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RESUMO
O presente trabalho tem por finalidade um perpassar breve pelo do arcabouço normativo que
impõe as diversas espécies de sanções penais e cíveis em sede de violação dos direitos da
propriedade intelectual, em seus principais ramos. Proceder-se-á uma digressão sobre as
tutelas no âmbito de Direito Privado, notadamente as cíveis, passando pela análise dos
principais tipos penais aplicados nessa seara. Por fim, comentar-se-á brevemente sobre as
sanções administrativas em sede de Direito Autoral.
1
Advogado formado pela UFRJ, Auditor Interno no BNDES.
2
1) INTRODUÇÃO
O presente trabalho destina-se a um olhar geral sobre as tutelas e sanções, nos âmbitos
do direito penal, cível e administrativo, previstas para os violadores dos Direitos Autorais.
Inicialmente será feita uma digressão acerca das diversas espécies de tutelas jurídicas
aplicadas à Propriedade Intelectual no ordenamento pátrio. Em seguida, serão minudenciadas
as principais tutelas cíveis previsões legais, notadamente as ínsitas na própria lei de direitos
autorais (LDA). Após tratar-se-á da questão da dupla proteção nessa seara, o que vem
ganhando corpo com o advento cada vez mais acelerado de novas tecnologias. Em sequência,
apresentar-se-ão os tipos penais que tutelam os direitos da propriedade intelectual, tanto do
Código Penal, quanto das demais leis esparsas.
Outrossim, para que se possa compreender o tema, é necessário perceber que já na
antiguidade clássica conheceu-se um embrião da proteção ao direito decorrente da
propriedade intelectual, mormente em impérios que foram o berço da cultura ocidental, como
o grego e o romano. Contudo, esses impérios antigos não entendiam tais direitos da mesma
forma que contemporaneamente. Apesar de a opinião pública da época repudiar o plágio,
inexistiam remédios legais para proteger as diversas manifestações da criação intelectual.
Assim, nesta época, o autor tinha um domínio tão grande sobre sua obra que poderia até
mesmo alienar sua autoria, o que é diametralmente oposto ao paradigma atual, pelo qual os
princípios mais elementares do direito autoral proíbem a transmissão da autoria, por qualquer
meio (PARANAGUÁ e BRANCO, 2009, págs 14 e 15).
O advento da prensa de tipos móveis de Gutenberg ocasionou uma mudança
significativa nas relações dos direitos intelectuais até então, vez que passou a ser mais rápido
e fácil editar e reproduzir obras literárias. Tal fato gerou uma repercussão direta sobre as
relações entre autores, editores e as obras. Surgira, então, o gérmen das práticas de
concorrência desleal (VASCONCELOS, 2010, págs 24 e 25). Os livreiros passaram a ser uma
espécie de “fabricantes-editores de livros”, pois arcavam com os custos altos da produção das
obras, incluindo nelas gravuras, adornos e outras informações acessórias. Passou a ser comum
haver a cópia de tais obras por terceiros, que não eram cuidadosos com a fidedignidade do
original e tampouco se preocupavam em arcar com os custos da edição original. O avanço
tecnológico, portanto, traz uma maior eficiência da “pirataria”2, que não é uma prática
necessariamente moderna, mas que subsiste e evolui em compasso com o avanço científico-
tecnológico.
2
No sentido de cópia ou imitação de alguma coisa e dela fazer algo sem originalidade.
3
Contudo, jamais na história foi possível acessar a uma miríade tão enorme de dados
com tanta facilidade, fato que vem obrigando os Estados modernos a se adaptarem. Uma das
formas que o Estado tem para obrigar o indivíduo a determinado comportamento, visando a
tutela de determinado direito, coletivo ou individual, é a utilização de sanções. Nesse sentido,
tanto a sanção civil quanto a penal prestam-se a função de gerar no inconsciente coletivo a
ideia de que a ameaça da pena produza uma motivação para não cometer delitos ou
comportar-se contrariamente ao que fora acordado entre as partes. Ainda que não
absolutamente, tal aspecto encontra maior guarida no âmbito do direito penal, cuja Teoria da
Prevenção Geral defende a ideia de que “na medida em que os demais membros do corpo
social, ao testemunharem o tratamento dado ao infrator, sentir-se-iam inibidos a realizar
condutas infracionais análogas” (JOPPERT, 2011, pág.377). Deste modo, resta claro que as
sanções são parte importante do sistema de tutela dessa sorte de direitos.
3
CRFB/88, Art 5º, XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
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CRFB/88. Art. 5º, XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
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CRFB/88, Art 5º,XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
4
“Percebe-se a ampla proteção que o legislador constituinte deu aos direitos autorais,
inserindo-os no rol de direitos e garantias fundamentais, de forma a assegurar aos criadores de
músicas de demais artistas a remuneração pela utilização de sua obra. Aliás, sobre o tema, o
próprio Supremo Tribunal Federal (STF) editou a Súmula nº 386, a qual preceitua da seguinte
forma:
‘Pela execução de obra musical por artistas remunerados é devido direito autoral, não exigível
quando a orquestra for de amadores’” (FALCÃO e FILHO, 2012, pág 54).
Dentro desse espírito, a Lei Federal nº 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais – LDA), no
rastro do que fizeram suas antecessoras (lei nº 5.998/73 e lei nº 4.944/66) trouxe a
regulamentação das disposições constitucionais no que concerne aos Direitos Autorais, de
modo a positivar sua ampla proteção, inserindo, inclusive, ferramentas como o ECAD. Outros
dispositivos legais de grande importância neste tema são as Leis Federais nº 9.456/97 (Lei
Proteção de Cultivares), nº 9.609/98 (Lei de Softwares) e a nº 9.279/96 (Lei de Propriedade
Industrial).
No que toca especificamente à Patente, esta pode ser conceituada como um título de
propriedade temporária concedida pelo Estado aos inventores, cujo objeto pode ser uma
invenção ou modelo de utilidade, devendo para tanto preencher os requisitos da novidade, da
atividade inventiva e da aplicação industrial, sendo imprescindível, ainda, haver uma
descrição completa do produto ou processo (GALVÃO, pág10, 2001). O art. 18 da Lei de
Propriedade Industrial traz aquilo que não é patenteável, e desta forma, coloca ao largo da
tutela jurídica da Propriedade Intelectual 6. Contudo, regra geral, pode-se dizer que é
patenteável tudo aquilo que atenda aos três requisitos básicos de patenteabilidade, quais
sejam: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
A tutela da marca traz em seu bojo a ideia de proteção de um signo distintivo da
atividade empresarial (amplamente considerada), cujo conceito Vieira e Buainaim (VIEIRA E
BUAINAIM, pág 394, 2006) brilhantemente elucidam: “são sinais distintivos que identificam,
direta ou indiretamente, produtos ou serviços. A identificação se realiza através da aposição
6
Lei nº 9.279/1996. Art. 18. Não são patenteáveis:
I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas;
II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de
suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes
de transformação do núcleo atômico; e
III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de
patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam
mera descoberta.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou parte
de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética,
uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais.
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do sinal no produto ou no resultado do serviço etc”. A tutela das marcas transcende a própria
tutela dos direitos individuais afetos à Propriedade Intelectual, alcançando o próprio direito
difuso dos consumidores ou mesmo a tutela da concorrência.
O ordenamento jurídico pátrio não se olvidou de tutelar também os direitos do intelecto
acerca de indicações geográficas, cultivares, desenhos industriais e softwares, cada qual com
sua regulamentação específica. Contudo, as ferramentas da tutela de todos estão firmadas,
senão no mesmo instrumento, em instrumentos bem próximos.
Dentre todos, talvez aquele que mais se diferencia seja o Direito Autoral. No tocante às
espécies de violação ao direito do autor, Eliane Y. Abrão (ABRÃO, 2002, págs 158 e 159)
divide suas espécies de violações em dois grupos: violações ao direito moral e violações aos
direitos patrimoniais. O primeiro grupo de violações se relaciona com os sentimentos
subjetivos da pessoa do autor. Tratam do direito que detém o autor de reivindicar e ser
conhecido pela paternidade da obra. As violações aos direitos morais de autor são, para a
autora, “as que se referem à ausência de identificação (crédito), ou a falsa indicação de
autoria na obra, à publicação de inéditos, em impedimentos ao desejo do autor de modificar
a obra antes ou depois de utilizada, e às mutilações feitas à obra, com adições, subtrações ou
quaisquer modificações não consentidas” (ABRÃO, 2002, pág 158). Assim, seriam exemplos
de violações dessa categoria: a omissão do nome do autor na publicação da obra; alteração
desse nome, ou sua usurpação. O segundo grupo de infrações corresponde aos atos
atentatórios dos direitos patrimoniais, com bem leciona Eliane Y. Abrão, elas são de três
espécies: a) contrafação; b) uso não autorizado de obras e direitos que não os de reprodução; e
c) atos tendentes a alterar prerrogativas exclusivas dos autores (ABRÃO, 2002, pág 158).
Contudo, tais violações arvoram-se no âmbito do Direito Civil, mas o direito objetivo
brasileiro, a rigor, contempla três classes de sanções: administrativas, penais e civis. Devido a
peculiaridade da tutela administrativa e da miríade de direitos ora estudados (como por
exemplo: a atuação do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – ECAD no âmbito
dos Direitos do Autor), o presente trabalho não tratará dessa seara.
3) AS TUTELAS CÍVEIS
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Segundo a corrente Monista, a obrigação forma um único vínculo entre credor e devedor. Tal vínculo é
materializado no débito. Assim, a obrigação forma apenas uma relação de crédito e débito entre credor e
devedor, de modo que a responsabilidade civil não integra o conceito de obrigação, mas é um consectário do
descumprimento desta. Por isso Carnelutti dizia que a responsabilidade é como a sombra da obrigação. De
acordo com a corrente Dualista, a obrigação forma um duplo vínculo entre credor e devedor. Aqui a
responsabilidade civil integra o conceito de obrigação, estando dentro desta.
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Responsabilidade objetiva extracontratual. É aquela responsabilidade que decorre da inobservância de norma
jurídica, por aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola direito e causa dano
a outrem, ainda que exclusivamente mora
(https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/985/Responsabilidade-aquiliana, disponível em 28/06/2018).
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O dispositivo seguinte: o artigo 104 traz uma espécie de participação, bastante similar a
figura do Direito Penal, vez que este não se destina a punir o fraudador, mas quem o auxilia
ou beneficia.
Na sequência, o artigo 105 prevê a imediata suspensão da transmissão ou comunicação
ao público das obras copiadas, além de multa diária e a duplicidade desta em caso de
reincidência na conduta.
No artigo 106 resta materializada a faculdade do Juiz de determinar a destruição dos
exemplares fraudulentamente copiados, bem como dos instrumentos utilizados para a prática
da conduta.
Já o artigo 107 traz hipóteses típicas em que o contrafator responderá por perdas e
danos, ainda que perca os equipamentos utilizados. Tal dispositivo traz um valor mínimo, que
seria aquele aplicável pelo supracitado artigo 103.
E, finalmente o artigo 108, que traz a conduta típica mais comumente praticada em
ambiente virtual, que seria daquele indivíduo que deixa de identificar a titularidade da obra.
Neste, além dos danos morais, incidirá a obrigação legal de divulgação do verdadeiro autor da
criação.
Destarte, pode-se destacar a apreensão do objeto da reprodução sem autorização, sua
destruição, multas com valores elevados e pré-definidos, multas diárias e a perda dos
equipamentos utilizados para contrafação. Nota-se, também, nítida a intenção do legislador
em salvaguardar tanto o direito patrimonial quanto o direito moral do autor, que é claramente
tutelado pelo artigo 108 referido acima9.
Além dessas disposições, a LDA traz a responsabilidade solidária para aquele que
organiza o espetáculo em que ocorre a violação do direito autoral e também daquele que ajuda
o contrafator, ou de qualquer forma o auxilia ou lucra com a contrafação.
No que concerne à tutela jurisdicional às patentes, desenhos industriais e marcas, as
ações de nulidade mostram-se instrumentos bastante úteis, vez que buscam desconstituir o
direito de propriedade industrial conferido às invenções, modelos de utilidade, desenhos
industriais e de marcas que tenham sido protegidas em desconformidade com as disposições
constitucionais, legais ou mesmo administrativas.
A ação de nulidade dos direitos de propriedade industrial é o instrumento cujo foco é
desconstituir a exclusividade concedida pelo INPI. Tal efeito, a rigor, só poderia prosperar
quando o processo administrativo fora executado com erros e inobservância do disposto em
9
“Lei nº 9.610/98 - Art. 108. Quem, na utilização, por qualquer modalidade, de obra intelectual, deixar de
indicar ou de anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, além de
responder por danos morais, está obrigado a divulgar-lhes a identidade da seguinte forma: (...)”
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“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
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“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
9
uma vez que ela conseguia alcançar um provimento rápido que, embora provisório, era
preparatório ou incidental a ação principal. Em que pese o novo Código de Processo ter
extinguido a citada ação cautelar enquanto nominada, este diploma privilegiou os princípios
da economia processual e da instrumentalidade das formas, de modo que a essência daquela
ação permanece. Em síntese, o moderno Código Processual Civil retirou o nomem iuris da
ação cautelar de busca e apreensão, contudo, sua alma permanece intacta. De maneira geral,
tal procedimento visa buscar e apreender coisas ou pessoas, com o objetivo de se garantir a
eficácia de um processo principal. Conclui-se que ora possui natureza cautelar, ora satisfativa.
A mesma autora supracitada (ABRÃO, 2002, pág.178) ressalta que outras ações podem
ser utilizadas para a tutela cível do direito do autor, tais como: ação monitória, interdito
proibitório e a ação de prestação de contas. Poder-se-ia pensar, ainda, na utilização de ação
cominatória, ou mesmo na de reparação de danos, inclusive fundamentadas na concorrência
desleal.
4) A DUPLA PROTEÇÃO
Sem a intenção de expor o imenso debate doutrinário acerca da natureza jurídica do
Abuso de Direito, sua conceituação faz-se necessária para a compreensão do tema.
Felizmente, o Código Civil de 2002 positivou a teoria do abuso de Direito no artigo 187 12. No
curso das últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico tremendamente acelerado fez
surgir novos desafios em matéria de propriedade intelectual. Tais desafios existem, em parte
pelo surgimento e ascensão de novos tipos de criação intelectual tais como os softwares e
cultivares, de outro lado em razão de novas formas de exploração daqueles bens intelectuais já
existentes. Tomemos um exemplo: determinado artista cria o desenho e a composição de uma
mesa de jantar. A princípio, não se revestiria de forma estética, enquanto desenho industrial.
Contudo, se seu idealizador a transforma em algo peculiar, único, verdadeira obra de arte, esta
passa a ter valor artístico, infinitamente superior ao valor do material que a compôs.
Se algumas dessas criações intelectuais são difíceis de serem enquadradas nas
categorias clássicas de direitos de propriedade intelectual, outras possuem uma adequação
mais plena. Voltemos à hipótese do mobiliário: enquanto a forma ornamental aplicada a
produto o desenho merece tutela como desenho industrial, nos termos do artigo 95 da Lei
9.279/9613, de outro lado, também seria razoável pensar-se em sua tutela enquanto obra de
12
CC/02, art 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
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Lei 9.279/96 - Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o
conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual
novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial.
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arte, vez que seria igualmente tutelável via direito de autor. Assim, nota-se que à primeira
vista, pode parecer difícil imaginar casos de criações intelectuais passíveis de dupla proteção
em propriedade intelectual. Contudo, basta um olhar mais detido para ver-se que, não somente
são numerosos os exemplos, como também existe uma enorme relevância prática.
Tome-se como exemplo o direito autoral e os desenhos industriais. Se por um lado os
desenhos (como no exemplo supra, de mobiliário) não deixam de ser formas ornamentais
dadas a determinado produto, de outro lado, são também verdadeiras obra de arte (ou mais
precisamente “criações do espírito”). Destarte, ficam diversas indagações. Pelo simples fato
de ter aplicação industrial determinada obra de arte deixaria de ser tutelada via direito de
autor? Como traçar uma diferença entre obra de arte “pura” daquela que tem aplicação
industrial? Faz sentido traçar tal diferença?
Tratando dessa questão Newton Silveira (SILVEIRA, pág 41, 2018) reconhece a
possibilidade de criações intelectuais convergentes nesses dois regimes, de desenho industrial
e direito de autor, e nessa hipótese admite a dupla proteção. Em sentido contrário, o ilustre
Gama Cerqueira mostra-se contrário à dupla proteção, ratificando a dificuldade em apontar a
tutela jurídica adequada no caso das obras de arte aplicadas à indústria (CERQUEIRA, pág
277, 2010).
Existem outros tantos exemplos de sobreposição dessa sorte de direitos. Podem ser
citados a proteção do desenho industrial que adquire função distintiva e, assim, passa a
exercer também papel de marca tridimensional, ou mesmo dos desenhos de personagens, que
enquanto tal são objeto de proteção via direito autoral mas, ao mesmo tempo, são muitas
vezes explorados também comercialmente como marcas figurativas. Nesta caso, há ainda o
desenho enquanto obra intelectual ou como marca figurativa.
A legislação brasileira não veda a possibilidade de dupla proteção, mas impõe, de certa
forma, algumas restrições a mesma. Segundo ditame do artigo 124, XXI e XXII da Lei
9.279/96, a forma necessária ou objeto protegido por desenho industrial de terceiro não
podem ser registrados como marca. Segundo o artigo 10, IV da mesma lei “as obras
literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética” não são
consideradas invenção ou modelo de utilidade. No mesmo sentido, o artigo 98 da mesma lei
determina que não será considerado desenho industrial a obra de caráter puramente artístico.
Assim, apesar dessas previsões pontuais, fato é que em muitos dos casos em que se
tangenciam direitos de propriedade intelectual distintos nossas leis são silentes, cabendo à
doutrina e à jurisprudência preencher tais lacunas. Na prática, não raro o titular faz uso dessa
11
dupla proteção, ou opta pelo direito de propriedade intelectual cujo regime melhor lhe
convenha.
5) A TUTELA PENAL
A Responsabilidade Penal difere substancialmente em relação à Responsabilidade Civil,
sobretudo dentre as quais a principal diferença é o fato de que seu surgimento decorre
necessariamente do descumprimento de uma norma de direito público. Ela é mais gravosa que
a Responsabilidade Civil, pois visa proteger bens jurídicos indisponíveis como, por exemplo,
a vida, a liberdade e a integridade física.
Pena é a sanção do Estado, valendo-se do devido processo legal, cuja finalidade é a
repressão ao crime perpetrado e a prevenção a novos delitos, objetivando reeducar o
delinquente, retirá-lo do convívio social enquanto for necessário, bem como reafirmar os
valores protegidos pelo direito penal e intimidar a sociedade para que o crime seja evitado
(NUCCI, 2011, p. 401).
A proteção ao direito autoral vem estampada no Título III do Código Penal Brasileiro
(CP) “Dos crimes contra a Propriedade Imaterial”, notadamente em seu Título I, nos artigos
184 a 186. Ainda, há outras leis penais extravagantes 14 tratando do tema: a lei nº 9.279/96, que
trata dos crimes contra as patentes ou modelos de utilidade, os desenhos industriais, as
marcas, as indicações geográficas e de concorrência desleal; e da lei nº 9.609/98, norma
especial que trata da proteção da propriedade intelectual quando o objeto do crime forem
programas de computador.
Nos dizeres de Rogério Greco (GRECO, 2014, pág 658) os artigos 184 a 186 do CP são
normas penal em branco15, de modo que devem ser lidas em conjunto com as disposições da
LDA a fim de que se traga para o âmbito do Direito Penal o conceito de “ direitos de autor”.
Destarte, o artigo 184 do CP deve ser complementado com o conceito de direito autoral
contido no artigo 3º da LDA, bem como em sua extensão devem ser considerados os direitos
morais e patrimoniais, consoante os artigos 11 e 22 do mesmo diploma legal.
14
Nomenclatura que a doutrina penalista costuma usar para tratar das leis que tratam de temas penais e
processuais penais fora dos códigos.
15
Trata-se de espécie normativa típica do Direito Penal, na qual, para que haja uma plena adequação típica é
necessário que o intérprete busque sua complementação em outra norma, que pode ser de fonte normativa
idêntica ou distinta da norma incriminadora. O exemplo clássico citado na doutrina mais especializada é o artigo
33 da lei 11.343/06.
12
Ainda segundo o renomado penalista (GRECO, 2014, pág. 660), o artigo 184 pode ser
classificado como crime comum, doloso, comissivo, material, instantâneo ou permanente (a
depender do caso concreto), monossubjetivo (também chamado de crimes de concurso
eventual, pois são aqueles que podem ser praticados, mas não necessariamente, por apenas um
sujeito), plurissubsistente (pois constituído de vários atos, que juntos perfazem uma única
conduta) e admissível a tentativa (uma vez que o iter criminis é passível de ser fracionado).
No que concerne ao elemento subjetivo deste tipo penal o caput do artigo 184 traz hipótese de
dolo direto ou eventual16, enquanto que as figuras qualificadas dos seus parágrafos elencam
expressamente a necessidade de dolo específico (também chamado de especial fim de agir ou
elemento subjetivo especial), qual seja: a finalidade de lucro, direto ou indireto.
Em linhas gerais, a figura típica do caput traz uma cláusula geral para a proteção penal
dos direitos autorais e conexos, de modo que seus parágrafos trazem figuras qualificadas,
detalhando condutas que o legislador entendeu serem mais ofensivas ao bem jurídico tutelado.
O parágrafo primeiro traz a hipótese da reprodução da obra sem a autorização do titular do
direito. Tal tipo deve ser lido em consonância com o inciso IV do artigo 5º da LDA, segundo
o qual reprodução é “a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou
científica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer
armazenamento permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de
fixação que venha a ser desenvolvido”. Já o parágrafo segundo prevê outros comportamentos
comuns que soem ocorrer no momento posterior a realização da reprodução ilegal da obra.
Nota-se clara intenção do legislador de punir todos os sujeitos do processo de reprodução
ilegal de obras literárias, artísticas ou científicas. Quanto ao tema, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) exarou um importante verbete sumular, o qual aduz que a douta corte entende
ser desnecessário que as cópias sejam aptas a iludir o consumidor, bastando para a sua
perfeita adequação que os sujeitos pratiquem qualquer dos verbos do tipo com reproduções
não autorizadas. Ei-lo:
O último parágrafo do artigo 184 que traz uma figura típica qualificada é o terceiro. Este
se refere ao crime de oferecimento ao público da obra, sem autorização expressa de seu titular
e, novamente, contida a intenção de lucro.
16
TJPR, ACr. 0462836-4, 4ª Câ. Crim., Relator Carlos Hoffmann, j. 10/04/2008.
13
Outro diploma normativo penal extravagante é a lei nº 9.609/98 que traz hipóteses
bastante específicas de tutela penal a propriedade intelectual: a proteção aos direitos autorais
no âmbito da tecnologia da informação. O único artigo que enumera condutas típicas, nesta
lei, é o 12, que termina por repetir estrutura similar àquela do artigo 184 do CP, uma vez que
traz uma norma geral em seu caput, deixando para seus parágrafos 1º e 2º as formas
qualificadas. A peculiaridade destes tipos penais está em seu objeto material, que é o
programa de computador. A ação penal é, como regra, privada, salvo as hipóteses dos dois
incisos do parágrafo 3º do artigo 12, que elencam as hipóteses de crimes praticados contra a
Administração e quando do ato resultar crime tributário.
Um dispositivo que merece destaque na lei nº 9.609/98 é seu artigo 14, pois este trata de
medidas cautelares e indenizatórias de natureza civil passíveis de serem impetradas pelo
titular do direito violado.
Merece atenção na jurisprudência o entendimento pacífico dos Tribunais superiores
quanto a impossibilidade da aplicação do Princípio da Insignificância, vez que o bem jurídico
tutelado merece guarida no artigo 5º, inciso XXVII, sendo, portanto, direito fundamental 20.
Outro ponto de destaque é o entendimento de que é inaceitável a tese de adequação social da
conduta. Noutras palavras, o STJ entende que, ainda que haja a prática rotineira da pirataria
no país, tal fato não tem a virtude de impedir a incidência desses tipos penais 21. Uma outra
jurisprudência de suma importância para o tema diz respeito a perícia incidente sobre os
materiais supostamente contrafeitos. Segundo o art. 530-D do CPP, depois da apreensão, será
realizada perícia sobre todos os bens apreendidos, ato contínuo deverá ser elaborado o laudo,
que integrará o inquérito policial ou a denúncia. De acordo com o STJ 22, não é razoável
exigir-se minúcias exageradas no laudo pericial, de forma que é válida a perícia realizada nas
características meramente externas do material apreendido. Além disso, apesar de a redação
do art. 530-D do CPP determinar que a perícia deva ser realizada sobre todos os bens
apreendidos, o STJ relativiza essa exigência e admite que a mesma seja realizada por
amostragem.
6) CONCLUSÃO
Os remédios de proteção dos direitos de propriedade intelectual definem, em larga
medida, o seu valor jurídico. Se fossem limitados à indenização de danos, tais direitos não
20
STJ, HC 201.235/SP, Relatora Minª. Laurita Vaz, 5ª Turma, Dje 05/03/2012.
21
STJ, AgRg. Nos EDcl. No AResp 265891/RS, Relator Min. Campos Marques, 5ª Turma, Dje 28/06/2012.
22
STJ. AgRg no AREsp 276.128-MG, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme, 5ª Turma,Dje 02/10/2014.
15
23
Seus arts. 14 e 23 respetivamente.
16
REFERÊNCIAS
ABRÃO, Eliane Y. Direitos de autor e direitos conexos. São Paulo: ed.do Brasil, 2002.
FALCÃO, Caio Valério Gondim Reginaldo e FILHO, Sidney Soares. Direito Autoral e
ECAD: Análise jurisprudencial do papel do Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição na cobrança judicial pela execução pública de obras musicais e congêneres.
Disponível em: http://www.uni7.edu.br/periodicos/index.php/revistajuridica/article
/download/98/100>, acesso em 14 de julho de 2018.
JUSTEN-FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo.2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Volume III, 3ªed., Niterói:
Impetus, 2007.
JOPPERT, Alexandre Couto. Fundamentos de Direito Penal. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen
Iuris, 2011.
NETTO, José Carlos Costa, Direito Autoral no Brasil. 3ª ed., São Paulo: FTD, 1998.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 3ª ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 7ª ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
PARANAGUÁ, Pedro e BRANCO, Sérgio. Direitos Autorais. 1ª ed., Rio de Janeiro: FGV,
2009.
17