Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE DIREITO

DOMENICO RUSSO JUNIOR


EDUARDO FRANCISCO AZEVEDO CUNHA DA FONTE
ELAINE DAS NEVES CRUZ
FABIANA CURTY
IARA DE MELLO PEREIRA

OS DIREITOS AUTORAIS E AS CRIAÇÕES DA MODA

Niterói-RJ
2018
DOMENICO RUSSO JUNIOR
EDUARDO FRANCISCO AZEVEDO CUNHA DA FONTE
ELAINE DAS NEVES CRUZ
FABIANA CURTY
IARA DE MELLO PEREIRA

OS DIREITOS AUTORAIS E AS CRIAÇÕES DA MODA

Trabalho apresentado à Faculdade de Direito


da Universidade Federal Fluminense como
parte da avaliação da disciplina de
Propriedade Imaterial

Professor: Clarisse Stephan

Niterói-RJ
2018
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2
2. A APLICAÇÃO DO INSTITUTO DA PATENTE AO FASHION LAW ....................... 3
3. A PROTEÇÃO DO DESIGN DE MODA NOS ESTADOS UNIDOS ........................... 4
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 6
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 7
2

1. INTRODUÇÃO

A moda sempre foi um reflexo de valores sociais e culturais e, por isso,


sempre esteve em constante transformação. Dessa forma, diante do processo de
globalização e de revolução técnico-científico-informacional, a população passou a
ser incessantemente bombardeada de informações e este fato teve influência direta
no mundo e no mercado da moda. Qualquer forma e tipo de conteúdo são
pertinentes no momento da elaboração de uma roupa e, por essa razão, surge a
problemática de serem vistas por repetidas vezes as mesmas ideias aplicadas de
diversas maneiras, tangendo na questão da propriedade intelectual.

Nesse sentido, a relação entre moda e direito foi se estreitando a partir do


momento em que as criações começaram a ser copiadas e reproduzidas,
necessitando de devida proteção jurídica. Sendo assim, visto se tratar de uma
indústria que cresce com rapidez peculiar e que se desenvolve de forma
extremamente intensa, surge a necessidade do Estado disciplinar a nova área por
meio de seus mecanismos legislativos específicos. Cabe, então, ao Poder Judiciário
dirimir os conflitos inerentes, dentre os quais se destacam os relativos à ausência de
reconhecimento intelectual às criações de moda, o que enseja a ocorrência
excessiva de cópias e contrafações. Destarte, é fundamental a imposição de um
critério jurídico às situações da realidade social que não se enquadram diretamente
às regras já existentes, como é o caso das cópias no ramo do design de moda.

Desse modo, diante da necessidade de um maior amparo legal no


ascendente desenvolvimento da indústria da moda e consequente circulação de
mercadorias, o conceito de Direito da Moda, ou “Fashion Law”, surge nos EUA e
passa a ser difundido no mundo todo. Este seguimento jurídico atende as questões
de direito aplicado ao mercado de moda como direitos autorais, propriedade
industrial, trade dress, concorrência ''parasitária'', direito do consumidor, privacidade,
regulação da internet e sustentabilidade, além de relações de trabalho e societárias.

O foco principal do “Fashion Law” é abranger a questão da propriedade


intelectual, desde a concepção do produto de moda, seu design, desenvolvimento
da tecnologia e materiais aplicados, confecção e outras diversas etapas até chegar
ao mercado e, consequentemente, às mãos do consumidor final.
3

2. A APLICAÇÃO DO INSTITUTO DA PATENTE AO FASHION LAW

As patentes, no Direito Brasileiro, são tratadas tanto na Constituição Federal


quanto na Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96). Apesar da Lei não trazer
uma definição precisa da palavra, pode-se entender, de acordo com o Instituto
Nacional de Propriedade Industrial, que a patente é um título de propriedade que se
limita no tempo, e é dado pelo Estado àquele que detém os direitos de criação, seja
o autor ou a pessoa física ou jurídica que, por meio de contrato com o inventor, tem
a titularidade do Direito. O título de patente é dado à coisa nova, oriunda de
atividade inventiva e aplicação judicial, de acordo com o art. 8º da Lei nº 9.279/96 1.

Eventual atribuição de patente dentro do universo do Direito da Moda


constituiria uma exceção à regra constante na Lei 9.279/96, já que, no inciso IV de
seu décimo artigo, fica determinado não se considerar invenção nem modelo de
utilidade (as duas espécies de bens passíveis de serem patenteados) “as obras
literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética”. Para
aplicar, então, a patente ao Direito da Moda, é preciso engendrar-se numa tarefa de
interpretação restritiva que a hermenêutica não permitiria.

Não fosse isto, é difícil caracterizar a novidade dentro da criação do fashion


law, bem como encontrar meios de encaixar os inventos dentro do requisito da
inventividade. Ademais, o procedimento de aquisição da patente é longo e custoso,
o que o torna ainda menos apetecível para o mundo da moda.

No entanto, apesar dos elementos negativos acima apresentados, cresce o


número de pedidos de aquisição de patentes para os chamados meios de produção
da moda. É dizer que, ainda que os produtos-fim da indústria da moda sejam as
roupas, bolsas e sapatos, que são difíceis de incluir dentro do rol de bens
patenteáveis, tem-se ainda os produtos-meio: aqueles por meio dos quais se
produzem tais produtos-fim. As diversas novas técnicas de produção vem destes
novos meios e, estes sim, dotados da novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial.

1
Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial.
4

3. A PROTEÇÃO DO DESIGN DE MODA NOS ESTADOS UNIDOS

Sob análise do direito norte-americano, é reconhecido que é possível a


proteção dos designs de moda, sob amparo legal e jurisprudencial

Os três principais meios de proteção para o design de moda nos Estados


Unidos são copyright; trademark, incluso o trade dress; e patente. Com essas
alternativas disponíveis, os designers norte-americanos tendem a proteger suas
criações, principalmente, por trademark e trade dress, seguido das adoções de
patente e, por último, o copyright.

O trademark tem seu uso na proteção de logotipos e palavras que aparecem


nos artigos de moda, desde que operem de modo a identificar a fonte da qualidade
do bem. A proteção por trademark auxilia os consumidores a saberem de quem
estão comprando e, com isso, saber a qualidade do produto adquirido. Por sua vez,
o trade dress visa a proteção dos elementos distintivos e não funcionais dos bens,
como a cor, a forma, a textura...

Para que possa ser protegido por trademark, o design precisa ser algo que
identifique o produto diante dos demais, para tal, alguns designers e marcas
incorporam ao produto os seus logos e marcas buscando a distinção das suas
criações. Contudo, os criadores devem ter em mente que, em caso de sucesso no
desenho criado, o mesmo pode ser copiado por outros, caso somente o logotipo
utilizado esteja protegido.

O designer tem a opção de aplicar a proteção ao design através de patente,


desde que, segundo a norma norte-americana seja algo inédito, como preceitua o §
171 da lei que regula as patentes nos Estados Unidos.2 Deve se lembrar que esse
mecanismo só protege os elementos de designs realmente novos, não todos. Por
conta de reaproveitarem algum elemento já utilizado por outro designer, os criadores
costumam não fazer uso desse recurso.

2 Title 35 of the United States Code


5

Como já mencionado, os autores também podem proteger suas criações


através do copyright, que possui lei específica3, que protege trabalhos autorais
originais que estejam em qualquer meio tangível de expressão, devendo, para poder
gozar de tal proteção, ser criado de forma independente pelo criador, vedando
qualquer cópia, e possuir um mínimo de criatividade.

A proteção por copyright nos Estados Unidos é, de certa forma, automática,


porém os criadores devem registrar suas criações para que possam opor-se contra
terceiros que venham a infringir a legislação que protege o copyright, como preceitua
o § 412 da lei de copyright.

Sendo os Estados Unidos um país que adota o sistema common law, é


interessante citar um caso prático com certa notoriedade, para tal, exporemos o
incidente entre Star Athletica v. Varsity Brands, decidido pela Suprema Corte em
2017.

A Varsity, maior empresa de uniformes para cheerleaders dos Estados


Unidos, acusou a Star Athletica de infringir a lei de copyright, alegando que teria feito
uso de cinco designs registrados por ela. Tal caso foi o primeiro a chegar até a
Suprema Corte para decisão acerca de design de roupas.

Em primeira instância, houve ganho de causa para a Star, sob alegação de


que os designs da autora não eram passíveis de proteção por copyright, visto que se
tratavam apenas de forma utilitária para uniformes de cheerleader, não podendo se
separar disso. Em segunda instância, a decisão foi revista, sob alegação de que os
elementos artísticos utilizados nos uniformes podiam ser utilizados em outros locais,
que não apenas uniformes de cheerleader, ou mesmo utilizados como obras de arte.

Irresignada, a demandada apelou à Suprema Corte que, por maioria de 6-2,


deu ganho de causa à Varsity, dizendo ser possível, sim, a proteção dos elementos
utilizados na confecção dos uniformes, visto que eles compunham objeto de
criatividade, centrando sua decisão na proteção por copyright das estampas
utilizadas, havendo declaração de que “o ato que disciplina o copyright diz ser
passível de proteção qualquer elemento imagético, gráfico ou escultural de algum

3 Title 17 of the Unites States Code


6

artigo, se esses elementos forem capazes de serem reconhecidos separadamente e


existirem de forma independente do aspecto utilitário do próprio artigo”4. Sob esse
embasamento, houve a primeira decisão da Suprema Corte, garantindo a proteção
mediante copyright em design de moda.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, é possível inferir que no Brasil a indústria da moda ainda


precisar galgar avanços legislativos significativos para garantir que seus direitos
sejam protegidos. Marcas famosas e desenhos industriais únicos sofrem com os
plágios de empresas oportunistas, que utilizam da criatividade e poder daquelas
para alavancar suas vendas em todo o território nacional. Já nos Estados Unidos, os
direitos sobre assunto estão bem mais consolidados, levando em considerações
precedentes legais e garantias legislativas.

Resta claro, porém, que haja a proteção do direito autoral o desenho criado
deve obedecer estritamente o requisito novidade. No entanto, o que percebemos é
que por mais que todos os anos as coleções criem novos elementos e tendências,
ditando o que está “na moda”, as peças e modelos acabam tendo elementos que se
repetem. Por esse motivo, é importante, distinguir o que é “cópia”/”plágio” do que é
considerado tendência da indústria. Visto que muitos estilistas se inspiram no que
está em voga no ramo.

É notório que a indústria da moda ganha cada vez mais importância nas
relações comerciais e industriais, sendo por esse motivo a proteção dos direitos
autorais de seus criadores e das grandes marcas de extrema importância.

O assunto tem ganhado destaque, a pouca informação que circulava sobre o


tema deu lugar a uma base legal, mesmo que insipiente, para que seus fundadores
possam buscar proteção para as suas criações e marcas. Havendo, também, uma

4 “The Copyright Act of 1976 makes ‘pictorial, graphic, or sculptural features’ of the ‘design of a useful
article’ eligible for copyright protection as artistic works if those features ‘can be identified separately
from, and are capable of existing independently of, the utilitarian aspects of the article.’ “ (17 U.S.C.
§101).
7

busca incessante da propagação de tais direitos, com a finalidade de proteger a


indústria assegurar as garantias legais dos interessados.

REFERÊNCIAS

INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Perguntas Frequentes


- Patente - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Disponível em:
<http://www.inpi.gov.br/servicos/perguntas-frequentes-paginas-internas/perguntas-
frequentes-patente#patente>. Acesso em: 18 jun. 2018.

OLIVEIRA, Cíntia Bell de. FASHION LAW E PROPRIEDADE INTELECTUAL UMA


ANÁLISE DOS MÉTODOS DE PROTEÇÃO DE ATIVOS ORIUNDOS DA
INDÚSTRIA DA MODA. 2017. 74 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

WITZBURG, Francesca Montalvo. Protecting fasion: A comparative analysis of


fashion design protection in the Unites States and the European Union. The
Trademark Reporter, New York, v. 107, n. 6, p. 1131-1149, nov-dez 2017. Disponível
em:<https://www.inta.org/TMR/Documents/Volume%20107/Issue%20No.%206/vol10
7_no6_full_issue.pdf>. Acesso em: 17 jun 2018.
SUPREME COURT OF THE UNITED STATES. Star Athletica, L.L.C. v. Varsity
Brands, Inc., et al. Disponível em: https://www.supremecourt.gov/opinions/16pdf/15-
866_0971.pdf. Acesso em: 17 jun 2018.
VOGUE. What the Supreme Court’s First Ruling on Fashion Copyrights Means
for the Runway. Disponível em: https://www.vogue.com/article/supreme-court-star-
athletica-varsity-brands-ruling-fashion-industry. Acesso em: 17 jun 2018.

Você também pode gostar