeito simples (jogadores) está no plural.
Quem ganha um salário exorbitante? Os jogadores de futebol. Logo, eles ganham.
Como você pôde perceber, A ordem da direta da frase em português é sujeito + verbo + complemento
(objeto) (SVO). Muitas vezes, porém, é feita a inversão da ordem dos termos.
DICA PRECIOSA: sublinhe primeiramente o verbo da oração (veja qual é a pessoa e número dele); depois
disso, leia a oração e faça a pergunta “O que é que/Quem é que...?” ao verbo, a fim de achar o sujeito;
depois de achá-lo, veja se seu núcleo está na mesma pessoa e número do verbo. Se sim, houve
concordância.
Veja uma oração com inversão de termos:
No começo da semana, foi publicado, para o preenchimento de vagas no Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro (MPE-RJ) – cuja procura por parte dos candidatos é grande –, o tão aguardado edital.
Percebeu que o sujeito está bem depois do verbo? Colocando na ordem direta, fica mais fácil de
“enxergar”: O tão aguardado edital foi publicado no começo da semana ...
Cuidado!!!
1.1) Coletivo especificado ou partitivo: a metade de, a maior parte de, a maioria de, uma porção de,
uma parte de, uma turba de, o resto de, um grupo de, um bando de, a metade de, o grosso de, um
grande número de, um bom número de... (verbo no singular, concordando com o núcleo do sujeito, ou
verbo no plural, concordando com o núcleo do adjunto).
– A multidão de torcedores gritou entusiasticamente.
– A multidão de torcedores gritaram entusiasticamente.
O gramático Cegalla recomenda que, se este tipo de sujeito vier deslocado, o verbo ficará no singular,
concordando com o núcleo:
– Gritou entusiasticamente a multidão de torcedores.
2) Sujeitos formados por milhão, bilhão, trilhão etc. seguem o mesmo modelo acima:
– Mais de um milhão de mulheres foi às ruas a fim de protestar contra o abuso sexual.
– Mais de um milhão de mulheres foram às ruas a fim de protestar contra o abuso sexual.
Obs.: Se no lugar do pronome reto vier outra palavra, o verbo vai concordar obrigatoriamente com
quem: Foram os rapazes da Jovem Guarda quem fez sucesso.
Pode concordar com o pronome reto antecedente também, por razões de ênfase: Fomos nós quem
resolvemos a questão.
Obs.: Há muita polêmica em torno deste caso, mas, de um modo geral, quando o sujeito apresenta
nome de obra artística pluralizada (livros, filmes...), o verbo pode ficar no singular ou no plural,
quando antecedida de artigo no plural (Os Sertões, Os Maias, Os pastores da noite, etc.):
– Os Lusíadas imortalizou/imortalizaram Camões.
– Velozes e Furiosos marcou o cinema relativo a carros.
7) O sujeito é formado pelas expressões mais de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de,
obra de etc.
O verbo concorda com o numeral.
– Mais de um aluno não compareceu à aula.
– Mais de cinco alunos não compareceram à aula.
Obs.: A expressão mais de um tem particularidades: se a frase indicar reciprocidade (pronome reflexivo
recíproco se), se houver coletivo especificado ou se a expressão vier repetida, o verbo fica no plural:
– Mais de um irmão se abraçaram.
– Mais de um grupo de crianças veio/vieram à festa na praia.
– Mais de um aluno, mais de um professor estavam presentes.
9) Os verbos bater, dar e soar concordam com o número de horas ou vezes (sujeito), exceto se
o sujeito for a palavra relógio, sino, carrilhão...
– Deram duas horas e ela não chegou. (Duas horas deram...)
– Bateu o sino duas vezes. (O sino bateu...)
– Soaram dez badaladas no relógio da escola. (Dez badaladas soaram...)
– Soou dez badaladas o relógio da escola. (O relógio da escola soou dez badaladas.)
12) Por concordância atrativa, o verbo pode concordar com o núcleo mais próximo do sujeito composto
posposto ao verbo. Pode também concordar com os dois núcleos. Se, porventura, o verbo vier
acompanhado de pronome reflexivo recíproco, aí o verbo fica obrigatoriamente no plural.
– Vai trazer benefícios, em 2014 e em 2016, a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
– Vão trazer benefícios, em 2014 e em 2016, a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
– Vão cumprimentar-se, em 2014 e em 2016, alguma autoridade brasileira e alguma autoridade
estrangeira, em virtude dos jogos a serem realizados aqui.
18.1) Se, depois da gradação, vier um termo resumitivo, com ele o verbo concordará:
Seu cheiro, seu olhar, seu toque, tudo isso bastou para me seduzir.
Se vier um nome plural na gradação, o verbo ficará no plural:
Seu cheiro, seu olhar, seus toques bastaram para me seduzir.
20) Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resumitivo (nada, tudo, ninguém...).
O verbo fica no singular.
– Os pedidos, as súplicas, o desespero, nada disso o comoveu.
Obs.: Cuidado com a concordância, que pode não ser com o termo resumitivo, mas com o que vem
depois do verbo: Os pedidos, as súplicas, o desespero, nada disso exigiam de seus servos os amos.
Cuidado!!!
21.1) Ao indicar reciprocidade, é obrigatório o verbo no plural.
– Nem um nem outro se abraçaram aqui.
21.2) Se o sujeito for constituído pela expressão um ou outro, o verbo fica no singular.
– Uma ou outra conseguirá uma boa classificação.
Cuidado!!!
22.1) Quando o sujeito está posposto ao verbo, há preferência pelo singular: “Não lhes faltava talento
nem disposição.”.
22.2) Quando “nem... nem” tem valor de exclusão, o verbo fica no singular: “Nem você nem ele será o
novo representante da classe.”.
22.3) Com pronomes retos, segue-se a lei da primazia: “Nem eu nem ela seremos condenados, por
falta de prova.”.
23.1) Quando a conjunção ou liga termos antônimos, o verbo fica no plural: “O amor ou o ódio
exacerbados não fazem bem à saúde.”.
24) Entre os núcleos do sujeito aparecem as palavras como, menos, inclusive, exceto ou as
expressões bem como, assim como, tanto quanto (geralmente entre vírgulas).
A preferência é a concordância com o primeiro elemento do sujeito composto.
– Vocês, assim como eu, gostam/gostamos muito de Português.
26) Quando dois ou mais adjuntos modificam um único núcleo, o verbo fica no singular
concordando com o núcleo único. Mas, se houver determinante após a conjunção, o verbo fica
no plural, pois aí o sujeito passa a ser composto.
– O preço dos combustíveis e dos alimentos aumentou.
– O preço dos alimentos e o dos combustíveis aumentaram.
Aí, a essa altura do campeonato eu pergunto: “Quando o verbo ser não é especial?” Não poderia ser
diferente na concordância! O fato é o seguinte: ora o verbo ser concorda com o sujeito, ora com o
predicativo do sujeito.
Vejamos as regras desse verbo todo especial.
29) Quando, em predicados nominais, o sujeito for representado por um dos pronomes tudo,
nada, isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concordará com o predicativo
(preferencialmente) ou com o sujeito.
– No início, tudo é/são flores.
– Tua Palavra sempre foi/foram as Sagradas Escrituras.
– Vestidos, sapatos e bolsas são/é assunto de mulher.
30) O verbo ser concordará com o predicativo quando o sujeito for os pronomes interrogativos
que ou quem.
– Que são anacolutos?
– Quem foram os classificados?
31) Em indicações de horas, datas, tempo, distância (predicativos), o verbo concorda com o
predicativo.
– São nove horas.
– É frio aqui.
– Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
– Daqui à Cidade são só dez quilômetros.
Cuidado!!!
31.1) Em indicações de datas, são aceitas as duas concordâncias, pois subentende-se a palavra dia.
– Hoje são 4 de setembro.
– Hoje é (dia) 4 de setembro.
31.2) Indicando horas e seguido de locuções como “perto de”, “cerca de”, “mais de”, o verbo
“ser” tanto pode ficar no singular como no plural.
– Era/Eram cerca de dez horas.
32) Fica o verbo “ser” no singular quando a ele se seguem termos como muito, pouco, nada,
tudo, bastante, mais, menos, etc. junto a especificações de preço, peso, quantidade, distância,
etc. Ou seguido do pronome demonstrativo o.
– Cento e cinquenta reais é nada, perto do que irei ganhar em São Paulo.
– Cem metros é muito para uma criança.
– Duas surras será pouco para ele aprender.
– Divertimentos é o que não lhe falta naquele parque temático.
33) Na expressão expletiva é que, se o sujeito da oração não aparecer entre o verbo ser e o
que, o ser ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o verbo concordará com o
termo não preposicionado entre eles.
– Eles é que sempre chegam atrasados.
– São eles que sempre chegam atrasados.
– São nessas horas que a gente precisa de ajuda. (construção inadequada)
– É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (construção adequada)
I – Concordância do Infinitivo
35) Mesmo não sendo explícito o sujeito, é possível a flexão do infinitivo (favorece muitas vezes a
clareza)
– Está na hora de começarmos o trabalho. (se fosse “começar”, não haveria clareza de quem praticaria
a ação; eu?, você?, ele?)
36) Frase contendo verbos com sujeitos diferentes
– ¹Falei sobre o desejo de ²aprontarmos o site logo. (¹eu, ²nós)
Obs.:
36.1)Se o sujeito implícito do verbo no infinitivo for o mesmo do verbo da outra oração, a flexão do
infinitivo não é necessária, mas não é proibida:
“Falamos sobre o desejo de aprontar/aprontarmos o site logo.” ou “Vocês estão aqui para
resolver/resolverem meu problema?” ou “Não existiam motivos suficientes a fim de ser/serem
reprovados.”.
36.2)Se o sujeito do infinitivo estiver explícito, terá de variar: “Falamos sobre o desejo de nós
aprontarmos o site logo.” ou “Vocês estão aqui para vocês resolverem meu problema?” ou “Não havia
motivos suficientes a fim de os alunos serem reprovados.”.
40) Infinitivo pessoal composto: locução verbal formada por verbo auxiliar ter ou haver no infinitivo
pessoal simples + o principal no particípio, indicando ação passada em relação ao momento da fala;
segue as mesmas regras acima.
– Para vocês terem adquirido este conhecimento todo, precisou de muito estudo?
II - Falemos agora sobre os casos de não flexão do infinitivo (infinitivo não flexionado):
41.1) Cuidado com o infinitivo que faz parte de uma locução verbal, mas vem distante do auxiliar ou este
está subentendido, é incrivelmente facultativo:
“Poderemos, depois das lutas acirradas, vencidas duramente, cantar/cantarmos vitória.”.
42.1) Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo no plural, pode-se usar tanto o infinitivo
flexionado quanto o infinitivo não flexionado: “Mandei os garotos sair/saírem.”.
43) Quando o infinitivo não se refere a sujeito algum, com valor genérico.
– Navegar é preciso, viver não é preciso.
46.1) Saiba também que o verbo parecer pode ser auxiliar de uma locução verbal. Nesse caso, ele varia;
o infinitivo, como verbo principal da locução, não varia.
– Eles parecem estudar bastante.
47) São aqueles que não possuem sujeito (oração sem sujeito). Ficarão sempre na 3ª pessoa do singular.
O “campeão” em aparições é o verbo haver, mas há também os verbos fazer, estar, verbos que indicam
fenômenos naturais etc.
– Havia sérios problemas na cidade.
– Fazia quinze anos que ele havia parado de estudar.
– Deve haver sérios problemas na cidade.
– Vai fazer quinze anos que ele parou de estudar. (...)
– Trata-se de problemas pedagógicos, meu caro.
– Geou muitas horas no Sul.
48) Quando o sujeito é uma oração subordinada, o verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do
singular.
– Ainda vale a pena investir nos estudos. (O que ainda vale a pena? Investir nos estudos.)
– Quem anda em demanda com o diabo anda. (Quem com o diabo anda? Quem anda em demanda.)
– Sabe-se que dois alunos nossos passaram na prova. (O que se sabe? Que dois alunos passaram
na prova.)
– Ficou programado que sairíamos à tarde. (O que ficou programado? Que sairíamos à tarde.)
– Urge que você estude! (O que urge? Que você estude.)
– Era preciso encontrar a verdade. (O que era preciso? Encontrar a verdade.)
Cuidado!!!
48.1) Muito, mas muito, mas muito cuidado mesmo com a frase abaixo!
– Havia muitos erros e complicações que já não estavam em suas mãos resolver.
O verbo estar deve ficar na 3ª pessoa do singular porque o seu sujeito é oracional, a saber: resolver erros
e complicações. Note que uma parte do sujeito oracional (erros e complicações) é retomada pelo pronome
relativo que, o qual tem função de objeto direto. É
como se juntássemos as duas orações abaixo...:
1) Havia muitos erros e complicações.
2) Resolver erros e complicações não estava em suas mãos.
... de modo que ela ficasse assim:
– Havia muitos erros e complicações que já não estava em suas mãos resolver.